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ACADEMIA MILITAR
DIRECO DE ENSINO
Mestrado em Cincias Militares, na especialidade de Artilharia
TRABALHO DE INVESTIGAO APLICADA
A Formao dos Oficiais da Arma de Artilharia: Histria do ensino da Artilharia
da Escola do Exrcito (1837) Academia Militar
Autor: Asp Al Art Fbio Samuel Espiguinha Marmelo
Orientador: TCor Art Pedro Marqus de Sousa
Lisboa, Julho de 2011
ACADEMIA MILITAR
DIRECO DE ENSINO
Mestrado em Cincias Militares, na especialidade de Artilharia
TRABALHO DE INVESTIGAO APLICADA
A Formao dos Oficiais da Arma de Artilharia: Histria do ensino da Artilharia
da Escola do Exrcito (1837) Academia Militar
Autor: Asp Al Art Fbio Samuel Espiguinha Marmelo
Orientador: TCor Art Pedro Marqus de Sousa
Lisboa, Julho de 2011
A Formao dos Oficiais da Arma de Artilharia: Histria do Ensino da Artilharia da Escola do Exrcito (1837) Academia Militar
Asp Al Art Fbio Samuel Marmelo Pgina ii
DEDICATRIA
Aos meus pais por toda a educao e apoio,
Catarina por toda a ajuda e compreenso .
A Formao dos Oficiais da Arma de Artilharia: Histria do Ensino da Artilharia da Escola do Exrcito (1837) Academia Militar
Asp Al Art Fbio Samuel Marmelo Pgina iii
Agradecimentos
Aps a realizao deste trabalho gostaria de agradecer a todos aqueles, que de uma ou de
outra forma, contriburam e me deram uma preciosa ajuda para a sua realizao,
particularmente:
Ao Coronel de Artilharia Maurcio Raleiras por toda a sua disponibilidade e pelos
preciosos contributos prestados na elaborao do TIA;
Ao Tenente-Coronel de Artilharia Lus Oliveira, Director do curso de Artilharia da
Academia Militar, pela sua disponibilidade e auxlio durante a realizao do TIA;
Ao Tenente-Coronel de Artilharia Marqus de Sousa, professor da Academia
Militar e meu Orientador, pela sua preciosa orientao, empenho e
disponibilidade no decorrer do TIA;
D. Paula, funcionria da biblioteca da Academia Militar, pela sua ajuda e
compreenso na pesquisa de fontes para a realizao do TIA;
A Formao dos Oficiais da Arma de Artilharia: Histria do Ensino da Artilharia da Escola do Exrcito (1837) Academia Militar
Asp Al Art Fbio Samuel Marmelo Pgina iv
ndice Geral
ndice de Apndices ...vi
ndice de Anexos ............................................................................................................ viii
Lista de Siglas e Abreviaturas ........................................................................................... ix
Resumo ....xi
Abstract ........................................................................................................................... xii
INTRODUO ................................................................................................................. 1
CAPTULO 1 - ESBOO HISTRICO DO ENSINO DA ARTILHARIA DESDE A 1
AULA DE ENSINO TERICO MILITAR (1641) AT ACADEMIA MILITAR (1974) ...... 4
CAPTULO 2 - A ESCOLA DO EXRCITO DE 1837 A 1910: O PROGRESSO DA
FORMAO DOS OFICIAIS DE ARTILHARIA ............................................................... 8
2.1. As primeiras repercusses da mudana: 1837 1863 ........................................ 8
2.2. O ensino da Artilharia com a Revoluo Industrial, 1863 1890 ........................12
2.3. A formao dos Oficiais de Artilharia com o Ultimatum britnico, 1890 1910 ..15
2.4. As Reformas de Portugal na organizao da Escola do Exrcito .......................19
CAPTULO 3 - A FORMAO DOS OFICIAIS DE ARTILHARIA: DA REPBLICA 1
GUERRA MUNDIAL: 1911 1919 ..................................................................................21
3.1. A implantao da Repblica e a formao dos Oficiais de Artilharia: 1911 a 1916
...21
3.2. As consequncias da 1 Guerra Mundial na formao dos Oficiais de Artilharia:
1916 - 1919 ..................................................................................................................23
3.3. As grandes alteraes nos cursos de Artilharia com a 1 Repblica e com a I
Guerra Mundial ............................................................................................................26
CAPTULO 4 - O FIM DA GUERRA E O INCIO DA DITADURA MILITAR NA
FORMAO DOS OFICIAIS DE ARTILHARIA: 1919-1958 ...........................................28
4.1. A estabilizao no ensino depois das controvrsias da I Guerra Mundial ..........28
4.2. As consequncias do incio da Ditadura nacional (1926) na organizao dos
cursos de Artilharia das Escolas do Ensino Superior Militar .........................................29
4.3. As reformas no ensino aps a I Guerra Mundial ................................................34
A Formao dos Oficiais da Arma de Artilharia: Histria do Ensino da Artilharia da Escola do Exrcito (1837) Academia Militar
Asp Al Art Fbio Samuel Marmelo Pgina v
CAPTULO 5 - A FORMAO DOS OFICIAIS DE ARTILHARIA NA ACADEMIA
MILITAR NO PERODO DAS CAMPANHAS DA GUERRA DE FRICA (1961) AT
REVOLUO DE 25 DE ABRIL DE 1974 .......................................................................36
5.1. O Exrcito e Fora Area na Academia Militar ..................................................36
5.2. O esforo para formar Oficiais devido s exigncias da Guerra de frica de 1961
...40
5.3. As influncias da Guerra de frica nas reorganizaes da Academia Militar .....43
Consideraes Finais ....................................................................................................45
Referncias Bibliogrficas ............................................................................................50
A Formao dos Oficiais da Arma de Artilharia: Histria do Ensino da Artilharia da Escola do Exrcito (1837) Academia Militar
Asp Al Art Fbio Samuel Marmelo Pgina vi
ndice de Apndices
Apndice 1 Plano de estudos do curso de Artilharia antes e aps 1860 ......................53
Apndice 2 Relao entre os alunos matriculados no 1 ano no curso de Artilharia e
aqueles que realmente terminaram o curso no perodo entre 1837 e 1863 ......................53
Apndice 3 Plano de estudos do curso de Artilharia em 1864 .....................................54
Apndice 4 Unidades curriculares do curso de Artilharia em 1884 ..............................55
Apndice 5 Exames especiais de habilitao no inicio e no fim do 2 perodo da Escola
do Exrcito .......................................................................................................................56
Apndice 6 Relao dos alunos matriculados no 1 ano do curso de Artilharia e os que
realmente terminaram o seu curso no perodo entre 1863 e 1890 ...................................57
Apndice 7 Plano de estudo do curso de Artilharia em 1894 .......................................58
Apndice 8 Currculo do 2 e 3 ano do curso de Artilharia em 1897 ...........................59
Apndice 9 Relao dos alunos matriculados e os que realmente terminaram o curso
no perodo entre 1890 e 1910 ..........................................................................................60
Apndice 10 Plano de estudos do curso de Artilharia a p em 1911 ...........................61
Apndice 11 Plano de estudos do curso de Artilharia de campanha em 1911 .............62
Apndice 12 Plano de estudos do curso de Artilharia a p em 1916 ...........................63
Apndice 13 Plano de estudos do curso de Artilharia de campanha em 1916 .............64
Apndice 14 Diviso dos semestres na Escola de Guerra no perodo da I Guerra
Mundial ............................................................................................................................64
Apndice 15 Relao dos alunos matriculados e que terminaram os cursos nas
diferentes vertentes de Artilharia entre 1912 e 1919 ........................................................65
Apndice 16 Plano de estudos do curso especial de Artilharia de campanha, Cavalaria
e Infantaria .......................................................................................................................66
Apndice 17 Plano de estudos do curso de Artilharia em 1929 ...................................67
Apndice 18 Cadeiras do curso de Artilharia em 1930 ................................................68
Apndice 19 Cadeiras do curso de Artilharia em 1940 ................................................69
Apndice 20 Cadeiras do curso de Artilharia em 1948 ................................................69
Apndice 21 Relao dos alunos matriculados e os que terminaram o seu curso entre
1920 e 1958 .....................................................................................................................70
Apndice 22 Currculo do curso de Artilharia em 1959 ................................................71
Apndice 23 Currculo dos anos especficos para o curso de Artilharia em 1960 ........72
Apndice 24 Plano de estudos do curso de Artilharia para os anos de entrada
posteriores a 1959 ...........................................................................................................73
Apndice 25 Currculo do curso de Artilharia em 1963 ................................................74
Apndice 26 Currculo do curso de Artilharia em 1967 ................................................75
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Asp Al Art Fbio Samuel Marmelo Pgina vii
Apndice 27 Relao dos alunos admitidos no 1 ano do curso de Artilharia e aqueles
que terminaram o seu curso ............................................................................................76
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Asp Al Art Fbio Samuel Marmelo Pgina viii
ndice de Anexos
Anexo I Cadeiras do curso de Artilharia em 1892 ........................................................78
Anexo II Currculo do curso geral em 1894 ..................................................................79
Anexo III Deveres do Comandante de Seco em 1894 ..............................................80
Anexo IV Deveres do Chefe de Turma em 1894 ..........................................................81
Anexo V Deveres do Chefe de Quarto em 1894 ..........................................................81
Anexo VI Deveres dos alunos da Escola do Exrcito em 1894 ....................................82
Anexo VII Deveres do aluno de dia da Escola do Exrcito ...........................................83
Anexo VIII Horrio de Servio dos alunos da Escola do Exrcito .................................84
Anexo IX Currculo do 1 ano comum de Artilharia e Engenharia militar em 1897 ........85
Anexo X Provas de aptido fsica para admisso na Escola de Guerra em 1916 ........86
Anexo XI Provas de classificao para o curso de Artilharia a p ................................87
Anexo XII Provas de classificao no curso de Artilharia de campanha .......................88
Anexo XIII Plano de estudos do curso de Artilharia a p em 1923 ...............................89
Anexo XIV Plano de estudos do curso de Artilharia de campanha em 1923 ................90
Anexo XV Provas do concurso de admisso em 1930 .................................................91
Anexo XVI Provas do concurso de admisso em 1942 ................................................92
Anexo XVII Constituio das provas de aptido fsica em 1961 ...................................93
Anexo XVIII Prmio de Aprumo e Apresentao Militar ...............................................94
Anexo XIX Plano de estudos do curso de Artilharia em 1970 .......................................96
Anexo XX Braso de armas da Academia Militar .........................................................97
Anexo XXI Novo medalho do prmio de Aprumo e Apresentao Militar ...................97
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Asp Al Art Fbio Samuel Marmelo Pgina ix
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
A
AC Artilharia de Campanha
AM Academia Militar
ARFAD Academia Real de Fortificao, Artilharia e Desenho
C
CA Corpo de alunos
CGP Curso Geral Preparatrio
CM Colgio Militar
CSG Curso Superior de Guerra
E
EE Escola do Exrcito
EG Escola de Guerra
EM Escola Militar
EP Escola Politcnica
EPA Escola Prtica de Artilharia
ESM Ensino Superior Militar
G
GM Guerra Mundial
H
HM Higiene Militar
I
IAEM Instituto de Altos Estudos Militares
L
LI Lngua Inglesa
A Formao dos Oficiais da Arma de Artilharia: Histria do Ensino da Artilharia da Escola do Exrcito (1837) Academia Militar
Asp Al Art Fbio Samuel Marmelo Pgina x
P
PAF Provas de Aptido Fsica
Q
QP Quadro Permanente
T
TIA Trabalho de Investigao Aplicada
TDTM Topografia e Desenho Topogrfico Militar
TPOA Tirocnio para Oficial de Artilharia
A Formao dos Oficiais da Arma de Artilharia: Histria do Ensino da Artilharia da Escola do Exrcito (1837) Academia Militar
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RESUMO
O presente Trabalho de Investigao Aplicada tem como principal objectivo estudar e
analisar a evoluo da formao dos Oficiais de Artilharia desde a Escola do Exrcito (1837)
at Academia Militar (1974).
