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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE LINGUAGENS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
EM ESTUDOS DE LINGUAGEM - MESTRADO
MARCILENE RIBEIRO DA SILVA
A TOPONÍMIA EM BONSUCESSO E PAI ANDRÉ NO RIO
CUIABÁ-MT
CUIABÁ - MT
2011
MARCILENE RIBEIRO DA SILVA
A TOPONÍMIA EM BONSUCESSO E PAI ANDRÉ NO RIO
CUIABÁ-MT
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Estudos de Linguagem-Mestrado
do Instituto de Linguagens da Universidade
Federal de Mato Grosso, como parte dos
requisitos para a obtenção do grau de Mestre em
Estudos Linguísticos.
Área de Concentração: Estudos Linguísticos
Linha de Pesquisa: História e descrição do
português brasileiro.
Orientador: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.
CUIABÁ-MT
2011
S586t
Silva, Marcilene Ribeiro da.
A Toponímia em Bonsucesso e Pai André no Rio Cuiabá./
Marcilene Ribeiro da Silva. Cuiabá: UFMT, 2011.
113 fls.
Dissertação - Mestrado em Estudos Linguísticos
Orientador: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.
1.Toponímia. 2.Bonsucesso. 3.Pai André. 4.Estudos
Linguísticos. 5.Aspectos Geo-históricos. I.Título.
CDU 81
Ficha Catalográfica elaborada por Douglas de Faria Rios, Bibliotecário – CRB1/1610,
do Centro Universitário de Várzea Grande - UNIVAG.
À minha mãe, Agostinha Maria da Silva, (in
memorian), que embora tivesse um grau de
escolaridade elementar sabia que a Educação era
importante e, por isso, jamais poupou esforços para
que seus filhos estudassem.
À Profª. Drª. Maria de Jesus das Dores Alves
Carvalho Patatas, educadora amiga que apresentou-
me à Toponímia e incentivou-me a pesquisar essa
relevante área da Linguística.
AGRADECIMENTOS
A Deus, Meu Pai Amoroso, toda honra e toda glória pelo mérito desta conquista!
Ao Prof. Dr. Elias Alves de Andrade, pela orientação eficiente e segura, em especial
pela compreensão demonstrada face aos replanejamentos que se fizeram necessários para a
realização desta pesquisa.
Aos professores Drª Maria Inês Pagliarini Cox (UFMT) e Dr. José Leonildo Lima
(UNEMAT), membros da banca examinadora, pelas valiosas contribuições.
À Profª Drª Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick, pela presteza com que aceitou
participar do meu Exame de Qualificação no qual contribuiu com relevantes sugestões para
que o objetivo desta dissertação fosse atingido.
Aos professores Drª Maria Rosa Petroni, Drª Claudia Graziano Paes de Barros, Drª
Simone de Jesus Padilha e Dr. Sérgio Flores Pedroso, todos da UFMT, pelos conhecimentos
compartilhados nas aulas do Mestrado.
Ao Sirval, meu esposo, pelo carinho, presença constante e apoio logístico na
implementação das atividades desta pesquisa.
Às colegas Carmen Lúcia Toniazzo e Maria Margareth Costa de Albuquerque Krause,
pela amizade, apoio, alegrias e preocupações compartilhadas.
Ao Prof. Me. Florisvaldo Fernandes dos Santos, pela amizade, incentivo e pelo
empréstimo das obras sobre Toponímia sem as quais este trabalho seria muito mais difícil.
À Profª Drª Suíse Monteiro Leon Bordest, da UFMT, filha do historiador Cel. Ubaldo
Monteiro, pelo empréstimo das obras de autoria de seu pai referentes à História de Várzea
Grande, Bonsucesso e Pai André.
Ao Prof. e historiador José Wilson Tavares, por disponibilizar-me documentos sobre a
História de Bonsucesso, além de conceder-me entrevista sobre o cotidiano daquele distrito.
Aos informantes de Bonsucesso e Pai André, que, gentilmente, receberam-me em suas
residências e forneceram-me dados sobre a História das respectivas localidades, os quais
constituíram-se na base empírica deste trabalho.
À Drª Eliane Moreno Heidgger da Silva, Procuradora-Chefe da Procuradoria da
Fazenda Nacional em Mato Grosso, pela concessão do horário especial para que eu pudesse
realizar este Mestrado.
À Celma Ferreira de Moraes, Chefe do Serviço de Ativos da Divisão de Recursos
Humanos da Superintendência de Administração do Ministério da Fazenda em Mato Grosso-
SAMF/MT, pela eficiência e presteza dispensadas nas orientações administrativas quanto aos
direitos do servidor público-estudante.
À Profª Jayne Alves Martins dos Anjos, amiga e colega de trabalho que sempre dialoga
comigo a respeito do tema de minha pesquisa.
Aos meus irmãos, sinais concretos de minha existência, ramos das mesmas árvores que
nos legaram os valores de amor e ética.
Aos meus sobrinhos, que sempre reavivam a minha esperança num mundo melhor.
Ao Prof. Me. José da Silva, o sobrinho Zezinho, da UFMT de Barra do Garças, pela
assessoria em informática, elaboração dos slides para o VIII Seminário de Linguagens do
IL/UFMT e pelas críticas e sugestões em relação ao desenvolvimento desta pesquisa.
Aos servidores da Secretaria do Programa de Pós-Graduação do Instituto de
Linguagens, pela presteza com que desempenham o seu trabalho junto a nós, mestrandos.
[...] Um rio saía do Éden para regar
o jardim, e dividia-se em seguida
em quatro braços. O nome do
primeiro é Fison, e é aquele que
contorna toda a região de Evilat,
onde se encontra ouro. O nome do
segundo rio é Geon, e é aquele que
contorna toda a região de Cusch. O
nome do terceiro rio é Tigre, que
corre ao oriente da Assíria. O
quarto rio é o Eufrates.
Gênesis, 2, 10-14.
SILVA, Marcilene Ribeiro da. (2011)
A TOPONÍMIA EM BONSUCESSO E PAI ANDRÉ NO RIO CUIABÁ-MT. Cuiabá, 112p.
Dissertação de Mestrado – IL/MeEL/UFMT.
RESUMO
Esta pesquisa refere-se ao estudo da Toponímia tomando-se como cenário os distritos de
Bonsucesso e Pai André, ambos situados à margem direita do rio Cuiabá, no município de
Várzea Grande - MT, Baixada cuiabana, na rota dos bandeirantes paulistas, antigo caminho
fluvial de São Paulo até Mato Grosso. Elegeu-se como objetivos deste trabalho inventariar,
classificar e analisar, parcialmente, os topônimos dos dois distritos e, por extensão, alguns
topônimos dos municípios de Cuiabá, Várzea Grande, Santo Antônio de Leverger e Nossa
Senhora do Livramento, locais que possuem a mesma matriz linguística e geo-histórico-
cultural dos referidos distritos. Utilizou-se como técnica de investigação as modalidades de
pesquisa bibliográfica e de campo, que se efetivaram através de visitas in loco, conversas
informais, entrevistas e questionários. Os sujeitos da investigação foram 03 informantes de
cada distrito com idade a partir de 65 anos, que residem nos locais desde a infância e possuem
domínio da história oral da região em estudo. O aporte teórico ancorou-se principalmente em
Dick (1987, 1990 e 1996), Monteiro (1973 e 1987), Ferreira (2001, 2004 e 2008) e Houaiss
(2009). Esta pesquisa possui vínculo com os projetos: “Estudo do português em manuscritos
produzidos em Mato Grosso a partir do séc. XVIII - MeEL-IL-UFMT”, “História e variedade
do português paulista às margens do Anhembi” e “Edição de textos literários e não literários
em língua portuguesa” - FFLCH/USP. O resultado culminou em um inventário com 72
topônimos, os quais guardam estreita relação com o rio Cuiabá, principal produtor do pescado
que fomenta a economia local. O estudo demonstrou que os topônimos retratam o patrimônio
sócio-histórico e linguístico-cultural de um povo.
Palavras-chave: Toponímia, Bonsucesso, Pai André, Aspectos linguísticos e geo-históricos.
SILVA, Marcilene Ribeiro da. (2011)
THE TOPONYMY IN BONSUCESSO AND PAI ANDRÉ IN THE CUIABÁ RIVER-MT.
Cuiabá, 112p. Master Dissertation – IL/MeEL/UFMT.
ABSTRACT
This research refers to the study of Toponymy having as a scenery the districts of Bonsucesso
and Pai André, both located on the right bank of the Cuiabá River, in the municipality of
Várzea Grande - MT, Cuiabá area, in the route of the “paulistas” forest explorers, an old
waterway from São Paulo to Mato Grosso. The main objectives of this study was to catalogue,
classify and analyze partially, the toponyms of two districts and, by extension, some
toponyms of the municipalities of Cuiabá, Várzea Grande, Santo Antônio de Leverger and
Nossa Senhora do Livramento, places that have the same linguistic and geo-historical-cultural
matrix of the mentioned districts. As a technique of investigation, the types of bibliographic
and field research that were undertaken through visits in loco, informal talks, interviews and
questionnaires were used. The subjects of this investigation were 03 informants of each
district with ages above 65 years that have lived in these places since their childhood and have
the domain of the oral history of the region that is being studied. The theoretical contribution
was mainly based on Dick (1987, 1990 and 1996), Monteiro (1973 and 1987), Ferreira (2001,
2004 and 2008) and Houaiss (2009). This research has a link with the projects: “The Study of
the Portuguese Language in manuscripts produced in Mato Grosso since the XVIIIth century -
MeEL-IL-UFMT”, “History and variety of the Portuguese spoken in São Paulo on the banks
of the Anhembi River” and “Edition of literary and non-literary texts in the Portuguese
language” - FFLCH/USP. The result of this study produced an inventory with 72 toponyms,
which maintain a strict relationship with the Cuiabá River, the main producer of fish that
boosts the local economy. The study showed that the toponyms portray the socio-historical
and linguistic cultural patrimony of a people.
Keywords: Toponymy, Bonsucesso, Pai André, Linguistic and geo-historical aspects
LISTA DE ABREVIATURAS
Adj. = Adjetivo
Adj. masc. = Adjetivo masculino
Adj. 2g. = Adjetivo de dois gêneros
AF = Acidente físico
AH = Acidente humano
Alt. = Alteração
Conec.= Conectivo
Contr. = Contração
Fem. = Feminino
Fr. = Francês
Gen. = Gênero
LP = Língua portuguesa
LI = Língua indígena
LE = Língua estrangeira
Lat. = Latim
Lat. vulg. = Latim vulgar
Lat. medv. = Latim medieval
Masc. = Masculino
Nc = Nome composto
Ns = Nome simples
Suf. dim. = Sufixo diminutivo
Suf. aum. = Sufixo aumentativo
Sb. = Substantivo
Sb. masc. = Substantivo masculino
Sb.fem. = Substantivo feminino
T. = Tupi
T.G. = Tupi-Guarani
Vb = Verbo
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................11
CAPÍTULO 1
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DE MATO GROSSO, CUIABÁ, VÁRZEA
GRANDE, BONSUCESSO E PAI ANDRÉ .........................................................................17
1.1 Mato Grosso: Alguns Aspectos do seu Início................................................................ ....17
1.1.1 O Topônimo Mato Grosso...................................................................................... 19
1.2 Mato Grosso: Alguns Aspectos da Atualidade..............................................................21
1.3 Cuiabá, Várzea Grande, Bonsucesso e Pai André: Aspectos Geo-históricos.............. 23
1.3.1 Cuiabá: Aspectos Históricos e Geográficos................................................................. 25
1.3.1.1 Localização .................................................................................................................25
1.3.1.2 A Fundação..................................................................................................................26
1.3.2 Várzea Grande: Aspectos Históricos e Geográficos....................................................31
1.3.2.1 Localização.................................................................................................................31
1.3.2.2 A Fundação .................................................................................................................34
1.3.3 Bonsucesso...................................................................................................................35
1.3.4 Pai André .....................................................................................................................39
CAPÍTULO 2
PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DA TOPONÍMIA .............................................................43
2.1 Origem e Expansão dos Estudos Toponímicos...............................................................43
2.1.1 A Origem da Toponímia................................................................................................ 43
2.1.2 A Toponímia no Mundo..................................................................................................45
2.1.3 A Toponímia no Brasil .................................................................................................. .48
2.2 A Língua: veículo de difusão sócio-cultural e ideológico......................................... 51
2.3 Conceituação da Toponímia ....................................................................................... 53
2.4 A importância dos topônimos..................................................................................... 55
2.5 O Topônimo e a Motivação Toponímica .................................................................... 58
2.6 As Taxionomias Toponímicas .................................................................................. 61
2.6.1 Taxionomias de Natureza Física ................................................................................. 63
2.6.2 Taxionomias de Natureza Antropocultural ................................................................... 64
CAPÍTULO 3
ANÁLISE DO CORPUS .................................................................................................. 68
3.1 Procedimentos Metodológicos .................................................................................... 68
3.1.1 Coleta dos Dados ...................................................................................................... 69
3.1.2 Análise dos Dados ...................................................................................................... 70
3.2 O Corpus................................................................................................................... 70
3.2.1 Descrição e Análise do Inventário Toponímico....................................................... 71
3.2.1.1 Classificação Toponímica de Natureza Física......................................................... 71
3.2.1.2 Classificação Toponímica de Natureza Antrópica, Antropocultural ou Humana... 72
3.2.1.3 Análise Toponímica dos Distritos de Bonsucesso, Pai André e Municípios
Circunvizinhos..................................................................................................................... 75
3.2.1.3.1 Ficha Lexicográfico-Toponímica........................................................................ 75
a) Ficha Lexicográfico-Toponímica dos Acidentes Físicos.................................................. 76
b) Ficha Lexicográfico-Toponímica dos Acidentes Antrópicos........................................... 81
3.3 Comentários Toponímicos ............................................................................................ 100
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 106
REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 109
11
INTRODUÇÃO
O hábito de se nomear lugares integra a rotina humana desde o início da civilização.
Essa prática rotineira assegura a orientação espacial, a demarcação de território, assim como
solidifica a manutenção da posse/propriedade, considerando-se que quem nomeia é, via de
regra, o dono.
Foram múltiplos os processos utilizados pelo homem ao longo da história para
nominar os lugares. Sobre isso, Dick (1987, p. 6-7) nos informa que nos primeiros tempos
históricos os lugares tomavam os nomes dos seus possuidores, numa valorização do indivíduo
sobre a terra. O limite das terras era o alcance do olhar e a demarcação, o nome do homem
que as dominava. Essa forma designativa, segundo Dauzat (1932, apud Dick, 1987, p. 6-7), se
conservou por toda a Antiguidade. Todavia, no feudalismo, o homem passou a ser nomeado
conforme o seu lugar de origem, demonstrando, com isso, a sua sujeição à terra, como
preconizava a concepção do regime feudal.
Nesse sentido, Fazzio (2008, p. 15) afirma que, ao lado desses mecanismos
designativos, estabeleceu-se forte tendência à escolha de signos linguísticos descritivos do
lugar a ser nomeado. Essa classe de motivação tem ocorrência significativa no texto
toponímico brasileiro, em que os nomes podem advir da geomorfologia ou de qualquer outra
impressão física como tamanho, cor, etc. Mesmo que o lugar tenha sido nomeado em época
distante, esses designativos são passíveis de reconhecimento intelectivo pela manutenção de
sua carga semântica.
Já em outra perspectiva, trazida a lume por Benjamin (1992, p. 182), o homem é o
“senhor da natureza”; natureza e seres vivos comunicam-se, e ele, como “instância
privilegiada da criação”, nomeia-os e alcança assim o seu conhecimento. Ao mesmo tempo,
nomeando, o ser humano expressa sua própria essência espiritual no nome e, quando no
cotidiano designa as coisas, manifesta então a sua essência linguística.
Sobre esse assunto, Zamariano (2006, p. 20) diz que, ao servir-se de sua capacidade
linguística para nomear lugares, o homem estabelece algumas relações: primeiro consigo
próprio, ao demonstrar conhecer a realidade circundante e utilizar seu conhecimento para
designar um local; e depois com seus interlocutores, pois, através do topônimo por ele usado,
transmite com maior exatidão o real significado que lhe atribuiu.
12
Assim sendo, justifica-se a investigação do signo toponímico, porque o topônimo
traz em si marcas que representam o universo sociocultural dos grupos humanos que habitam
ou habitaram determinadas regiões e, por esse motivo, configura-se como testemunho
histórico da vida social de uma população. Por carregar consigo um valor que extrapola o
próprio ato da nomeação, o inventário toponímico representativo de um povo constitui a sua
crônica, uma vez que conserva suas tradições e costumes, além do registro das características
topográficas locais.
Ainda reportando a Zamariano (2006, p. 22), convém lembrar que a sociedade
humana tem a capacidade de criar, recriar ou renovar o conhecimento. Neste processo
contínuo de vir a ser, alguns elementos, entre eles os topônimos, encontram-se guardando, no
tempo e no espaço, elementos de “outros tempos”, como a nos lembrar que somos o único
animal que constrói a própria história, de forma cumulativa e revisada. Esta história pode ser
presentificada quando se buscam, por meio dos topônimos, traços e vestígios que garantirão
que o passado não perderá seu lugar, mas se configurará como a fonte para a construção no
presente de uma memória que é de fundamental importância para as pessoas. A sensação de
que o presente está, sobretudo, na compreensão do passado é que faz com que o homem
busque nos estudos históricos a compreensão de si e do meio em que vive.
Abonando esta assertiva, Dargel (2003, p. 54) vê no léxico a somatória de
experiências vividas por um grupo sócio-linguístico-cultural, porque ao se apropriar da
linguagem o homem se constitui como uma figura positiva no campo do saber e, atuando
sobre a própria língua, pode criar e recriar o léxico. A língua, patrimônio de toda uma
comunidade linguística e instituição social, apresenta-se como veículo da difusão da cultura e
da ideologia, retratando as inclinações que abarcam cada momento histórico, a maneira de
pensar e as expectativas dessa sociedade. Ela representa a imensa herança que um povo confia
ao indivíduo e nele deposita. Nela estão contidas as experiências de todos os séculos.
