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ABORDAGENS TEÓRICO-METODOLÓGICAS DA GEOGRAFIA: UMA ANÁLISE DAS TEMÁTICAS DOS GRUPOS DE PESQUISA EM GEOGRAFIA
AGRÁRIA
Janaína Francisca de Souza Pesquisadora do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária – NERA
Universidade Estadual Julio de Mesquita Filho - UNESP [email protected]
Resumo
O presente trabalho traz uma discussão sobre as abordagens teórico-metodológicas da Geografia tendo com enfoque as temáticas elegidas pelos grupos de pesquisa em Geografia Agrária. Os grupos de pesquisa são concebidos como espaços de pesquisa e extensão responsáveis pela construção de pensamentos, por selecionar temáticas de estudo e compartilhar paradigmas. Através da análise da produção intelectual dos integrantes de 8 grupos de pesquisa em Geografia Agrária do Estado de São Paulo, foi possível identificar as principais temáticas que compõem desse ramo do conhecimento. Sob a ótica dos grupos de pesquisa, a análise revelou a complexa trama que envolve este ramo disciplinar. Eles expressam a unidade, diversidade e diferencialidade que o conhecimento geográfico abriga, considerados sujeitos da produção, construção e difusão do conhecimento e que se alinham a distintos paradigmas.
Palavras-Chave: Grupos de pesquisa. Paradigmas. Geografia Agrária. Temáticas.
Apresentação
O presente trabalho faz uma discussão sobre as abordagens teórico-metodológicas da
Geografia tendo como enfoque as temáticas elegidas pelos grupos de pesquisa em
Geografia Agrária. Para tanto, além desta e das considerações finais, o seguinte trabalho
divide-se em duas secções: a primeira, que apresenta os grupos de pesquisa como
expressão da unidade, diversidade e diferencialidade da Geografia Agrária e uma
segunda, em que são apresentadas as temáticas compartilhadas pelos grupos de pesquisa
em Geografia Agrária do Estado de São Paulo.
Grupos de pesquisa como expressão da unidade, diversidade e diferencialidade da Geografia Agrária Além de constituir-se como um campo de estudos que analisa a dinâmica dos sujeitos
que constroem a realidade, cujo espaço é a categoria de estudo por excelência, a
Geografia vive um contínuo processo de debate entre positivistas, neopositivistas,
historicistas, marxistas e fenomenológicos, correntes que interpretam, com enfoques
distintos, o espaço geográfico. Todavia, o debate sobre questões de cunho teórico-
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metodológico, em comparação com outras, ainda carece de maiores reflexões e
considerações. Diniz (1987), na década de 1980, já apontava para essa lacuna, de modo
que faltam informações mais precisas sobre pesquisas, eventos, trabalhos e teses, sem as
quais não se pode reconstruir, de forma prudente, a trajetória da Geografia brasileira.
Oliveira (1995) também apontou sobre a importância do estudo sobre a atualidade do
pensamento geográfico, considerando as rápidas mudanças que ocorreram nos últimos
anos.
A Geografia Agrária brasileira se desenvolve seguindo uma trajetória de
transformações, em que as influências de outras ciências e as mudanças paradigmáticas
determinam os temas de estudo e as formas de estudá-los (FERREIRA, 2002). É preciso
que essas transformações sejam devidamente compreendidas e, para isso, adentrar o
pensamento geográfico brasileiro constitui-se como tarefa elementar. Com diferentes
ênfases e concepções, inúmeros foram os estudiosos que constataram as transformações
sócioespaciais e teórico-metodológicas pelas quais passaram o conhecimento científico
e a própria Geografia. No que tange a Geografia Agrária, a situação é semelhante. Esses
estudios preocuparam-se em conhecer melhor as temáticas desenvolvidas nas pesquisas,
apontar as perspectivas teórico-metodológicas, elaborar periodizações e discutir o objeto
de estudo da Geografia Agrária. Estes pensadores demonstraram a necessidade de
aprofundar a compreensão da Geografia Agrária para discutir e analisar suas
transformações, tendências e influências.
