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DESENVOLVIMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE SENSORES DE UMIDADE DE SOLO DE CERÂMICAS POROSAS DE TiO 2 -ZrO 2 DOPADOS COM NIÓBIA RELATÓRIO FINAL DE PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA (PIBIC/CNPq/INPE) Vanessa Fernandez Banhara (UNIVAP, Bolsista PIBITI/CNPq) E-mail: [email protected] Maria do Carmo de Andrade Nono (CTE/LAS/INPE, Orientadora) E-mail: [email protected] Rodrigo de Matos Oliveira (CTE/LAS/INPE, Co-orientador) E-mail: [email protected] Agosto/2011 Julho/2012

Agosto/2011 Julho/2012 - mtc-m16d.sid.inpe.brmtc-m16d.sid.inpe.br/col/sid.inpe.br/mtc-m19/2012/09.28.13.13/doc... · 0 desenvolvimento e caracterizaÇÃo de sensores de umidade de

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DESENVOLVIMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE SENSORES DE UMIDADE DE SOLO DE CERÂMICAS POROSAS DE TiO2-ZrO2

DOPADOS COM NIÓBIA

RELATÓRIO FINAL DE PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA (PIBIC/CNPq/INPE)

Vanessa Fernandez Banhara (UNIVAP, Bolsista PIBITI/CNPq) E-mail: [email protected]

Maria do Carmo de Andrade Nono (CTE/LAS/INPE, Orientadora)

E-mail: [email protected]

Rodrigo de Matos Oliveira (CTE/LAS/INPE, Co-orientador) E-mail: [email protected]

Agosto/2011 – Julho/2012

i

Agradecimentos

Primeiramente agradeço a Deus, e aos meus pais José Rogério Banhara e Sarita

Trilla Banhara por terem me dado esta oportunidade única de estar estudando e

sem os quais não estaria aqui hoje.

Agradeço a Dra. Maria do Carmo de Andrade Nono e ao Dr. Rodrigo de Matos

Oliveira por toda confiança, atenção e suporte para que eu pudesse ter a exclusiva

oportunidade de realizar o projeto.

Agradeço aos meus amigos e colegas de laboratório, por toda experiência e ajuda

transmitida, além do companheirismo, que foi essencial para a preparação de todo

projeto.

Agradeço também ao CNPq e ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais pela

oportunidade de realizar Iniciação Científica, na qual eu aprendi muito e adquiri

experiências.

ii

iii

Resumo

A instrumentação de precisão está em amplo crescimento, devido à necessidade de monitoramento ambiental confiável do território brasileiro. O Brasil é vulnerável às mudanças climáticas atuais e, mais ainda, às que se projetam para o futuro, especialmente quanto aos extremos climáticos. Nesse sentido, a proposta deste trabalho foi aperfeiçoar o desempenho de elementos sensores cerâmicos de umidade de solo, robustos, confeccionados a partir de pós comerciais de TiO2 – ZrO2, com adições de porcentagens controladas de Nb2O5, para, no futuro próximo, serem aplicados no monitoramento de deslizamento de encostas. Essas catástrofes têm ocorrido em várias regiões do Brasil, principalmente nas duas últimas décadas, em períodos chuvosos. As cerâmicas, ao longo dos últimos 20 anos, vêm sendo estudadas por Pesquisadores do Grupo de Tecnologias Ambientais - TECAMB, que integra o Laboratório Associado de Sensores e Materiais - LAS, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE, devido a sua estrutura única, consistindo de grãos, contornos de grãos, superfícies e poros que as fazem adequadas para serem utilizadas como elementos sensores de umidade. As caracterizações elétricas dos elementos sensores cerâmicos foram realizadas em amostras de solo, pré-selecionadas, na qual se utilizou uma ponte de RLC, em diferentes freqüências. As amostras de solo foram coletadas no Km 30 da Rodovia Floriano Rodrigues Pinheiro (SP-123), localizada na região serrana do Estado de São Paulo, próximo ao município de Santo Antônio do Pinhal, em uma situação real de escorregamento de encosta. Os resultados obtidos foram satisfatórios, o que mostrou a potencialidade dos elementos sensores cerâmicos desenvolvidos pelo Grupo TECAMB. Palavras chave: Materiais cerâmicos; Sensores de umidade do solo;

