A URSS e a contra-revolução de veludo (V)

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    Para a Histria do Socialismo

    Documentos

    www.hist-socialismo.net

    Traduo do francs por LM, reviso e edio por CN, 01.06.11(original em http://www.marx.be/FR/AutresDocuments/Livres/ContrerevolutionVelours/Velours0.htm#tablematieres)

    _____________________________

    A URSSe a contra-revoluo de veludo (V)

    Ludo Martens

    Primeira parte

    Julho de 1990

    Quando o Vampiro dos Crpatos atacou Timisoara

    E depois houve a RomniaO horror, o pavoroso, o impensvel.Treze mil e duzentas pessoas presas pela Securitate em Timisoara: 7600 foram

    imediatamente passadas pelas armas. Nas valas, os cadveres, mos e ps cortados, unhasarrancadas, cabeas meio arrancadas dos corpos, caras queimadas com cido, a maior partedos corpos esventrados e sumariamente recosidos. Testemunhas viram os tanques passarsobre crianas. A mulher do pastor Laszlo Tokes, grvida de seis meses, foi obrigada pelaSecuritate a abortar.

    Sente ainda, sem dvida, caro leitor, a emoo que o invadiu na vspera de Natal de 1989,no momento em que leu essas linhas no jornal La Libre Blgique.1 Depois, o telejornal da TF1revelou-lhe que acabava de se descobrir, na Romnia, cadveres esvaziados de sangue. E foiassim que ficou a saber que Ceausescu, que sofria de leucemia, renovava o seu sangue todos osmeses fazendo matar inocentes.2

    Depois de tantas revelaes traumatizantes, como no ter escolhido como seu o lado daliberdade e da democracia? Como no se associar homenagem prestada por esse homempoltico francs ao levantamento vitorioso do povo e do exrcito contra o comunismo, osistema poltico mais bestial e criminoso que oprimia a Romnia desde h mais de 40anos?3

    Do que foi feito de todas estas revelaes que nos gelaram o sangue, falaremos depois.Notemos por agora que nos parece impossvel abordar a experincia dos pases de Leste, entre

    1La Libre Belgique, 26 de Dezembro 1989, Charniers et excutions sommaires: les Roumains aubout de l'horreur, por R.V.

    2NRC-Handelsblad, Raymond Van den Boogaard, Massagraf in Timisoara werd kerkhof vanbetrouwbaarheid.

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    Le Pen Jean-Marie, Le Monde, 27 de Dezembro de 1989, La Roumanie aprs l'excution deNicolae Ceausescu et les ractions.

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    os quais a Romnia, por um canudo,4 abstraindo-nos do conjunto da histria revolucionriadeste sculo e da actual situao mundial no seu conjunto.

    Em 20 anos, encontrmos bastantes militantes de esquerda que se excitavam tanto com oserros do socialismo, colocando mal a questo, que por fim se arrumaram do lado da barbrieimperialista. No decurso de conferncias que demos durante este ltimo ano, algunslevantaram-se para exclamar: ditadura da burocracia romena ou chinesa, prefiro a

    democracia burguesa. Nada pode ilustrar melhor a passagem de uma certa esquerda para olado do imperialismo. Para melhor situar as nossas posies no que respeita ao Leste e Romnia, lembremos ento alguns factos que so essenciais para julgar na sua perspectivaverdadeira as revolues pela democracia e pela liberdade.

    Democracia imperialista, ditadura das multinacionais

    A democracia burguesa, nascida com a Revoluo Francesa passou por muitastransformaes para vir a ser hoje a democracia das multinacionais, uma democraciaimperialista. Alis, a comemorao da tomada da Bastilha ofereceu-nos algumas imagensmaravilhosas que ilustram como a democracia burguesa se transformou em democraciaimperialista: Mitterrand festejando 200 anos de revoluo ao lado de um Mobutu; aindaMitterrand arrastando atrs de si um longo squito de dignitrios chegados das colnias e dasneocolnias francesas s festividades do 14 de Julho; Mitterrand, sempre ele, limpando dahistria os Robespierre e os Saint-Just. E, vendo os folhetins televisivos que a Frana produziuem 1989, adquire-se a convico de que Lus XVI e Maria Antonieta foram os heris de 1789. E neste ambiente que uma certa esquerda ataca encarniadamente a ditadura burocrticados regimes socialistas, para afirmar que o nosso regime poltico, l por ser burgus, no deixade representar a melhor encarnao da Democracia. Forma hbil para mascarar os traosessenciais do nosso sistema de ditadura da grande burguesia.

    Nos nossos pases capitalistas, as eleies livres no so outra coisa seno um biombo

    para esconder os verdadeiros centros de poder: conselhos de administrao dasmultinacionais, altos cenculos das instituies do Estado. O parlamento apenas uma cena(muitas vezes vazia) onde se desenrolam peas trgico-cmicas; no o lugar onde se decidemas batalhas reais entre os interesses socioeconmicos antagnicos. Raymond Aron pretendeque num regime pluralista o poder emana da competio entre os grupos e as ideias.5 Masquem poder ter iluses sobre a natureza das eleies livres organizadas nos EstadosUnidos, esse grande bastio da democracia burguesa? Os partidos republicano e democrataagrupam foras e interesses bastante diversos, canalizam toda a espcie de protestos, masfazem-no sob a direco e a dominao sem falhas da grande burguesia americana. Hcompetio, crtica e autocrtica, checks and balances,6 democracia, mas apenas no interior

    de uma nica classe e numa ptica apenas, a da defesa da livre empresa e do sistemaimperialista mundial. A maneira como os chefes dos republicanos e dos democratas competemem patriotismo para mergulhar na guerra contra o Panam diz muito sobre este pluralismo devoz nica.

    A nossa democracia apenas um derivado, afinal bastante marginal, de trs dadosmateriais fundamentais.

    4 No original utilizada a expresso idiomtica par le petit bout de la lorgnette, cuja traduoliteral pela pequena ponta da luneta. (N. Ed.)

    5 Aron Raymond,Dmocratie et totalitarisme, d. Gallimard, 1965, p. 169.6

    Em ingls no original, a expresso checks and balances designa o sistema de poderes e contrapoderes(freios e contrapesos) que visa garantir o equilbrio poltico na democracia burguesa. (N. Ed.)

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    As multinacionais e os seus aliados directos, os pequenos e mdios patres possuem todosos meios de produo que constituem as alavancas mais importantes da ordem social.

    Controlam todas as engrenagens vitais da mquina do Estado, instrumento de coacoconcebido para proteger a ordem econmica existente.

    Dominam os aparelhos ideolgicos (redes de ensino, media, igrejas) para justificar a ordemcapitalista que impem como uma ordem natural.

    Esta democracia, profundamente enraizada na espessa camada das empresas capitalistasque cobre os nossos pases, inseparvel da histria e da realidade actual do imperialismo.Enquanto se no manifestam foras significativas para atacar frontalmente os fundamentos docapitalismo, a ditadura burguesa exerce-se de maneira liberal, pluralista e democrtica.

    Esta fachada democrtica tem, alm do mais, a vantagem de camuflar uma actividadesistemtica de espionagem contra todas as foras opostas ao sistema, um trabalho deinfiltrao, de controlo das actividades da esquerda, realizado numa to larga escala que noest ao alcance de nenhuma ditadura aberta do terceiro mundo. E logo que uma crise profundadesponta ou que o regime se aventura numa guerra externa (guerra das Malvinas, ataquecontra a Lbia, agresso ao Panam), as medidas extraordinrias apagam as aparncias

    democrticas.Desde 1981, j vimos muitos progressistas que, seguindo o trilho de Mitterrand,

    rejeitaram estas verdades julgadas demasiado elementares. Bebendo a grandes goles o dioanticomunista que os media quotidianamente nos servem, passaram a detestar a tal ponto oserros e as fraquezas dos pases socialistas que acabaram por tornar-se defensores da nossademocracia, sistema imperfeito, concordam, mas a humanidade ainda no encontrou nadamelhor.7 Ento, toca a andar em frente, sob a batuta do tio Franois. E passemos sobre ospormenores, as colnias francesas que as nossas tropas guardam, o reforo das multinacionaisfrancesas, aquelas pequenas guerras no Tchad, no Mdio-Oriente ou noutros lugares onde odever de ingerncia nos chama.

    Com efeito, um trao distintivo da democracia burguesa actual que ela se apresenta comouma democracia imperialista. A verdadeira natureza da nossa democracia exprime-se maisclaramente na realidade poltica, econmica e social do terceiro mundo. Fazem-nos crer que ospases industrializados abrigam homens inteligentes e diligentes que, pelo seu trabalhointenso, conquistaram o bem-estar e a democracia. Fora deste paraso situa-se o imensoespao selvagem do terceiro mundo, que est apenas no incio do processo de arranqueeconmico e que muitas vezes regido por dspotas sanguinrios que caracterizam associedades atrasadas.

    Na realidade, o nosso mundo, ou pelo menos o mundo imperialista, j se tornou numaaldeia e os seus bairros mais miserveis dependem da junta de freguesia onde se sentam, sob o

    ar enganador de velhos sbios, as multinacionais. O neocolonialismo em frica, na AmricaLatina e na sia no seno a ditadura poltica e econmica da nossa grande burguesia queimpe a sua vontade atravs dos chefes locais: presidentes da Repblica, altos funcionrios,banqueiros, grandes empresrios e comerciantes do terceiro mundo. Quem quiser apanhar aface autntica da nossa democracia, tem de observar os massacres, os genocdios, o terrorestatal que organizam, supervisionam e justificam no Salvador e no Peru, em Moambique eno Zaire, na Palestina e na Turquia, nas Filipinas e na Indonsia. Em praticamente todos ospases do terceiro mundo, os quadros dos servios de represso oficiais foram formados etreinados pelo Ocidente e muitas vezes colocados sob a superviso directa de oficiaissuperiores vindos do mundo livre. Os esquadres da morte que se encarregam das tarefas

    7La crise du mouvement rvolutionnaire, deuxime congrs du PTB, Maro de 1983, pp. 52-55.

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    sujas, dos assassnios selvagens, so quase todos oriundos destes servios oficiais e colocadossob a direco da extrema-direita ocidental, parte integrante da nossa democracia.Matanas legais e ilegais em frica, na Amrica Latina e na sia, so patrocinadas por polticoslocais que receberam a sua educao das ideologias que a democracia ensina nas nossasuniversidades e junto dos nossos partidos democrticos. Duarte e Cerezo Arevalo, Houphout-Boigny e De Klerk, Mobutu e Abdou Diouf, Hassan II e Aquino so produtos da nossa

    democracia. no terceiro mundo que vemos claramente que a nossa democracia umsistema de terror de Estado e de genocdios permanentes.