Entre os trabalhos mais significativos de estudos sobre o pensamento geográfico em
agrária, destaca-se O Mundo Rural e Geografia: Geografia Agrária no Brasil 1930-
1990, da professora Darlene Aparecida de Oliveira Ferreira e o artigo A Geografia
Agrária e as transformações territoriais recentes no campo brasileiro, do professor
Ariovaldo Umbelino de Oliveira. Esses dois trabalhos, de modos diferentes, são
contribuições importantes para compreender a formação do pensamento geográfico em
Geografia Agrária, considerando a raridade desse tipo de estudo.
Neste início do século XXI, dois trabalhos se dedicaram a discutir as abordagens
teórico-metodológicas da Geografia Agrária. Ferreira et al. (2009), ao analisar as teses e
dissertações em Geografia Agrária defendidas no Programa de Pós-Graduação em
Geografia da Unesp de Rio Claro (PPGRC) de 1970 a 2007, partiu do pressuposto do
pluralismo metodológico que envolveu esse ramo, no qual intensificou-se o diálogo
com outras áreas do saber. Ao analisar a produção da Geografia Agrária de 1939-2009,
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Alves (2010) vai em direção semelhante e diz que, apesar de momentos de rupturas
paradigmáticas, a heterogeneidade de enfoques e abordagens é a característica principal
deste período, sendo em 1990 o período em que a coexistência de abordagens é
nitidamente perceptível e marcante.
De fato, a produção intelectual da Geografia Agrária brasileira continua sendo pautada
pela diversidade. Contudo, além da diversidade, outras duas dimensões devem ser
consideradas: a unidade e a diferencialidade. Por unidade estamos nos referindo à
especificidade e singularidade da forma de organização do pensamento, cuja ação é
orientada e direcionada para uma interpretação particular da realidade. A diversidade,
como exposto, implica no conjunto das distintas formas de pensar, isto é, do conjunto
das unidades. A diferencialidade faz parte da diversidade, e se dá quando duas ou mais
unidades do pensamento são justapostas e explicitadas suas diferenças.
Estas três dimensões constituem-se importantes, pois revelam as “Geografias”
realizadas não só a nível nacional, como também mundial. Reconhecê-las é condição
sine qua non para a compreensão das questões teórico-metodológicas da Geografia, uma
vez que desvendar este campo investigativo é, também, questionar o papel dos estudos
geográficos frente à sociedade.
Pautado na unidade, diversidade e diferencialidade, pode-se afirmar que as questões
teórico-metodológicas que envolvem os estudos geográficos se configuram como
elementos eminentemente estratégicos e vinculados a interesses, sujeitos e classes
sociais (LACOSTE, 1988). Esses estudos se convertem em força política e ideológica e,
por isso, possuem papel central, colocando conhecimento e poder como instâncias
fundamentalmente necessárias para uma interpretação crítica que toda a forma de
produção do conhecimento abrange (FOCAULT, 2009). A universidade constitui-se em
um espaço de luta, e a Geografia cabe incorporar essa conflitualidade independente da
posição assumida (GERMANI apud RAMOS FILHO, 2005). Ainda de acordo com
GERMANI apud RAMOS FILHO (2005):
Não é mais uma questão de você contar população, ver se é urbana, ver se é rural, ver o quê produz, como produz, localização, condições climáticas, usar imagens de satélite, GPS... Mas você tem um conflito explicitado que vai parecer mesmo que não se queira mostrar... O próprio pesquisador passa a se sentir, obrigatoriamente, parte dessa realidade, ele deve não só interpretar, mas ele deve tomar posições que tem a ver com posições de classe desse pesquisador (GERMANI apud RAMOS FILHO, 2005, p. 62).
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Na atualidade, essa condição é deliberada explicitamente ou implicitamente por
geógrafos e geógrafas que, amparados por seus respectivos projetos de pesquisa e
extensão, relatórios científicos, monografias, dissertações e teses alinham-se,
impreterivelmente, a concepções políticas e ideológicas de mundo.
