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ABNT - Metodologia Para a Elaboracao de Um Trabalho de Conclusao de Curso - Stein 2012
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Metodologia para a Elaboração de
um Trabalho de Conclusão de Curso
Cirineu Cecote Stein
Metodologia para a Elaboração de
um Trabalho de Conclusão de Curso
Cirineu Cecote Stein
Universidade Federal da Paraíba
João Pessoa, setembro de 2012
Sumário
1. Relação entre “Metodologia do Trabalho Científico” e “Pesquisa Aplicada ao Ensino do
Português” ............................................................................................................................. 5
2. Artigo científico vs. Relato de experiência .......................................................................... 10
2.1. Bases para a construção de um artigo científico ......................................................... 10
2.2. Bases para a construção de um relato de experiência ................................................ 14
2.3. Como escolher uma das duas modalidades ................................................................. 15
3. O plágio ................................................................................................................................ 17
3.1. A questão do direito autoral ........................................................................................ 17
3.2. Aspectos legais ............................................................................................................. 17
3.3. Por que é mais fácil fazer seu próprio trabalho do que plagiar ou pagar a alguém
para fazê-lo .................................................................................................................. 18
4. Recuperando aspectos da “Metodologia do Trabalho Científico” ...................................... 21
4.1. A organização das ideias .............................................................................................. 21
4.2. A seleção bibliográfica ................................................................................................. 25
4.3. A pesquisa de campo ................................................................................................... 26
4.4. A organização dos dados ............................................................................................. 27
4.5. A construção de um roteiro textual ............................................................................. 30
4.6. A citação ....................................................................................................................... 32
4.7. A referenciação bibliográfica ....................................................................................... 33
5. Recuperando aspectos da escritura .................................................................................... 35
5.1. A escritura do resumo .................................................................................................. 35
5.2. A escritura da introdução ............................................................................................ 38
5.3. A escritura do desenvolvimento .................................................................................. 39
5.4. A numeração das seções .............................................................................................. 40
5.5. A escritura de citações diretas e indiretas ................................................................... 41
5.6. O uso de siglas, ilustrações e tabelas ........................................................................... 46
5.7. A escritura da conclusão .............................................................................................. 47
5.8. A escritura das referências bibliográficas .................................................................... 48
5.9. Anexos que valem a pena utilizar ................................................................................ 60
6. Considerações finais ............................................................................................................ 62
6.1. O seu texto espelha você ............................................................................................. 62
6.2. O papel do orientador .................................................................................................. 63
6.3. Orientador não é revisor .............................................................................................. 63
6.4. O cumprimento dos prazos .......................................................................................... 64
Referências ................................................................................................................................... 65
1. Relação entre “Metodologia do Trabalho
Científico” e “Pesquisa Aplicada ao Ensino
do Português”
Os objetivos de uma licenciatura, à primeira vista, parecem conduzir o licenciado
especificamente para a sala de aula, como professor. Embora, na maioria das vezes, seja isso o
que ocorra, o campo de trabalho desse profissional é muito mais amplo, podendo ele atuar em
áreas de consultoria até a pesquisa pura. Caso, no entanto, a decisão se dê pela sala de aula, o
professor terá nela grandes oportunidades de desenvolver pesquisas que venham a contribuir
para o desenvolvimento da qualidade de ensino.
A já velha crítica que se faz à problemática do livro didático, segundo a qual o livro,
embora incompleto, acaba por direcionar totalmente a aula do professor, pode ser solucionada,
por exemplo, com a atuação do professor como pesquisador em sua própria sala de aula. A
partir de seu contexto diário, o professor poderá analisar as necessidades curriculares de seus
alunos, em sintonia com sua realidade social, e propor atividades que efetivem o aprendizado.
Naturalmente, os alunos não podem ser simples cobaias, expostos a métodos experimentais
inconsequentes que, ao final, poderão simplesmente prejudicar o aprendizado. Por essa razão, é
indispensável que o professor tenha formação específica para exercer sua atividade, tendo
consciência, portanto, de cada passo que for dado em todo o processo de ensino e
aprendizagem. Entender que, se algo for feito de forma errada durante uma série, aqueles
alunos poderão ficar prejudicados pelo resto de suas vidas é, talvez, o ponto nevrálgico do
planejamento do trabalho do professor.
Assumindo-se, então, que o professor, regente de seus alunos, compreende e domina de
forma satisfatória aquilo que se propõe fazer, ele poderá aliar os conhecimentos específicos da
Metodologia do Trabalho Científico à Pesquisa Aplicada ao Ensino, neste caso, do Português.
Isso, naturalmente, implica certa autonomia de pensamento por parte do profissional, e uma
disposição em buscar novos caminhos. É na vida profissional real que esses princípios adquiridos
durante o curso de graduação serão aplicados, sendo a elaboração de um Trabalho de Conclusão
de Curso (TCC) um exercício, pode-se assim dizer, preparatório para essa realidade. Embora, nos
momentos finais da graduação, essa elaboração seja condição indispensável para a
integralização curricular e, portanto, razão muitas vezes de grande nervosismo, pensar em suas
aplicações futuras pode trazer alguma serenidade a esse processo de escritura.
Nos momentos iniciais da graduação, o estudante entra em contato com o método do
trabalho científico. Uma disciplina que cuide desses aspectos é indispensável para que se tome
conhecimento de como a escritura dos trabalhos a serem produzidos para as outras disciplinas
Metodologia para a elaboração de um TCC
6 Cirineu Cecote Stein
deve ser conduzida, de como a própria pesquisa científica deve ser conduzida. Os textos que
apresentam as pesquisas desenvolvidas são, eles próprios, tipologias específicas dos gêneros
textuais, adequando-se a cada modalidade específica (artigo científico, resenha, fichamento
etc.). Cada gênero textual tem suas especificidades, que devem, naturalmente, ser respeitadas.
A liberdade de criação – inclusive e principalmente quanto à forma – pode ser exercida
especialmente no texto artístico, no texto literário, o que não é o caso do texto a ser produzido
em um TCC. Assim, um artigo científico deverá contar, necessariamente, com um título, seguido
do nome do autor ou autores, do resumo, das palavras-chave, da introdução etc. Caso as regras
para elaboração dessas partes textuais não sejam respeitadas, será constituído erro, e o trabalho
não poderá ser apreciado devidamente. Na vida profissional, isso poderá causar, por exemplo, a
recusa desse material para publicação em um periódico. Da mesma forma que o método é
fundamental, por exemplo, na construção de um edifício – e caso o método não seja apropriado
poderá ser gerado um imenso prejuízo, inclusive com a perda de vidas humanas –, ele também o
é em todas as demais áreas de conhecimento.
Não se deve perder de vista, no entanto, que a escritura e publicação (no sentido lato de
“tornar público”, “divulgar”) são apenas uma forma de tornar conhecido um trabalho que foi
desenvolvido. Trata-se apenas de um instrumento de divulgação. Por meio do texto produzido
para o TCC, portanto, em última análise, o público tomará conhecimento de uma pesquisa
desenvolvida ao longo do curso ou de uma experiência vivenciada. Em ambos os casos, a
expectativa é a de que os princípios da metodologia científica tenham sido aplicados à pesquisa
no ensino.
Um grande erro que muitas vezes se comete na sala de aula é imaginar que assumir uma
postura profissional ou aplicar certa atividade não terão impacto significativo na vida dos alunos.
Infelizmente, o pensamento “se não der certo, faz de outro jeito ou deixa pra lá” é mais
frequente do que o desejado, e a aprendizagem não se efetiva de forma satisfatória. Isso muitas
vezes ocorre devido à irresponsabilidade de alguns profissionais, e também pela falta de
planejamento do que será feito.
A experimentação em sala de aula, como já sugerido, pode render frutos muito
interessantes, que poderão mesmo modificar um paradigma pré-estabelecido. Caso o professor
deseje assumir uma postura científica em seu cotidiano, ele deverá aplicar os métodos do
trabalho científico à sua sala de aula, sem se esquecer de que é necessário haver a avaliação do
que foi feito, de forma a comprovar a qualidade dos resultados. Nesses casos, o que está em
avaliação é a própria atividade ou proposta de método de ensino, o que passará, naturalmente,
pela avaliação de desempenho dos alunos. Como em todo procedimento científico, o resultado
poderá ser positivo, negativo ou neutro. Mas, como se está lidando com pessoas de cuja
aprendizagem dependerá o próprio sucesso de suas vidas, a responsabilidade do professor-
pesquisador deverá ser ainda maior, de forma que sua proposta apresente preferencialmente
resultados positivos e, se não for o caso, que pelo menos os resultados obtidos não prejudiquem
esses alunos.
Relação entre “Metodologia do Trabalho Científico” e “Pesquisa Aplicada ao Ensino do Português”
Cirineu Cecote Stein 7
A transposição do método científico à pesquisa aplicada ao ensino prevê o planejamento
da proposta, sua aplicação e a avaliação dos resultados obtidos. A título de exemplificação,
imagine-se que um professor-cientista, insatisfeito com o resultado obtido por seus alunos do
sétimo ano do ensino fundamental na produção textual, mais especificamente na pontuação
gráfica, deseje encontrar uma forma de solucionar esse problema. Atendendo aos princípios do
método científico, ele cumprirá pelo menos as seguintes etapas:
a) estruturação da hipótese;
b) diagnóstico do problema;
c) objetivos;
d) metodologia;
e) elaboração de atividade(s);
f) aplicação da(s) atividade(s);
g) avaliação do resultado;
h) reelaboração da(s) atividade(s);
i) avaliação do resultado;
j) escritura de artigo científico ou relato de experiência para divulgação.
Ao estruturar sua hipótese, o professor-cientista considerará fatores de ordem técnica e
histórica. Como se trata de uma turma de sétimo ano, a deficiência em questão provavelmente
será devida ao insucesso do processo de ensino-aprendizagem nos anos anteriores, mais
especificamente na fase de alfabetização. Poderá ser o caso de considerar, também, uma
estrutura sociofamiliar precária, que não tenha motivado o bom desempenho escolar dos
alunos.
Embora o profissional já tenha detectado o problema na prática, é necessário que um
diagnóstico preciso ocorra, para que haja respaldo das ações a serem adotadas. Com essa
finalidade, poderá ser aplicada, por exemplo, uma atividade de escritura, desde a elaboração
livre de um texto completo ou apenas um parágrafo até o ditado de um parágrafo de forma
fluente. Uma vez que o problema é a deficiência na pontuação, e esta é reflexo da prosódia (ou
seja, a forma como a voz é entoada durante a fala espontânea ou a leitura), é necessário que o
parágrafo seja ditado pelo professor-cientista de forma fluente, refletindo as pausas
entoacionais representadas pelas vírgulas, pontos e demais sinais gráficos. Toda a produção
será, então, recolhida e avaliada, catalogando-se e mensurando-se os erros e acertos dos alunos.
Com esses dados, será possível identificar, por exemplo, se as dificuldades são pontuais (uso da
vírgula ou do ponto de interrogação) ou amplas (todos os sinais de pontuação). Esse diagnóstico
permitirá o planejamento das atividades a serem propostas e servirá, também, como parâmetro
avaliativo, permitindo ao professor-cientista comparar os resultados obtidos após a aplicação
das atividades com o resultado anterior a elas.
Diagnosticado o problema, é preciso estabelecer quais os objetivos do trabalho a ser
desenvolvido: resolver, por exemplo, todos os problemas de pontuação ou apenas um deles,
Metodologia para a elaboração de um TCC
8 Cirineu Cecote Stein
como o emprego da vírgula. Estabelecer os objetivos de um trabalho é indispensável para que se
tenha sempre em mente o que deverá ser feito. É muito comum que, no entusiasmo do
desenvolvimento da pesquisa, se deseje expandir a problematização ou o corpus. Nessas horas,
é indispensável ser o mais pragmático possível: o tempo será suficiente para essas expansões?
Provavelmente, não. Fazer algo pontual e concluir o trabalho, passando-se para o
desenvolvimento das “expansões” em um momento posterior é mais apropriado do que iniciar
um trabalho com múltiplas vertentes e não concluí-lo.
O planejamento da metodologia a ser utilizada no desenvolvimento do trabalho poupará
esforço físico e mental, e minimizará as possibilidades de erro. O professor-cientista adquiriu,
durante sua formação, todo um conjunto de informações teóricas (muitas das quais ele se
perguntou insistentemente se utilizaria de fato em sua vida profissional) que deverá ser utilizado
nesse momento. O problema existe. Para resolvê-lo, é preciso percorrer que etapas? Que tipo
de atividades será utilizado? Como as atividades serão aplicadas, e com que frequência? Qual a
duração das atividades? Qual o nível de complexidade das atividades? Haverá um grupo de
controle? Em se tratando de um ditado, qual o melhor gênero textual a ser utilizado? O processo
de coordenação sintática permite maior dinamismo no ritmo textual, enquanto a subordinação
o torna mais lento. No caso específico dessas atividades, qual processo sintático deverá
predominar no texto? As marcas morfológicas de segunda pessoa do discurso deverão
prevalecer ou não? Nessas atividades, o vocabulário empregado deverá ser o já conhecido pelos
alunos ou deverão ser utilizadas palavras novas, permitindo que haja o seu enriquecimento
vocabular? Essas perguntas e outras enriquecerão a proposta metodológica, que deverá ser
explicitada em uma sequência lógica e cronológica, ou seja, um aspecto metodológico conduz a
outro, o que permitirá o entendimento da totalidade do trabalho.
A elaboração das atividades a serem aplicadas deverá considerar o objetivo final da
proposta. Caso se trate de três atividades, por exemplo, é de esperar que a primeira tenha um
nível de dificuldade inferior ao da segunda que, por sua vez, terá um nível inferior ao da terceira.
É muito importante que o professor-cientista mapeie o que será enfocado nessas atividades, de
forma a permitir a mensuração dos resultados obtidos. Por exemplo, deverão ser utilizadas
vírgulas em tais e tais posições, o mesmo ocorrendo para os pontos e demais sinais. Isso
permitirá uma avaliação objetiva, quantificando-se com exatidão os erros e os acertos.
Ao aplicar as atividades, será necessário criar condições adequadas para isso. Os alunos
serão dispostos na sala de aula da forma julgada mais adequada pelo professor-cientista, será
estipulado um tempo específico para a realização da atividade, o professor-cientista se
posicionará (no caso de um ditado) de forma tal que todos os alunos consigam ouvir sua voz
com clareza, entre outras possíveis especificidades.
Realizadas as atividades, o material será recolhido e o resultado será analisado. Uma vez
que as atividades tenham sido sistematicamente planejadas, será possível identificar com
exatidão os pontos críticos e catalogá-los em uma planilha. Esse mapeamento permitirá a
Relação entre “Metodologia do Trabalho Científico” e “Pesquisa Aplicada ao Ensino do Português”
Cirineu Cecote Stein 9
visualização dos dados, e será com base nessa análise que o professor-cientista poderá
acompanhar a evolução ou não de seus alunos durante todo o processo. Talvez seja necessário
reelaborar alguma das atividades, para que sua eficácia seja maior.
O desejável, naturalmente, é que as atividades aplicadas produzam um resultado
positivo: nesse caso específico, que os alunos consigam utilizar a pontuação de forma
apropriada, o que não ocorria quando da época do diagnóstico do problema. Ocorrendo isso, a
metodologia terá se mostrado satisfatória e poderá ser aproveitada por outros profissionais da
área. Não se deve perder de vista, também, que alguns resultados negativos são muito
interessantes, uma vez que podem demonstrar que o que se imaginava como senso comum não
se aplica à realidade.
O encaminhamento natural desse processo é o professor-cientista divulgar o resultado
de seu trabalho, por meio de um artigo científico ou de relato de experiência. Para isso, será
necessário sistematizar essas informações de forma textual. Uma vez que a pesquisa tenha sido
planejada e desenvolvida de forma lógica e coerente, a escritura será relativamente simples,
uma vez que ela será o reflexo do que foi desenvolvido, inclusive praticamente na mesma
sequência.
2. Artigo científico vs. Relato de experiência
2.1. Bases para a construção de um artigo científico
O primeiro ponto a considerar quando se deseja produzir um artigo científico, embora
óbvio, é a existência de conteúdo sobre o qual escrever. Não é incomum que muitas pessoas, no
afã ou pela necessidade de publicar, criem uma proposta de artigo a partir do nada. Ou, o que
ocorre com relativa frequência, constroem novos trabalhos a partir de outros já publicados. Esta
última possibilidade, se feita de forma conscienciosa, pode gerar o que se conhece como “artigo
de revisão”, que, segundo a ABNT NBR 6022, é caracterizado como “parte de uma publicação
que resume, analisa e discute informações já publicadas”. Nesse tipo de trabalho, o autor pode
estar interessado, por exemplo, em analisar algum ou alguns aspectos levantados por outro(s)
autor(es), o que, mais uma vez se diga, se for feito de forma conscienciosa, pode promover
discussões bastante interessantes sobre o tema em questão.
A produção de um artigo original (definido pela ABNT NBR 6022 como sendo a “parte de
uma publicação que apresenta temas ou abordagens originais”), no entanto, é provavelmente a
que causa maior inspiração em um autor. Afinal, esse autor estará apresentando ao público o
seu trabalho, a sua contribuição “original” ao desenvolvimento científico. Não se deve perder de
vista, no entanto, que a construção do pensamento se faz a partir do que outros já pensaram,
dificilmente (ou nunca) se criando algo a partir do nada. Esse constructo anterior embasará a
abordagem teórica a ser utilizada nesse artigo original.
Como a construção de um artigo científico deve necessariamente obedecer a um
conjunto de normas – a ABNT NBR 6022 encabeçando todas elas –, é interessante partir de sua
definição técnica: “Parte de uma publicação com autoria declarada, que apresenta e discute
idéias1, métodos, técnicas, processos e resultados nas diversas áreas do conhecimento”.
Observe-se, portanto, que é preciso haver um elemento motivador para a escritura de um
artigo, uma temática que se desenvolverá de forma estruturada.
Tecnicamente, o artigo científico tem sua estrutura caracterizada em três blocos
principais: elementos pré-textuais, textuais e pós-textuais. Entendem-se como pré-textuais
todos aqueles elementos anteriores à exposição do trabalho propriamente dito, iniciada pela
introdução. Esses elementos devem, necessariamente, obedecer a uma sequência.
O título do artigo será o primeiro elemento pré-textual. Ocasionalmente, pode haver um
subtítulo. Embora muitos desprezem este fato, a escolha de um bom título é fundamental para a
projeção do trabalho entre os pesquisadores. O título é a primeira informação que qualquer
pesquisador tem sobre o que possivelmente lerá. Durante a pesquisa bibliográfica, por exemplo,
1 Como se trata de uma citação feita a partir de um texto cuja ortografia não foi ainda atualizada, o acento
nessa palavra é mantido como no original. O mesmo ocorrerá nas demais citações diretas.
Artigo científico vs. Relato de experiência
Cirineu Cecote Stein 11
serão lidos inicialmente apenas os títulos dos trabalhos: se algum desses títulos apresentar
informação que interesse à temática do pesquisador que realiza essa pesquisa bibliográfica,
então provavelmente ele partirá para a leitura do resumo, para se certificar da pertinência do
trabalho em relação à sua temática. Ou seja, quanto mais elucidativo for o título de um trabalho,
maior poderá ser o interesse de outros pesquisadores sobre ele.