Deslizamentos de encostas.

iv

v

Abstract

The precision instrumentation is vast growth due to the need for reliable environmental monitoring of the Brazilian territory. Brazil is vulnerable to current climate change and, moreover, to that project into the future, especially with regard to climatic extremes. Therefore, the purpose of this study was to improve the performance of ceramic sensor elements of soil moisture, robust, made from commercial powders of TiO2 - ZrO2, with controlled additions of Nb2O5 percentages for the foreseeable future, be applied in monitoring of landslides. These disasters have occurred in several regions of Brazil, especially in the last two decades, during rainy periods. The ceramics, over the past 20 years, have been studied by researchers of the Environmental Technologies Group - TECAMB, part of the Associated Laboratory of Sensors and Materials - LAS, the National Institute for Space Research - INPE, due to its unique structure, consisting of grain, grain boundaries, surfaces, and pores that are suitable for use as sensing elements of moisture. The electrical characterization of ceramic sensor elements were performed on soil samples, pre-selected, which was used in a RLC bridge at different frequencies. Soil samples were collected at 30 km of Highway Floriano Rodrigues Pinheiro (SP-123), located in the mountainous region of São Paulo, near the city of Santo Antonio do Pinhal, in a real slip slope. The results were satisfactory, which showed the potential of ceramic sensor elements developed by the Group TECAMB. Keywords: Ceramics; Soil moisture sensors; Landslides.

vi

vii

LISTA DE FIGURAS

Pág.

Figura 2.1 Aproximação de moléculas de água na superfície cerâmica.. ........ .......6

Figura 2.2 Superfície cerâmica ligada quimicamente a hidroxilas provenientes

dissociação das moléculas de água ................................................................. .......6

Figura2.3 Moléculas de água formando a camada fisiossorvida..............................6

Figura 3.1 Sensor de umidade de solo ............................................................. .....14

Figura 3.2 Desenho esquemático do elemento sensor cerâmico. .................... .....15

Figura 3.3 Localização da área de coleta da amostra de solo ......................... .....16

Figura 3.4 Local de coleta das amostras de solo. ............................................ .....17

Figura 3.5 Esquema da realização das medições de umidade do solo. ........... .....19

viii

SUMÁRIO

Pág.

1 Introdução............................................................................................................1

1.1 Objetivos gerais .......................................................................................... .......2

1.2 Objetivos específicos ................................................................................. .......2

2 Fundamentação Teórica ............................................................................. .......3

2.1 Propriedades dos materiais cerâmicos ....................................................... .......3

2.2 Mecanismos de adsorção de água e condutividade elétrica nas cerâmicas

sensoras de umidade ....................................................................................... .......4

2.3 Solo ............................................................................................................ .......7

2.4 Deslizamentos de encostas ........................................................................ .......7

2.5 Movimentos de massa ................................................................................ .....10

2.5 Ocorrência de água no solo ........................................................................ .....11

3 Materiais e Métodos .................................................................................... .....13

3.1 Processo de fabricação do sensor ............................................................. .....13

3.2 Amostras de solos ...................................................................................... .....15

3.2.1 Características da amostra de solo ......................................................... .....16

3.3 Medições realizadas com os elementos sensores cerâmicos...........................17

4 Resultados e Discussões..................................................................................21

5 Conclusões.........................................................................................................25

6 Referência Bibliográfica ............................................................................. .....27

ix

1

1 INTRODUÇÃO

O Brasil possui muitas regiões que são suscetíveis ao deslizamento de encostas;

segundo um levantamento feito pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas do

Estado de São Paulo (IPT), cerca de 150 municípios brasileiros, localizados

principalmente nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais,

Pernambuco, Bahia, Espírito Santo e Santa Catarina são afetados pela ocorrência

desses processos nos períodos chuvosos [1].