Com este tema pretendem-se identificar e decompor as alteraes ao nvel das
condies de admisso, cadeiras vigentes e condies de aproveitamento e analisar as
diferenas entre o nmero de alunos admitidos no primeiro ano das escolas e aqueles que
conseguiram terminar os seus cursos. Analisando estas evolues chegaremos base da
formao de muitas geraes de Oficiais de Artilharia o que permitir perceber o porqu
destas evolues e, se possvel, retirar algumas ilaes para o futuro.
Para concretizar este objectivo, procedeu-se anlise das Ordens do Exrcito dos
perodos referentes a este trabalho, abordando as pocas em que a Escola de formao de
Oficiais tomava diferentes designaes.
Palavras-chave: ARTILHARIA; ADMISSO; CURRCULO; APROVEITAMENTO;
FORMAO.
A Formao dos Oficiais da Arma de Artilharia: Histria do Ensino da Artilharia da Escola do Exrcito (1837) Academia Militar
Asp Al Art Fbio Samuel Marmelo Pgina xii
ABSTRACT
The present paper has as main purpose to study the course of the formation of
Artillery Officers since the creation of the Army School, in 1837, until the Military Academy in
the years leading to the Aprils 1974 Revolution.
We will study the major changes that occurred through the years in the admission
conditions, subjects taught and in fieldwork and analyze the relationship between the number
of students who entered the Schools and those who completed the courses. We intend to
assay these evolutions in order to discover what the basis of the formation of Artillery
Officers is and if it remains unchanged over the years, trying to create a bridge to the future.
To achieve this we proceeded to the analysis of the Army Orders in the periods
related to this work, addressing the times when the Officers Training School took different
names.
Keywords: ARTILLERY; ADMISSION; COURSES; SCHOOL PERFORMANCE; TRAINING.
A Formao dos Oficiais da Arma de Artilharia: Histria do Ensino da Artilharia da Escola do Exrcito (1837) Academia Militar
Asp Al Art Fbio Samuel Marmelo Pgina 1
INTRODUO
No mbito do Tirocnio para Oficial de Artilharia (TPOA) e da necessidade de dotar
os alunos de capacidade de pesquisa e de investigao, foi proposta a elaborao deste
Trabalho de Investigao Aplicada (TIA). Assim sendo, e para estudarmos e analisarmos as
diferenas no ensino da Artilharia ao longo dos tempos, escolhemos para tema do trabalho
A Formao dos Oficiais da Arma de Artilharia: Histria do ensino da Artilharia da Escola do
Exrcito (1837) Academia Militar (1974).
Este trabalho visa analisar as modificaes sofridas ao longo dos tempos no que
respeita ao plano de estudos do curso de Artilharia e ao modo como este se relaciona com
as alteraes polticas, econmicas e sociais sofridas pela Nao portuguesa durante o
perodo em estudo. Pretende-se assim compreender que matrias se consideram
elementares na formao dos Oficiais de Artilharia em cada perodo do ensino, que matrias
se foram considerando secundrias acabando, com o passar dos tempos, por desaparecer
dos currculos e que matrias, com a aprendizagem dos erros e das informaes recolhidas
das Guerras, se foram tornando progressivamente mais importantes.
Analisaremos ainda a evoluo das provas de admisso e as alteraes do nmero
de candidatos propostos a admisso, tendo em conta, as exigncias de Oficiais que o
Exrcito Portugus requeria dependendo do Teatro de Operaes em que Portugal se
encontrava inserido. No final de cada captulo apresentaremos uma relao entre o nmero
de alunos matriculados no curso de Artilharia e aqueles que realmente o terminaram com
xito, comparando os valores obtidos nos diferentes perodos referidos neste TIA.
Tratando-se de um tema nunca antes abordado, este trabalho revela-se de uma vital
importncia para a arma de Artilharia pois permite partir para uma anlise de todas as
alteraes sofridas ao longo dos vrios perodos do Ensino Superior Militar e assim
identificar as possveis lacunas ou pontos fortes do ensino da Artilharia desde 1837,
possibilitando tirar concluses para o futuro do ensino da Arma de Artilharia.
Face necessidade de se estudar o ensino da Arma de Artilharia desde os
primrdios do Ensino Superior Militar, estabeleceu-se como incio deste trabalho cientfico o
ano de 1837. Neste ano, o Marqus de S Bandeira fundou a Escola do Exrcito, por
extino da antiga Academia Real de Fortificao, Artilharia e Desenho (ARFAD), no
entanto, porque o ensino da Arma de Artilharia j se iniciara sensivelmente 80 anos antes,
dedica-se um captulo deste trabalho anlise da formao dos Oficiais da arma de
Artilharia nos anos precedentes a 1837.
Sendo o ttulo inicial deste TIA A Formao dos Oficiais de Artilharia desde a Escola
do Exrcito de 1837 Academia Militar, no se encontrava perfeitamente definida a data de
trmino deste trabalho cientfico. A hiptese de trmino no ano de fundao da Academia
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Asp Al Art Fbio Samuel Marmelo Pgina 2
Militar como escola de formao dos Oficiais, 1959, apresentava-se redutora, deixando por
tratar uma parte significativa da nossa histria que ainda hoje se reflecte na formao dos
Oficiais de Artilharia. Assim, decidimos prolongar o nosso estudo at 1974, altura em que se
deu a revolta dos Capites em 25 de Abril.
Para a realizao deste trabalho faremos uma anlise documental sobre as
diferentes reestruturaes sofridas pelo curso de Artilharia desde 1837 at 1974, incidindo a
pesquisa principal sobre Ordens do Exrcito e Legislao, bem como Anurios da Academia
Militar, tendo em vista investigar as fontes primrias de toda a legislao que estabelece o
funcionamento das diversas escolas de Ensino Superior Militar. Analisaremos tambm
fontes secundrias com o objectivo de aprofundar o TIA atravs de artigos e livros
referentes s diversas alteraes implementadas.
A recolha de informaes ir realizar-se principalmente na biblioteca da Academia
Militar, que sendo a casa me de todo o Ensino Superior Militar (ESM) onde se processa a
formao dos Oficiais de Artilharia, a melhor fonte de informao disponvel.
Estenderemos a nossa pesquisa tambm aos arquivos histricos, biblioteca do Exrcito e
a revistas da especialidade da poca.
Para o desenvolvimento do tema em apreciao necessrio levantar a seguinte
questo central que conduzir o objectivo de toda a pesquisa: Como evoluram o plano
de estudos, as condies de admisso e as condies de aproveitamento, no mbito
da formao dos Oficiais de Artilharia no perodo da Escola do Exrcito (1837)
Academia Militar (1974)?. Para nos auxiliar na resposta a esta questo, bem como, para
lhe outorgar credibilidade e fundamento, foram levantadas as seguintes questes derivadas:
De que forma o Regime Liberal e a Revoluo Industrial influenciaram o
modelo de formao dos Oficiais de Artilharia?
Como se reflectiram os esforos de manuteno do Imprio no final do
sc. XIX na formao dos Oficiais de Artilharia?
De que forma a I Repblica teve impacto nas cadeiras e na constituio
do prprio curso de formao de Oficiais de Artilharia?
Quais as implicaes da I Guerra Mundial quanto ao nmero de Oficiais
necessrios e durao do curso de Artilharia?
Quais as alteraes na formao dos Oficiais de Artilharia, em
consequncia da Ditadura Militar (1926-1933) e do Estado Novo (1933-
1974)?
De que forma a entrada para a NATO teve implicaes na formao dos
Oficiais de Artilharia?
A Formao dos Oficiais da Arma de Artilharia: Histria do Ensino da Artilharia da Escola do Exrcito (1837) Academia Militar
Asp Al Art Fbio Samuel Marmelo Pgina 3
De que forma as campanhas de Portugal na Guerra de frica (1961-1974)
tiveram implicaes na durao dos cursos de Artilharia na Academia
Militar?
Para podermos responder a estas questes, dividimos o nosso trabalho em
introduo, cinco captulos e concluso, repartidos da seguinte forma.
No primeiro captulo, Esboo histrico do ensino da Artilharia dos seus
primrdios Escola do Exrcito (1837), estudaremos os antecedentes da Escola do
Exrcito e o incio do ensino da Arma de Artilharia. Faremos tambm, neste captulo, uma
breve visita pelas diferentes instalaes onde foi leccionado o ensino da Arma de Artilharia.
No segundo captulo, A Escola do Exrcito de 1837 a 1910: o progresso da
formao dos Oficiais de Artilharia, sero exploradas as cadeiras leccionadas neste
perodo bem como a durao do curso de Artilharia tendo em conta os interesses coloniais.
Mais frente neste captulo analisaremos a Revoluo Industrial e o Ultimatum britnico e a
necessidade de reestruturao do Ensino Superior Militar que com eles se impuseram.
