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A Torá fala na língua dos homens – ou os homens falam pela Torá? Um estudo sobre a liberdade de interpretação. Existe uma “crença” de que, as interpretações tradicionais judaicas seriam, derivadas de uma tradição ininterrupta desde o Sinai e, portanto; seriam inquestionáveis e inerrantes (numa palavra: Divinas). Yeshua se opôs a este entendimento e crença e denunciou tais tradições como “feita por homens”, significando: construídas de acordo com a vontade dos seus próprios propagadores e; insubordinadas à verdade de Deus, quando em conflito com esta. A crença de uma tradição ininterrupta é contradita porém, pelo estudo da sabedoria de Israel diretamente, com olhar atento e senso crítico onde o que se vê é: Os sábios interpretavam as Escrituras ‘livremente’, quer dizer, de acordo com suas próprias opiniões particulares e, a própria “tradição judaica” foi por eles formulada e elaborada, sendo constituída de pouquíssimas informações inteligíveis do passado e, a maioria das regras criadas nas gerações da elaboração do Talmud; porém, igualmente chamadas de “parte da tradição oral”; que na verdade eram parte do imaginário e escolha particular dos rabinos em suas gerações, durante a elaboração da Guemará. Aquilo que foi transmitido para a posteridade como uma “tradição ininterrupta”, na verdade; é uma colcha de retalhos de informações selecionadas de acordo com o capricho de cada um dos rabinos participantes que, promoviam e praticavam a

A Torá Fala Na Língua Dos Homens

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estudo sobre interpretações rabínicas da Lei

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A Torá fala na língua dos homens – ou os homens falam pela Torá?

Um estudo sobre a liberdade de interpretação.

Existe uma “crença” de que, as interpretações tradicionais judaicas seriam, derivadas de uma tradição ininterrupta desde o Sinai e, portanto; seriam inquestionáveis e inerrantes (numa palavra: Divinas). Yeshua se opôs a este entendimento e crença e denunciou tais tradições como “feita por homens”, significando: construídas de acordo com a vontade dos seus próprios propagadores e; insubordinadas à verdade de Deus, quando em conflito com esta.

A crença de uma tradição ininterrupta é contradita porém, pelo estudo da sabedoria de Israel diretamente, com olhar atento e senso crítico onde o que se vê é: Os sábios interpretavam as Escrituras ‘livremente’, quer dizer, de acordo com suas próprias opiniões particulares e, a própria “tradição judaica” foi por eles formulada e elaborada, sendo constituída de pouquíssimas informações inteligíveis do passado e, a maioria das regras criadas nas gerações da elaboração do Talmud; porém, igualmente chamadas de “parte da tradição oral”; que na verdade eram parte do imaginário e escolha particular dos rabinos em suas gerações, durante a elaboração da Guemará. Aquilo que foi transmitido para a posteridade como uma “tradição ininterrupta”, na verdade; é uma colcha de retalhos de informações selecionadas de acordo com o capricho de cada um dos rabinos participantes que, promoviam e praticavam a liberdade total de interpretação do texto, dentro de seus grupos de estudos em contradição direta com o próprio sistema de crença judaico hodierno que, inibe a liberdade de interpretação da Torá ou das Escrituras como um todo, alegando basearem-se “apenas” nos sábios...

Veremos exemplos dentro da literatura judaica clássica que, demonstra com certa clareza o que desejamos mostrar: Os Rabinos interpretavam a Torá conforme bem desejavam, sem compromisso com tradição alguma, senão

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que; usavam o “argumento da tradição” para proporcionar maior ênfase a um determinado “ponto” que, não desejavam que fosse discutido, naquele momento (fazendo uso da ‘autoridade’ recebida no momento) e, propagavam suas concepções por mais absurdas que parecessem aos seus colegas; a fim de responderem sobre complexidades do texto. Vejamos o primeiro exemplo:

בעניאם־ראה תראה ותדר נדר ותאמר יהוה צבאות אמתך וזכרתני ולא־תׁש�כח את־אמתך ונתתה לאמתך זרע אנׁש�ים ונתתיו ליהוה כל־ימי חייו ומורה לא־יעלה

על־ראׁש�ו׃“E [Hana] fez seu voto e disse: Oh Eterno dos Exércitos! Se tão somente olhares <Im Raoh Tireh> para o sofrimento de sua serva e Te lembrares de mim e; [de fato] não esqueceres Tua serva e [assim] se Tu concederes à tua serva um menino...” (1° Shemuel 1:11)

Neste trecho, como em muitos outros nas Escrituras temos uma duplicação do verbo “olhar” Hebraico. Uma anomalia no texto Hebreu que, chamou a atenção dos rabinos. O que nossos rabinos disseram sobre a existência de uma

linguagem duplicada neste verso אם־ראה תראה <Raoh Tireh>?