No Brasil, a disparidade social faz com que a população menos favorecida, sem

opção de moradia, ocupe de forma irregular as encostas, removendo a vegetação

existente, realizando obras de aterramento e corte de morro sem qualquer

metodologia técnica, não executam obras de captação de águas e sistema de

drenagem, o que acaba sobrecarregando as encostas, aumentando a freqüência

dos deslizamentos [2].

Deslizamentos são episódios de extrema importância, resultantes da atuação de

processos geomorfológicos nas mais diversas escalas temporais causando, em

geral, enormes prejuízos à sociedade. Dentre os diversos fatores condicionantes

destacam-se os parâmetros morfológicos do terreno, os quais controlam

diretamente o equilíbrio das forças e, indiretamente, a dinâmica hidrológica dos

solos. Embora muitos estudos tenham voltado à atenção para a descrição de

eventos e para o monitoramento de campo, pouco ainda se sabe sobre a previsão

de ocorrência destes fenômenos [3].

Há mais de 24 anos, integrantes do Grupo de Pesquisas em Tecnologias

Ambientais (TECAMB), que integra o Laboratório Associado de Sensores e

Materiais (LAS), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), têm se

dedicado à elaboração de técnicas de diagnóstico, desenvolvimento e

2

caracterização de materiais e no aprimoramento de elementos sensores e de

sistemas sensores de parâmetros ambientais [1].

Em 2001, foram adaptados sensores inicialmente utilizados para medição de

umidade do ar, para se realizar medições de umidade de solo. Em um primeiro

momento, os sensores seriam para o monitoramento da umidade do solo para

serem usados como ferramenta de auxílio no manejo do solo na agricultura. Com

os crescentes danos causados por deslizamento de encostas nos últimos anos,

estes sensores podem ser uma alternativa para o entendimento e monitoramento

de umidade do solo em encostas. E que isso possa auxiliar a adoção de medidas

na mitigação e prevenção desses danos tão freqüentes [1].

1.1 Objetivos gerais

A principal meta foi analisar as influências das características físicas da amostra

de solo na capacidade de absorção/adsorção de água em medições em

laboratório.

1.2 Objetivos específicos

• Caracterizar cerâmicas com porosidade controlada, confeccionadas a partir de

pós iniciais de titânia (TiO2), zircônia (ZrO2) e nióbia (Nb2O5);

• Caracterizar estas cerâmicas porosas através de medições de sua

condutividade elétrica, quando imersas em uma amostra de solo deformada,

com diferentes quantidades de umidade;

• Relacionar os valores de condutividade elétrica com a porosidade, a composição

das cerâmicas e da amostra de solo testada.

3

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Propriedades dos materiais cerâmicos

Historicamente, os materiais cerâmicos precedem os metálicos. Os materiais

metálicos são melhores condutores térmicos e elétricos do que os cerâmicos, um

fato que se deve à liberdade dos átomos de valência dos metais. Ao contrário, os

materiais cerâmicos têm propriedades dielétricas muito superiores às dos metais.

Os cerâmicos são muito mais estáveis, nos desempenhos químicos e térmicos,

são muito mais resistentes à compressão do que à tração [4].

Materiais cerâmicos são, geralmente, uma combinação de elementos metálicos e

não metálicos. Geralmente a ligação predominante é a iônica. São isolantes de

calor e eletricidade geralmente. São mais resistentes às altas temperaturas e à

ambientes severos. Em relação às propriedades mecânicas, estes são duros,

porém frágeis [4].

Em um passado não muito distante, os materiais cerâmicos eram aqueles que

continham argila como matéria-prima, hoje estes materiais são chamados de

cerâmicas tradicionais. Com o passar dos anos muitos estudos sobre a natureza

destes materiais foram desenvolvidos e então o termo cerâmica passou a ter um

significado mais vasto [5].

Hoje a cerâmica é usada tanto na fabricação de produtos sanitários, porcelanas,

vidros como também pode ser aplicada para comunicação ótica, aplicações eletro

óticas para materiais a laser e substratos em circuitos eletrônicos para eletrodos

em dispositivos fotoeletroquímicos [6].