No terceiro captulo, A formao dos Oficiais de Artilharia da Repblica 1
Guerra Mundial: 1911 1919, estudaremos a mudana de Escola do Exrcito para Escola
de Guerra e as consequentes transformaes que ocorreram no curso de Artilharia, como o
desdobramento em Artilharia a p e Artilharia de campanha. Analisaremos ainda neste
captulo as principais alteraes no currculo do curso de Artilharia no perodo da I Guerra
Mundial.
No quarto captulo, O fim da Guerra e o inicio da Ditadura Militar na formao
dos Oficiais de Artilharia: 1919-1958, examinaremos a reestruturao de 1919, que
implementou uma nova denominao para a Escola Escola Militar - e trouxe a
estabilizao do ensino aps as contendas da I Guerra Mundial. Tambm neste captulo
investigaremos as alteraes sofridas em 1938 o retorno designao de Escola do
Exrcito e as mudanas no ensino.
Com o quinto captulo, A formao dos Oficiais de Artilharia na Academia Militar
no perodo das campanhas da Guerra de frica at Revoluo de 25 de Abril de
1974, exploraremos as alteraes no curso de Artilharia com a criao da Academia Militar.
Examinaremos ainda as grandes alteraes no curso de Artilharia, tanto ao nvel da durao
como da prpria organizao, que se deram com o incio da Guerra de frica em 1961 e
com a consequente necessidade de mobilizar um elevado nmero de Oficiais.
No final deste trabalho sero apresentadas as concluses onde passaremos em
revista as questes derivadas e dar resposta questo central. Analisaremos ainda os
currculos do curso de Artilharia ao longo de todo estes anos, a fim de concluir quais as
cadeiras que com o passar do tempo se foram tornando cada vez mais importantes.
A Formao dos Oficiais da Arma de Artilharia: Histria do Ensino da Artilharia da Escola do Exrcito (1837) Academia Militar
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CAPTULO 1
ESBOO HISTRICO DO ENSINO DA ARTILHARIA DESDE A 1
AULA DE ENSINO TERICO MILITAR (1641) AT ESCOLA DO
EXRCITO (1837)
Muito antes da criao da Escola do Exrcito (EE) em 1837, mais propriamente em
1641, pelo decreto de 13 de Maio do mesmo ano, criada a primeira escola de ensino
terico-militar, cujo nome era Aula de Artilharia e Esquadria1, instalada inicialmente no Pao
da Ribeira (actual Terreiro do Pao) e mais tarde, em 1647 foi transferida para o Pao da
Ribeira das Naus, junto do Palcio da Corte real, j com a denominao de Aula de
Fortificao e Arquitectura2, leccionada pelo cosmgrafo-mor do reino Lus Serro Pimentel.
No mesmo ano nasce a 1 poca da Academia Militar (AM), destinada a formar
oficias de Infantaria com o ttulo de engenheiros (Conceio, 1950, p.12) e voltou-se
novamente a instalar no Terreiro do Pao, instalaes que em 1755 ficariam totalmente
destrudas devido ao terramoto, o que fez com que em 1758, as instalaes fossem
transferidas para junto do Palcio de S. Bento.
No entanto, a primeira organizao regular da Arma de Artilharia deu-se apenas em
1762, por alvar de 2 de Abril, em que foi estabelecida, na Fortaleza de S. Julio da Barra,
uma aula na qual se dictem lies, e faam exerccios prticos de artilharia trs dias em
cada semana, hora e meia de manh, e meia hora de tarde.3 Neste mesmo ano deu-se a
maior reorganizao do Exrcito Portugus, quando o Marqus de Pombal contratou o
conde Schaumburg de Lippe, oriundo da escola Prussiana de Frederico II para organizar o
Exrcito Portugus (Sousa, 2010). Em 1763 foram reduzidos os corpos de Artilharia a quatro
regimentos a doze companhias cada, em que cada Regimento tinha um comandante
estrangeiro, ficando o conde de Lippe responsvel pela sua instruo e organizao. Neste
mesmo ano foi aprovado um plano de estudos, onde um oficial de cada Regimento que
obtivesse as qualidades necessrias seria o instrutor de todos os oficiais do seu Regimento,
constituindo estas aulas condio indispensvel para a promoo.2
A 7 de Maro de 1761, foi criado o Real Colgio dos nobres, destinado a formar os
oficiais das armas de Infantaria e Cavalaria, com a particularidade que para poder ser
admitido nesta escola tinham os alunos de ter, pelo menos do lado materno, foro de
nobreza, condio extinta mais tarde em 1772.
1 Anurio da Academia Militar, (1958-1959), Academia Militar.
2 Sampaio, Rui Manuel, (1991), Histria da Academia Militar, Lisboa, Academia Militar.
3 Alvar de 2 de Abril de 1762.
A Formao dos Oficiais da Arma de Artilharia: Histria do Ensino da Artilharia da Escola do Exrcito (1837) Academia Militar
Asp Al Art Fbio Samuel Marmelo Pgina 5
Com a extino da AM por carta de lei de 5 de Agosto de 1779, foi criada a
Academia Real de Marinha, com o objectivo de ministrar aos alunos os conhecimentos que
at data tinham sido professados na AM, bem como, preparar os alunos da Armada. Pela
razo de nesta escola nunca ser ter ensinado Fortificao, Artilharia e Desenho houve um
interregno no ensino da Engenharia, no entanto, em 1772, tinha-se reorganizado a
Universidade de Coimbra, criando-se novas cadeiras, passando esta escola a ter
capacidade para formar os oficiais de Engenharia.
Em 1790, por carta de lei de 2 de Janeiro, d-se uma grande reestruturao no ESM
em Portugal em que criada a ARFAD, organizao considerada muito avanada para a
poca, devido interrupo no ensino da Engenharia, bem como, da insuficincia de
conhecimentos que as escolas de preparao de artilheiros, criadas pelo Conde de Lippe,
conferiam aos oficiais assim formados.4 Esta Academia ficou inicialmente instalada no
edifcio do Arsenal do Exrcito, edifcio que trs anos mais tarde sofreria um grave incndio
que destruiria a quase totalidade do material de ensino. Por esta razo, a escola foi obrigada
a mudar de instalaes, desta vez para a casa do depsito pblico na Praa do Pelourinho.
A partir de 1796 deram-se mudanas constantes nas instalaes da ARFAD, tendo-se
mudado neste ano para o Palcio do Calhariz e em 1810 para o edifcio do Correio geral,
voltando em 1811 ao mesmo Palcio, tendo-o abandonado no ano de 1823, ocupando
assim as instalaes do Palcio do Rossio. Em 1834 deu-se uma nova mudana de
instalaes, tendo-se ido instalar no prdio n 40 da Rua do Moinho de Vento e depois
para o n 10 da Calada dos Caetanos, donde transitou em 1836 para o edifcio do Real
Colgio dos Nobres.4
Nesta Academia deu-se a particularidade de juntar os quatro cursos na mesma
escola, Infantaria, Cavalaria, Artilharia e Engenharia, tendo os dois primeiros a durao de 3
anos e os dois ltimos de 4 anos, estando o curso de Artilharia organizado da seguinte
forma:
Curso de Artilharia
1 Ano Fortificao regular, ataque e defesa das praas
Princpios fundamentais de qualquer fortificao
2 Ano Fortificao irregular, fortificao efectiva e fortificao de campanha
3 Ano Teoria da Artilharia, das minas e contraminas e aplicao ao ataque e
defesa das praas
4 Ano
Arquitectura civil, corte das pedras e madeira
Oramentos dos edifcios e conhecimentos dos materiais de construo
Estradas e hidrulica (pontes, canais, portos, diques e comportas) Quadro 1: Plano de estudos do curso de Artilharia no perodo da Academia Real de Fortificao, Artilharia e Desenho.
4
4 Anurio da Academia Militar (1958-1959), Academia Militar.
A Formao dos Oficiais da Arma de Artilharia: Histria do Ensino da Artilharia da Escola do Exrcito (1837) Academia Militar
Asp Al Art Fbio Samuel Marmelo Pgina 6
Alm destas aulas tericas, os alunos tinham ainda aulas prticas sobre desenho
de aplicao s diversas matrias professadas, trabalhos topogrficos, castrametao5,
construo de entrincheiramentos, fortificaes e batarias, e o manejo das bocas de fogo.6
Neste perodo o ensino aos Oficiais de Artilharia incidia no estudo minucioso do material,
dos numerosos meios de transporte e locomoo e da balstica, quanto manobra e tctica
de Artilharia, limitava-se apenas ao deslocamento das bocas de fogo para as suas posies
(Borges, 2010, p.264).
Relativamente distribuio dos trabalhos, era dividido em trs partes. A primeira
parte, que se iniciava na Primavera, era destinada a um exerccio com a durao de seis
semanas para construir baterias de faxinas e assentar plataformas. A segunda parte inclua
exerccios com morteiros e obuses, onde se treinavam pontarias, bem como, montar e
desmontar os materiais. Na terceira parte leccionava-se o estudo do material necessrio
para as campanhas, munies e conhecimentos de terminologia artilheira (Ibidem).
No entanto, devido instabilidade que Portugal atravessava, muito custa da
Guerra das Laranjas em 1801 e s Invases Francesas, de 1807 a 1810, o ensino desta
Academia no conseguiu acompanhar a evoluo dos tempos e tornou-se progressivamente
desactualizado e levou a que em 1823, num artigo do nmero 133 da Gazeta de Lisboa de 6
de Junho viesse descrito que os alumnos ficavam ignorando muitas coisas essenciais, e
sobretudo faltavam-lhes os exerccios prticos em campos de instruo e que devido s
imperfeies do estudo do Desenho e forma como era ministrado os alunos pouco
retinham das aulas, o que levava a que os alumnos da Academia ensinavam uns aos
outros, e assim somente approveitavam os que tinham disposio natural para o Desenho.
(Sampaio, 1991, p.60)
Em 1834, depois dos lentes de vrias matrias se terem reunido para alterar a
organizao desta Academia, eis que autorizada a substituio dos antigos livros por
outros mais actuais, no entanto era necessria uma reforma radical que viria a acontecer
mais tarde em 1837, ano da criao da Escola Politcnica (EP) por decreto de 11 de
Janeiro, considerada uma escola militar, era uma escola de preparao militar
(Conceio, 1950, p.16), que veio substituir a Academia Real de Marinha, tendo ficado
instalada no edifcio do Colgio dos Nobres. Esta escola tinha como principal fim habilitar
alunos () para seguirem os seus cursos das escolas de aplicao do Exrcito e da
marinha6
Finalmente, por decreto de 12 de Janeiro do mesmo ano, foi fundada pelo Marqus
de S da Bandeira, a EE, tendo ocupado as mesmas instalaes que a Escola Politcnica
de Lisboa, e aqui que entramos no estudo do nosso TIA.