Escolher um título, no entanto, não é uma tarefa simples. Machado de Assis, no capítulo
primeiro de seu Dom Casmurro, ao explicar o título do livro, coloca as seguintes palavras na boca
de seu protagonista:
Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no sentido que eles lhe
dão, mas no que lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom
veio por ironia, para atribuir-me fumos de fidalgo. Tudo por estar cochilando!
Também não achei melhor título para a minha narração; se não tiver outro
daqui até ao fim do livro, vai este mesmo. O meu poeta do trem ficará
sabendo que não lhe guardo rancor. E com pequeno esforço, sendo o título
seu, poderá cuidar que a obra é sua. Há livros que apenas terão isso dos seus
autores; alguns nem tanto.
Evidentemente, trata-se, aí, de uma ironia em relação aos pretensos autores que apenas se
aproveitam da ideia dos outros para construírem sua obra. Mas evidencia-se, também, a
possibilidade de o título originalmente imaginado para um trabalho vir a ser modificado, caso
surja um mais adequado. Em princípio, quanto maior for a capacidade de síntese do conteúdo
do trabalho no título, melhor este será. É preciso, no entanto, cuidar para que o título não se
torne um verdadeiro parágrafo, devido à sua grande extensão. A escolha do título, portanto,
também exige um considerável exercício de escritura.
Após o título, deverá (deverão) aparecer o(s) nome(s) do(s) autor(es). A ABNT NBR 6022
indica que esse(s) nome(s) deverá (deverão) ser acompanhado(s) de um “breve currículo que
o(s) qualifique na área de conhecimento do artigo”. Essas informações deverão ser mencionadas
em nota de rodapé, indicada por asterisco após o nome a que elas fazem referência. Há a
possibilidade, também, de essas informações serem mencionadas pós-textualmente. Indica-se,
ainda, a menção aos endereços postal e eletrônico acompanhando esse breve currículo.
A parte subsequente é um resumo na língua do próprio texto. O resumo, cuja
elaboração será discutida mais detalhadamente em outro capítulo, é definido tecnicamente
como a “apresentação concisa dos pontos relevantes de um documento”. A ABNT NBR 6022
especifica que o resumo é um
Elemento obrigatório, constituído de uma seqüência de frases concisas e
objetivas e não de uma simples enumeração de tópicos, não ultrapassando
250 palavras, seguido, logo abaixo, das palavras representativas do conteúdo
do trabalho, isto é, palavras-chave e/ou descritores, conforme a NBR 6028.
Metodologia para a elaboração de um TCC
12 Cirineu Cecote Stein
Observe-se que o resumo é, em si mesmo, um texto, e não “uma simples enumeração
de tópicos”. Embora, como já indicado, a discussão de sua elaboração seja feita posteriormente,
já é possível sinalizar que a leitura do resumo deve conferir a impressão da leitura de um texto
independente, com início, meio e fim, autônomo em si mesmo, e cujo conteúdo sintetizará todo
o trabalho desenvolvido.
As palavras-chave serão apresentadas após o resumo, também na língua em que o texto
foi escrito, “antecedidas da expressão Palavras-chave:, separadas entre si por ponto e finalizadas
também por ponto”. Observe-se o uso dos dois-pontos após “Palavras-chave”. As palavras-chave
representam o conteúdo veiculado naquele artigo científico.
Considerando-se as partes textuais propriamente ditas, a introdução, considerada
efetivamente a parte inicial do artigo, deve delimitar o tópico a ser desenvolvido, assim como os
objetivos que encabeçaram a pesquisa, sua metodologia e quaisquer outras informações
necessárias para que o leitor se situe em relação à temática proposta. A introdução é, também
ela, um texto autônomo, independente, que deverá apresentar um início, um meio e um fim.
Sempre é interessante perceber a introdução como a parte que apresenta o trabalho ao leitor.
Mas isso já não foi feito no resumo? Sim, mas o resumo é uma parte pré-textual que tem função
diferente da introdução (e do desenvolvimento e da conclusão). A possibilidade de o resumo ser
lido de forma independente da leitura de todo o trabalho permite, por exemplo, que se
publiquem, nos eventos científicos, apenas o resumo (ou sua versão expandida), e que os
periódicos que vendem seus textos o disponibilizem gratuitamente. O corpo textual do artigo,
propriamente dito, inicia-se com a introdução.
A experiência normalmente indica que a introdução deva ser escrita ao final de todo o
trabalho. Isso porque o planejamento inicial do que será o resultado textual final pode sofrer
modificações, o que obrigaria a uma reescritura da introdução. Deixá-la para o final, portanto, é
o mais prudente. Algumas pessoas, no entanto, preferem redigi-la logo no início, muito
provavelmente pelo desejo de verem algo escrito. Assim, já seriam algumas páginas
completadas. Satisfaz-se, normalmente, a uma angústia pessoal, mas dificilmente essa parte do
texto não terá que ser reescrita.
Após a introdução, será feito o desenvolvimento do trabalho, que é, na verdade, a parte
central do artigo. Como também indica a NBR 6022, da ABNT, essa parte “contém a exposição
ordenada e pormenorizada do assunto tratado”. Em outro capítulo, sua elaboração será
discutida em seus pormenores.
A conclusão é a parte final do artigo. Uma vez que o objetivo da pesquisa foi gerar um
resultado, é nessa parte textual que esses resultados poderão ser discutidos (essa discussão
pode ocorrer, também, no desenvolvimento do artigo). Como são definidos objetivos e
levantadas hipóteses no início do trabalho, esta parte textual é o espaço em que são
apresentadas as conclusões obtidas acerca dos objetivos e das hipóteses, que foram
confirmadas ou refutadas. A conclusão, também, caracteriza-se como um texto autônomo,
Artigo científico vs. Relato de experiência
Cirineu Cecote Stein 13
independente, devendo, portanto, apresentar início, meio e fim, permitindo ao leitor
contextualizar-se em relação ao todo do trabalho. Naturalmente, espera-se que essa
contextualização não seja uma mera repetição do que já tenha sido dito ao longo do trabalho, e
que o leitor, efetivamente, tenha lido todo o artigo.
Dependendo do periódico a que o artigo seja submetido, é possível que os editores
exijam que tanto o título quanto o resumo e as palavras-chave sejam apresentados também em
uma língua estrangeira, muito comumente o inglês, logo após seus equivalentes em português.
A apresentação desses elementos textuais em inglês (língua considerada franca no meio
acadêmico internacional) permite que pesquisadores de outras nacionalidades tomem ciência
do conteúdo veiculado naquele trabalho e, se for o caso, busquem traduzi-lo para o seu próprio
idioma. A NBR 6022, da ABNT, no entanto, caracteriza esses elementos em língua estrangeira
como elementos pós-textuais, classificando tanto o resumo quanto as palavras-chave como
elementos obrigatórios. O idioma a ser utilização é um “de divulgação internacional, com as
mesmas características (em inglês Abstract, em espanhol Palabras clave, em francês Mots-clés,
por exemplo)”.
Ainda nas partes pós-textuais, é possível a apresentação de nota(s) explicativa(s), que
são usadas “para comentários, esclarecimentos ou explanações, que não possam ser incluídos
no texto” (ABNT NBR 6022). É a posição a ser ocupada, por exemplo, pelas notas de rodapé.
Muitas vezes, ao longo da escritura do texto, é possível diluir essas notas como comentários
parentéticos. No entanto, algumas vezes, o autor sente a necessidade de não incluí-las no corpo
do texto, uma vez que poderiam interromper o fluxo de pensamento de forma prejudicial ao
desenvolvimento do raciocínio. Utiliza-se, então, esse recurso.
As referências, elemento obrigatório na constituição do artigo, indicam as obras que
foram consultadas para a elaboração de todo o trabalho escrito. Mais do que simplesmente
constituírem o elenco de autores consultados, as referências permitem ao leitor, ele próprio,
consultar essas fontes, quer para aprofundar a temática ou subtemática específica, quer para
dirimir dúvidas acerca da informação prestada pelo autor do artigo. Não é incomum artigos
veicularem informações pertinentes a determinadas obras de forma incompleta ou incorreta. O
rigor científico do leitor poderá demandar, por exemplo, a verificação dessas informações em
sua fonte. A ABNT produziu a NBR 6023, que normatiza a referenciação bibliográfica. Em um
capítulo posterior, seus principais pontos serão discutidos. Como se observa no meio acadêmico,
a riqueza de detalhes muitas vezes faz alguns autores se desesperarem durante a compilação e
escritura de suas referências. No entanto, o trabalho poderá ser suavizado se for assumida uma
metodologia de trabalho racional e progressiva.
Após as referências bibliográficas, é possível a utilização de glossário e apêndice(s). O
glossário, como define a NBR 6022, da ABNT, é uma “lista em ordem alfabética de palavras ou
expressões técnicas de uso restrito ou de sentido obscuro, utilizadas no texto, acompanhadas
das respectivas definições”. A opção por um glossário será feita caso o trabalho apresente, de
Metodologia para a elaboração de um TCC
14 Cirineu Cecote Stein
fato, palavras cujo sentido não seja do domínio acadêmico regular, ou necessitem de clareza
quanto ao seu sentido.
Um apêndice, por sua vez, é um “texto ou documento elaborado pelo autor, a fim de
complementar sua argumentação, sem prejuízo da unidade nuclear do trabalho.” Caso sejam
utilizados apêndices, eles serão “identificados por letras maiúsculas consecutivas, travessão e
pelos respectivos títulos”.
Finalmente, os anexos, que também são opcionais, são definidos como um “texto ou
documento não elaborado pelo autor, que serve de fundamentação, comprovação e ilustração”.
Caso sejam utilizados, os anexos deverão ser “identificados por letras maiúsculas consecutivas,
travessão e pelos respectivos títulos. Excepcionalmente utilizam-se letras maiúsculas dobradas,
na identificação dos anexos, quando esgotadas as 23 letras do alfabeto”. Em um capítulo
posterior, será levantada a discussão sobre que tipo de anexo vale a pena utilizar no trabalho.
A numeração de seções, a escritura de citações, o uso de siglas, de ilustrações e de
tabelas serão abordados também posteriormente.
2.2. Bases para a construção de um relato de experiência
A NBR 6022, da ABNT, ao caracterizar o artigo, apresenta a seguinte redação: “O artigo
pode ser: a) original (relatos de experiência de pesquisa, estudo de caso etc.); b) de revisão”.
O que se entende por “relato de experiência”, portanto, é um subtipo de artigo original.
Como essa NBR 6022 caracteriza o artigo em publicação periódica científica impressa, e indica os
relatos de experiência de pesquisa como uma subtipologia do subitem “original”, deduz-se que a
forma de escritura de um relato de experiência seja a mesma preconizada para o artigo que está
sendo considerado “científico”, e que foi caracterizado anteriormente.
A noção de “relato de experiência” é divulgada nas mídias de forma muito ampla e
assume, nesses casos, a noção dos “depoimentos pessoais”. Ao dizer algo como “participei de tal
situação, fiz isso e ocorreu aquilo”, está-se simplesmente relatando uma experiência pessoal em
algum aspecto da vida cotidiana. Não há relação alguma, portanto, com o rigor do método
necessário à escritura desse tipo de artigo original.
Como a Resolução CVL nº 01/2011 especifica a possibilidade de um “relato de
experiência docente”, entende-se que o relato a ser construído deve estar relacionado a uma
experiência didática. Segundo as orientações estabelecidas em Nóbrega (2011), ele deverá ser
pautado no que foi produzido durante o Estágio Supervisionado. Considerando-se as indicações
sugeridas nesse documento, a ABNT NBR 6022 deverá ser rigorosamente seguida, sendo que a
parte textual poderá contar com o conteúdo a seguir (algumas sugestões são de
responsabilidade do autor deste texto).
Artigo científico vs. Relato de experiência
Cirineu Cecote Stein 15
• Na introdução: o autor poderá apresentar sua experiência durante o Estágio
Supervisionado, contextualizando o tema, apresentando uma justificativa para o
desenvolvimento daquela experiência, assim como apresentando o(s) objetivo(s);
• No desenvolvimento: poderá ser construída uma primeira parte, em que serão
apresentados os pressupostos teóricos, com a “apresentação de conceitos, autores e
obras a partir dos quais a experiência-procedimento adotado em sala de aula será
discutido e avaliado”.
Uma segunda parte seria dedicada à caracterização metodológica, em que seriam
descritos, por exemplo, o local, o período, os sujeitos participantes e/ou o corpus
gerado/utilizado, as etapas e/ou procedimentos envolvidos no processo, assim como
os materiais utilizados, como se configurou o processo de avaliação dessa
intervenção.
Seria interessante que, após a caracterização metodológica, fossem analisados os
dados gerados e/ou os resultados obtidos.
• Na conclusão: nessa parte os resultados obtidos poderão ser avaliados, e o autor
poderá apresentar suas considerações pessoais/profissionais sobre a experiência
vivenciada.
2.3. Como escolher uma das duas modalidades
Como se pode perceber, um artigo científico ou um (artigo de) relato de experiência
apresentam, basicamente, o mesmo nível de complexidade. Em ambos os casos, é necessário
estabelecer uma pesquisa bibliográfica (para consolidar o aporte teórico), estabelecer
procedimentos metodológicos, analisar um objeto de estudo, estabelecer conclusões. Além,
claro, de seguir as especificidades técnicas.
Conhecidas as características desses dois gêneros textuais, e considerando-se a limitação
de tempo para a sua elaboração, é preciso assumir uma postura bastante pragmática ao optar
por desenvolver uma ou outra tipologia como Trabalho de Conclusão de Curso. Embora cada um
tenha propensões pessoais para um ou outro tipo de construção, talvez seja mais interessante
aproveitar aquilo com que se está mais familiarizado. Se, por exemplo, durante o Estágio
Supervisionado desenvolveu-se uma experiência realmente interessante, instigante, que
produziu bons resultados, talvez seja mais apropriado aproveitar essa experiência e apresentá-la
ao público em um TCC. Mas, se não for o caso, pode-se escolher uma temática que seja de
grande interesse pessoal e analisá-la em um artigo de pesquisa, quer por meio da criação de um
corpus específico, quer por meio do aproveitamento de um já existente.
De uma forma ou de outra, é preciso haver planejamento, organização e disciplina na
execução de cada etapa. O planejamento inclui analisar o tempo disponível para, por exemplo, a
criação de um corpus específico, e estabelecer um cronograma de atividades de
pesquisa/escritura. Estabelecer que em tantos dias tal etapa deverá estar cumprida – e cumpri-
Metodologia para a elaboração de um TCC
16 Cirineu Cecote Stein
la efetivamente. Isso dependerá, naturalmente, de uma organização pessoal, estabelecendo
horários, local de trabalho, prevendo-se, inclusive, possíveis falhas e soluções para contorná-las.
Ao se agendar uma entrevista, o entrevistado pode desistir de sua participação; logo, é
interessante haver outro possível entrevistado. É preciso estabelecer estratégias. Assumindo-se
uma disciplina pessoal, desculpas como “não deu tempo” não serão necessárias.
Vale ainda considerar que, embora muitos vejam um TCC como um mero aspecto
burocrático a ser cumprido, vários desses trabalhos podem trazer contribuição efetiva para o
desenvolvimento científico. Ambas as modalidades podem, se bem produzidas, ser publicadas
em periódicos especializados. E um ponto especialmente interessante: em um país de
dimensões geográficas tão extensas como o Brasil, e cujas regiões interioranas são ainda tão
pouco conhecidas, física e sociologicamente falando, trabalhos que apresentem essas realidades
e possíveis intervenções sobre elas são sempre muito bem-vindos.
3. O plágio
3.1. A questão do direito autoral
A criação, qualquer que seja ela, deve ser atribuída a seu criador. Em todos os aspectos
possíveis, qualquer coisa que se crie traz consigo responsabilidades, méritos e mesmo
deméritos. O trabalho despendido quase sempre é bastante significativo, o que, por si só, já
seria razão de algum reconhecimento.
De uma forma mais específica, a produção de uma obra escrita ou audiovisual demanda
um grande esforço intelectual. Independentemente de o conhecimento veiculado nessas peças
ser inovador ou não, seu autor tem tanto a responsabilidade sobre o que está sendo exposto
quanto o mérito de fazê-lo. O mínimo que se espera é que, ao ser utilizado esse conhecimento,
de qualquer forma que seja, reconheça-se esse mérito, informando-se ao público sua origem, ou
seja, mencionando-se quem produziu esse conhecimento – seu autor. Observe-se que, na
maioria das vezes2, o autor de um texto cujo conteúdo contribui para o embasamento de outros
trabalhos não obtém remuneração pecuniária alguma e, ainda que a recebesse, o mínimo que se
pode fazer é deixar claro que as ideias utilizadas nesses outros trabalhos foram produzidas por
ele.
Considerando-se esses aspectos, entende-se que todo autor possui direito autoral sobre
sua obra, e esse direito foi regulamentado em forma de lei, como apresentado a seguir.
3.2. Aspectos legais
Em 19 de fevereiro de 1998 foi publicada a Lei n. 9.610, pela Presidência da República
Federativa do Brasil, que regula os direitos autorais. Como se trata de uma lei, quem a infringir
estará cometendo um crime e, portanto, será considerado um criminoso, caso seu crime seja
comprovado. Essa lei trata dos direitos autorais relativos a vários tipos de obras, desde as
literárias, passando pelas de desenho, até os programas de computador, uma vez que “são obras
intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em
qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro” (Art. 7º). Para
os fins específicos deste trabalho, o interesse principal está sobre “os textos de obras literárias,
artísticas ou científicas”, sem desconsiderar, naturalmente, todas as outras que possam
eventualmente vir a ser utilizadas na elaboração de um TCC, como fotografias e composições
musicais.
2 As exceções seriam, por exemplo, aquelas em que o autor recebe direitos autorais pela venda de sua
obra.
Metodologia para a elaboração de um TCC
18 Cirineu Cecote Stein
É interessante observar que o autor de uma obra não precisa registrá-la oficialmente
para que lhe sejam reconhecidos os direitos autorais. Segundo o artigo 19, esse registro é
facultado ao autor. Não é legalmente possível, portanto, que alguém se aproprie de uma obra,
qualquer que seja ela, como se fosse seu autor, apenas pelo fato de seu verdadeiro autor não a
ter registrado oficialmente.
Na elaboração de um trabalho científico, uma vez que (praticamente) nunca uma ideia
se constrói a partir do nada, são utilizados referenciais teóricos, veiculados, normalmente, por
meio escrito (publicados em livros e artigos, por exemplo). Seus autores, segundo a Lei 9.610,
em seu Capítulo II, possuem direitos morais, um dos quais é “II – o de ter seu nome, pseudônimo
ou sinal convencional indicado ou anunciado, como sendo o do autor, na utilização de sua obra”.
Embora o autor de uma obra tenha direitos pecuniários sobre ela, existem algumas
limitações a esse direito, especificadas no Capítulo IV da Lei 9.610. Em seu artigo 46, a lei
estipula o seguinte:
Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais:
III – a citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de
comunicação, de passagens de qualquer obra, para fins de estudo, crítica ou
polêmica, na medida justificada para o fim a atingir, indicando-se o nome do
autor e a origem da obra
Observe-se que, para não desrespeitar a lei, basta simplesmente indicar a origem da
informação utilizada durante a elaboração do texto. E, caso não se deseje fazer uma citação
literal de algum trecho de outro autor, é ainda possível parafraseá-lo, uma vez que essa prática é
prevista nessa mesma Lei 9.610: “Art. 47. São livres as paráfrases e paródias que não forem
verdadeiras reproduções da obra originária nem lhe implicarem descrédito”.