Uma investigação toponímica é complexa por possuir vínculos interdisciplinares com
outras ciências, não obstante é muito prazerosa, pois através dessa interface se conhece a
história do local, as crenças, lutas, expectativas e os valores de seus habitantes do presente e
de outrora. É um processo que envolve emoção positiva e/ou negativa, tendo-se em vista que
nomear o espaço em que se vive é questão de sobrevivência, uma vez que o homem se
organiza e se orienta geograficamente por meio dos nomes.
Além disso, uma investigação toponímica, cujo objetivo é analisar linguisticamente o
topos, pode desencadear resultados de ordem social, política, histórica, religiosa, cultural,
13
regional, econômica, sem prejuízo de outros aspectos que estão intimamente imbricados no
processo da linguagem que os exterioriza.
Feitas estas considerações, objetiva-se com esta pesquisa contribuir para o estudo da
Toponímia tomando-se como cenário os distritos de Bonsucesso e Pai André, ancorando-se
para isso no suporte teórico de Dick (1996, 1992, 1990 e 1987), o qual contribui com o seu
argumento de autoridade científica para o enriquecimento dos estudos toponímicos.
Outras contribuições teóricas advêm de estudos e pesquisas realizados no campo da
Toponímia os quais têm crescido ultimamente no Brasil. Desse labor intelectual resultam
obras, teses de doutorado, dissertações de mestrado, monografias de conclusão de cursos de
especialização e graduação, artigos, conferências, comunicações, entre outros, sobre o tema
em comento. Dentre eles, destacam-se: Carvalho (2010), Di Tizio (2008), Fazzio (2008),
Maeda (2006), Santos (2005), Souza (2009) e Zamariano (2006).
Para a consecução destas pretensões elegeu-se como objetivos norteadores deste
trabalho:
1. Inventariar, parcialmente, os topônimos dos distritos de Bonsucesso e Pai André e,
por extensão, alguns topônimos das localidades adjacentes como Cuiabá, Várzea Grande,
Santo Antônio de Leverger e Nossa Senhora do Livramento, por guardarem estreitas relações
com os referidos distritos;
2. Classificar os topônimos à luz da taxionomia metodológica proposta por Dick
(1987 e 1990), com vistas a buscar a possível motivação da toponímia das localidades em seu
conjunto;
3. Proceder à descrição e à análise dos dados, tendo em vista o ambiente físico e
antrópico em que se encontram inseridos.
Estes objetivos nortearam a estruturação deste trabalho que se dividiu em três partes
assim identificadas:
O primeiro capítulo, intitulado Contextualização Histórica de Mato Grosso, Cuiabá,
Várzea Grande, Bonsucesso e Pai André, apresenta uma breve abordagem geo-histórica do
estado de Mato Grosso, dos municípios de Cuiabá e Várzea Grande e dos distritos de
Bonsucesso e Pai André, com o intuito de se mostrar as raízes histórico-sociais que deram
origem ao povoamento da região. Para isso, tomou-se como referencial teórico as obras de
Monteiro (1987 e 1973), Ferreira (2008, 2004 e 2001), Silva (2010, 2007 e 2005), Póvoas
(1985), Mendonça (1982) e Tavares (2011 e 2004), por serem considerados autores e
pesquisadores que se sobressaem em seus trabalhos relativos à história e à geografia
regionais.
14
No segundo capítulo, Os Pressupostos Teóricos da Toponímia, discutem-se os
fundamentos teóricos que orientam a pesquisa. Inicialmente, faz-se a abordagem sobre a
nomeação dos lugares como atividade humana, ressaltando-a como ato relevante para que o
homem possa entender a sua realidade circundante tanto em nível mundial como no Brasil. A
seguir, enfoca-se a linguagem sob a perspectiva linguística, o signo linguístico e a questão da
arbitrariedade, o sentido e a referência. Destacam-se como base teórico-metodológica dados
da Linguística Geral, na perspectiva de Saussure, associando-os ao signo toponímico, segundo
os fundamentos de Dick (1990 e 1987). Posteriormente, aborda-se o signo toponímico e os
estudos de natureza física e antrópica.
Já no terceiro capítulo, Análise do Corpus, examinam-se os dados, segundo sua
classificação toponímica e desenvolve-se um estudo linguístico sobre os dados lexicográficos
e toponímicos envolvendo a procedência, tipo de acidente, língua de origem, taxionomia e
estrutura morfológica do topônimo. Além disso, apresenta-se o estudo do topônimo em seu
aspecto linguístico e geo-histórico, demonstrando-se a taxionomia toponímica com maior
incidência nas localidades.
Tratar da toponímia de Bonsucesso e Pai André é compreender e definir o povo
daqueles locais, porque os topônimos agregam fatores que nos dão pistas sobre a identidade
do lugar de tal forma que cada local fala por si. Este estudo toponímico nos oportunizou
conhecer o modelo de ocupação ocorrido na região, a forma de exploração do solo, o regime
de trabalho, a linguagem, a cidadania, a religiosidade, o lazer, enfim, o modo de vida, a
cultura e a prática na construção do espaço geográfico iniciado pelos indígenas da etnia
Guaná, Guanu ou Guanaz, primeiros habitantes daquelas terras.1
Ribeiro (2008, p. 28) retrata bem essa relação homem-espaço, ao afirmar que,
para o habitante de determinado lugar, o território é corpo e alma. Ele
precisa adaptar-se a esse habitat, penetrar em sua essência como uma raiz
penetra na terra. Ele precisa viver seu espaço, criar os “anticorpos” que o
levarão a resistir ao tempo. [...] Ao constituir esse espaço, o homem,
1 Os índios da tribo Guaná situavam-se à margem esquerda do rio Paraguai e mantinham um relacionamento
pacífico com os brasileiros e os guaicuru. Dedicavam-se à tecelagem de algodão e à lavoura, além da caça e
pesca (DALMOLIN, 2004, p. 33). Monteiro (1987, p. 17) também traz informações a respeito desses índios a
quem chamava de guanás, guanus ou guanazes. Segundo o citado autor, esses povos além de pacíficos e
hospitaleiros viveram em contato com os brancos até meados do século XIX. Foram, portanto, os primeiros
habitantes das áreas onde atualmente encontram-se os municípios de Várzea Grande, N. S. do Livramento e
Santo Antônio de Leverger. Eram especialistas em navegação, canoeiros hábeis e laboriosos, sabiam fiar, tecer e
tingir o algodão com que fabricavam redes. Esses povos foram os precursores da indústria manual em Várzea
Grande, principalmente na produção de redes e cerâmica. A descoberta da região cuiabana, a abertura da estrada
boiadeira, a fundação do povoado, o aparecimento das usinas açucareiras e as fazendas de gado foram fatores
decisivos para o desaparecimento desses povos que se deslocaram para as paragens pantaneiras do rio abaixo.
15
enquanto ser histórico, se constrói e, ao mesmo tempo, constrói novas
relações sociais.
Portanto, para o conhecimento das relações que o homem dos locais em estudo
estabelece em seu cotidiano, necessário se faz uma breve incursão pelos fatos histórico-sociais
que permearam a História de Mato Grosso, em especial, dos municípios de Cuiabá e Várzea
Grande, para se compreender a importância do inventário toponímico dos dois distritos como
reforço à idéia de que através dos topônimos pode-se conhecer a cultura e o conjunto de
valores de uma dada comunidade, assim como alguns traços que marcam a língua falada por
seus habitantes, já que por meio dela podem ser revelados os pensamentos e os costumes que,
simultaneamente, os identificam e os individualizam.
Face ao exposto, indaga-se: Justifica-se uma pesquisa sobre Toponímia?
A resposta é positiva considerando que todos os povos vivenciam a prática de
nomear o espaço em que vivem. Esse costume é tão relevante que a Organização das Nações
Unidas-ONU, enquanto órgão responsável pela união dos povos, trata dessa questão traçando
diretrizes para a padronização nacional de nomes geográficos como pode ser depreendido do
trecho a seguir:
A padronização de nomes geográficos é promovida em âmbito mundial pelas
Nações Unidas por intermédio de seu Grupo de Peritos em Nomes Geográficos,
criado na década de 1960 pelo Conselho Econômico e Social. Os países
signatários (o IBGE participa como representante do Brasil, ao lado do
Ministério das Relações Exteriores - MRE, representado pela Missão
Diplomática do Brasil na ONU) buscam promover a padronização nacional e
reportar os resultados por intermédio dos relatórios dos países, das divisões
regionais/linguísticas e dos grupos de trabalho temáticos que, em documentos
técnicos, sugerem resoluções para serem votadas nas grandes conferências
mundiais, realizadas a cada cinco anos. Além da Divisão da América Latina do
Grupo de Peritos em Nomes Geográficos (GPNUNG) o Brasil participa da
Divisão de Língua Portuguesa, criada em 2007. Diante do desafio da
padronização, existem duas atitudes possíveis. A primeira interpreta os nomes
como ferramentas de referência linguística que devem ser adequadas às normas
da língua, ou seja, grafadas de acordo com a pronúncia. A outra atitude encara
os nomes geográficos como nomes próprios, parte de nossa herança cultural, não
devendo, portanto, ser alterados e, sim, preservados.
Em síntese, justifica-se a realização desta pesquisa face à constatação de que os
nomes de lugares estudados pela Toponímia constituem-se em fontes preciosas de estudos
linguísticos, históricos, antropológicos, sociológicos, geográficos, jurídicos, econômicos e
políticos. Embora seja evidente a importância dos estudos toponímicos, uma vez que sua
característica interdisciplinar favorece a aquisição de múltiplas informações, as quais
contribuem para o entendimento das referidas áreas do saber, constata-se uma significativa
ausência desse ramo da Linguística na academia dado o seu pouco conhecimento ou, talvez,
16
restrita relevância a ele atribuído, ocasionando com isso uma tímida divulgação de estudos
toponímicos no Brasil. Essa realidade pode ser constatada na Universidade Federal de Mato
Grosso-UFMT que, sequer, possui essa disciplina no currículo do curso de Letras ou em
outros cursos, notadamente, no de História e no de Geografia.
Este trabalho guarda vínculo com os projetos de pesquisa: “Estudo do português em
manuscritos produzidos em Mato Grosso a partir do séc. XVIII” - MeEL/IL/UFMT, “História
e variedade do português paulista às margens do Anhembi” e “Edição de textos literários e
não literários em língua portuguesa” - FFLCH/USP.
Fig. 01: Vista Aérea de Cuiabá.2
Fonte: http://www.cuiabanacopa2014.com.br
2 Esta foto contém quatro localidades cujos topônimos que as nomeiam integram o corpus desta pesquisa, quais
sejam: a cidade de Cuiabá, à esquerda, o rio Cuiabá, ao centro, a cidade de Várzea Grande à direita e a ponte
Júlio Muller que une as duas urbes.
17
CAPÍTULO 1
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DE MATO GROSSO, CUIABÁ,
VÁRZEA GRANDE, BONSUCESSO E PAI ANDRÉ
Objetiva-se neste capítulo abordar aspectos geo-históricos do estado de Mato Grosso,
dos municípios de Cuiabá e Várzea Grande e dos distritos de Bonsucesso e Pai André, como
elementos para se entender a gênese do homem ribeirinho dessas duas localidades ora em
estudo.
Para a consecução desse objetivo faz-se necessária uma breve incursão pelos fatos
que permearam a história dessas esferas político-administrativas. O estudo dessa história
facilitará o conhecimento do seu inventário toponímico, o corpus desta dissertação, bem como
os elementos motivadores para a sua denominação. Espera-se que nesse processo fiquem
evidentes as formas de ocupação e expansão desses lugares, assim como as raízes
socioculturais que os identificam e individualizam, tornando-os inconfundíveis pelas marcas
que trazem consigo e pela sua exteriorização através da linguagem-toponímica da qual são
signatários.
1.1 MATO GROSSO: ALGUNS ASPECTOS DO SEU INÍCIO
Para contextualizar os distritos de Bonsucesso e Pai André é necessário revisitar a
história do Brasil, de Mato Grosso e dos municípios de Cuiabá e Várzea Grande, matrizes
sócio-histórico-político-culturais das duas comunidades, objetos desta investigação.
Ferreira (2001, p. 23) afirma que a vida humana em Mato Grosso teve início,
provavelmente, há quinze mil anos, com a chegada de povos indígenas de características
étnicas diversificadas oriundos das Ilhas do Pacífico. Esses povos migraram para essas terras
utilizando-se de caminhos tanto de oeste para leste, como de norte para sul.
No entanto, segundo esse mesmo autor, a documentação referente a Mato Grosso
tem início com as penetrações espanholas subindo o rio Paraguai, a partir de 1530. Contudo,
um governo organizado duradouro surgiu somente em 1724, com o estabelecimento do
distrito de Cuiabá, que significava um ponto na conquista portuguesa de terras espanholas.
18
À guisa de esclarecimento, vale consignar que o território que atualmente compõe os
estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia foi, durante muitos séculos, apenas
Mato Grosso.
A organização governamental de Mato Grosso passou pelos seguintes períodos
político-históricos: Governo Regional que iniciou-se com a Capitania de Mato Grosso,
seguido da Província e Estado. Na República, em 1943, Mato Grosso perdeu parte de seu
território para a formação de Territórios Federais e Estado.
O Território Federal de Ponta Porã3, criado pelo Decreto-Lei-Federal nº 5812, de 13
de dezembro de 1943, teve vida efêmera, sendo reintegrado a Mato Grosso pelas Disposições
Transitórias da Constituição Federal de 18 de setembro de 1946.
Já o Território Federal do Guaporé, criado pelo mesmo Decreto-Lei-Federal nº
5812/43, gozou de estabilidade, passando mais tarde a Território Federal de Rondônia e,
finalmente, a estado de Rondônia, desmembrado de Mato Grosso que com essa perda passou
a medir 1.234.658 km².
A Lei Complementar nº 31, de 11 de outubro de 1977, criou o estado de Mato Grosso
do Sul com terras desmembradas de Mato Grosso que desta feita passou a contar com uma
área territorial de 901.420,7 km². É importante ressaltar que Mato Grosso do Sul foi instalado
como estado da República Federativa do Brasil somente em 1º de janeiro de 1979.
De acordo com Cruz (2007, p. 01), o processo de colonização de Mato Grosso
iniciou-se desde 1520, por aventureiros espanhóis, quando essa grande área pertencia à Coroa
Espanhola. Em 1525, o português Pedro Aleixo Garcia com uma expedição de
aproximadamente mil homens, descobriu muito ouro em expedições ao longo dos rios
Paraguai e Paraná chegando até a Bolívia. Aleixo Garcia foi o primeiro europeu a penetrar na
região de Mato Grosso. Náufrago da expedição de João Dias de Solis, atingiu seu objetivo,
porém, ao retornar com as riquezas obtidas, foi morto traiçoeiramente. Posteriormente, várias
incursões foram feitas e sempre traziam relatos de grandes riquezas, desencadeando o
interesse de portugueses e espanhóis que se lançavam nas novas terras com objetivos e
percursos diferentes.
Foi somente a partir da assinatura do Tratado de Madrid, de 13 de janeiro de 1750,
que o território mato-grossense passou a ser oficialmente da Coroa Portuguesa. Por isso, não
se pode enfocar o povoamento e colonização de Mato Grosso sem antes mencionar os fatos
que antecederam a fundação de Cuiabá, o seu primeiro núcleo urbano. Assim, a fundação
3 Ponta Porã, s.f., nome de rua na capital paulista; cidade de Mato Grosso do Sul. Palavra híbrida: Ponta,
português; Porã, tupi, bonita: Ponta Bonita. (SILVEIRA BUENO, 2008, p. 639).
19
desse 1º distrito mato-grossense tem conexão com o processo de ocupação do território
brasileiro cujo início remonta ao séc. XVI com a criação do sistema das Capitanias
Hereditárias que garantiram a Portugal assegurar a sua soberania sobre toda a porção costeira
da Colônia, a fim de se evitar a invasão estrangeira. O interesse ibérico sintetizava-se apenas
no proveito econômico, uma vez que se tratava de um continente muito rico, principalmente
em recursos naturais.
No século XVI surgiram os movimentos das entradas e bandeiras, cujas finalidades
fundamentais eram promover a expansão e integração do território, exploração da terra,
povoamento, investigação e aproveitamento das riquezas da Colônia.
Com esses objetivos a Capitania de São Paulo organizou expedições mercantis e
embrenhou-se pelos sertões à caça de índios para comercializá-los e, nesse afã, ultrapassaram
a demarcação estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas, de 07 de junho de 1494.
As bandeiras tinham como função, até meados do séc. XVII, aprisionar índios para
vendê-los no mercado escravagista do nordeste e outras regiões brasileiras, e na segunda
metade desse mesmo século surgiu o bandeirantismo prospector cujo objetivo era descobrir
ouro e pedras preciosas no interior do Brasil.
Essas incursões prospectivas levaram as bandeiras a ultrapassarem os limites do
Tratado de Tordesilhas o que garantiu à Coroa Portuguesa, pela posse (uti possidetis), a
incorporação de novas áreas. A atuação das “entradas” e “bandeiras” foi decisiva, sob o ponto
de vista político-administrativo, para a configuração geográfica do país e para a formação dos
primeiros núcleos populacionais estáveis no interior do país, como é o caso de Mato Grosso.
Todavia, o território ocupado por Mato Grosso no século XVII continuava
praticamente inalterado, pois não oferecia nenhum produto que pudesse ser comercializado na
metrópole portuguesa. Por ele passaram, esporadicamente, algumas expedições hispânicas
que construíram fortificações e por entradas e bandeiras que tinham como finalidade prear
índios, um dos negócios mais lucrativos da Colônia de Portugal.
As origens históricas, bem como a ocupação efetiva dessa região, estão ligadas às
descobertas de ricos veios auríferos, no início do séc. XVIII, pelos bandeirantes paulistas.