5 Arte de escolher terrenos apropriados para a montagem de acampamentos.
6 Anurio da Academia Militar, (1958-1959), Academia Militar.
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Pelas palavras de Alfredo Pereira da Conceio, a Escola do Exrcito comeou
embalada nas refregas e nas lutas, embebida no sangue daqueles que morriam por esta
grandeza enorme da Ptria (Conceio, 1950, p.8), tendo-se tornado no primeiro passo
para a criao da verdadeira famlia militar, atravs da unificao do ensino militar.
Em 1843, devido a um grave incndio nas instalaes da EE, esta foi obrigada a
ocupar novas habitaes, tendo ficado, por pouco tempo, instalada numa casa no Ptio da
Pimenta, uma vez que em 1844 foi ocupar na Rua de Santo Antnio dos Capuchos, o
Palcio dos Condes de Mura. A se manteve at data de 1851, altura em que D. Maria II
mandou conceder o Palcio da Bemposta para instalao da Escola do Exrcito7, local
onde ainda hoje, se mantm as instalaes da AM.
Em 1863, estabeleceu-se o regime de internato para os alunos, pois a vida em
comum de todos os alunos era vista como indispensvel para o cumprimento do seus
deveres, independentemente da Arma a que pertenciam, de tal forma que como nos diz
Alfredo da Conceio, A formao dos oficiais faz-se na vida permanente, na vida de
contacto dirio. Aqui se estabelecem laos de camaradagem que ficam soldados, vibrantes
para todo o resto da vida, considerando esta caracterstica como um dos grandes elos,
() uma das grandes foras morais da formao dos oficiais do nosso Exrcito (Conceio,
1950, p.19).
7 Anurio da Academia Militar, (1958-1959), Academia Militar.
A Formao dos Oficiais da Arma de Artilharia: Histria do Ensino da Artilharia da Escola do Exrcito (1837) Academia Militar
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CAPTULO 2
A ESCOLA DO EXRCITO DE 1837 A 1910: O PROGRESSO DA
FORMAO DOS OFICIAIS DE ARTILHARIA
2.1. As primeiras repercusses da mudana: 1837 1863
Inscrita na reorganizao do Exrcito de 1836, a criao da EE remonta s reformas
militares constitucionalistas e assiste, no perodo inicial da sua existncia, a uma grande
profuso de golpes de Estado, revoltas e revolues em que as foras militares estiveram
profundamente envolvidas. Num perodo que, como nos diz o Tenente-Coronel Medeiros
Ferreira, pode definir-se como o da luta pela conquista e consolidao do liberalismo
poltico e econmico requerido por uma crescente burguesia comercial especialmente
interessada no liberalismo do comrcio de importao e exportao, esboando j uma
particular preferncia pelo comrcio colonial (Ferreira, 1976, p.4)8, a vida da EE altamente
influenciada por estas caractersticas polticas, econmicas e sociais, sobretudo no que
respeita s matrias leccionadas.
Em 1836 a formao dos oficiais de Artilharia estava a cargo da Academia de
Fortificao, Artilharia e Desenho. Docentes, alunos e instncias do servio do Exrcito
reclamavam uma reforma radical na Academia argumentando que os cursos eram
incompletos e alguns deles demasiado longos, que o mtodo de ensino era imprprio e no
permitia tirar o maior partido do estudo e finalmente que os examinandos eram avaliados de
forma pouco justa. O prprio Secretrio de Estado dos Negcios Estrangeiros, o Visconde
de S da Bandeira, reconhecia esta necessidade, Na Academia de Fortificao, Artilharia e
Desenho, que deve tomar a denominao de Escola do Exrcito () se ensinaro daqui em
diante () no s as disciplinas que j se estudavam na Academia, mas tambm outros
muitos ramos de conhecimento, sem as quais a instruo militar comum, e em especial para
algumas armas, continuaria a ser deficiente9 tais como a Lngua Inglesa (LI), j na poca
detentora de uma importncia vital nas relaes inter-fronteirias. A reestruturao da
Academia urgia; a necessidade de criar uma Academia na qual os alunos pudessem adquirir
os princpios necessrios para o desenvolvimento do estudo da difcil cincia da Guerra e
das suas demais aplicaes era evidente e a Rainha no podia ignorar as palavras do seu
8 Referindo-se s cobias e interesses coloniais em frica.
9 Relatrio de Visconde de S da Bandeira em 12 de Janeiro de 1837, em anexo Ordem do Exrcito n 5 de 20
de Janeiro de 1837.
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Asp Al Art Fbio Samuel Marmelo Pgina 9
Secretrio de Estado dos Negcios Estrangeiros, Senhora! tempo de instruir os Oficiais
do Exrcito Portugus10.
Assim, a 20 de Janeiro de 1837 a Rainha D. Maria II decretava que A Academia de
Fortificao, Artilharia e Desenhodenominar-se- daqui em diante, Escola do Exrcito11.
Alm de alteraes organizacionais na instituio, a formao da EE fez-se acompanhar por
um conjunto de importantes alteraes curriculares na formao dos oficiais de Artilharia.
A alterao da durao do curso de Artilharia foi uma das mudanas subsequentes
formao da EE, passando a ser de trs anos ao contrrio das Armas de Infantaria e
Cavalaria cujos cursos tinham durao de apenas um ano. No primeiro ano eram
leccionadas as disciplinas de Topografia e Desenho Topogrfico Militar (TDTM),
Estabilidade de Construes e Mecnica Aplicada s Mquinas e de Arte Militar e
Fortificao Passageira, que inclua o estudo do objectivo e importncia da Artilharia e da
sua tctica elementar, a aquisio de noes gerais sobre estradas, caminhos-de-ferro, rios
e canais considerados meios de comunicao militar, a aprendizagem de ideias gerais sobre
ataque e defesa de uma Praa de Guerra, o conhecimento do Direito das Naes em tempo
de Guerra e dos princpios gerais de estratgia e de Grande Tctica e ainda o estudo das
artes de Castrametao, Pequena Guerra e de Fortificao Passageira. No segundo ano o
plano de estudos continuava a ser composto pelas disciplinas de TDTM e de Estabilidade de
Construes e Mecnica Aplicada s Mquinas. A estas juntava-se uma nova unidade
curricular, a disciplina de Fortificao Permanente onde se instrua o traado, relevo e
desenfiamento de Fortificaes e as suas aplicaes na defesa dos Estados. No terceiro e
ltimo ano do curso os alunos, que at aqui vinham adquirindo conhecimentos
generalizados e maioritariamente tericos, possuindo por isso escasso contacto com os
materiais e a Arma de Artilharia, tinham pela primeira vez uma disciplina dedicada
inteiramente ao estudo da Arma. Desta disciplina, denominada de Artilharia, fazia parte o
estudo do material da Arma, da Balstica aplicada e dos diferentes servios especiais da
Artilharia na Guerra. Alm da disciplina de Artilharia, os alunos tinham TDTM e Arquitectura
Civil e suas Aplicaes. Com estas trs unidades curriculares o horrio ficava completo no
sobrando espao para o ensino da LI. Esta disciplina tinha ento um carcter opcional e era
frequentada apenas pelos alunos que ainda no possussem o necessrio conhecimento da
lngua em detrimento da disciplina de Arquitectura Civil, uma vez que esta ltima no se
aplicava directamente Arma de Artilharia.12
As aulas tinham a durao de noventa ou de setenta e cinco minutos, dependendo
do tipo de disciplina; nos primeiros quinze minutos um dos alunos fazia uma exposio oral
sobre a lio anterior que merecia ...da parte do lente respectivo as correces adequadas
10
Relatrio de Visconde de S da Bandeira em 12 de Janeiro de 1837 anexo Ordem do Exrcito n 5 de 20 de Janeiro de 1837. 11
Ordem do Exrcito n5 de 20 de Janeiro de 1837. 12
Artigo 5 da Ordem do Exrcito n 5 de 20 de Janeiro de 1837.
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de forma que os alunos aprendessem a expor correcta e metodicamente (Sampaio, 1991,
p.117) e no tempo restante o professor expunha a matria. Duas vezes por semana um dos
perodos da aula era reservado reviso dos assuntos j estudados e de trs em trs
meses realizavam-se exames de frequncia. No final de cada ano era realizado um exame
final escrito para cada disciplina com a durao de quatro horas. Anualmente havia ainda
um Campo de Instruo13 onde os alunos, dirigidos pelos seus professores, adquiriam os
conhecimentos prticos subjacentes aos conceitos tericos que tinham sido leccionados.
Outra das alteraes subsequentes formao da EE foi o ingresso no curso de
Artilharia que se tornou distinto do ingresso nas restantes Armas, Infantaria e Cavalaria.
Para aceder ao mesmo, os candidatos tinham de frequentar e obter aprovao no curso
preparatrio para oficiais de Artilharia da EP, comprovada por documento autenticado. Era
ainda necessrio comprovar por certido a aprovao nas disciplinas de Latim, de Histria
Portuguesa e de Geografia. Este aspecto era diferenciador entre o acesso ao curso de
Artilharia e o acesso aos cursos das restantes Armas de combate, onde a aprovao na
disciplina de Latim no era necessria.
Em 1846 surgiu novamente a necessidade de alterar de novo o ingresso no curso de
Artilharia. De modo a evitar a entrada de indivduos com defeitos fsicos que os
impossibilitassem de servir na Arma de Artilharia, foi criado um decreto que obrigava os
alunos com destino Arma de Artilharia a serem inspeccionados antes de ingressarem no
primeiro ano do curso. Os alunos que no possussem a robustez necessria ao servio
ficavam inibidos de gozar dos mesmos privilgios que os alunos que a possussem sendo
ainda, durante o curso da EE, obrigados a realizar nova inspeco.14
At 1852 a escolha do curso a frequentar era exclusivamente dos alunos que
ingressavam a EE e, devido sua maior complexidade e durabilidade, a Arma de Artilharia
era preterida, consequentemente existiam oficiais em excesso numas armas e uma grande
escassez de oficias noutras. Assim, em 1852 foi criado um decreto que obrigava a que a
ordem de escolha do curso correspondesse ordenao decrescente dos alunos de acordo
com as suas notas. Pela ordem determinada os alunos seleccionavam o curso de
Engenharia ou de Artilharia e sempre que o nmero de alunos classificados excedesse as
necessidades do servio os restantes seriam matriculados no curso de Artilharia15.