No campo do saber e do labor científico, dois grandes estudiosos auxiliam nesse debate
político e ideológico: Thomas S. Kuhn e Ludwik Fleck. De certa maneira, ambos
partiram do rompimento e da superação de abordagens positivistas, em que o
pressuposto da neutralidade científica foi desmitificado ao incluir um viés histórico,
psicológico e, sobretudo, social de compartilhamento de paradigmas e estilos de
pensamento. Para a Geografia, o fator do compartilhamento é importante para a
compreensão de determinadas concepções elegidas e faz dela um saber comprometido
politicamente e ideologicamente. Kuhn (2007) tratou o desenvolvimento da prática
científica com base nos paradigmas, ao passo que Fleck (1979) apoiou-se nos estilos de
pensamento. Juntos, esses dois conceitos contribuem para a interpretação do
conhecimento geográfico e das suas questões teórico-metodológicas, porém, são
concepções que nasceram ancoradas em preocupações que se diferem bastante daquelas
propostas para a Geografia, e por isso suscitam tanto contribuições como limites que
devem ser exaltados.
Além de identificar teorias, métodos, conceitos, períodos, temáticas e/ou contextos em
que os estudos geográficos foram elaborados, é preciso recorrer a outros aportes que
atualizem o pensamento geográfico. É necessário entendê-los como estudos que se
inserem numa lógica ampla e complexa, compartilhados por estudiosos filiados a
grupos de pesquisa. No que diz respeito aos grupos de pesquisa, os consideramos
como expressões da diversidade existente na Geografia, sujeitos de produção,
construção e difusão do conhecimento e que se alinham a diversas “Geografias”,
aderindo distintas concepções políticas e ideológicas que estão presentes nos
paradigmas de estudo.
A diversidade de abordagens geográficas não pode ser compreendida sem a análise dos
papéis que os grupos de pesquisa desempenham, na medida em que, intencionalmente,
organizam, selecionam e compartilham temáticas específicas para uma interpretação
geográfica. Luckesi faz algumas considerações sobre a importância da atividade
coletiva que os centros universitários realizam e assinala:
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Conhecer o mundo, a realidade, torna-se fascinante quando os “sujeitos” põem em comum suas potencialidades e capacidades para dominar a realidade. Isto é decorrência da qualidade social inerente a nós homens: deixar que as “consciências” se comuniquem na experiência de viver, de dominar o mundo. [...] Isto o fazemos quando, intencionalmente, nos reunimos para refletir, discutir, estudar uma situação, um desafio, uma questão, um problema, ou enfrentar juntos uma luta, uma conquista (LUCKESI, 1987).
Mais que um agrupamento de pesquisadores que se unem para o estudo de determinadas
temáticas de interesse comum, os grupos de pesquisa selecionam paradigmas para a
condução de suas reflexões. Entende-se que o estudo dos temas que influenciam os
grupos possibilita compreender como pesquisadores e estudos alinham-se à posturas
ideológicas e políticas, instituições e organizações sociais, se aproximando do que
Berdoulay denominou de círculos de afinidades (BERDOULAY, 1981).
O saber geográfico sempre abarcou a organização coletiva do pensamento, como mostra
Sousa Neto (2001) ao discutir o papel desempenhado pela Sociedade de Geografia do
Rio de Janeiro – SGRJ – nos séculos XIX e XX. Estas sociedades, compostas por
comerciantes, militares, engenheiros e cientistas, se conectaram a ações de ordem
colonialista e imperialista e, consequentemente, justificaram histórias, escolhas políticas
e projetos nacionais. Ainda, o estudo sobre o papel destas sociedades, sobretudo em
países entendidos como periféricos, mostra a relação direta com as questões científicas
que deveriam encaminhar os estudos geográficos na época e que, posteriormente,
constituíram os sistemas universitários, as redes de pesquisa, as publicações e os
eventos (SOUSA NETO, 2001).