Já os sensores de umidade baseados em materiais cerâmicos, mais

especificamente os óxidos de metais, têm apresentados mais vantagens em

relação aos outros devido a sua resistência mecânica, resistência a contaminantes

4

químicos e estabilidade física e térmica. Atualmente os sensores mais utilizados

são os de polímeros e materiais cerâmicos [7].

2.2 Mecanismos de adsorção de água e condutividade elétrica nas cerâmicas

sensoras de umidade

Nos sensores cerâmicos para os quais o mecanismo de transporte de cargas

elétricas é de natureza iônica, inicialmente, as baixas umidades, as moléculas de

água são adsorvidas quimicamente na superfície, devido à alta densidade de

cargas e aos altos campos elétricos locais dos sítios catiônicos ou aniônicos. Após

a formação desta primeira camada ligada quimicamente, à medida que a umidade

aumenta, as moléculas de água passam a ser adsorvidas fisicamente para a

formação das sucessivas camadas. Nas vizinhanças da camada adsorvida

quimicamente, ocorre a dissociação das novas moléculas de água que se

aproximam, pois trata-se de uma região de alta densidade de troca de elétrons e

de campo eletrostático, produzindo hidrônio e íons hidroxila [8].

A condutividade dos elementos sensores cerâmicos pode ser de dois

tipos: eletrônica ou iônica. A natureza do transporte elétrico é determinada pela

espessura da camada adsorvida de água nos poros onde inicialmente, em

baixas umidades, ocorre o transporte elétrico através do salto de prótons

entre as hidroxilas da camada quimiossorvida, é um sistema de condução

onde é necessária elevada energia de ativação para que a ligação covalente

entre o hidrogênio e o oxigênio seja quebrada para que desse modo o H+ seja

desprendido. Com o aumento da umidade ocorre, o transporte eletrolítico de

acordo com a reação química denominada Grotthus Chain onde os prótons

saltam entre moléculas de água da camada fisissorvida, é um processo onde a

energia necessária para que haja condução elétrica é menor já que esse

mecanismo de transporte é energeticamente favorável em água líquida. Uma

vez formada a camada fisissorvida esta não mais será afetada pelo aumento da

5

umidade. No caso da anatase, que é a fase da titânia utilizada neste trabalho, é

estimada que a temperatura na qual dessorção da camada quimiossorvida ocorre

situa-se em torno de 200 ºC. Por volta de uma umidade relativa em torno de

20 % a primeira camada fisissorvida completa-se e muitas outras podem ser

formadas de acordo com o aumento da umidade. Quando os poros se tornam

saturados com vapor de água começa a ocorrer a condensação por

capilaridade. A uma temperatura de 23 ºC começa a ocorrer a condensação nos

mesoporos com tamanhos de 20 Å quando a umidade relativa situa-se por volta

de 15 %, essa condensação continua até atingir poros de diâmetros de 1000 Å

sob uma atmosfera saturada [9].

A Fig. 2.1 mostra o processo de adsorção da molécula de água na superfície

cerâmica, vale ressaltar que não existe compartilhamento de elétrons entre o

metal e o oxigênio da cerâmica já que se trata de ligação iônica. Com a

aproximação de uma molécula de água na superfície cerâmica, observa-se a

diferença de densidade de carga dos átomos constituintes da superfície bem como

o inicio da dissociação das moléculas de água onde ocorre a formação da camada

quimissorvida, camada esta formada apenas por hidroxilas ( Fig. 2.2).

Como mostra a Fig. 2.3, as duas primeiras camadas fisissorvidas não possuem

mobilidade, isso ocorre devido às pontes duplas de hidrogênio, após estas, e até a

condensação nos poros existem apenas pontes de hidrogênio simples.

6

Figura 2.1. Aproximação de moléculas de água na superfície cerâmica. Fonte: [10].

Figura 2.2. Superfície cerâmica ligada quimicamente a hidroxilas provenientes dissociação das moléculas de água. Fonte: [10].