Durante este perodo da sua existncia a EE funcionou em regime de externato. A
presena nas actividades escolares estava ento entregue ao livre arbtrio dos alunos o que
dava azo a que muitas vezes faltassem, apresentando as mais diversas justificaes que a
sua condio de aluno externo tornava particularmente fcil (Sampaio, 1991, p.115). Em
consequncia, foi criado em 1857 um decreto que tornava a presena nas actividades
13
Estes exerccios estavam planeados em terrenos da Escola Prtica de Artilharia, mas inconvenientes de ordem econmica, nunca permitiram que estes exerccios se realizassem to longe. 14
Ordem do Exrcito n8 de 21 de Maro de 1846. 15
Artigos 5, 6, 7, 8 da Ordem do Exrcito n4 de 14 de Janeiro de 1852.
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escolares obrigatria. Um Guarda da Escola, hora marcada para a aula, tomava o ponto e
enunciava em voz alta os nmeros dos alunos que faltassem que eram posteriormente
registados pelo docente no livro de faltas, ficando deste modo eliminada a possibilidade de
os alunos justificarem as faltas. No final do ano, o aluno que tivesse um nmero de faltas
superior quinta parte da soma total das lies, repeties, exerccios prticos e
excurses16 realizadas durante o ano reprovava17, pois as faltas eram vistas como uma
infraco escolar e sobretudo como uma diminuio do tempo exigido para o estudo.
Outra alterao importante decorrente deste decreto foi a passagem do exame final
de escrito para oral. Segundo os docentes, o exame escrito tratava-se de um mtodo
ineficaz de avaliao que no garantia a aquisio de conhecimentos uma vez que apenas
sujeitava o esprito dos alumnos ao trabalho quasi exclusivo de mnemonisar respostas
previamente formuladas (Couceiro, 1857, p.34)18.
Em 1860 a necessidade de regular a admisso em conformidade com a organizao
e com o programa dos cursos preparatrios da EP originou a primeira alterao curricular
nos cursos da EE. Assim, no ano lectivo de 1861-1862 foi decretado que os alunos que
pretendessem ingressar na Arma de Artilharia teriam de obter aproveitamento na disciplina
de Anlise e na primeira parte da disciplina de Geometria Descritiva bem como nas
restantes disciplinas anteriormente necessrias ao ingresso no curso19. Para alm desta
alterao no ingresso, o plano curricular do curso de Artilharia sofreu modificaes ao nvel
das cadeiras a ministradas20.
Para finalizar a caracterizao da formao dos oficiais de Artilharia no primeiro
perodo da EE relevante estabelecer uma relao entre o nmero de alunos matriculados
no curso e aqueles que realmente o terminavam com aproveitamento21. No perodo de 1837-
1863 ingressaram na EE com destino Arma de Artilharia 107 alunos e apenas 79
terminaram o curso, o que traduz uma taxa de aproveitamento de 73,8%. Na anlise
realizada entre a relao entre alunos matriculados e alunos formados verificmos que, por
exemplo, no ano lectivo de 1851-1852 entraram para o curso nove discentes e apenas
quatro o concluram; no ano lectivo de 1852-1853 dos doze alunos iniciais apenas um
terminou o ciclo de estudos. A elevada taxa de reprovao, que agravava a falta de oficiais
de Artilharia, pode ser explicada pela complexidade do curso que era por isso naturalmente
preterido em relao s restantes Armas e pela reestruturao sofrida pelo curso em 1852
que impossibilitava aos alunos escolherem livremente os seus cursos e limitava os alunos
sobrantes ao servio Arma de Artilharia.
16
Valor a ser calculado pelo Conselho da Escola na inicio de cada ano. 17
Artigo 1 do Captulo 1, da Ordem do Exrcito n 32 de 30 de Dezembro de 1857. 18
Couceiro, Antnio Gromicho, Ministro e Secretrio de Estado dos Negcios de Guerra, no relatrio feito ao Rei, em 2 de Dezembro de 1857. 19
Latim, Histria Portuguesa e Geografia. 20
Vide Apndice 1. 21
Vide Apndice 2.
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2.2. O ensino da Artilharia com a Revoluo Industrial, 1863 1890
A Revoluo Industrial provocou uma extraordinria evoluo tecnolgica e cientfica
nos pases europeus, e deixou Portugal em relativa inferioridade econmica, cientfica e
tecnolgica. O progresso da poca provocou alteraes muito significativas na Arte Militar,
surgiram as armas de preciso, as bocas de fogo de carregar pela culatra e a fortificao
conheceu profunda remodelao. A generalizao das vias-frreas e do telgrafo trouxeram
profundas alteraes nos conceitos de estratgia militar (Sampaio, 1991, p.143),
acontecimentos que alertaram a Nao Portuguesa para a necessidade de proceder a
reformas profundas no ensino militar.
O segundo perodo da EE iniciava-se assim por uma reorganizao programada pelo
Marqus de S da Bandeira em 31 de Dezembro de 1863, ento Ministro da Guerra,
autorizado pelas Cortes a melhorar a organizao do Exrcito em novas bases (Ferreira,
1976, p.5). A remodelao verificada neste perodo, efectivamente ditada pela necessidade
de introduzir na Escola novos conhecimentos tcnicos, marcou um notvel progresso no
ensino superior militar em Portugal: marcou uma era nova na histria do estabelecimento;
levantou de facto o nvel da instruo, dotando a escola com o preciso pessoal distribuindo
melhor as matrias e encetando, por assim dizer, o ensino prtico. O defeito que porventura
a inquinava desde a origem, era a falta de exerccios prticos e de aplicao das matrias
professadas nas cadeiras (Sampaio, 1991, p.141). A EE passava ento a ser o
estabelecimento especialmente destinado ao ensino theorico e pratico da sciencia e arte
militar e da engenheria civil22, dando-lhe o aumento do nvel de instruo um
desenvolvimento verdadeiramente notvel. A reorganizao de 1863 tinha como ponto
fulcral a distribuio mais correcta das matrias leccionadas, quer pelos anos lectivos quer
pelas unidades curriculares, e para tal os alunos passavam a estar sujeitos ao regime de
internato. Na Arma de Artilharia as alteraes mais significativas residiram na durao do
curso, de trs para dois anos, e nas condies de admisso. Para que fossem admitidos na
Arma de Artilharia os alunos teriam de possuir, para alm das habilitaes em Gramtica e
Lngua Portuguesa, Gramtica e Lngua Francesa, Desenho linear, Histria, Cronologia e
geografia e Matemtica elementar, necessrias para o ingresso em qualquer um dos cursos
da Escola do Exrcito, habilitaes em Gramtica e traduo latina e em Filosofia racional e
moral.
No conseguindo esta reforma colmatar as lacunas da reforma anterior, e porque se
tornava da mais instante necessidade regular os pontos e as disposies mais importantes
do plano de reorganizao da EE de 1863, a 3 de Novembro de 1864 teve lugar uma nova
reestruturao que deu Escola considerao e prestgio. Contudo, pouco depois de ter
22
Artigo 1 da Ordem do Exrcito n 54 de 31 de Dezembro de 1863.
A Formao dos Oficiais da Arma de Artilharia: Histria do Ensino da Artilharia da Escola do Exrcito (1837) Academia Militar
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entrado em vigor, esta reforma tambm deixou de satisfazer em virtude da profunda
evoluo que sofreu a arte da guerra: A modificao dos meios de combate, o
aparecimento das armas de preciso e das bocas de fogo de retrocarga, a mudana sofrida
na arte da fortificao, as alteraes provocadas na estratgia pelo desenvolvimento
crescente das vias frreas e dos telgrafos, as novas conquistas da cincia, avidamente
aplicadas arte da guerra, vieram alterar o papel das diferentes armas (Anurio da
Academia Militar, 1958-1959, p.41).
Com esta reorganizao o curso de Artilharia tinha a durao de dois anos lectivos, 23
os quais se iniciavam a 3 de Novembro e prolongavam-se at 15 de Junho. A avaliao era
constituda por dois exames de frequncia (orais) e por um exame final (escrito). Os exames
finais eram realizados de 15 de Junho a 15 de Julho; os exames repetidos e os de
habilitao eram em Outubro e o perodo de frias escolares correspondiam aos meses de
Agosto e Setembro.
Em 1865, dois anos aps ter sido decretado que a LI passaria a fazer parte dos
currculos de todos os cursos da EE, a falta de professores para ministrar a disciplina fazia
com que os alunos ficassem privados do respectivo ensino. Como tal, foi decretado que
qualquer aluno que completasse o curso da EE seria dispensado de provas de LI ficando
porm interdito de ser promovido ao posto de Tenente enquanto no apresentasse certido
de aprovao nesta lngua.24 S em 1873 se tornou novamente obrigatrio o estudo da LI,
bem como de Higiene Militar (HM) e de hipologia, esta ltima, agora estendida tambm ao
plano curricular do curso de Artilharia.
A 31 de Dezembro de 1868, depois de quatro anos a funcionar em regime de
internato, que permitia aos alunos concentrarem-se no estudo terico e prtico de todas as
cadeiras e fortalecia o esprito de corpo e camaradagem, devido falta de edifcios prprios
para alojar os alunos da EP e da EE e aos elevados custos resultantes do internato de todos
os alunos era estabelecido por decreto com fora de lei que passava a vigorar o regime de
semi-internato na EE.25
Enquanto grandes transformaes se operavam nas escolas similares estrangeiras,
a EE permanecia imvel no que respeitava a alteraes profundas nas matrias leccionadas
e somente em 1884, sob proposta do Conselho de Instruo, dada uma nova composio
s disciplinas que constituam os diferentes cursos. O curso de Artilharia passava a ser
composto por sete disciplinas tericas26, das quais, apenas a cadeira de Resumo Histrico
do Material de Artilharia era exclusivo para o curso de Artilharia. Para alm destas cadeiras
tericas, os alunos tinham ainda aulas prticas de trabalhos grficos; Desenho;
Levantamentos nas proximidades da Escola; Exerccios fotogrficos; Exerccios e manobras
23
Vide Apndice 3. 24
Ordem do Exrcito n 49 de 27 de Outubro de 1865. 25
Ordem do Exrcito n80 de 31 de Dezembro de 1868. 26
Vide Apndice 4.
