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" AbNi!../J. 010 ----------- ) Dori Edson Nava Pesquisador em Entomologia / Controle Biológico, Embrapa Clima Temperado Pelotas / RS Glaucia de Figueiredo Nachtigal Pesquisadora em Sanidade Vegetal/Controle Biológico de Plantas Invasoras, Embrapa Clima Temperado Pelotas / RS Oontrole biológicodepragas nosuldo Brasil vem se consolidandocomo uma alternativa ao controle químico de acordo com os preceitos do manejo inte- grado de pragas (MIP). Historicamente, alguns dos programas implementados sob as estratégias do controle biológico clássico (liberações inoculativas) e aplicado (liberações inundativas) tiveram sucesso e muitos deles são utilizados \ até os dias atuais. \ Recentemente, esforços têm sido com grande potencial de direcionados para consolidar desenvolvimento também no sul o controle biológico natural do Brasil, onde as infestações de (conservação), quer pelo uso espécies invasoras importantes de agroquímicos seletivos aos ocorrem nos sistemas produtivos inimigos natú~ais, ou até pela ./ regionais, com destaque para a manipulação do meio onde as tiririca roxa (Cyperus rotundus) e plantas são cultivadas com o a grama-seda (Cynodon dactylon) aumento das áreas de refúgio em fruteiras de clima temperado, e as alterações das técnicas de A região sul do Brasil é a cultivo, principal produtora de frutas de Apesar do grande volume de clima temperado, com destaque trabalhos científicos na área de para a macieira, o pessegueiro, controle biológico de doenças o morangueiro e a videira, Estas de plantas, poucos produtos à culturas, em conjunto, ocupam base de micro-organismos para uma área de aproximadamente controle de doenças e plantas 100.000 hectares só no Rio invasoras estão disponíveis Grande do Sul e são cultivadas, no mercado e, no caso do principalmente, em pequenas Brasil, esta lacuna tem maiores propriedades de base familiar, proporções. sendo por isto, importantes não A exploração de agentes só pela questão econômica, mas biológicos para o controle também social. de plantas invasoras é uma A agricultura moderna exige área ainda pouco explorada que as operações de manejo e difundida no país, porém das espécies indesejadas .. sejam economicamente viáveis e, principalmente, seguras em termos de minimização da contaminação ambiental. Neste contexto, o manejo de pomares tem passado por modificações em decorrência da substituição do sistema convencional, amplamente usado pelos fruticultores, para os sistemas orgânico e integrado. Ao considerar os sistemas produtivos de base ecológica (orgânicos, dentre outros), a presença destas espécies dificulta o uso e o manejo do solo pelos agricultores, o que tem incentivado o uso de técnicas alternativas para o controle, O uso de métodos que favoreçam a diversidade, evitando a seleção de espécies, aliado à importância de se adotar métodos com os quais se obtenha o mínimo distúrbio do I 1- '! 15

AbNi!../J. - Embrapa

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AbNi!../J. 010----------- )

Dori Edson NavaPesquisador em Entomologia / Controle Biológico, Embrapa Clima TemperadoPelotas / RS

Glaucia de Figueiredo NachtigalPesquisadora em Sanidade Vegetal/Controle Biológico de Plantas Invasoras, Embrapa Clima TemperadoPelotas / RS

Oontrole biológicodepragas no sul doBrasil vem se consolidandocomouma alternativa ao controle químico de acordo com os preceitos do manejo inte-grado depragas (MIP). Historicamente, alguns dos programas implementadossob as estratégias do controle biológico clássico (liberações inoculativas) eaplicado (liberações inundativas) tiveram sucesso e muitos deles são utilizados

\até os dias atuais. \

Recentemente, esforços têm sido com grande potencial dedirecionados para consolidar desenvolvimento também no sulo controle biológico natural do Brasil, onde as infestações de(conservação), quer pelo uso espécies invasoras importantesde agroquímicos seletivos aos ocorrem nos sistemas produtivosinimigos natú~ais, ou até pela ./ regionais, com destaque para amanipulação do meio onde as tiririca roxa (Cyperus rotundus) eplantas são cultivadas com o a grama-seda (Cynodon dactylon)aumento das áreas de refúgio em fruteiras de clima temperado,e as alterações das técnicas de A região sul do Brasil é acultivo, principal produtora de frutas de