O adjetivo “livres”, nesse artigo, não implica, no entanto, que as paráfrases possam ser
feitas sem que se faça referência ao autor do texto parafraseado. “Livres”, nesse caso, significa
“podem ser feitas”. Naturalmente, deve-se, no corpo do texto que está sendo produzido, indicar
a obra que está sendo parafraseada e seu autor, assim como inserir essa informação nas
referências bibliográficas, segundo as prescrições técnicas.
3.3. Por que é mais fácil fazer seu próprio trabalho do que plagiar ou
pagar a alguém para fazê-lo
Plagiar, como indicado no Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa, é
“apresentar como da própria autoria (obra artística, científica etc. que pertence a outrem)”. E,
como estipulado na Lei 9.610, sua prática constitui infração aos direitos autorais, sendo,
portanto, crime, e seu praticante, um criminoso. Infelizmente, muitas pessoas desenvolvem essa
prática, alegando, na maior parte das vezes, desconhecimento do fato, impossibilidade de
acesso aos meios de informação, restrição de tempo etc. Nenhuma justificativa é aceitável,
O plágio
Cirineu Cecote Stein 19
assim como não é possível acreditar que uma pessoa concluinte de um curso de graduação não
tenha conhecimento do que é certo e do que é errado nesse aspecto.
Em um próximo capítulo, será recapitulada a forma de escritura das várias partes
textuais, inclusive das citações e formas de parafrasear um texto. De antemão, é possível dizer
que respeitar os direitos autorais é algo extremamente – reforce-se: extremamente – simples,
bastando, para isso, indicar a obra e o autor das citações que estão sendo utilizadas ou dos
trechos parafraseados. Para qualquer informação que se colha, qualquer trecho que se utilize,
seja de um livro, seja de um artigo científico disponível na internet, seja do próprio conteúdo de
uma simples página da internet, deve ser feita alusão a essa fonte. Não custa nada e, com essa
simples atitude, respeita-se a lei e as ideias alheias.
No início da vida acadêmica, ainda é comum não se ter autonomia suficiente para
produzir um texto cujas ideias sejam mais autorais (ou seja, da pessoa que está escrevendo esse
texto) do que aproveitadas de outros. Portanto, é muito comum que grande parte do texto de
um TCC, por exemplo, especialmente no tocante à discussão teórica, seja mais um compilado de
ideias, de teorias já desenvolvidas. Isso não é demérito para um trabalho, contanto que a forma
de escritura seja apropriada.
Imagine-se que, para estabelecer essa “revisão bibliográfica” em um TCC, tenham sido
selecionados textos de artigos e de páginas da internet especializadas no assunto (há, por
exemplo, páginas de entidades ou de profissionais reconhecidos nas diversas áreas que utilizam
esse tipo de mídia para veicular suas ideias). Qualquer parte desse conteúdo poderá ser
utilizada, desde que seja feita menção às suas fontes.
Há duas situações muito comuns e completamente erradas (e criminosas, de acordo
com a Lei 9.610, que protege os direitos autorais):
a) abrem-se algumas páginas da internet, copiam-se vários trechos que são “colados”
num editor de texto, sem modificação alguma e sem fazer referência às fontes;
b) copiam-se vários trechos de páginas da internet, fazendo-lhes algumas modificações
(provavelmente imaginando-se que o leitor não conseguirá identificar a origem
desses textos porque a sequência original das palavras foi alterada, e o Google não
identificaria o texto exato), sem fazer referência às fontes.
Entenda-se: ao se colocar um texto ou parte dele em outro trabalho, sem fazer alusão às
suas fontes, está-se plagiando um autor, está-se cometendo um crime.
Não é difícil perceber que assumir a responsabilidade da produção de um TCC torna-se
mais fácil e menos problemático do que tentar plagiar. Devemos partir do pressuposto de que o
concluinte de um curso de graduação tem noção do que deseja desenvolver em seu trabalho, e
domina as técnicas necessárias para fazê-lo. Na prática, delimitar um tema, organizar as ideias,
colher uma bibliografia básica, fazer algum experimento (se for o caso) e redigir um texto final é
muito menos dispendioso do que tentar montar um quebra-cabeça cujas peças são fragmentos
Metodologia para a elaboração de um TCC
20 Cirineu Cecote Stein
de textos de outros autores. E, diga-se, é honesto. Nunca é demais lembrar que a corrupção, a
contravenção não devem ser percebidas apenas nos que detêm o poder: elas são verificadas
também nas pessoas ditas “comuns”. Por uma questão de princípios, cabe a cada um,
individualmente, negar as práticas que não são honestas.
Pagar a alguém (empresa ou pessoa física) para desenvolver um Trabalho de Conclusão
de Curso também é desonestidade.
4. Recuperando aspectos da “Metodologia do
Trabalho Científico”
Um dos grandes desafios para quem se propõe escrever um texto é dar início a ele.
Naturalmente, da mesma forma que não se pode ensinar o que não se sabe, torna-se
complicado, senão impossível, escrever quando não há o que escrever. Partindo-se, no entanto,
do princípio de que há o que escrever, ainda assim a folha em branco (seja ela papel ou a tela de
um computador) costuma mostrar-se desafiadora.
Uma das melhores formas de produzir um texto parece ser a sugerida pelo rei do livro
Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll, ao Coelho Branco, quando indagado por onde
deveria começar a leitura de uma certa carta. “’Comece pelo começo’, disse o Rei, de forma
muito grave, ‘e prossiga até chegar ao fim: então pare’” (CAROLL, 1993, p. 81, tradução nossa).
Simples e objetivamente. Para escrever, basta que se inicie a escritura. Se não se sabe
exatamente como, escreva-se qualquer coisa e continue-se a escritura. Depois basta, durante a
revisão/reescritura, desfazer o início ruim e propor outro melhor, mais apropriado. Já haverá
texto escrito, e a página em branco terá deixado de existir.
A escritura de um texto técnico, científico, desde que, como dito, haja o que escrever, é
muito mais fácil do que a de um texto artístico, literário, que depende de criatividade,
inspiração. O texto científico, basicamente, necessita de conteúdo e forma – uma simples forma.
A disposição do conteúdo é organizacional.
4.1. A organização das ideias
Alguns ensinamentos e metáforas, apesar de conhecidos, são repassados aos outros (aos
alunos, por exemplo) sem serem seguidos por quem os repassa. Não é difícil imaginar que,
quando professores, muitos ora concluintes de um curso de graduação, digam aos seus alunos
que devem organizar suas ideias, seu pensamento, antes de começarem qualquer trabalho. E
utilizem metáforas como, por exemplo, a de a construção de um texto ser semelhante à
construção de um edifício: é preciso planejar sua forma, prever a melhor disposição dos espaços,
calcular sua estrutura, para, só então, dar início à obra. Caso o planejamento arquitetônico e o
cálculo da estrutura não sejam bem feitos, haverá o risco de ter que destruir o já feito e
recomeçar do zero.
Mesmo que não haja prejuízo material significativo quando um texto tem que ser refeito
por falta de planejamento, gasta-se tempo, disposição, paciência. Se o tempo é escasso, cada
reescritura tem o potencial de deixar o autor extremamente nervoso, desesperado, sem saber o
Metodologia para a elaboração de um TCC
22 Cirineu Cecote Stein
que fazer. Objetivamente falando, a culpa é dele próprio, e de mais ninguém. Sempre que há um
planejamento consciente, lógico, o trabalho se torna mais fácil.
Metodologicamente, a organização das ideias deve seguir uma lógica. Como não se trata
de um texto artístico-literário, a expectativa é a de que o texto científico apresente um
encadeamento das ideias, respeitando-se o princípio fundamental da causa e do efeito. Em
outras palavras, é necessário que uma ideia apresentada esteja posicionada de forma que,
sequencialmente, seja a progressão de sua anterior e permita a construção da seguinte. Dessa
forma, o texto vai-se constituindo em tessitura e, quanto mais bem urdida a trama dessas ideias,
melhor será a textura final.
Um encadeamento lógico prevê início, meio e fim. Se chove, é porque houve
condensação de vapor de água em nuvens. Se o vapor de água se condensou, é porque houve
evaporação. Se houve evaporação, é porque havia água e essa água sofreu algum tipo de
aquecimento. Esse mesmo raciocínio lógico deve ser empregado na organização das ideias para
a produção de um texto científico.
Imagine-se uma situação bastante plausível, como a de um estagiário do curso de Letras
em uma escola de ensino médio numa cidade interiorana. Por uma infelicidade histórica,
percebe-se que pelo menos metade dos alunos do ensino médio não conseguem entender o que
leem, a maioria deles podendo ser caracterizada como de analfabetos funcionais. O estagiário,
sentindo-se impotente, mas ao mesmo tempo desejoso de mudar aquela situação, tenta dar sua
contribuição para aqueles adolescentes. Utiliza três atividades de leitura que encontrou em
alguns livros didáticos, aplicadas ao longo de três semanas consecutivas. Ao final, a sensação é a
de que não houve muita mudança nas aptidões de leitura daqueles alunos. Quais os problemas
encontrados nessa situação, como descrita?
Inicialmente, é preciso considerar que é praticamente impossível modificar uma situação
desse tipo em um espaço tão curto de tempo. Portanto, para que não haja frustração excessiva
da parte do profissional, é necessário que ele tenha consciência plena dos fatores que
interferem nessa realidade, o que não significa, evidentemente, acomodar-se a ela. Num
segundo momento, tudo indica ter havido uma falta de planejamento estratégico para a
aplicação dessas atividades e a mensuração de seus resultados. Os pontos falhos poderiam ser
assim enumerados:
• Como se diagnosticou o problema? Não basta ter a impressão de que algo está
errado: é preciso comprovar esse fato, mensurando-o. Uma forma de fazer isso seria
aplicar uma atividade de leitura a todos os alunos (da escola ou de uma única turma,
a depender do objetivo do trabalho), com itens em dificuldade gradativa, dos mais
simples aos mais complexos, e, ao final da atividade, avaliar os resultados obtidos,
quantificando-os. Isso permitiria apontar o percentual de alunos que estariam nos
níveis mais elementares, médios e superiores de leitura. Seria possível, a partir desse
diagnóstico, sugerir atividades específicas, por exemplo, para o grupo em condições
Recuperando aspectos da “Metodologia do Trabalho Científico”
Cirineu Cecote Stein 23
mais precárias de leitura. Essa mesma atividade poderia ser utilizada novamente, ao
final da intervenção do estagiário, para avaliar se o trabalho produziu o resultado
esperado: em caso positivo, os alunos que foram mal sucedidos conseguiriam atingir
um nível mais elevado nas competências de leitura.
• Qual o grupo de controle? Se “pelo menos metade dos alunos do ensino médio” não
conseguia entender o que lia, isso significa dizer que a outra metade conseguia. O
trabalho, então, não precisaria ser desenvolvido, rigorosamente, com todos os
alunos, porque, dependendo do nível de dificuldade das atividades, muitos
poderiam se sentir desmotivados, quer por elas serem simples demais, quer por
serem complexas demais, a depender do referencial. O ponto principal seria
transformar a realidade dos alunos que não conseguiam entender o que liam. O
grupo de controle, então, poderia ser estabelecido de uma forma simples: os alunos
que conseguiam ler e, submetidos ao diagnóstico anteriormente descrito,
entendiam de forma satisfatória o que liam, seriam considerados o grupo de
controle, e os demais alunos, então, deveriam chegar ao nível desses seus colegas.
Caso conseguissem, isso seria um indicativo de que as atividades foram bem
sucedidas.
• Como as atividades foram planejadas? O livro didático, embora muitas vezes alivie a
carga de trabalho do professor, também pode tornar-se senhor das aulas, sendo o
professor um mero reprodutor do que está colocado naquelas páginas. Pela própria
falta de experiência, o estagiário pode não ter selecionado atividades que serviriam
ao seu propósito específico. Qualquer atividade de ensino-aprendizagem deve
obedecer a uma gradação de dificuldade, permitindo que o aprendiz consolide suas
habilidades, e não apenas entre em contato com elas. Nesses casos,
frequentemente é interessante criar as atividades, porque, assim, cada passo pode
ser bem calculado e atender a cada etapa do processo.
• O tempo de aplicação das atividades e de internalização do conhecimento foi
suficiente? Muitos se esquecem de que o processo de aprendizagem é composto de
pelo menos duas etapas: uma cognitiva e uma mecânica. Cognitivamente, o aprendiz
tem a capacidade de entender aquilo a que é exposto, armazenando-se esse
conhecimento em sua memória de curto prazo. Para que ele o internalize e passe a
utilizá-lo de forma efetiva, é preciso que esse conhecimento seja transposto para a
memória de longo prazo, e isso se dá por meio da exposição continuada (por
exemplo, por meio de muitos exercícios). No caso em questão, seria apropriado que
as habilidades trabalhadas na primeira semana fossem consolidadas durante, pelo
menos, a semana seguinte, para só então partir para outro nível de atividades. Ao se
participar de um estágio, é possível planejar estrategicamente uma intervenção que
Metodologia para a elaboração de um TCC
24 Cirineu Cecote Stein
se processará ao longo de todo um semestre, ou mesmo de um ano letivo completo.
A duração temporal, então, poderá ser mais adequada.
• Como as atividades foram aplicadas? Não basta apenas chegar à sala de aula, fazer
uma exposição teórica e aplicar algumas atividades. Inúmeros fatores interferem
nessa dinâmica, desde a atitude do professor/estagiário frente à turma, construindo
uma relação de respeito mútuo, até o nível de dispersão da atenção dos alunos,
causado, por exemplo, por um ventilador barulhento, pelos raios solares entrando
pela janela, pelo horário (próximo ao almoço, quando os alunos estão com fome; ou
depois do almoço, quando estão sonolentos). É preciso pensar a disposição dos
alunos no espaço físico da sala (em filas, em semicírculo), como também o tempo
utilizado para a aplicação das atividades. Tudo precisa ser controlado. Se alguém
está no comando da sala, pressupõe-se que esteja capacitado para isso.
• Como avaliar se a intervenção foi positiva ou não? Como já sugerido na discussão
sobre o diagnóstico do problema, é preciso quantificar a qualidade da intervenção. É
muito importante conhecer o “antes” e o “depois”. Nesse caso específico, uma
possibilidade é utilizar a mesma atividade de diagnóstico para avaliação dos
resultados finais. Pelo distanciamento temporal, muitos alunos provavelmente não
terão sequer lembrança dela, e o seu objetivo não é conferir uma nota aos alunos,
mas ao próprio trabalho que foi desenvolvido. Muitos temem a avaliação, mas o
profissional responsável está em constante avaliação, e faz questão dela. Trata-se,
apenas, de perceber se o que se faz está no caminho certo ou se precisa sofrer
modificações, com a simples finalidade de melhorar a qualidade do trabalho.
A análise parcial desenvolvida para o caso hipotético acima revela, por si mesma, um
encadeamento lógico de ideias. Partiu-se do diagnóstico do problema, passando-se pelo
estabelecimento do grupo de controle, pelo planejamento das atividades, pelo cálculo do tempo
a ser utilizado, pela forma de aplicação das atividades, até chegar-se à avaliação final dos
resultados obtidos. Considere-se que, do diagnóstico do problema até a forma de aplicação das
atividades, tem-se todo o necessário para construir a seção de um texto científico (que poderá
ser, por exemplo, um artigo de relato de experiência) dedicada à descrição metodológica. Seguir
esses passos é estabelecer o método a ser utilizado. Descrevê-los é redigir a seção
“Metodologia” do TCC. A parte da avaliação dos resultados, provavelmente, será apresentada na
seção “Conclusão”. “Provavelmente”, porque ela pode ser analisada também em uma seção
semelhante a “Discussão dos Resultados”, sendo a conclusão reservada para considerações do
autor sobre o trabalho/experiência como um todo.
É preciso despender algum tempo antes de iniciar o trabalho para planejá-lo, e esse
planejamento inclui a organização das ideias. Esse tempo despendido na verdade poupará
Recuperando aspectos da “Metodologia do Trabalho Científico”
Cirineu Cecote Stein 25
esforços futuros. Tudo devidamente planejado e executado, basta o autor do texto escrever,
partindo do início e chegando ao fim.
4.2. A seleção bibliográfica
Ao se idealizar um trabalho científico, é desejável que se conheça o “estado da arte” da
temática a ser desenvolvida. É preciso conhecer o que já foi discutido sobre ela, e em que ponto
se encontra essa discussão. Frequentemente, mesmo que se trate de algo já muito conhecido e
debatido, ainda pode haver espaço para o seu enriquecimento. Uma nova abordagem, por
exemplo, sempre pode ser muito interessante.
Conhecer a bibliografia sobre o tema a ser desenvolvido em um trabalho científico é
condição indispensável para se estabelecer sua fundamentação teórica. Como já dito
anteriormente, uma ideia não se constrói do nada: ela é fruto de reflexões produzidas
anteriormente por outros. E esses “outros” precisam ser considerados.
No passado, boa parte do tempo destinado a um mestrado ou a um doutorado era
destinada à pesquisa bibliográfica. Isso porque o pesquisador deveria ir até as bibliotecas e
consultar os catálogos para encontrar e selecionar as obras de seu interesse. Embora isso ainda
ocorra, o acesso às obras digitais, que vem se tornando cada vez mais fácil, torna esse tempo
muito menor. Os próprios mecanismos de busca utilizados na internet permitem encontrar
inúmeros textos de forma praticamente imediata. Sem dúvida alguma, pelo menos essa parte do
trabalho de pesquisa torna-se menos difícil. O problema que se põe (como sempre se pôs, aliás)
é como fazer a seleção das referências mais importantes, mais significativas para a temática em
questão.
O ponto principal a ser considerado é a qualidade da informação veiculada. Quando, por
exemplo, uma teoria se mostra importante, é muito interessante buscar sua fonte original.
Quando se lê sobre o trabalho de um teórico a partir do texto de outros, corre-se o risco de
deparar com informações equivocadas. Isso, aliás, é bastante frequente. Evidentemente
algumas teorias são tão complexas que seu entendimento se torna mais acessível por meio de
trabalhos de outros autores que a discutem, mas sempre é importante cautela nessas situações.
Tendo sido aproveitadas as obras publicadas em forma de livro, pode-se partir para a
consulta a artigos publicados em periódicos especializados. Esses artigos normalmente
apresentam aspectos bastante pontuais acerca da temática envolvida, tendo sido construídos,
na maior parte das vezes, a partir de um bom embasamento teórico. Se o artigo tiver sido
publicado em um periódico que possua corpo editorial qualificado, com um processo de seleção
de material feito com isenção, a qualidade do conteúdo veiculado tenderá a ser muito boa. Uma
leitura atenta do resumo desses artigos permitirá perceber se eles realmente são de interesse
específico ou não. Todas as universidades federais, salvo engano, possuem livre acesso ao Portal
de Periódicos da CAPES (http://periodicos.capes.gov.br/), que disponibiliza a consulta a
Metodologia para a elaboração de um TCC
26 Cirineu Cecote Stein
inúmeros periódicos científicos nacionais e internacionais. No entanto, alguns desses periódicos
não são de livre acesso: é preciso ter uma assinatura deles para ler seus artigos. Nesses casos,
basta ir até um computador conectado à rede da universidade (como os das bibliotecas, por
exemplo), para consultá-los livremente, uma vez que a CAPES tem a assinatura de todos eles.