1.1.1 O TOPÔNIMO MATO GROSSO
O topônimo Mato Grosso, consoante relato de Ferreira e Silva (2008, p. 13-15)
surgiu no ano de 1734, época em que os irmãos sorocabanos Fernando (Fernão) e Arthur Paes
20
de Barros adentraram à porção oeste do que hoje é o território do estado de Mato Grosso, em
área que viria a ser o município de Vila Bela da Santíssima Trindade e, se depararam com
uma [...] extensão de sete léguas de mato alto, espesso, quase impenetrável [...] Nesse
período, através desta ação pioneira, foram descobertas as Minas do Mato Grosso, dando
assim nome à Capitania, Província e Estado de Mato Grosso, sendo que esta denominação,
Mato Grosso, foi oficialmente consolidada a partir de 25 de setembro de 1748.
Através dos Anais de Vila Bela da Santíssima Trindade, documento escrito em 1754,
Francisco Caetano Borges, escrivão da Câmara Municipal de Vila Bela, assim relata fatos que
atestam, de forma oficial, os primeiros passos do topônimo Mato Grosso:
Saiu da Vila do Cuiabá Fernando Paes de Barros com seu irmão Artur Paes,
naturais de Sorocaba, e sendo o gentio Pareci4 naquele tempo o mais
procurado, [...] cursaram mais ao Poente delas com o mesmo intento,
arranchando-se em um ribeirão que deságua no rio da Galera, o qual corre do
Nascente a buscar o rio Guaporé, e aquele nasce nas fraldas da Serra
chamada hoje a Chapada de São Francisco Xavier do Mato Grosso, da parte
Oriental, fazendo experiência de ouro, tiraram nele três quartos de uma
oitava na era de 1734. (BORGES, 1734, apud FERREIRA; SILVA, 2008, p.
14).
Em 1780, o cronista José Gonçalves da Fonseca escreveu “Notícia da Situação de
Mato Grosso e Cuiabá”, publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
de 1866 elucidando o porquê do nome Mato Grosso, dado às minas do mesmo nome pelos
irmãos Paes de Barros:
[...] se determinaram atravessar a cordilheira das Gerais oriente para poente;
e como estas montanhas são escalvadas, logo que baixaram a planície da
parte oposta aos campos dos Parecis (que só tem algumas ilhas de arbustos
agrestes), toparam com matos virgens de arvoredo muito elevado e
corpulento, que entrando a penetrá-lo, o foram apelidando Mato Grosso; e
este é o nome que ainda conserva todo aquele distrito.“Caminharam sempre
ao poente, e depois de vencerem sete léguas de espessura, toparam com o
agregado das serras [...]. (FONSECA, 1780, apud FERREIRA; SILVA,
2008, p.14).
Entendem os mencionados historiadores que a denominação adveio das Minas do
Mato Grosso, ponto que os irmãos Paes de Barros determinaram a partir de relatos sobre a
exuberância da mata que circundava o atual rio Galera, ainda em 1734. Em 09 de maio de
4 Os autores apresentam a grafia da palavra Pareci de duas maneiras. Na primeira citação, 2ª linha, o termo está
escrito no singular (Pareci), todavia na segunda citação, 3ª linha, a grafia está no plural (Parecis). Face a essa
instabilidade ortográfica, optou-se por respeitar a grafia original dos autores.
21
1748, ocasião que se criou a Capitania de Mato Grosso, o governo lusitano assim se
pronunciou:
Faço saber a vós, Gomes Freire de Andrade, Governador e o General do Rio
de Janeiro, que por resoluto se criem dois governos, um nas Minas de Goiás,
outro nas de Cuiabá [...] por onde parte o mesmo governo de São Paulo com
os de Pernambuco e Maranhão e os confins de Mato Grosso e Cuiabá [...].
(BARROS, 1748, apud FERREIRA; SILVA, 2008, p. 14-15).
A consolidação toponímica de Mato Grosso deu-se quatro meses depois da data
oficial de criação da Capitania. A Rainha D. Mariana Vitória nomeou para o cargo de
Governador e Capitão-General Dom Antônio Rolim de Moura, em 25 de setembro de 1748,
expressando-se da seguinte forma:
Hei por bem de o nomear como pela presente o nomeio no cargo de
Governador e Capitão General da Capitania de Mato Grosso, por tempo de
três anos [...]. (VITÓRIA, 1748, apud FERREIRA; SILVA, 2008, p. 15).
Em 19 de janeiro, a Rainha D. Mariana Vitória, através de um documento formal que
continha instruções administrativas para Dom Antônio Rolim de Moura, lembrando da
importância da guarda das fronteiras como o Reino de Espanha, lhe diz o seguinte:
[...] fui servido criar uma Capitania Geral com o nome de Mato Grosso [...]:
1º - [...] atendendo que no Mato Grosso se querer muita vigilância por causa
da vizinhança que tem, houve por bem determinar que a cabeça do governo
se pusesse no mesmo distrito do Mato Grosso [...]; 2º - Por ter entendido que
no Mato Grosso é a chave e o propugnáculo do sertão do Brasil [...].
( VITÓRIA, 1748, apud FERREIRA; SILVA, 2008, p. 15).
No que se refere ao inventário toponímico mato-grossense, cabe elucidar que Vila
Bela da Santíssima Trindade também foi conhecida como Mato Grosso a partir de 17 de
setembro de 1818, perdurando até 29 de novembro de 1978, quando a Lei Estadual nº 4014/78
devolveu a antiga denominação do município: Vila Bela da Santíssima Trindade.
1. 2 MATO GROSSO: ALGUNS ASPECTOS DA ATUALIDADE
Mato Grosso sempre teve uma extensa área territorial. Mesmo perdendo uma
significativa porção de seu território para a formação do estado de Mato Grosso do Sul ainda
22
é o maior da região Centro-Oeste com 903.357,9 km² e o terceiro do ranking nacional.5 A sua
capital é Cuiabá e sua estrutura geopolítica é composta de 141 (cento e quarenta e um)
municípios. Limita-se, internamente, com Rondônia, Pará, Amazonas, Tocantins, Goiás e
Mato Grosso do Sul e, externamente, com a Bolívia.
O estado de Mato Grosso ao longo do séc. XX começou a redirecionar suas
fronteiras econômicas. As atividades extrativistas foram perdendo força e cedendo espaço
para os demais setores econômicos de modo que, na agricultura, passou a produzir em grande
escala.
Com a expansão das atividades agropecuárias, a produção de arroz, milho, feijão,
mandioca, pecuária de corte, cana-de-açúcar, soja e algodão contabilizam milhares de
toneladas em todas as safras o que tem garantido uma economia sólida no ramo da produção
de gêneros alimentícios. Essa nova ordem econômica tem atraído a instalação de
agroindústrias que a ele chegam motivadas pela expressiva produção de grãos e carne e,
também, pelos incentivos fiscais, tornando-se a unidade da federação que mais cresce e gera
emprego e renda.
A população de Mato Grosso recenseada pelo IBGE em 2010 e divulgada em
04/11/2010 foi de 3.033.991 hab., sendo que 2.484.838 encontravam-se na zona urbana e
549.153 na zona rural. A densidade demográfica de Mato Grosso atingiu o índice de 3.36
hab/km². A representatividade da população urbana foi de 81,9% contra 18.1% da rural.
O turismo constitui-se, também, em outra fonte de renda, sendo o Pantanal mato-
grossense, a Chapada dos Guimarães, a Chapada dos Pareci, o Vale do Araguaia e o Vale do
Guaporé os locais mais visitados.
5 Mendes esclarece (2009, p. 109) que os valores das áreas das superfícies dos estados e municípios brasileiros
estão sendo periodicamente atualizados pelo IBGE conforme a evolução das metodologias ou as conclusões de
trabalhos em andamento. Esta área do estado de Mato Grosso (903.357,9 km²) é a que consta da Resolução da
Presidência do IBGE de nº 5 de 10 de outubro de 2002, publicada no Diário Oficial da União em 11 de outubro
de 2002. O valor da área anterior era 906.806,9 km².
23
1.3 CUIABÁ, VÁRZEA GRANDE, BONSUCESSO E PAI ANDRÉ -
ASPECTOS GEO-HISTÓRICOS
Embora o foco desta pesquisa seja o levantamento, a descrição e a análise do
inventário toponímico existente nos distritos de Bonsucesso e Pai André, no município de
Várzea Grande-MT, ambos localizados à margem direita do rio Cuiabá, na rota dos
bandeirantes paulistas, antigo caminho fluvial de São Paulo através do rio Tietê6 até Mato
Grosso, necessário se faz, como já dito neste trabalho, rememorar alguns aspectos geo-
históricos de Cuiabá e Várzea Grande, uma vez que as duas comunidades, a exemplo de São
Gonçalo Velho, atual São Gonçalo Beira Rio, delas fazem parte ou têm com elas estreitos
laços socioculturais e linguísticos.
Por essa razão, justifica-se a inclusão nesta pesquisa de alguns topônimos
pertencentes aos municípios de Cuiabá, Várzea Grande, Nossa Senhora do Livramento e
Santo Antonio de Leverger, integrantes da Baixada Cuiabana, pelo imbricamento de relações
que os identificam como ramificações de um mesmo tronco geo-histórico e linguístico-
cultural dos dois distritos em foco.
A Baixada Cuiabana, Planície Cuiabana ou Vale do Cuiabá abrange uma área de
85.369,70 km². Além dos municípios anteriormente citados, outros como Acorizal, Barão de
Melgaço, Chapada dos Guimarães, Jangada, Nobres, Nova Brasilândia, Planalto da Serra,
Poconé e Rosário Oeste, compõem o seu território.
Essas localidades pertencem à bacia dos rios Cuiabá e Paraguai e têm como principal
polo de desenvolvimento e raízes socioculturais a cidade de Cuiabá, capital de Mato Grosso.
6 Tietê é o nome do rio que passa por S. Paulo. T. Sampaio interpreta: ty, rio, etê, fundo. Parece-nos que assim
não seja: etê, quer dizer verdadeiro, legítimo e não fundo. Seria então o rio verdadeiro, o rio por excelência
porque serviu de via principal aos indígenas e depois aos bandeirantes, ainda mais porque tal rio nasce, corre e
deságua sempre em território paulista. É, portanto, o rio paulista por excelência. Poderíamos ainda aventar outra
explicação: de tiê-tiê (muitos tiês) que se abreviou em tiete e seria então o rio dos tiês, em cujas margens há
muitos tiês. Esta explicação parece-nos a preferível (SILVEIRA BUENO, 2008, p. 353). Segundo o mesmo
autor tiê é uma ave também conhecida como canário da terra.
24
BAIXADA CUIABANA, PLANÍCIE CUIABANA OU VALE DO CUIABÁ7
Fig. 02: Mapa da Baixada Cuiabana
Fonte: Sistema de informações territoriais (http://sit.mda.gov.br) .
7 Denomina-se Baixada Cuiabana, Planície Cuiabana ou Vale do Cuiabá a região formada pelos municípios e
comunidades que devem sua origem ao rio Cuiabá e seus afluentes, confluentes e defluentes. Segundo Santiago-
Almeida (2005, p. 21), “as águas desses rios foram utilizadas pelos monçoeiros e bandeirantes paulistas, no
século XVIII, como principal caminho de acesso, primeiramente, às aldeias indígenas (minas de escravos) e,
depois, às minas auríferas da dita região”. Tais atividades econômicas deram origem ao povoamento dessa
região, provendo-a de uma base cultural e linguística homogênea determinante na formação do falar cuiabano.
25
1.3.1 CUIABÁ: ASPECTOS GEO-HISTÓRICOS
1.3.1.1 LOCALIZAÇÃO
Cuiabá, a capital do estado de Mato Grosso, está situada às margens do rio de mesmo
nome, na sua margem esquerda e forma uma conurbação com o município de Várzea Grande.
Faz limite com os municípios de Chapada dos Guimarães, Campo Verde, Santo Antônio de
Leverger, Várzea Grande e Acorizal. É um entrocamento rodoviário-aéreo-fluvial. É também
o Centro Geodésico da América do Sul e está localizada nas coordenadas geográficas 15° 35’
56”, 80 de latitude Sul e 56° 06’ 05”, 55 de longitude Oeste.
Segundo Lima (2007, p. 50-51) o quadro geomorfológico de Cuiabá é representado
pela Chapada dos Guimarães, pelo Planalto da Casca8 e pela Depressão Cuiabana. O relevo é
marcado por baixas amplitudes com altitudes que variam de 146 a 250 metros no perímetro
urbano. O ponto mais alto do município é o morro de São Jerônimo, localizado na serra da
Chapada, com a altitude aproximada de 1.000 m. A vegetação predominante nessa região é o
cerrado, porém o município é cercado por mais dois grandes ecossistemas: o pantanal e a
floresta amazônica.
Ainda, de acordo com esse mesmo autor, o clima predominante é o tropical, quente e
úmido. A precipitação pluviométrica média anual é de 1750 mm, com intensidade máxima
entre dezembro e fevereiro. A temperatura máxima, nos meses mais quentes, chega a 44°C. A
mínima varia entre 12°C e 14°C entre os meses de junho a agosto. Durante a seca, que vai de
maio a outubro, a umidade cai a níveis críticos, às vezes abaixo de 15%.
Quanto à hidrografia, cabe destacar que o município é o divisor das águas das Bacias
Amazônica e Platina. Entre os principais rios dessas redes hidrográficas estão o Cuiabá e o
das Mortes. Desde o século XVIII, o rio Cuiabá abriga em suas margens populações de
origem indígena, luso-brasileira e negra. Entre os séculos XVIII e início do século XX, foi o
rio que serviu de ligação entre Mato Grosso e as regiões Sudeste e Sul do país, bem como
com alguns países da América do Sul como Paraguai, Argentina, Uruguai e Bolívia. Somente
a partir da década de 1930 é que a navegação em Mato Grosso começou a ser desativada em
função da abertura de estradas de rodagem. Além desse rio, o município é banhado também
pelos rio Coxipó-açu, Pari, Mutuca, Claro, Coxipó, Aricá, Manso, das Mortes, São Lourenço,
Cumbuca, Suspiro, Culuene, Jangada, Casca, Cachoeirinha e Aricazinho.
8 O Planalto da Casca com feições geomórficas tabulares e convexas é uma das subunidades do Planalto dos
Guimarães (MENDES, p. 113).
26
A economia centraliza-se no comércio, na indústria e, ultimamente, no turismo que
vem, aos poucos, despontando-se como fonte geradora de emprego e renda.
1.3.1.2 A FUNDAÇÃO
A história de Cuiabá, como a da maioria das cidades brasileiras surgidas nos séculos
XVII e XVIII, guarda estreita relação com o movimento desbravador dos bandeirantes
paulistas, e decorre de dois fatores: a captura de índios para comercialização e a descoberta de
ouro na região do rio Coxipó, afluente do rio Cuiabá.
A primeira notícia que se tem sobre esse território remonta ao período compreendido
entre 1670 a 1673, época em que o bandeirante paulista Manoel de Campos Bicudo subiu o
rio Cuiabá até confrontar-se com o Morro da Canastra, o atual Morro de São Jerônimo, em
Chapada dos Guimarães. Chegou à confluência do rio Cuiabá com o Coxipó, onde
estabeleceu acampamento, batizando o lugar de São Gonçalo. Bicudo ainda venceu os
contrafortes do Morro da Canastra, atingiu o rio que mais tarde seria denominado das Mortes
e por ele desceu em busca das famosas Minas dos Martírios, que, na opinião de Ferreira
(2001, p. 442), não passavam de lenda, criada pela imaginação fértil de sertanistas. Conclui o
historiador que as informações desencontradas de nomes e posições geográficas dos roteiros
foram confundindo mais e mais as informações sobre o lugar das minas, tendo sido
Diamantino o ponto de referência mais a oeste em Mato Grosso para se encontrá-las em
expedição organizada pelo Pe. Francisco de Sá Lopes, em 1820.
O segundo sertanista que chegou a Mato Grosso em 1718 foi Antonio Pires de
Campos, filho de Manoel de Campos Bicudo que, a exemplo de seu pai, acampou em São
Gonçalo, rebatizando-o de São Gonçalo Velho, onde encontrou os índios coxiponé (bororo),
dos quais aprisionou muitos, destruindo-lhes com fogo o aldeamento. Na opinião do autor,
Pires de Campos, que procurava as Minas dos Martírios, contentou-se com a preia dos índios.
De regresso a São Paulo, levando os índios cativos, Pires de Campos acampou, com
seu grupo, no local denominado “Bananal”, às margens do rio Cuiabá, plantando roças para o
abastecimento da comitiva, onde encontrou-se com a bandeira de Paschoal Moreira Cabral
Leme9, mostrando-lhe os índios aprisionados e dando-lhe indicações de que o rio Cuiabá na
9 Ferreira (2001, p. 36-37) ao referir-se ao descobrimento do ouro cuiabano enaltece os feitos de Paschoal
Moreira Cabral Leme, apresentando a opinião de renomados cronistas e historiadores a esse respeito. Vejamos:
1º) “...todos nós sabemos que o fundador de Cuiabá foi o bandeirante paulista Paschoal Moreira Cabral Leme,
mas o que muita gente ignora é que ele era bisneto pelo lado materno de PEDRO ÁLVARES CABRAL, Senhor
de Belmonte e descobridor do Brasil”(Rubens de Mendonça, em seu livro Nos Bastidores da História Mato-
27
altura do Coxipó era o local propício à captura dos remanescentes da tribo coxiponé dada à
abundância deles ali existente. Sobre essa comitiva, esclarece Silva, O. (1982, p. 2-3) que a
bandeira de Moreira Cabral era composta de 56 homens brancos, aos quais se juntaram índios
e escravos que rumaram em direção ao Coxipó e, logo, às suas margens, encontraram ouro
pelo chão e índios admirados com o precioso metal.
