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ISSN 1679-5458 (versão impressa) ISSN 1808-5210 (versão online) Rev. Cir. Traumatol. Buco-Maxilo-Fac., Camaragibe v.13, n.2, p. 09-14 , abr./jun. 2013
Rece
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Rayanne Izabel Maciel de Sousa I|Manuela Gouvêa Campelo dos Santos II|James Maxwell de Souza oliveira III |Valmir Braga de aquino Mendonça III|Pollianna Muniz alves IV|Jozinete Vieira Pereira IV
I. Cirurgiã- dentista. Graduanda do curso de odontologia uEPB/Bolsista PIBIC.II. Cirurgiã- dentista. Mestranda do Programa de Pós-graduação em odontologia da uEPB.III. Cirurgião- dentista. Especialista em buco-maxilo-facial.IV. Cirurgiã- dentista. Professoras do Programa de Pós-graduação em odontologia da uEPB.
RESUMO
Introdução: o adenoma pleomórfico é o tumor benigno de origem glandular mais freqüente na cavi-
dade oral. Representa cerca de 70 a 90% dos tumores das glândulas salivares maiores, mais raramente
na glândula submandibular. objetivo: relatar um caso clínico de adenoma pleomórfico localizado na
glândula submandibular, tratado através de excisão cirúrgica. Relato de Caso: o presente artigo descreve
um caso relativamente incomum em uma paciente do sexo feminino, 22 anos de idade, com queixa de dor
e dificuldade para falar e um aumento de volume na região cervical com duração de aproximadamente 2
anos, sem história prévia de trauma, infeccção ou procedimento cirúrgico na região. Foi realizada exérese
do tumor, cuja análise histopatológica diagnosticou adenoma pleomórfico. a paciente foi proservada pelo
período de cinco anos, sem indícios de recidivas.
Descritores: Neoplasia benigna; adenoma pleomórfico; cirurgia.
ABSTRACT
Introduction: Pleomorphic adenoma is a benign tumor of glandular origin most frequently in the oral
cavity. This represents approximately 70-90% of tumors of the salivary glands, more rarely in the subman-
dibular gland. objective: To report a case of pleomorphic adenoma located in the submandibular gland,
treated by surgical excision. Case Report: This article describes a relatively unusual in a female patient,
22 years old, complaining of pain and difficulty speaking and a swelling in the neck with a duration of
approximately two years, no history trauma, or surgical procedure infeccção in the region. We performed
excision of the tumor, whose histopathology analysis diagnosed pleomorphic adenoma. The patient was
accompanied for a period of five years without evidence of recurrence.
Descriptors: benign neoplasm; pleomorphic adenoma; surgery.
V13N2Adenoma Pleomórfico em glândula submandibular: relato de caso e uma revisão dos achados atuais
Pleomorphic adenoma in the submandibular gland: a case report and review of current findings
ISSN 1679-5458 (versão impressa) ISSN 1808-5210 (versão online) Rev. Cir. Traumatol. Buco-Maxilo-Fac., Camaragibe v.13, n.2, p. 09-14 , abr./jun. 2013
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INTRODUÇÃO
os tumores de glândulas salivares constituem
um importante grupo de lesões dentro do universo
da patologia bucal, destacando-se entre as neopla-
sias que acometem a região de cabeça e pescoço,
não só pela diversidade morfológica apresentada,
que usualmente suscita dificuldades de diagnóstico
e classificação, como também pela variedade do
comportamento biológico, além do seu razoável
grau de freqüência, sendo o adenoma Pleomórfico
a neoplasia benigna mais comum das glândulas
salivares.1
o adenoma Pleomórfico, também conhecido
como tumor misto, geralmente acomete adultos
entre a 3ª e 5ª décadas e cerca de 60% dos casos
são relatados no sexo feminino 2, acometendo tanto
glândulas salivares menores quanto maiores, em
que a glândula parótida é a mais acometida, sendo
bem menos freqüente sua incidência na glândula
submandibular 3. Quando essa lesão afeta glân-
dulas salivares menores, o local de acometimento
mais freqüente é a região de palato duro, seguida
do lábio superior, língua, assoalho de boca e re-
gião retromolar. Inúmeras teorias surgiram visando
explicar a histogênese desse tumor, sendo que atu-
almente estão centralizadas na célula mioepitelial e
na célula de reserva do ducto intercalado. 2,5
as características histológicas mostram a grande
heterogeneidade desse tumor, com proliferação
celular de número variável, sendo, portanto, con-
siderado um verdadeiro tumor misto, apresentando
características mioepiteliais, estruturas ductiformes e
um estroma de tecido condróide, mixóide, hialino,
adiposo e/ou ósseo, possuindo cápsula conjuntiva
fibrosa de espessura e integridade variáveis. Por
causa dessa variação, muitos padrões diferentes
podem ser vistos em diferentes áreas do mesmo
tumor, motivando o seu nome, pleomórfico (do
grego, significando muitas formas). 4
Clinicamente, apresenta-se como uma massa
indolor, persistente de crescimento lento e na maio-
ria dos casos, não provoca ulceração da mucosa
subjacente.5 Geralmente tem dimensões de 2 a 3
centímetros, mas podem atingir grandes volumes.