    Estas verdades tambm elementares para qualquer homem de esquerda. Mas segue-se quea democracia popular no pode ser instaurada no terceiro mundo seno como ditadura dopovo trabalhador contra todas as foras da democracia imperialista. O povo da Nicarguapaga j bem caro o facto de o ter esquecido e de ter aceitado uma democracia para todos queteria de dar, mais cedo ou mais tarde, a vitria aos reaccionrios, apoiados pelas foraseconmicas, polticas e militares do imperialismo.

    Lnine, Stline e a ditadura do proletariado

    As primeiras manufacturas, esses germes da sociedade industrial europeia surgiram dogenocdio dos povos da frica negra e da Amrica ndia. A descoberta dos imprios dos Incas edos Astecas pelos civilizadores europeus custou 60 milhes de mortos populao indgena.E, claro, toneladas de ouro.

    A partir do incio do sculo XVI, os comerciantes europeus capturaram e depois venderamentre 100 e 200 milhes de negros. Dezenas de milhes de homens perderam a vida na sia ena frica quando as conquistas coloniais do sculo passado que destruram as sociedadeslocais, deram origem a fomes, espalharam doenas desconhecidas, impuseram o pio e olcool. A revoluo industrial na Europa nos sculos XVIII e XIX foi acompanhada da expulsoviolenta de milhes de camponeses das suas terras e pelo trabalho forado das crianas e das

    mulheres, 12 a 15 horas por dia. Os Estados burgueses europeus lanaram-se numa PrimeiraGuerra Mundial visando uma nova partilha das colnias: milhes de trabalhadores pagaramcom a vida esta rivalidade entre colonialistas.

    Face a estas realidades, o socialismo no podia nascer e manter-se seno atravs daditadura do proletariado, unindo todas as camadas populares contra a burguesia.

    Por esta razo podemos afirmar que, no contexto actual da democracia imperialista, aexperincia fundamental de Lnine e de Stline adquire um muito particular significado paraos povos que desejam libertar-se da opresso imperialista. O Chile em 1973 e a Nicargua em1990 constituem provas a contrario.8 Cuba, a China, a Coreia do Norte e a Albnia continuam,neste momento, fiis via socialista, defendendo tambm esta experincia fundamental do

    partido bolchevique.Os operrios e camponeses russos, tendo sofrido o terror secular do tsarismo, pagaram um

    preo excessivamente elevado durante a Primeira Guerra Mundial: quase trs milhes de vtimas. Desta insuportvel opresso, os bolcheviques extraram a energia, a coragem e adeterminao necessrias para dirigir a revoluo socialista e quebrar pela fora a ditadura burguesa. A terra e os meios de produo tornaram-se propriedade pblica, a mquina doEstado opressivo do tsarismo foi sistematicamente desmantelada e substituda pelo Estado dosoperrios e dos camponeses.

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    A contrario uma locuo latina que significa em sentido contrrio do argumentoprecedente. (N. Ed.)

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    Ajudadas pelos exrcitos intervencionistas ingleses, franceses e checos, as classesreaccionrias e as foras tsaristas desencadearam um terror branco contra o socialismo.Praticamente ss contra o mundo inteiro, os bolcheviques conseguiram levar as amplas massascamponesas a seguir a classe operria e a organizar um terror de massas contra os seusinimigos.

    Foi nesse baptismo de fogo que o bolchevismo lanou profundas razes entre os camponeses

    pobres. Sem esse implacvel terror vermelho no teria havido socialismo na Rssia e o terrorbranco teria restabelecido esse bastio da reaco mundial que foi o tsarismo.

    Foi Lnine quem elaborou os princpios essenciais da edificao socialista sob a ditadura doproletariado. Mas faleceu em 1924, apenas comeado esse trabalho. Entre 1924 e 1953, opartido bolchevique, dirigido pelo camarada Stline, realizou no essencial os planos de Lnine.Graas a um herosmo popular sem precedentes, a Unio Sovitica edificou uma indstria euma agricultura socialistas. Stline no tinha o gnio de Lnine e, numa situao nacional einternacional extraordinariamente difcil e complexa, cometeu alguns erros que Lnine teriaprovavelmente conseguido evitar. Mas, no essencial, o partido bolchevique e o povo soviticocumpriram, sob a sua direco, as tarefas que Lnine lhes havia legado.

    As realizaes da ditadura do proletariado na Unio Sovitica entre 1924 e 1953 agitaramtoda a situao mundial e mudaram profundamente a relao de foras a nvel internacional.Os que mostram desprezo e dio por estas realizaes, escondem com o seu anti-stalinismoou, sob a quimera de um mundo ideal, uma averso ao socialismo realmente existente lutando, sofrendo, vacilando, mas em marcha. Entre 1921 e 1941, o partido bolcheviquerealizou a industrializao socialista, permitindo-lhe fazer frente aos exrcitos fascistas. Graas revoluo cultural, formou um exrcito de tcnicos e de especialistas, bem qualificados epoliticamente conscientes, que dirigiu o esforo de guerra. A colectivizao da agricultura bloqueou a tendncia espontnea para a diferenciao de classes no campo e impediu oflorescimento de uma classe de kulaques, a ameaa interna mais perigosa para o socialismo. O

    nmero de membros do partido bolchevique passou de 250 mil em 1918 para 2,5 milhes nas vsperas da guerra, e o partido enquadrou e dirigiu com inquebrantvel vontade toda aresistncia antifascista.9 Depois da guerra, Stline e o partido dirigiram a reconstruo de umpas devastado, elevando o ndice da produo industrial de 1085 pontos em 1940 para 1713em 1950.10 Dos anos 20 aos anos 50, o partido bolchevique teve um papel essencial no reforodo movimento comunista internacional e a prpria existncia da Unio Sovitica tornoupossvel a segunda vitria de importncia mundial, a revoluo socialista chinesa.

    Os sucessos da edificao socialista na URSS, ligados sua poltica externa deindependncia e de paz, impulsionaram o movimento de descolonizao em frica e na sia.

    A penetrao das teses sociais-democratasRecordar estas verdades parece-nos essencial para abordar os acontecimentos da Europa deLeste e isto pela boa razo de que, hoje em dia, as concepes do socialismo burgus e dosocialismo reaccionrio, denunciadas em 1848 no Manifesto do Partido Comunista, dominamamplamente a esquerda europeia. No queremos criticar Ceausescu na companhia desocialistas burgueses que pedem ao proletariado que fique na sociedade actual, mas que sedesfaa das odiosas representaes que faz dela.11 A propsito da sociedade socialista, so as

    9 Ellenstein,L'URSS en guerre (tomo 3), d. sociales, 1974, p. 48.10 Les progrs du pouvoir sovitique depuis 40 ans, recueil de statistiques, Moscovo, 1958, p. 26.11

    Manifesto do Partido Comunista, Marx e Engels, Obras Escolhidas, em trs tomos, Ed. Avante!,Lisboa, 1982, t. 1, p. 131. (N. Ed.)

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    concepes contra-revolucionrias elaboradas durante os anos 20 e 30 pela social-democraciaque dominam actualmente os meios progressistas europeus. A social-democracia que justificoua guerra imperialista de 14-18, que esmagou a insurreio operria na Alemanha e quedefendeu com unhas e dentes o sistema colonial. Em 1930, o seu chefe Karl Kautsky pregavauma revoluo democrtica contra a aristocracia sovitica. Esperava ver em breveinsurreies camponesas contra a degenerescncia fascista do bolchevismo. O seu

    programa fundamentava-se sobre a nossa reivindicao de democracia para todos, ademocracia pura. Defensor do multipartidarismo, Kautsky pregava o derrubamento dopartido bolchevique e a tomada do poder por uma coligao de sociais-democratas e dedemocratas burgueses para fundar uma Repblica democrtica parlamentar.12

    notvel reencontrar em 1989, durante os movimentos contra-revolucionrios que a Chinae a Romnia conheceram, praticamente palavra por palavra, esse programa anticomunista.

    Desde final dos anos 50, quando a maioria dos partidos comunistas da Europa ocidentalpassaram para o lado da ordem estabelecida, raras so as organizaes polticas e osintelectuais que ousam remar contra a mar da ideologia imperialista e defendem aexperincia histrica da ditadura do proletariado.

    Quase todas as teses anticomunistas que circulavam nos anos 20 nos meios clericais,liberais, sociais-democratas e fascistas so hoje consideradas como verdades estabelecidas portoda a esquerda reformista. O mtodo de anlise de classe substitudo pela demagogiamoralizante seno mesmo pelo panegrico da sociedade imperialista. O exemplo tipo acondenao em bloco, como o mais arbitrrio dos crimes, da colectivizao e da depuraoorganizadas pelo partido bolchevique durante os anos 30.

    Em 1928, a Unio Sovitica conta sete por cento de camponeses sem terra, 35 por cento decamponeses pobres, 53 por cento de camponeses mdios e cinco por cento de camponesesricos, os kulaques, que possuem 20 por cento dos cereais comercializados.13 A evoluoespontnea refora os kulaques que, atravs de um acrescido controlo sobre o trigo

    comercializado, podem levar a fome s cidades e sabotar a indstria socialista. No h outravia seno a da colectivizao, durante a qual explode o dio secular dos camponeses pobres emdios contra os kulaques. Esta luta de classe organizada pelos camponeses pobres e mdios o factor decisivo da colectivizao, posto que o partido bolchevique, com 200 mil membros nocampo, continua muito fraco no meio campons.14 A colectivizao realizada atravs de umaguerra civil nos campos, com os camponeses ricos e os reaccionrios matando grande nmerode quadros e de dirigentes entre os camponeses pobres e abatendo o gado para sabotar aeconomia colectiva. O terror que os camponeses pobres exercem contra os kulaques , em boaparte, uma reaco inevitvel a sculos de opresso.

    A depurao do partido, organizada por Stline entre 1936 e 1940, foi necessria na previsoda guerra que a vinha, mas foi acompanhada de erros graves, alguns inevitveis num combateto complexo, outros devidos a anlises erradas ou atitudes arbitrrias.

    Stline tinha compreendido que a exacerbao dos conflitos internacionais e a iminncia deuma guerra de agresso contra a Unio Sovitica imprimia um carcter muito particular slutas polticas no interior do partido. Sabia que, na previso do conflito mundial que seaproximava, a Alemanha nazi e as outras potncias imperialistas enviariam numerososespies, sabotadores e agentes de diverso para a URSS.

    12 Kautsky,Het bolchevisme in het slop, Arbeiderspers, 1931, pp. 156, 91, 113, 106, 93 e 136.13

    Ellenstein,Le socialisme dans un seul pays, (tomo 2), d. sociales, 1973, pp. 67-68.14 Idem, ibidem, p. 106.