Figura 2.3. Moléculas de água formando a camada fisissorvida. Fonte: [10].

7

2.3 Solo

De um modo geral, o solo pode ser conceituado como um manto superficial

formado por rocha desagregada e, eventualmente, cinzas vulcânicas, em mistura

com matéria orgânica em decomposição, contendo, ainda, água e ar em

proporções variáveis e organismos vivos [11].

A proporção de cada um dos componentes pode variar de um solo para outro.

Mesmo em um solo de determinado local, as proporções de água e ar variam

sazonalmente, com os períodos de maior ou menor precipitação. Em termos

médios de grandeza, os componentes podem ser encontrados na seguinte

proporção: 45% de elementos minerais; 25 % de ar; 25 % de água; e 5 % de

matéria orgânica [12].

2.4 Deslizamentos de encostas

A princípio os deslizamentos de terra e de encostas fazem parte, assim como

outros tipos de movimento de massa, da dinâmica de transformação e formação

natural da crosta terrestre e se relacionam a fenômenos naturais como a variação

climática e a gravidade, porém em lugares onde há a ocupação humana esses

movimentos tendem a ter conseqüências muito graves. Em situações de

deslizamento não há como conter o movimento de terra iniciado e tudo o que

estiver pela frente pode ser soterrado ou mesmo levado pela encosta. No entanto,

mesmo se tratando de fenômenos naturais, os movimentos de massa e os

deslizamentos de encostas são na maioria das vezes desencadeados pela

natureza e agravados pela ação humana, que acaba sendo decisiva para a

ocorrência ou ainda para o agravamento desses movimentos [13].

Associado a ação do homem com a ocupação desgovernada, a construção de

estradas e a degradação da vegetação nativa, está o clima tropical brasileiro, onde

são comuns períodos muito chuvosos tanto no inverno quanto no verão. Esse é

8

um fator decisivo que faz com que o solo fique encharcado, criando a situação

propícia para os deslocamentos de massa com o conseqüente deslizamento de

encostas. Quanto mais íngremes e sem vegetação forem às encostas, maiores os

riscos de deslizamento [14].

No Brasil, na região Sul e Sudeste (Serra do Mar e Serra da Mantiqueira), no

Nordeste (regiões assentadas sobre a Formação Barreiras) e as regiões serranas

nos planaltos centrais são as áreas do país com maior tendência a sofrer com

estes tipos de processos [13].

A tabela a seguir mostra os tipos de deslizamentos de encostas (Tabela 2.1).

9

Tabela 2.1. Principais tipos de deslizamentos e suas características. Fonte: [15].

10

2.5 Movimentos de massa

Assim como todos os materiais da Terra, o material desagregado das rochas e o

regolito (ou manto de alteração) formado pela ação do intemperismo sofrem a

ação contínua da gravidade. Enquanto a rocha sã é normalmente resistente a

ação desta força constante, o regolito é passível de ser movimentado de forma

relativamente fácil pela gravidade. Aos movimentos de rocha desagregada e

regolito por ação da gravidade dá-se o nome de Movimentos de Massa. Esse é o

principal processo de retirada do material liberado pelo intemperismo para sua

posterior incorporação pelos agentes transportadores.

A ação contínua da gravidade sobre o regolito, faz com que as encostas estejam

em constante evolução. O material liberado no topo das colinas e ao longo de toda

encosta são constantemente retirados de sua posição original e levados para

posições topográficas mais baixas. O processo pode ser muito lento e

imperceptível, a menos que haja marcadores do movimento, ou pode ser rápido e

catastrófico.