Temos a posição dos sábios registrada no Talmud Babilônico, Tratado de Berahot 31b:

Sobre o trecho no versículo אם־ראה תראה <Im Raoh Tireh> o Rabino Eleazar disse: Hana disse [quis dizer] perante o Santo - bendito seja! : Senhor do Mundo! Se olhares [por mim, para me abençoar] – muito bem. E se não olhares – Eu vou me esconder com outro homem, além do meu esposo Elkana [para que meu esposo suspeite de mim sobre adultério e aplique-se sobre mim as leis de Sotah {que obrigam a mulher suspeita (sotáh) a ser levada ao Templo para o ritual} – então, eu vou beber as águas amargas {durante o ritual da Sotah} e

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– não sendo culpada - gerarei descendência {conforme a promessa do versículo a respeito – Bamidbar 5:28}...] Mas, de acordo com a [outra] opinião [sobre os efeitos benéficos das leis de Sotah sobre a mulher não culpada] que [dizem que, os efeitos das águas amargas seriam:] se ela desse a luz de forma sofrida [após beber as águas amargas, não tendo culpa] seria fácil [seu parto] e, se ela tinha meninas [após beber as águas amargas] teria meninos e, se ela tinha filhos baixos [após beber as águas amargas] os teria altos e; se tinha filhos escuros [após beber as águas amargas] os teria claros...O que pode ser dito? [Pois em relação a esta opinião beber as águas amargas não ajudariam Hana em nada! Então qual seria o motivo da linguagem duplicada?] A frase duplicada: Raoh Tireh [então significaria que:] a Torá fala na língua dos homens.

Quem conhece, de fato a tradição judaica por sua literatura clássica entende que HaZaL <Hahameinu Zih’ronan Livrahá> Nossos sábios de abençoada memória - elucidam os textos da forma como bem entendem – significando – eles não se baseiam estritamente numa tradição ininterrupta mas, criaram naquele instante; uma versão própria do que seria esta tradição e seu conteúdo. Neste exemplo, vemos o Rabino Eliezer construir como bem desejou a interpretação sobre a forma duplicada que o verbo “olhar” que aparece no texto da Escritura. Neste estudo, consideraremos porém, a segunda resposta dada para a elucidação: A de que a Torá fala na língua dos homens. O que isso significaria?

Qualquer um que estude percebe como os rabinos discutiam sobre um assunto: A Torá repete palavras, isto é; usa mais termos do que o necessário para expressar uma ideia como as pessoas fazem? Ou será que estas seriam dicas para algo oculto a ser aprendido (algo até mais apropriado para um conteúdo que se atribuí autoria divina)? Sendo assim, não poderia haver no texto, palavras ou até letras vãs.

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E assim escreveu RADAK (rabino David Kimhi) comentando 1° Shmuel 1:11: [sobre a porção do verso] “Se tão somente olhares”... eles [os rabinos do Talmud] criaram exegeses sobre este assunto devido a repetição [do verbo, ocorrida ali], mas isso; nem era necessário, pois há um costume popular de se repetir os verbos, tal como “se tão somente escutares” [Shamoah Tishme’um]. Esta repetição serve para fortalecer o ponto [o assunto] e eles [os rabinos] – abençoada seja a memória deles – interpretaram: ‘se você olhar – muito bem...mas, se não olhar – eu farei meu esposo ficar com ciúmes e darei à luz [da mesma forma, pois] escreveste em Tua Torá: Se a mulher não foi profanada e for pura, então será livre e terá filhos. Bamidbar 5:28’.”

O RADAK declara aqui de forma inequívoca que, nossos sábios se equivocaram ao interpretar a duplicação no verso, porque na verdade tal duplicação era um costume linguístico entre os israelitas da Era das Escrituras. Para ele, nem toda interpretação dos rabinos era uma “interpretação tradicional desde o Sinai” mas, a opinião pessoal deles.