Outra fonte de pesquisa são as páginas na internet de entidades ou mesmo de
pesquisadores individuais. O cuidado com a seleção das informações, nesses casos, precisa ser
ainda maior, porque, como normalmente não há um controle (como, por exemplo, um corpo
editorial com avaliadores), publica-se o que bem se entender.
Outra possibilidade de informação a ser utilizada em um texto científico é o que se
chama de “informação verbal”. Imagine-se que, em um congresso, tenha-se discutido um tópico
com algum pesquisador e ele tenha dado sua opinião acerca de um determinado item. Essa
informação, se for interessante para a temática específica do trabalho que está sendo
desenvolvido, poderá ser mencionada e, entre parênteses, deverá ser indicada a expressão
“informação verbal”. Após o fechamento dos parênteses, faz-se remissão a uma nota de rodapé,
em que se indica “Notícia fornecida por Fulano de Tal, no Congresso Tal, na cidade Tal, na data
tal.”). Isso, naturalmente, em casos excepcionais.
Colhido o material bibliográfico que servirá de base para o texto a ser escrito, o passo
seguinte é organizá-lo de forma sistemática. Ao se realizar essas leituras, uma sugestão é
destacar as partes de interesse e anotar em que ponto do texto que será produzido elas poderão
ser utilizadas. Mais à frente será discutida a importância de construir um roteiro textual. Como
se verá, com um roteiro elaborado, é possível identificar quais ideias constituirão cada parte
textual, e em que sequência. Estabelecida essa sequência, a leitura da bibliografia poderá ser
feita de forma a alocar cada informação teórica em sua respectiva parte no texto a ser gerado.
Dessa forma, passa-se a “ter o que dizer”, sabendo-se onde cada informação será dita.
Todas essas informações teóricas poderão ser apresentadas com palavras próprias, com
paráfrases ou com citações, qualquer dessas formas devidamente referenciada. A forma de fazê-
lo será retomada no capítulo seguinte.
4.3. A pesquisa de campo
A menos que se trate de um artigo de revisão, ou de um que possua natureza
eminentemente teórica, os demais trabalhos científicos provavelmente são produzidos a partir
de análises/reflexões acerca de dados, que podem ser gerados de formas bastante distintas. É
comum a disponibilização de bancos de dados por pesquisadores que se dedicaram a colhê-los.
Há bancos de dados, por exemplo, da fala de determinada região, de textos produzidos em uma
escola ou para o vestibular, além de uma grande gama de outras possibilidades. Caso, no
entanto, não se deseje utilizar um banco de dados já existente, é possível criar um para uma
Recuperando aspectos da “Metodologia do Trabalho Científico”
Cirineu Cecote Stein 27
finalidade específica. Evidentemente, esse banco de dados poderá ser constituído de forma mais
simples ou de forma mais complexa.
Pensando-se a condição específica de elaboração de um TCC, e a sua restrição de tempo,
os dados a serem utilizados (se for o caso) podem ser colhidos na própria comunidade em que se
vive, entrevistando-se pessoas ou, caso se deseje trabalhar produção textual ou leitura,
inserindo-se em uma escola, para citar apenas alguns exemplos. Situações como essa inserem-se
no que se conhece como “pesquisa de campo”.
As técnicas e as implicações envolvidas na pesquisa de campo, por si sós, demandam um
curso completo, tamanha a sua complexidade. Dois pontos principais, no entanto, podem ser
sintetizados da seguinte forma:
• a pesquisa de campo deve ser muito, muito bem planejada. Como inúmeros outros
fatores passam a interferir na sua execução (tempo, locomoção, acesso aos
informantes, gastos financeiros etc.), é preciso estabelecer um roteiro de ação,
inclusive prevendo possíveis riscos e formas de solucioná-los;
• o respeito ao informante é condição inquestionável. É sempre importante lembrar
que o informante está disponibilizando seu tempo para o pesquisador. O informante
nunca está errado. O pesquisador nunca pode se indispor com ele. O informante
pode se atrasar, mas o pesquisador, nunca. Em todas as situações posteriores ao
contato com o informante (apresentações acadêmicas, conversas informais etc.),
nunca o pesquisador pode expô-lo ao ridículo, fazendo gracejo de seu modo de falar,
de agir, ou de escrever. A identidade do informante sempre deve ser preservada.
4.4. A organização dos dados
A organização (assim como o planejamento) é condição muito desejável para se atingir
um bom resultado quando se pensa a pesquisa e a escritura científicas. Como discutido
anteriormente, os dados a serem utilizados para a escritura podem ser aproveitados de um
corpus já existente ou de um corpus preparado para essa finalidade específica. Obtido esse
material – que será, na verdade, a fonte principal para o interesse maior que o texto despertará,
pois será a informação nova apresentada à comunidade acadêmica –, é preciso dispô-lo de
forma adequada ao seu manuseio. Quanto maior o volume de dados/informações, maior a
necessidade de uma organização rigorosa, sob pena de algo importante ser desconsiderado
durante a escritura, ou mesmo perdido.
Da mesma forma que as informações selecionadas a partir da seleção bibliográfica
podem ser classificadas, o que permite uma melhor visualização delas para o arranjo textual, os
dados a serem utilizados também devem ser agrupados e classificados. Retomando-se o caso
hipotético discutido parcialmente na primeira seção deste capítulo, destinada à organização das
ideias, seria necessário organizar todo o material produzido pelos alunos: a) uma pasta com os
Metodologia para a elaboração de um TCC
28 Cirineu Cecote Stein
textos de diagnóstico do problema; b) uma para o material produzido durante a primeira
atividade; c) uma para a segunda atividade; d) uma para a terceira atividade; e) uma para a
avaliação da atividade (reaplicação da atividade de diagnóstico).
O agrupamento dos dados é apenas a primeira (e mais fácil) parte desse trabalho. Feito
isso, é necessário categorizar todas as informações obtidas. Considerando-se o desempenho na
leitura, cada pasta deverá ter seu material classificado, por exemplo, em ordem crescente ou
decrescente de desempenho dos alunos, o que permitirá identificar o percentual deles que se
enquadra no nível 1 de leitura, no nível 2 etc. Como já exposto, essa quantificação é
indispensável, não apenas para ser apresentada no corpo do texto como, principalmente, para
permitir a tomada de decisões quanto aos passos seguintes da intervenção junto ao grupo.
A visualização dos dados auxilia muito o trabalho do pesquisador. Dependendo da
natureza desses dados, uma forma muito apropriada de organizá-los e classificá-los e dispô-los
em tabelas, o que permitirá, inclusive, sua realocação de forma mais fácil. Um exemplo concreto
de aplicação dessa técnica pode ser o observado nas tabelas abaixo (STEIN, 2011), em que dados
relacionados à deficiência ortográfica em alunos do ensino fundamental e do ensino médio
foram catalogados.
Tabela 1 – Exemplo de classificação de problemas de escritura relacionados ao vozeamento de
consoantes
Palavras Tipo de erro Código de erro Grafia correta Pronúncia
gritanto ortografia base fonética,
troca [d]~[t] OF_d-t_01_em2_M02 gritando Zf3h!s }̀cT\�
derrepende ortografia base fonética,
troca [t]~[d] OF_t-d_01_em2_F02 de repente Zcd�gd!od}sH\�
priga ortografia base fonética,
troca [b]~[p] OF_b-p_01_ef6_F01 brinca Z!a3h}j?\�
agordou ortografia base fonética,
troca [c]~[g] OF_c-g_01_ef5_F01 acordou Z`jng!cn\�
goisas ortografia base fonética,
troca [c]~[g] OF_c-g_01_ef5_F01 coisas Z!jnH]y?r\�
defete ortografia base fonética,
troca [v]~[f] OF_v-f_01_ef5_F01 diverte Zch!uDgsH\�
Fonte: STEIN, 2011.
Notas: Codificação utilizada:
Recuperando aspectos da “Metodologia do Trabalho Científico”
Cirineu Cecote Stein 29
OF – erro de ortografia com base fonética; b-p – permutação verificada; 01 – número do erro
para o informante em questão; ef5, em2 – Ensino Fundamental ou Médio e série; F01, M02,
número do informante, feminino ou masculino.
Tabela 2 – Exemplo de classificação de problemas de escritura relacionados à ditongação de
monotongos
Palavras Tipo de erro Código de erro Grafia correta Pronúncia
mais ortografia base fonética,
troca [0]~[i] OF_0-i_01_em1_F02 mas Zl`H]y\�
feis ortografia base fonética,
troca [0]~[i] OF_0-i_02_ef5_F02 fez Z!edy\�
Fonte: STEIN, 2011.
Observe-se que, em ambas as tabelas, foram criadas cinco colunas, cada uma delas
atendendo a uma função específica. Na primeira, registraram-se os problemas ortográficos; na
segunda, foi feita a classificação desses problemas; na terceira, estabeleceu-se a codificação dos
problemas; na quarta, indicou-se a forma ortográfica padrão; na quinta, registraram-se as
pronúncias das palavras, como realizadas foneticamente pelos alunos.
Essas tabelas já estão apresentadas em seu formato final de publicação. Na elaboração
dessa pesquisa, esses dados e todos os demais foram alocados em uma única tabela, à medida
que iam sendo detectados. Depois que todos eles foram registrados, utilizou-se o sistema de
filtragem de dados nos rótulos das colunas, selecionando-se, então, os grupos problemáticos.
Esse procedimento é facilitado pelo uso de editores de dados como o MS Excel, mas pode ser
realizado também de forma manual, o que, evidentemente, demandará muito mais tempo do
pesquisador.
A apresentação dos dados em forma de tabelas é muito comum. No entanto, é preciso
analisar a natureza dos dados para avaliar se sua apresentação será idealmente feita nesse
formato. Embora, em princípio, quaisquer dados possam ser tabelados, alguns que necessitem
de uma forma de apresentação com mais palavras descritivas, por exemplo, talvez não
permitam uma boa visualização numa tabela, sendo mais adequada sua disposição em forma de
itens sequenciais, ao longo da página. Da mesma forma que um gráfico tem por objetivo
permitir uma melhor visualização dos dados, uma tabela também cumpre essa função (além,
claro, da função organizacional das informações).
Deve-se considerar, também, que a simples apresentação dos dados não diz muita coisa
em um trabalho científico: é preciso comentá-los, discuti-los. O pesquisador não deve
Metodologia para a elaboração de um TCC
30 Cirineu Cecote Stein
simplesmente apresentar uma planilha de dados sem apresentar também suas considerações
sobre eles.
4.5. A construção de um roteiro textual
Quando um professor da área de Letras sugere aos seus alunos que, para melhor
organizarem as ideias em um texto é aconselhável dispô-las de uma forma lógica e coerente, de
forma que a apresentação de uma ideia conduza a outra, ele não deve se esquecer de que esse
mesmo conselho se aplica à elaboração de seus próprios trabalhos.
Muitas vezes, as pessoas tendem a pensar que o tempo utilizado na ordenação das
ideias é desperdiçado. Na verdade, se não houver essa ordenação, esse planejamento,
normalmente se gastará mais tempo na elaboração do texto do que se tudo tiver sido planejado.
Pode-se construir um roteiro textual, ou seja, indicar a sequência do que será escrito, com
tópicos e subtópicos. De uma forma geral, esse roteiro tenderá a assumir a caracterização de um
sumário.
O sumário (cujas regras gerais de apresentação são descritas na ABNT NBR 6027) de
qualquer trabalho, seja um livro, seja uma tese, seja uma dissertação, apresenta ao leitor a
organização de todo o texto. Num primeiro momento, são indicadas as partes pré-textuais,
seguidas pelas textuais e pelas pós-textuais. Como a expectativa é a de que a leitura completa da
obra permita ao leitor compreender a temática desenvolvida, é natural que a exposição seja
feita apresentando-se as informações de forma gradativa, uma ideia/parte textual conduzindo
ao entendimento da subsequente.
Como, para o TCC, o trabalho a ser apresentado é um artigo (científico ou de relato de
experiência), não será apresentado, como parte pré-textual, um sumário. No entanto, é
aconselhável que o autor desse trabalho organize um roteiro de escritura (que poderia se tornar
o próprio sumário, caso ele fosse necessário).
É aconselhável que o roteiro textual seja produzido anteriormente ao início das leituras
teóricas. Essa informação pode parecer um pouco contraditória, uma vez que, normalmente, é a
partir das leituras teóricas que se consolidará a ideia global do trabalho. No entanto, de forma
pragmática, é preciso considerar que, para a elaboração de um TCC, seu autor estará em contato
direto com seu orientador. Juntos, poderão traçar um primeiro roteiro, que poderá ser
modificado conforme a necessidade. Mas é importante haver um esboço inicial para que não se
perca tempo durante a leitura da teoria.
Durante a leitura das obras de referência, um método bastante produtivo é selecionar os
trechos que poderão ser utilizados como citação/paráfrase ou para reflexão teórica pessoal.
Havendo um roteiro textual, com as seções especificadas, basta classificar os trechos
selecionados (por exemplo, com um código ao lado de cada um deles) durante a leitura.
Posteriormente, basta alocar cada um deles nas seções a que são destinados no trabalho.
Recuperando aspectos da “Metodologia do Trabalho Científico”
Cirineu Cecote Stein 31
Imagine-se, por exemplo, o seguinte roteiro textual:
A) INTRODUÇÃO
• discutir de forma ampla a temática proposta no trabalho
• apresentar o objetivo do trabalho
• sintetizar a metodologia a ser utilizada
B) PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
• apresentar um breve histórico do que já foi desenvolvido sobre a temática
• identificar os teóricos mais expressivos na área
• analisar aspectos da teoria
• analisar a problematização da temática
C) METODOLOGIA
• apresentar a forma de diagnóstico do problema
• apresentar os critérios para estabelecimento dos grupos
• apresentar a forma como as atividades foram planejadas
• apresentar a forma de aplicação das atividades
• apresentar os critérios para avaliação
D) APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
• dados referentes ao primeiro grupo
• dados referentes ao segundo grupo
• dados referentes ao terceiro grupo
E) CONCLUSÃO
• discussão acerca dos resultados obtidos
Esse esquema, na verdade, é um exemplo bastante genérico de um roteiro textual. Cada
temática/proposta seguramente gerará um roteiro com as especificidades do trabalho já
elencadas. O importante a se perceber é que, em qualquer uma dessas partes, pode-se fazer
alusão a alguma referência bibliográfica pertinente. Assim, enquanto se desenvolve a leitura
teórica, vai-se definindo o que será utilizado para cada seção. Por exemplo, “este trecho do
autor X é adequado para a seção B – analisar aspectos da teoria”; “este trecho do autor Y é
adequado para a seção C – apresentar a forma de diagnóstico do problema”, e assim
sucessivamente.
Ao se adotar esse método de pesquisa/escritura, passa-se a “ter o que dizer”, bastando,
portanto, apenas escrever. Como já indicado, é muito difícil (senão impossível, pelo menos com
alguma qualidade) falar sobre o que não se conhece. Conhecendo-se o assunto – por meio da
referenciação teórica associada à própria experiência pessoal gerada para o desenvolvimento do
trabalho – e seguindo-se um roteiro para a disposição das ideias, o trabalho torna-se muito
menos árduo.
Metodologia para a elaboração de um TCC
32 Cirineu Cecote Stein
4.6. A citação
Na arte da argumentação, existe um argumento que se conhece como “de autoridade”.
Segundo Perelman (1996, p. 348), esse tipo de argumento “utiliza atos ou juízos de uma pessoa
ou de um grupo de pessoas como meio de prova a favor de uma tese”. No trabalho científico,
quando seu autor utiliza citações de outros autores, ele está, de certa forma, recorrendo ao
argumento de autoridade, e o raciocínio, nessa situação, seria mais ou menos o seguinte: “quem
está dizendo isso é o autor tal, que tem mais autoridade do que eu”.
Na arte retórica, ainda segundo Perelman (idem, ibidem),
O argumento de autoridade é o modo de raciocínio retórico que foi mais
intensamente atacado por ter sido, nos meios hostis à livre pesquisa científica,
o mais largamente utilizado, e isso de uma maneira abusiva, peremptória, ou
seja, concedendo-lhe um valor coercivo, como se as autoridades invocadas
houvessem sido infalíveis.
Deduz-se que na “livre pesquisa científica” há o questionamento acerca das informações, acerca
da própria natureza dos fatos. O papel do cientista é, portanto, questionar seus pares e a si
próprio, com vistas a encontrar a “verdade científica”. Aceitar o que as “autoridades invocadas”
postularam, sem questionamento, vai de encontro aos princípios da ciência.
No entanto, para a construção dessa mesma ciência, o pesquisador se baseia em
trabalhos já executados. Muitos anteriormente já percorreram árduos caminhos em suas
pesquisas para que o conhecimento sobre determinado assunto chegasse ao ponto a que
chegou. Ignorar seus trabalhos seria partir do pressuposto de que nada anteriormente tivesse
sido feito na área. E, com isso, cometerem-se todos os erros que os outros já cometeram, até –
talvez – chegar a algum acerto. A fundamentação teórica de um trabalho científico, portanto,
aproveita o que os antecessores da área fizeram, para que o novo trabalho que ora se constrói
possa, talvez com menos esforço, acrescentar algo novo à temática.
Entenda-se que esse suporte teórico, no entanto, deve ser um embasamento, uma
sustentação para o que se vai postular no trabalho científico. Primeiramente, deve-se entender
que esse novo trabalho que se constrói pertence a um autor (no caso, o concluinte que elabora
seu TCC), e não aos teóricos que o apoiam. Portanto, é necessário que se verifique a autoria de
quem escreve, ou seja, o texto final não poderá ser um apanhado de inúmeras citações de
outros autores. Soa estranho, matematicamente falando, que se perceba, ao folhear um
trabalho, cerca de 50% (às vezes mais) do espaço nas folhas ocupado por citações. A citação
deve ser utilizada como forma de sustentar um ponto de vista, não sendo ela a parte central do
texto.
Quando se faz a leitura teórica, como discutido nas seções anteriores, é frequente que
se encontrem inúmeros trechos muito interessantes e que podem ser muito úteis para a
elaboração do texto final. No entanto, é preciso considerar que nem todos esses trechos
poderão ser utilizados como citações literais (aquelas que são transcritas entre aspas). Deve-se
Recuperando aspectos da “Metodologia do Trabalho Científico”
Cirineu Cecote Stein 33
selecionar os que sejam mais expressivos para serem utilizados como citações literais e as
demais poderão ser parafraseadas (ditas de outra forma), comentadas, sempre, naturalmente,
fazendo-se a devida referência ao seu autor.
No próximo capítulo, serão discutidas as formas de apresentar as citações em um texto,
literalmente ou parafraseando-as.
4.7. A referenciação bibliográfica
Também no próximo capítulo, serão discutidas as formas de indicar as referências
bibliográficas mais comumente utilizadas na elaboração de um artigo (científico ou de relato de
experiência), conforme a ABNT NBR 6023. Neste ponto, é preciso recapitular que a seção do
trabalho científico dedicada às referências bibliográficas tem por objetivo permitir ao leitor
verificar, na fonte, as informações teóricas veiculadas ao longo do texto.
Infelizmente, não é incomum que alguns autores, talvez por lerem apenas o resumo de
um artigo, sem se darem o trabalho de verificarem de forma completa as informações, escrevam
que determinado autor, em seu artigo, disse tal coisa, e tal coisa não foi dita. O leitor-cientista,
experiente na prática da leitura e na área temática em questão, pode perceber algo estranho
nas informações apresentadas e, para dirimir suas dúvidas, prefere consultar os textos que
embasaram aquele trabalho. Talvez ele, leitor, tenha se equivocado; talvez não. Caso não tenha
se equivocado, aquele texto, naturalmente, cai em descrédito.
