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O sufixo "proibido" Embora utilizada na literatura e dicionarizada há mais de um século, a lenta e gradual assunção de mulheres a certos cargos profissionais ou políticos tornou a palavra presidenta muito pouco conhecida. A pouca produtividade do sufixo -nta no português, variante do sufixo -nte, pode proporcionar estranheza nas formações de feminino com essa terminação. Não importa: a palavra tem uso comprovado em documentos oficiais e artigos jornalísticos de épocas diversas até hoje e, por mais resistência que exista à sua aceitação, encontra amplo amparo na gramática tradicional. Por que diabos, então, há quem diga que presidenta é errado? Etimologia A terminação -nte é um sufixo originário do latim ns, -ntis, desinência do particípio presente que, na língua portuguesa, resultou em adjetivos ou substantivos deverbais (formados a partir de verbos) com a noção de ‘agente’, como em assaltante, ouvinte, servente. Por si só, esse particípio presente não vingou na língua portuguesa, tendo se mantido apenas no francês e no italiano. Em O Português Arcaico (2006), a linguista Rosa Mattos e Silva observa que, embora o particípio presente ainda pudesse apresentar remanescentes verbais no período arcaico, apenas se fixou no português contemporâneo “como adjetivo, substantivo ou em outras classes de palavras (presente, constante, tirante, durante etc)” (p. 121).

A Variação de -Nte Para -Nta Na História Do Português

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A Variação de -Nte Para -Nta Na História Do Português

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O sufixo "proibido" Embora utilizada na literatura e dicionarizada h mais de um sculo, a lenta e gradual assuno de mulheres a certos cargos profissionais ou polticos tornou a palavra presidenta muito pouco conhecida. A pouca produtividade do sufixo -nta no portugus, variante do sufixo -nte, pode proporcionar estranheza nas formaes de feminino com essa terminao. No importa: a palavra tem uso comprovado em documentos oficiais e artigos jornalsticos de pocas diversas at hoje e, por mais resistncia que exista sua aceitao, encontra amplo amparo na gramtica tradicional. Por que diabos, ento, h quem diga que presidenta errado?

Etimologia

A terminao -nte um sufixo originrio do latim ns, -ntis, desinncia do particpio presente que, na lngua portuguesa, resultou em adjetivos ou substantivos deverbais (formados a partir de verbos) com a noo de agente, como em assaltante, ouvinte, servente.Por si s, esse particpio presente no vingou na lngua portuguesa, tendo se mantido apenas no francs e no italiano. EmO Portugus Arcaico(2006), a linguista Rosa Mattos e Silva observa que, embora o particpio presente ainda pudesse apresentar remanescentes verbais no perodo arcaico, apenas se fixou no portugus contemporneo como adjetivo, substantivo ou em outras classes de palavras (presente, constante, tirante, durante etc) (p. 121).No artigo Flexo Verbal do Portugus,O fillogo Joseph Maria Piel esclarece o desaparecimento dessa forma nominal de verbo: Tendo o gerndio pouco a pouco assumido, em portugus, as funes verbais do particpio, no admira a ausncia desta ltima categoria no quadro moderno da conjugao portuguesa. Como exemplo, o autor cita uma obra em que as formas estante, dizente, dorminte, em sua verso mais antiga em portugus, mudaram posteriormente, a partir do sculo XV, para estando, dizendo, dormindo.O autor tambm observa que

natural que a lngua no eliminasse simultaneamente todos os particpios em -ante, -ente, -inte [...]. Constituem reminiscncias do particpio as formas invariveis, equivalentes a preposies, salvante, tirante, passante [...]. Abstraindo destes casos, os particpios tornaram-se adjetivos: semelhante, doente, ou substantivos: figurante, tenente, pedinte [...] (p. 220).

Por isso, no portugus contemporneo, esse particpio latino ainda reclamado como fator remoto da (relativa) uniformidade dos adjetivos (e substantivos) terminados emnte em portugus. Isso mesmo: relativa. Como veremos a seguir, essa tal uniformidade ilusria.