Similarmente (Shemot [êxodo] 3:7):

את־עני עמי אׁש�ר במצריםראה ראיתי ויאמר יהוה

“E Deus disse: Eu tenho visto ראה ראיתי <Ra’oh Raiti> a aflição do Meu povo que está no Egito.”

No Midrash, aprendemos duas lições desta repetição verbal:

Shemot Rabah (Edição de Vilna), Parashah Dois:

“E Deus disse: Eu tenho visto a aflição do Meu povo... Porque é dito ‘Eu tenho visto’ duas vezes? Desde que, primeiro eles iriam afogar os bebês no rio e, então cimenta-los nas paredes das construções.”

Outra explicação aparece em Shemot Rabah (Edição de Vilna), Parashah Três:

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“E Deus disse, ‘Eu tenho visto’: Não é dito uma vez, mas duas! O Santo - bendito seja Ele! - disse para Moshe: ‘Você contempla uma visão, mas Eu, vejo duas: Você os vê vindo para o Sinai e aceitando a Torá. Eu os vejo aceitando a Torá – o que consiste numa visão e, - a outra visão: do pecado do Bezerro de Ouro.”

Similarmente temos em Bamidbar [números] 13:30:

“E Calev fazendo calar o povo perante Moshe disse: ‘Vamos subir (Aloh Na’aleh) e possuí-la; pois somos capazes (Yahol Nuhál) de sobrepujá-la”.

(Não temos nossos sábios instruindo sobre nada destas duplicações).

Mas, o que SFORNO (rabino Ovadiah ben-Yaacov Sforno) – em seu comentário de Shemot [êxodo] 3:7 - disse a respeito?

“O significado de ראה ראיתי <Ra’oh Ra’iti> é: eu tenho – de fato – visto. Este é o sentido em todos os locais aonde a linguagem foi duplicada, tal como em <Aleh Na’aleh> e também <Yahol Nuhál> - o sentido é – de fato! – para mostrar que é verdade.

Traremos outro exemplo que demonstra a estranha natureza da interpretação de HAZAL.

Em Vaicrá [levítico] 19:20, está escrito:

ואיׁש� כי־יׁש�כב את־אׁש�ה ׁש�כבת־זרע והוא ׁש�פחה נחרפת לאיׁש� או חפׁש�ה לא נתן־לה בקרת תהיה לא יומתווהפדה לא נפדתה

כי־לא חפׁש�ה׃

“E todo aquele que se deitar com uma mulher desposada, prometida a um marido e, que não foi redimida <Hafdoh Lo Nifdatah>...Eles não serão mortos...”

É claro a qualquer pessoa razoável que, a Escritura refere-se a uma noiva que não foi redimida e, assim escreveu IVN EZRA (rabino Avraham Ivn Ezra) comentando este verso:

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“Hafdoh é um verbo....e significa que o pai dela não tinha redimido ela”.

Mas, nossos sábios, no Talmud; discordam sobre o significado do verso (Tratado de Kritot 11ª):

“Nossos rabinos ensinaram: הפדה HAFDOH – é possível que ela seja plenamente redimida? לא נפדתה LO NIFDATAH – é possível que ela não seja redimida? A Escritura diz הפדה HAFDOH mas, o que é isso? Ela é redimida mas, ainda não redimida – meio desposada e meio livre e, relacionada a um escravo hebreu – estas são as palavras de Rabi Akiva. O rabino Ishmael disse: A Escritura fala de uma Cananéia desposada para um escravo Judeu. Então, porque a Escritura diz Hafdoh Lo Nifdatah’? Porque a Torá‘ הפדה לא נפדתהfala na língua dos homens”.

Não só, os nossos rabinos discordam num princípio muito básico do qual muitas Halahot (leis) são derivadas – isto é, o princípio de se interpretar a duplicação de verbos na Torá – mas, até aqueles que pensam que a Torá, de fato; fala na língua dos homens – e consequentemente, sabem que não se aprende Halahot de duplicação de verbos – não aplicavam este mesmo princípio de forma coerente e consistente! Isso demonstra também, que não se trata de uma interpretação tradicional mas, uma interpretação livre.