Sobre o descobrimento de Cuiabá, Mendonça (1982, p. 13) afirma que:
“Foi sem dúvida alguma Antonio Pires de Campos quem descobriu
Cuiabá. Ele foi o primeiro homem civilizado a subir o rio em 1718, ao
qual deu o nome de Cuiabá, em virtude da existência de uma tribo de
índio de nome CUIABASES”.10
Como o intento de Moreira Cabral era capturar índios e levá-los para São Paulo
como mão-de-obra escrava, sua bandeira enveredou-se rio Cuiabá - Coxipó acima tendo sido,
nas proximidades do rio Mutuca, atacado pelos gentios, que o derrotou. Com o episódio,
retorna à barra do rio Coxipó onde acampa-se, fortifica-se e espera reforço para voltar à prea
de índios. Desse acampamento, originou-se o primeiro arraial, próximo ao lugar denominado
São Gonçalo Velho. Tudo indica que Moreira Cabral providenciou ali a primeira roça, pois
era costume dos paulistas plantar onde acampassem, assegurando a alimentação nas
percorridas pelo sertão.
Ao retroceder para o baixo curso do rio para recompor-se da batalha perdida, a
bandeira de Moreira Cabral que visava, a princípio, aprisionar índios encontrou, pelas
barrancas, granetes de ouro em tamanha quantidade que se extraía com as mãos e paus
pontudos. Como diz Capistrano de Abreu (1907, apud Lima, 2007, p. 52), os bandeirantes
viraram mineiros sem pensar e sem querer. Esse fato transformou, sobremaneira, o modus
vivendi dos bandeirantes, que extasiados ante a quantidade de ouro encontrado,
Grossense, página 15); 2º) “...era filho do paulista Pascoal Moreira Cabral, falecido em 1689, em Sorocaba, e de
Mariana Leme, filha de Bráz Esteves Leme, falecida também em Sorocaba, no ano de 1678. Paschoal Moreira
Cabral Leme, fundador de Cuiabá, tinha cinco filhos legítimos e três ilegítimos: De seus irmãos Tomé e Bráz,
moradores de Sorocaba, nada se conhece; apenas sabemos que eram genros do ilustre bandeirante André de
Zunaga, o companheiro das primeiras armas de Paschoal. De suas irmãs Sebastiana e Maria sabemos que
desposaram dois personagens de relevo, um filho do Capitão - Mor da Capitania de Itanhaém, Miguel Garcia
Lumbria e o ilustre bandeirante Bráz Mendes Paes” (idem, citando texto de Pedro Taques e Silva Leme); 3º)
“...somente Barbosa de Sá lhe fez justiça: homem de poucas palavras e pouco polido, mas de entendimento
agudo, sincero, sem maldade alguma e de extrema caridade; a todos servia e remediava com o que tinha e podia;
era amigo de Deus, experto nas milícias dos sertões e exercícios de mineiras; finalmente valoroso e constante
nos trabalhos”. Paschoal Moreira Cabral Leme faleceu a 10 de novembro de 1724, na Cuiabá que fez nascer. 10
O nome CUIABASES apresenta-se grafado em letras maiúsculas exatamente como consta na obra “História de
Mato Grosso, de Rubens de Mendonça (1982, p. 13). Nesta dissertação optou-se por respeitar a originalidade da
obra, mantendo-se , dessa forma, a grafia apresentada pelo autor.
O nome PEDRO ÁLVARES CABRAL foi mantido em letras maiúsculas em respeito à grafia original apresentada
pelo autor.
28
desinteressaram-se da caça aos selvagens para se dedicarem ao garimpo estabelecendo, assim,
um núcleo minerador na região.
A notícia do ouro das minas do Coxipó provocou um gigantesco afluxo de paulistas,
mineiros e habitantes do litoral a Cuiabá de tal forma que o cronista Joseph Barbosa de Sá
(1975, p. 12) assim comentou:
Tamanho foi o alvoroço com a descoberta de ouro nesta região, que
em São Paulo, nas Minas Gerais e no litoral se aballarão muitas gentes
deixando cazas, fazendas, mulheres e filhos botando-se para estes
Sertoens como se fora a terra de promissam ou o Parahyso incoberto
em que Deus pos nossos primeiros paes.
Esses grupos de pessoas, principalmente paulistas, chegavam a Mato Grosso se
servindo de expedições fluviais denominadas monções que partiam, geralmente, do Porto de
Araritaguaba11, atual Porto Feliz, no rio Tietê, antigo Anhembi. Muitos caminhos fluviais com
destino à Vila do Senhor Bom Jesus do Cuiabá foram usados pelas monções, que demoravam
aproximadamente três meses nessa empreitada, passando da bacia do rio Paraná à do Paraguai
na Serra de Maracaju, a divisora das águas.
De acordo com Silva, P. (2007, p. 07), as monções legaram toda uma gama de
relações e marcas na paisagem, de apropriação dos meios naturais, de ação criativa nos
aspectos culturais, materiais e imateriais. Entende ademais que, embora as monções tenham
admitido formas e objetivos bastante diversos - de povoamento, comerciais, exploratórios,
militares, e até científicos, o elemento que as unifica como movimento e como método é o
emprego sistemático das bacias do rio Paraná e Paraguai como vias de transporte para os
sertões. Suas origens remontam ao estabelecimento do núcleo colonial à beira do rio Cuiabá e
às atividades de seu abastecimento, estendendo-se até o final da década de 1830, quando da
última monção.
Os grupos de paulistas que foram chegando subiam o rio Cuiabá e igualmente foram
se dedicando à extração do ouro. Subiram também o rio Coxipó e seus afluentes, assim como
se espalharam pelas regiões vizinhas. Como consequência, conforme relato de Póvoas (1985,
p. 14), foi abandonado o arraial primitivo e iniciou-se um agrupamento num ponto em que o
rio Coxipó se bifurca, formando um galho, semelhante a uma “forquilha”. Assim, fundou-se
Forquilha, o embrião do povoamento da futura Capitania de Mato Grosso, na confluência do
rio Mutuca com o Coxipó, sob a invocação de Nossa Senhora da Penha de França.
11
Conforme Sampaio (1987, p. 200) o topônimo Araritaguaba, de origem indígena tupi (s.c Arár-itá-guaba), quer
dizer o barreiro das araras ou dos papagaios; lugar abarrancado à margem do rio, onde essas aves vêm comer o
barro salitroso. São Paulo. V. Itaguaba. Era o primitivo nome da cidade de Porto Feliz.
Para Silveira Bueno (2008, p. 563), Araritaguaba, vem de arara-itáguaba: o barreiro das araras ou dos papagaios.
Paredão salitroso à beira do Tietê onde se encontram essas aves à procura do salitre.
29
A notícia da descoberta das Minas do Cuyabá ensejou o afluxo de novas bandeiras
para o local, de tal modo que o povoado de Forquilha recebia mais gente, provocando a
ocupação desordenada do lugar, abrangendo, inclusive, as cabeceiras dos rios Coxipó, Mutuca
e Peixe. O adensamento populacional de Forquilha foi inevitável, o que preocupou a
comunidade quanto à manutenção da ordem e da estabilidade do núcleo. Este fato levou
Moreira Cabral, juntamente com alguns outros bandeirantes, a lavrar uma ata e fundar o
Arraial de Cuiabá, devendo, a partir de 08 de abril de 1719, seguir administrativamente os
preceitos e determinações legais da Coroa.
Na visão de Ferreira (2001, p. 36), a Ata de Criação de Cuiabá deixa nítida a
preocupação de Moreira Cabral em notificar à Coroa Portuguesa os seus direitos de posse
sobre as novas lavras12.
Mais tarde, em 1722, o sorocabano Miguel Sutil, agricultor, subindo o que viria a ser
o córrego da Prainha, próximo ao rio Cuiabá, descobriu no local denominado “Tanque do
Arnesto,” um dos veios auríferos mais importantes da área: as “Lavras do Sutil”, onde
atualmente encontra-se a Igreja Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito, em Cuiabá.
Com a descoberta das “Lavras do Sutil”, a povoação da Forquilha entrou em
decadência. Seus moradores transferiram-se para o novo povoado, em 1723, onde foi
descoberta uma das maiores manchas de ouro de que se tem notícia no Brasil, tendo sido
retirada dela mais de quatrocentas arrobas do metal o que provocou a vinda de aventureiros e
sertanistas de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Piauí e Maranhão.
Mendonça (1982, p. 15) noticia que era tal a fama da nova descoberta, que eles
enfrentavam perigos sem conta, atravessando o sertão bruto, vencendo mais de quinhentas
léguas, em canoas, partindo de Araritaguaba descendo o rio Tietê, que nasce no litoral e corre
para o interior, e o Grande subindo o Anhanduí acima da barra do rio Pardo, atravessando a
Vacaria, descendo pelo Mbotetéu e deste subindo pelo Paraguai, o rio Porrudos, até o Cuiabá.
A migração oriunda de todas as partes da colônia tornou-se mais intensa, fato que fez de
Cuiabá, no período de 1722 a 1726, uma das mais populosas cidades do Brasil.
Ainda em 1723, o Capitão Jacinto Barbosa Lopes construiu, às suas custas, a Igreja
Matriz, no mesmo local em que hoje se encontra, dando-lhe o título de Igreja do Senhor Bom
12
Sobre a Ata de Fundação de Cuiabá há duas versões antagônicas. A primeira defendida por Mendonça (1982,
p. 13), afirma que o documento viera pronto de São Paulo, cabendo, tão somente a Moreira Cabral, a quem
pertence a glória da fundação de Mato Grosso, convocar sua gente e assinar a certidão de nascimento de Cuiabá.
A segunda, encabeçada por Póvoas (1985, p. 15), está convicta de que a referida Ata foi lavrada e assinada no
Arraial da Forquilha, às margens do rio Coxipó.
30
Jesus de Cuiabá, onde seu irmão, o Frei Pacífico dos Anjos, religioso franciscano, rezou a
primeira missa.
Depois de haver trocado várias cartas com Moreira Cabral, chega a 15 de novembro
de 1726, neste arraial, o Capitão General Governador da Capitania de São Paulo, Dom
Rodrigo César de Menezes, acompanhado de uma grande frota de canoas.
O primeiro ato de Rodrigo César de Menezes foi o de 1º de janeiro de 1727,
elevando Cuiabá à categoria de Vila, com o nome de Vila Real do Senhor Bom Jesus de
Cuiabá e instalando a sua Câmara. Nomeou o Capitão-Mor Jacinto Barbosa Lopes provedor
da Real Fazenda, e logo entrou este a cobrar os quintos de El-Rei em uma época em que a
Vila passava por uma das mais terríveis crises, como conta Barbosa de Sá, citado por
Mendonça (1982, p.17):
[...] a terra falta de mantimentos por falharem as roças, que brotavam os
milhos espigas sem grão algum; as doenças atuais os que escapavam delas,
não escapavam da fome; assim que tudo era gemer, chorar, morrer.
Expõe, ainda, o historiador que Rodrigo César de Menezes fez na Vila uma série de
extorsões,
[...] basta dizer que tendo este ano, chegado uma monção por ordem do
General, foi o ajudante do Palácio com uns tantos homens, recebê-la na barra
de Cuiabá para que pagassem as entradas das fazendas que trazia, se não as
pagassem, logo a fazenda era posta em praça onde se as arrematavam todas
as vezes que cobriam os direitos reais, e salários do ajudante e seus
companheiros, que foram buscá-las, que era duas oitava13 de ouro cada uma
delas.
De tal forma se executavam essas cobranças, que os proprietários chegavam a
entregar todo o carregamento da monção que traziam para se verem livres do fisco.14
O estado da Villa Real do Senhor Bom Jesus de Cuyabá, quando Rodrigo César de
Menezes regressou a São Paulo era desolador. Sobre o assunto opina Barbosa de Sá:
A Villa só tinha 8 ou 9 casas de telha, entre as quais a melhor é a que foi do
General Rodrigo César; as mais são de capim, mas como sendo assim, não se
13
A expressão que era duas oitava consta no texto original e, por esse motivo foi mantida em respeito ao
conteúdo da obra constante em Mendonça (1982, p. 17). 14
Mendonça (1982, p. 17-18) descreve a contumácia com que eram promovidas algumas extorsões fiscais a
mando de Rodrigo César de Menezes. Dentre elas relata o caso em que o General enviou o Padre André dos
Santos Queiroz, em 1728, a São Paulo, com sete arrobas de ouro relativas aos quintos de El-Rei, a fim de que
fossem remetidas a Portugal. O ouro foi entregue ao Provedor da Real Fazenda, Sebastião Fernandes do Rego,
que o enviou à Corte em Lisboa. A dita remessa chegou ao seu destino adulterada, pois em lugar do ouro
encontrou-se chumbo em grão de munição. Ao apurar o fato não se materializou a autoria do crime, contudo,
tanto o General como o Provedor da Real Fazenda ficaram sob suspeição, pois a Administração de Rodrigo
César de Menezes foi caracterizada por uma série de extorsões, processos e atos da mais requintada violência e
rapacidade. Sebastião Fernandes do Rego na opinião de Viriato Corrêa, citado por Mendonça, “foi uma das
almas mais sórdidas que Portugal mandou ao Brasil”.
31
vendiam quando cheguei, por mais pequenas que fossem, por menos de 200
a 500 oitavas cada uma, e as que tinham mais algum cômodo chegavam a
700, porém daí a dois anos as vi vender a 40 e 50 oitavas quando as não
desamparavam os donos que vinham para o povoado, o mesmo sucedeu às
roças que pedindo por algumas quando fui, 300 a 400 oitavas, vendiam ao
depois por 50 e 100, e muitas as abandonaram os seus donos retirando-se
para São Paulo.
A administração do governador Rodrigo César de Menezes que trouxe para Cuiabá
mais de 3000 pessoas operou transformações radicais em seu sistema econômico-
administrativo. A medida mais drástica foi a elevação do imposto cobrado sobre o ouro,
gerando aumento no custo de vida, devido ao crescimento populacional, agravando a situação
precária do garimpo já decadente. Esses fatos, aliados à grande violência que mesclou a sua
administração, bem como a escassez das minas de Cuiabá, tornaram-se fundamentais para a
grande evasão populacional para Vila Bela, Goiás e São Paulo.
Assim, em consequência da diminuição do ouro cuiabano e com a criação da
Capitania de Mato Grosso, grandes contingentes de mineradores e demais pessoas se
deslocaram para Villa Bela da Santíssima Trindade, a capital da Capitania de Mato Grosso,
deixando Cuiabá estagnada por um período de setenta anos.
1.3.2 VÁRZEA GRANDE: ASPECTOS HISTÓRICOS E
GEOGRÁFICOS
O município é novo, mas a terra é velha e não queremos ficar sem o registro
da nossa modesta história, desde a origem, para que a posteridade não nos
censure, afirmando: “Eles passaram - não sabemos quem somos - nem
disseram o que foram e o que foi Várzea Grande.”
Ubaldo Monteiro (1973, p. 13)
1.3.2.1 LOCALIZAÇÃO
Várzea Grande localiza-se na margem direita do rio Cuiabá e limita-se ao norte com
os municípios de Acorizal e Jangada, a leste, com Cuiabá e Santo Antônio de Leverger, pelo
32
rio Cuiabá, ao sul e a oeste, com Nossa Senhora do Livramento, tendo sido, até 1948, o 3º
Distrito de Cuiabá e, segundo Monteiro (1973, p.185),
[...] parte integrante da Capital Mato-grossense, com a qual se irmana hoje,
como um só corpo, por onde o rio Cuiabá passa como a grande artéria a
beneficiar suas terras ribeirinhas, oriundas de um mesmo lustro de uma
mesma descoberta bandeirante, fadadas ao mesmo radioso destino que o
futuro lhes reserva.
De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-
IBGE/2009, o município tem como coordenadas geográficas e pontos extremos: 15° 38’ 49”,
de latitude Sul e 56° 07’ 58”, de longitude Oeste.
A altitude é de 185m acima do nível do mar. O município não possui elevações
notáveis, pode-se afirmar, com fulcro na lição de Monteiro (1987, p. 16), que a inclinação
mais forte em toda sua área é a rampa chamada Morro Vermelho - modelado do terreno que o
milenar serviço de erosão conquistou, para ajudar na formação do rio Cuiabá. O predomínio é
dos chapadões cobertos de cerrados e uns poucos capões, exceção feita da marginal área do
rio Cuiabá e do seu afluente, o rio Pari, onde a macega já fora densa.
Quanto ao clima, este é classificado como tropical, quente e úmido, com chuvas
abundantes em janeiro, fevereiro e março e a temperatura média anual é de 26°C.
33
MAPA DO MUNICÍPIO DE VÁRZEA GRANDE15
Fig. 03: Mapa do município de Várzea Grande/MT destacando Bonsucesso e Pai André.
Fonte: Monteiro (1987, p. 24), com adaptação.
No tocante à flora, o cerrado domina na região, com matas mais densas em beiras de
rios e áreas úmidas, observando-se uma tendência de transição com o Pantanal.
Do ponto de vista econômico, Várzea Grande é predominantemente comercial e
industrial, sendo a agricultura de subsistência e a pecuária de cria, recria e corte. Através de
incentivos fiscais e doações de terras, indústrias se instalaram na região, constituindo,
juntamente com a capital, o principal pólo industrial do Estado.
Sua atual circunscrição geo-política é formada por 06 distritos e 107 bairros. As
localidades que representam os distritos são: a sede, Bonsucesso, Engordador, Pai André,
Praia Grande e Souza Lima.
15
Constam ainda neste mapa localidades que integram o corpus desta pesquisa e que são denominadas pelos
seguintes topônimos: Várzea Grande, Limpo Grande, Praia Grande, Capão Grande, Passagem da Conceição,
Cuiabá, Santo Antônio de Leverger, Nossa Senhora do Livramento e Rio Espinheiro.
34
1.3.2.2 A FUNDAÇÃO
Várzea Grande, que forma uma conurbação com Cuiabá, da qual é separada apenas
pelo rio Cuiabá, tem seu início no século XVIII, quando Miguel Sutil transpôs o rio e tentou a
mineração nos córregos e encostas do Morro Vermelho (hoje Aeroporto Internacional
Marechal Rondon) onde nada encontrou, nem ouro nem índio.
O topônimo Várzea Grande foi motivado pela extensa planície, na qual o núcleo
urbano se originou e se desenvolveu, abrangendo enormes várzeas.