Hoje, outros tipos de “sociedades universitárias” apresentam-se para inúmeras áreas do
conhecimento. Marcado sob o crivo do processo de reestruturação produtiva e apoiado
pelo Estado, uma outra concepção de grupo de pesquisa oficializou a organização social
e coletiva que historicamente conformou a História da Geografia no Brasil.
No Brasil, uma das principais características que compõe a atividade científica da
atualidade, consiste na formação de grupos de pesquisa e redes acadêmicas.
(MOROSINI; FRANCO, 2001). Nesse contexto, consideramos importante, nesta
pesquisa, estudar a produção intelectual dos membros dos grupos de pesquisa em
Geografia Agrária. Grande parte da produção do pensamento geográfico realizada nas
universidades brasileiras, estimulada pelos centros de pós-graduação, com apoio das
agências de fomento, se baseia hoje nestes espaços de pesquisa ainda não investigados.
Orientados por interesses em comum, os grupos de pesquisas tomam frente do processo
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de construção do conhecimento e representam uma das mais ricas fontes para o estudo
do pensamento geográfico em nosso país.
Considera-se que a produção do conhecimento em grupos de pesquisa possibilita a
realização de investigações mais amplas e complexas, uma vez que envolve
pesquisadores dos mais distintos níveis acadêmicos - professores, alunos (graduação e
pós-graduação), funcionários e técnicos. A articulação entre os pesquisadores e a
manutenção do diálogo torna-se condição importante para a construção do
conhecimento (MARAFON, 2008).
Ainda, os grupos de pesquisa viabilizam o compartilhamento do conhecimento e
qualifica a atividade científica nas suas mais diversas dimensões (VALENTIM, 2007).
Ao integrar seus membros, eles produzem em seu interior um processo sinergético, pois
agregam pesquisadores por meio de linha(s) de pesquisa(s) que representam “[...] temas
aglutinadores de estudos científicos que se fundamentam em tradição investigativa, de
onde se originam projetos cujos resultados guardam afinidades entre si.” (CNPq, 2008).
A partir de linhas genéricas e abrangentes, os projetos de pesquisa são concebidos,
favorecendo, assim, a reflexão e o questionamento em torno de um determinado
objeto(s).
Valentim (2007) chama atenção para a visão global que os grupos de pesquisa
constroem em torno do fenômeno(s) estudado(s), já que cada membro, independente do
seu nível acadêmico, colabora de forma particular e criativa no processo de construção
do conhecimento. Assim, docentes, discentes, técnicos e funcionários são sujeitos
ativos, pois participam desse processo e são capazes de desenvolver habilidades:
Para o docente/pesquisador este compartilhamento proporciona um eterno repensar do objeto de pesquisa, bem como provoca a atualização contínua dos seus conteúdos programáticos ministrados em sala de aula. Da mesma forma, para o profissional (egresso ou não) este compartilhamento proporciona a reflexão sobre o fazer na realidade vivenciada. Para o aluno este compartilhamento é vital, pois é por meio dele que o aluno aprende a questionar e a refletir, dando-lhe maturidade para o desenvolvimento da pesquisa científica. Além disso, a formação do aluno que tem contato com grupos de pesquisa, consequentemente, com um projeto de pesquisa é mais bem qualificada, preparando-o para atuar como profissional mais consciente, mais crítico ou preparando-o para seguir a formação no nível stricto sensu (VALENTIM, 2007, p. 7).
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O debate paradigmático manifesta a unidade, diversidade e diferencialidade da
Geografia, e entendê-los constitui-se como tarefa necessária para que o pensamento
geográfico possa ser devidamente delineado e atualizado.
Como expressão da unidade, diversidade e diversidade da Geografia, os grupos de
pesquisa apresentam complexidade significativa no que diz respeito aos caminhos
teóricos, epistemológicos e metodológicos que, envoltos a intencionalidades e
ideologias, conformam unidade ao pensamento, isto é, dão vida aos paradigmas. A
questão é saber, com foco nos grupos de pesquisa, como a Geografia Agrária vem sendo
impactada pelos diferentes paradigmas, mapeando e analisando a sua produção. Para
além da sua institucionalização, concebemos os grupos de pesquisa como espaços de
socialização acadêmica, orientados por determinadas temáticas e paradigmas de estudo.