Assim escreveu TOSSAFOT (rabinos comentaristas do período medieval, do Talmud) sobre o Tratado de Avodá Zará 27ª:

“A Torá fala na língua dos homens – o Rabino Itzhak disse que, aquele que supôs aqui que, a Torá fala na língua dos homens; não pode discordar sobre [a frase] ‘Hashev Tashiv’ ou ‘Hoheah Tohiah’ e similares; as quais, eles interpretam [isto é, derivam disto algumas regras e leis] (Bava Metziah 31ª) – Pois, não encontramos quem discordaria de tais interpretações. E, como demonstração disto, o

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Rabino Shimon disse no capítulo ‘Metziat Há-Isha’ (Tratado de Ketubot 67b) sobre [a frase] ‘Há’abet Ta’avit’ que, a Torá fala na língua dos homens; enquanto o rabino Shimon mesmo, foi quem interpretou o primeiro capítulo de Rosh HaShanah (8ª) [na frase] ‘Asser Te’asser’ (querendo dizer que, a Escritura falava de dois dízimos em separado, um de animais e outro de grãos). É necessário analisar porque o Talmud as vezes aplica um princípio e, as vezes aplica outro. ”

Quão surpreendente! Apenas 800 anos se passaram do tempo em que o Talmud foi terminado e, o tempo dos TOSSAFOT e; já havia confusão sobre sua forma de interpretação. O que diremos sobre o que teria acontecido entre os 1700 anos, desde a outorga da Torá e o tempo em que o Talmud foi terminado? Vemos o quão longe as coisas vão – em Devarim [deuteronômio] 14:22, está escrito:

את כל־תבואת זרעך היצא הׁש�דה ׁש�נה ׁש�נה׃עׁש�ר תעׁש�ר

“E dizimarás (‘asser Te’asser) todo aumento de sua semente”.

Nossos rabinos vieram e interpretaram a duplicação do verbo para expressar que, animais também precisariam ser dizimados.

É claro disto que, o abrangente método de interpretação dos sábios era capaz de interpretar qualquer verso para transparecer qualquer coisa que eles desejassem! Isso lhe soa familiar?

Isto é o que eles fizeram, no Tratado de Shabat 119ª:

“Na frase עׁש�ר תעׁש�ר <Asser Te’asser> – dízime (‘Assor) para que você fique rico (Tit’asher)”.

Eles não só atribuem uma forma humana de expressão às Escrituras mas, eles ensinam duas novas leis de uma única duplicação de verbos e, não há fim para esta loucura. Se os portões da interpretação são abertos para qualquer um,

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nós também; podemos interpretar este verso para expressar:

“Dizime! Para que você diminua suas posses e não fique rico” pois está escrito: “a ansiedade do rico não o deixa dormir. (Kohelet [Eclesiastes] 5:12). Percebe?!

É importante ficar claro que, não há um agente limitador (isto é, uma tradição ininterrupta deste o Sinai) para gerir o número de possibilidades interpretativas, uma vez que ninguém está seguindo sequer –como regra - a linguagem das Escrituras e, muito menos está comprometido com uma maneira básica de se abordar o texto. Então, qualquer interpretação é possível!

Mais uma evidência de que todas as interpretações de HAZAL são, nada mais do que suas opiniões pessoais (e não uma tradição ininterrupta): Os TOSSAFOT escreve[eram] sobre o Tratado de Ketubot 67b sobre a questão de se, a pessoa deveria emprestar a outro indivíduo que, mesmo tendo seu próprio dinheiro, tenha escolhido passar fome (?):

די מחסרו אׁש�ר יחסרהעבט תעביטנו את־ידך לו ופתח תפתחכי־לו׃

O rabino Itzhak disse que, [a duplicação dos verbos] deve sempre ser interpretada para indicar algo especial [no caso em questão é a duplicação העבט Há’avet Ta’aviteno> (Devarim [deuteronômio]> תעביטנו15:8) e, o dito de que a Torá fala na língua dos homens se aplica a todos os casos, menos este; pois aqui não seria plausível interpretar assim [que a duplicação do verbo significasse que a pessoa deveria emprestar para tal indivíduo, e dizer que isto é assim], de acordo com a opinião dos sábios – pois; o verso apenas implica que, ele se refere a um necessitado, como está escrito, ‘para cuidar de seus anseios’.

Então, encontramos declarado de forma explícita que, todas as interpretações de HAZAL começam, a partir de algumas especulações e, isto é o que dizemos

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repetidamente – que a Halahá (lei judaica normativa) é uma construção humana – similar a quaisquer outras invenções humanas.