Pode ocorrer, ocasionalmente, aumento rápido de
volume, indício presuntivo de transformação malig-
na.6 a degeneração maligna é uma potencial com-
plicação, resultando em um carcinoma ex-adenoma
pleomórfico, com relatos variando de 5% a 23% dos
casos. o tratamento de eleição para o adenoma
Pleomórfico é a excisão cirúrgica. uma ressecção
inadequada pode levar à recidiva local. 7
o objetivo deste trabalho é relatar um caso
de adenoma Pleomórfico localizado na glândula
submandibular o qual causava assimetria facial na
paciente, devido a sua grande extensão e discutir por
meio de revisão de literatura os achados atuais no to-
cante ao diagnóstico e terapêutica desta neoplasia.
RELATO DE CASO
Paciente, do sexo feminino, com 22 anos de
idade, melanoderma, procurou o Serviço espe-
cializado odontológico em Hospital de referência,
queixando-se de dor, dificuldade para falar e um
aumento de volume na região cervical próximo
a linha média. Durante a anamnese, relatou a
presença do aumento de volume em torno de dois
anos, sem história prévia de trauma, infeccção
ou procedimento cirúrgico na região. a paciente
também negou história de tabagismo e consumo
de álcool.
ao exame físico extra oral, observou-se a pre-
sença de uma tumefação firme, fixa e indolor na
região cervical e submandibular esquerda, com
pontos avermelhados próximos a área tumefeita
(Figura 1a). No exame intra oral, não foi verificado
nenhum sinal clínico evidente de tumefação, ulce-
ração ou supuração.
Foram solicitados exames imaginológicos, como
radiografia panorâmica, oclusal e ultrassonografia
da região cervical esquerda (Figura 1B).
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envolvida que foi cuidadosamente separada dos
tecidos circunvizinhos e então realizada a ressecção
do ducto da glândula submandibular para envio da
peça ao exame histopatológico (Figura 2).
Figura 1 - a) Vista frontal pré-operatória onde se observa tumefação na região cervical submandibular. B) uSG da região cervical evidenciando-se área hipe-recóica nodular.
Foi realizada uma biópsia incisional obtendo o
diagnóstico histopatológico de adenoma pleomórfi-
co, e, portanto, sugerindo a realização da remoção
total da lesão. antes de realizar a cirurgia total
foram solicitados à paciente, exames laboratoriais
pré-cirúrgicos de rotina incluindo hemograma,
coagulograma, glicemia, TS, TTT e TTP. após veri-
ficar que os resultados encontravam-se dentro dos
padrões de normalidade, foi programada a cirurgia
para exérese da lesão, onde a paciente foi submeti-
da à anestesia geral. Realizou-se uma aplicação de
anestésico local com vasoconstrictor, com o intuito
de auxiliar na hemostasia local. uma incisão linear
foi realizada na região e a pele foi divulsionada por
dissecação, com o objetivo de promover um me-
lhor relaxamento tecidual e assim expor a glândula
A
B
A
B
C
Figura 2 - a) Trans-operatório exibindo a retirada total da lesão. B) aspecto macroscópico da peça cirúrgica. C) aspecto do Pós-operatório com 60 dias de proser-vação.
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DISCUSSÃO
o adenoma Pleomórfico é o tumor benigno
mais comum das glândulas salivares 8. Na maioria
dos casos, estes tumores surgem nas glândulas
salivares maiores, acometendo principalmente a
parótida, seguida da submandibular, representando
cerca de 53% a 77% dos tumores de parótida, 44%
a 68% dos tumores da glândula submandibular e
33% a 43% dos tumores de glândula salivar menor. 1,3,10
Em função do adenoma Pleomórfico apre-
sentar-se como uma lesão de crescimento lento
e indolor, pode haver um intervalo prolongado
Depois de realizar a remoção da lesão, foi
feita a sutura para o fechamento dérmico, com
um dreno, visando permitir a saída de fluidos e foi
instituído antibioticoterapia profilática (amoxicilina,
500mg, 8h/8h, durante sete dias), um analgésico
no caso de dor (paracetamol, 750mg) bem como
um antiinflamatório (ibuprofeno, 500mg, de 8h/8h).
a remoção da sutura foi feita 10 dias após a cirurgia
e a paciente foi acompanhada durante 60 dias,
sendo orientada a necessidade de proservação por
um período de pelo menos cinco anos.
o laudo do exame histopatológico revelou a
presença de uma neoplasia de origem glandular
exibindo a proliferação de conspícuas estruturas
ductiformes, algumas com material mucóide no
interior do lúmen, em permeio a um estroma
mixomatoso, sendo também uma neoplasia bem
encapsulada, confirmando assim o diagnóstico de
adenoma pleomórfico.
ao corte pode-se observar a população celu-
lar densa, formada por células epiteliais dispostas
em lençol, cordões e ilhotas isoladas (Figura 3a).