Isso não significa afirmar que os grupos de pesquisa estão “condenados” a determinadas
concepções paradigmáticas, porém, é necessário que o pressuposto da neutralidade
científica, postulada pela escola positivista, seja superado, de modo que passemos a
identificar o compartilhamento de paradigmas como mecanismos dos grupos de
pesquisa para o desenvolvimento de seus estudos.
Admitir essa condição nos permite reconhecer as tendências temáticas, conhecer as
influências intra/interdisciplinar, bem como os paradigmas que hoje influenciam os
estudos geográficos. Deste modo, o presente trabalho inicia o mapeamento da produção
intelectual da Geografia Agrária sob a ótica dos grupos de pesquisa. A seguir,
procuramos analisar a atualidade da produção teórico-metodológica a partir das
temáticas de estudo de cada grupo.
As temáticas de estudo dos grupos de pesquisa em Geografia Agrária
A partir do levantamento da produção científica dos pesquisadores nas edições do
Simpósio Internacional de Geografia Agrária (SINGA) dos anos de 2003, 2005, 2007 e
2009 e das edições de 2005, 2006, 2007, 2008 e 2009 do Encontro Nacional dos Grupos
de Pesquisa em Geografia Agrária (ENGRUP), 8 grupos de pesquisa em Geografia
Agrária do Estado de São Paulo compõem o universo da análise: Agricultura e
Urbanização, Geografias da Modernidade e o Agrária (USP); Logística, agricultura e
uso do território brasileiro (Unicamp); Centro de Estudos de Geografia do Trabalho
(CEGeT), Núcleo de Estudos Agrários (NEA), Grupo de Estudos Dinâmica Regional e
Agropecuária (GEDRA) e o Núcleo de Estudos, e o Grupo de Estudos, Pesquisas e
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Projetos de Reforma Agrária (NERA) - Unesp. Estes grupos correspondem a 100% dos
grupos que se dedicam à este ramo da Geografia. Em uma breve análise desse temário,
observamos como as transformações recentes determinaram as mudanças de temas de
pesquisa, mantendo alguns, criando novos e fazendo desaparecer outros.
O grupo Agricultura e Urbanização (USP) possui como temática principal o estudo da
relação campo/cidade e agricultura/urbanização. O grupo também envolve pesquisas
específicas sobre estudos agrários ou urbanos, com destaque para as pesquisas entre
geografia e literatura, atuando como perspectivas complementares da temática
principal do grupo. O trabalho escravo, a questão de gênero e os agrocombustíveis,
também fazem parte do temário trabalhado pelo grupo.
As temáticas associadas às comunidades tradicionais brasileiras, com ênfase para as
comunidades quilombolas, caiçaras e indígenas, estão atreladas a discussões que
envolvem: a revalorização dos saberes e da identidade desses povos, com destaque para
os seus dilemas e perspectivas; os processos de luta e resistência, a fotografia e a
história oral como instrumentos de salvaguarda da memória e fortalecimento da
identidade e os fenômenos migratórios – organograma 1.
Organograma 1: Principais temáticas - Agricultura e Urbanização
Organização: Janaina Francisca de Souza Campos
O grupo Geografias da Modernidade (USP) baseia-se no interesse sobre a questão do
gênero na geografia e sobre a questão da modernidade tecnológica da cana-de-
açúcar. Neste sentido, as temáticas desenvolvidas pelo grupo dividem-se em três
grandes grupos: gênero, migração e trabalho/cana-de-açúcar, sendo esta última a
temática unificadora – organograma 2.