Saiba que, a expressão “A Torá fala na língua dos homens” foi tomada, posteriormente; por Maimônides e, usada em outro nível de entendimento. Ele a aplicava em todos os versos que, mencionam Deus como possuidor de atribuições físicas. Nas ‘Leis fundamentais da Torá, Capítulo 1, Halahá 12: ... Todas estas coisas são parábolas e retórica, como ‘Aquele que senta nos céus se irá’ ou ‘Eles me irritaram com sua loucura’ ou ‘Como o Eterno se regozijou’ e similares – sobre todos estes casos, nossos sábios disseram que a Torá fala na língua dos homens. Assim é dito ‘Acaso eles Me provocaram a ira’ – pois, está dito: ‘Eu sou o Eterno e não mudo’ e, se Ele as vezes se irritasse e as vezes estivesse feliz, estaria mudando. E todas estas coisas não são encontradas, exceto entre os seres inferiores - os corpos obscuros vivendo em casas de barro - cujos fundamentos são como lodo – mas, Ele o Santo – bendito seja! – é elevado sobre tudo isso”.

Porém, não encontramos nossos rabinos na Guemará, dizendo isso sobre as atribuições físicas de Deus e, isto parece algo que comprova que HAZAL compreendiam estes versos, os quais apontam para a natureza física de Deus e, para expressar exatamente o que eles declaram explicitamente! Veja o que escrevemos no estudo “O Corpo de Deus”!

Para fortalecer nossas palavras sobre a falta de consistência nas interpretações de HAZAL, traremos outro exemplo do Tratado de Bava Kama 85b. Ali eles ensinam três coisas de duplicações do verbo רפא ירפא ‘Ve-Rapo Yrape’ (Shemot [êxodo] 21:19):

1 – que doutores receberam permissão de curar e, que uma pessoa não deve dizer que, desde que Deus torna uma pessoa doente, então; Ele é quem deveria curá-la também;

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2 – que aquele que causa dano a seu próximo, também é obrigado a curá-lo dos danos extras não causados diretamente e,

3 – que a pessoa é obrigada a financiar a cura sem relação com a compensação, da qual ele seria ou não obrigado a pagar pela propriedade danificada:

Eles aprenderam na escola do rabino Ishmael: [a respeito da duplicação] רפא ירפא Ve-Rapo Yrape – daqui vemos que os doutores receberam permissão para curar. Então, porque as Escrituras não declaram רפא Ve-Rofe Yrape? Para ensinar que, a cura deve ser ירפאpaga mesmo quando a compensação por dano [propriedade] já tiver sido feita. E ainda, isto pode conter outro significado, como eles disseram que, deve haver uma referência nas Escrituras para o pagamento de recuperação, antes de mais nada. Fosse apenas para expressar isso, a Escritura poderia dizer רפא רפא rapo rapo ou ירפא ירפא yrape yrape – porque então diz רפא ירפא Ve-rapo yrape? Para ensinar que, a cura deve ser paga mesmo quando a compensação do dano já houver sido.

É assim que nossos rabinos entenderam a linguagem: A Escritura teria repetido a mesma palavra duas vezes, não fosse pela mensagem especial que havia nela. Mas, em Vaicrá [levítico] 25:37 está Escrito:

את־כספך לא־תתן לו בנׁשך ובמרבית לא־תתן אכלך

“Você não emprestará dinheiro a juros e, nem os teus viveres por lucro” – e, o que os rabinos disseram sobre isso?

TOSSAFOT sobre o Tratado de Bava Metzia 60b:

“Porque, então; as Escrituras declaram isso duas vezes? Para fazer o indivíduo [que resolver violar o mandamento ser] culpado duas vezes [se cobrar juros do próximo Judeu] – E se você perguntar, ‘mas, porque as Escrituras não usam o mesmo tipo de linguagem a respeito disto, como sobre o que foi escrito: ‘Você

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não emprestará dinheiro a juros e, nem os teus viveres por lucro’? Deve-se responder que, desde que a Escritura teve a intenção de formular duas proibições com relação a este assunto, ela usou termos [sinônimos] diferentes, porque assim fica melhor.”

Ou seja, aprendemos que as Escrituras as vezes usam sinônimos apenas em alinhamento com o modo de se expressar das pessoas e, as vezes; a pessoa pode implicar destes detalhes e construir um edifício “haláhico”...