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    Os restos das classes exploradoras e os antigos reaccionrios procurariam inevitavelmentevingar-se do socialismo ligando-se s potncias imperialistas libertadoras. Os oportunistas eos derrotistas no partido, impressionados pela superioridade esmagadora do imperialismo,poderiam entrar em contacto com o inimigo. Os sucessos econmicos das Unio Soviticahaviam minado a vigilncia de alguns bolcheviques que se consagravam inteiramente aosproblemas econmicos, negligenciando a luta de classes.15 Stline organizou uma vasta

    mobilizao popular para apoiar a depurao e imps exigncias muito grandes aos novosmembros do partido no que respeita sua devoo ao socialismo, ao seu esprito de sacrifcio,ao seu ardor no trabalho e disciplina.

    No decurso dessa depurao, graves erros de organizao foram cometidos: aconteceu queas regras do centralismo democrtico no foram respeitadas, o arbitrrio substitua por vezes oexame rigoroso, os servios policiais foram, em certos momentos, subtrados ao controlo doPartido. Isto conduziu a erros polticos de envergadura, tomando a represso uma extensodemasiado considervel e sendo a pena de morte aplicada em numerosos casos em que se no justificava em absoluto. Se ela se impunha no caso de um traidor como Trtski, ela no seimpunha no caso de um oportunista como Bukhrine16 e foi um erro grave no caso de um

    revolucionrio como Pitnitski.17

    Mas a prova de fogo da guerra antifascista mostrou que, contrariamente a todos os outrospases do mundo, a Unio Sovitica produziu muito poucos colaboracionistas. Na EuropaOcidental, pelo contrrio, a previso de Stline de que os oportunistas se juntariam aoocupante nazi realizou-se plenamente. Na Blgica, Henri De Man, presidente do PartidoSocialista, e Victor Grauls e Achille Van Acker, dois dos seus principais dirigentes, prestarampublicamente homenagem aco libertadora de Adolf Hitler. Na Frana, a maioria dossociais-democratas votaram plenos poderes ao colaborador Ptain e os expulsos do PartidoComunista Francs como Jacques Doriot, Pierre Celor e Henri Barb tornaram-se chefes dopartido fascista, o Partido Popular Francs.18

    15 Staline, Pour une formation bolchevik, 3 de Maro de 1937, d. Naim Frasheri, Tirana, 1968.[Trata-se de uma referncia ao discurso, no Plenrio do CC do PCU(b), em 3 de Maro de 1937 Sobreas insuficincias do trabalho do partido e as medidas de liquidao dos trotskistas de outros dplices,I.V. Stline, Obras, (em russo), t. 14, Pissatel, 1997, pp. 151-173,http://grachev62.narod.ru/stalin/t14/t14_42.htm. (N. Ed.)]

    16 No seu livro Um Outro Olhar sobre Stline, igualmente disponvel em hist-socialismo.net, face adocumentos que entretanto ficaram acessveis, Ludo Martens faz uma avaliao diferente da figura deBukhrine: Nas declaraes que fez, lembra o autor, Bukhrine reconheceu que a sua orientaorevisionista o levou a procurar relaes ilegais com outros opositores, que apostou em revoltas nopas para tomar o poder e que adoptou a tctica do terrorismo e do golpe de Estado. Ver op. cit., p.

    147, edio electrnica, e p. 242, edio impressa. (N. Ed.)17 Pitnikski (ver ndice de nomes no final) foi de facto um revolucionrio bolchevique julgado eexecutado no final dos anos 30 na URSS. Contudo, no nos foi possvel encontrar indcios de que o seu julgamento tenha sido injusto (nem o autor refere nenhuma fonte nesse sentido). Alis, uma talconcluso ter necessariamente de ser baseada na anlise do respectivo processo judicial. Ora, sabidoque tais arquivos continuam, na sua maioria, vedados aos investigadores. Como revela o historiadorcanadiano Grover Furr, o prprio processo de reabilitao das vtimas, desencadeado aps a morte deStline, no assentou no reexame rigoroso das provas e factos apresentados em tribunal, mas sobretudoem decises de natureza e com objectivos polticos. Ver Grover Furr, Antistalinskaia podlost, Moscovo,Algoritm, 2007, p. 174, obra recentemente publicada em ingls sob o ttulo Khrushchev Lied, ErythrosPress and Media, 2011. (N. Ed.)

    18

    Grard-Libois et Gotovitch,L'an 40, d. CRISP, 1971; Aron Raymond,Histoire de Vichy, Livre dePoche, 1966, captulo. III; Brunet Jean-Paul,Doriot, d. Balland, 1986.

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    De Khruchov a Ceausescu: 35 anos de revisionismo

    H 35 anos, um spero e violento debate dilacerou e dividiu o movimento comunistainternacional. A esquerda, dirigida por Mao Ts-Tung e Enver Hoxha, afirmava que se deviammanter e desenvolver todas as ideias de Lnine e de Stline, embora corrigindo os erroscometidos; a direita, dirigida por Khruchov, pretendia que Stline tinha desnaturadocompletamente o socialismo e que era preciso mudar de orientao para dar um verdadeiroimpulso sociedade socialista. Durante 35 cinco anos, Khruchov, Tito e Togliatti, e depoisDubcek, Ceausescu e Gorbatchov invectivaram o stalinismo, a ditadura, o dogmatismo, aortodoxia, o sectarismo, o pensamento rgido e pretenderam trazer a renovao, as ideiascriativas, o retorno ao leninismo, o socialismo democrtico. Hoje assistimos ao estilhaar detodas essas promessas empoladas. A Leste, entre outros na Romnia e na Unio Sovitica,vivemos a falncia irremedivel da corrente revisionista. Esta corrente demaggica desagua narestaurao do capitalismo e na integrao no mundo imperialista.

    Khruchov comeou por afirmar, em 1956, que o imperialismo estava fortementeenfraquecido, que j no podia desencadear grandes guerras de agresso, que a sua naturezaagressiva tinha mudado. A Unio Sovitica, dizia, quer ter relaes de amizade e cooperao

    confiante com os Estados Unidos para desse modo assegurar a segurana dos povos. Foi oincio da colaborao com a pior fora de opresso e de guerra no mundo. Khruchovcontinuava a pretender que j no era necessrio para os pases do terceiro mundo prosseguire aprofundar os movimentos de massas anti-imperialistas: os pases do terceiro mundopodiam desenvolver-se de modo acelerado graas ajuda econmica da Unio Sovitica. Aindasegundo Khruchov, o sistema capitalista nas metrpoles imperialistas, iria transformar-se demaneira pacfica, pela via parlamentar, em regime socialista, dado o enfraquecimento docapitalismo. Fanfarro, Khruchov clamava que o socialismo havia definitivamente triunfado naUnio Sovitica e na Europa de Leste e que a restaurao do capitalismo era a partir de entoimpossvel. A profecia de um burro, pronunciada em 1961. E a partir desta tese seguia-se

    logicamente que a ditadura das massas trabalhadoras tinha deixado de ser uma necessidade;Khruchov pregava a democracia para o povo inteiro, mesmo para as foras burguesas. Como asclasses exploradoras haviam desaparecido, j no havia lugar para lutar contra a suaresistncia. Querer continuar a luta de classes sob o socialismo era pregar a represso, oarbitrrio, o permanente entrave democracia. Khruchov punha-se ento a falar dehumanismo e de valores universais da humanidade: as ideias da grande burguesia e o seuestilo de viva tornaram-se de bom-tom. Como j no havia luta de classes a travar, o partidotornava-se o partido do povo inteiro: os elementos corruptos, que buscavam privilgios eenriqueciam de modo ilegal, subiam no partido e j no arriscavam ser desalojados.19

    Lnine e Stline construram o socialismo num perodo de 36 anos; Khruchov, Brjnev eGorbatchov tiveram necessidade de trinta e seis anos para apagar completamente os princpiosmarxistas-leninistas que fizeram da URSS o primeiro Estado socialista do mundo. Quando adireita afirma hoje que a derrocada de Leste prova o falhano do stalinismo, demonstra umamanifesta desonestidade intelectual: a sua contrapartida sovitica, de Khruchov a Gorbatchov,teve de bater-se mais de 30 anos para desfazer-se dos princpios revolucionrios de Lnine e deStline.

    Ceausescu seguiu, no essencial, as teses revisionistas de Khruchov. Como a experincia deluta revolucionria do Partido Comunista Romeno era bastante limitada quando tomou o

    19 Khrouchtchev, Rapport d'Activit au XXe congrs, d. en langues trangres, Moscovo, 1956, pp.

    35-36, 27, 46-47; Vers le communisme, Recueil de documents du XXIIe congrs, d en languestrangres, Moscovo, 1961, p. 17, 585-586.

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    poder graas ao apoio do Exrcito Vermelho, o socialismo assentou, desde o incio, em bases bastante fracas. No entanto, em 1965, Ceausescu proclamou a vitria definitiva dosocialismo na nossa ptria e o desaparecimento das classes exploradoras e portanto daluta de classes num pas onde a influncia ideolgica do fascismo continuava a ser bastanteforte.20 O socialismo, quer dizer, a ditadura do proletariado, a continuao da luta de classessob outras formas. Os comunistas que o esquecem encontram-se j na ladeira escorregadia da

    degenerescncia poltica. De qualquer modo, a burguesia, tanto nacional como internacional,no perde nunca de vista esta verdade e age em consequncia de maneira constante e tenaz.

    O estgio para os novos membros do partido foi suprimido. Arrivistas, reformistas e mesmofascistas infiltraram-se em grande nmero. A proposta de suprimir o estgio dos candidatosassenta nas modificaes essenciais que se verificam na estrutura da nossa sociedade: asclasses exploradoras foram liquidadas; os operrios, camponeses e intelectuais colaboramestreitamente e aplicam com determinao a poltica do Partido; o nvel poltico das massaspopulares, o nvel dos seus conhecimentos elevou-se.21 Em 1959, o partido contava 750 milmembros, esse nmero duplicou em 1965, para atingir trs milhes e 850 mil em 1989. Comoo partido j no servia para defender a ditadura do proletariado e travar a luta de classes sob as

    formas mais complexas que esta toma na sociedade socialista, toda a espcie de correntesburguesas e pequeno-burguesas podia facilmente l entrar.A exigncia principal feita aos quadros dizia respeito sua capacidade tcnica e cientfica.

    O que antes de tudo deve caracterizar um dirigente o conhecimento profundo dodesenvolvimento da actividade do sector onde trabalha.22 Numerosos tecnocratas semconvices revolucionrias, sem prtica revolucionria entre as massas, sem empenhamentona luta anti-imperialista internacional invadiam o partido.