A inclinação da encosta é um fator de estabilidade muito importante. Isso porque

com o aumento da inclinação da encosta aumenta o efeito da força de gravidade

em relação à força de atrito. Desta forma, quanto maior a encosta maior a

tendência de movimento dos materiais sobre ela. A estabilidade dos materiais em

encostas com diferentes inclinações é definido pelos fatores anteriormente

mencionados. Qualquer fator que altere a inclinação das encostas pode, portanto,

alterar a estabilidade das mesmas. A presença de vegetação é um fator adicional

que define a condição de estabilidade das encostas. As raízes das árvores

aumentam a coesão do solo, aumentando o seu ângulo de repouso. A perda

dessa cobertura vegetal, por sua vez, modifica as condições de estabilidade da

encosta. O resultado final é normalmente um acentuamento da erosão das

encostas e o aumento do potencial para movimentos rápidos na mesma. [16]

11

2.6 Ocorrência de água no solo

Das três fases do solo, sólida, líquida e gasosa, as duas últimas são

complementares, isto é, a máxima presença de uma implica na ausência da outra.

Sempre a porção do espaço poroso não ocupada pela fase líquida será

complementada pela fase gasosa. Portanto, a fase líquida pode estar presente

nos poros do solo completa ou parcialmente. No primeiro caso, o solo é dito

saturado e, no segundo, não saturado. De modo geral, os solos se encontram não

saturados de água, mas mesmo assim armazenam considerável quantidade de

água, parte da qual deve ser utilizada pelas plantas. Os processos dinâmicos da

água em solos não saturados fazem parte de assuntos científicos terrestres do

ciclo hidrológico e de problemas relacionados com irrigação, ecologia de plantas, e

com a biologia da fauna e flora do solo. Processos específicos de grande interesse

e importância incluem infiltração, redistribuição e evaporação da água pelos solos.

[17]

Segundo Lepsch (1976), os microporos funcionam como tubos capilares e, por

esta razão, a água é referida como água capilar. Ela está retida no solo com

tal força que consegue manter-se no solo mesmo contra a ação da gravidade.

Nem todos os solos têm a mesma capacidade de reter água, variando em função

de diversas características tais como: textura, estrutura e conteúdo de matéria

orgânica. Solos arenosos e com pouco húmus têm menor capacidade de reter

água do que solos argilosos ricos em húmus [10].

12

13

3 MATERIAIS E MÉTODOS

Os materiais utilizados na caracterização das cerâmicas porosas de TiO2-ZrO2

sem e com adições de porcentagens controladas de Nb2O5, através de

medições de sua condutividade elétrica, quando imersas na amostra de solo,

selecionada com diferentes quantidades de umidade são mostradas a seguir.

• Pastilhas cerâmicas de TiO2-ZrO2 dopadas com 1, 5, 10, 15, 20 % de nióbia e

• Microcomputador ligado a uma ponte RLC da marca PHILIPS – PM 6304.

3.1 Processo de fabricação do sensor

No caso das pastilhas do estudo complementar, realizados anteriormente,

os elementos cerâmicos de TiO2-ZrO2 foram sintetizados a partir da mistura de

50% em massa de TiO2 e 50% em massa de ZrO2. Os pós foram misturados, em

suspensão alcoólica, em moinho centrífugo. Após a mistura ser seca em estufa,

o material foi prensado, em prensa uniaxial, a pressões de 100 MPa em matriz de

aço na forma de pastilhas. As pastilhas foram sinterizadas em temperaturas de

1100 ºC por 3 horas. Após essa etapa, na pastilha cerâmica foi, em ambos os

lados, depositada uma fina camada de cola prata para que desse modo fossem

criadas duas placas condutoras paralelas separadas pela cerâmica que tem a

função do dielétrico do capacitor gerado. Em seguida foi soldado com o auxilio

de cola de prata, nas faces do capacitor fios de estanho como anteriormente.

Após a etapa anterior o elemento sensor foi isolado por resina polimérica

como mostra a Figura 3.1. Esta se apresentou excelente para tal propósito já

que possui alta constante de isolamento, além de elevada resistência tanto

mecânica quanto ao ataque químico proveniente do meio agressivo onde será

aplicada. A resina juntamente com seu catalisador e o sistema “fio-capacitor”

14

foram então inseridos em um molde metálico onde após 24 horas foram

retirados.

Figura 3.1. Sensor de umidade de solo. Fonte: [12].