Como já discutido no capítulo referente ao plágio, pode-se inferir que a referenciação
bibliográfica também desempenhe o papel de reconhecer a autoria de algumas das ideias
veiculadas naquele trabalho. Portanto, toda e qualquer ideia que tenha sido colhida de outro
autor deve necessariamente ser referenciada.
Uma situação bastante inconveniente é o leitor (por exemplo, um avaliador de uma
banca de TCC) encontrar a menção a um determinado autor, no corpo do texto, ir até a seção
das referências bibliográficas e não encontrar a obra mencionada. Naturalmente, se o autor do
trabalho citou a obra no corpo do texto, não foi sua intenção cometer o plágio. O que lhe faltou
foi atenção na hora de compilar todas as referências.
Para evitar problemas desse tipo, uma sugestão é, à medida que o texto seja construído,
e sempre que surgir uma citação, que se redija imediatamente a referência bibliográfica
equivalente na seção apropriada. Utilizando-se um computador, basta trabalhar com dois
arquivos abertos ao mesmo tempo: um, em que se escreve o texto; outro, em que se escrevem
as referências. Dessa forma, minimiza-se consideravelmente a possibilidade de alguma obra não
ser referenciada. Se, como argumento contrário a essa prática, se imaginar que se possa perder
o fluxo do pensamento, esquecendo-se o que se ia escrever, basta, então, destacar a citação em
vermelho (ou de outra forma) para, posteriormente, fazer sua referenciação.
Metodologia para a elaboração de um TCC
34 Cirineu Cecote Stein
Essas práticas, no entanto, não anulam a necessidade de uma revisão criteriosa do texto.
No tocante às referências bibliográficas, é necessário que, durante a leitura final (ou pré-final),
confirme-se a inserção de todos os autores citados na seção devida.
Finalmente, é interessante atentar para as fontes a serem consultadas. Inicialmente, os
livros tendem a ser confiáveis, uma vez que, normalmente, a autorização de sua publicação
passa por um conselho editorial. Isso, naturalmente, não significa dizer que as informações ali
contidas não possam ser questionadas. Se assim não fosse, a ciência não teria evoluído. Também
os artigos científicos publicados em periódicos especializados são uma fonte confiável de
pesquisa. Observe-se que, mais recentemente, a maior parte dos periódicos mantém uma
(quando não única) versão digital, disponível na internet. Isso é extremamente interessante no
sentido de divulgação da informação, uma vez que o acesso aos artigos publicados em papel é
difícil, às vezes sendo possível encontrar o periódico apenas em outro país. Portanto, o mito de
que na internet não há fontes confiáveis de pesquisa é falso. O importante é saber que fontes
consultar.
Um leitor-cientista experimentado, ao ter seu primeiro contato com um livro, uma
monografia ou um artigo, muito provavelmente iniciará sua leitura pelo fim: ele observará as
referências bibliográficas utilizadas. A partir dessa leitura, ele já terá como traçar um perfil
prévio do autor, pelo nível das referências utilizadas. Normalmente, utilizar enciclopédias como
fonte de pesquisa acadêmica não é muito bem conceituado. De uma forma geral, as
enciclopédias apresentam as informações de forma um tanto quanto condensada, sendo o seu
objetivo transmiti-las ao grande público, não a especialistas (embora o que se escreve nelas seja
escrito por especialistas). É preciso ser cauteloso, portanto, ao fazer uso delas.
Em relação à Wikipedia, a confiabilidade de suas informações tem sido mais
recentemente reconhecida. Simson L. Garfinkel, em 2008, publicou no site Technology Review,
mantido pelo Massachussets Institute of Technology (MIT), um ensaio em que discute por que as
informações ali apresentadas são confiáveis. As políticas de publicação de conteúdo incluem não
ser possível publicar conteúdo produzido pelo próprio usuário, assim como a condição de se
manter um ponto de vista neutro. Os editores também exigem que os textos publicados
apresentem referências a fontes confiáveis, que serviram de embasamento para o que foi
escrito. Portanto, a consulta à Wikipedia pode servir, pelo menos, para ajudar a configurar as
ideias a serem desenvolvidas.
5. Recuperando aspectos da escritura
Uma vez desenvolvido o trabalho de pesquisa ou vivenciada a experiência durante o
Estágio Supervisionado, para fins de elaboração de um TCC, é indispensável que a apresentação
do texto veiculador dessas informações seja feita de forma apropriada. Como se trata de um
trabalho de natureza acadêmico-científica, é indispensável que um código seja seguido. No
caso, esse código é estabelecido pela ABNT, com finalidade normativa. Uma vez que essa
normatização é acatada por uma instituição, todos que pretendem produzir algum trabalho a
ser submetido à apreciação dessa instituição devem seguir essas regras. Todos – autores e
leitores – conhecendo os mesmos procedimentos padrão, o ato da leitura acaba por tornar-se
mais acessível.
As seções a seguir têm por objetivo recuperar os aspectos envolvidos na escritura de
cada parte de um artigo (científico ou de relato de experiência) e de algumas especificidades
dessas partes. Elas não substituem, no entanto, a consulta às normas específicas da ABNT em
sua totalidade.
5.1. A escritura do resumo
Como já sugerido no capítulo 4, na seção que tratou da seleção bibliográfica, o resumo
de um trabalho científico é a apresentação mais imediata de seu conteúdo ao leitor (esse
imediatismo só é superado pelo título do trabalho). Durante a seleção bibliográfica para a
escritura de um trabalho, o autor, em sua consulta, observará o título do artigo; caso ele se
mostre interessante, passará, então, para a leitura do resumo, para verificar se realmente
aquele trabalho é útil para o embasamento teórico de que necessita. Percebe-se, portanto, que
elaborar o resumo de forma adequada é condição indispensável para que o trabalho em
produção possa apresentar maior visibilidade.
A ABNT desenvolveu uma Norma específica para a elaboração de resumos, a NBR 6028.
Entre as quatro definições que apresenta, três são especificamente necessárias para a
elaboração de um TCC sob a forma de artigo científico ou de relato de experiência:
2.1. palavra-chave: Palavra representativa do conteúdo do documento,
escolhida, preferentemente, em vocabulário controlado.
2.2. resumo: Apresentação concisa dos pontos relevantes de um documento.
2.6. resumo informativo: Informa ao leitor finalidades, metodologia,
resultados e conclusões do documento, de tal forma que este possa, inclusive,
dispensar a consulta ao original.
De acordo com a definição primária de resumo, percebe-se que é necessário um poder
de síntese da parte do autor ao elaborar essa parte de seu trabalho. Não é incomum o
Metodologia para a elaboração de um TCC
36 Cirineu Cecote Stein
pesquisador, concluído o seu texto, sentir todos os pontos desenvolvidos nele como de grande
importância, e o desejo, normalmente, é o de, no resumo, apresentar todas essas informações.
No entanto, a limitação de tamanho para o resumo, como se verá a seguir, impõe um texto
conciso.
Essa concisão torna-se mais palpável ao se analisar a caracterização do resumo
informativo. Como se percebe, há uma clareza muito grande quanto ao que deve ser
apresentado no resumo: “finalidades, metodologia, resultados e conclusões do documento”.
Inclusive, a ordem a ser seguida na apresentação dessas informações é essa mesma
normatizada. Observe-se que essa sequência é lógica: apresenta-se ao leitor o objetivo, a
finalidade com que o trabalho foi produzido; o método empregado; os resultados obtidos; e,
finalmente, as conclusões a que seu autor chegou. De forma clara e objetiva.
Essa clareza e objetividade podem ser facilitadas pela obediência às “regras gerais de
apresentação”, postuladas por essa mesma NBR 6028. São especialmente interessantes as
seguintes prescrições:
“3.3 O resumo deve ser composto de uma seqüência de frases concisas,
afirmativas e não de enumeração de tópicos. Recomenda-se o uso de
parágrafo único.
3.3.1 A primeira frase deve ser significativa, explicando o tema principal do
documento. A seguir, deve-se indicar a informação sobre a categoria do
tratamento (memória, estudo de caso, análise da situação etc.).
3.3.2 Deve-se usar o verbo na voz ativa e na terceira pessoa do singular.”
Frequentemente, ao elaborar um resumo, o autor pode sentir-se tentado a redigi-lo em
forma de tópicos. Essa possibilidade, como se percebe, é totalmente vetada. O resumo,
portanto, deve apresentar a forma de um texto – um texto conciso e independente. A
independência desse texto se faz sentir quando o leitor o lê e entende todo o seu conteúdo sem
ter que analisar o texto do trabalho científico como um todo. Observe-se que, na definição do
resumo informativo, incluiu-se a possibilidade que oferece esse resumo de “dispensar a consulta
ao original”. Seguindo-se rigorosamente a sequência indicada (“finalidades, metodologia,
resultados e conclusões do documento”) e redigindo-se as informações por meio de “frases
concisas, afirmativas”, dificilmente o texto do resumo não será conciso e independente.
A primeira frase do resumo deve ser redigida de forma tal que seu conteúdo seja
significativo, ou seja, não pode apresentar informações vagas. É nela que se vai caracterizar o
tema central do trabalho. Logo a seguir, deverá ser definido o tipo de trabalho que está sendo
apresentado: é nesse ponto que se indicará tratar-se de um artigo de pesquisa ou de um artigo
de relato de experiência. Como prescrito, todas as frases deverão ser redigidas com verbos na
voz ativa (por exemplo, “A análise dos dados indica o resultado X.”, e não “Os dados foram
analisados e se obteve o resultado X.”), e deverão, se for o caso, estar na terceira pessoa do
singular (por exemplo, “Foi possível constatar que a redação dos participantes evoluiu do nível
Recuperando aspectos da escritura
Cirineu Cecote Stein 37
três para o nível quatro.”, e não “Constatamos que a redação dos participantes evoluiu do nível
três para o nível quatro.”).
A ABNT NBR 6028 indica que os resumos de artigos de periódicos deverão ter sua
extensão entre 100 e 250 palavras.
O exemplo abaixo, aproveitado de Hoga e Abe (2000), ilustra a elaboração de um
resumo de um relato de experiência:
“Este artigo trata-se de um relato de experiência sobre um trabalho desenvolvido com um um
[sic]3 grupo de adolescentes, moradores em uma comunidade de baixa renda. O objetivo do
trabalho foi a educação para a saúde com contextualização socioeconômica e cultural.
Participaram do grupo, 34 adolescentes de ambos os sexos, com idades entre 12 e 18 anos.
Foram realizadas nove sessões grupais de educação para a saúde, no período entre setembro e
dezembro de 1997. Foram levantadas as principais dúvidas que os adolescentes tinham sobre
saúde, que foram esclarecidas no decorrer das sessões de educação para a saúde, com utilização
de estratégia participativa, associados a vários recursos didáticos. Os termos técnicos foram
decodificados para a linguagem popular. Com base nos temas trabalhados nas sessões, foi
elaborado um caderno educativo e a compreensão sobre o conteúdo foi validado com os
adolescentes. A experiência permitiu conhecer as peculiaridades do grupo e planejar
orientações compreensíveis e significativas aos adolescentes.”
Sua divisão em partes, com o propósito de melhor visualizar cada uma delas, pode ser
feita da seguinte forma:
1ª parte: “Este artigo trata-se de um relato de experiência sobre um trabalho
desenvolvido com um um [sic] grupo de adolescentes, moradores em uma comunidade
de baixa renda.”
Como primeira frase do resumo, percebe-se que seu conteúdo realmente é significativo.
Observe-se, no entanto, que, ao indicar logo no primeiro momento que se trata de um relato de
experiência, as autoras inverteram a ordem prescrita, segundo a qual, antes dessa indicação,
deveria ter sido explicado o tema principal do documento.
2ª parte: “O objetivo do trabalho foi a educação para a saúde com contextualização
socioeconômica e cultural.”
Essa frase, concisa e completa, apresenta o objetivo do trabalho.
3ª parte: “Participaram do grupo, 34 adolescentes de ambos os sexos, com idades entre
12 e 18 anos. Foram realizadas nove sessões grupais de educação para a saúde, no
período entre setembro e dezembro de 1997. Foram levantadas as principais dúvidas
que os adolescentes tinham sobre saúde, que foram esclarecidas no decorrer das
3 Este advérbio latino, que significa “assim”, “deste modo”, é utilizado em uma transcrição para indicar
que ela foi feita de forma fiel ao original de que foi aproveitada, mesmo que se caracterize um erro ou pareça estranha.
Metodologia para a elaboração de um TCC
38 Cirineu Cecote Stein
sessões de educação para a saúde, com utilização de estratégia participativa, associados
a vários recursos didáticos. Os termos técnicos foram decodificados para a linguagem
popular.”
Nessa terceira parte caracteriza-se a metodologia empregada na execução da proposta.
Observe-se a apresentação do grupo, em que se identifica a quantidade de seus membros, o
gênero e a idade deles. Também, como a aplicação do trabalho foi feita (quantidade, tipo e
temática das sessões). A seguir, apresentou-se o que talvez esteja vinculado à essência do
trabalho, que é o esclarecimento de dúvidas acerca de questões relacionadas à saúde, e as
estratégias utilizadas na interação com o grupo. Como os profissionais da saúde (como
normalmente ocorre com toda e qualquer área de conhecimento) utilizam termos técnicos
próprios, especificou-se que esses termos “foram decodificados para a linguagem popular”.
4ª parte: “Com base nos temas trabalhados nas sessões, foi elaborado um caderno
educativo e a compreensão sobre o conteúdo foi validado com os adolescentes.”
Na quarta parte, foram apresentados dois resultados da intervenção: um, material, que
foi a elaboração de um caderno com conteúdo educativo; outro, imaterial, a apreensão cognitiva
das novas informações pelos adolescentes participantes, por meio de uma validação técnica (no
caso, o leitor que deseje conhecer os meios de validação utilizados deverá buscar essa
informação no corpo do artigo).
5ª parte: “A experiência permitiu conhecer as peculiaridades do grupo e planejar
orientações compreensíveis e significativas aos adolescentes.”
Finalmente, é apresentada a conclusão das autoras acerca do trabalho desenvolvido,
também em uma frase concisa e completa.
Observe-se que a leitura desse resumo permite compreender o todo do trabalho. As
especificidades, se forem desejadas pelo leitor, poderão ser conhecidas por meio da leitura do
artigo como um todo ou de suas partes específicas.
O texto foi elaborado em terceira pessoa, mas há uma ressalva a fazer: foi feito uso da
voz passiva na terceira e na quarta partes do texto, em construções como “foram levantadas”,
“foram decodificados”, “foi elaborado”. Rigorosamente, essas construções deveriam ter sido
modificadas para a voz ativa.
5.2. A escritura da introdução
A NBR 6022 da ABNT indica que a introdução é a “parte inicial do artigo, onde devem
constar a delimitação do assunto tratado, os objetivos da pesquisa e outros elementos
necessários para situar o tema do artigo”. Observe-se que essas informações foram também
apresentadas no resumo, mas de forma concisa. Na introdução, tem-se o espaço para
caracterizar os detalhes relativos a esses itens.
Recuperando aspectos da escritura
Cirineu Cecote Stein 39
A delimitação do assunto apresenta as características da temática a ser desenvolvida. É
possível estabelecer uma contextualização histórico-social do tema partindo-se de aspectos mais
amplos até os mais específicos, como, por exemplo, o educacional. Pode-se estabelecer uma
reflexão sobre o problema de forma tal que se demonstre que essa reflexão conduziu ao
desenvolvimento do trabalho, com vistas, por exemplo, a promover a modificação de atitude de
uma população em relação a esse aspecto.
Os objetivos também devem ser apresentados na introdução de forma clara. Por uma
questão de fluência textual, é interessante que eles sejam apresentados sequencialmente,
produzindo-se pelo menos um parágrafo com essa finalidade. Vale lembrar que a apresentação
dos objetivos deve atender também a uma sequenciação lógica e gradual. Há objetivos que são
mais amplos que outros, devendo, portanto, ser elencados em primeiro lugar. Atingir um
objetivo pode depender de, anteriormente, ter sido atingido outro. Esse outro, portanto, deverá
ser apresentando anteriormente àquele.
Cada trabalho apresenta sua especificidade; logo, torna-se difícil prever o que será
exposto em uma introdução. Os “outros elementos necessários para situar o artigo” serão
apresentados de acordo com essa especificidade.
5.3. A escritura do desenvolvimento
O desenvolvimento, segundo a NBR 6022, da ABNT, é a “parte principal do artigo, que
contém a exposição ordenada e pormenorizada do assunto tratado”. No desenvolvimento se
apresentarão, portanto, todos os detalhes necessários à compreensão da pesquisa desenvolvida,
ou da experiência relatada.
No corpo do desenvolvimento, poderá ser feita uma revisão/contextualização
bibliográfica, em que se discutirão aspectos da teoria relevantes para o trabalho, desde o que se
teorizou quando a temática passou a ser considerada academicamente, até as considerações
mais recentes (cf., no Capítulo 4, as seções que tratam da organização das ideias e da seleção
bibliográfica).
Sequencialmente, será apresentada a metodologia empregada na pesquisa, relatando-
se, em seus pormenores, tudo o que disser respeito à organização, à aplicação e à verificação
dos procedimentos necessários à execução do trabalho. Quanto mais detalhada for a descrição
metodológica, maior será a sua qualidade.
Finalmente, ainda no desenvolvimento do trabalho, poderão ser apresentados os dados
relativos à pesquisa ou à experiência vivenciada. A exatidão desses dados é crucial para o
sucesso do trabalho. Deverão ser apresentados em forma gradativa, dos mais amplos e
genéricos para os mais específicos e detalhados. Poderão também ser apresentadas tabelas e
gráficos, devendo-se lembrar que o objetivo principal de uma tabela ou de um gráfico é permitir
a melhor visualização dos dados pelo leitor. Não basta apenas apresentar os dados dessa forma:
Metodologia para a elaboração de um TCC
40 Cirineu Cecote Stein
é preciso comentá-los. Nesses comentários é que se manifestará a análise do autor do trabalho,
a interpretação que ele faz de sua pesquisa.
O desenvolvimento do artigo pode dividir-se em seções, que deverão ser numeradas
como descrito a seguir.
5.4. A numeração das seções
A ABNT estabeleceu a NBR 6024, que trata especificamente da numeração das seções
de um documento escrito. Essa numeração progressiva tem por objetivo “expor numa sequência
lógica o inter-relacionamento da matéria” e “permitir sua localização”. Entende-se “seção” como
a “parte em que se divide o texto de um documento, que contém as matérias consideradas afins
na exposição ordenada do assunto”, podendo haver uma “seção primária”, que é a “principal
divisão do texto de um documento”, assim como uma seção secundária, terciária, quaternária,
quinária etc., que é a “divisão do texto de uma seção primária, secundária, terciária, quaternária,
respectivamente”.
De acordo com as regras gerais de apresentação, deve-se seguir o indicado abaixo (as
indicações de seção que precedem cada item estão como apresentadas originalmente na NBR
6024):
3.1 São empregados algarismos arábicos na numeração.
3.2 O indicativo de seção é alinhado na margem esquerda, precedendo o
título, dele separado por um espaço.
3.3 Deve-se limitar a numeração progressiva até a seção quinária.
3.4 O indicativo das seções primárias deve ser grafado em números inteiros a
partir de 1.