A Formao dos Oficiais da Arma de Artilharia: Histria do Ensino da Artilharia da Escola do Exrcito (1837) Academia Militar
Asp Al Art Fbio Samuel Marmelo Pgina 14
de Artilharia; Esgrima, natao, equitao e ginstica. Devido sobrecarga de cadeiras e
trabalhos a realizar pelos alunos, com este decreto deixava de ser obrigatrio que os alunos
utilizassem os primeiros quinze minutos da aula para exposio da matria da aula anterior.
Os alunos com destino ao corpo da Arma de Artilharia, aps terem completado o terceiro
ano preparatrio do curso, eram declarados Aspirantes a Oficiais.27
O segundo perodo da EE foi tambm bastante marcado pela reestruturao dos
exames especiais de habilitao, indispensveis para que os alunos conclussem os seus
cursos, que sofreram alteraes quase todos os anos. Na comparao entre os exames
especiais de habilitao no inicio deste perodo e os exames especiais de habilitao
referentes ao ltimo ano do mesmo perodo da Escola do Exrcito28 notam-se grandes
alteraes nos exames realizados, quer tericos quer prticos. Nos exames tericos o tema
principal manteve-se at 1890, no entanto foram criadas subdivises para esclarecer os
professores das diversas disciplinas e os alunos das matrias que realmente seriam alvo de
avaliao. Os exames prticos deixaram de ser apenas sobre os assuntos tericos e
passaram a incidir em assuntos e matrias essencialmente de carcter prtico. Os alunos
de Artilharia que tivessem obtido aprovao nos exames especiais de habilitao eram
promovidos a segundo-tenente e colocados nos Regimentos de Artilharia; dois anos depois
e se tivessem boas informaes eram promovidos ao posto imediato e entravam no Quadro
da Arma de Artilharia, conforme fossem surgindo vagas (Sampaio, 1991, p.216).
Para finalizar a caracterizao deste perodo da EE estabelece-se uma relao entre
o nmero de alunos que, entre 1863 e 1890, entraram para a Arma de Artilharia e os que
terminaram o curso29. Ingressaram para o curso de Artilharia quatrocentos e onze alunos,
quatro vezes mais do que entre 1387 e 1863, dos quais, trezentos e quarenta e dois
terminaram o curso. O crescimento do nmero de alunos admitidos no curso de Artilharia
mais significativo a partir do ano lectivo de 1879-1880, em que pela primeira vez
ingressaram na arma vinte e sete alunos (mais treze alunos do que o mximo registado at
ento). Desde 1880 at ao fim deste segundo perodo da Escola do Exrcito existiram altos
e baixos no nmero de alunos que ingressavam o curso de Artilharia, nmero este que se
manteve sempre acima dos dezassete alunos, com excepo do ano lectivo de 1887-1888
em que o nmero de alunos desceu para onze. A mdia de aproveitamento aumenta neste
perodo com uma percentagem de 83,2%, mais 9,4% do que no primeiro perodo da Escola.
27
Artigo 144, Captulo XIV, da Ordem do Exrcito n 20 de 31 de Outubro de 1884. 28
Vide Apndice 5. 29
Vide Apndice 6.
A Formao dos Oficiais da Arma de Artilharia: Histria do Ensino da Artilharia da Escola do Exrcito (1837) Academia Militar
Asp Al Art Fbio Samuel Marmelo Pgina 15
2.3. A formao dos Oficiais de Artilharia com o Ultimatum britnico, 1890
1910
Inserido numa poca marcada pelo reforo dos assuntos coloniais e pelo empenho
nas campanhas de ocupao, numa sociedade onde predominava uma burguesia industrial
e comercial, cada vez mais ligada ao comrcio com as colnias, e numa Nao que sofria a
afronta do Ultimatum britnico, que no podia deixar de vir a ter profundos reflexos
polticos internos (Ferreira, 1976, p.6), o terceiro perodo da EE inicia-se com
reestruturaes no ESM que eram forosas dada a situao poltica e social do pas.
Em 1890, e por decreto do Governo, a EE sofria uma reestruturao que visava
professar o ensino theorico e pratico dos indivduos que se destinam a officiaes do exrcito
e a engenheiros civis.30 Entre as mudanas institudas estavam a formao do Corpo de
Alunos (CA), constitudo pelos alunos dos cursos de Infantaria, Artilharia, Cavalaria e
Engenharia, a alterao da durao do curso de Artilharia para trs anos e a criao do
Curso Superior de Guerra (CSG), para o qual bienalmente eram nomeados dois oficiais de
Artilharia.
Os elevados custos inerentes a estas alteraes levaram a que, em 1891, o Ministro
da Guerra31, usando a autorizao que lhe havia sido concedida para reformar to
economicamente quanto possvel todos os servios pblicos (Anurio da Academia Militar,
1958-1959, p.45), suspendesse a organizao vigente e decretasse uma nova estruturao
da EE. Dada a necessidade de estabelecer novas e mais slidas bases para a instruo
tcnica dos oficiais e de reduzir ao mnimo indispensvel o nmero de anos de durao dos
diferentes cursos, a 30 de Setembro de 1891 foi submetido a aprovao pelo Secretrio de
Estado dos Negcios da Guerra um projecto de reorganizao da EE, onde figuram a
criao do Corpo de Alunos do Exrcito, onde possam reunir-se com igual considerao e
iguais proveitos os que, a par, tero de seguir a mesma carreira pblica32, e a reduo dos
cursos preparatrios para as Armas. Com a organizao proposta reorganizava-se o CA, no
qual eram incorporados todos os alunos militares,33 o CSG passava a denominar-se de
Curso de Guerra e o curso de Artilharia voltava a ter a durao de dois anos. O ensino na
Escola passava a compreender o ensino theorico, ensino prtico e exerccios militares,
devendo os regulamentos providenciar de forma que os trabalhos de aplicao tenham o
mximo desenvolvimento possvel.34 A reforma de 1891 suprimia tambm os exames
30
Captulo 1, Artigo 1 da Ordem do Exrcito n 35 de 18 de Setembro de 1890. 31
Jorge Cndido Cordeiro Pinheiro Furtado e Pedro Victor da Costa Sequeira. 32
Relatrio do Secretrio de Estado dos Negcios da Guerra a sua Majestade El-Rei em 30 de Setembro de 1891. 33
Artigo 41 da Ordem do Exrcito n31 de 31 de Outubro de 1891. 34
Artigo 3 da Ordem do Exrcito n 31 de 31 de Outubro de 1891.
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especiais de habilitao dos alunos que terminassem o curso no ano lectivo de 1890-1891,
sendo a sua antiguidade regulada pelo valor mdio das suas provas escolares.
Pouco tempo aps ter entrado em vigor, a reforma de 1891 era considerada
inadequada para os objectivos a que a EE se propunha, uma vez que as disciplinas que
constituam os diversos cursos, principalmente as do curso de Artilharia onde o ensino das
matrias privativas era ministrado em menos cadeiras35, estavam distribudas por um
nmero diminuto de cadeiras, o que comprometia a formao dos Oficiais. Segundo o
Ministro da Guerra, a reduo do nmero de unidades curriculares tinha origem em razes
de ordem econmica, no entanto, a criao do CA, com vencimentos especiais, e admisso
de alunos em nmero muito superior ao das necessidades dos diversos servios tornavam
aquela organizao origem de dispndio avultado, que urge fazer cessar.36 Assim, em
1892 a Escola do Exrcito era remodelada e passava a ser o estabelecimento de instruo
especialmente destinado ao ensino theorico e pratico das sciencias militares e dos
engenheiros civis e de minas.37
Da nova organizao constavam o ensino terico de diversas cadeiras38 e o ensino
prtico, que compreendia memrias e problemas; trabalhos nas salas de estudo; trabalhos
no campo, laboratrios e gabinetes; visitas e misses a diferentes estabelecimentos,
fortificaes, oficinas e escolas prticas; reconhecimentos militares e viagens de Estado
Maior; e exerccios militares que abrangiam instruo tctica de Artilharia, instruo de tiro,
administrao, contabilidade e escriturao dos corpos, equitao, ginstica e esgrima.
Alm destas disciplinas era tambm ministrado o ensino de higiene e hipologia.39
No curso de Artilharia mantinha-se a durao de dois anos e as suas Condies de
admisso eram: ter praa em qualquer corpo do Exrcito, ter licena do Ministrio da
Guerra, ter o curso de cincias do Liceu ou do Real Colgio Militar, ter bom comportamento,
ter, como aluno ordinrio, o segundo curso da EP, ou as disciplinas equivalentes da
Universidade de Coimbra ou da Academia Politcnica do Porto40 e ter entre dezasseis e
vinte cinco anos. Aos alunos era concedida a graduao de primeiro-sargento cadete,
designao que substituiu a de Aspirante. O ano lectivo iniciava-se a 15 de Outubro e at 15
de Maio o tempo era ocupado essencialmente com o ensino terico, trabalhos nas salas de
estudo, laboratrios e gabinetes e exerccios militares. A presena dos alunos era
obrigatria em todos os servios escolares e o aluno melhor classificado antes de comear o
ano lectivo era nomeado chefe de turma sendo responsvel pela disciplina dos seus
35
Relatrio do Secretrio de Estado dos Negcios da Guerra a sua Majestade El-Rei em 30 de Outubro de 1892. 36
Idem. 37
Artigo 1 da Ordem do Exrcito n 29 de 31 de Outubro de 1892. 38
Vide Anexo I. 39
Artigos 4, 5, 6, 7 da Ordem do Exrcito n 29 de 31 de Outubro de 1892. 40
Gramtica e Lngua Portuguesa; Gramtica e Lngua Francesa; Desenho linear; Histria, Cronologia e Geografia; Matemtica elementar; Gramtica e traduo latina e Filosofia racional e moral.
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subordinados, e ter a seu cargo o material que for distribudo sua turma.41 No final de
cada ano o aluno melhor classificado de cada curso em cada ano era enviado em misso de
estudo a pases estrangeiros.
