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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº 1301 Julho/2013 A união de uma família em torno do campo Capoeiras Na comunidade Baixa do Pau Ferro, localizada no município de Capoeiras, interior de Pernambuco, vivem seu José Maurício Alves, 78, e dona Auta Maurício de Farias Alves, 77. A casa que acomoda os dois agricultores, já abrigou também os 16 filhos do casal. A família é grande, mas na ponta dos dedos, marido e mulher não esquecem ninguém e chegam ao resultado de 33 netos e 14 bisnetos, espalhados pelos estados da Bahia, São Paulo e Pernambuco. O desejo deles é reunir toda a família para uma foto coletiva. Em dezembro de 2013, a união fará bodas de diamantes. Este título é uma forma carinhosa encontrada pela sociedade para homenagear um casamento que completa 60 anos. De acordo com dona Auta, não existem segredos para uma história duradoura, o que existe é amor, confessa ela que, ainda hoje sente ciúmes do marido e só faz as refeições quando ele está presente. A admiração existe nas duas partes, seu José, por sua vez, também declara o amor que sente pela companheira. “Eu amo demais a minha velhinha. Admiro muito essa mulher, ela é muito trabalhadora”, disse. “Nossa vida é uma romance”, completa dona Auta. Mas não é só pela história de amor e respeito que o casal chama a atenção, é também pela sabedoria no cuidado com o campo. Eles são exemplos de agricultores que sabem aproveitar o potencial da terra ao máximo. Para eles, tamanho não é documento, pois dominam a arte de otimizar o espaço que têm com a produção de 18 culturas diferentes. Numa área de dois hectares e meio, o casal cultiva abacate, abóbora, acerola, amora, banana, caju, feijão, goiaba, graviola, laranja, limão, mandioca, manga, maracujá, melancia, milho, pinha e pitomba. Os produtos são usados no consumo da casa e também distribuídos entre os conhecidos, mas não são comercializados. Vista da casa de seu José e dona Auta Seu José e dona Auta A história de companheirismo entre dois agricultores que valorizam o espaço para produção familiar

A união de uma família em torno do campo

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Page 1: A união de uma família em torno do campo

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº 1301

Julho/2013

A união de uma família em torno do campo

Capoeiras

Na comunidade Baixa do Pau Ferro, localizada no município de Capoeiras, interior de Pernambuco, vivem seu José Maurício Alves, 78, e dona Auta Maurício de Farias Alves, 77. A casa que acomoda os dois agricultores, já abrigou também os 16 filhos do casal. A família é grande, mas na ponta dos dedos, marido e mulher não esquecem ninguém e chegam ao resultado de 33 netos e 14 bisnetos, espalhados pelos estados da Bahia, São Paulo e Pernambuco. O desejo deles é reunir toda a família para uma foto coletiva.

Em dezembro de 2013, a união fará bodas de diamantes. Este título é uma forma carinhosa encontrada pela sociedade para homenagear um casamento que completa 60 anos. De acordo com dona Auta, não existem segredos para uma história duradoura, o que existe é amor, confessa ela que, ainda hoje sente ciúmes do marido e só faz as refeições quando ele está presente. A admiração existe nas duas partes, seu José, por sua vez, também declara o amor que sente pela companheira. “Eu amo demais a minha velhinha. Admiro muito essa mulher, ela é muito trabalhadora”, disse. “Nossa vida é

uma romance”, completa dona Auta.Mas não é só pela história de amor e respeito

que o casal chama a atenção, é também pela sabedoria no cuidado com o campo. Eles são exemplos de agricultores que sabem aproveitar o potencial da terra ao máximo. Para eles, tamanho não é documento, pois dominam a arte de otimizar o espaço que têm com a produção de 18 culturas diferentes. Numa área de dois hectares e meio, o casal cultiva abacate, abóbora, acerola, amora, banana, caju, feijão, goiaba, graviola, laranja, limão, mandioca, manga, maracujá, melancia, milho, pinha e pitomba. Os produtos são usados no consumo da casa e também distribuídos entre os conhecidos, mas não são comercializados.

Vista da casa de seu José e dona Auta

Seu José e dona Auta

A história de companheirismo entre dois agricultores que valorizam o espaço para produção familiar

Page 2: A união de uma família em torno do campo

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Pernambuco

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Seu José é o quinto de 16 filhos. Na infância, ele e o irmão mais velho tiveram a oportunidade de estudar, mas não durou muito, pois tiveram que interromper os estudos para ajudar o pai no trabalho com a agricultura. “Quando eu completei dez anos, meu pai me chamou e disse que a partir daquele dia, minha cartilha do ABC seria a enxada. Até hoje”, lembrou.

Em 1980, a seca fez com que seu José fosse para São Paulo em busca de melhores condições de vida, assim como tantos nordestinos. Lá, ele trabalhou como jardineiro em um condomínio da cidade durante dois anos, quando voltou para Pernambuco. “Eu recebia o pagamento e mandava metade do dinheiro para minha esposa manter a casa. Foi desse jeito até eu vencer a batalha”, contou. Depois disso, o agricultor ainda voltou mais duas vezes para a metrópole: em 1985 e em 1989, quando permaneceu lá por nove e oito meses, respectivamente. “A realidade de São Paulo é muito diferente da nossa, mas foi lá que eu consegui, através do meu trabalho, melhorar as condições de vida”, reconheceu.

Se por um lado, a estiagem prolongada foi o motivo pelo qual, no passado, seu José deixou o campo pela cidade, hoje isso não é mais uma preocupação para o casal de agricultores. Desde 2003, eles têm no terreiro de casa uma cisterna de placas com capacidade para 16 mil litros, o benefício foi alcançado através do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC). Eles contam que, desde então, o reservatório nunca secou. Dez anos depois, a família se prepara para receber mais uma cisterna, dessa vez com capacidade para 52 mil litros, pelo Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2). O processo de escavação já foi concluído.

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O casal de agricultores ao lado da cisterna de 16 mil litros, construída em 2003.

Ao fundo, a escavação da cisterna de enxurrada