Ferreira e Silva (2008, p. 230-231) relatam que as origens históricas de Várzea
Grande se perdem nos primeiros dias de Cuiabá. Registra-se como data oficial da fundação da
Comuna o dia 15 de maio de 1867, época em que o General José Vieira Couto de Magalhães,
advogado e mineiro de Diamantina, presidia a Província de Mato Grosso.
Com o passar do tempo formou-se uma estrada, ligando Cuiabá a Livramento e
Poconé, passando por Várzea Grande, onde, mais tarde, criou-se um campo de refugiados
para abrigar paraguaios, no tempo da Guerra do Paraguai, para protegê-los do ódio dos
cuiabanos, sentimento nascido de notícias divulgadas das atrocidades de Solano Lopez contra
brasileiros.
Os presos paraguaios, hábeis no corte e secagem da carne bovina e, também, na
fabricação de arreios e curtume, atraíram compradores e tornou Várzea Grande uma povoação
famosa por ter a melhor carne seca da Província. Terminada a guerra, tanto os paraguaios
como os soldados brasileiros, os vaqueiros, os carniceiros16 e os lavradores, permaneceram na
localidade.
A Lei Provincial nº 145, de 06 de abril de 1886, elevou o povoado de Várzea Grande,
que sempre teve este nome, à categoria de Paróquia que pela Lei Estadual nº 126, de 23 de
setembro de 1948 é transformada em município, com território desmembrado do município de
Cuiabá.
Várzea Grande, denominada inicialmente de várzea do boiadeiro ou do vaqueiro
viria a transformar-se na cidade industrial de Mato Grosso. De acordo com o censo do
16
O termo carniceiro era atribuído aos paraguaios, prisioneiros da Guerra do Brasil com o Paraguai, em razão de
sua perícia no corte e secagem da carne, no fabrico do arreame e no curtume de couros. A respeito desse ofício
descreve Monteiro (1987, p. 19-20): “Por ser um ponto de negócios de gado, desde cedo iniciou-se a matança de
bois no povoado de Várzea Grande. Os presos paraguaios entrosados com os boiadeiros manteavam e secavam a
carne, diariamente, passando a vendê-la em Cuiabá, por intermédio de brasileiros que conduziam as mantas para
a Capital em bruacas de couro cru, ali mesmo fabricadas e postas sobre o dorso de burros e de bois até a margem
do Cuiabá para, então, após a travessia, colocá-las à venda no comércio do porto.”
Segundo Houaiss (2009, p. 408) o verbete carniceiro, s.m. é aquele que tem o ofício de abater reses; o que
esquarteja carne para vendê-la a retalho; açougueiro.
35
IBGE/2010 tem 938.057 km² de extensão e possui 248.130 habitantes. Atualmente com sua
economia predominantemente comercial e industrial forma, com Cuiabá, a região
metropolitana mais importante do estado de Mato Grosso.
1.3.3 BONSUCESSO
Criado em 1823, à margem direita do rio Cuiabá, Bonsucesso, o mais antigo distrito
de Várzea Grande, é uma comunidade tradicional ribeirinha que cresceu em torno de um
engenho de açúcar.
A toponímia original nomeou o lugar de “Custa-me-ver”, em razão do grande
matagal e das poucas casas existentes, situação que não servia como atrativo para novos
moradores e visitantes. Mais tarde, seu fundador, Justino Antonio da Silva Claro, denominou
o lugarejo de Bom Sucesso, afirmando, com convicção: - “Aqui, ainda vai ser um sucesso!”.
Medeiros (2011) apresenta outra versão sobre esta frase profética relatada por
Petronilio Gonçalves da Silva17. Segundo relato, Justino Antônio enfiou o facão na bainha,
passou as costas da mão no rosto enrugado e suado, tirou o chapéu, olhou agradecido para o
céu e falou confiante: “Este lugar vai ser um bom sucesso!”
Esta afirmação otimista do fundador de Bonsucesso que vislumbra um futuro
promissor para a sua localidade coincide com a observação de Dick (1990, p. 94) a respeito de
topônimos que parecem trazer consigo a reminiscência de algumas das funções mágicas dos
nomes ou das crenças supersticiosas a eles atribuídas, desde os tempos mais remotos. Acredita
a autora que talvez mais evidentes se tornem tais crenças em topônimos do tipo Bom Futuro,
Bom Lugar, Bom Nome, Bom Princípio, que poderiam traduzir intenções, esperanças,
desejos, enfim, dos moradores, no sentido de que, realmente, tais localidades correspondam,
no decurso dos dias, à expectativa comum.
.
17
O Sr. Petronilio, popularmente conhecido como “Seo Fião” é irmão da Srª Belmira Ferreira Fontes, a Dona
“Buguela”, ambos bisnetos de Justino Antonio da Silva Claro, o fundador de Bonsucesso.
36
Fig. 04: Rua João Gil da Silva, conhecida como Rua Principal ou Rua da Beira.
Fonte: Prefeitura Municipal de Várzea Grande/SECOM de Várzea Grande/MT.
Bonsucesso, a quem seu fundador vislumbrou muita prosperidade está localizado
na zona rural a uma distância de 08 (oito) km da sede de Várzea Grande. Sua rua principal,
denominada Rua João Gil da Silva ou, simplesmente, Principal, com cerca de um km, margeia
a barranca do rio Cuiabá, assim como as demais ruas de outras comunidades à beira-rio dessa
região da Baixada Cuiabana18. Integravam o seu território as localidades de Souza Lima
(antigo Sovaco), Capão Grande, Pai André, Praia Grande, Capela do Piçarrão (ou Pissarrão) e
Limpo Grande.
Segundo Tavares (2004, p. 02), esse distrito é fruto da ocupação portuguesa no início
do séc. XVIII, pelo método da expropriação e ocupação imediata impingida pelos
aventureiros e nobres portugueses que vinham em busca de ouro e, nessa busca, plantavam
roças como meio de assegurar sua subsistência.
A respeito dessas plantações, Ferreira, M. (1999, p. 136) relata que as primeiras
roças foram plantadas às margens do rio Cuiabá, próximo ao desaguadouro do rio Coxipó,
quando as expedições de Antonio Pires de Campos e Pascoal Moreira Cabral se estabeleceram
18
Nas comunidades ribeirinhas dessa região as casas são alinhadas formando uma rua ao longo da margem do
rio como pode ser constatado em Passagem da Conceição, São Gonçalo e Pai André.
37
para se recuperar do confronto que tiveram com os Coxiponés19. Essas roças visavam ao
suprimento imediato das Monções.
As práticas sociais relativas à posse e uso das terras foram herdadas de caboclos e
pessoas simples nascidas no lugar que no passado abrigou bandeirantes, posseiros, donatários,
negros forros, escravos e índios, com suas atividades econômicas como plantio de roças em
geral, engenhos e alambique de cana-de-açúcar.
Bonsucesso era uma sesmaria,20 cuja posse das terras, por herança, coube a João
Baptista da Silva Claro e a Justino Antônio da Silva Claro, cabendo a este último, de fato a
origem do lugar já que montou um sítio com empregados e escravos nas terras herdadas de
seus pais.
Conforme narrativa de moradores antigos do lugar, as terras onde se situa
Bonsucesso pertenciam, no século XIX, a Justino Antônio da Silva Claro, fazendeiro que
possuía empregados e escravos. Seus herdeiros dividiram a área de terra e nela fizeram suas
criações e lavoura, sendo a cana-de-açúcar a principal plantação, da qual se produzia
aguardente de alambique, além do “açúcar de barro”, espécie de açúcar mascavo.
A história oral registra ainda a existência de senzala tanto na margem direita quanto
na esquerda do rio Cuiabá. No lado direito, havia uma senzala, um grande galpão que
abrigava um alambique e um engenho de cana-de-açúcar, cuja produção em regime de
sesmeiro remonta ao séc. XVIII e alimentava as máquinas dos engenhos e alambiques do Rio
Abaixo, principalmente as usinas São Gonçalo e Conceição, à força da mão-de-obra escrava
negra (TAVARES, 2004, p. 3).21
Atualmente, Bonsucesso vive economicamente da pesca que, embora já não
represente a única fonte de renda ou o suficiente para os pescadores locais, ainda gera
dividendos às famílias que complementam sua renda trabalhando aos finais de semana nas
iniciativas comerciais ligadas a gastronomia à base de peixe.
É importante consignar que, atualmente, Bonsucesso conta, em sua rua principal,
com dez peixarias22, sendo por isso integrante da chamada Rota do Peixe. O peixe, então,
19
O termo “Coxiponés” está escrito no plural e o termo “Monções” com inicial maiúscula em respeito à grafia
original da autora. 20
Sesmaria era uma área desmembrada do domínio público e concedida ao particular, para que este fizesse a sua
utilização econômica, conservando, no entanto, o monarca, a titularidade sobre o bem; o sesmeiro pagava ao rei
determinados privilégios e, não cumprindo a sua obrigação, ocorria o comisso, perdendo o direito sobre a
sesmaria (DI PRIETO, 2007, p. 630). 21
Sobre o trabalho escravo, Tavares (2004, p. 3) afirma que há herdeiros remanescentes do período, com
residência fixa à margem esquerda do rio Cuiabá, como pequenos chacareiros, os quais têm sua vida política e
econômica servida da pequena atividade comercial da vila, sede do distrito, e toda sua vida social ligada a ela. 22
As peixarias existentes na Rua João Gil da Silva, a denominada Rua Principal de Bonsucesso são: Peixaria da
Reserva, Raízes da Terra, Amigu’s, Magalhães, Caxara, Vovô Painha, Mangueiras, 4 R, Tarumã e Beira-
38
constitui-se o carro-chefe da economia local, com a pesca profissional, organizada através da
Associação dos Pescadores, que possui 110 associados com registro profissional e é
responsável também pela realização da Festa de São Pedro que faz parte do calendário
turístico do estado de Mato Grosso.
Além do peixe, o distrito também se sustenta por pequenos estabelecimentos
comerciais, pelo artesanato marcado pela tecelagem de redes e bordados, pelo cultivo do
tabaco, horticultura, cana-de-açúcar e produção de doce e rapadura por método artesanal
durante todo o ano, comercializados no próprio local, principalmente nos fins de semana, nas
peixarias e feiras livres de Cuiabá e Várzea Grande.
Vale registrar que, embora o peixe seja a principal fonte da economia local, a maior
parte do pescado consumido atualmente é proveniente das pisciculturas da região que
comercializam o denominado “peixe de tanque.”
Sobre a escassez do pescado natural, Tavares (2004, p. 03) afirma que os pescadores
de Bonsucesso atribuem sua decadência à má conservação ambiental do rio Cuiabá, já que a
cidade de Cuiabá fica acima do distrito e tem boa parcela de seu esgoto tratada e seus detritos
descartados no rio contribuindo, dessa forma, para aumentar o nível de poluição do rio.
A questão do esgoto também é abordada por Romio (1999, p. 37) que afirma que no
ano de 1995 foram lançados no rio Cuiabá 41.201 kg DBO/dia. Também foi estimado que
cerca de 9378 kg /dia de nitrogênio e 2345 kg/dia de fósforo são lançados no referido rio, ao
longo de seu percurso.
No distrito há também uma grande produção de tijolos, telhas e areia para a
construção civil, com diversas dragas e cerâmicas instaladas em seu território, empresas que
ao mesmo tempo que geram emprego e renda para a população local, causam prejuízos ao
meio ambiente.
Outra fonte de renda é o turismo que atrai visitantes para as festas religiosas do
Divino Espírito Santo, São Benedito e São Pedro Pescador, além do carnaval de rua.
No início do século XX, existiam quinze casas rústicas em Bonsucesso, locais onde
se realizavam as festas juninas reunindo cantores de cururu e dançadores de siriri,23 acorrendo
Rio, sendo esta última (Beira Rio) a mais antiga e que possui o maior número de clientes, atendendo, em média,
por dia de domingo ou feriado, um contingente de 300 pessoas. 23
O cururu e o siriri são manifestações folclóricas típicas da Baixada Cuiabana e que fazem parte da cultura
popular de Mato Grosso. São danças de origem indígena, portuguesa e espanhola e são mais populares nas zonas
rurais e ribeirinhas. O cururu é um ritmo típico do Centro Oeste o qual é tocado somente por homens com
improvisações e repentes elaborados na hora ou, ainda, versos que já estão na memória do povo. Já o siriri, em
Mato Grosso, é dançado por crianças, mulheres e homens em rodas ou fileiras formadas por pares que
acompanham toadas alegres que exaltam a natureza, a vida cotidiana, as pessoas, as cidades, os amores, a
devoção aos santos, dentre outros temas. (Agência SEBRAE de Notícias, de 05/09/2008).
39
a elas gente de todos os povoados para encontrar comida e, principalmente, diversão. Fruto
dessa tradição é o grupo “Os Cinco Morenos”, formado por músicos de Bonsucesso e Souza
Lima. Atualmente há mais de 200 casas com cerca de 1200 hab. e as festas com danças
tradicionais continuam com o mesmo entusiasmo de outrora.
A história da educação em Bonsucesso está ligada à criação da primeira escola
denominada Escola Rural Mista de Bonsucesso, em 1908. Sete anos depois, em 1915, foi
transferida para a comunidade de Capão Grande. Pelo Decreto-lei nº 511-A, Dom Aquino
Correa criou, em 16/03/1920, a segunda escola pública que veio transferida da localidade de
Sucuri, sendo denominada Escola Rural Mista, destruída com a enchente do rio Cuiabá em
1974. Reconstruída e autorizada a funcionar pelo Decreto nº 163/76, tem o nome de Escola
Municipal de 1º Grau Professora Maria Barbosa Martins.
A Associação de Moradores do Distrito de Bonsucesso foi criada em 1983 e
registrada em 18/06/1984 no Cartório do 1º Ofício de Cuiabá-MT. Outra organização, criada
em 07/12/2004, é a Associação de Cultura e Turismo de Bonsucesso, entidade civil de direito
privado sem fins lucrativos, que visa ao incentivo do turismo, à preservação da história, das
tradições, das festas de santo, como as de São Pedro e São João e demais manifestações
culturais de Bonsucesso. Essa entidade é resultante da parceria entre o Serviço Brasileiro de
Apoio às Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE, a Comunidade Distrital e a Prefeitura
Municipal de Várzea Grande. A Festa de São Pedro de Bonsucesso foi declarada oficialmente
como evento tradicional da manifestação cultural e religiosa do patrimônio cultural mato-
grossense e, como tal, consta do calendário estadual de eventos culturais e turísticos.
1.3.4 PAI ANDRÉ
O distrito de Pai André, a exemplo de Bonsucesso, também é uma comunidade
ribeirinha24 cujo processo de reprodução de sua história sócio-econômico-cultural inicia-se
através do rio Cuiabá, com a chegada dos bandeirantes paulistas a partir do século XVIII,
quando começaram a surgir os primeiros povoados em decorrência das descobertas auríferas.
Na opinião de Ferreira, M. (1999, p. 136-137) os grupamentos humanos, nas
proximidades de Várzea Grande, foram povoados formados no passado por um grupo de
24
Denomina-se Comunidade Ribeirinha segundo Ferreira, M. (1999, p. 138) o núcleo humano menor existente
às margens do rio Cuiabá, onde seus componentes vivem da pesca e da agricultura de subsistência.
40
famílias estabelecidas em determinadas áreas, mormente as ribeirinhas. Esses grupamentos
que se originaram das relações de escravos, proprietários de usinas, indígenas e garimpeiros
têm no rio Cuiabá o celeiro de alimento, de relações sociais e de cultura. Para a autora, a
condição de solos férteis das margens do rio Cuiabá proporcionou o desenvolvimento da
cana-de-açúcar que, a partir da metade do século XIX até o primeiro quarto do século XX, se
torna fonte econômica dominante na região.
No período da produção açucareira, o povoamento do vale do rio Cuiabá aumentou
em função da implantação de 12 usinas ao longo do rio, o que atraiu a atenção de muitas
pessoas de outras áreas, dada a necessidade de mão-de-obra para o cultivo e beneficiamento
da cana.
O referido distrito, a exemplo de outras comunidades ribeirinhas, é um pequeno
povoado formado por uma única rua denominada Antidio Manoel da Silva, porém é
popularmente conhecida como Principal, cujas habitações dispersas estão linearmente
distribuídas ao longo da margem direita do rio. As casas são simples, muitas delas de barrote,
estão alinhadas formando a referida rua onde circulam pedestres, animais, carros de bois e
automóveis.
Como se vê, a rua é de fundamental importância para um lugar, pois para ela tudo
converge, consoante abordagem de Dick (1996, p. 132). A assertiva é verdadeira mesmo em
se tratando de pequenas comunidades como é o caso de Pai André cuja função de sua rua
principal é a de refletir o seu cotidiano, considerando-se que,
A rua é um ponto singular de atração da cidade, um verdadeiro microcosmo
dentro do organismo maior do aglomerado urbano. Para ela tudo converge,
desde o fato corriqueiro do dia-a-dia, o simples entra e sai das casas até as
grandes comemorações solenes ou festivas. As religiões usaram-na para
levar ao povo a materialização da fé; eram mesmo, as procissões grandes
espetáculos, com os santos tradicionais percorrendo os caminhos para
receberem as homenagens dos devotos, nos passos ou oratórios que, de
distância em distância, ornavam o trajeto, tudo a rua testemunhando, numa
atitude cúmplice de aceitação.
O lugarejo situa-se entre os distritos de Bonsucesso e Praia Grande em frente ao
Morrinho, também conhecido como Morro de Santo Antônio. A maioria de sua população é
oriunda de Santo Antônio de Leverger e do Morrinho, localidades da margem esquerda do rio
Cuiabá, submetidas à frequentes inundações, decorrentes da baixa altitude de suas áreas
situação que as tornam alagadiças e insalubres. Por esse motivo, os moradores migraram-se
para o distrito de Pai André, margem direita do rio Cuiabá, em terras mais altas.