Apesar do grande volume de clima temperado, com destaquetrabalhos científicos na área de para a macieira, o pessegueiro,controle biológico de doenças o morangueiro e a videira, Estasde plantas, poucos produtos à culturas, em conjunto, ocupambase de micro-organismos para uma área de aproximadamentecontrole de doenças e plantas 100.000 hectares só no Rioinvasoras estão disponíveis Grande do Sul e são cultivadas,no mercado e, no caso do principalmente, em pequenasBrasil, esta lacuna tem maiores propriedades de base familiar,proporções. sendo por isto, importantes não

A exploração de agentes só pela questão econômica, masbiológicos para o controle também social.de plantas invasoras é uma A agricultura moderna exigeárea ainda pouco explorada que as operações de manejoe difundida no país, porém das espécies indesejadas

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sejam economicamente viáveise, principalmente, segurasem termos de minimizaçãoda contaminação ambiental.Neste contexto, o manejo depomares tem passado pormodificações em decorrênciada substituição do sistemaconvencional, amplamente usadopelos fruticultores, para ossistemas orgânico e integrado.Ao considerar os sistemasprodutivos de base ecológica(orgânicos, dentre outros),a presença destas espéciesdificulta o uso e o manejodo solo pelos agricultores, oque tem incentivado o uso detécnicas alternativas para ocontrole,

O uso de métodos quefavoreçam a diversidade,evitando a seleção de espécies,aliado à importância de seadotar métodos com os quais seobtenha o mínimo distúrbio do

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solo, faz do controle biológicouma alternativa possível. Háde se considerar, ainda, quea transformação das basesecológicas da produção tendea ser gradual e, no processode transição, a redução ea racionalização do uso deinsumos químicos, bem comoa substituição destes poroutros de origem biológica énecessário. Neste contexto, ocontrole biológico por meio dosbioherbicidas, uma estratégiaque utiliza fitopatógenosaplicados em doses maciças erepetidas vezes, à semelhançados herbicidas químicossintéticos, poderiam assumir umimportante papel no manejodesta planta invasora emsistemas produtivos d~ transição.O manejo racional da ti ririca roxatem sido alvo de pesquisas naEmbrapa Clima Temperado, emparceria com outras instituiçõesde pesquisa do país, comvista à avaliação, nos sistemas

. produtivos de fruteiras declima temperado, de agentesanteriormente prospectados ecom potencial de biocontrole.Adicionalmente, busca-seconhecer e caracterizar adiversidade de inimigos naturaisoriundos da região sul do Brasil,tanto para tiririca roxa quantopara grama-seda, em um esforçopara a geração de tecnologiade base biológica, adaptadaàs condições climáticas do RioGrande do Sul, que possa serinseri da em sistemas integradosde controle desta espécie nossistemas produtivos de fruteirasde clima temperado.

Instituições ·governamentaisou não, nacionais einternacionais, sinalizam oemprego de meios alternativosde manejo, menos agressivosao meio ambiente, visando

favorecer a conservaçãoda biodiversidade nativa.Infestações de espécies invasorasexóticas (oriundas de outrospaíses) tem comprometido adiversidade da flora nativa emcondições naturais, à exemplodo capim-annoni-2 (Eragrostisplana) que, somente no RioGrande do Sul, já comprometeuuma área estimada em 2.200.000ha, justificando a implementaçãode programas de pesquisa emcontrole biológico desta espécie.

Importante também ésalientar que a implementaçãodo controle biológico é umaalternativa para a reduçãoda dependência aos insumosquímicos importados, queem determinadas situaçõespodem ser um fator decisivo naprodução de alimentos.

As chances de sucessode controle biológico estãofundamentadas na escolhado agente de biocontroleapropriado para as condiçõesonde a praga é prevalecente.Por outro lado, pouco temsido implementado em termospráticos, dadas as limitaçõesimpostas aos produtosbiológicos, notoriamentea sensitividade aos fatoresambientais, problemasde formulação, extremaespecificidade, tempo deaplicação e persistência doefeito. O conhecimento destesaspectos é necessário para queo desenvolvimento do controlebiológico natural, clássico eaplicado se torne uma realidadeno sul do Brasil.

A seguir será abordadode forma resumida alguns

programas de controle biológicoque foram implementados nosul do Brasil por universidades eempresas de pesquisas publicas,que atingiram os objetospropostos.