    Entretanto, Ceausescu declarava que a unidade no seio do PCR indestrutvel.23 Elepretendia, ainda em 1965, que o partido comunista romeno seguido pelo povo inteiro comuma devoo e uma confiana sem limites.24 Isto era baixar toda a vigilncia na luta de

    classes nacional e internacional. Por outro lado, ao aproximar-se imprudentemente doscapitalistas ocidentais durante os anos 70, Ceausescu permitiu que numerosos quadrossuperiores fossem seduzidos pelo estilo de vida da grande burguesia internacional. EnquantoCeausescu tagarelava sobre o fim da luta de classes, elementos reaccionrios e fascistasestendiam a sua influncia no povo com a ajuda eficaz do imperialismo, no domnio, entreoutros, da propaganda. Assim, o partido foi cercado ao nvel das massas por uma direitarenascente. No interior do partido, as correntes polticas praticando o burocratismo epregando o tecnocratismo e a convergncia com o capitalismo tomavam conta de todas asengrenagens essenciais.

    Quando aborda o drama romeno, a pseudo-esquerda que chafurda na democraciaimperialista no liga absolutamente nada a estes pontos essenciais do revisionismo, bem pelocontrrio. Subscreve plenamente estas posies burguesas de Ceausescu, mas critica arepresso contra os elementos abertamente fascistas ou pr-imperialistas, as suasviolaes dos direitos humanos contra esses reaccionrios declarados. Ns criticamosCeausescu por no ter formado o partido como uma fora de combate e instrumento demobilizao das massas trabalhadoras, de no ter empenhado os trabalhadores na luta para

    20 Ceausescu,Rapport au IXe congrs du PCR, d. Mridiane, Bucareste, 1965, p. 73-76.21 Ibidem, p. 88.22 Ceausescu, Oeuvres choisies, tomo 2, Le rle dirigeant du parti, p. 299.23

    Ceausescu,Rapport au IXe congrs du PCR, d. Mridiane, Bucareste, 1965, p. 73-76.24 Idem, ibidem, p. 83.

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    proteger o socialismo e reprimir eficazmente tanto os agentes externos como os antigosfascistas e os novos elementos burgueses surgidos no seio do partido e do Estado socialista.

    No fim da vida, Ceausescu, diante dos ataques do imperialismo e dos complots dossoviticos, tentou retornar a certos princpios essenciais do socialismo. Em 20 de Dezembro,aps as manifestaes contra-revolucionrias de Timisoara, declarava: Os dados disponveis permitem-nos declarar que estas aces de carcter terrorista foram organizadas e

    desencadeadas em estreita ligao com os meios reaccionrios, nacionalistas, imperialistas ecom os servios de espionagem de diversos pases estrangeiros. A finalidade destas acesantinacionais provocadoras foi gerar a desordem com vista a desestabilizar a situao poltica e econmica, criar as condies para o desmembramento territorial da Romnia,para a destruio da independncia e da soberania da nossa ptria socialista, fazer marchaatrs, retornar situao de dominao estrangeira, liquidar o desenvolvimento socialistada nossa ptria.25

    Esta anlise de Ceausescu era pertinente e as coisas desenrolaram-se exactamente como eleindicou. A sua prpria responsabilidade na degenerescncia, como a sua impotncia frente sforas anti-socialistas desencadeadas, no muda nada. A pseudo-esquerda deitou-nos muitas

    vezes cara: Ento vocs ousam apoiar essas afirmaes de Ceausescu, desse Vampiro dosCrpatos, desse Rei-Sol? Pois sim, adversrios do revisionismo de Ceausescu, sem iluses deque ele pudesse endireitar a situao, ousamos afirmar que estas ltimas tomadas de posiocorrespondiam, no essencial, realidade da luta de classes. Como tambm afirmamos que osque apoiaram o golpe de Estado em nome da liberdade e da democracia ajudaram oimperialismo e a reaco romena a liquidar os ltimos restos do socialismo.

    Mas, isolado no seu prprio partido, Ceausescu no tinha j os meios de endireitar umasituao que ele prprio havia ajudado a fazer apodrecer. O fruto estava maduro. O golpe deEstado, bem orquestrado e acompanhado de uma campanha de intoxicao que ultrapassou asmelhores faanhas de Goebbels, encontrou pouca resistncia.

    Clera popular e totalitarismo

    Para justificar o derrubamento de Ceausescu, alguns fazem referncia enormidade daclera popular. Parece-nos uma interpretao bastante discutvel do que realmente se passou:minado a partir do interior, o regime romeno deixou de se defender, estando a maioria dosseus quadros de acordo com a restaurao da liberdade capitalista reclamada pela oposio. Ealm disso, essa enorme clera popular tomou muitas vezes os tons do clericalismo, donacionalismo, do anticomunismo, enfim, de todas as ideologias que fizeram a desgraa dospovos dos Balcs durante os anos 30 e 40. Um marxista bater-se- sempre, remando contra amar destas ideologias assim que elas tomam conta das massas.

    A rapidez da derrocada do regime revisionista romeno permite tambm julgar doverdadeiro valor desse grotesco cavalo de batalha da direita que o totalitarismo socialista.No entanto, a influncia desta anlise faz-se tambm sentir no seio da esquerda. Assim,ouve-se formular a seguinte tese: Como o poder econmico e poltico se confundem no regimesocialista, assim que os dirigentes cometem erros graves, vem ao de cima uma ditaduraburocrtica que ultrapassa, na sua cegueira repressiva, tudo o que as democracias ocidentaistm de pior. Ora, a derrocada, como os castelos de cartas, dos regimes do Leste, refuta esseraciocnio.

    A represso antipopular no Ocidente tem razes histricas muito mais profundas. constituda por um conjunto coerente e slido de medidas tecnolgicas, polticas, econmicas e

    25 Ceausescu, discurso de 20 de Dezembro de 1989.

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    cientficas aterradoras, tem sua disposio reservas importantes entre os fascistas e as forasde direita e sobretudo, na poca do imperialismo, possui uma dimenso internacional que essencial. Vejamos como a burguesia depura todas as engrenagens importantes do seusistema de elementos potencialmente subversivos, atravs de uma seleco poltica,ideolgica e social rigorosa e comparemo-la com a infiltrao no Partido Comunista Romeno,ao mais alto nvel, de elementos burgueses, anti-socialistas e pr-ocidentais. AStasida RDA,

    to caluniada, ruiu aps algumas procisses, enquanto que uma Repblica Federal maldesnazificada lana unidades de elite contra a esquerda e dispe de computadoressuperpoderosos e de laboratrios de tecnologia de ponta para apanhar todos os inimigos daliberdade.

    Quando os fundamentos do regime capitalista so colocados em perigo, nenhum Estado burgus hesita a massacrar dezenas e, se for necessrio, centenas de milhares detrabalhadores: a Alemanha em 1918 e a Hungria em 1919, a contra-revoluo de Franco emEspanha, o perodo fascista com Mussolini e com Hitler, a guerra de agresso britnica contraa Grcia antifascista em 1944-1950. A represso nos pases socialistas no pode ser comparadacom o terror sistemtico que a polcia americana faz reinar h dcadas nos ghettos negros,

    nem com o terror do exrcito britnico na Irlanda. Para apanhar um antigo agente da CIAtornado presidente do Panam, o exrcito americano no hesitou em massacrar cinco mil civis.Tal como a CIA, segundo recentes revelaes, havia perfeitamente preparado a exterminaode mais de 500 mil comunistas que ameaavam a ordem neocolonial na Indonsia. Oimperialismo est pronto a massacrar numa tal escala logo que os seus interesses soameaados num pas do terceiro mundo. Que aconteceria se os trabalhadores visassem oprprio corao do seu sistema nas metrpoles?

    Ceausescu versus Kohl e Thatcher

    Para tornar aceitvel o deslizamento para posies de combatentes da liberdade dizem-

    nos: A imagem de Ceausescu de tirano sanguinrio no desprovida de fundamento: asmassas sofreram a opresso e a indigncia, e o socialismo no era seno uma pura ficoodiosa.

    A nosso ver, as campanhas anti-socialistas que a burguesia leva a cabo nunca sefundamentam nos problemas reais que as massas podem experimentar num pas socialista.Nessas campanhas exprime-se, primeiro que tudo, o dio de classe, a averso pela prpriaideia do poder dos trabalhadores, a oposio cega a qualquer experincia socialista. Mesmoquando nada pode dar uma parecena de justificao sua histeria anticomunista, os escribasda direita escarram as suas acusaes contra qualquer regime socialista. Alguns oportunistaspretenderam que os erros reais de Ceausescu estavam na base das acusaes lanadas pelos

    media; ora, com Ceausescu liquidado, logo as mesmas acusaes foram lanadas contra FidelCastro. Estes oportunistas que se vergaram perante o furaco e que uivaram com os lobos queCeausescu eram um louco trgico, um fssil do arqueo-stalinismo, ajudaram a reforar umacorrente poltica que visa derrubar os regimes progressistas e socialistas da Albnia, de Cuba,da Coreia do Norte, de Angola, de Moambique, da Nicargua, do Vietname e do Laos.Enumerando todos estes pases, o jornal da extrema-direita espanhola ABC escreve: Osucesso da revoluo popular na Romnia semeou o medo nas outras ditaduras comunistas.Merece ser lembrado que, em plena histeria anticomunista, no final de Dezembro de 1989, os jornais do mundo inteiro viraram o seu tiro para Cuba. O jornal espanhol antes citado,continuava assim: Castro, como Ceausescu, s pode ser derrubado pelo exrcito porque ele fez desaparecer qualquer possibilidade de reagrupamento poltico sob a sua ditaduraarqueo-stalinista. Hoje, um dos dois morreu. Resta apenas um louco trgico do absolutismo,

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    o ditador de Havana.26 O Libre Belgique falava, em 28 de Dezembro, de Castro nestestermos: Um potentado a envelhecer, metendo na priso aqueles que o criticam.

    Alguns, aterrados pela violncia da campanha anticomunista, apoiaram, em nome dosocialismo, a direita e o imperialismo na Romnia. Exclamaram: mas no podemos nuncaapoiar um Ceausescu! Entre esta gente, alguns apoiaram certamente a guerra de agressocontra as Malvinas, porque no podiam nunca estar do lado dos generais fascistas

    argentinos. Apoiaram a guerra de agresso de Bush contra o Panam, porque nuncapoderiam ver-se na companhia de um ditador como Noriega. No que nos respeita, noapoiamos Ceausescu na medida em que temos lutado, desde 1968, contra o revisionismo. Masdefendemos o socialismo romeno (minado pela doena revisionista, moribundo) e Ceausescu,contra o assalto final da direita pr-imperialista (do social-democrata Roman clerico-liberalDoina Cornea) e do imperialismo ocidental. A Romnia de Ceausescu oferecia um melhorterreno de luta para os que aspiram ditadura do proletariado do que uma Romniarecolonizada pelo imperialismo alemo e francs. Sob Ceausescu, a indstria romenacontinuava nacionalizada e o pas mantinha a independncia; no seio do Partido ComunistaRomeno, os marxistas-leninistas que se opunham ao revisionismo podiam fazer um trabalho

    ideolgico e organizacional. A histria mostrou que os marxistas-leninistas eram demasiadofracos, que a correco revolucionria j no era possvel e que a derrota frente ao assalto dadireita se tornou inevitvel. O combate para reconstituir um partido comunista revolucionrioser portanto longo e difcil. Mas jamais um comunista digno desse nome, constatando afraqueza das foras marxistas-leninistas no seio do PCR, poderia usar tal situao comopretexto para se juntar ao campo da direita e do imperialismo.