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Organograma 2: Principais temáticas – Geografias da Modernidade
Organização: Janaina Francisca de Souza Campos
O grupo Agrária (USP) possui um amplo leque de temáticas. São temáticas de estudos
que referem-se a luta pela terra e movimentos sociais, a relação campo-cidade e/ou
rural urbano, as comunidades tradicionais – faxinais, quilombolas e indígenas –, a
questão sobre a agroenergia, com destaque para os biocombustíveis, as práticas da
agricultura orgânica/agroecológica, a agricultura familiar/camponesa e trabalhos
que abordam questões teórico-metodológicas, discutindo, sobretudo, o estudo do
campesinato, do marxismo e da política para a teoria do campesinato e sobre a
etnoconservação – organograma 3.
Organograma 3: Principais temáticas – Agrária
Organização: Janaina Francisca de Souza Campos
O grupo Logística, agricultura e uso do território brasileiro (Unicamp), desenvolve
seus estudos centrados na análise das redes e fluxos e na análise regional. Com relação
as redes e fluxos, são analisados os efeitos da modernização e da exportação agrícola no
território brasileiro considerando a região competitiva e a logística para explicar a
organização do território. Já no que concerne a análise regional, busca-se a compreensão
do uso corporativo do território brasileiro pelas empresas processadoras de suco de
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laranja, relacionado-se, deste modo, a análise do circuito espacial produtivo –
organograma 4.
Organograma 4: Principais temáticas – Logística, agricultura e uso do território brasileiro
Organização: Janaina Francisca de Souza Campos
No Centro de Estudos de Geografia do Trabalho (CEGeT), além da temática trabalho,
temas como a luta pela terra e pela água, os conflitos que mediam esse espaço de
disputa, sindicatos e movimentos sociais - urbanos e rurais -, as práticas da
agricultura mecanizada e os impactos na organização da produção família e o
agronegócio e as relações de trabalho circundam e entram em contato com a temática
principal - trabalho. Outra temática que recentemente foi englobada refere-se ao estudo
das comunidades amazônicas e suas relações de trabalho e a análise do discurso
jornalístico – organograma 5. Organograma 5: Principais temáticas – CEGeT
Organização: Janaina Francisca de Souza Campos
No Núcleo de Estudos Agrários (NEA), localizado na Unesp-Rio Claro, os temas
centram-se na abordagem teórico-metodológica da Geografia Agrária, no turismo
rural e na pluriatividade, nos impactos da modernização da agricultura e no
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avanço do setor canavieiro, na agricultura familiar e na multifuncionalidade, na
questão da migração e na relação campo-cidade/rural-urbano e nas dinâmicas dos
pequenos municípios e sua relação com aspectos da ruralidade – organograma 6.
Organograma 6: Principais temáticas – NEA
Organização: Janaina Francisca de Souza Campos
No Grupo de Estudos Dinâmica Regional e Agropecuária (GEDRA), as temáticas da
renda agrícola e não-agrícola, associativismo e cooperativismo rural, organização e
a formação de núcleos urbanos, com destaque para as relações campo/cidade e/ou
rural/urbano, a questão do envelhecimento no meio rural, as cadeias produtivas, a
interação da agricultura com a indústria, as relações de independência, as formas
de viabilidade e a adoção de inovações tecnológicas e a questão das políticas
públicas, são os temas mais prestigiados pelo grupo.
O grupo também trabalha de uma forma mais esparsa com temáticas referentes a
assentamentos rurais, agronegócio e modernização do campo. Ainda, já foram estudadas
temáticas que tangenciam a questão da descentralização, com a organização de
conselhos municipais, bem como questões que enfatizam a discussão no estudo do
desenvolvimento regional e o capital social – organograma 7.
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Organograma 7: Principais temáticas – GEDRA
Organização: Janaina Francisca de Souza Campos
No Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária (NERA), a equipe está
organizada sob os seguintes temas: luta pela terra - ocupações, assentamentos rurais,
estrutura fundiária e movimentos sociais -, impactos socioterritoriais – assentamentos,
agricultura camponesa, agronegócio e desenvolvimento territorial – e territórios do
saber - educação do campo, ensino de geografia, representação documental da luta pela
terra, pensamento geográfico e o debate paradigmático – organograma 8.