Trissoleus basalis para ocontrole de percevejosfitofágos na cultura da sojaEste programa de controlebiológico foi desenvolvido pelaEmbrapa Soja, utilizando o para:sitóide de ovos T. basalis para ocontrole dos percevejos Nezaraviridula (percevejo-verde),Piezodorus guildinii (percevejo-verde-pequeno) e Euschistusheros (percevejo-marrom), con-siderados os mais importantesda cultura. A vespinha é pro-duzida em laboratório e depoisdistribuída para os produtorespara ser liberada nas lavouras.Embora T. basali seja a espécie

ti mais frequentemente encontradanas lavouras, várias outras espé-cies são registradas parasitandoos percevejos da soja, indicandoque se bem utilizado, o con-trole biológico aplicado com aliberação de T. basalis poderárestabelecer o controle biológiconatural.

Certamente, parte dosucesso do estabelecimentodo MIP-soja só foi possívelgraças à utilização de T. basalispara o controle dos percevejosfitófagos.

Atualmente, a técnicaestá difundida em todoo país. No ano de 2008,aproximadamente 25 mil vespasforam produzidas pela EmbrapaSoja e distribuídas para osprodutores para a liberação

o controle biológico da lagarta-da-soja utili-zando baculovírus foi considerado um dos maioresprogramas do mundo, chegando a tratar cerca de

dois milhões de hectares de soja na década de 1990.

no Paraná. Cabe ressaltar quehoje é recomendado também aliberação de uma outra vespaTelenomus podisus, que tambémé produzida em laboratório eliberada junto com T. basalis.Embora os parasitóides sejameficientes, alguns problemascomo a falta de empresas quecomercializem os parasitóides,impede que a área tratadaaumente.

Baculouirus anticarsia parao controle da lagarta-da-sojaAntiearsia gemmatalisEsta tecnologia, desenvolvida ;"'pela Embrapa Soja, juntamentecom a utilização de vespas parao controle dos percevejos dasoja, foram os principais fatoresresponsáveis pelo sucesso doMIP-Soja. No caso, a utilizaçãode B. anticarsia para o controleda lagarta foi considerado umdos maiores programas decontrole biológico já desenvol-

< Parasitóide T. basalisAs liberações deTrissolcus basalisna soja reduziramas aplicações deinseticidas de 2,8 para1,2 vezes ao anoem Campo Mourão, PR

vido no mundo, devido à grandeárea tratada, principalmente noParaná e no Rio Grande do Sul.Na safra de 2002, este bioin-seticida foi utilizado em cercade 1,4 milhões de hectares desoja, sendo 40% desse totalconcentrado no Estado doParará Embora a área tratadaatualmente tenha diminuído porrazões como o surgimento daferrugem da soja, que tem modi-ficado o sistema de tratamentofitossanitário, acredita-se quehaja uma demanda de cerca de4 milhões de hectares por ano,embora a área tratada em 2008foi de aproximadamente 400 milhectares. Entre as razões pelosucesso deste programa está ofato de ser uma tecnologia defácil produção dos hospedeirosdo vírus, além da produção e daaplicação serem relativamentesimples.

Como para os demaisbioinseticidas, a tecnologia

Agentes de controle biológico que são comercializadosatualmente na região sul do Brasil:

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:l/""!.l-II'I' )1.:: [;~u.;:~)'-\ = \', 'ilf~}: 1- ,1~';1 I,Baculovirus anticarsia 1 Lagarta-da-soja Soja 350 a 400.000

Trissolcus basalis e Percevejos SojaTelenomus podisi 2-

Neoseiulus californicus 3 Ácaro-rajado Morangueiro 10Flores

Trichogramma pretiosum 4Lagarta-do- Milho 3.000cartucho-do-milho

1 Fonte: Dr. Flavio Moscardi da Embrapa Soja, Comunicação pessoal.2 Não se sabe a área tratada, mas são produzidos cerca de 25.000 parasitóides por ano.

Fonte: Dra. Beatriz Correa Ferreira da Embrapa Soja, Comunicação pessoal.3 Fonte: Dr. Marcelo Poletti da Promip. Comunicação pessoal.4 Fonte: Eng. Agro. Luiz Antonio Rocha Barcellos da Emater

regional de Santa Maria, Comunicação pessoal.

de aplicação e/ou liberação,a qualidade dos agentes decontrole biológico produzidos eo monitoramento da lagarta-da-soja são os pontos fundamentaispara se obter sucesso.

Neoseiulus californicus parao controle do ácaro-rajadoOs programas de controlebiológico do ácaro-rajadocom a utilização do fitoseídeoN. californicus, apesar de seruma tecnologia que vem hámuito tempo sendo utilizada naEuropa, somente nos últimosquatro anos foi implemen-ta da no Brasil, com a criaçãode empresas que produzeme comercializam agentes decontrole biológico. Desta forma,embora pesquisas estejam sendofeitas para validar a tecnologiapara as nossas condições, osácaros predadores já estãosendo comercializados para pro-dutores de morango e de floresno sul do Brasil, em especial noRio Grande do Sul. O ácaro-rajado é a principal praga doscultivos de rosas e cravos, espe-cialmente em casa de vegetaçãoe de morangos em sistemasde túneis baixos, demandandovárias aplicações de acaricidasdurante a safra.