A variao de -nte para -nta na histria do portugus

Os estudos da linguista Rosa Virgnia Mattos e Silva (2006) constataram que no Cancioneiro Medieval Portugus aparecem sergente: sergenta e o sinnimo servente: serventa (servo); [...] no Orto do Esposo,dos fins do sculo XIV, aparecem servente, sergente, mas tambm sergenta (p. 103-104).Para exemplificar as variaes da terminao -nte com outras palavras do portugus arcaico em uso at hoje, podemos citar infanta[footnoteRef:1][1] e parenta, substantivos surgidos no sculo XIII conforme o Dicionrio Etimolgico da Lngua Portuguesa (2010); giganta, publicado num romance de cavalaria em 1522, conforme Barros (1743); posteriormente, num perodo mais moderno da lngua, teremos elefanta, registrado no sculo XVIII no Diccionario da Lingua Portugueza (SILVA, 1789); presidenta, introduzido no idioma por meio de Antnio Feliciano de Castilho em 1872, conforme a primeira edio do Dicionrio Caldas Aulete (1881); e governanta, originado em 1881 por influncia do feminino do francs gouvernante (HOUAISS, 2001). Entre os casos que no se consolidaram na lngua, Said Ali (1964) cita, em Gramtica Histrica da Lngua Portuguesa, as palavras comedianta e farsanta, utilizadas na literatura do perodo quinhentista e seiscentista (p. 62). [1: ]

O uso

Apesar do registro histrico dos vocbulos supracitados, a variante feminina do sufixo -nte sempre teve baixa produtividade morfolgica em nossa lngua. De fato, trata-se de um uso irregular, espordico e imprevisvel na formao de palavras. A baixa frequncia da terminao -nta na formao de substantivos femininos certamente a causa do estranhamento de parte dos usurios da lngua ao ler e ouvir essas formas. No caso de presidenta, o contexto histrico e poltico de tempos passados, que s lenta e gradualmente permitiu a ascenso de mulheres a cargos de direo ou eletivos, no proporcionou muitas oportunidades para o uso do termo. Eis o motivo pelo qual o gramtico Celso Cunha constatou, em sua Gramtica Moderna (edio de 1970, obra fora de catlogo e anterior Nova Gramtica do Portugus Contemporneo, em parceria com Lindley Cintra), que presidenta se trata de feminino ainda com curso restrito no idioma, pelo menos no Brasil (p. 96).De qualquer forma, isso nunca impediu que a palavra presidenta j fosse h muito utilizada, fosse na literatura ou em alguns gneros textuais, para se referir a mulher que presidisse uma empresa ou um chefiasse um tribunal jurdico, conforme veremos comprovadamente a seguir.O registro impresso mais antigo da palavra obtido at agora encontra-se na traduo da obra As Sabichonas (Les Femmes Savantes), do dramaturgo francs Molire, por meio do escritor portugus Antonio Feliciano de Castilho, em 1872: Mais gratido lhe devo, immortal presidenta (p. 128); nossa presidenta, e s minhas scias, peo se dignem perdoar-me o intempestivo excesso (p. 153); Nada, nada! Escusa, presidenta, de insistir mais (p. 230).

O primeiro escritor brasileiro a usar "presidenta" (1881)

Anos depois, no Brasil, Machado de Assis utilizaria o vocbulo em Memrias Pstumas de Brs Cubas (publicada pela primeira vez em 1881): Na verdade, um presidente, uma presidenta, um secretrio, era resolver as cousas de um modo administrativo.No mbito jornalstico, constam incontveis registros do uso do termo, conforme pode ser constatado por meio das ferramentas de buscas dos sites de jornais. O Correio Braziliensepossui, em um de seus registros virtuais, texto com o seguinte trecho: J confirmaram presena no vernissage o ministro do Meio Ambiente, Jos Sarney Filho, e a presidenta do Ibama, Marlia Marreco Cerqueira (1999). Em outra edio, consta: Ciclo de palestras com a participao da Dra. Ruth Cardoso, presidentado Conselho do Comunidade Solidria (1999). Em mais outra edio, temos: A presidenta do Sindicato dos Comercirios, Geralda Godinho, diz que a categoria a favor do novo horrio (2002).Consultando o site deO Estado de S. Paulo,podemos encontrar, entre mais de setecentos registros: Coordenada pela presidentada Sociedade Brasileira de Arqueologia, Tania Andrade, a mostra permanecer aberta ao pblico at o prximo dia 30 de julho. (2000).No site da Folha de S. Paulo jornal que anunciou a utilizao exclusiva de presidente[footnoteRef:2][2] para se referir Dilma Roussef encontra-se arquivos de edies anteriores com centenas de registros contrariando o to defendido substantivo de dois gneros, como este: [...] Slvia Passarelli, empresria e presidenta da construtora Passarelli [...] (1994). Em outra ocorrncia, temos: A presidenta do partido conservador oposicionista CDU (Unio Democrata-Crist), Angela Merkel [...] (2000). curioso como um jornal faz questo de negar sua prpria histria, no? [2: ]