Por vcio de origem estava esta organizao condenada a ser modificada em
algumas das suas bases essenciais e a 23 de Agosto de 1894 decretava-se um novo plano
de reorganizao. Este plano marcava a convenincia de elevar o nvel cientfico dos
candidatos a Oficiais e conclua que era vantajoso exigir a todos os alunos a mesma
preparao cientfica. A partir de ento para efectuar matrcula na EE era necessrio obter
aprovao na disciplina de Mineralogia da EP e foi criado um curso geral, com durao de
um ano, comum a todos os cursos militares. Depois de concludas as aulas do curso geral,
os alunos eram submetidos a um jri que, com base no comportamento de cada aluno, nas
provas escolares, informao do comandante de Companhia e do cirurgio da escola,
estava encarregue de avaliar se as suas qualidades fsicas, morais e intelectuais eram as
necessrias para o grau de hierarquia militar a que se destinavam. Os alunos aprovados
pelo jri eram ainda sujeitos a um acto final que constava de provas tericas, prticas e
exerccios militares. Os alunos que conclussem com aproveitamento o curso geral eram
mandados comparecer na secretaria da escola, onde, por ordem de classificao,
declararo, por escrito, qual o curso especial da arma que desejam frequentar.42 O curso de
Artilharia passava ento a ter a durao de trs anos, sendo o primeiro ano destinado ao
curso geral43 e os dois restantes ao curso especfico de Artilharia44, nos quais, as cadeiras
especficas para o curso de Artilharia passaram a ser a sexta e a stima cadeira.
A distribuio do ano lectivo, sensivelmente idntica organizao existente
anteriormente, estava feita em quatro perodos. O primeiro perodo, de 20 de Outubro a 31
de Maro, estava especialmente destinado a lies orais e prticas das cadeiras, trabalhos
nas salas de estudo, nos gabinetes e laboratrios, exerccios militares, lies de HM e lies
e exerccios prticos de hipologia. O segundo perodo, de 1 de Abril a 31 de Maio, era
destinado a lies das cadeiras, embora em menor nmero do que acontecia no primeiro
perodo, trabalhos nas salas de estudo, gabinetes e laboratrios e exerccios militares,
especialmente trabalhos no campo. O terceiro perodo, de 1 a 30 de Junho, era
exclusivamente destinado a trabalhos exteriores no campo, visitas, misses,
reconhecimentos militares e viagens de Estado-Maior. O quarto perodo, de 1 a 31 de Julho,
estava destinado aos actos finais que consistiam em exames parciais; No primeiro ano os
alunos de Artilharia eram avaliados com quatro exames parciais: um exame que inclua
matria da segunda, terceira e quarta disciplinas, um exame da sexta disciplina, um exame
da stima disciplina e um exame conjunto da dcima segunda e dcima quarta disciplinas;
41
Artigo 34 da Ordem do Exrcito n 31 de 2 de Dezembro de 1892. 42
Artigo 121 do Captulo II da Ordem do Exrcito n 21 de 6 de Outubro de 1894. 43
Vide Anexo II. 44
Vide Apndice 7.
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No segundo ano existiam novamente quatro exames: um da primeira disciplina, um da
quinta disciplina, um da oitava disciplina e um exame conjunto da dcima terceira, dcima
quinta e dcima sexta disciplinas.45 Para ser admitido a acto final era necessrio obter uma
cota de mrito46 no inferior a dez valores em cada um dos grupos lies e repeties,
exerccios prticos e exerccios militares.47 Os alunos que obtivessem classificaes
inferiores a dez valores nas aulas de HM ou de Hipologia tinham ainda de realizar exames
destas disciplinas. As frias escolares eram gozadas de 1 de Agosto a 30 de Setembro.48
Com a reforma de 1894, e devido diminuio do nmero de alunos e ao usufruto de
algumas dependncias que voltavam a estar na posse do Ministrio da Guerra, o regime de
internato voltava a ser adoptado pela Escola, funcionando como um aquartelamento,
adequado idade e condies dos alunos e sua organizao numa Companhia, que vir a
substituir o actual Corpo de Alunos.49 A Companhia ento criada dividia-se em sete
seces, uma para cada curso da EE, existindo em cada seco um aluno responsvel, o
Chefe de Curso, que possua os deveres inerentes a Comandante de Seco e a Chefe de
Curso.50 Era nomeado ainda um Chefe de Dormitrio, designado pelo Comandante de
Companhia, tambm com deveres inerentes a esta funo.51
O curso de Artilharia continuava com a durao de trs anos. O primeiro ano era
comum aos alunos das Armas de Artilharia e Engenharia52 e o segundo e terceiro em
separado com cadeiras especficas53. Foi ainda institudo que os alunos apenas poderiam
repetir o ano uma nica vez, sendo eliminados da EE se ficassem reprovados pela segunda
vez em qualquer ano do seu curso.54
Tambm as condies de admisso Escola do Exrcito sofreram alteraes com
as reformas de 1894. Os candidatos que j eram militares tinham de entregar ao seu
Comandante de Companhia, at 20 de Agosto, os documentos necessrios: detalhe do
tempo de servio, aptido militar e notas de assentos.55 Aos candidatos civis era exigida, at
mesma data, a apresentao, para alm de documentos literrios e cientficos, da certido
de idade, da certido do Comandante de Distrito de Recrutamento, da certido de registo
criminal, do atestado de bom comportamento, do atestado de residncia do pai ou tutor e da
45
Artigo 204 do Captulo III, Ttulo III, da Ordem do Exrcito n 21 de 6 de Outubro de 1894. 46
Mdia dos valores arbitrados pelos membros do jri a cada uma das trs provas que compem o acto final (provas tericas, prticas e exerccios militares). 47
Os exerccios militares incluam tambm os subgrupos de Ginstica e Esgrima e de Equitao. 48
Artigos 144 e 145 do Captulo I, Ttulo IV da Ordem do Exrcito n 21 de 6 de Outubro de 1894. 49
Decreto da Secretaria de Estado dos negcios da guerra, 1 srie, referente Ordem do Exrcito n 19 de 1 de Setembro de 1894. 50
Vide Anexo III e IV. 51
Artigo 217, Captulo II, Ttulo IV da Ordem do Exrcito n 21 de 6 de Outubro de 1894.Vide Anexo V. 52
Artigo 10 e 11 da Ordem do Exrcito n 12 de 23 de Setembro de 1897. Vide Anexo IX. 53
Vide Apndice 8. 54
Artigo 3, Captulo I, Ttulo I da Ordem do Exrcito n 13 de 30 de Setembro de 1897. 55
Artigo 76, Captulo I, Ttulo III da Ordem do Exrcito n 13 de 30 de Setembro de 1897.
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licena do pai ou tutor para assentar praa. Os candidatos civis eram admitidos apenas na
falta de candidatos militares.56
A caracterizao da formao dos oficiais de Artilharia no terceiro perodo da EE
concluda analisando a relao entre o nmero de alunos que iniciavam o curso de Artilharia
e o nmero de anos que o concluram com sucesso57. Verifica-se que os alunos que
ingressaram o curso de Artilharia entre 1890 e 1894, perodo em que o curso de Artilharia
no possua anos curriculares em comum com outras Armas, e terminaram os seus estudos
entre 1892 e 1896, dos noventa e quatro alunos iniciais terminaram o curso oitenta e oito.
Em 1894 a instituio do curso comum para as Armas de Infantaria, Artilharia, Cavalaria e
Engenharia Militar e a alterao da durao do curso de Artilharia para trs anos provocou
um interregno de um ano na sada de Oficiais formados pela Escola do Exrcito. Assim
sendo, dos noventa e nove alunos que ingressaram o curso comum, dezassete terminaram
o curso de Artilharia, no entanto necessrio ter em conta que dos noventa e nove alunos
cerca de 50% tinham destino Arma de Infantaria, cerca de 40% eram repartidos entre as
Armas de Artilharia e Cavalaria e cerca de 10% eram destinados Arma de Engenharia
Militar. A partir de 1897 o primeiro ano de Artilharia passou a ser comum somente com a
Arma de Engenharia Militar e dos 277 alunos matriculados neste perodo, 103 terminaram o
curso. Nos ltimos anos do terceiro perodo da EE, entre 1910 e 1912, matricularam-se no
Curso Comum de Artilharia e Engenharia Militar setenta e dois alunos que s viriam a
terminar os seus cursos no perodo da Escola de Guerra (EG), no figurando por isso na
relao estatstica efectuada.
2.4. As Reformas de Portugal na organizao da Escola do Exrcito
Com a conquista do Liberalismo em 1834, decretou-se uma organizao provisria,
com grande reduo de efectivos, no entanto, pouco tempo iria vigorar este organizao,
pois, em 1836, a Ditadura Setembrista decretou uma nova reorganizao do Exrcito.
Embora se tenha reorganizado vrias vezes o Exrcito at 1860, o que certo que o
armamento em nada evoluiu e, por isso mesmo, o plano de estudos dos alunos de Artilharia
em nada se alterou at essa data, ficando o ensino especfico da Artilharia concentrado
numa nica cadeira. Nesta poca dava-se grande importncia cadeira de TDTM, uma vez,
que era dada em todos os anos do curso e s em 1860 se introduziu no currculo do curso
de Artilharia cadeiras como Qumica e Geometria Descritiva.
Numa altura, em que os progressos industriais sentidos por toda a Europa, nos
domnios da qumica, da electricidade, da metalurgia, pondo ao servio da arte da guerra
56
Artigo 78, Captulo I, Ttulo III da Ordem do Exrcito n 13 de 30 de Setembro de 1897. 57
Vide Apndice 9.
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novos e mais poderosos meios de destruio () levaram os governos () a remodelarem
continuadamente os seus armamentos, exrcitos e mtodos de combate (Selvagem, 1931,
p.579). Nessa conformidade, Portugal tratou de renovar o seu armamento e em 1860 fez-se
uma encomenda Inglaterra de equipamento e material, que permitiu que em 1863 se
fornecessem ao Regimento de Artilharia n 1 seis batarias de peas de 8cm transformadas e
estriadas segundo o sistema francs. Fabricaram-se ainda obuses de 12cm e peas de
montanha de 8cm e pouco depois comeou o fabrico de peas estriadas para a Artilharia de
stio (Selvagem, 1931, p.580).
No ano de 1872, a melhoria no fabrico da plvora e a instalao de novas mquinas
no Arsenal do Exrcito, levou a que se fizesse o fabrico de novos modelos desenhados e
fundidos para a Artilharia de campanha, montanha e de praa (Sousa, 2010). Mais tarde, em
1878 d-se o fabrico do primeiro tipo de material de retrocarga. Todos estes acontecimentos
e inmeras inovaes a nvel industrial, levaram a que na organizao de 1884, os alunos
do curso de Artilharia tivessem as cadeiras de Plvoras, Munies e Artifcios e de Fabrico
de Material de Guerra, pois era necessrio formar os Oficiais de Artilharia nestas cadeiras,
uma vez que poderiam ser colocados no Arsenal do Exrcito, onde se fabricavam vrios
materiais. Em relao s restantes cadeiras, em 1864 introduziu-se o estudo de Legislao
e Administrao Militar e tambm o estudo da Importncia das Armas do Exrcito. Este foi
tambm o primeiro ano em que se estudavam matrias ao nvel da Tctica e da Estratgia.