    Mos cortadas, mulheres esventradas, homens esvaziados de sangue

    til, neste passo, determo-nos sobre certas caractersticas da luta de classes virulenta daqual a Romnia foi teatro em Dezembro de 1989.

    Muitos militantes anticapitalistas deixaram-se influenciar pelas torrentes de desinformaoque nos submergiram a propsito da Romnia. No entanto, esta campanha nada tinha de novoe no deveria ter apanhado os progressistas de surpresa. Dezenas de livros redigidos porespecialistas militares ensinam-nos que na doutrina oficial da NATO a desinformao to vital como a artilharia pesada para a guerra. Como disse o coronel Roger Trinquier,especialista da guerra anticomunista: A guerra hoje um conjunto de aces de todas asnaturezas polticas, sociais, econmicas, psicolgicas, armadas, etc. que visa oderrubamento do poder estabelecido num pas.27

    Em qualquer luta importante, as informaes que os media burgueses fornecem soconstitudas por uma sbia mistura de falsidades, de meias verdades, de factos verdicos. Na

    sua autobiografia, Joseph Smith, um dos melhores peritos da CIA em black propaganda, querdizer, na cincia da mentira, explica que utilizou durante anos o senhor Li, o melhorjornalista de Singapura, para espalhar no mundo inteiro as falsas notcias que prepararam oambiente para a interveno americana no Vietname. Mas segundo Smith, mentir de maneiraconvincente ainda a menor das proezas. Dizer que os comunistas so maus apenastagarelice. Apresentar actos maus, mascarados de comunistas, eis o que pode ter umacredibilidade efectiva.28

    26ABC, 2 de Janeiro de 1990, pp. 31 e 13.27

    Trinquier Roger,La guerre moderne, d. La Table Ronde, Paris, 1961, p. 15.28 Smith Joseph,Portrait of a cold warrior, Ballantine books, Nova Iorque, 1976, pp. 164 e 80.

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    Como possvel que gente progressista no se tenha lembrado de tais confisses, nomomento em que o moinho da desinformao rodava na Romnia? Recordamo-nos de umepisdio da guerra antifascista na Grcia, narrado por Richter na sua excelente obra sobre aguerra civil grega. Os nazis afirmavam que os partisans gregos torturavam e extirpavam osprisioneiros. E apresentaram imprensa internacional um balde completamente cheio deolhos que os comunistas tinham arrancado s suas vtimas. A revelao causou uma impresso

    extraordinria. Foram necessrios longos meses para que a encenao fascista fossedenunciada: os nazis haviam extirpado cadveres, desenterrados para a ocasio.

    Em 24 de Dezembro de 1989, lembrando-nos dos preceitos elementares da guerrapsicolgica ensinados nos exrcitos imperialistas, tommos conhecimento com muitocepticismo das imagens que a TV nos apresentava a carnificina de 4630 corpos em Timisoara. Atravs de uma observao atenta das fotos, mdicos do Partido do Trabalho da Blgicachegaram rapidamente concluso de que se tratava de uma encenao montada e foram osprimeiros a denunci-la publicamente. Ora, qualquer homem de esquerda poderia ter chegado mesma concluso. Mas a guerra psicolgica tem precisamente a finalidade de criar um climade histeria anticomunista que leva as pessoas a ver o que se lhes diz para ver e a acreditar na

    veracidade do que apenas encenao e mentira. E isso pegou mesmo, em Dezembro de 1989,a propsito da Romnia.O primeiro-ministro belga, Wilfried Martens, pde afirmar durante a emisso Le Septime

    Jour da BRT, em 24 de Dezembro de 1989: Houve 12 mil mortos em Timisoara. Eleacreditava sem dvida nisso. Ora, sabemos hoje que houve 90 mortos em Timisoara, entre osquais certo nmero de comunistas. O factor de exagero de 133. Imagina-se um homem deesquerda a declarar na TV que houve 655 mil mortos aquando da agresso americana aoPanam? No entanto, o factor de exagero seria exactamente o mesmo: 133. Segundo as actuaisestimativas, claramente baixas, houve cinco mil mortos no Panam. Mas as regras da guerrapsicolgica ensinam que os estragos de uma operao executada por um exrcito imperialistadevem ser, no multiplicadas por 133, mas divididas, digamos, por 20. Assim, as cinco milvtimas sero reduzidas a 250.29

    Mas, para os mais excitados pela guerra da intoxicao, 12 mil cadveres era ainda umnmero muito prosaico. Com um pouco de imaginao, eles serviram-nos a Verdade sob aseguinte forma: S em Timisoara, 12 mil pessoas foram mortas, atrozmente assassinadas.Muitas foram enterradas vivas e queimadas.30

    Com efeito encontramo-nos perante uma das caractersticas mais interessantes dacivilizao ocidental e da sua democracia, posta em evidncia centenas de vezes desde queos bravos cristos foram exterminar a populao ndia da Amrica: os banhos de sanguehorripilantes que os colonialistas e os imperialistas causam entre os povos agredidos somascarados, ocultados ou negados absolutamente pelos assassinos que, ao contrrio, efabulamincansavelmente acerca de banhos de sangue imaginrios cometidos pelas prprias vtimas.

    Em 27 de Dezembro de 1989, a imprensa democrtica afoga-se nestas efabulaesnauseabundas. O preo da liberdade: 100 mil mortos?, titula o Bilk, e Le Journal etIndependance faz-lhe o eco: 70 mil mortos, 300 mil feridos: o preo da liberdade. Seguem-se histrias sobre os assassinos da Securitate de pr os cabelos em p. Eugne Ionesco,dramaturgo de origem romena de pensamento medieval, insurge-se contra os khmersvermelhos, os nazis da Securitate. E todas estas carnificinas confirmam a sua opinio que

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    International Herald Tribune, 9 de Janeiro de 1990.30 Blik, 27 de Dezembro de 1989, p. 1.

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    ele exprime nestes termos: preciso que os comunistas desapaream da vida romena.31Eis-nos regressados quintessncia, ao ncleo puro da propaganda imperialista: difundirmassacres imaginrios para excitar matanas bem reais.

    Todas as afirmaes com que inicimos este captulo, e que fomos buscar textualmente a LaLibre Belgique, se revelaram falsas. Como falsas eram as informaes sobre os corredoressubterrneos donde podiam surgir por toda a parte, em Bucareste, os homens da Securitate,

    sobre a gua envenenada pelos comunistas, sobre a interveno de mercenriospalestinianos e srios, sobre os rfos transformados por Ceausescu em mquinas de matar,sobre a destruio do centro de Sibiu, sobre um comboio de 40 helicpteros voando emsocorro de Ceausescu, sobre a fome em certas regies da Romnia32 E no entanto, esteencadeamento de mentiras permitiu a Le Pen pronunciar a sua diatribe contra o comunismo,esse sistema bestial e criminoso e, o que muito mais grave, esta intoxicao massiva levouecologistas, sociais-democratas e terceiros-mundistas a subscrever as palavras do chefefascista. Assim, reunido em 9 de Fevereiro de 1990, o parlamento belga votou porunanimidade dos 133 presentes este texto: A Cmara dos Representantes congratula-se como facto de a revoluo popular de 22 de Dezembro ter arrastado a queda do ditador romeno

    Ceausescu; recorda que esta revoluo popular visava pr fim a um regime verdadeiramentetotalitrio dominado pelo partido comunista, no qual os direitos humanos erampermanentemente violados e as minorias eram oprimidas e onde a liberdade e a democraciaeram inexistentes. Annemans, um pequeno Le Pen flamengo, congratulou-se com essaunanimidade e fez notar muito judiciosamente que antigamente, estas posies eramavanadas unicamente pela direita.

    A guerra psicolgica contra a Romnia de Ceausescu, esta utilizao sistemtica, concertadae obsessiva da mentira, nada tem a ver com erros de deontologia jornalstica: procede deuma necessidade poltica que est na base da mobilizao contra-revolucionria. Elementosfascistas e golpistas militares esto sempre prontos a usar a violncia para se impor; mas -lhesnecessrio arrastar uma grande parte das massas no dio ao comunismo para poderemconseguir a tomada do poder. Assim, para obter o apoio popular ao golpe de Estado, aSecuritate foi descrita como uma guarda pretoriana, dispondo de armas ultra-sofisticadas,operando em redes subterrneas clandestinas cobrindo toda a cidade de Bucareste,assassinos atirando cegamente sobre a multido. Mas depois da vitria, o general onelrevela-nos que o exrcito perdeu durante os combates 196 oficiais e sargentos.33Aparentemente, aSecuritate no atirava s cegas nem sobre a multido: deu provas de grandepreciso e discernimento. Quando tudo estava acabado, a imprensa livre pde mesmo dizeralgumas verdades: os dividendos polticos das mentiras j estavam em caixa. No NouvelObservateur, de 11 de Janeiro de 1990, Guy Stibon faz algumas constataes que poderiamtambm ter sido feitas (mas ento com uma carga poltica diversamente explosiva!) algumas

    semanas antes. Os quatro edifcios da Securitate esto terrivelmente maltratados, crivadosde balas ou calcinados. Face a eles, o imvel do Comit Central, ocupado desde as primeirashoras pelos insurrectos e que era suposto ser o alvo da Securitate, no foi arranhado:nenhum impacto de tiro, trs vidros partidos. Porque que a sede dos democratas foi poupada enquanto as da polcia secreta foram carbonizadas? Resposta fornecida pelastestemunhas mais fiveis: os agentes da Securitate dispararam pouco. No eram bastantenumerosos nem estavam suficientemente armados e motivados. Disparavam um ou dois

    31 La Libre Belgique, 3 de Dezembro 1989.32 NRC-Handelsblad, Raymond Van den Boogaard, Massagraf in Timisoara werd kerkhof van

    betrouwbaarheid.33 La Libre Belgique, 4 de Janeiro de 1990.