41
De acordo com a Associação de Moradores do Distrito de Pai André, a comunidade
possui 235 hab. e grande parte de sua força produtiva atua na atividade pesqueira, sendo que
algumas famílias têm como fonte de renda a pesca, o aluguel de canoas e de pesqueiros.
Fig. 05: Pescador de Pai André
Fonte: Prefeitura Municipal de Várzea Grande/SECOM de Várzea Grande/MT.
A informação da referida Associação pode ser endossada pelo relato Monteiro (1973,
p. 107-108) que assim afirma:
essa povoação já teve muitos moradores, na época das usinas açucareiras, do
tráfego das lanchas e dos barcos a zinga (varejão)25
, quando ali floresceram
os canaviais. Com a decadência das usinas de açúcar, parte considerável da
população migrou-se para Várzea Grande e Cuiabá, o lugar empobreceu e
sua gente sobrevive hoje da horticultura, da pesca, bem como do aluguel de
canoas e de pesqueiros para turistas e pescadores amadores.26
A implantação da Cooperativa de Pescadores e Artesãos de Pai André e Bonsucesso –
COORIMBATÁ em 1997 deu novo alento ao distrito, pois desde que nasceu faz parte do Projeto
Agregação de Valor à Produção através da Agroindustrialização do Consórcio de Segurança
25
Zinga ou varejão, s. f. vara comprida com que se impulsiona embarcação miúda (canoa, jangada etc.) em
águas rasas. (HOUAISS, 2009, p. 1975). 26
Atualmente existem os seguintes pesqueiros/restaurantes na comunidade de Pai André: Pesqueiro do Honório,
Pesqueiro do Vivi, Pesqueiro do Baiano, Pesqueiro da Morena, Pesqueiro do Nhonhô e Pesqueiro do Ramón.
Vale esclarecer que em todos eles é praticada somente a pesca artesanal.
42
Alimentar e Desenvolvimento Local - CONSAD da Baixada Cuiabana, que atua em projetos
de inclusão social gerando trabalho e renda para pescadores artesanais, agricultores e famílias
de baixo poder aquisitivo.
No passado, esse distrito tinha um importante papel no processo de crescimento
econômico da região ribeirinha por representar a mão de obra das usinas, por abastecê-las de
cana-de-açúcar ou como fornecedor de peixes para os trabalhadores das usinas.
A religiosidade está representada pela Festa do Imaculado Coração de Maria que é
homenageado com procissão, missa e festa social concretizada por um jantar comunitário.
Além dessa festa, a comunidade mantém há quase trinta anos uma tradição religiosa que
consiste na travessia do rio Cuiabá rumo ao Morro de Santo Antônio, para ao lado de uma
fogueira agradecer as graças recebidas e renovar os pedidos ao santo de devoção, culminando
com a procissão do morro, como é conhecida, realizada sempre no mês de julho e prestigiada
por muitos moradores e visitantes.
Consoante relato do Sr. Ercílio Honorato Magalhães27, Presidente da Associação de
Moradores do Distrito de Pai André, outra manifestação sociocultural realizada no distrito era
o Festival do Peixe, atividade extinta há mais de 15 anos em decorrência da instalação da
Mineração EMR3. Na opinião do informante, a utilização de dragas para retirar areia do rio
provocou a destruição da praia, maior atrativo dos turistas, afugentou o peixe, danificou o
meio ambiente e o asfalto. O mais agravante é que a empresa em questão não gera emprego,
tampouco renda para a população local, pois de um universo de 100 (cem) funcionários,
somente 02 (dois) são da comunidade.
Quanto ao aspecto educacional, a comunidade conta com uma unidade escolar
denominada Escola Municipal de 1° Grau “Zeno de Oliveira” e atende alunos da pré-escola
ao ensino fundamental.
A toponímia local, de acordo com a tradição oral, afirma que Pai André é uma
homenagem a um senhor negro e idoso, tido como caridoso e generoso, por isso era
respeitado por todos da região. Segundo comentário, este senhor não era da região, comprou
as suas terras e, depois de algum tempo, num gesto de desapego, dividiu-as com seus
agregados.
27
Relato ocorrido em 1º de maio de 2011, em Pai André.
43
CAPÍTULO 2
PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DA TOPONÍMIA
Neste capítulo apresenta-se a Toponímia, sua origem, pressupostos teóricos e seu
desenvolvimento no Brasil e no mundo.
Inicialmente, faz-se a abordagem sobre a nomeação como atividade humana,
ressaltando-a como ato relevante para que o homem possa entender a sua realidade
circundante tanto em nível mundial quanto nacional. Em seguida, enfoca-se a linguagem sob a
perspectiva linguística, o signo linguístico e a questão da arbitrariedade, o sentido e a
referência, e, finalmente, discorre-se sobre o signo toponímico e os estudos de natureza física
e antrópica.
2.1 ORIGEM E EXPANSÃO DOS ESTUDOS TOPONÍMICOS
2.1.1 A ORIGEM DA TOPONÍMIA
A história da civilização demonstra que a nomeação de pessoas e de lugares sempre
foi atividade exercida pelo homem como uma prática rotineira. Uma evidência desse costume
está presente no episódio da criação do mundo, quando a Bíblia, em Gênesis, O Livro
Sagrado dos Cristãos, capítulos 1 e 2, relata que Deus, pelo poder da palavra, ordenou que o
universo existisse e que cada ser que o habitasse desempenhasse uma função, que deveria
constituir-se no elemento caracterizador da identificação e da individualização desse ser em
relação aos demais e, com isso, estabelecer a devida correspondência entre si mesmo e seu
respectivo nome. Ao criar Adão28, o primeiro homem, Deus delegou-lhe o poder de nomear
todos os animais dos campos e todas as aves dos céus, cabendo também ao próprio Adão
nomear a mulher Eva29, que recebeu por companheira.
Essas passagens bíblicas, por conterem significativo rol de topônimos e
antropônimos, nomeados segundo a cosmovisão do povo hebreu, enumeram elementos que,
dentre outros, justificam a postulação da Onomástica como ciência.
28
O antropônimo Adão vem do hebraico cujo significado é homem de terra vermelha, do barro, assim
denominado por causa do solo vermelho da Palestina do qual foi gerado. 29
O antropônimo Eva vem do hebraico “hawwâh”, que significa vida e, por essa razão, é considerada a mãe da
humanidade.
44
No episódio da criação, pode-se perceber alguns topônimos. Um rio tinha suas
nascentes no jardim do Éden, o qual era responsável pela sua irrigação e se dividia em quatro
braços. O nome do primeiro é Pison (ou Fison), rio que contorna toda a região de Evilat (ou
Hevilá), onde se encontra ouro. O nome do segundo rio é Ghion (ou Geon), é aquele que
contorna toda a região de Cusch (ou Cuche). O nome do terceiro rio é Tigre (ou Tigris), que
corre ao oriente da Assíria. O quarto rio é o Eufrates (ou Euphrates) que está localizado na
Ásia Ocidental e possui 2780 km de extensão. Nasce nos planaltos da Armênia, na Turquia, e
atravessa este país, a Síria e o Iraque. No seu curso inferior, no sudeste do Iraque, junta-se ao
Tigre, formando o rio Chatt al-Arab, que deságua no Golfo Pérsico. Os rios Eufrates e Tigre
compõem a Mesopotâmia, que em grego quer dizer “terra entre rios” e é conhecida por ser um
dos berços da civilização que se localiza no Oriente Médio, atual região histórica que constitui
o território do Iraque, considerada uma das mais antigas da história.
O JARDIM DO ÉDENO JARDIM DO ÉDEN
[...] Um rio saía do [...] Um rio saía do ÉdenÉdenpara regar o jardim, e para regar o jardim, e dividiadividia--se em seguida se em seguida em quatro braços. O em quatro braços. O nome do primeiro é nome do primeiro é FisonFison, e é aquele que , e é aquele que contorna toda a região contorna toda a região de de EvilatEvilat,, onde se onde se encontra ouro. O encontra ouro. O nome do segundo rio nome do segundo rio é é GeonGeon, e é aquele , e é aquele que contorna toda a que contorna toda a região de região de CuschCusch.. O O nome do terceiro é nome do terceiro é TigreTigre,, que corre ao que corre ao oriente da oriente da AssíriaAssíria.. O O quarto rio é o quarto rio é o EufratesEufrates.. GnGn, 2, 10, 2, 10--1414
Fig. 06: O Jardim do Éden Fonte: Bíblia Ave Maria, Gn, 2, 10-14.
Di Tizio (2008, p.7), ao referir-se a estes lugares, afirma que Éden e os nomes dos
rios são o próprio elemento geográfico toponimizado: Éden, em hebraico, quer dizer “jardim”
ou “estepe”, chamado Jardim das Delícias ou Paraíso Terrestre, por evocar a ideia de
“delícias”. Pison, em babilônio, significa “corrente”, “fluxo”; Ghion”, “rio”, “córrego”, Tigre,
em sumério, quer dizer “água corrente, água rápida, e Eufrates, água doce.
No que se refere ao ato nominativo propriamente dito, Dick (1987, p. 6-7) enfatiza
que o poder denominador de Adão sobre todos os animais da terra configura a posse
45
intelectual de uma espécie sobre as outras, através da manifestação simbólica da linguagem. O
ato de “dar nomes” e o de “conhecer os nomes dados”, para os primitivos em geral, tinha
realmente uma conotação própria, porque pressupunha toda uma recorrência ao mecanismo de
domínio do ente, cujo nome de batismo, o primeiro, clânico, por certo, se tornava público.
A necessidade de se organizar o mundo atribuindo nomes aos seres e coisas que dele
fazem parte revelou-se atributo tão relevante para o homem a ponto de ser considerado o seu
primeiro patrimônio. Tanto isso é verdadeiro que, ainda hoje, usa-se afirmar, como adágio
popular, que [...] “só tem o nome para dar em garantia ou de um negócio ou de uma palavra
empenhada”.
Na Bíblia, o nome, que também denota reputação ou fama, está sempre associado ao
caráter da pessoa, como faz prova a citação a seguir:
Bom nome vale mais que grandes riquezas; a boa reputação vale mais
que a prata e o ouro.
Provérbios: 22, 1.
O nome sempre teve importância para todos os povos desde o começo da civilização.
Cada pessoa tinha o próprio nome e não o transmitia aos descendentes, pois era uma
identificação pessoal e não de grupo ou de família.
Definida como um ramo da Onomástica ou Onomatologia, a Toponímia é a ciência
linguística que se ocupa do estudo dos nomes próprios de lugares, seus significados e sua
importância para a cultura social dos povos. O vocábulo que a nomeia é de origem grega
formado pelo radical topos (lugar) e o sufixo onoma (nome).
2.1.2 A TOPONÍMIA NO MUNDO
A Toponímia apareceu de forma sistematizada na França, por volta de 1878, quando
o filólogo Auguste Longnon introduziu os seus estudos, em caráter regular, na École Pratique
des Hautes-Études e no Colège de France. Este pesquisador não chegou a publicar sua obra,
isto ocorrendo somente após sua morte, em 1912, por iniciativa de um grupo de seus ex-
alunos que a publicaram sob o título de Les Noms de Lieux de la France, em 1912,
considerada como clássica.
46
Este marco fez surgir outras perspectivas teóricas que têm norteado as pesquisas
toponímicas. A mais conhecida dessas teorias é a de Albert Dauzat que, em 1922, retomou os
estudos onomásticos interrompidos com a morte de Auguste Longnon e redirecionou os
estudos toponímicos principalmente com a sistematização dos processos de pesquisa que, a
partir de então, passaram a investigar o fato baseado em dados mais sólidos da história, da
geografia e da língua regionais, objetivando, com essas diretrizes, recuperar tanto a etimologia
como o significado do nome. Da pesquisa pormenorizada de Dauzat originou-se a obra Les
Noms de Lieux Origine et Evolution, a qual proporcionou o conhecimento de um sistema de
normas ainda hoje seguido pelos pesquisadores dessa área.
Coube a Dauzat a organização e realização, em 1938, do 1º Congresso Internacional
de Toponímia e Antroponímia, com a participação de vinte e um países os quais traçaram
normas a serem seguidas pelos pesquisadores nas investigações toponímicas.
Os Congressos de Onomástica idealizados por Dauzat continuaram sendo realizados
com regularidade em diferentes países, a exemplo do 3º Congresso Internacional de
Toponímia e Antroponímia, que teve lugar em Bruxelas em 1949, e o 8º, realizado em Haia,
em 1966.
A contribuição dos dois linguistas franceses Longnon e Dauzat foi muito importante
para a evolução dos estudos toponímicos porque, a princípio, conforme opina Dick (1987), a
toponímia era genética, ou seja, tinha como objetivo tão-somente recuperar a etimologia dos
nomes, elemento considerado suficiente para satisfazer a teoria.
Além da França, berço da toponímia, outros países também se destacam nessa área.
Estes primeiros estudos despertaram o interesse e a dedicação de pesquisadores em vários
países e em várias áreas do conhecimento humano, como a Geografia, História, Lexicologia,
Lexicografia, Antropologia, Cartografia, dentre outras.
Nos Estados Unidos e Canadá, onde essa ciência está atualmente mais desenvolvida,
os pesquisadores dessa área contam com a Revista Names, publicação oficial da American
Name Society, fundada em Detroit, em 1951, que tem, como alguns de seus objetivos, o
estudo da etimologia, origem, significado e aplicação das categorias do nome: geográfico,
pessoal, científico, comercial e popular, e a divulgação desses resultados.
No Canadá, desde 1966, há um Grupo de estudos de Coronímia e de Terminologia
Geográfica, associado ao Departamento de Geografia da Universidade Laval, Québec, aberto
a pesquisadores de todas as disciplinas, notadamente a linguística, a história e a antropologia.
Henri Dorion e Louis Hamelin (Dick, 1987, p. 03) sugeriram, em um artigo, a substituição do
termo Toponímia por Coronímia, mais abrangente, segundo eles, por englobar uma gama
47
mais extensa de fenômenos e um campo mais amplo de pesquisas, como a análise de
diferentes partes do espaço terrestre, extraterrestre e submarino, além dos nomes de
estabelecimentos comerciais, de ensino e de edifícios residenciais. Esta proposta foi feita por
ocasião da II Conferência das Nações Unidas para Normalização e Padronização dos Nomes
Geográficos, em 1972.
Dorion considera a Toponímia uma ciência de cruzamentos “carrefour”, isto é, que
interliga várias ciências. A partir desta visão, foi responsável pela instituição do caráter
multidisciplinar da Commission de toponymie du Québec, órgão oficial que reúne linguistas,
geógrafos, historiadores, arquitetos e a população para a elaboração de inventário, estudo e
indicação de topônimos em Québec (DI TIZIO, 2008, p. 12).
Pospelov, citado por Dick (1987, p. 03), fazendo uma retrospectiva da Toponímia na
Europa russa, cita três modelos de “orientações temáticas” seguidos pelos pesquisadores: a)
problemas gerais da teoria toponímica e dos métodos de pesquisas geográficas; b) os nomes
geográficos da URSS; e c) os nomes geográficos de países estrangeiros, salientando, entre os
centros linguísticos existentes, o papel desenvolvido pelo Instituto de Linguística da
Academia de Ciências da Ucrânia e pela Sociedade Geográfica Russa, onde funcionam onze
Comissões Toponímicas.
Em Portugal, destacou-se o trabalho do filólogo José Leite de Vasconcelos,
particularmente o seu livro Opúsculos - Vol. III: Onomatologia, publicado em 1931, obra
pioneira que apresenta considerável pesquisa sobre a onomástica portuguesa. Nessa obra, o
autor concebe a Toponímia como [...] estudo dos nomes de sítios, povoações, nações, [...]
rios, montes, vales, etc. e estuda os topônimos com base nas diretrizes francesas: [...] estudo
da origem do nome classificado por línguas [...]; [...] estudo das transformações fonéticas e da
formação gramatical do topônimo e [...] divisão de categorias dos nomes segundo as causas
que deram origem ao nome (DI TIZIO, 2008, p. 11).
Na América Latina também se tem feito investigações toponímicas. Zamariano
(2006, p. 34) cita o antropólogo Salazar - Quijada30 como um dos autores mais completos e
recentes da toponímia venezuelana. Na opinião desse toponimista, não há em seu país, do
ponto de vista legal, nenhum organismo encarregado de oficializar a cartografia dos nomes
geográficos e nem há critérios objetivos para designar nomes e acidentes ou outros elementos
naturais e culturais.
30
Salazar-Quijada é referência teórica em muitas pesquisas toponímicas realizadas no Brasil, principalmente no
aspecto que diz respeito à importância da Toponímia. A título de exemplo citam-se: Santos (2005), Zamariano
(2006), Sousa (2007), DI TIZIO (2008).
48
Ainda sobre o pesquisador em referência, Di Tizio (2008, p. 20) traz a informação de
que ele apresenta em sua obra “La toponímia en Venezuela,” um panorama histórico daquele
país. Nesse panorama, destaca a importância do signo linguístico em função toponímica,
como “acervo científico e patrimonial de um país” e, a partir desse levantamento, propõe um
modelo taxionômico de classificação toponímica que considera cinco aspectos dos topônimos:
seus elementos, sua extensão, sua localização, sua aplicação e seus motivos.
2.1.3 A TOPONIMIA NO BRASIL
No Brasil, destacam-se, dentre outros, os seguintes especialistas em estudos
toponímicos: Armando Levy Cardoso, Theodoro Sampaio, Carlos Drumond e Maria
Vicentina de Paula do Amaral Dick sendo que esta última nos mostra, em profundidade, como
o homem brasileiro nomeou os seus acidentes físicos e humanos.
Cardoso (1961, apud Dick, 1987, p. 4-5) faz um levantamento dos estudos
toponímicos realizados por especialistas, pondo em evidência o caráter histórico das
publicações, voltadas para a lexicologia indígena, inclusive ele próprio um especialista nos
topônimos brasílicos da Amazônia, notadamente os de origem karib e arawak. Em sua obra
“Toponímia Brasílica” afirma que pelo estudo da toponímia de uma região podem ser
esclarecidas questões de natureza étnica e linguística como migrações indígenas e procedência
das diversas famílias de línguas que existiram em determinado lugar.