3.5 O indicativo de uma seção secundária é constituído pelo indicativo da
seção primária a que pertence, seguido do número que lhe for atribuído na
seqüência do assunto e separado por ponto. Repete-se o mesmo processo em
relação às demais seções.
3.6 Não se utilizam ponto, hífen, travessão ou qualquer sinal após o indicativo
de seção ou de seu título.
Dessa forma, uma seção primária será numerada com os algarismos arábicos 1, 2, 3 etc.
Seções secundárias da primeira seção primária serão numeradas 1.1, 1.2, 1.3 etc. Seções
terciárias da primeira seção secundária serão numeradas 1.1.1, 1.1.2, 1.1.3 etc. Seções
quaternárias da primeira seção terciária serão numeradas 1.1.1.1, 1.1.1.2, 1.1.1.3 etc.
Finalmente, seções quinárias da primeira seção quaternária serão numeradas 1.1.1.1.1,
1.1.1.1.2, 1.1.1.1.3 etc. Também se considere que não pode haver seções inferiores à seção
quinária (o número máximo de seções não deve, portanto, ultrapassar cinco). Quando for feita a
leitura oral dos números das seções, não se deve pronunciar os pontos.
Recuperando aspectos da escritura
Cirineu Cecote Stein 41
Quanto ao destaque gráfico que se faz para os títulos das seções, a NBR 6024 estipula o
seguinte:
3.7 Destacam-se gradativamente os títulos das seções, utilizando os recursos
de negrito, itálico ou grifo e redondo, caixa alta ou versal e outro. O título das
seções (primárias, secundárias etc.) deve ser colocado após sua numeração,
dele separado por um espaço. O texto deve iniciar-se em outra linha.
Essa normatização implica dizer que o título da seção primária deverá ser grafado em
negrito; o da seção secundária, em itálico (ou grifando-se a fonte normal, sem destaque algum,
tecnicamente conhecida como “redondo”); o da seção terciária, com caixa alta (letras
maiúsculas ao longo de todas as palavras) ou versalete. A palavra “outro” sugere que sejam
utilizados outros recursos gráficos para caracterizar as seções quarternária e quinária, sem,
contudo, especificar quais sejam eles.
Exemplificando-se os recursos gráficos:
1 Como grafar o título de uma seção primária
1.1 Como grafar o título de uma seção secundária
1.1.1 COMO GRAFAR O TÍTULO DE UMA SEÇÃO TERCIÁRIA
Ou, alternativamente:
2 Como grafar o título de uma seção primária
2.1 Como grafar o título de uma seção secundária
2.1.1 COMO GRAFAR O TÍTULO DE UMA SEÇÃO TERCIÁRIA4
Grafado o título da seção, o texto relativo a ela deve ser iniciado em outra linha. E
sempre deve haver um texto relacionado a cada seção.
Frequentemente, ao longo de um artigo, é necessário remeter o leitor a outra parte já
apresentada ou por apresentar. Quando houver essa necessidade, esses
indicativos deverão ser citados no texto de acordo com os seguintes
exemplos:
... na seção 4
... ver 2.2
... em 1.1.2.2, § 3º ou... 3º parágrafo de 1.1.2.2
5.5. A escritura de citações diretas e indiretas
Como já discutido no capítulo em que se recuperaram aspectos da Metodologia do
Trabalho Científico, a referência por meio de citações a obras de outros autores pode ser feita
como forma de embasar o trabalho ora em desenvolvimento. As informações apresentadas por
4 Observe-se que, nesse exemplo, a primeira letra do título, maiúscula, possui um tamanho maior que as
demais, minúsculas.
Metodologia para a elaboração de um TCC
42 Cirineu Cecote Stein
eles contribuirão de forma significativa para a construção do arcabouço teórico necessário à
sustentação da nova pesquisa (ou da experiência vivenciada). No entanto, deve-se considerar
que o trabalho que está sendo desenvolvido tem autoria própria, não sendo razoável, portanto,
que o número de citações ocupe um espaço proporcionalmente semelhante ao (ou às vezes
maior que o) do texto considerado autoral.
A NBR 10520, da ABNT, apresenta as seguintes definições:
3.1 citação: Menção de uma informação extraída de outra fonte.
3.2 citação de citação: Citação direta ou indireta de um texto em que não se
teve acesso ao original.
3.3 citação direta: Transcrição textual de parte da obra do autor consultado.
3.4 citação indireta: Texto baseado na obra do autor consultado.
Em um trabalho de TCC, a forma de apresentar os tipos de citação acima definidos
seguramente será de maior relevância. Assim, o primeiro ponto a entender é que toda
informação colhida em outra fonte deverá ser mencionada, deverá ser citada no corpo do
trabalho, direta ou indiretamente. Caso se trate de uma citação direta, ou seja, aquela em que
se transcreve literalmente parte do texto de outro autor, deverão ser respeitados os seguintes
princípios:
• se a citação, no corpo do texto sendo produzido, ocupar até três linhas, deverão ser
utilizadas aspas duplas no início e no final do trecho citado;
• caso essa citação ocupe mais de três linhas, ela deverá ser destacada do texto sendo
produzido, iniciada em uma nova linha e toda ela deverá ser recuada “4 cm da
margem esquerda, com letra menor que a do texto utilizado e sem as aspas”;
• as aspas simples serão utilizadas “para indicar citação no interior da citação”. Em
outras palavras, caso o autor da citação tenha originalmente utilizado naquele
trecho aspas duplas, essas aspas duplas serão substituídas por aspas simples.
O que caracteriza a citação indireta é o aproveitamento da ideia de outro autor no texto
que está sendo elaborado. O autor do texto sendo elaborado poderá, por exemplo, sintetizar as
ideias colhidas com suas próprias palavras. Esse recurso evidencia ainda mais a interpretação
que é feita da obra consultada. Nesse caso, não será possível utilizar as aspas duplas ou o recuo
de 4 cm, uma vez que esses recursos são exclusivos para as citações literais.
Feita a citação, é preciso referenciar sua autoria. Essa referenciação pode ser feita, toda
ela, entre parênteses, ou apenas parcialmente entre parênteses, dependendo da forma como o
texto será escrito. Devem ser seguidos, para isso, os seguintes princípios:
• se a chamada pelo sobrenome do autor, pela instituição responsável ou título for
feita incluída na sentença, deverão ser utilizadas letras maiúsculas e minúsculas;
• “quando estiverem entre parênteses, devem ser em letras maiúsculas”.
Recuperando aspectos da escritura
Cirineu Cecote Stein 43
Os exemplos seguintes, aproveitados da NBR 10520 da ABNT, ilustram essas
possibilidades. Observe-se que o primeiro exemplo caracteriza uma citação indireta, enquanto
que o segundo e o terceiro, citações diretas:
A ironia seria assim uma forma implícita de heterogeneidade mostrada, conforme a
classificação proposta por Authier-Reiriz (1982).
Segundo Morais (1955, p. 32) assinala "[...] a presença de concreções de bauxita no Rio
Cricon."
“Apesar das aparências, a desconstrução do logocentrismo não é uma psicanálise da
filosofia [...]” (DERRIDA, 1967, p. 293).
Nesses exemplos, as citações (indireta e direta) não ocuparam espaço superior a três
linhas. Caso isso acontecesse, a apresentação da citação (direta) seria feita com o recuo de 4 cm
a partir da margem esquerda, como a seguir, com letra menor e sem aspas:
A teleconferência permite ao indivíduo participar de um encontro nacional ou
regional sem a necessidade de deixar seu local de origem. Tipos comuns de
teleconferência incluem o uso da televisão, telefone, e computador. Através
de áudio-conferência, utilizando a companhia local de telefone, um sinal de
áudio pode ser emitido em um salão de qualquer dimensão. (NICHOLS, 1993,
p. 181).
Como se pode perceber no segundo e terceiro exemplos acima, na citação direta deve-
se especificar, após o(s) sobrenome(s) do(s) autor(es), escrito(s) em letras maiúsculas, a data de
publicação da obra, seguida pelo volume (se for o caso), e a página, como no primeiro exemplo a
seguir. No segundo exemplo, percebe-se uma citação direta de uma obra de dois autores.
Observe-se que seus sobrenomes são separados por ponto e vírgula:
Meyer parte de uma passagem da crônica de “14 de maio”, de A Semana: “Houve sol, e
grande sol, naquele domingo de 1888, em que o Senado votou a lei, que a regente
sancionou [...] (ASSIS, 1994, v. 3, p. 583).
“Não se mova, faça de conta que está morta.” (CLARAC; BONNIN, 1985, p. 72).
Quando se deseja citar partes intercaladas de um texto, é necessário indicar que
algumas partes foram suprimidas. Essa supressão será feita utilizando-se reticências entre
colchetes: [...]. No penúltimo exemplo acima, observe-se que não foi transcrito o trecho
completo do texto de Machado de Assis. A supressão da parte final foi indicada dessa forma.
É possível, também, que se queira fazer algum comentário no interior de uma citação.
Nesse caso, o comentário feito deverá ser destacado por colchetes, no seu início e no seu final.
O mesmo ocorrerá no caso de interpolações ou acréscimos.
Metodologia para a elaboração de um TCC
44 Cirineu Cecote Stein
Caso se deseje enfatizar ou destacar algum trecho de uma transcrição, isso deverá ser
feito por meio do grifo, do negrito ou do itálico. Nesse caso, se o destaque for feito por quem
cita o texto, após a chamada do autor, seguida da data de publicação da obra e da página
original, deverá ser utilizada a expressão “grifo nosso”, sem aspas. Caso o destaque tenha sido
feito originalmente pelo autor da citação, a expressão deverá ser “grifo do autor”, também sem
aspas, como nos exemplos a seguir:
“[...] para que não tenha lugar a producção de degenerados, quer physicos quer moraes,
misérias, verdadeiras ameaças à sociedade.” (SOUTO, 1916, p. 46, grifo nosso).
“[...] b) desejo de criar uma literatura independente, diversa, de vez que, aparecendo o
classicismo como manifestação de passado colonial [...]” (CANDIDO, 1993, v. 2, p. 12,
grifo do autor).
Caso se deseje citar um trecho de uma obra em língua estrangeira, o autor do texto
sendo elaborado poderá apresentar sua própria tradução para ela. Nesse caso, após a chamada
da citação, deverá ser utilizada a expressão “tradução nossa”, sem aspas, dentro dos parênteses:
“Ao fazê-lo pode estar envolto em culpa, perversão, ódio de si mesmo [...] pode julgar-se
pecador e identificar-se com seu pecado.” (RAHNER, 1962, v. 4, p. 463, tradução nossa).
Frequentemente, tem-se acesso a informações que não foram publicadas. Em um
congresso, por exemplo, pode-se ter discutido algo com um conferencista, que emitiu sua
opinião oralmente. Essa informação, caso seja aproveitada em um trabalho, deverá ser
apresentada e, ao seu final, entre parênteses, deverá ser utilizada a expressão “informação
verbal”, sem as aspas. Imediatamente após o fechamento dos parênteses, deverá ser feita
remissão a uma nota de rodapé, em que se informará “Notícia fornecida por Fulano de Tal no
Congresso Tal, na cidade Tal, na data tal. Observe-se o seguinte exemplo:
O novo medicamento estará disponível até o final deste semestre (informação verbal)1.
No rodapé da página será escrita a seguinte nota:
_________________
1 Notícia fornecida por John A. Smith no Congresso Internacional de Engenharia Genética, em Londres, em
outubro de 2001.
Esse mesmo procedimento deverá ser utilizado caso se cite algum trabalho em fase de
elaboração, com a indicação dos dados disponíveis na nota de rodapé, como no exemplo a
seguir:
Recuperando aspectos da escritura
Cirineu Cecote Stein 45
Os poetas selecionados contribuíram para a consolidação da poesia no Rio Grande do
Sul, séculos XIX e XX (em fase de elaboração)1.
No rodapé da página constará o seguinte:
_________________
1 Poetas rio-grandenses, de autoria de Elvo Clemente, a ser editado pela EDIPUCRS, 2002.
Um ponto muito importante que deve ser considerado: a indicação de edição a ser
realizada nunca poderá apresentar uma data anterior à data de apresentação do trabalho que
está sendo elaborado. No exemplo acima, caso o trabalho em elaboração esteja concluído em
2013, a citação utilizada deve ser referenciada a partir da obra já publicada (uma vez que a
previsão de publicação era para o ano de 2002).
É possível que um mesmo autor tenha diversos documentos citados, tendo sido eles
publicados em um mesmo ano. Nesse caso, as citações “são distinguidas pelo acréscimo de
letras minúsculas, em ordem alfabética, após a data e sem espacejamento, conforme a lista de
referências”. Como nos exemplos:
De acordo com Reeside (1927a)
(REESIDE, 1927b)
É muito comum que, durante uma pesquisa bibliográfica, obtenham-se informações
interessantes dadas por um autor citado pelo autor da obra consultada. Caso não seja possível
consultar a obra do autor citado, pode-se fazer sua citação por meio da citação feita pelo autor
que foi possível consultar. É o que se conhece como citação de uma citação, que é definida como
sendo uma “citação direta ou indireta de um texto em que não se teve acesso ao original”.
Nesses casos, utiliza-se a expressão latina “apud” (sem aspas), que significa “citado por,
conforme, segundo”. Os dois exemplos a seguir caracterizam, o primeiro, uma citação de uma
citação feita de forma direta e, o segundo, de forma indireta:
“[...] o viés organicista da burocracia estatal e o antiliberalismo da cultura política de
1937, preservado de modo encapuçado na Carta de 1946.” (VIANNA, 1986, p. 172 apud
SEGATTO, 1995, p. 214-215).
No modelo serial de Gough (1972 apud NARDI, 1993), o ato de ler envolve um
processamento serial que começa com uma fixação ocular sobre o texto, prosseguindo
da esquerda para a direita de forma linear.
Metodologia para a elaboração de um TCC
46 Cirineu Cecote Stein
No primeiro exemplo, o trecho entre aspas foi produzido originalmente por Vianna
(1986, p. 172), mas foi consultado em Segatto (1995, p. 214-215). Ou seja, quem utilizou essa
transcrição teve acesso apenas à obra de Segatto.
No segundo exemplo, teve-se conhecimento sobre a informação acerca do modelo serial
de Gough (originalmente publicado em 1972) por meio da obra de Nardi (1993).
Quanto às notas de rodapé, a NBR 10520, da ABNT, prescreve que “devem ser
alinhadas, a partir da segunda linha da mesma nota, abaixo da primeira letra da primeira
palavra, de forma a destacar o expoente e sem espaço entre elas e com fonte menor”, como a
seguir:
_________________
1 Veja-se como exemplo desse tipo de abordagem o estudo de Netzer (1976).
2 Encontramos esse tipo de perspectiva na 2ª parte do verbete referido na nota anterior, em grande parte
do estudo de Rahner (1962).
Os casos comentados nesta seção são aqueles de ocorrência mais comum em artigos
científicos ou de relato de experiência. A NBR 10520, da ABNT, no entanto, normatiza alguns
outros casos de citações. Sugere-se, então, sua leitura completa e atenta.
5.6. O uso de siglas, ilustrações e tabelas
De acordo com a NBR 14724, da ABNT, sempre que uma sigla for “mencionada pela
primeira vez no texto, deve ser indicada entre parênteses, precedida do nome completo”. A
partir de então, utiliza-se apenas a sigla. Como o leitor pode não conhecer o significado de uma
dada sigla, esse procedimento esclarece qualquer dúvida. Por exemplo:
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)
No tocante às ilustrações, essa mesma NBR 14724 estabelece o seguinte:
Qualquer que seja o tipo de ilustração, sua identificação aparece na parte
superior, precedida da palavra designativa (desenho, esquema, fluxograma,
fotografia, gráfico, mapa, organograma, planta, quadro, retrato, figura,
imagem, entre outros), seguida de seu número de ordem de ocorrência no
texto, em algarismos arábicos, travessão e do respectivo título. Após a
ilustração, na parte inferior, indicar a fonte consultada (elemento obrigatório,
mesmo que seja produção do próprio autor), legenda, notas e outras
informações necessárias à sua compreensão (se houver). A ilustração deve ser
citada no texto e inserida o mais próximo possível do trecho a que se refere.
Portanto, caso se deseje utilizar no texto, por exemplo, o mapa político do Brasil,
disponibilizado pelo Atlas Escolar do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
Recuperando aspectos da escritura
Cirineu Cecote Stein 47
disponível na página virtual do órgão, acima dele deverá aparecer a seguinte informação: “Mapa
1 – Divisão política do Brasil”. Logo após a imagem do mapa, a seguinte informação: Fonte: IBGE.
Disponível em: < http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/atlasescolar/mapas_pdf/brasil_politico.pdf>.
Acesso realizado em 18/09/2012.
A NBR 14724, da ABNT, especifica que as tabelas devem ser citadas no corpo do texto,
de forma a se localizarem o mais próximo possível do trecho a que fazem referência. A
construção de uma tabela deverá seguir os padrões estabelecidos pelo IBGE (1993).
5.7. A escritura da conclusão
A NBR 6022, da ABNT, define a conclusão como sendo a “parte final do artigo, na qual se
apresentam as conclusões correspondentes aos objetivos e hipóteses”. Considerando-se que, na
parte introdutória, foram evidenciados os objetivos do trabalho, assim como suas hipóteses, e
ao longo do desenvolvimento foram feitas a apresentação e a análise dos dados, é na conclusão
que o autor discutirá se os objetivos foram atingidos e se as hipóteses foram confirmadas.
Como dito no capítulo anterior, é possível que se estabeleça a discussão dos dados em
uma seção específica do artigo, anterior à conclusão. Também é possível que, na própria
conclusão, se faça essa discussão. O ponto a ser considerado, no entanto, é que, muitas vezes, a
análise dos dados demanda um grande esforço, que se reflete em uma escritura prolongada e
detida, merecedora de uma seção específica. Assim, reservar o espaço da conclusão para o que
normalmente se entende como as “considerações finais” é uma boa opção.
Caso haja perspectiva de continuidade do trabalho, principalmente por os resultados
terem se mostrado consideravelmente interessantes, pode-se também fazer menção a isso na
parte final da conclusão.
Uma consideração relativa à produção textual que deve ser feita diz respeito à própria
natureza das partes textuais. Uma introdução é considerada uma introdução por suas ideias
serem introdutórias; da mesma forma, uma conclusão só é considerada uma conclusão por
apresentar ideias conclusivas. Por mais óbvias que essas informações sejam, muitos autores as
ignoram, e pensam que o simples fato de introduzir-se a conclusão, por exemplo, com algo do
tipo “conclui-se que” já se está produzindo uma conclusão. Não é o simples uso dessa expressão
ou de uma assemelhada que fará de um parágrafo ou de um bloco de parágrafos um texto
conclusivo, sem considerar que seu uso assume uma caracterização de produção textual
bastante primária. Se se discutem, por exemplo, os resultados do trabalho, evidenciando-se,
com base nesses resultados, ter-se confirmado ou não as hipóteses inicialmente levantadas,
tem-se um texto com caráter conclusivo, independentemente de quais palavras ou expressões
sejam empregadas.
Metodologia para a elaboração de um TCC
48 Cirineu Cecote Stein
5.8. A escritura das referências bibliográficas
As referências bibliográficas permitirão a identificação exata das obras consultadas ao
longo do trabalho em elaboração. Todas elas devem ser padronizadas conforme as prescrições
estabelecidas pela NBR 6023, da ABNT. Nesta seção, serão apresentadas e discutidas aquelas
prescrições que apresentam uma maior probabilidade de serem úteis à elaboração de um TCC.