No mbito do Poder Judicirio, o vocbulo pode ser observado em documentos oficiais. Em Ata de Sesso Solene realizada no Superior Tribunal de Justia, datada de 1989, consta: (...) Desembargadora Maria Tereza Braga, Presidenta do Tribunal de Justia do Distrito Federal (...). No site do Superior Tribunal de Justia (STJ), encontram-se vrios registros como este: A juza Sandra de Santis, ento presidenta do Tribunal de Jri, do Tribunal de Justia do Distrito Federal, desclassificou a imputao de crime doloso, passando-a para leso corporal seguida de morte (1999).No de se estranhar, portanto, que a linguista Maria Helena de Moura Neves tenha registrado em seu Guia de Usos do Portugus (2003): usa-se a forma presidente tanto para homem quanto para mulher. [...] Tambm usual, entretanto, a forma regular de feminino, presidenta. >> 'Afinal, era dar ou no dar a renncia da presidenta da Argentina' (Nos Bastidores da Notcia, de Alexandre Garcia)" (p. 620).No que se refere ao uso, portanto, comprova-se, em vrios meios e pocas, o hbito de se escrever esse feminino, cujas ocorrncias tornaram-se mais frequentes na medida em que as mulheres passaram a assumir cargos de presidncia.

Normalizao gramatical

Em seu Dicionrio de Masculinos e Femininos, Aldo Canazio (1960) registra presidenta como feminino de presidente (ao lado de [a] presidente como substantivo de dois gneros).Desde sua 1 edio (1963), a Moderna Gramtica Portuguesa de Evanildo Bechara j registrava e abonava essa forma feminina:

Podemos distinguir, na manifestao do feminino, os seguintes processos [...] com a mudana ou acrscimo ao radical, suprimindo a vogal temtica [...] Os [terminados] em e uns h que ficam invariveis, outros acrescentam a depois de suprir a vogal temtica: alfaiate alfaiat(e) + a alfaiata.

Variam:

alfaiate alfaiatainfante infanta governante governantapresidente presidentaparente parentamonge monja(p. 84, grifo nosso)

Celso Pedro Luft, em seu Dicionrio Gramatical da Lngua Portuguesa (1966), ensina que os substantivos terminados em e so geralmente uniformes (); h, porm, alguns que trocam o e por a: elefante elefanta; governante governanta; infante infanta;[...] ; parente parenta; mais raros: [...] giganta; hspeda; presidenta; alfaiata. Em ABC da Lngua Culta, o autor reafirma: [...] substantivo que se pode tomar como comum de dois gneros (sexo) para pessoa que preside: o presidente, a presidente; mas tambm comporta feminizao flexional: a presidenta.Rocha Lima (2007), em sua Gramtica Normativa da Lngua Portuguesa, reconhece: a fora do uso j consagrou as formas flexionadas infanta, parenta e presidenta (p. 73).Cegalla (2008) diz o seguinte em seu Dicionrio de Dificuldades da Lngua Portuguesa: forma dicionarizada e correta, ao lado de presidente. A presidenta da Nicargua fez um pronunciamento Nao. / A presidente das Filipinas pediu o apoio o apoio do povo para o seu governo (p. 336).Finalmente, o Vocabulrio Ortogrfico da Lngua Portuguesa (2009), que registra todas as palavras em uso oficial na lngua portuguesa, legitima a palavra (p. 674).Napoleo Mendes de Almeida parece ser o nico gramtico de relevncia a recusar a forma presidenta. Em seu Dicionrio de Questes Vernculas, sentencia:

So em portugus uniformes os adjetivos terminados em nte, como j no latim havia uma s terminao ns para o masculino e feminino dos adjetivos da segunda classe, por cujo paradigma se declinavam os particpios presentes: prudente, amante, vidente, lente, ouvinte. [...] Alguns dos adjetivos de tal terminao andam a ser flexionados em nta no feminino quando substantivados: parenta, infanta, governanta. Presidenta, porm, ainda est, ao que parece, no mbito familiar e chega a trazer certo qu de pejorativo (p. 244).