Conforme este autor, ainda falta um plano sistematizado que abranja as diversas
zonas do território brasileiro, tarefa que só seria levada a cabo mediante auxílio e colaboração
oficiais, através do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE. Contudo, ressalta o
valor da obra O tupi na geografia nacional, de Sampaio (1987), que considera clássica para a
Toponímia brasileira pela criteriosa análise a que foram submetidos todos os vocábulos,
profundeza dos conhecimentos do tupi e seriedade de suas investigações, uma vez que
explorou como fontes de pesquisa crônicas antigas, relatos de viagens e consultas históricas, a
fim de descobrir a verdadeira grafia primitiva dos vocábulos, para a perfeita elucidação de seu
sentido e a rigorosa determinação de sua etimologia.
Por sua vez Drumond (1965, apud Dick, 1987, p.5), com a obra Contribuição do
Bororo à toponímia brasílica, sua tese de Livre Docência que versa sobre a contribuição do
povo indígena Bororo da região Centro-Oeste à toponímia brasileira, dá ênfase à Toponímia
49
no Brasil. Esse autor conclui que as pesquisas até então implementadas eram assistemáticas,
sem métodos apropriados e que os trabalhos realizados sobre toponímia tinham sido feitos
mais a título de curiosidade, visando, em sua maioria, destacar a ocorrência dos nomes de
origem tupi, fatos que o levaram a deduzir, na época, que no Brasil ainda não se tinha
verdadeiros toponimistas.
Conhecido como um dos primeiros estudos toponímicos de origem indígena do
Brasil, Sampaio (citado por Dick, 1992, p. 41), direciona sua pesquisa com vista a verificar a
presença da língua tupi na nomeação toponímica brasileira. Em sua obra O tupi na geografia
nacional afirma que os estudos etimológicos e históricos dos topônimos são bases que devem
ser estudadas, pois há a possibilidade de o significado do signo toponímico refletir
características físicas e históricas do topônimo em que foi criado, tese defendida em razão da
forma de se nomear topônimos de origem tupi baseada no caráter descritivo do ambiente em
que o nome se inseria, transformando [...] “um topônimo em espécime simbólico de ícone
[...]”, uma vez que demonstraria que o topônimo tinha vínculo com os traços ambientais.
Embora com os avanços decorrentes da própria evolução da história e dos estudos
realizados, a Toponímia, no Brasil, ainda é um assunto pouco explorado. Carvalinhos (s/d) em
“Estudos de Onomástica em Língua Portuguesa no Brasil: perspectivas para inserção
mundial”, assim comenta: “ No Brasil, a disciplina “toponímia” ainda não se difundiu como o
esperado; mesmo com todos os esforços de sistematização e consecução de projetos
realizados até a presente data, faz-se necessário traçar metas para o futuro tendo em vista o
exemplo de outros países”.31
Segundo Dick (1996, p. 12), a Toponímia caminha ao lado da história, servindo-se de
seus dados para dar legitimidade a topônimos de um determinado lugar, inteirando-se de sua
origem para estabelecer as causas motivadoras, num espaço e tempo precisos, procurando
relacionar um nome ao outro, de modo que, da distribuição conjunta, se infira um modelo
onomástico dominante ou vários modelos simultâneos. Busca apreender essa tendência
também em função dos acidentes geográficos que servem de base física ao nome empregado,
a fim de que se verifique a sua projeção no denominativo e em que termos isso ocorre. Visa,
ainda, estabelecer pontos de intersecção entre os designativos e as línguas faladas no local, de
maneira a determinar as tendências linguísticas manifestadas nos topônimos, ou em que
medida estes expressam formas antigas de linguagem.
31
A Toponímia pertence aos quadros de disciplinas da graduação do curso de Letras da Universidade de São
Paulo/USP com o nome “Toponímia Geral e do Brasil” desde, pelo menos, a década de 60 do séc. XX, com
conteúdo desenvolvido desde 1934 junto à cadeira de Etnografia e Língua Tupi, vinculada ao curso de Geografia
e História.
50
Face ao exposto, infere-se que o topônimo traz em si, então, aspectos linguísticos e
sócio-históricos que refletem os diferentes estágios da vida de uma comunidade e de um povo.
Além do mais, através dele é possível serem identificados aspectos histórico-culturais de uma
localidade, recuperar as características do passado, evidenciar e recuperar características
linguísticas, assim como os valores e as crenças de seus habitantes. Sob esse prisma, o
topônimo pode representar a cosmovisão daqueles que o criaram, certamente motivados pela
realidade que os circundava, refletindo, pois, uma época pretérita específica, cujas
características se estendem ao longo da história da comunidade, no tocante aos hábitos, usos,
costumes, moral, ética, religião, relações de poder, língua, dentre outros aspectos.
Partindo-se da premissa de que cada grupo social possui características culturais
próprias, deduz-se que tais características são projetadas nos nomes escolhidos para
identificação dos lugares, aspectos da sua realidade cultural, social, histórica, físico-
geográfica, inclusive linguística, dentre outras.
De acordo com Sousa (2007, p. 02),
[...] o topônimo - objeto de estudo da Toponímia - ao ser criado, tal como um
ser vivo, está sujeito às conseqüências do tempo: às influencias, às
modificações e, até mesmo, ao desaparecimento do seu significado original,
uma vez que escapa da consciência ou da memória do povo. Esses aspectos,
segundo o autor, permitem afirmar que a Toponímia possui uma dupla
dimensão: do referente espacial geográfico (função toponímica) e do
referente temporal (memória toponímica).
Corroborando essa assertiva, Dick (1990, p. 24) esclarece que:
[...] a aproximação do topônimo aos conceitos de ícone ou de símbolo,
sugerido pela própria natureza do acidente nomeado, [...], vai pôr em relevo
outras das características do onomástico toponímico, qual seja, não apenas a
identificação dos lugares, mas a indicação precisa de seus aspectos físicos ou
antropoculturais, contido na denominação.
Por esse caráter pluridisciplinar do topônimo, pode-se afirmar, conforme lição de
Sousa (2007, p.3) que ele se constitui num meio para conhecer:
a história dos grupos humanos que vivem ou viveram na região;
as características físico-geográficas da região;
as particularidades sócio-culturais do povo (o denominador);
os extratos linguísticos de origem diversa da que é usada contemporaneamente,
ou mesmo línguas que desapareceram;
as relações estabelecidas entre os agrupamentos humanos e o meio ambiente.
51
Desse seu caráter pluridisciplinar, depreende-se que a toponímia estabelece uma
estreita relação com o patrimônio cultural de um povo e sua preservação, constitui a
perpetuação do histórico (este entendido como todos os aspectos físico-geográficos e sócio-
histórico-culturais inerentes) e dos valores desse mesmo grupo.
Dick (2007, p. 144) postula o topônimo como signo da língua
com forma expressiva e um conteúdo unívoco ou biunívoco, “incorpora”, ele
próprio, as características do espaço que nomeia”. Ou seja, do ponto de vista
semântico, “nome e coisa nomeada passam a significar o mesmo dado”.
Como disciplina linguística, a Toponímia guarda relações com a língua do país, com
as línguas estrangeiras ou com as já extintas. É, pois, de grande relevância tanto para a
Linguística como para outras áreas tendo em vista que sua função é recuperar aspectos
linguísticos e sócio-históricos de uma localidade investigada.
Sob esse prisma, a definição que mais se afina com a Toponímia pós-moderna é a de
Dick (1990, p. 19) que, como Longnon e Dauzat, na França, deu novo direcionamento à
toponímia brasileira.
A Toponímia é um imenso complexo línguo-cultural, em que dados
das demais ciências se interseccionam necessariamente e, não,
exclusivamente.
Como já dito antes, a Toponímia como disciplina sistematizada é ministrada apenas
na Universidade de São Paulo-USP. Em outros estados, há grupos que desenvolvem estudos
toponímicos, porém em nível de pós-graduação como Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio de
Janeiro, Tocantins, Acre e Minas Gerais.32
2.2 A LÍNGUA: VEÍCULO DE DIFUSÃO SÓCIO-CULTURAL E
IDEOLÓGICO
O homem é um ser que fala, utilizando-se, para tanto, da língua para comunicar suas
idéias e difundir sua cultura em um determinado espaço, de tal forma que é pela linguagem
que ele se situa no tempo, lembrando o que ocorreu no passado e antecipando o futuro pelo
pensamento. Isso quer dizer, na opinião de Aranha e Martins (2002, p. 4-5), que pela
32
Mato Grosso conta com dois mestres e um doutor, todos obtidos pela USP entre 2005 e 2010.
52
linguagem, entendida como meio de representação simbólica e abstrata, é que capacita o
homem a compreender e agir sobre o mundo que o cerca.
Na esteira desse pensamento, Zamariano (2006, p. 31) aduz que a língua, na
qualidade de instituição social, cumpre sua tarefa de veículo de difusão da cultura e da
ideologia, uma vez que reflete as inclinações que envolvem cada momento histórico, trazendo
à luz o modo de pensar e as expectativas de uma comunidade, em um dado tempo, espaço
geográfico e em certas circunstâncias.
A autora abona a sua assertiva recorrendo-se ao pensamento de Houaiss (1983, apud
Manzolillo, 2001, p. 02) que assim entende:
Ao dominar a natureza, ao dominar as técnicas, ao dominar o conhecimento,
só se pode fazê-lo e transmiti-lo dando nome às coisas, dando nome às
idéias, criando conceitos. Então, um dos traços fundamentais disso é que a
memória do homem tem que ser amparada pela criação vocabular contínua.
Em suma, o que o indivíduo vê, pressente, imagina, descobre ou inventa
pode ser nomeado pela palavra. Uma vez nomeado, o conhecimento pode ser
socializado e integrar-se na cultura coletiva.
A esse respeito, Isquerdo (1996, p. 90-91) citada por Zamariano, afirma que, através
da dinamicidade da língua, evidenciada altamente no léxico, nível linguístico que melhor
expressa a mobilidade das estruturas sociais, é que se pode perceber a maneira como uma
sociedade vê e representa o mundo. Assim, pode-se acrescentar que, examinando-se o léxico,
caracteriza-se não apenas a língua, mas também a cultura que evidencia elementos da história,
do sistema de vida e da visão de mundo de um determinado grupo, compreendendo-se o
próprio homem e sua maneira de ver e representar tudo que há em seu mundo.
Também Biderman (1998, p. 179) comunga dessa idéia ao afirmar que:
o vocabulário exerce um papel crucial na veiculação do significado,
que é, afinal de contas, o objeto da comunicação linguística. [...] o
léxico é o lugar da estocagem da significação e dos conteúdos
significantes da linguagem humana. [...] no aparato linguístico da
memória humana, o léxico é o lugar do conhecimento sob o rótulo
sintético de palavras - os signos linguísticos.
Assim, o léxico caracteriza-se como um guia de referência para todo trabalho que
pretende analisar aspectos que envolvam a relação entre sociedade, cultura, ambiente, língua e
homem. Afirmativa corroborada por Sapir (1969, p. 45), que vê no léxico de uma língua o
elemento que mais nitidamente reflete o ambiente físico e social dos falantes. Sob esse
53
enfoque, os topônimos como integrantes do léxico e, consequentemente, da língua, podem
trazer em seu bojo uma gama de valores identificadora da realidade social de um grupo.
Ao afirmar que a Toponímia é uma das disciplinas que incorpora diversificadas
nuanças do léxico de uma língua, Zamariano (2006, p. 32) explica que isso ocorre pela
inserção dos topônimos originados de diversos estratos linguísticos, para tanto, ancorando-se
em Dick (1999, apud Dargel, 2003, p. 55):
A Toponímia, principalmente, serve-se dessas circunstâncias de base,
equivalente ou próxima a um substrato vocabular, para aí deitar suas raízes,
aproveitando-se do material linguístico que mais se adeque à configuração
dos conceitos que deve transmitir. Uma nomenclatura local ou uma cadeia
onomástica que interage com vários segmentos culturais, num aparato
semiótico de relações e procedências diversas, constitui, realmente, uma
base de pesquisa linguística altamente produtiva.
2.3 CONCEITUAÇÃO DA TOPONÍMIA
O ato de nomear as pessoas e os lugares é objeto de estudo da Onomástica ou
Onomatologia, ramo da Linguística que se ocupa da investigação da etimologia, das
transformações, da explicação e da catalogação dos nomes próprios de pessoas e de lugares. A
Onomástica, por sua vez, subdivide-se em Antroponímia, que estuda os nomes próprios de
pessoas, e em Toponímia que se refere ao estudo dos nomes próprios de lugares, seus
significados e sua importância para a cultura social dos povos. O vocábulo que a nomeia é de
origem grega formado pelo radical topos (lugar) e o sufixo onoma (nome).
Dick (1990, p. 35-36) entende que, como ramo da Onomástica cabe à Toponímia
estudar a procedência da significação dos nomes dos lugares, considerando os aspectos geo-
históricos, socioeconômicos e antropo-linguísticos que deram origem aos nomes de lugares e
suas subsistências. Seu campo não se limita somente ao aspecto linguístico ou etimológico,
pois um topônimo sempre está relacionado à história e à cultura de uma localidade em estudo.
Por essa razão, segundo a mesma autora, a Toponímia é uma das disciplinas que
integram a ciência linguística por investigar o léxico toponímico considerando-o expressão
linguístico-social que reflete aspectos culturais de um núcleo humano existente ou
preexistente e propõe o resgate da atitude do homem diante do meio, através da nomeação dos
lugares.
54
Na mesma direção, Zamariano (2006, p. 33), em sua análise sobre o estudo dos
topônimos, afirma que se evidencia neles uma inter-relação homem-ambiente-língua-cultura,
idéia que foi defendida por Sapir (1969, p. 44), para quem a língua de um povo é influenciada
pelo ambiente, como assim se expressa o linguista:
[...] tratando-se da língua, que se pode considerar um complexo de
símbolos refletindo todo o quadro físico e social em que se acha
situado um grupo humano, convém compreender no têrmo “ambiente”
tanto os fatores físicos como os sociais. Por fatores físicos se
entendem aspectos geográficos, como a topografia da região (costa,
vale, planície, chapada ou montanha) clima e regime de chuvas, bem
como o que se pode chamar a base econômica da vida humana,
expressão em que se incluem a fauna, flora e os recursos minerais. Por
fatores sociais entendem as várias fôrças da sociedade que modelam a
vida e o pensamento de cada indivíduo. Entre as mais importantes
dessas forças sociais estão a religião, os padrões éticos, a forma de
organização política e a arte.
Em suas reflexões sobre esse pensamento, a pesquisadora anteriormente citada
conclui que, embora o linguista não se refira diretamente à Toponímia, pode-se conceber o
topônimo como um signo linguístico, ou seja, uma unidade de língua enriquecida. As
constatações de Sapir podem ser adequadas à toponímia, haja vista que, ao estudar a
toponímia de uma região, pode-se perceber indícios de que o ambiente está refletido na
língua, por meio dos topônimos. Esta também é a posição de Dick (1990, p.19):
A história dos nomes de lugares, em qualquer espaço físico
considerado, apresenta-se como um repositório dos mais ricos e
sugestivos, face à complexidade dos fatores envolventes. Diante desse
quadro considerável dos elementos atuantes, que se entrecruzam sob
formas as mais diversas, descortina-se a própria panorâmica regional,
seja em seus aspectos naturais ou antropo-culturais.
Delimitar o campo de trabalho e caracterizar o objetivo da Toponímia como
disciplina autônoma foi sempre uma das grandes dificuldades para os estudiosos, seja para sua
conceituação ou para situá-la em um ramo distinto do conhecimento humano. Para muitos,
com orientações e perspectivas novas, suas questões poderiam, se inscrever nos quadros da
História, da Geografia ou das Ciências Sociais, e por elas solucionadas.
Essa assertiva pode ser confirmada pelas concepções de renomados toponimistas que
assim a definem:
55
Toponímia é a ciência cuja finalidade é investigar a significação e a origem dos
nomes de lugares e também de estudar suas transformações (ROSTAING, 1961, p. 07).
Já Salazar-Quijada (1985, p. 18) define a Toponímia como o ramo da Onomástica
que se ocupa do estudo integral, no espaço e no tempo, dos aspectos geo-históricos, sócio-
econômicos e antropo-linguísticos que permitiram e permitem que um nome de um lugar se
origine e subsista.
A Toponímia é uma ciência ampla que demonstra uma infinita gama de
características sociais, políticas, históricas, econômicas, culturais e antropolinguísticas, não só
de um indivíduo, mas de um grupo social, ou seja, de uma região (DICK, 1992, p. 3).
Por sua vez, Sousa (2009, p. 3) entende que ao designar um lugar com um nome,
estabelece-se uma relação binômica, ou seja, uma conexão entre o acidente geográfico (rio, o
igarapé, o município, o seringal, etc.) e o nome atribuído a ele, em que as partes formam um
todo representativo. Nesse ato de nomeação, diferentes fatores interferem (influenciam,
motivam) na escolha do denominativo, tanto de ordem físico-ambiental (as características do
próprio acidente), quanto de ordem antropocultural (a cosmovisão do grupo humano).
O citado pesquisador afirma que para Dick, apesar do caráter eclético da disciplina,
que parece inicialmente se chocar com o pensamento de Charles Rostaing, que via na
Linguística o princípio essencial da Toponímia, não há contradição entre as duas posições,
uma vez que em sua feição intrínseca, deve ser considerada como um fato do sistema das
línguas humanas.
2.4 A IMPORTÂNCIA DOS TOPÔNIMOS
Considerando-se que o topônimo guarda íntima relação com o contexto histórico-
político da comunidade, ele já nasce enriquecido pela circunstância que designa, sendo [...] “o
portador do que se poderia chamar de espírito coletivo [...]”, trazendo consigo uma carga
histórico-social bastante ampla (DICK, 1990, p. 105).