E TOSSAFOT já haviam comentado, sobre o Tratado de Menahot 17b:

“Então, porque a Escritura não diz, He’ahol He’ahol – ou então – ye’ahel ye’ahel? – isto é do mesmo modo, tal qual dito no capítulo ‘Há-Hovel’ (Bava Kama 85b) com relação a Rapo Yrape. Mas, do que é dito no começo do capítulo ‘Hayu Bodkin’ do Tratado de Sanhedrin (40b) parece que, se estivesse escrito ‘Darosh Tidrosh Ve-Hakarta’, não haveria espaço para nenhuma interpretação em especial e, eles não usariam o fato de que não seria ‘Darosh Darosh’ ou ‘Tidrosh Tidrosh’.”

Assim, nossos rabinos, onde quer que quiseram; foram fundo na interpretação de verbos duplicados e bases para leis, por meio destas interpretações – ou, deixavam como estava, sem qualquer interpretação especial – de acordo com suas opiniões particulares e conhecimento”.

Descobrimos que, muitas proibições são repetidas na Torá, diversas vezes. O que nossos rabinos dizem sobre isso? O ‘Sefer Há-Hinuh’, mandamento 343: ‘Não emprestarás a juros para Israel, como dito (Vaicrá [levítico] 25:37), Não lhe emprestarás dinheiro com juro e, seus viveres por lucro. Estas não são duas proibições, pois juro é lucro e lucro é juro, como eles – de abençoada memória – disseram (Bava Metzia 60b), ‘E não já juro sem lucro e não há lucro sem juros’. Porque então, a Escritura o declara duas vezes? Isto é, porque não escrever simplesmente, ‘não lhe

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emprestarás teu dinheiro, comida a juros?’ – É para fazer violar duas proibições – isto é, a Torá dá múltiplas advertências sobre este assunto. Isto é o que eu disse anteriormente, que a Torá multiplica as advertências sobre o que Deus quer para nos afastar disso. É possível aqui, também; que eles – de abençoada memória – digam sobre outros temas aplicáveis, que a Torá fala na língua dos homens. A Torá repetiria advertências sobre o que devemos prestar muita atenção, como pessoas advertem uns aos outros, para que se lembrem sempre do assunto em questão e sejam cuidadosos sobre isso.

Quando a Torá repete a instrução “não cozinharás o cabrito no leite de sua mãe” três vezes (Shemot [êxodo] 23:19, Shemot 34:26, Devarim [deuteronômio] 14:21) nossos rabinos não ensinaram que, isto ocorreu para fazer a pessoa (que errar) violar três proibições. Eles ensinaram isso com relação ao assunto do juro. Mas, assim eles interpretaram esta menção tríplice, no Tratado de Kidushin 57b: “Não cozinharás o cabrito no leite da sua mãe” está escrito três vezes – uma, pela proibição contra comer, duas pela proibição contra ganhar (lucrar) disso, e três pela proibição contra cozinhar isso. Nós temos expandido o assunto das advertências repetidas no ensaio da porção de Kedoshim.

Mais um exemplo da falta de consistência nas interpretações de HAZAL pode ser encontrada no tratado de Bava Kama 4b: ‘Um boi é igual a todos os outros animais, com relação (a assunto de animal) caído num poço... um pagamento em dobro e, devolução de objetos perdidos...e o Shabat e; em relação a animais selvagens e pássaros também. Sendo assim, porque está dito ‘boi’ ou ‘asno’? Porque a Torá fala em detalhes enquanto pretende expressar ideias gerais’. Então encontramos que, quando está escrito ‘um asno’ não apenas “asnos’ não referidos, mas todos os animais e pássaros – porém, em outro verso “não cozinharás o cabrito no leite da mãe”, não interprete desta forma.

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Tratado de Hulin, 113ª: “O rabino Akiva disse: [a proibição de cozinhar] animais selvagens e pássaros [no leite] não é da Torá, pois; está escrito, ‘não cozinharás o cabrito no leite de sua mãe’ – isso exclui [da proibição] animais selvagens, pássaros e animais impuros”.