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    tiros a intervalos regulares. O exrcito ripostava com um dilvio de ao e de plvora. Estetiro de barragem infernal que se ouvia na televiso, era o exrcito que o produzia.34

    O bom assassinato e os direitos humanos

    Depois veio o processo e o assassinato de Nicolae e de Elena Ceausescu. Raramente foi dado

    ao mundo civilizado assistir a uma farsa to nojenta, to degradante, to grosseiramentefascista como este processo. O no entanto toda a matilha dos nossos democratas aplaudiu,uns com moderao, outros freneticamente. Imagine o caro leitor que aps uma revoluo nasFilipinas ou no Zaire, os revolucionrios prendessem a senhora Aquino ou o senhor Mobutu eque lhes atirassem com um processo diante de um tribunal militar secreto, do gnero doprocesso Ceausescu, para os fuzilar de seguida no local. Durante 20 anos, os imperialistashaviam de nos encher os ouvidos sobre o carcter brbaro, desumano, sanguinrio do novoregime revolucionrio que tivera incio por um processo de modelo stalinista e totalitrio.

    Vale a pena recordar algumas passagens desta farsa de justia.A acusao: Que Ceausescu nos fale ento das suas contas nos bancos suos. Elena: Provas, provas, provas. Ceausescu: No h nenhuma conta, voc um

    provocador. A acusao: Bem, bem, no h contas mas se elas existirem, est de acordo que o

    dinheiro reverta para o Estado romeno? Ceausescu: uma provocao. A acusao: Hoje hmais de 64 mil vtimas em todas as nossas cidades. Reduziste o povo pobreza. H genteinstruda, verdadeiros sbios, que fugiram do pas para te escapar. Quem so ento osmercenrios estrangeiros que disparam? Quem os mandou vir? Ceausescu: Isto umaprovocao.

    A acusao: Que razes vos impedem de responder? Ceausescu: Falarei somente dianteda Grande Assembleia Nacional e diante da classe operria. Perante este golpe de Estadono vou responder. Foram vocs que fizeram vir mercenrios. () Tu traste o povo, tu

    destris a independncia da Romnia. Elena: Eles dizem que se mataram crianas. No verdade. A acusao: Os acusados

    recusam-se a reconhecer o genocdio, no apenas o de Timisoara e de Bucareste. Trata-se de25 anos de crimes. Se ao menos tivessem fuzilado velhos como vocs. Mas vocs arrancaramos tubos de oxignio nos hospitais, vocs fizeram explodir os depsitos de plasmasanguneo.35

    A direita acusa falsamente a esquerda de todos os crimes que ela prpria tem o hbito decometer. Herman Bodenmann, presidente da Comisso Bancria sua, teve de fazer umrelatrio referente s contas suas de Ceausescu: No h nenhum indcio de semelhantescontas. Parece ser habitual, quando da queda de um ditador, lanar-se a afirmao de que

    ele teria escondido o seu dinheiro na Sua. O nico dinheiro vindo da Romnia para a Sua,foi no quadro de transaces comerciais normais.36

    Os adeptos do antigo regime, que foi realmente sanguinrio (durante a guerra, sob o regimede Antonescu, pelo menos 209 mil judeus foram massacrados, acusam Ceausescu degenocdio. Alguns dias depois da execuo de Ceausescu, em 27 de Dezembro, Kouchner,secretrio de Estado francs, recebe um relatrio oficial romeno indicando 766 mortos duranteos acontecimentos de Dezembro, em todos os hospitais. No fim de Janeiro, o presidente do

    34 Sitbon Guy, La tl m'a menti,Nouvel Observateur, 11 de Janeiro de 1990, p. 40.35

    L'Humanit, 28 de Dezembro de 1989, p. 6-7.36De Morgen, 30 de Dezembro de 1989.

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    tribunal militar de Bucareste, Adrian Nitoiu apura a exacta dimenso do genocdio: 689pessoas mortas e 1200 feridas. O balano definitivo estabelecer 1033 mortos, dos quais 270militares e civis pertencentes ao Ministrio da Defesa. Em Sibiu, entre 205 mortos houve 120presumveis membros da Securitate.37 Quer dizer que o nmero de comunistas e departidrios de Ceausescu entre as vtimas era considervel!

    No foi por acaso que o ignbil assassinato de Ceausescu foi aplaudido pelos nossos

    fanticos dos direitos humanos. Durante os ltimos anos, a burguesia ocidental fez uma barulheira incessante sobre o tema dos direitos humanos na Romnia para proteger oselementos pr-imperialistas romenos. Fez tal barulho que levou a crer que Ceausescu matavatodos os opositores.

    Na realidade, os agentes do imperialismo, a quem o Ocidente assegurou bem os direitoshumanos, gente como Manescu, Iliescu, Mazilu e Cornea, esto hoje de perfeita sade. As vtimas das violaes sistemticas dos direitos humanos esto vivas, enquanto que oviolador dos direitos humanos foi abatido como um co. portanto falso crer que os direitoshumanos, usados desde Jimmy Carter como uma das armas ideolgicas principais doimperialismo, so um conceito humanista acima das classes. Este conceito serve no apenas

    para defender por toda a parte os reaccionrios e os fiis do imperialismo; visa tambm excitaro dio contra os seus adversrios, os stalinistas e outros ditadores. E tambm no deespantar quando se l panegricos da morte e do assassnio escritos pelas mais peritas penasem cantar os direitos humanos. ALibre Belgique esmerou-se neste registo aps a execuosumria de Ceausescu: Poderemos humanamente censurar um punhado de homens emulheres, que fazem tudo para assegurar uma transio to harmoniosa quanto possvelentre a tirania e a democracia, por tomar decises que lhes parecem capazes de servir a suacausa?()Poderemos ser severos por terem executado Ceausescu que, vivo, continuava a seruma ameaa potencial?38 Assim os nossos defensores dos direitos humanos justificam oassassinato de comunistas porque esses crimes parecem servir a causa da direita! Econfessam: Ceausescu vivo continuaria a ser uma ameaa potencial Com efeito, se osgolpistas tivessem feito um processo pblico com acusaes to grotescas, teriam sidoirremediavelmente desmascarados.

    A continuao da luta de classes no socialismo

    Para o marxismo, a anlise da base material da sociedade constitui uma dilignciafundamental. Mas ento, qual a base material do poder de um homem que alguns classificamde vampiro dos Crpatos e outros de revisionista? Como se poder afirmar que a basematerial desta sociedade foi socialista?

    preciso primeiro eliminar a concepo economicista e mecanicista da relao entre a

    infraestrutura econmica e a superestrutura poltica. Entre 1918 e 1921, Lnine mostrou que asociedade sovitica possua uma base muito complexa, comportando a economia naturalcamponesa, a pequena produo mercantil, o capitalismo privado, o capitalismo de Estado e aeconomia socialista. A natureza socialista da Unio Sovitica era determinada pelo Estadosovitico (...) onde est assegurado o poder dos operrios e dos pobres. A ditadura do

    37 Reitlinger G., The final Solution, Sphre books, 1971, p. 540-541; Libration, 28 de Dezembro de

    1989 e 11 de Junho de 1990;Le Monde, 1 de Fevereiro de 1990.38 La Libre Belgique, 27 de Dezembro de 1989.

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    proletariado a direco poltica do proletariado, que garantia uma transformaoprogressiva da infra-estrutura econmica no sentido do colectivismo.39

    Na Romnia de Ceausescu, a propriedade pblica da grande maioria dos meios deproduo, constitua a base econmica do socialismo. Mas ela entrava em luta permanentecom os factores econmicos capitalistas. O mercado mundial imperialista pesava sobre aRomnia. Investimentos estrangeiros, joint-ventures, emprstimos estrangeiros

    representavam o imperialismo no seio da formao socialista. Desenvolvia-se um sectorcapitalista privado, parcialmente legal, parcialmente na sombra. Fraces da burocracialucravam com o seu controlo sobre os meios de produo para adquirir privilgios ilcitos epara os transformar em propriedade privada de facto. S a solidez e a consolidao do poderpoltico podiam garantir que esta batalha acabasse com a vitria da economia socialista sobreos factores capitalistas.

    A derrocada do socialismo na Romnia demonstra de maneira estrondosa a justeza daanlise feita por Mao Ts-Tung durante os anos 60. O revisionismo o maior perigo queameaa a ditadura do proletariado. Um partido comunista pode ver desenvolver-se no seu seioo burocratismo, o tecnocratismo, a busca de privilgios e a ruptura com as massas. Se estes os

    fenmenos de degenerescncia no so eliminados, pode mudar de natureza e tornar-se umpartido burgus. A luta entre a via capitalista e a via socialista na economia prossegue durantetodo o perodo da ditadura do proletariado e uma restaurao do capitalismo continua a serpossvel. O partido deve depurar continuamente as suas fileiras e preservar o seu espritorevolucionrio e necessrio mobilizar as massas para denunciar os seus lados sombrios.40Por razes diversas, Mao Ts-Tung no soube resolver o problema, mas teve o mrito histricode colocar bem a questo.

    Mais de 20 anos depois, o trotskista Mandel combateu os marxistas-leninistas a partir deuma posio economicista vulgar. Mantinha que uma restaurao do capitalismo no erapossvel sem uma contra-revoluo violenta. Como o socialismo no estava ameaado e posto

    que o inimigo principal era a burocracia, Mandel pregava a democracia para todos, omultipartidarismo, que tornaria a dar ao socialismo o seu verdadeiro carcter democrtico. Emfins de Dezembro de 1989, chegou a ultrapassar a prpria imprensa burguesa vociferandocontra os monstruosos crimes stalinistas cometidos em Timisoara. A sua linha dedemocracia para todos foi aplicada na Hungria, na Polnia e na RDA. Ainda em Dezembrode 1989, Mandel declarava: Sinto-me verdadeiramente excitado com tudo o que se passa emBerlim; a tendncia anti-socialista particularmente fraca. Mandel saudava arevoluo em que tudo o que Trtski sempre esperou pode agora ser realizado!41 Hbildefesa da contra-revoluo com um vocabulrio de esquerda. Seis meses mais tarde, arestaurao completa do capitalismo e a reconquista da RDA pelo imperialismo era um facto. A ditadura do proletariado no possvel seno atravs do partido comunista.42 O

    falhano romeno suscitou ainda outras questes. Como desenvolver a democracia socialistasem deixar que se exprimam as concepes burguesas? Quem arbitrar essas discusses? Seforem os dirigentes do partido, como evitar a ditadura exercida pelos dirigentes? Pararesponder a isso, importa partir da experincia concreta da luta de classes sob o socialismo e

    39Sobre o Imposto em Espcie (1921), V.I. Lnine, Obras Escolhidas em trs tomos, Ed. Avante!,1979, t. 3, pp. 493, 495. (N. Ed.)

    40 Lin Piao, Rapport au IXe congrs du PCC, 1-14 Agosto de 1969, in: La Grande RvolutionCulturelle Proltarienne, d. en langues trangres, Pequim, 1970.