Caso seja necessária a referenciação de outro tipo de documento, basta recorrer a essa norma.
Todas as citações e exemplos foram colhidos nessa mesma norma da ABNT.
Inicialmente, é preciso entender que os elementos da referência são constituídos de
elementos essenciais – aqueles obrigatórios à identificação do documento – e de elementos
complementares – que, como sugere sua designação, melhor caracterizam os documentos. Os
elementos complementares podem ser utilizados ou não. No entanto, deve-se seguir uma
mesma padronagem ao longo de toda a referenciação de um trabalho: os elementos
complementares devem ser utilizados em todas as referências ou em nenhuma.
Os elementos essenciais – autor(es), título, edição5, local, editora e data de publicação –
deverão ser apresentados nessa ordem. O exemplo apresentado é o seguinte:
GOMES, L. G. F. F. Novela e sociedade no Brasil. Niterói: EdUFF, 1998.
Um exemplo que inclui elementos acessórios:
GOMES, L. G. F. F. Novela e sociedade no Brasil. Niterói: EdUFF, 1998. 137 p., 21 cm.
(Coleção Antropologia e Ciência Política, 15). Bibliografia: p. 131-132. ISBN 85-228-0268-8.
Embora as referências possam aparecer tanto no rodapé quanto no fim de texto ou de
capítulo, em lista de referências ou na elaboração de resumos, por exemplo, para efeito deste
texto será considerada apenas a lista de referências, em seção específica para esse fim.
Todas as referências deverão ser “alinhadas somente à margem esquerda do texto e de
forma a se identificar individualmente cada documento, em espaço simples e separadas entre si
por espaço duplo”. Ou seja, não pode ser utilizado o alinhamento “justificado” (aquele em que
as margens do texto são totalmente regulares tanto à esquerda quanto à direita), e o
espaçamento interno às linhas da referência deve ser simples. Esse espaçamento será duplo
apenas entre uma referência e outra.
O título da obra referenciada deve ser destacado, utilizando-se negrito, grifo ou itálico.
No entanto, o padrão escolhido deverá ser o mesmo “em todas as referências de um mesmo
documento”. Esta indicação, no entanto, “não se aplica às obras sem indicação de autoria, ou de
5 Embora a NBR 6023 apresente o elemento “edição” como essencial, não o inclui no exemplo que
apresenta. Como se perceberá, os elementos essenciais serão obrigatoriamente mencionados caso possam ser localizados na obra.
Recuperando aspectos da escritura
Cirineu Cecote Stein 49
responsabilidade, cujo elemento de entrada é o próprio título, já destacado pelo uso de letras
maiúsculas na primeira palavra, com exclusão de artigos (definidos e indefinidos) e palavras
monossilábicas.
Tem-se tornado cada vez mais comum a consulta a obras disponíveis online. Quando
isso ocorrer, também serão consideradas
essenciais as informações sobre o endereço eletrônico, apresentado entre os
sinais < >, precedido da expressão Disponível em: e a data de acesso ao
documento, precedida da expressão Acesso em:, opcionalmente acrescida dos
dados referentes a hora, minutos e segundos.
Como exemplo6:
ALVES, Castro. Navio negreiro. [S.l.]: Virtual Books, 2000. Disponível em:
<http://www.terra.com.br/virtualbooks/freebook/port/Lport2/navionegreiro.htm>.
Acesso em: 10 jan. 2002, 16:30:30.
Muito comumente, consulta-se apenas uma parte de uma obra, por exemplo, um artigo
publicado em um periódico ou um capítulo de um livro produzido coletivamente (o que significa
que cada capítulo tem seu próprio autor, e a obra foi organizada por outro ou outros autores).
Nesses casos, obrigatoriamente será (serão) indicado(s) o(s) autor(es) da parte consultada e o
título da parte, seguidos da expressão “In:”, sem aspas. Logo após essa expressão, apresenta-se
a referência completa da obra. Atente-se que se deve, ao final da referência, “informar a
paginação ou outra forma de individualizar a parte referenciada”, como nos exemplos a seguir:
ROMANO, Giovanni. Imagens da juventude na era moderna. In: LEVI, G.; SCHMIDT, J.
(Org.). História dos jovens 2. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 7-16.
SANTOS, F. R. dos. A colonização da terra do Tucujús. In: ______. História do Amapá, 1º
grau. 2. ed. Macapá: Valcan, 1994. cap. 3.
No segundo exemplo, o tracejado após a expressão “In:” indica que o autor da obra é o
mesmo da parte consultada.
Caso seja consultada apenas parte de uma obra em meio eletrônico, será seguido o
mesmo procedimento acima, acrescentando-se as “informações relativas à descrição física do
meio eletrônico (disquetes, CD-ROM, online etc.)”. Caso se trate de obras consultadas online,
também deverão ser apresentados o endereço eletrônico e a data de acesso, como
anteriormente descrito. Como exemplos:
6 A abreviação [S.l.] caracteriza não ter sido possível identificar o local da publicação (sine loco). Caso não
fosse possível identificar a data, seria utilizada [S.d.].
Metodologia para a elaboração de um TCC
50 Cirineu Cecote Stein
MORFOLOGIA dos artrópodes. In: ENCICLOPÉDIA multimídia dos seres vivos. [S.l.]:
Planeta DeAgostini, c1998. CD-ROM 9.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria do Meio Ambiente. Tratados e organizações ambientais
em matéria de meio ambiente. In: _____. Entendendo o meio ambiente. São Paulo,
1999. v. 1. Disponível em: <http://www.bdt.org.br/sma/entendendo/atual.htm>. Acesso
em: 8 mar. 1999.
Aos periódicos não é atribuída uma autoria específica. Assim, a sua referenciação será
feita com os seguintes elementos essenciais: título, local de publicação, editora, datas de início e
de encerramento da publicação, caso haja. No exemplo abaixo, observe-se que não foi aplicado
negrito ao título do periódico, prescrição já apresentada anteriormente.
REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA. Rio de Janeiro: IBGE, 1939-
Podem ser acrescentados elementos complementares, o que permite uma melhor
identificação do documento:
REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA. Rio de Janeiro: IBGE, 1939- . Trimestral. Absorveu
Boletim Geográfico, do IBGE. Índice acumulado, 1939-1983. ISSN 0034-723X.
Na referenciação de revista, boletim etc., deve-se incluir os seguintes dados: “volume,
fascículo, números especiais e suplementos, entre outros, sem título próprio”. O segundo
exemplo a seguir inclui elementos complementares:
DINHEIRO. São Paulo: Ed. Três, n. 148, 28 jun. 2000.
DINHEIRO: revista semanal de negócios. São Paulo: Ed. Três, n. 148, 28 jun. 2000. 98 p.
Caso se deseje referenciar um artigo ou uma matéria publicada em uma revista,
boletim etc., o que inclui partes de publicações periódicas (volumes, fascículos, números
especiais e suplementos, com título próprio), comunicações, editorial, entrevistas, recensões,
reportagens, resenhas e outros, serão considerados os seguintes elementos essenciais:
autor(es), título da parte, artigo ou matéria, título da publicação, local de
publicação, numeração correspondente ao volume e/ou ano, fascículo ou
número, paginação inicial e final, quando se tratar de artigo ou matéria, data
ou intervalo de publicação e particularidades que identificam a parte (se
houver).
Observe-se que, nos exemplos a seguir, não foi utilizada a expressão “In:”, e o título da
revista foi apresentado em negrito:
Recuperando aspectos da escritura
Cirineu Cecote Stein 51
AS 500 maiores empresas do Brasil. Conjuntura Econômica, Rio de Janeiro, v. 38, n. 9,
set. 1984. Edição especial.
MANSILLA, H. C. F. La controversia entre universalismo y particularismo en la filosofia de
la cultura. Revista Latinoamericana de Filosofia, Buenos Aires, v. 24, n. 2, primavera
1998.
Caso o artigo e/ou matéria de revista, boletim etc. estiverem disponíveis em meio
eletrônico, serão seguidas as mesmas normas acima, “acrescidas das informações relativas à
descrição física do meio eletrônico (disquetes, CD-ROM, online etc.)”. Caso a consulta tenha sido
feita online, também se deverá fazer a indicação do endereço eletrônico e da data de acesso:
VIEIRA, Cássio Leite; LOPES, Marcelo. A queda do cometa. Neo Interativa, Rio de Janeiro,
n. 2, inverno 1994. 1 CD-ROM.
SILVA, M. M. L. Crimes da era digital. .Net, Rio de Janeiro, nov. 1998. Seção Ponto de
Vista. Disponível em: <http://www.brazilnet.com.br/contexts/brasilrevistas.htm>.
Acesso em: 28 nov. 1998.
Na referenciação de artigo e/ou matéria de jornal (incluindo-se comunicações, editorial,
entrevistas, recensões, reportagens, resenhas e outros), deverão ser considerados os seguintes
elementos essenciais: “autor(es) (se houver), título, título do jornal, local de publicação, data de
publicação, seção, caderno ou parte do jornal e a paginação correspondente. Quando não
houver seção, caderno ou parte, a paginação do artigo ou matéria precede a data”. Como nos
exemplos a seguir:
COSTURA x P.U.R. Aldus, São Paulo, ano 1, n. 1, nov. 1997. Encarte técnico, p. 8.
NAVES, P. Lagos andinos dão banho de beleza. Folha de S. Paulo, São Paulo, 28 jun.
1999. Folha Turismo, Caderno 8, p. 13.
LEAL, L. N. MP fiscaliza com autonomia total. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, p. 3, 25
abr. 1999.
Para o caso de artigo e/ou matéria de jornal em meio eletrônico, faz-se a referenciação
como indicado acima, acrescentando-se os dados relativos ao endereço eletrônico e à data de
acesso:
ARRANJO tributário. Diário do Nordeste Online, Fortaleza, 27 nov. 1998. Disponível em:
<http://www.diariodonordeste.com.br>. Acesso em: 28 nov. 1998.
Metodologia para a elaboração de um TCC
52 Cirineu Cecote Stein
A referenciação para atas, anais, resultados, proceedings e assemelhados contará com
os seguintes elementos essenciais: “nome do evento, numeração (se houver), ano e local
(cidade) de realização. Em seguida, deve-se mencionar o título do documento (anais, atas, tópico
temático etc.), seguido dos dados de local de publicação, editora e data da publicação”. Também
podem ser acrescidos elementos complementares.
IUFOST INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON CHEMICAL CHANGES DURING FOOD
PROCESSING, 1984, Valencia. Proceedings... Valencia: Instituto de Agroquímica y
Tecnología de Alimentos, 1984.
Caso se referencie um evento como um todo em meio eletrônico, faz-se como acima,
indicando-se o endereço eletrônico e a data de acesso:
CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFPe, 4., 1996, Recife. Anais eletrônicos...
Recife: UFPe, 1996. Disponível em: <http://www.propesq.ufpe.br/anais/anais.htm>.
Acesso em: 21 jan. 1997.
Para se referenciar um trabalho apresentado em evento, consideram-se os seguintes
elementos essenciais:
autor(es), título do trabalho apresentado, seguido da expressão In:, nome do
evento, numeração do evento (se houver), ano e local (cidade) de realização,
título do documento (anais, atas, tópico temático etc.), local, editora, data de
publicação e página inicial e final da parte referenciada.
Observe-se o seguinte exemplo:
BRAYNER, A. R. A.; MEDEIROS, C. B. Incorporação do tempo em SGBD orientado a
objetos. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE BANCO DE DADOS, 9., 1994, São Paulo. Anais...
São Paulo: USP, 1994. p. 16-29.
Se se tratar de um trabalho apresentado em evento em meio eletrônico, segue-se esse
mesmo padrão (podendo ser acrescidos elementos complementares, tanto para a versão
impressa quanto para a eletrônica), e acrescentam-se “informações relativas à descrição física
do meio eletrônico (disquetes, CD-ROM, online etc.)”. Para obras consultadas online, indicam-se
o endereço eletrônico e a data de acesso:
GUNCHO, M. R. A educação à distância e a biblioteca universitária. In: SEMINÁRIO DE
BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS, 10., 1998, Fortaleza. Anais... Fortaleza: Tec Treina, 1998.
1 CD-ROM.
Recuperando aspectos da escritura
Cirineu Cecote Stein 53
SILVA, R. N.; OLIVEIRA, R. Os limites pedagógicos do paradigma da qualidade total na
educação. In: CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFPe, 4., 1996, Recife. Anais
eletrônicos... Recife: UFPe, 1996. Disponível em: <http://www. propesq. ufpe.br/anais/
anais/educ/ce04.htm>. Acesso em: 21 jan. 1997.
No caso de ser necessário referenciar algum documento jurídico, serão considerados os
seguintes elementos essenciais (que poderão ser acrescidos de elementos complementares):
jurisdição (ou cabeçalho da entidade, no caso de se tratar de normas), título,
numeração, data e dados da publicação. No caso de Constituições e suas
emendas, entre o nome da jurisdição e o título, acrescenta-se a palavra
Constituição, seguida do ano de promulgação, entre parênteses.
Observem-se os seguintes exemplos:
SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 42.822, de 20 de janeiro de 1998. Lex: coletânea de
legislação e jurisprudência, São Paulo, v. 62, n. 3, p. 217-220, 1998.
BRASIL. Medida provisória nº 1.569-9, de 11 de dezembro de 1997. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 14 dez. 1997. Seção 1, p.
29514.
BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Lex: coletânea de legislação: edição
federal, São Paulo, v. 7, 1943. Suplemento.
BRASIL. Código civil. 46. ed. São Paulo: Saraiva, 1995.
BRASIL. Congresso. Senado. Resolução nº 17, de 1991. Coleção de Leis da República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, v. 183, p. 1156-1157, maio/jun. 1991.
BRASIL. Constituição (1988). Emenda constitucional nº 9, de 9 de novembro de 1995.
Lex: legislação federal e marginália, São Paulo, v. 59, p. 1966, out./dez. 1995.
Para o caso de o documento jurídico ter sido consultado em meio eletrônico, deve-se
proceder à sua descrição física (disquetes, CD-ROM, online etc.). Para consultas online, deve-se
indicar o endereço e a data da consulta:
BRASIL. Regulamento dos benefícios da previdência social. In: SISLEX: Sistema de
Legislação, Jurisprudência e Pareceres da Previdência e Assistência Social. [S.l.]:
DATAPREV, 1999. 1 CD-ROM.
BRASIL. Lei nº 9.887, de 7 de dezembro de 1999. Altera a legislação tributária federal.
Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 8 dez. 1999. Disponível
em: <http://www.in.gov.br/mp_leis/leis_texto.asp?ld=LEI%209887>. Acesso em: 22 dez.
1999.
Metodologia para a elaboração de um TCC
54 Cirineu Cecote Stein
Para a referenciação de filme, DVD, entre outros, são elementos essenciais: “título,
diretor, produtor, local, produtora, data e especificação do suporte em unidades físicas”. Por
exemplo:
CENTRAL do Brasil. Direção: Walter Salles Júnior. Produção: Martire de Clermont-
Tonnerre e Arthur Cohn. Intérpretes: Fernanda Montenegro; Marilia Pera; Vinicius de
Oliveira; Sônia Lira; Othon Bastos; Matheus Nachtergaele e outros. Roteiro: Marcos
Bernstein, João Emanuel Carneiro e Walter Salles Júnior. [S.l.]: Le Studio Canal; Riofilme;
MACT Productions, 1998. 1 bobina cinematográfica (106 min), son., color., 35 mm.
Na referenciação de um documento iconográfico, como uma fotografia, ilustração,
cartaz, entre outros, os elementos essenciais são: “autor, título (quando não existir, deve-se
atribuir uma denominação ou a indicação Sem título, entre colchetes), data e especificação do
suporte”. Exemplo:
KOBAYASHI, K. Doença dos xavantes. 1980. 1 fotografia.
Com elementos complementares:
KOBAYASHI, K. Doença dos xavantes. 1980. 1 fotografia, color., 16 cm x 56 cm.
FRAIPONT, E. Amilcar II. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 30 nov. 1998. Caderno 2,
Visuais. p. D2. 1 fotografia, p&b. Foto apresentada no Projeto ABRA/Coca-cola.
Caso o documento iconográfico tenha sido consultado em meio eletrônico, utiliza-se
esse mesmo procedimento, acrescentando-se a descrição física do meio eletrônico e, caso tenha
sido consultado online, o endereço eletrônico e a data:
GEDDES, Anne. Geddes135.jpg. 2000. Altura: 432 pixels. Largura: 376 pixels. 51 Kb.
Formato JPEG. 1 disquete, 5 ¼ pol.
STOCKDALE, René. When’s recess? [2002?]. 1 fotografia, color. Disponível em:
<http://www.webshots.com/g/d2002/1-nw/20255.html>. Acesso em: 13 jan. 2001.
No segundo exemplo acima, a data e o ponto de interrogação entre colchetes, após o
título, indicam a possibilidade de a fotografia ter sido produzida nessa data, mas não há certeza
quanto a isso.
Pode ser necessário consultar um documento sonoro, no todo ou em parte. Para
estabelecer esse tipo de referenciação, são elementos essenciais: “compositor(es) ou
Recuperando aspectos da escritura
Cirineu Cecote Stein 55
intérprete(s), título, local, gravadora (ou equivalente), data e especificação do suporte”.
Exemplos:
ALCIONE. Ouro e cobre. São Paulo: RCA Victor, p1988. 1 disco sonoro.
MPB especial. [Rio de Janeiro]: Globo: Movieplay, c1995. 1 CD.
Outro exemplo, relacionado a uma entrevista, com elementos complementares:
SILVA, Luiz Inácio Lula da. Luiz Inácio Lula da Silva: depoimento [abr. 1991].
Entrevistadores: V. Tremel e M. Garcia. São Paulo: SENAI-SP, 1991. 2 cassetes sonoros.
Entrevista concedida ao Projeto Memória do SENAI-SP.
Alguns documentos têm acesso exclusivamente em meio eletrônico, como listas de
discussão, mensagens eletrônicas, programas, entre outros. Os elementos essenciais, nesse
caso, são: “autor(es), título do serviço ou produto, versão (se houver) e descrição física do meio
eletrônico”. Caso a consulta seja feita online, indicam-se também o endereço eletrônico e a data
de consulta. Exemplos:
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Biblioteca Central. Normas.doc. Curitiba, 1998. 5
disquetes.
ÁCAROS no Estado de São Paulo. In: FUNDAÇÃO TROPICAL DE PESQUISAS E TECNOLOGIA
“ANDRÉ TOSELLO”. Base de Dados Tropical. 1985. Disponível em:
<http://www.bdt.fat.org.br/acaro/sp/>. Acesso em: 30 maio 2002.
Com elementos complementares:
ALMEIDA, M. P. S. Fichas para MARC [mensagem pessoal].Mensagem recebida por
<[email protected]> em 12 jan. 2002.
Em uma nota, a NBR 6023, da ABNT, recomenda que mensagens de correio eletrônico
só devam ser referenciadas se não houver nenhuma outra fonte que permita a referenciação do
assunto em discussão. Isso porque esse tipo de mensagem tem “caráter informal, interpessoal e
efêmero, e desaparecem rapidamente, não sendo recomendável seu uso como fonte científica
ou técnica de pesquisa”.