De interpretações de duplicações de verbos e proibições, nos voltamos a diferenças linguísticas. Em Hebraico há diferença entre termos masculinos e femininos e, isto causa variadas confusões sobre, quando a Torá se refere a mulher e homens e, quando não é este o caso. Nossos rabinos ensinaram no Tratado de Bava Kama 15ª: “Rav Yehuda disse em nome de Rav e, então foi ensinado na escola do rabino Yshmael: A Escritura diz, ‘quando um homem ou mulher cometer qualquer pecado’ (Bamidbar [números] 5:6) – o texto iguala homens e mulheres para todas as punições na Torá. Na escola do rabino Elazar foi ensinado: ‘Agora estes são os julgamentos os quais porás diante deles’ (Shemot [êxodo] 21:1) – a Torá iguala homens e mulheres para todas as leis na Torá.”

Por outro lado, no Tratado de Sanhedrin 85b eles ensinaram: “Se encontrares um homem sequestrando seu próximo – eu só vejo um homem sequestrando. Como eu sei [qual é o caso, se o sequestrador for] mulher? Está dito, ‘E aquele que sequestrar um homem’. Portanto, temos um homem que sequestra, seja homem ou mulher e; uma mulher que sequestra um homem. Como sabemos sobre uma mulher que sequestre uma mulher? Está dito, ‘e o sequestrador morrerá’ em todos os casos”. Aqui você vê que, quando as Escrituras usam ‘homem’ nossos rabinos excluem a mulher. Como eles reconciliam esta contradição? TOSSAFOT sobre o Tratado de Bava Kama 15ª: “A Torá iguala homens e mulheres – isto é assim, apenas quando uma passagem indefinida fala em termos masculinos, como explicado no Tratado de Temurah (2b), aonde eles perguntam sobre o porque foi necessária redundância [para ensinar que, as leis em questão se aplicam a mulheres também], desde que os versos relevantes foram escritos em termos masculinos e, a Torá

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iguala homens e mulheres. Mas, aonde está escrito ‘homem’ especificamente, não há necessidade de redundância, como é dito no capítulo ‘Arba Mitot’ (Sanhedrin 66ª): Está escrito, se um homem amaldiçoar – eu vejo ‘homem’ escrito mas, como eu sei sobre a mulher? E em seu comentário sobre o Tratado de Sukah 28b, eles avançaram no assunto: ‘Ainda, o assunto é difícil pois, no capítulo ‘Shor She-Hagach Arba’ah Ve-Hamisha’ (Bava Kama 44b) é dito que, as sete repetições da palavra “boi” indicam a inclusão [dentre outras] a vaca e; com relação ao assunto do boi que matou – porém, não há outro verso do tipo ‘um boi de um homem’, apenas; e apenas seu dono será morto”. Este é um verso indefinido, meramente colocado no masculino [então porque a repetição da palavra ‘boi’ precisou implicar a lei em questão, aplica-se a mulher?] E talvez [“talvez” e “quem sabe” são palavras para reconciliar qualquer contradição; como se vê no estudo “O que os sábios sabiam sobre peixe”] há algumas redundâncias nos detalhes, os quais poderíamos compreender para excluir a mulher, houvesse o Misericordioso deixado de repetir [a palavra ‘boi’].

De qualquer forma, encontramos que, aonde quer que a Torá diga ‘homem’ especificamente; está excluindo a mulher. O que então, pode ser dito dos seguintes versos:

Shemot 10:23 - Não se viram uns aos outros, e ninguém se levantou do seu lugar por três dias; mas para todos os filhos de Israel havia luz nas suas habitações.

As Egípcias viam umas as outras?

Shemot 18:16 - Quando eles têm alguma questão, vêm a mim; e eu julgo entre um e outro e lhes declaro os estatutos de Deus e as suas leis.

Moshe julgava entre uma mulher e outra?

Shemot 34:24 - porque eu lançarei fora as nações de diante de ti, e alargarei as tuas fronteiras; ninguém cobiçará a tua terra, quando subires para aparecer três vezes no ano diante do Senhor teu Deus.

Isto quer dizer que apenas os homens não cobiçariam a Terra mas, poderia ocorrer de mulheres cobiçarem a Terra?

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Devarim 24:16 - Não se farão morrer os pais pelos filhos, nem os filhos pelos pais; cada qual morrerá pelo seu próprio pecado.

Isso quer dizer que, mulheres não morrem pelos seus pecados?

Devarim 34:6 - que o sepultou no vale, na terra de Moabe, defronte de Bete-Peor; e ninguém soube até hoje o lugar da sua sepultura.

Mas, mulheres sabiam o loca de sepultamento de Moshe?