    41Entrevista a Mandel, emHumo, 21 de Dezembro de 1989, pp. 18-20.42

    Discurso de encerramento sobre o relatrio do CC do PCR(b), 9 de Maro de 1921, V.I. Lnine,Obras Escolhidas em seis tomos, Ed. Avante!, 1986, t. 5, p. 257. (N. Ed.)

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    por de lado os sonhos sobre a democracia e a igualdade acima das classes. A revoluosocialista cumpre-se em condies histricas determinadas, os partidos reaccionrios eburgueses democrticos lanam-se sempre na guerra civil contra as foras socialistas. Todaa experincia histrica mostra que o socialismo no pode ser instaurado sem a direcopoltica do partido comunista, mesmo que outros partidos revolucionrios possam ter umpapel em aliana com o partido. Sem o partido comunista no h salvao para o socialismo.

    Isto pode incomodar alguns, mas a experincia da contra-revoluo na Europa de Leste clara a este propsito. Para a burguesia, a questo chave sob o socialismo esta: Como alargara democracia? Para ela, trata-se de criar um espao legal para os seus antigos partidosesmagados durante a revoluo. Para o proletariado, a questo chave coloca-se nos seguintestermos: Como assegurar que o partido comunista mantenha o seu esprito revolucionrio, asua linha socialista e a sua ligao com as massas? Se o partido degenera no h nada a fazer, osocialismo est perdido. No se remedeia os erros do partido criando organizaes burguesas.Os trotskistas que apoiaram o Solidarnosc, a Carta 77 e o Neues Forum para melhorar osocialismo, no foram seno instrumentos cegos s mos do imperialismo. A luta decisivatrava-se no interior do partido comunista: preciso assegurar uma orientao correcta das

    regras do centralismo democrtico, instaurar os mecanismos que permitam s organizaes demassas exercer um controlo sobre os membros e os quadros do partido, formular exignciasmuito rigorosas para os quadros e mobilizar as massas para que elas controlem a suaobservao.

    Sem uma prtica correcta da luta de classes sob a ditadura do proletariado, no hconsolidao do socialismo. Stline pressentiu a importncia desta luta de classes, Maoformulou-lhe os princpios, mas ambos cometeram erros esquerdistas na sua aplicao, errosque ser necessrio analisar de maneira dialctica, tendo em conta a restaurao capitalistalevada a cabo em vrios pases ex-socialistas. Pode-se compreender que um idelogo da direitaliberal como Raymond Aron ache que a continuao da luta de classes sob o socialismo sejauma ideia absurda. Perguntamo-nos, escreve, como 30 anos aps a revoluo, os ex-banqueiros, que j no so banqueiros, poderiam ainda constituir um inimigo contra quem o Estado socialista deve agir.43 tambm a posio de Mandel, que negou comconstantemente que o perigo para a ditadura do proletariado venha da aliana entre oimperialismo, das antigas classes contra-revolucionrias e das tendncias revisionistas noPartido. Ele, Mandel, afirma lutar h mais de meio sculo, sem descanso nem compromissocontra o reino opressor e detestvel() das castas burocrticas privilegiadas na URSS e naChina. uma linguagem que nem Raymond Aron nem Jean-Marie Le Pen recusariam.Fazendo-se conscientemente apstolo dos partidos burgueses e pr-imperialistas, Mandelataca Lnine colocando algumas questes que cr serem prfidas: Partidos que tenham umamaioria de membros originrios da classe operria mas ao mesmo tempo uma ideologia

    burguesa sero interditos? Qual a linha de demarcao entre o programa burgus e aideologia reformista? Suprimir-se- a social-democracia? () Nenhuma verdadeirademocracia operria possvel sem a liberdade de constituir um sistema pluripartidrio.44Sob um verbalismo to retumbante como oco, agitando febrilmente a bandeira do anti-stalinismo, Mandel arvorou-se em porta-voz da reconquista imperialista dos pases de Leste.J em 9 de Maro de 1990, o seu adjunto Vercammen reclamava para a social-democracia umaliberdade total sob o socialismo. Algumas semanas mais tarde j ningum podia negar que asocial-democracia alem tivera um papel de vanguarda na infiltrao da RDA e na consequente

    43 Aron Raymond,Dmocratie et totalitarisme, d. Gallimard, 1965, p. 254.44

    Xle Congrs mondial de la IVe Internationale, Novembro de 1979, Inprecor, pp. 251, 241 e 236-237.

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    conquista pelo imperialismo alemo ocidental. Qualquer regime socialista deve proibir aexistncia legal das organizaes que combateram durante a guerra civil ao lado da grande burguesia. Enquanto o imperialismo disponha de uma esmagadora superioridade ao nvelmundial, o socialismo deve interditar as organizaes polticas ao servio da grande burguesiae do imperialismo. A Nicargua a est para nos convencer desta verdade. Proibir aorganizao poltica da burguesia em nada impede a expresso de toda a espcie de ideias

    burguesas. Estas ideias exprimir-se-o de mil maneiras e o socialismo deve organizar umcombate ideolgico permanente para lhes demonstrar a falsidade. Sem o desenvolvimentocontnuo da democracia socialista, no h reforo das bases socialistas.

    Logo que o partido comunista age de forma autenticamente revolucionria e quando a lutade classes correctamente levada por diante, a democracia socialista pode desenvolver-seplenamente. O socialismo continuar a ser muito vulnervel por tanto tempo quanto ademocracia socialista no for largamente desenvolvida. As massas trabalhadoras devem estarassociadas elaborao das leis, dos regulamentos e das medidas polticas e participar naverificao da sua concretizao. O socialismo consolida-se medida em que os trabalhadores,atravs da luta, aprendem a defender os princpios e as realizaes da ditadura do proletariado

    e a criticar as infraces aos princpios e os erros, venham de onde vierem. Uma vidademocrtica dinmica na base permitir a expresso de numerosas ideias e propostas quepodem consolidar e desenvolver a sociedade socialista.45

    45

    Zhou Enlai, Oeuvres choisies, tomo II, Pequim, 1989: Maintenir la dictature, largir ladmocratie, pp. 234-241.

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    Lista de nomes

    (acrescentada pela edio portuguesa)

    Annemans, Gerolf Emma Jozef (1958),poltico belga flamengo de extrema-direita,

    membro do partido Vlaams Belang (BlocoFlamengo).

    Antonescu, Victor (1882-1946), primeiro-ministro romeno durante a II Guerra (1940-44),aliou-se aos nazis, sendo responsvel pelomassacre de centenas de milhares de pessoas,designadamente judeus e ciganos. Foi condenadopor crimes de guerra e executados em 1946.

    Aquino, Maria Corazon Sumulong Cojuangco(1933-2009), primeira mulher presidente dasFilipinas (1986-1992).

    Arvalo, Marco Vinicio Cerezo (1942),presidente da Guatemala entre 1986 e 1990.

    Aron, Raymond (1905-1983), filsofo,socilogo, politlogo e jornalista francs, defensordo liberalismo.

    Barb, Henri (1902-1966), militante daJuventude Socialista desde os 15 anos, entra noPartido Comunista desde a sua fundao (1920),tornando-se primeiro secretrio da JuventudeComunista em 1926 e membro do Comit

    Executivo da IC em 1928. Abandona o partido em1934 para se juntar a Jacques Doriot com quemfunda o Partido Popular Francs. Colaboracionistadurante a ocupao, foi condenado a trabalhosforados at ao final de 1949.

    Bukhrine, Nikolai Ivnovitch (1888-1938),membro do partido desde 1906, do CC (1917-34),candidato (1934-37), do Politburo (1924-29),candidato desde 1919. Economista e publicista,liderou os comunistas de esquerda aps aRevoluo de Outubro, opondo-se ao Tratado dePaz de Brest-Litovsk. Protagoniza a partir de 1929a corrente de direita que se ope colectivizao e industrializao acelerada. Expulso do partidoem 1937, detido nesse ano, sendo julgado econdenado a fuzilamento em 1938, no mbito doprocesso do Bloco Trotskista de Direita, que sepropunha restabelecer as relaes de produocapitalistas na Rssia.

    Clor, Pierre (1902-1957), membro do PartidoComunista Francs desde 1923, secretrio doComit Central em 1929, expulso nos anos 30.Em 1942 junta-se ao Partido Popular Francs dofascista Jacques Doriot.

    Cornea, Doina (1929), dissidente romena,professora de francs, colaboradora daRadio Free

    Europe, foi despedida da Universidade porpropaganda contra-revolucionria em 1983 emantida em priso domiciliria de 1987 at aoderrubamento do regime. Foi uma das fundadorasdo Frum Anti-totalitrio da Romnia, que maistarde se transforma em Conveno Democrticada Romnia, pela qual Emil Constantinescu eleito presidente da Repblica em 1996.

    De Klerk, Frederik Willem (1936), advogado epoltico, foi o ltimo presidente branco da fricado Sul (1989-1994). Entre 1978 e 1989 integrou

    como ministro os governos de Pieter WillemBotha.

    De Man, Henri (1885-1953), vice-presidente epresidente (aps a morte Emile Vandervelde em1938) do Partido Operrio Belga, afasta-se domarxismo e da democracia para se tornar umpartidrio do fascismo e da capitulao do pas shordas nazis, que apresenta aos militantes do seupartido como uma libertao. Todavia, em 1941 obrigado a fugir para o exlio na Sua. Aps a vitria ainda processado por traio, mas sem

    consequncias.Diouf, Abdou (1935), segundo presidente do

    Senegal (1981-2000), desde 2002 secretrio-geral da Organizao Internacional daFrancofonia.

    Doriot, Jacques (1898 -1945), poltico e jornalista francs, militante comunista desde oincio dos anos 20, expulso do PCF em 1934. Em1936 funda o Partido Popular Francs, opositor Frente Popular, tornando-se um colaboracionistanazi fervoroso. Participa na criao da Legio de

    Voluntrios contra o Bolchevismo (LVF) ecombate pessoalmente sob uniforme alemo nafrente sovitica com a patente de tenente. abatido na Alemanha antes da vitria.

    Duarte, Jos Napolen (1925-1990),presidente de El Salvador entre 1984 e 1989.Liderou a junta militar (1980-82) que tomou opoder em 1979.

    Goebbels, Joseph (1897-1945), membro doPartido Nacional-Socialista desde 1922, foiministro da Educao e da Propaganda sob o

    terceiro Reich (1935-44). Amigo ntimo de Adolf

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    Hitler, foi uma das figuras mais poderosas doregime nazi juntamente com Hermann Goering eHeinrich Himmler. Suicida-se com a esposa em 1de Maio de 1945, depois de ter envenenado osseus seis filhos.

    Grauls, Frans Victor (?-?), socialista belga,

    presidente da Unio dos Trabalhadores Manuais eIntelectuais (UTMI), organizao criada emNovembro de 1940 como sindicato nico da novaordem corporativa nazi.