Ao nvel das cadeiras de Artilharia houve tambm algumas alteraes, nomeadamente, na
introduo de matrias como Efeitos dos projcteis de Artilharia e Munies de Guerra.
Apaziguados que estavam os nimos, depois das lutas civis do sculo XIX, Portugal
sentiu necessidade de enveredar por novos rumos mais compatveis com o esprito utilitrio
e o regime industrial dos novos tempos (Selvagem, 1931). Mas foi, devido, s ambies
despertadas por toda a Europa em relao ao Continente Africano, principalmente, s
expedies de Livingstone de 1840 a 1867, que fizeram com que as exploraes se
multiplicassem e fizessem do Continente Africano o centro das atenes (Selvagem, 1931).
Posto isto, devido aos esforos de manuteno do imprio, passaram a ser
leccionadas na Escola do Exrcito a partir de 1894 cadeiras especialmente destinadas a
matrias coloniais, como por exemplo, a matria de Servios Militares nas colnias, devido
ao facto de muitos dos Oficiais formados poderem ser mobilizados para frica. Passados
trs anos, introduziu-se no currculo dos alunos de Artilharia as matrias de Tctica aplicada
e Campanhas coloniais.
Relativamente aos alunos admitidos na EE durante este perodo nota-se um grande
aumento em relao ao incio do sculo XIX, principalmente a partir de 1879, devido
criao de um Exrcito colonial, independente do metropolitano e s negociaes com a
Inglaterra pela fixao de fronteiras a Oeste e Noroeste dos territrios portugueses de
Moambique.
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CAPTULO 3
A FORMAO DOS OFICIAIS DE ARTILHARIA: DA REPBLICA 1
GUERRA MUNDIAL: 1911 1919
3.1. A implantao da Repblica e a formao dos Oficiais de Artilharia: 1911
a 1916
Poucos meses aps a implantao da Repblica, as Instituies Militares sofriam
uma profunda remodelao derivada da adopo da forma miliciana na organizao do
Exrcito. Como consequncia natural, a lei orgnica da EE foi igualmente modificada de
modo a acomod-la s novas exigncias do Exrcito e s imperiosas necessidades do
ensino. Por decreto de 25 de Maio de 1911 foi reorganizada a Escola do Exrcito, passando
a denominar-se EG. No relatrio que acompanhava o decreto pode ler-se o seguinte: A
remodelao agora feita na sua organizao obedece ao mesmo princpio e mesma
aspirao antiga de a acomodar s exigncias crescentes do Exrcito e de a aperfeioar de
forma a satisfazer quanto possvel s imperiosas necessidades do ensino. Destinadas como
esto as nossas instituies militares a adoptar a forma miliciana, a misso da Escola de
Guerra passa naturalmente a ser a de instruir, educar e preparar oficiais de carreira, aqueles
que tm de ser os instrutores e educadores dos quadros que ho-de emoldurar a grande
massa da Nao em unidades de combate58
Modificou-se tambm o objectivo da Escola que passava a ser o estabelecimento de
instruo superior exclusivamente destinado ao ensino das sciencias militares, devendo ter
como fim: preparar officiaes para as differentes armas do exrcito e para o servio de
administrao militar; ministrar os conhecimentos necessrios aos alferes mdicos
milicianos que desejem ter ingresso no Quadro Permanente; difundir entre os officiaes do
exrcito os altos conhecimentos militares e assegurar o recrutamento dos officiaes para o
servio de Estado Maior.59
Neste perodo do ensino militar deu-se o desdobramento da Arma de Artilharia em
Artilharia de campanha (AC) e Artilharia a p, com durao de dois anos sendo os primeiros
anos em comum com os dos cursos de Infantaria e Cavalaria e com o curso de Engenharia
respectivamente. O ensino estava orientado no sentido de ministrar aos alumnos a
instruo theorica e prtica necessria para o ingresso nas suas respectivas carreiras.60
58
Relatrio da Secretaria da Guerra referente Ordem do Exrcito n 12 de 27 de Maio de 1911. 59
Artigo 1, Captulo I da Ordem do Exrcito n 12 de 27 de Maio de 1911. 60
Artigo 8, Captulo II da Ordem do Exrcito n 12 de 27 de Maio de 1911.
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Eram condies de admisso neste perodo: ter menos de 25 anos at ao dia 20 de
Outubro do ano de candidatura; deter, pelo menos, o posto de segundo sargento em
qualquer das Armas61; obter boas informaes pelos chefes sob cujas ordens servia; ter-se
alistado no Exrcito como voluntrio ou como recrutado.62 No caso de o aluno se querer
inscrever no curso de Artilharia a p tinha ainda de obter aprovao no curso de Cincias
dos Liceus Centrais ou do Colgio Militar (CM), nas disciplinas necessrias professadas em
qualquer Universidade63, e nas disciplinas de Resistncia de Materiais e Estabilidade das
Construes, Teoria Geral e Descrio das Mquinas, Hidrulica Geral, Mquinas
Hidrulicas e Electrotecnia Geral em qualquer Universidade de Engenharia. Para o curso de
AC era necessrio possuir igualmente aprovao no curso de Cincias dos Liceus Centrais
ou do CM e obter aprovao nas disciplinas de Matemticas Gerais, Fsica, Geometria
Descritiva e Desenho em qualquer Universidade.64 Depois de aprovados nesta fase, os
alunos eram convocados a prestar provas para o concurso de admisso na presena de um
jri. Este concurso iria ser reestruturado no ano seguinte, em 1912 e consistia em duas
partes: uma eliminatria, que englobava a prova escrita sobre um assunto da vida e servio
militar e as provas fsicas, que voltariam posteriormente a ser reestruturadas em 191665; e
uma de classificao que englobava uma parte genrica para todos os alunos com provas
de Histria Geral, Histria da Ptria, O Globo em Geral, A Europa, A Pennsula Ibrica,
Portugal e Desenho e uma segunda parte especfica para os cursos de Artilharia a p
(Mecnica Racional e Aplicada, Fsica, Qumica Mineral e Orgnica) e de AC66 (Fsica Geral,
Qumica e Matemtica).67 Outra alterao levada a cabo com esta organizao foi a
reestruturao dos planos curriculares do curso de Artilharia a p e de AC68.
Esta reestruturao duraria, contudo, pouco tempo e em 1913, sob proposta do
Conselho de Instruo, foram alteradas algumas unidades curriculares. Entre as
modificaes introduzidas a mais importante era a criao de um curso de Noes de
Material de Guerra, na quinta disciplina, com o fim de unificar o ensino de uma matria que
se encontrava at ento dispersa por vrias disciplinas. Em ambos os cursos, a 16 cadeira
foi substituda pela 12 cadeira Astronomia de Campo, Geodesia e Topografia e foi
introduzida a 11 cadeira Administrao Militar, Prtica de Contabilidade e Escriturao
Militar. No curso de Artilharia a p foi ainda introduzido o estudo da 14 cadeira Elementos
de Construes.69 Os alunos do segundo ano dos cursos de Artilharia a p e de AC tinham
61
A Escola de Guerra passou a ser destinada exclusivamente frequncia de alunos militares por ter sido dela suprimido o curso de Engenharia civil. 62
Artigo 56, Captulo II, Ttulo III da Ordem do Exrcito n 18 de 24 de Agosto de 1911. 63
Trigonometria esfrica; lgebra superior; Geometria analtica e descritiva; Clculo diferencial e integral; Mecnica; Fsica; Qumica analtica, orgnica e inorgnica; Economia poltica; Mineralogia; Geologia; Desenho. 64
Anurio da Academia Militar, (1958-1959), Academia Militar. 65
Vide anexo X. 66
Vide Anexos XI e XII. 67
Ordem do Exrcito n 15 de 31 de Dezembro de 1912. 68
Vide Apndices 10 e 11. 69
Artigo 5, Captulo I da Ordem do Exrcito n 18 de 11 de Outubro de 1913.
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ainda pelo menos duas aulas tericas e dois exerccios por semana, sobre a instruo
tctica e dos regulamentos da sua especialidade.70
O ano lectivo iniciava-se a 20 de Outubro e at dia 31 desse ms efectuavam-se as
matrculas dos alunos. O perodo de 1 de Novembro a 10 de Maio era destinado ao ensino
terico e, quando possvel, acompanhado de aulas prticas na salas de estudo, gabinetes,
laboratrios e carreiras de tiro; s conferncias e aos trabalhos prticos sobre
administrao, contabilidade e escriturao militar. O perodo de 11 de Maio a 30 de Junho
destinava-se principalmente ao ensino prtico. Terminada a fase de ensino, de 1 a 7 de
Julho fazia-se o apuramento da frequncia dos alunos bem como o encerramento das
matrculas e de 8 de Julho a 15 de Agosto decorria o perodo de exames, destinados a
verificar se os alunos possuem, no s os conhecimentos tericos e prticos constantes
dos respectivos programas, mas ainda a capacidade profissional para o ingresso nas
respectivas carreiras.71 Caso obtivessem nesta poca nota inferior a dez valores, os alunos
repetiam os exames em Outubro. A nota da disciplina de LI s contabilizava para efeitos de
nota final de curso se o aluno obtivesse uma graduao superior a 15 valores, sendo o
exame desta disciplina efectuado em Julho e apenas para averiguar se os alunos
dominavam com facilidade a oralidade e a escrita da LI. O perodo de frias escolares
decorria entre 16 de Agosto e 30 de Setembro.72
3.2. As consequncias da 1 Guerra Mundial na formao dos Oficiais de
Artilharia: 1916 - 1919
Depois de um perodo em que a EG se acomodou s novas exigncias do Exrcito e
em que se tinham combatido algumas deficincias graves como a falta de treino prtico dos
alunos, a 4 de Abril de 1916 um novo decreto veio estabelecer as bases de um regime
transitrio, a adoptar imediatamente, para que os quadros dos Oficiais do Exrcito ficassem
em condies de satisfazer as exigncias do confronto armado que a Nao se preparava
para enfrentar, uma vez que a Alemanha havia declarado Guerra a Portugal.