Pode-se observar em algumas áreas, que as células
formavam múltiplos ductos, mostrando na sua peri-
feria células menores e achatadas que lembram as
mioepiteliais (Figura 3B). No estroma evidencia-se
uma quantidade variável de material condroide, por
onde entremeavam as células epiteliais (Figura 3C).
Não se observou quaisquer sinais de displasia ou
alterações que indicassem malignidade.
Figura 3 - a) Fotomicrografia exibindo células epiteliais e mioepiteliais formando estruturas ductiformes, dispos-tas tambem em ilhas, lençois e cordões (HE/40X). B) Estruturas ductiformes compostas por células epiteliais e mioepiteliais em sua periferia, bem como proliferação de células mioepiteliais (HE/100X) C) Maior aumento exibindo estroma com material condróide (HE/400X).
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entre o surgimento dos primeiros sinais e sintomas
até o diagnóstico definitivo e seu tratamento 10 .
Esse fato ocorreu no caso clínico relatado em que
a paciente só procurou o serviço especializado
odontológico após um longo período de evolução
de dois anos.
No tocante ao tratamento dessa neoplasia, o
conhecimento do comportamento biológico do
tumor é fator primordial e determinante para a
escolha da terapêutica correta 4 . um dos aspectos
mais característicos do adenoma pleomórfico é a
diversidade no que se refere ao padrão histopatoló-
gico 6. o arranjo das células epiteliais em folhetos
e cordões é o padrão característico desses tumores
que independem da localização, em glândulas
salivares maiores ou menores 10. os aspectos da
histopatologia do presente estudo mostraram uma
variedade na disposição das células epiteliais, que
se apresentavam na forma de estruturas ductais, al-
gumas com material mucóide no interior do lúmen,
em permeio a um estroma mixomatoso, sendo bem
encapsulada. a ausência de mitoses atípicas ou
outros indícios de malignidade permite a conclusão
de que o tumor encontrado é benigno.
a conduta terapêutica mais utilizada para o
adenoma Pleomórfico consiste na excisão cirúrgica
com margem de segurança, uma vez que a recidiva
pode ocorrer devido à permanência de resíduos da
cápsula ou mesmo da própria lesão, o que pode
aumentar também a possibilidade de transformação
maligna do tumor, para um carcinoma ex-adenoma
pleomórfico 7 . Quando estes tumores se tornam
malignos tem um comportamento agressivo ge-
rando uma taxa de mortalidade em 5 anos de até
50% 2,6. o fator determinante para recidiva não é o
período de evolução da lesão em que o tratamento
cirúrgico é realizado, a taxa de recorrência do tumor
varia de acordo com a técnica cirúrgica utilizada 4 . o tratamento proposto no caso aqui relatado
buscou a remoção total da glândula submandibular,
conforme é citado na literatura como terapia para
um tratamento mais apropriado e seguro. 1,7
Por invadir, na grande maioria das vezes apenas
os tecidos moles, dificilmente há uma indicação
para remoção do tecido ósseo. a ultrassonografia e
os exames por imagens são de grande importância
para a localização e demarcação exata da lesão 9
, como demonstrada no caso aqui relatado.
o acompanhamento dos casos de adenoma
Pleomórfico é de grande valia, e a proservação
deve ser de cinco anos 8 , corroborando o caso
aqui relatado na qual a paciente apresenta-se sob
acompanhamento há cerca de cinco anos e não
foram observadas quaisquer alterações clínicas
relacionadas a uma possível recidiva.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
após revisão dos conceitos atuais, pode-se dizer
que uma avaliação minuciosa da queixa do pacien-
te, um exame físico bem executado e os exames
complementares por imagem e microscópicos são
fundamentais para o diagnóstico e assim possibilitar
um planejamento do tratamento adequado, visto
que essa neoplasia pode apresentar características
semelhantes às presentes em tumores malignos,
com exceção de atipias celulares. Verificou-se que
a tratamento da glândula salivar deve ser executado
com a remoção do tumor associado à remoção da
glândula, pois embora o adenoma Pleomórfico seja
um tumor benigno, existe a possibilidade de trans-
formação maligna para carcinoma ex-adenoma
pleomórfico, em casos com história de recidiva e
longo tempo de evolução.
Vale ressaltar também a importância da parti-
cipação de uma equipe multidisciplinar para um
diagnóstico precoce do tumor e um tratamento
menos invasivo e com melhor prognóstico para o
paciente, envolvendo médicos, estomatologista,
cirurgião buco-maxilo-facial, patologista oral e
radiologista.
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