    Houphout-Boign, Flix (1905-1993)primeiro presidente da Costa do Marfim (1960-93), exerceu cargos governamentais em Frana de1956 at independncia do pas, oficialmenteproclamada em Agosto de 1960.

    Iliescu, Ion (1930), presidente da Romnia de1990 a 1996 e de 2000 a 2004 e Senador do

    Partido Social-Democrata (1996-2000 e 2004-08). Membro da juventude comunista desde 1944,aderiu ao Partido Comunista Romeno em 1953,entrando para o Comit Central em 1965. Nosanos 70 afastado dos principais cargos polticose excludo do CC em 1984. Reaparece em 1989como um dos principais conspiradores do golpe.

    onel, no foi possvel identificar este generalromeno.

    Ionesco, Eugne (1909-1994), escritorromeno, viveu praticamente toda a sua vida em

    Frana, para onde a sua famlia emigrou em 1913.Conhecido sobretudo como dramaturgo,representante do teatro do absurdo, deixou uma vasta obra que abrange tambm o ensaio e oromance, entre outros gneros literrios. Em 1989participa numa sesso pblica, organizada peloParlamento Europeu, dedicada s violaes dosdireitos humanos pelo regime comunista romeno.

    Kohl, Helmut Josef Michael (1930), polticodemocrata-cristo alemo, chanceler do pas de1982 a 1998.

    Kouchner, Bernard (1939), poltico socialistafrancs, exerceu vrios cargos governamentais,designadamente como ministro dos NegciosEstrangeiros (2007-2010), sob a presidncia deNicolas Sarkozy.

    Le Pen, Jean-Marie (1928), poltico francs deextrema-direita. Presidiu a Frente Nacional desdea sua fundao em 1972 at Janeiro de 2011.

    Lus XVI (1754-1793), rei de Frana (1774-1792) foi deposto pelos revolucionrios eguilhotinado em Janeiro de 1793.

    Mnescu, Corneliu (1916 -2000), diplomataromeno, foi ministro dos Negcios Estrangeirosde 1961 a 1972 e presidente da Assembleia-Geraldas Naes Unidas (1967-68). Membro do PartidoComunista Romeno desde 1936, um dosdirigentes de topo que subscreve a Carta dosSeis em Maro de 1989. Aps o derrubamento doregime socialista, integra o conselho interino quegovernou o pas at s eleies.

    Maria Antonieta (1755-1793), rainhaconsorte de Frana entre 1774 e 1792. Foicondenada morte por alta traio em 16 deOutubro de 1973.

    Martens, Wilfried (1936), poltico belga,membro do Partido Cristo-Democrata Flamengo(CD&V), o qual presidiu de 1972a 1979. Chefiou ogoverno belga de 1979 a 1992, excepto um perodo

    de oito meses em 1982. presidente do PartidoPopular Europeu desde 1990.

    Mazilu, Dumitru (1934) jurista e diplomataromeno, professor universitrio desde 1970 e altofuncionrio do Ministrio dos NegciosEstrangeiros (1975-87). Torna-se conhecido em1985 quando aceita elaborar um relatrio para asNaes Unidas sobre direitos humanos, cujocontedo dirige contra o regime socialista.Embora em priso domiciliria desde 1986,consegue enviar clandestinamente o seu relatrioque publicado pelas Naes Unidas em Julho de1989. Aps o derrubamento do regime nomeadovice-presidente do pas, seguindo depois a carreiradiplomtica

    Mobotu, Sese Seko Nkuku Ngbendu wa ZaBanga (1930-1997), segundo presidente daRepblica Democrtica do Congo (1965-97), pasredenominado Zaire em 1971. Entrou para ogoverno de Patrice Lumumba como secretrio deEstado, tornando-se rapidamente Chefe doEstado-Maior. nessa qualidade,instrumentalizado pela Blgica, que prende opopular lder em 1960 e permite o seu assassinato,levando a cabo um golpe de Estado concebidopelo imperialismo. Em Novembro 1965 apodera-se da chefia do pas atravs de um novo golpedesta vez contra Joseph Kasa-Vubu. Enquantovassalo dos EUA na regio, combate o governo doMPLA e apoia a UNITA e a FLNA em Angola. derrubado em Maio de 1997 pelas tropas deLaurent-Dsir Kabila.

    Nitoiu, Adrian, no foi possvel encontrarreferncias biogrficas deste juiz romeno,

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    presidente do tribunal militar na altura doderrubamento do regime socialista.

    Noriega, Manuel Antonio (1934), chefe dasforas armadas do Panam (1983), esteve frentedo pas de 1984 a 1990, sem contudo possuir ottulo constitucional de chefe de Estado. Durante

    duas dcadas foi um agente activo da CIA (1959-80). Porm, em 1987, os EUA exigem a suademisso e acusam-nos de trfico de droga. EmDezembro de 1989, o presidente George Bushordena a invaso do pas para capturar Noriega,que se entrega em Janeiro de 1990, sendocondenado pela justia americana a 30 anos depriso. A operao Justa Causa durou cerca deduas semanas tendo causado a morte a milharesde civis.

    Pitnitski, Iossif Aronovitch, verdadeiro

    nome Iossel Oriolvitch Tarchis (1882-1938),membro do POSDR desde 1898, bolchevique,correspondente do Iskra, emigrou em 1902 apsse evadir da priso de Kev. Em 1905 membro docomit do partido em Odessa, depois emMoscovo, voltando a emigrar em 1908 paraGenebra. De novo na Rssia, deportado em1914, tornando-se membro do Comit Executivodo Soviete de Moscovo em 1917. Membro dobureau do Comit de Moscovo (1918-22), do CCdo PCU(b) a partir de 1927 (candidato desde1920), da Comisso Central de Controlo (1924-27)

    e responsvel de seco no CC a partir de 1935.Foi membro do Comit Executivo daInternacional Comunista desde 1924 e do seuPresidium a partir de 1928. Em 1937 preso,excludo do CC em Outubro, foi julgado econdenado a fuzilamento (executado em 29 deJunho de 1938), no sendo conhecidos detalhesdo seu processo.

    Robespierre, Maximilien (1758-1794),advogado e poltico francs, foi uma das figurascentrais da Revoluo Francesa (1789-99).

    Membro do clube dos jacobinos, foi um doslderes da insurreio popular no Campo de Marte(1792), participando na instaurao do governorevolucionrio. Torna-se presidente da ConvenoNacional em 1794, mas 27 de Julho desse ano preso e guilhotinado no dia seguinte,acontecimento que marcou o incio dodesmantelamento da revoluo.

    Richter, Heinz A. (1939), historiador alemo,autor de obras sobre a histria contempornea daGrcia e do Chipre.

    Roman, Petre (1946), filho de Valter Roman,comunista romeno acusado de titismo em 1952 emais tarde readmitido no partido, foi primeiro-ministro da Romnia entre Dezembro de 1990 eOutubro de 1991. Tornou-se conhecido naocupao do edifcio da Televiso Nacional.Presidente do Senado (1996-1999) e ministro dosNegcios Estrangeiros (1999-2000), foi lder doPartido Fora Democrtica e actualmentemembro do Partido Liberal Nacional.

    Saint-Just, Emmanuel-Marie-Michel-Philippe Frteau (1745-1794), deputado francseleito pela nobreza nos Estados Gerais de 1789,demarca-se da revoluo em 1792 e retira-se paraas suas propriedades. Em Junho de 1894 acusado de conspirao e guilhotinado.

    Smith, Joseph Burkholder (1922-2000),

    oficial da CIA desde o final da II Guerra,especialista em propaganda, participou emnumerosas operaes na sia e na Amrica do Sulentre 1951 e 1973. Escreveu o Retrato da Guerra-fria ( Portrait of a Cold Warrior), publicado emNova Iorque, em 1976, e A Conspirao para Roubar a Forida, 1983, (The Plot to StealFlorida).

    Sitbon, Guy (1934), jornalista e escritortunisino, radicado em Frana desde finais dosanos 50, onde escreve para vrios jornais degrande expanso. Militante do Partido ComunistaTunisino (dissolvido em 1993), foi correspondentedoNouvel Observateur em Moscovo entre 1990 e1995, assistindo ao derrubamento do socialismo edesmembramento da URSS. Desde 1998 trabalhano semanrioMarianne.

    Togliatti, Palmiro (1893-1964), membro doPartido Socialista Italiano desde 1914, participa nafundao do semanrio comunista Ordine Nuovo(1919), destacando-se como tradutor epropagandista das obras de Lnine. Contribuipara a formao da fraco comunista que funda oPC em Janeiro de 1921. No 2. Congresso (1922) eleito para o CC integrando a direco do partidono ano seguinte. Em 1924 funda com Gramsci ojornalLUnit, sendo nesse ano eleito para o CEICe em 1928 para o seuPresidium. Em 1926 eleitosecretrio-geral do PCI. Participa na guerra civilde Espanha (1937-39), vivendo na URSS entre1940 e 1944. Entre 1944 e 1946 integra o governoitaliano, ocupando os cargos de ministro sempasta, da Justia e de vice-primeiro-ministro.Deputado desde 1947, sofre um atentado fascista

    em 1948, aps as eleies em que o PCI recolhe 31

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    por cento dos votos. Aps o XX Congresso doPCUS apresenta a Va Italiana al Socialismo, quelana as bases para a viragem oportunista dopartido, mais tarde consolidada com oeurocomunismo de Berlinguer. Morre em Ilta(URSS), vtima de uma hemorragia cerebral. Oseu nome foi dado cidade sovitica deStavropol.

    Tks, Lszl (1952), sacerdote e polticoromeno de etnia hngara, deputado aoParlamento Europeu desde 2004 e vice-presidente do hemiciclo desde 2010. Bispo daIgreja Reformada da Romnia (calvinista),opositor activo ao regime socialista e colaboradorde um jornal clandestino, era padre em Timisoaradurante os acontecimentos de Dezembro de 1989,sendo-lhe atribudos discursos incendirioscontra o Estado. Em Junho de 2009 recebeu aMedalha da Liberdade Truman-Reagan em Washington pelo seu papel na luta contra ocomunismo romeno.

    Trinquier, Roger (1908-1986), oficialsuperior pra-quedista, participou nas guerras daIndochina e da Arglia. Terico da guerrasubversiva, autor deA Guerra Moderna.

    Van Acker, Achille Honor (1898-1975),socialista belga, foi primeiro-ministro (1945-46 e1954-58) e ocupou vrias pastas ministeriais emdiversos governos no ps-guerra. Foi nomeadoministro de Estado em 1958 e presidiu Cmarados Representantes (1961-74). Durante a guerra,comea por colaborar com o ocupante, mas depoisafasta-se e funda na clandestinidade o PartidoSocialista Belga que substitui o Partido OperrioBelga.

    Vercammen, Franois, membro do BureauExecutivo da IV Internacional.