De onde vem essa obsesso napolenica de quase sempre fazer analogias de questes da lngua portuguesa com o seu caso correspondente em latim? Conforme Marcos Bagno (1999) bem observou, as explicaes de Napoleo se baseiam exclusivamente em comparaes com o latim e o grego, [...] desconsiderando sistematicamente todas as contribuies da cincia lingstica moderna (p 80). De fato, a nica justificativa dada por Napoleo para condenar a variao do vocbulo presidente vincul-la obrigatoriamente sua uniformidade latina original. Ora, o fato de os adjetivos terminados em -nte serem, como j no latim, uniformes em nada justifica ou obriga, necessariamente (como j constatamos), a preservao de tal uniformidade numa lngua neolatina.Vale observar o que diz a Gramtica comparativa Houaiss: quatro lnguas romnicas (2010),ao mostrar o quanto as lnguas derivadas do latim comportaram-se de modo peculiar/intrnseco e divergiram em suas formaes de gnero:

H nomes e adjetivos em -a e em -e que podem ser uniformes quanto ao gnero [...] h palavras terminadas em -e que em portugus, espanhol e italiano so uniformes para o masculino e o feminino, mas que em francs apresentam uma diferena entre a forma masculina e a forma feminina. [...] no que diz respeito aos adjetivos, o italiano permaneceu fiel terminao e- do latim; o portugus e o espanhol conservaram-na em palavras como grande ou abandonaram-na em casos como cruel, fcil, corts e jovem/joven. Estas duas lnguas adotaram a desinncia -a para formar o feminino de alguns adjetivos que etimologicamente pertenciam ao grupo dos uniformes (p. 98, grifo nosso).

Mais adiante, no item oportunamente intitulado O caso particular dos nomes de profisses, temos:

Numerosas profisses reservadas no passado aos homens so atualmente acessveis s mulheres. As lnguas comportam-se de maneira diferente em relao a esta nova realidade. Tal como o portugus, o espanhol e o italiano possuem em geral formas no masculino e no feminino para os nomes de profisses: profesor/profesora (espanhol), professore/professoressa (italiano); escritor/escritora (espanhol), scrittore/scrittrice (italiano).Em italiano, os vocbulos com o sufixo essa para o feminino de certas profisses ou so antigos, como studentessa, professoressa, ou ento foram criados mais recentemente, como deputadessa, avvocatessa (sendo avvocata mais freqente), ministressa (forma rara). Muitas vezes continua a usar-se a unicamente a forma masculina para homem ou mulher: il deputato, lavvocato, il ministro.Em francs, os femininos introduzidos h muito tempo na lngua no levantam problemas: boulanger/boulangre, directeur/directrice, vendeur/vendeuse; pelo contrrio, h numerosos outros nomes para os quais no existem femininos e que por isso exprimem s a funo e no a pessoa: professeur, tailleur, peintre, juge, crivain, mdecin, guide, tmoin. Assim, diz-se: Madame Durand, professeur, Madame le professeur (p. 99, grifo nosso).

Como se v, no que diz respeito formao de gnero no feminino, cada lngua neolatina desenvolveu flexes (ou derivaes) distintamente, de acordo com suas respectivas peculiaridades, no seguindo necessariamente a lgica da estrutura vigente no latim. No h, portanto, por que condenar no portugus a realizao de uma determinada flexo (nesse caso, eu diria derivao) tendo como justificativa uma lgica determinista (nesse caso, a uniformidade dos adjetivos latinos terminados em -nte) que vigorava incondicionalmente FORA do portugus, numa lngua hoje morta.Voltando ao Napoleo, ao afirmar que [...] presidenta, porm, ainda est, ao que parece, no mbito familiar e chega a trazer certo qu de pejorativo, o autor j no tenta mais se justificar com alguma lgica vinculada origem latina; apenas emite um mero juzo de valor: ao que parece, est no mbito familiar e tem qu de pejorativo, afirmaes facilmente contestadas ao se observar o uso e o registro do vocbulo em documentos de tribunais de Justia e artigos de jornais (conforme constatamos anteriormente). O mais estranho ver o mesmo autor que condena essa variao feminina declarar o seguinte em sua Gramtica Metdica da Lngua Portuguesa:

A questo do gnero dos substantivos no pra nas normas vistas nos pargrafos anteriores; outros fatos h, particulares, que necessitam ser estudados isoladamente. O uso, fator soberano da consolidao do fator de uma lngua e das leis que a regem, consagra certas formas que, embora esquisitas, tornam-se comuns e de emprego cotidiano na boca do povo. o que se passa, em portugus, com o gnero de certos substantivos. So fatos que, adstritos a pequeno nmero de palavras, denominam-se particularidades genricas (1999, p. 101-102, grifo nosso).

Ora, no mnimo contraditrio que um gramtico reconhea tais particularidades e, ao mesmo tempo, condene uma dessas mesmas particularidades: Napoleo normaliza, em sua gramtica, as formas de feminino parenta, giganta, infanta e elefanta (excees regra da uniformidade sufixal de -nte da mesmssima forma que presidenta). Por qu? At que tentou explicar isso, como vimos acima: alguns dos adjetivos de tal terminao andam a ser flexionados em nta no feminino quando substantivados. Ou seja, ele admite excees tal uniformidade, mas no aceita o (tambm substantivado) presidenta como exceo por pura arbitrariedade: Presidenta, porm, ainda est, ao que parece, no mbito familiar e chega a trazer certo qu de pejorativo. Notem a hesitao: ... ainda est, ao que parece...; reparem a tentativa de explicao vaga, indefinida, imprecisa: chega a trazer certo qu de pejorativo. Aqui, fica evidente a total falta de objetividade do gramtico.

No se condena um sufixo apenas por ser pouco frequente na lngua

Pesa o fato de a variante sufixal -nta ter baixa produtividade na lngua portuguesa, o que pode provocar indisposio entre os que se apegam aparente regularidade do sufixo -nte. No caso de presidenta, nada se pode fazer contra o uso de uma forma j dicionarizada, oficializada (VOLP) e normalizada gramaticalmente, enterrando de vez o argumento dos que tomam a palavra como errada alegando no soar bem aos ouvidos, ter sentido pejorativo ou que seja feia, deselegante, alm de outros pretextos puristas.Podemos compreender essa indisposio? Sim. Pura falta de costume: a primeira ocorrncia da palavra data de mais de um sculo, mas seu uso esteve, como vimos acima, restrito durante muito tempo ao discurso de algumas reas profissionais e de determinados gneros textuais (documentos do Poder Judicirio, textos jornalsticos, obras literrias etc), no tendo alcanado utilizao to ampla quanto agora, momento em que o pas tem, pela primeira vez, uma mulher eleita para a presidncia da Repblica. E se, conforme bem observou Luft no j citado ABC da Lngua Culta, j houve poca em que puristas no toleravam o substantivo feminino parenta (p. 333), estou certo, meus amigos, de que no futuro algum autor comentar a mesmssima coisa sobre presidenta.

[1]No estariam, entretanto, grandemente convencidos os quinhentistas da correo desta linguagem se j hesitavam entre infante e infanta,como facilmente se v na Crnica de D. Manuel por Damio de Gis. A forma infanta,tornou-se, contudo, a preferida por [Padre Antnio] Vieira e outros, e prevaleceu (SAID ALI, 1964, p.62).[2] Pasquale Cipro Neto afirmou, na edio de 02/01/2011 desse jornal, que o uso da forma presidenta causa estranheza aos leitores. No entanto, em seu CD-ROM Pasquale Explica, afirma: Existe feminino de presidente? Existe, e no existe. Quem manda o cliente: pode-se dizer a presidente ou a presidenta; indiferente.Discrdia disseminada por Davi Miranda s 02:16 Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar com o PinterestMarcadores: certo, errado, feminino, gnero, particpio, presente, presidenta Discordmetro

7 comentrios:1. Henrique13 de junho de 2011 10:16Davi, mais uma vez um texto em seu Blog que me enche de entusiasmo. Acho brilhante o modo como, para discordar de uma norma supostamente culta, seu estofo lingustico no o impede de usar do "prprio veneno" disseminado pelos puristas. Napoleo, Bechara, VOLP, Matos e Silva, Houaiss e Marcos Bagno juntos, no para qualquer um. Meus parabns, meu caro!Responder2. Duds13 de junho de 2011 11:55Discordo. Discordo de tudo. No fui eu.