Em relação à indicação de autores, considere-se que a autoria de um documento pode
ser atribuída a pessoas ou a entidades. Quanto à autoria pessoal, indica-se o “último
sobrenome, em maiúsculas, seguido do(s) prenome(s) e outros sobrenomes, abreviado(s) ou
não”. A recomendação é que seja seguido um mesmo padrão para o caso de abreviação em uma
mesma lista de referências. Ou seja, se se abrevia o nome de um autor, deve-se abreviar o de
Metodologia para a elaboração de um TCC
56 Cirineu Cecote Stein
todos. Para os nomes de vários autores em uma mesma referência, utiliza-se ponto e vírgula
seguido de espaço para separá-los. Exemplos:
ALVES, Roque de Brito. Ciência criminal. Rio de Janeiro: Forense, 1995.
DAMIÃO, Regina Toledo; HENRIQUES, Antonio. Curso de direito jurídico. São Paulo:
Atlas, 1995.
PASSOS, L. M. M.; FONSECA, A.; CHAVES, M. Alegria de saber: matemática, segunda
série, 2, primeiro grau: livro do professor. São Paulo: Scipione, 1995. 136 p.
Caso haja mais de três autores, será indicado apenas o primeiro, acrescido da expressão
latina “et al.”, sem aspas. Caso seja necessário certificar a autoria de todos os envolvidos (como
em projetos de pesquisa, entre outros), faculta-se a indicação de todos os nomes. Exemplo:
URANI, A. et al. Constituição de uma matriz de contabilidade social para o Brasil.
Brasília, DF: IPEA, 1994.
Quando se tratar de obras coletivas, indica-se o nome do responsável, acompanhado da
“abreviação, no singular, do tipo de participação (organizador, compilador, editor, coordenador
etc.), entre parênteses”. Exemplos:
FERREIRA, Léslie Piccolotto (Org.). O fonoaudiólogo e a escola. São Paulo: Summus,
1991.
MARCONDES, E.; LIMA, I. N. de (Coord.). Dietas em pediatria clínica. 4. ed. São Paulo:
Sarvier, 1993.
Em se tratando de responsabilidade atribuída a entidades (congressos, associações,
órgãos governamentais etc.), faz-se a entrada pelo seu próprio nome, por extenso:
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10520: informação e
documentação: citações em documentos: apresentação. Rio de Janeiro, 2002.
A entidade pode ter uma denominação genérica (por exemplo, “Secretaria de Estado da
Educação”) ou uma denominação específica. No primeiro caso, seu nome deverá ser antecedido
do nome do órgão superior, ou do nome da jurisdição geográfica a que pertence, como nos
exemplos a seguir:
SÃO PAULO (Estado). Secretaria do Meio Ambiente. Diretrizes para a política ambiental
do Estado de São Paulo. São Paulo, 1993. 35 p.
BRASIL. Ministério da Justiça. Relatório de atividades. Brasília, DF, 1993. 28 p.
Recuperando aspectos da escritura
Cirineu Cecote Stein 57
No segundo caso (denominação específica), a entrada será feita diretamente pelo seu
nome:
BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil). Relatório da Diretoria-Geral: 1984. Rio de Janeiro, 1985.
40 p.
Quando não se conhecer o autor, faz-se a entrada pelo título:
DIAGNÓSTICO do setor editorial brasileiro. São Paulo: Câmara Brasileira do Livro, 1993.
64 p.
Para os títulos e subtítulos, ambos deverão ser apresentados como figuram no
documento original, separados por dois-pontos. Observe-se que, no segundo exemplo abaixo,
apenas o título se encontra em negrito:
PASTRO, Cláudio. Arte sacra. São Paulo: Loyola, 1993.
PASTRO, Cláudio. Arte sacra: espaço sagrado hoje. São Paulo: Loyola, 1993. 343 p.
Para a edição, caso haja indicação, deve-se utilizar abreviaturas dos numerais ordinais e
da palavra edição:
PEDROSA, Israel. Da cor à cor inexistente. 6. ed. Rio de Janeiro: L. Cristiano, 1995. 219 p.
No caso de documentos eletrônicos, a versão utilizada equivalerá à edição:
ASTROLOGY source. Version 1.0A. Seattle: Multicom Publishing, c1994. 1 CD-ROM.
Quanto ao local da publicação, deve ser apresentado como figura no documento:
ZANI, R. Beleza, saúde e bem-estar. São Paulo: Saraiva, 1995. 173 p.
Caso haja mais de um local para uma só editora, será indicado o primeiro ou mais
destacado. No exemplo abaixo, a obra apresentou a editora Makron Books nas cidades “São
Paulo – Rio de Janeiro – Lisboa – Bogotá – Buenos Aires – Guatemala – México – New York – San
Juan – Santiago etc.”. Referenciou-se o primeiro local:
Metodologia para a elaboração de um TCC
58 Cirineu Cecote Stein
SWOKOWSKI, E. W.; FLORES, V. R. L. F.; MORENO, M. Q. Cálculo de geometria analítica.
Tradução de Alfredo Alves de Faria. Revisão técnica Antonio Pertence Júnior. 2. ed. São
Paulo: Makron Books do Brasil, 1994. 2 v.
Caso o documento não indique a cidade, mas ela possa ser identificada, seu nome será
indicado entre colchetes:
LAZZARINI NETO, Sylvio. Cria e recria. [São Paulo]: SDF Editores, 1994. 108 p.
Caso não seja possível determinar o local, deve-se utilizar a abreviação [S.l.] (do latim
sine loco]:
OS GRANDES clássicos das poesias líricas. [S.l.]: Ex Libris, 1981. 60 f.
Para a indicação da editora, faz-se a indicação como consta no documento. No entanto,
os prenomes deverão ser abreviados e as palavras designativas da natureza jurídica ou comercial
serão suprimidas. No exemplo abaixo, consta na publicação “Livraria José Olympio Editora”:
LIMA, M. Tem encontro com Deus: teologia para leigos. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1985.
Quanto à indicação da data de publicação, utilizam-se algarismos arábicos. Sempre deve
ser indicada uma data, uma vez que se trata de um elemento essencial para a referência. Caso
não se consiga determinar data alguma de publicação, deve-se fazer o registro de uma data
aproximada entre colchetes, segundo as indicações abaixo:
[1971 ou 1972] um ano ou outro
[1969?] data provável
[1973] data certa, não indicada no item
[entre 1906 e 1912] use intervalos menores de 20 anos
[ca. 1960] data aproximada
[197-] década certa
[197-?] década provável
[18--] século certo
[18--?] século provável
Recuperando aspectos da escritura
Cirineu Cecote Stein 59
Como exemplo:
FLORENZANO, Everton. Dicionário de idéias semelhantes. Rio de Janeiro: Ediouro,
[1993]. 383 p.
Caso seja necessário identificar a obra com informações complementares, isso será feito
ao final da referência, sem destaque tipográfico. No primeiro exemplo abaixo, trata-se de uma
obra copiada manualmente; no segundo, “no prelo” indica que a obra já foi enviada para
publicação:
LAURENTI, R. Mortalidade pré-natal. São Paulo: Centro Brasileiro de Classificação de
Doenças, 1978. Mimeografado.
MARINS, J. L. C. Massa calcificada da naso-faringe. Radiologia Brasileira, São Paulo, n.
23, 1991. No prelo.
Quando se tratar de teses, dissertações ou outros trabalhos acadêmicos, deverá ser
feita essa indicação em nota, indicando-se também “o grau, a vinculação acadêmica, o local e a
data da defesa, mencionada na folha de aprovação (se houver)”:
MORGADO, M. L. C. Reimplante dentário. 1990. 51 f. Trabalho de Conclusão de Curso
(Especialização)–Faculdade de Odontologia, Universidade Camilo Castelo Branco, São
Paulo, 1990.
ARAUJO, U. A. M. Máscaras inteiriças Tukúna: possibilidades de estudo de artefatos de
museu para o conhecimento do universo indígena. 1985. 102 f. Dissertação (Mestrado
em Ciências Sociais)–Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, São Paulo,
1986.
ALENTEJO, Eduardo. Catalogação de postais. 1999. Trabalho apresentado como
requisito parcial para aprovação na Disciplina Catalogação III, Escola de Biblioteconomia,
Universidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1999.
Ao se elaborar a lista de referências, em seção específica, pode-se adotar o sistema
alfabético ou o numérico. Para efeitos deste texto, será considerado apenas o sistema
alfabético. Portanto, a indicação se faz no sentido de apresentar todas as referências em ordem
alfabética. Sugestão: para dispor todas elas alfabeticamente, sem que se corra o risco de
cometer algum erro, basta selecioná-las em bloco e, na barra do editor de texto, acionar o botão
que contém uma seta ladeada pelas letras A Z.
Caso haja referências de mais de uma obra de um mesmo autor, em uma mesma
página da seção de referências bibliográficas, é possível, nas referências subsequentes à
Metodologia para a elaboração de um TCC
60 Cirineu Cecote Stein
primeira, substituir o nome do autor por um traço sublinear (equivalente a seis espaços) e
ponto:
FREYRE, Gilberto. Casa grande & senzala: formação da família brasileira sob regime de
economia patriarcal. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1943. 2 v.
______ . Sobrados e mucambos: decadência do patriarcado rural no Brasil. São Paulo:
Ed. Nacional, 1936.
5.9. Anexos que valem a pena utilizar
Utilizar anexo(s) é opcional em um artigo. Portanto, o primeiro questionamento que se
deve levantar quando se cogita essa possibilidade é se o anexo que se pretende utilizar
realmente é útil ao trabalho como um todo.
Existem informações muito importantes que, no entanto, não cabem ao longo das
partes textuais. Imagine-se, por exemplo, que, para se fazer um levantamento das dificuldades
de aprendizagem encontradas em uma determinada comunidade, tenham sido aplicados
questionários. O leitor-cientista desejará conhecer as perguntas utilizadas, uma vez que buscará
analisar a sua natureza, a sequência em que elas foram dispostas, a própria lógica norteadora
dos questionários. Apresentar esse(s) questionário(s) no corpo do texto é inviável, porque isso
quebraria o fluxo da escritura, direcionando a atenção do leitor para outra informação que não é
exatamente necessária naquele ponto do texto. Nessas situações específicas, referencia-se o
anexo, e o leitor, caso assim o deseje, direcionará sua atenção para essa parte, durante ou após
a leitura do trecho em questão.
Em princípio, podem constituir anexos quaisquer informações necessárias a uma
complementação acessória do texto, desde tabelas a fotografias. Assim como para os outros
tipos de anexos (questionários, tabelas, documentos oficiais etc.), é preciso ter um cuidado
muito grande com o uso de imagens. O primeiro ponto a considerar é o fato de, não sendo essas
imagens autorais (ou seja, produzidas pelo próprio autor do artigo), sempre deverá ser feita
referência a quem as produziu, respeitando-se os princípios dos direitos autorais. Um segundo
ponto diz respeito à seleção dessas imagens.
No caso dos artigos de relatos de experiência, é muito comum que seus autores desejem
apresentar fotografias ilustrando aspectos da experiência vivenciada. Se isso for realmente
necessário, é preciso selecionar imagens que sejam significativas, que transmitam uma
mensagem. Embora este não seja o espaço para essa discussão, é preciso considerar que a
imagem em uma fotografia pode apresentar todo um fluxo narrativo, mostrando-se
especialmente expressiva. Deve-se selecionar imagens com boa nitidez (foco nítido), bom
enquadramento, e que não sejam repetitivas. É desnecessário, por exemplo, apresentar várias
fotografias de um mesmo grupo durante a execução de uma atividade, se o objetivo dessa
apresentação é simplesmente documentar a realização da atividade. Seria diferente, no entanto,
Recuperando aspectos da escritura
Cirineu Cecote Stein 61
se estivesse prevista a evolução na prática de uma técnica de manufatura, por exemplo. Uma
primeira fotografia poderia ilustrar o trabalho produzido por um dos envolvidos antes da
intervenção do pesquisador, e outra retrataria o trabalho após a intervenção (idealmente, de
melhor qualidade que o primeiro). Ou seja, é preciso que a seleção fotográfica transmita uma
informação precisa e significativa. Se assim não for, não vale a pena ser utilizada.
6. Considerações finais
6.1. O seu texto espelha você
Um texto não são apenas elementos gráficos dispostos em uma folha: um texto
caracteriza a própria identidade de seu autor.
Por mais forte que essa afirmativa possa parecer, de fato é possível traçar um perfil
psicológico (ainda que parcial) do autor de um texto, mesmo que se trate de um texto de
natureza científica. A forma como as frases são construídas, a organização das ideias, o cuidado
na apresentação dos dados, o esmero com a precisão das informações, além de outros pontos,
contribuem para que o leitor (experiente) perceba a personalidade daquele autor. Não se pode
desconsiderar que um texto mal apresentado – diagramação mal feita, erros de ortografia, de
regência, de concordância, falta de coesão e, principalmente, de coerência entre as informações
– sugere que seu autor é uma pessoa desorganizada, que não respeita seu próprio texto e, por
conseguinte, o leitor.
Como discutido anteriormente, as características de um gênero textual permitem que o
leitor familiarizado com ele assuma um determinado modo de leitura, reconhecendo e
interpretando os códigos utilizados. Ao deparar com um texto científico, o leitor terá a
expectativa de que todas as normas próprias desse gênero textual tenham sido seguidas. Caso o
autor não as tenha respeitado, o leitor, caso persista na leitura, encontrará uma certa
dificuldade em sua tarefa – e o esforço cognitivo que deveria ser empregado no entendimento
da proposta do trabalho terá que ser direcionado para rearranjar o texto. Quando isso ocorre, o
leitor está sendo desrespeitado. Naturalmente, haverá perda de boa vontade da parte do leitor
quanto à apreciação daquele texto.
Idealmente (e esse ideal deve ser perseguido), o texto final deverá refletir harmonia
entre suas partes, com as ideias apresentadas de forma clara, devidamente exploradas em sua
essência. Respeitando-se, naturalmente, os limites de cada etapa acadêmica (muito
provavelmente o nível de discussão verificado em um TCC de graduação não será o mesmo que
o de uma dissertação de mestrado), a discussão deve ser suficientemente aprofundada, para
que o texto não seja superficial em seu conteúdo. As informações devem ser bem selecionadas,
e dispostas de uma forma tal que o raciocínio seja conduzido de forma lógica.
Apesar de isso parecer uma tarefa que demanda muito esforço – e muitas vezes
realmente demanda –, é possível produzir um TCC de muito boa qualidade. O ponto principal
para isso talvez seja uma boa organização do trabalho e de suas partes, cumprindo cada uma
delas com determinação.
Considerações finais
Cirineu Cecote Stein 63
6.2. O papel do orientador
O orientador, tecnicamente, é uma pessoa com maior experiência acadêmica do que a
de seu orientando. Seu papel é indicar a melhor forma de percorrer o caminho necessário à
meta final, que é a produção de um trabalho acadêmico relevante.
Muitas vezes, o orientando é uma pessoa de bastante iniciativa e de grande
independência de pensamento. Mesmo nesses casos, o orientador, baseado em sua própria
história pessoal, poderá indicar formas mais apropriadas de condução do trabalho ou de partes
dele. Um ponto crucial em qualquer pesquisa, por exemplo, é a constituição do corpus a ser
utilizado (se for o caso). Caso se escolha um corpus que não tenha sido suficientemente
pensado, suficientemente amadurecido, corre-se o risco de se ter que refazê-lo. O detalhe é
que, tendo já sido feita a coleta, gastou-se tempo, esforço físico e mental, dinheiro e
disponibilidade dos informantes. Um corpus com falhas pode gerar um grande prejuízo; por isso,
é fundamental que o orientando trabalhe em conjunto com o orientador nessa formulação, para
que haja o menor número de falhas possível.
O orientador deve acompanhar todas as etapas do trabalho, desde a seleção
bibliográfica até a redação final do texto. Não se pode imaginar, portanto, que, ao final dos
prazos estabelecidos, o orientando apresente um texto para avaliação de cujo conteúdo ou
forma de elaboração o orientador não tenha ciência. A orientação implica sugerir caminhos,
métodos, análises, formas de escritura.
No entanto, não é papel do orientador cuidar do orientando como se ele fosse um pré-
escolar. O orientando tem suas responsabilidades – e deve-se considerar que o trabalho em
desenvolvimento pertence ao orientando, não ao orientador. Não cabe ao orientador, portanto,
sempre cobrar o cumprimento das etapas, o estabelecimento de contato. Nunca se deve
esquecer, mais uma vez, que o trabalho sendo desenvolvido é responsabilidade do orientando.
6.3. Orientador não é revisor
Como já comentado, um texto mal escrito transmite péssimas impressões ao leitor. Um
trabalho produzido por qualquer acadêmico deve pelo menos ser escrito conforme as
prescrições da norma padrão. E isso não se aplica apenas a profissionais ou estudantes da área
de Letras, mas principalmente a eles.
Mesmo um autor bastante experimentado e que apresente grande domínio da norma
padrão comete desvios na primeira escritura de um texto. No entanto, nunca se deve apresentar
um texto a outros sem que se faça antes uma revisão criteriosa do que foi escrito (infelizmente,
mesmo com inúmeras revisões, quando um trabalho é publicado sempre se verifica, ainda,
algum defeito; o importante é minimizá-los ao máximo). Não se pode aceitar desculpas como
“escrevi com pressa”. Cognitivamente, a pressa não justifica esse tipo de erro. A ortografia, por
exemplo, é uma questão de internalização cognitiva: ou se sabe como escrever uma palavra ou
Metodologia para a elaboração de um TCC
64 Cirineu Cecote Stein
não se sabe. Ninguém que tenha internalizado que “exceção” se escreve com “xc” e “ç”
escreverá “esseção”, com “ss”, ainda que esteja prestes a cair de um despenhadeiro.
Muitas vezes, o orientando apresenta um texto ao orientador extremamente mal escrito
e o orientador se vê compelido a reelaborar todo o texto (o orientador, então, passa a ser o
autor do texto?). Isso é inadmissível. O orientando tem que assumir sua responsabilidade
quanto à qualidade do texto como um todo. O orientando deve cuidar da revisão de seu texto, e
não imaginar que seu orientador é que deverá fazer isso.
A título de reflexão: como um profissional que atuará como professor da área de Letras
não sabe redigir de forma apropriada, não conhece a própria ortografia de sua língua, da língua
que terá que ensinar em sala de aula? Não se ensina o que não se sabe.
6.4. O cumprimento dos prazos
Respeitar os prazos é condição indispensável para o bom andamento de qualquer
trabalho. Tempo é, basicamente, uma questão de disposição e de organização.
Dificilmente, na vida acadêmica, se está envolvido com um único trabalho. Normalmente
não se está desenvolvendo apenas um TCC: também há várias outras disciplinas em curso.
Admitindo-se que a vida acadêmica é um dos principais objetivos da vida de quem se envolveu
nela, é fundamental gerenciar o tempo de forma a atender a todas as necessidades. Com
organização, consegue-se fazer muito mais do que se imagina.
Imprevistos sempre ocorrem. É preciso, portanto, prevê-los. Para isso, é desejável
antecipar-se aos prazos pré-estabelecidos. Não se pode admitir, por exemplo, a desculpa de que
não havia conexão de internet para envio de um arquivo no último dia de um dado prazo, pela
simples razão de todos saberem que isso pode acontecer. Não se deixe para enviar um
documento, apresentar um atividade, o que quer que seja, no último momento. Não se participa
de um concurso público depois de os portões terem sido fechados. Não se entrega a declaração
do imposto de renda sem multa depois de concluído o prazo de envio – mesmo que o sistema
tenha estado sobrecarregado, ou não tenha existido conexão.
Referências
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