Os sensores desenvolvidos são do tipo capacitivo, em formato de sandwich, ou

seja, placa condutora + material dielétrico (pastilha cerâmica) + placa condutora.

Para se obter esta configuração, depositou-se uma cola de prata em cada uma

das superfícies da pastilha cerâmica, para se obter o efeito capacitivo, onde foram

acoplados eletrodos de cobre, conforme Figura 3.2. Posteriormente, os elementos

sensores foram encapsulados em uma resina polimérica com a finalidade de

manter a integridade física e química do material e evitar interferências [6].

15

Figura 3.2. Desenho esquemático do elemento sensor cerâmico. Fonte: adaptada

[6].

3.2. Amostra de solo

A amostra deformada de solo, proveniente de um deslizamento de terra, foi

coletada no Km 30 da rodovia Floriano Rodrigues Pinheiro (SP-123), localizado

na região serrana do Estado de São Paulo, microrregião da Serra da

Mantiqueira, próximo ao município de Santo Antônio do Pinhal (Figura 3.3).

Eletrodos de cobre

Pastilha cerâmica

de TiO2-ZrO2

com Nb2O5

Cola de prata

16

Figura 3.3. Localização da área de coleta da amostra de solo, que corresponde ao

município de Santo Antônio do Pinhal, mostrado em relação ao Brasil e

ao Estado de São Paulo. Fonte: [1].

De acordo com a Base de Dados Geoambientais do Estado de São Paulo,

elaborada pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), a região de coleta

das amostras de solos apresenta de alta a muito alta suscetibilidade a processos

de escorregamentos [1].

3.2.1 Características das amostras de solo

A amostra de solo foi coletada próximo ao município de Santo Antônio do Pinhal,

região serrana do Estado de São Paulo (microrregião da Serra da

Mantiqueira), como mostra na Figura 3.4 o local da extração da amostra.

17

Figura 3.4. Local de coleta das amostras de solo, situado na rodovia Floriano

Rodrigues Pinheiro (SP-123), km 30, no município de Santo Antônio

do Pinhal, SP. Fonte: [1].

3.3 Medições realizadas com os elementos sensores cerâmicos

Para a efetivação das medições de umidade do solo, inicialmente era necessário

saber qual a quantidade de água real para que a amostra de solo chegasse ao

seu ponto de saturação. Então, foi realizado um estudo prévio para obter o grau

de saturação da amostra de solo.

18

Em seguida, por meio da relação da massa de água necessária para saturar certa

massa de amostra de solo, estimou-se a quantidade de água necessária para que

se atingisse o ponto de saturação em cada uma das amostras de solo.

Antes de realizar qualquer medição da umidade do solo, as amostras de solo

foram colocadas em uma estufa durante 24 horas, com temperatura aproximada

de 110 ºC, para que a amostra perdesse o máximo possível de umidade.

Após isto, realizaram-se 10 séries de medições em diferentes faixas de umidade

do solo, sendo a primeira realizada em solo seco e as demais com o solo úmido,

até atingir então, o ponto de saturação. Cada uma das séries de medições contém

30 medidas de capacitância, com o objetivo de se ter um valor médio de

capacitância para cada faixa de umidade e o desvio padrão para cada medição, a

fim de que se tivesse uma maior confiabilidade nos dados. Para que a amostra

não perdesse umidade para a atmosfera, após cada adição de água, a amostra foi

vedada com filme PVC transparente.

Segue abaixo a Figura 3.5, que demonstra o esquema da realização das

medições de umidade do solo.

19

Figura 3.5. Esquema da realização das medições de umidade do solo. Fonte: [1].

As medições de capacitância foram obtidas através de uma Ponte RLC (PHILIPS-

FLUKE/PM6304). Está Ponte RLC é responsável pela excitação e obtenção de

sinais elétricos dos corpos cerâmicos utilizados como elementos sensores. Foram

realizadas medições nas freqüências de 100 Hz, 1 kHz e 10 kHz em todos os seis

sensores utilizados.

É importante destacar que todas as medições de umidade do solo foram

realizadas em temperatura ambiente (25 oC).