A Universidade Federalde Pelotas e a Embrapa ClimaTemperado estão participandoconjuntamente de um projetopara validar a utilização destatecnologia para os produtoresda região sul do Rio Grande doSul, juntamente com a utilizaçãode outros métodos alternativosde controle que garantama segurança alimentar dosmorangos produzidos e causemum menor impacto negativosobre o meio ambiente e ohomem.

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Neoseiulus ealifornicus parao controle do ácaro-vermelhoPanonychus ulmiAssim como a liberação deN. californicus para o controledo ácaro-rajado, o controle doácaro-vermelho na macieira foium marco histórico no controlebiológico no Brasil. Atualmente,as liberações comerciais-deácaros predadores não estãomais sendo feitas a tal pontoque o ácaro-vermelho deixou deser considerado praga-chave.Este fato provavelmente estárelacionado à presença doácaro predador nos pomares,que era desfavorecida pelogrande número de aplicaçõesde inseticidas do grupo dospiretróides. Com a diminuiçãodas aplicações, a populaçãodo ácaro-predador aumentou,indicando que o controle bioló-gico natural está presente e éimportante para a manutençãodo nível de equilíbrio das popu-lações de insetos-praga.

Trichogramma pretiosumpara o controle da lagarta-do-cartucho do milho SpodopterafrugiperdaO controle biológico da lagarta-do-cartucho do milho vem sendorealizado na região central doEstado do Rio Grande do Sul eé coordenado pela Emater-RS.O programa abrange uma áreade 25 municípios e, no ano de2008, representou um total de3.000 hectares. T.pretiosum éuma pequena vespa que controlaS. frugiperda na fase de ovo.Embora existam vários outrosparasitóides de ovos, lagartas,pupa e predadores, o programaestá sendo desenvolvido háquatro anos e tem aumentado,nos últimos anos, o númerode produtores interessados nocontrole biológico.18

Controle biológico dos pulgõesdo trigoEste programa foi desenvolvidopela Embrapa Trigo juntamentecom outras instituições e teveinício no ano de 1978, com aimportação de microimenóp-teros das famílias Aphidiidae eAphelinidae e de duas espéciesde joaninhas predadoras dediversos países.

Após a importação, osinimigos naturais eram criadosem laboratório e casa devegetação e liberados nos trigaisdo Rio Grande do Sul, SantaCatarina, Paraná, Mato Grossodo Sul e Argentina. Atualmente,não estão sendo realizadasliberações, uma vez que váriosinimigos naturais importados seestabeleceram nas lavouras, maspesquisas recentes demonstrama atuação destes parasitóides.Trata-se de um programa decontrole biológico clássico quetrouxe resultados positivosno controle dos pulgões dotrigo e ainda vem auxiliandonaturalmente no equilíbrio daspopulações dos pulgões.

Ainda existem outrosprogramas de controlebiológico no sul do país, comoo desenvolvido pela EmbrapaFloresta, de Colombo, PR.Essa empresa desenvolveuum programa de sucesso docontrole da vespa-da-madeira,Sirex noctilio, com o nematóideDeladenus siricidicola e com osparasitóides Ibalia leucospoides,Megarhyssa nortoni e Rhyssapersuasoria. As liberações donematóide e dos parasitóidescomeçaram na década de 1990 eatingiram mais de 8.000 hectaresem 2005.

Apesar de existir no suldo Brasil alguns programasde controle biológico que sãoclássicos, poucas espécies

de pragas são controladaspor inimigos naturais, tantoem culturas anuais comoem perenes. Este fato éobservado tanto para insetoscomo para doenças e plantasinvasoras, sendo que paraestes dois últimos grupos, osprogramas de controle biológicoainda são poucos.

Embora o controlebiológico seja considerado umaciência, a sua aplicabilidadesó será possível a partir doembasamento científico etecnológico nas suas diversaslinhas de conhecimento trazendoum avanço significativo para suaimplementação nos sistemasprodutivos da região sub-tropicaldo Brasil, que abrange os trêsestados dos sul. •

Vespinha emergindo demúmia do pulgão do trigo

Foto: P.R.V.S. Pereira

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