Organograma 8: Principais temáticas – NERA
Organização: Janaina Francisca de Souza Campos
Diante desse cenário, fica claro que o compartilhamento de determinadas temáticas dão
unidade aos grupos de pesquisa, atribuindo-lhes singularidade a suas pesquisas. Além
de verificar a unidade, a identificação da diversidade e diferencialidade dos grupos e dos
seus respectivos rols temáticos também foi possível, o que subsidia o processo de
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análise paradigmática da Geografia Agrária. As temáticas de pesquisa adotadas
designam recortes verticais do problema que será abordado e, “uma vez definido, o
tema é utilizado como “chave” de identificação de seleção de áreas de conhecimento
disponível em ciências sociais e outras disciplinas relevantes.” (THIOLLENT, 1992, p.
51).
É cauteloso ressaltar que a intenção não é apresentar os grupos de pesquisa
como entidades acadêmicas homogêneas. No interior de um grupo de pesquisa é
possível perceber, para um mesmo fenômeno, diferentes ângulos, favorecendo o
surgimento de uma maturidade teórica a partir da complexidade que o fenômeno retrata,
afastando-se de um provável reducionismo (VALENTIM, 2007). Todavia, cremos que
seja importante atualizar o pensamento geográfico e contribuir epistemologicamente,
atentando para as pressuposições temáticas que são compartilhadas pelos pesquisadores
e que interagem entre si (GRINNEL, 1992). Por mais que existam questões específicas
que, obviamente, distinguem os pesquisadores filiados a um mesmo grupo, existe a
presença de temática(s) que é amplamente compartilhada pelos integrantes dos grupos.
À respeito, Grinnel acrescenta:
Cada pesquisador tem uma particular bagagem de conhecimentos que é única, mas há alguns aspectos da bagagem de conhecimentos que são compartilhados com outros pesquisadores. Esse conhecimento compartilhado inclui pressuposições sobre vários aspectos da ciência incluindo abordagens metodológicas, observações, hipóteses aceitas, e problemas importantes que estão a requerer pesquisas posteriores. Estas pressuposições e crenças compartilhadas são o estilo de pensamento predominante do grupo, e elas incluem uma definição do que significa fazer pesquisa (GRINNEL, 1992, p. 57 e 58).
Considerações finais
Os grupos de pesquisa são concebidos como espaços importantes de difusão do
conhecimento, nos quais são construídas pesquisas que trazem distintas interpretações
sobre o espaço geográfico, imbuídas de ideologias e de posturas políticas e cujo
potencial pode repercutir no modelo de desenvolvimento rural brasileiro, naturalizando
práticas e ações. A identificação das temáticas de estudo dos grupos de pesquisa deve
ser entendida como parte desse processo, ou seja, as temáticas são capazes de revelar a
unidade paradigmática e, com isso, o amplo espectro de unidades que conforma a
diversidade e a diferencialidade que a Geografia Agrária contempla.
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Notas ___________ 1 Este trabalho faz parte das discussões que vem sendo realizadas junto ao projeto de doutorado intitulado “A produção do conhecimento da Geografia Agrária: o papel dos grupos de pesquisa no Estado de São Paulo”, financiado pela FAPESP. 1 Dentre os autores que realizaram estudos a respeito do pensamento geográfico, destacamos: ANDRADE (1987), CORRÊA (1982), GOMES (1996), MONTEIRO (1978), MORAES (1981), MOREIRA (1986; 2000), MACHADO (2005), VALVERDE (2007), FERREIRA (2002), SILVEIRA (2006) e ALVES (2010). 1 O trabalho realizado por Darlene Aparecida Ferreira intitulado O Mundo rural e geografia: geografia agrária no Brasil de 1930-1990 resgata os estudiosos que se concentraram em discutir a Geografia Agrária. Os trabalhos elaborados por BRAY (1987), CERON, GERARDI (1979), GUSMÃO (1978), GALVÃO (1989), OLIVEIRA (1994;1995;1999), FERNANDES (1998), RODRIGUES (2007) e SUZUKI (2007) também fazem parte deste grupo de estudiosos.
Referências
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