20

21

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os comportamentos elétricos dos elementos sensores cerâmicos de TiO2-ZrO2 e

com adições de 1, 5, 10, 15 e 20 % de Nb2O5, sinterizados na temperatura de

1100 oC, em função do conteúdo de água em amostra selecionada de solo, nas

freqüências de 100 Hz, 1 kHz e 10 kHz, foram analisados (Figura 4.1).

Na Figura 4.1a, observa-se uma tendência ao comportamento linear das curvas de

capacitância em função do conteúdo de água no solo para os elementos sensores

cerâmicos, em estudo. Até o conteúdo de água no solo de, aproximadamente, 3

%, todos os elementos sensores cerâmicos apresentaram comportamentos

semelhantes e, a partir de, aproximadamente, 7 % de água na amostra de solo, os

elementos sensores com as adições de 1 e de 15 % de Nb2O5 apresentaram

menor capacidade sensora. Por outro lado, os elementos sensores de TiO2-ZrO2 e

com adições de 5, 10 e 20 % de Nb2O5 apresentaram uma maior variação de

capacitância com o aumento do conteúdo de água na amostra de solo. Com isso,

esses elementos sensores cerâmicos apresentaram maior capacidade sensora

para o conteúdo de água no solo.

Os valores de capacitância diminuíram com o aumento da freqüência, conforme

mostrado nas Figuras 4.1b e 4.1c. Entretanto, na Figura 4.1b, a variação das

curvas de capacitância foi menor, quando comparado com os valores mostrados

na Figura 4.1a, tornando-as mais estáveis. Ao contrário pode se observar na

Figura 4.1c, cujos valores iniciais de capacitância apresentaram maior variação,

quando comparado com os valores mostrados na Figuras 4.1a e 4.2b, tornando-os

menos estáveis e, a partir do conteúdo de água no solo de, aproximadamente, 7

% apresentaram menor capacidade sensora.

22

0 5 10 15 20 25 30

10-11

10-10

10-9

10-8

ZrO2-TiO

2

1 % Nb2O

5

5 % Nb2O

5

10 % Nb2O

5

15 % Nb2O

5

20 % Nb2O

5C

ap

ac

itâ

nc

ia (

F)

Conteúdo de água no solo (%)

a)

0 5 10 15 20 25 3010

-12

10-11

10-10

10-9

ZrO2-TiO

2

1 % Nb2O

5

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5

10 % Nb2O

5

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5

20 % Nb2O

5

Ca

pa

cit

ân

cia

(F

)

Conteúdo de água no solo (%)

b)

23

0 5 10 15 20 25 30

10-12

10-11

10-10

ZrO2-TiO

2

1 % Nb2O

5

5 % Nb2O

5

10 % Nb2O

5

15 % Nb2O

5

20 % Nb2O

5

Ca

pa

cit

ân

cia

(F

)

Conteúdo de água no solo (%)

c)

Figura 4.1. Curvas de capacitância em função do conteúdo de água em amostra

de solo, previamente selecionada, utilizando elementos sensores

cerâmicos de TiO2-ZrO2 e com dopagens de 1, 5, 10, 15 e 20 % de

Nb2O5, sinterizados na temperatura de 1100 oC, realizadas nas

seguintes freqüências a) 100 Hz, b) 1 kHz e c) 10 kHz, na

temperatura ambiente de 25 oC.

24

25

5 CONCLUSÃO

Os elementos sensores de cerâmicas porosas de TiO2-ZrO2 e com adições de

porcentagens controladas de Nb2O5, sinterizados na temperatura de 1100 oC,

apresentaram potencial para serem utilizados no monitoramento do conteúdo de

água em amostras selecionadas de solo. Porém, os resultados não foram

conclusivos. No entanto, os resultados mais satisfatórios ocorreram para os

elementos sensores de TiO2-ZrO2 e com 5, 10 e 20 % de Nb2O5, nas freqüências

utilizadas.

26

27

6 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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porosa de ZrO2-TiO2 para aplicação no monitoramento do conteúdo de

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