Eu nego.

Muito bom o post. o/

Daqui uns 2 anos voc pode imprimir todos os seus posts e fazer um volume encadernado.Responder3. HERBERTPALHETA13 de junho de 2011 15:00Trata-se, creio, de uma resistncia natural deliberada afirmao de gnero imposta a partir do momento em que a presidenta prefere assim ser chamada, optando por uma forma legtima, mas menos usada, gerando estranhamento e, assim, chamando a ateno dos leitores para o peso desse "A" final, afinal.Responder4. Annimo18 de outubro de 2013 06:30Tentativa de justificar o injustificvel... defesa similar ao reforma ortogrfica, desnecessria e sem fundamento, j que busca argumentao mais em histria do que no Portugus que vtima de ataques h mais de 10 anos pelas altas cortes do Executivo. ResponderRespostas1. Davi Miranda18 de outubro de 2013 10:40Annimo,

Contra fatos j abonados e reconhecidos (e que viraram REGRAS) no h argumentos. Alis, que argumentos voc apresenta ao afirmar que isso uma "tentativa de justificar o injustificvel"?... Fundamentado em qu? Falar (qualquer coisa) fcil.

Repito, porque parece que voc leu mas no entendeu: as normas gramaticais do "presidenta" como correta. Ela registrada como palavra oficial da lngua portuguesa (VOLP). Seu uso est normalizado, dicionarizado e excetuando seu gosto pessoal no h NADA que voc possa usar para contestar isso. S ficar inconformado, porque qualquer pessoa bem-informada pode pegar essas obras de referncia e jogar na tua cara, sempre que voc tentar contest-las. Chato, n?

"j que busca argumentao mais em histria do que no Portugus"

Isso mostra o quanto voc no sabe o que est falando e no enxerga a realidade das coisas. A histria em questo, discutida no artigo, nada mais do que a prpria histria do Portugus. impraticvel "separar" uma coisa da outra, como se "Portugus" como se uma disciplina FIXA e IMUTVEL desde sempre. A histria aqui apresentada (que voc pretende distinguir) a histria da evoluo do portugus, de suas transformaes, de sua mudana. Voc fala o portugus de Cames? Ora, voc no deve falar nem o mesmo portugus de seu av ou de seu pai! E qualquer pessoa no muito estpida e com um pouquinho de esclarecimento d conta perfeitamente de compreender isso.

Outra: como minha argumentao "busca mais em Histria do que no Portugus" se eu apresentei vrias das principais gramticas do pas abonando a forma "presidenta"? Percebe o quanto voc NO sabe o que est falando?

Agora, se depois de tudo o que voc leu no artigo acima, voc ainda vem dizer que isso "justificar o injustificvel", isso s mostra o quanto voc teimoso como um burro. S precisa deixar o orgulho de lado e dar a voc mesmo a oportunidade de ler e estudar mais a respeito (de preferncia Lingustica). Pode comear com bons dicionrios. Neles, esto l, para a sua indignao: "presidenta". ;-)Responder5. ALESSANDRO 22 VARA18 de junho de 2014 21:00timo artigo. Achei excelente citar o uso por Machado de Assis e jornais como Folha de S. Paulo, o Estado de S. Paulo, etc. S senti falta de referncia bibliogrficas mais precisas: pgina, edio, do livor de Machado e data ou link das citaes de notcias com o termo "presidenta". Mas com certeza o termo gramaticalmente vlido e s passou a ser criticado porque as pessoas no percebem a importncia de se valorizar o gnero quando as mulheres, geralmente excludas, ocupam cargos de poder. Mas h controvrsias que, embora em nada desmeream a riqueza do artigo acima, merecem ser consideradas. (ver: http://revistalingua.uol.com.br/textos/62/artigo248988-1.asp )Responder6. margaretth dos s. f. da silva30 de novembro de 2014 15:16Adorei o seu post! Muito didtico, e lhe peo permisso para compartilharResponderCarregar mais...Links para esta postagemCriar um link Postagem mais recente Postagem mais antiga Pgina inicial Assinar: Postar comentrios (Atom) Visitantes discordantes18,085

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