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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 7 • nº1270
Setembro/2013
A vida de Lucas: exemplo da troca de benefícios com o semiárido
Irecê
Falar em Lucas e seu trabalho na roça é
exatamente falar em convivência com o
Semiárido. Seu método de trabalho não consiste
somente em retirar da terra o que precisa para
sobreviver. Ele foi muito além disso! Imbuiu-se de
conhecimento para zelar, cultivar e mantê-la
saudável respeitando tudo o que ela trás de
natural. Lucas Honorato de Souza, 44 anos, pai de
dois filhos casado com Rivete Rocha Miranda de
32 anos. Antes de investir em sua propriedade ele
viajava para São Paulo, lá trabalhava durante um
tempo e retornava com dinheiro para a Bahia. foi
com a desilusão de três viagens que percebeu a necessidade de conviver com o
Semiárido. Segundo Lucas ‘’Lá eu percebi que aqui tinha jeito, gostava
daqui, independentemente da seca’’. Hoje é um agricultor experimentador! Tem
se dedicado a produção de frutíferos a partir de
enxertos, técnica em que ele coloca a semente da
laranja lima no pé de limão. Esta técnica vem
fazendo com que a planta se desenvolva rápido e
com maior resistência, pois o pé de limão que
seve de camelo para a laranja lima além de
resistente é muito adaptável ao semiárido.
Andando em sua roça, passamos por um espaço
reservado aos pássaros que mantém o ambiente
bem mais agradável. ‘’Nesse lugar bebem e
tomam banho, pássaros que há muito tempo não eram vistos na região, como o juriti grande, pica-
pau e o pássaro preto’’.
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia
Realização Patrocínio
Na sua reserva de caatinga observamos uma de suas experiências: Lucas aproveitou espaço
de sombra das árvores, abriu canteiros, forrou a parte escavada do solo com lona, depois
recobriu-a com terra e, fez uma bem sucedida plantação de alface.
Perguntamos se já havia utilizado algum tipo de calda. Nos contou que usou durante um
tempo a calda feita com angico ou alho, mas, durava muito pouco por isso resolveu
abandonar esta prática, invertendo a orientação do manejo. Hoje prefere fortalecer a planta,
produzindo compostos orgânicos e coberturas de solo com material extraído da própria
produção. Outra técnica utilizada em sua propriedade é o uso da lona que serve para
impermeabilizar o solo e evitar a percolação, que é a infiltração excessiva de água, situação
que impede a planta absorver água e nutrientes pois deixa o solo endurecido.
Lucas também produz mudas de umbuzeiro, através do caroço. Estas mudas quando
atingem uns trinta centímetros de estatura servem como cavalos onde são enxertadas
outras plantas da mesma família, tipo cajarana e umbu-cajá. Este processo se destina ao
melhoramento das condições fisiológicas da planta, tais como robustez, tamanho e
qualidade, obtendo com isso plantas mais resistentes e adaptáveis às condições do
semiárido baiano. Na sua propriede existe uma grande variedade de produtos como o feijão
de corda, feijão carioca, melancia, andu, batata-doce, abacaxi, mamão, berinjela, alface,
rúcula , cebolinha, laranja, tomate, pimentão dentre outros. Lucas aproveita essa
multiplicidade de culturas para nutrir o solo, utilizando-se da rotação de cultivo onde os
microorganismos resultantes do processo de alimentação e descarte das culturas servem de
nutrientes e reposição para o solo cultivado.
Com relação a escolha das sementes, ele dá preferência às crioulas. Estas sementes foram
selecionadas e melhoradas na própria roça, tendo como princípio a observação levando em
conta fatores como tamanho, capacidade produtiva e resistência à doenças e pragas.
Observamos que o seu relacionamento com a terra vai muito além de tirar o próprio sustento.
Respeita o espaço sagrado que está para ele em forma de caatinga e com os seus
conhecimentos, ajuda a tornar a terra mais produtiva. Lucas não desmata, não afasta os
insetos, não deixa matar os pássaros, faz canteiros para o acumulo de larvas. Assim, segue
trabalhando em união com a terra, em um relacionamento de respeito por aquela que
produz e que está cheia de vida.