É claro que, as Escrituras falam em detalhes enquanto a intenção é geral; assim como nossos rabinos disseram no verso de Shemot 22:17, ‘uma feiticeira não deixarás viver’, no Tratado de Sanhedrin 67ª: ‘Nossos rabinos ensinaram: uma feiticeira – seja homem ou mulher. Sendo assim, porque não diz ‘bruxa’ [no feminino]? Porque a maioria dos envolvidos em bruxaria são mulheres.

Traremos outros exemplos, os quais causam confusões e situações embaraçosas. A interpretação de HAZAL quando “os filhos de Israel” são mencionados, não inclui as “filhas de Israel” tal como “filhos de Aharon” não inclui as “filhas de Aharon”. Como é dito no Tratado de Hulin 85ª: “Como foi ensinado – os filhos de Israel colocam suas mãos [sobre a oferta] e, as mulheres de Israel não”.

O Maguen Avraham questiona esta explicação no escrito sobre Orach Haim, parágrafo 14, subseção 2: “Tzitzit...mulheres são permitidas de os fazer – isto requer estudo, pois em todo lugar aonde eles explicam ‘filhos de Israel’ e não filhas de Israel, tal como em Kidushin 36 e Mehahot 61, aonde eles excluem idólatras e mulheres’.” Ele continuou confuso...

Concluiremos com a menção da confusão e situação embaraçosa encontrada por causa de Boaz ter se casado com Rut a Moabita e, de onde o Rei David mesmo nasceu; pois é dos descendentes de David que viria o Mashiach. As Escrituras dizem, em Devarim 23:4, “Um amonita ou

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moabita não entrará na congregação do Eterno. Mesmo sua décima geração não entrará na congregação do Eterno para sempre”. Em Yevamot 76b encontramos: ‘Doeg o Edomita disse [para Shaul]: Diante de ti seja esclarecido se [o Rei David] é adequado para o reino ou não. Porque? Porque ele descende de Rut a Moabita. Abner disse para ele: Aprendemos “Amonita” [no masculino] mas não “uma [mulher] Amonita” e “Moabita” mas não ‘uma mulher moabita’. Então, você diria “um bastardo” [no masculino] e não uma “bastarda”? Está escrito “bastardo” [mamzer = mum zar, significa, qualquer um que tenha defeito ou estranheza = Rashi]. Então, você diria “Egípcio” [no masculino] e não Egípcia? [Não!] mas, aqui, a Escritura é explícita: Porque eles não lhe encontraram com pão e água no caminho (Devarim 23). É costume dos homens ir encontrar outros no caminho mas, não é costume das mulheres fazer isso. Mesmo assim, eles deveriam ter enviado homens para os homens e, mulheres para as mulheres! Ele ficou em silêncio...Se a Halachá te ilude, vá e pergunte no Centro de Estudos. Ele perguntou e lhe disseram: Amonita, mas não uma amonita...Moabita, e não uma moabita’.

E os TOSSAFOT escreveram sobre o Tratado de Yevamot 77ª: “Rabino Yehuda perguntou sobre ‘Egípcio’ mas não ‘egípcia’. Rabino Ytzhak disse que a Escritura poderia ter abreviado e escrito ‘Amon’ e ‘Moav’ mas, escreveu ‘Amonita’ e ‘Moabita’ [no masculino] como um sinal de que mulheres amonitas e moabitas foram excluídas. Mas, se foi escrito ‘Egito [Mitzraim] seria isso mais longo do que ‘Egípcio’ [Mitzri]. Porque então foi escrito ‘Edomita’ e não “Edom”? Para igualar a “Egípcio”.

Estes assuntos falam por si mesmos, demonstrando como os rabinos tratam o texto da Torá. A Torá tornou-se como argila nas mãos dos escultores e, como um machado nas mãos do que corta lenha. Quando eles querem, eles tiram e, quando desejam, incluem. As vezes interpretam a Torá

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apenas como se falasse em linguagem humana e, as vezes extraem sentido de cada e toda frase. Fossem os escritos de HAZAL foram dados no Sinai, como seria possível que detalhes linguísticos fossem especificamente interpretados para derivar leis e outros não? Se há ordem e consistência nas criações do Criador, como seria possível que não houvesse consistência e ordem na Torá? Isto é o porquê de todas as construções interpretativas de HAZAL serem construções meramente humanas e, as confusões são todas derivadas dos próprios HAZAL.

Palavras de Sabedoria

Moré Saracini