Salazar-Quijada (1985, p. 29-30), entende que a “[...] Toponímia permite conhecer as
características culturais de homens que habitaram ou habitam uma determinada região [... ]” e,
como a Antropologia, às vezes os topônimos podem ser a “[...] única evidência da presença
histórica de grupos humanos em determinada área”. Para ele, os topônimos constituem um
bem patrimonial de qualquer país, uma vez que é por meio dos designativos de lugares que as
56
nações apresentam sua personalidade geográfica e se particularizam em relação aos demais
territórios do mundo.
Sob esse prisma, o mencionado autor aponta a relevância da Toponímia em diversos
segmentos da vida humana, como:
a) importância cartográfica: os mapas, frutos da atividade cartográfica, possuem,
como os homens, um corpo e um espírito. O corpo corresponde à representação do território e
o espírito, à da sua nomenclatura geográfica. Em uma equipe de cartografia é fundamental a
presença de um toponimista com formação sólida, pois um erro na nomenclatura de um mapa
pode trazer graves consequências para seus usuários;
b) importância jurídica: ressalta-se que a imprecisão de nomes geográficos em
propriedades públicas e privadas pode levar a sérios problemas de ordem legal. Se os limites
de uma propriedade não estiverem sustentados por uma base toponímica clara e firme, ela se
encontra em situação de problema de difícil solução;
c) importância geográfica: por meio dos topônimos, identificam-se acidentes
naturais e culturais, pois os geógrafos necessitam conhecer em detalhes a geografia física, a
geografia humana, a geografia regional e urbana. Os topônimos são vitais para a área espacial
por relacionarem o homem ao ambiente. Assim, para a geografia, eles constituem pontos de
partida para numerosas investigações;
d) importância histórica: um topônimo é um dado histórico por meio do qual o
historiador pode reconstruir a cultura de um povo: sua economia, seus movimentos
migratórios, aspectos linguísticos e aspectos da vida social e espiritual das pessoas que
habitam ou habitaram uma região. A toponímia indígena, numa zona onde esses grupos já
desapareceram, permite, conjuntamente com os restos arqueológicos, abordar estudos para o
conhecimento histórico de antigos habitantes de uma área geográfica;
e) importância folclórica: várias são as influências toponímicas feitas pelos povos
em suas manifestações folclóricas. Os topônimos aparecem em inúmeras produções literárias
e expressões culturais como os nomes de acidentes geográficos, estados e cidades que fazem-
se presentes em músicas e poemas;
f) importância político-administrativa: a toponímia é também de suma importância
para as atividades político-administrativas, uma vez que permite fixar as referências dos
limites de um município, distrito, estado e até limites internacionais. A política cadastral de
arrecadação de impostos fundamenta-se em referências toponímicas, já que os topônimos
permitem situar as propriedades públicas e privadas, diferenciá-las e demarcá-las com
precisão.
57
g) importância linguística: um dos principais fundamentos da toponímia está ligado
à explicação etimológica dos topônimos e, nesse sentido, está intimamente ligada à
Linguística. De fato, a Toponímia é um fenômeno linguístico aplicado a fenômenos
geográficos. O homem, pela sua fala, designa e diferencia cada um dos fenômenos
geográficos e culturais ao seu redor. O linguista, ao estudar os nomes geográficos antigos e
históricos, pode chegar a conclusões importantes, ao obter nomes geográficos aborígenes e
com sua consequente análise etimológica proporcionar à História valiosos dados de
reconstrução do passado;
h) importância patrimonial: por refletir o acervo cultural de um país, a Toponímia
deve ser considerada patrimônio nacional. Todo país anseia ressaltar seus valores pátrios:
sente-se orgulho do nome do país, do estado e do município. Esses topônimos, produto
histórico de conquistas e colonização, particularizam seus moradores do resto do mundo;
i) importância viária: nas estradas é por meio da Toponímia nos mapas, além de
placas, que os viajantes se orientam determinando a origem e o destino de sua viagem.
j) importância social: os topônimos podem ter um significado afetivo essencial para
os habitantes de uma comunidade e assim uma pessoa estranha não pode entendê-lo
inteiramente. Para os habitantes de uma determinada localidade não é cabível alterar nomes
usados em honra a pessoas proeminentes da história local, em memória de fatos históricos e
do cotidiano. Erros em ortografia e pronúncia do nome da localidade podem ocasionar
situações constrangedoras, pois há um sentimento social de orgulho pela associação do
topônimo com o lugar que designa. Da mesma forma, é arbitrário que se altere um topônimo
sem que seus habitantes permitam. O topônimo é para o lugar o que o nome próprio é para a
pessoa, não se muda sem o consentimento da própria pessoa.
Além disso, Berwanger e Leal (2008, p. 35) acrescentam que a Toponímia, ao tratar
da evolução e da mudança de nomes de lugares, presta imensos serviços à Diplomática,
campo da Filologia, por informar nomes antigos de lugares citados nos documentos.
Outra área em que a toponímia pode ser aplicada, com sucesso, é no processo ensino-
aprendizagem da língua materna através da aplicabilidade do princípio da
interdisciplinaridade. A inclusão de estudos toponímicos no currículo escolar, entre os
assuntos tratados nas aulas de Língua Portuguesa, permite a aplicação da referida orientação,
já que essa disciplina onomástica caracteriza-se, no entender de Sousa (2007, p. 04), pela
interdisciplinaridade inerente, e necessária, para análise e compreensão do sentido que o
topônimo possui. O trabalho com a toponímia articulará saberes geográficos, históricos,
biológicos, matemáticos, antropológicos e linguísticos, de modo que haja uma mudança de
58
foco no ensino da língua materna que passará do excesso de regras e tradicionalismos
estruturais para as diferentes práticas discursivas, conforme preconizam os Parâmetros
Curriculares Nacionais - PCN (1998, 2000)33.
2.5 O TOPÔNIMO E A MOTIVAÇÃO TOPONÍMICA
A motivação para se nomear os lugares não tem fronteiras, pois todas as culturas
possuem traços comuns de ordem psicológica, antropológica e sociológica que são
motivadoras para o batismo de um lugar. À guisa de exemplo, Maroneze (2004, p. 01) abona
esta afirmação mostrando alguns nomes de lugares que se repetem pelo mundo. Uns,
relacionados a cores, como o Rio Amarelo, na China, o Mar Vermelho, no Egito, Rio Negro,
no Brasil, Montanha Azul, na Pensylvania e Montanha Vermelha, no Alabama. Outros,
relacionados às dimensões como Praia Grande, Brasil, Long Beach (EUA), Ilha Comprida,
Brasil e Long Island (EUA). Alguns, de origem indígena como Cuiabá, Tietê e Pernambuco,
Brasil; Mississipi, Quebec e Kansas, na América do Norte e na Europa, de origem pré-céltica
como o Rio Dordonha, na França e o Rio Douro, na Península Ibérica.
A questão da definição, classificação e denominação do signo linguístico foi objeto
de discussão dos estudiosos ao longo do tempo. Já na Antiguidade constata-se que os filósofos
voltaram suas atenções para os estudos linguísticos dedicando-se à motivação ou
arbitrariedade do signo linguístico. Esses estudos engendraram dois pensamentos: um
naturalista, liderado por Platão que defendia a existência de uma relação intrínseca entre a
imagem acústica e o sentido; o outro, convencionalista, representado por Aristóteles, o qual
sustentava ser a relação puramente arbitrária (ULLMANN, 1964, p. 07).
Em que pese a oposição entre elas, estas duas correntes têm, entre si, um ponto
convergente, pois ambas procuram identificar se havia conexão entre o significado de uma
palavra e a sua forma.
Sobre essa questão destaca-se Ferdinand Saussure que, no início do séc. XX retoma
os postulados aristotélicos e conclui que a arbitrariedade do signo e a linearidade do
significante são características fundamentais do signo linguístico e, sob essa ótica, define a
língua como “um sistema de signos que exprime idéias” e que funciona devido a um contrato
social entre os falantes de uma mesma língua (SAUSSURE, 1970, p. 24).
33
A propósito ver Sousa em “Aplicação dos estudos toponímicos no Ensino Fundamental e Médio: propostas
teórico-didáticas”, 2007.
59
Em sua abordagem sobre significação, Guiraud (1973, p. 35) concebe o signo como
“um estímulo, isto é, uma substância sensível, cuja imagem mental está associada no nosso
espírito à de outro estímulo que ele tem por função evocar com vista a uma comunicação.”
Desse raciocínio, depreende-se que há um vínculo entre o signo e algo que ele representa, ou
seja, a realidade.
Nesse mesmo raciocínio Ullmann (1964, p. 134-140), embora reconheça o caráter
imotivado e arbitrário do signo em muitas situações, afirma que, em outras, pelo menos em
certo grau, os signos são motivados e transparentes e que tal motivação pode ocorrer no nível
fonético, as onomatopéias, por exemplo, no morfológico, palavras simples ou compostas,
sendo que nas simples os componentes, os morfemas, veiculam um determinado significado, e
as compostas são formadas da mesma maneira que as simples.
Em síntese, ao questionar a noção saussureana de arbitrariedade do signo linguístico,
Ullmann toma para sua defesa o fato de ocorrer motivação semântica do signo dentro de uma
relação metafórica ou metonímica.
A teoria da motivação linguística não consolidou-se no percurso das investigações
realizadas. A arbitrariedade do signo conforme destacou Saussure ainda é objeto das
pesquisas nos estudos de linguagem. Não obstante, no caso específico do signo linguístico em
função toponímica, de acordo com Dick (1990, p. 33), não se deve desconsiderar a relação
significante/significado apresentada por Saussure. Contudo, a toponimista inadmite a
possibilidade da existência de signos imotivados na Toponímia porque:
o elemento linguístico comum, revestido, aqui, de função onomástica
ou identificadora de lugares, integra um processo relacionante de
motivação onde, muitas vezes, torna possível deduzir conexões hábeis
entre o nome propriamente dito e a área por ele designada (DICK,
1990, p. 34).
Assim, na abordagem do signo toponímico, explica a autora em comento (1990, p.
38-39) que a priori, pode-se acatar a noção saussureana de arbitrariedade, uma vez que o
topônimo, como qualquer outra forma da língua, é, estruturalmente, um significante animado
por uma substância de conteúdo; todavia, considerando o seu aspecto funcional ele, topônimo,
adquire uma dimensão maior e passa a ser marcado duplamente: primeiro, pela
intencionalidade do denominador no ato da seleção de um determinado nome para identificar
um lugar; segundo, pela origem semântica da denominação pelo significado que revela, de
modo transparente ou opaco. Tanto a intencionalidade quanto a origem semântica da
60
denominação, enquanto modalidades da motivação toponímica, configuram perspectivas
diacrônicas e sincrônicas no estudo da toponímia e irão influir na formalização das
taxionomias dos nomes de lugares.
Em conformidade com o entendimento da referida linguista, isso ocorre porque:
[...] o que era arbitrário, em termos de língua transforma-se, no ato do
batismo de um lugar, em essencialmente motivado, não sendo exagero
afirmar ser essa uma das principais características do topônimo
(DICK, 1990, p. 38).
Assim, a motivação semântica, característica principal do signo toponímico, pode
estar relacionada a aspectos sociais, culturais ou ambientais, que motivam, ou são levados em
consideração, no ato de nomear acidentes físicos ou humanos. Por esta perspectiva os
topônimos - signos linguísticos em função toponímica - são motivados por fatores não
linguísticos podendo ser considerados como “verdadeiros testemunhos históricos” os quais
contêm “valor que transcende o próprio ato da nomeação” Prosseguindo em sua
argumentação, a pesquisadora comenta que
[...] iconicamente simbólico, vai permitir, portanto, através de uma
reconstituição de suas características imanentes, a captação de
elementos os mais diferenciadores da própria mentalidade do homem,
em sua época e em seu tempo, em face das condições ambientais de
vida, pelo menos de forma considerável (DICK, 1990, p. 22).
A esse respeito, Santos (2005, p. 31) afirma que a posição assumida pela toponimista
sobre o caráter motivador do signo linguístico contradiz o conceito de arbitrariedade
linguística de Saussure que é a diferença entre o signo linguístico e o topônimo a que este está
ligado. Isto é, apesar de se inscrever como parte do sistema de uma língua e, por isso,
pertencer ao seu universo lexical, ele é motivado por desejos pessoais ou eventos sócio-
culturais e históricos, embora seja similar a outros signos. Por se inscrever como parte do
sistema da língua, ele nos fornece dados sobre a relação língua-sociedade e cultura. Este
fenômeno recobre o conceito de léxico para Biderman (1981, p. 132):
O léxico pode ser considerado como o tesouro vocabular de uma
língua. Ele inclui a nomenclatura de todos os conceitos linguísticos e
não linguísticos que se referem ao mundo e ao universo cultural,
criado por todas as culturas humanas atuais e do passado. Por isso o
léxico é o menos linguístico de todos os domínios da linguagem. Na
verdade, é uma parte do idioma que se situa entre o linguístico e o
extralinguístico.
61
Ao se juntarem as posições de Biderman (1981), o léxico como tesouro vocabular de
uma língua, e de Dick (1992), a motivação semântica por elementos extralinguísticos do
topônimo como uma fonte de pesquisa histórica de um povo, percebe-se como os elementos
de uma linguagem trazem, em sua essência, os conceitos elaborados pela comunidade que
quando os utiliza para nomear um acidente físico ou humano, passam a refletir, de certa
forma, a mentalidade coletiva dessa comunidade.
Sobre a questão da nomeação dos acidentes geográficos, Aguilera (1999, p. 125)
citada por Zamariano (2006, p. 40), atesta que a nomeação dos acidentes geográficos não é
feita aleatoriamente pelo homem. Ao contrário, o denominador a faz [...] “movido por alguma
impressão sensorial e/ou sentimental que o acometa no momento da denominação”.
Existem outras teorias que buscam estabelecer e fixar a origem da motivação e a
natureza dos motivos dos topônimos. Sobre esse assunto Mouly (1970, p. 35) explica que o
motivo da denominação de um espaço pode originar-se de fontes diversas tais como fatores
biológicos, sociológicos, psíquicos, sobrenaturais e o próprio auto-racionalismo humano, já
que o [...] “termo motivo é frequentemente empregado para abranger tanto as condições,
quanto os padrões apreendidos do comportamento, através do qual procura satisfazer suas
necessidades;” o que revela a interação das condições do homem com o seu ambiente.
Por todos os argumentos aqui expostos, pode-se afirmar que os topônimos são signos
linguísticos semelhantes aos demais signos e pertencentes ao mesmo sistema. Entretanto não
possuem, como muitos deles uma natureza arbitrária ou convencional. A esse respeito, Dick
(1990, p. 22) esclarece que
[...] se, em nível de língua, a função denominativa se define pelo
arbitrário ou convencional, no plano da Toponímia ela se apresenta
essencialmente motivada, ou impulsionada por fatores de diferentes
conteúdos semânticos, que poderão conduzir à localização de áreas
toponímicas, em correspondência, ou não, às respectivas áreas
geográfico-culturais.
2.6 AS TAXIONOMIAS TOPONÍMICAS
Ao tratar da classificação dos topônimos, Di Tizio (2008, p. 16) afirma que Dick
identifica o topônimo como o nome próprio do lugar que possui capacidade de designar,
sendo o sintagma toponímico a união de um acidente geográfico a um nome. No modelo
classificatório proposto, figura, portanto, em primeiro plano, o termo ou elemento genérico,
62
relativo ao acidente geográfico e, em segundo plano, o elemento específico, ou topônimo
propriamente dito, no qual pode-se identificar a intenção do denominador no ato da
nomeação.
A partir desta divisão, Dick classificou as estruturas dos topônimos, segundo sua
formação em:
topônimo ou elemento específico simples – [...] “é aquele que se faz definir por um só
formante seja substantivo ou adjetivo, de preferência, podendo, contudo, se apresentar
também acompanhado de sufixações (diminutivas, aumentativas ou de outras procedências
linguísticas)”;
topônimo composto ou elemento específico composto – [...] “é aquele que se apresenta
com mais de um formador, de origens diversas entre si, do ponto de vista do conteúdo,
gerando, por isso, às vezes, formações inusitadas que, apenas a história local poderá elucidar,
convenientemente”;
topônimo híbrido ou elemento específico híbrido – [...] “é aquele designativo que recebe
em sua configuração elementos linguísticos de diferentes procedências: a formação que se
generalizou no país é portuguesa + indígena ou a indígena + portuguesa.
Em sua tese de doutorado intitulada “A Motivação Toponímica e a Realidade
Brasileira”, Dick (1990, p. 367) apresenta princípios teóricos de investigação, o diacrônico e
o sincrônico, considerando que a investigação, na segunda perspectiva, permite [...] “o exame
das séries motivadoras, que conduziram à elaboração das taxes toponímicas, vinculadas, de
modo genérico, aos campos físico e antropocultural”. Ainda nessa tese, a referida linguista
formula uma terminologia técnica para a matéria e destaca os principais motivos que
comandam a organização da nomenclatura geográfica.
Considerando que a Toponímia tem por objetivo, entre outros, a busca da origem e
da significação dos nomes de lugares, recorre-se, a modelos taxionômicos nos ordenamentos
sistemáticos das ciências humanas que guardam vínculo com ela, de tal modo que a aproxima
definitivamente de outras ciências linguísticas.
Assim, como contribuição para o avanço das investigações toponímicas, Dick (1987,
p. 38-40) elaborou um modelo taxionômico idealizado para a realidade brasileira.
Inicialmente, em 1975, a pesquisadora criou uma proposta com 19 (dezenove) taxes.
Posteriormente, esse modelo foi reformulado pela própria autora e publicado em 1990,
passando a englobar 27 (vinte e sete) taxes, distribuídas em 02 (dois) blocos, de acordo com a
natureza motivacional (semântica): 11(onze) taxes relacionam-se ao ambiente físico e,
portanto, denominadas “Taxionomias de Natureza Física”, e 16 (dezesseis) ligadas às relações
63
que envolvem o homem inserido em um grupo com seus aspectos sócio-culturais,
denominadas “Taxionomias de Natureza Antropocultural”.
As referidas categorias taxionômicas são descritas e exemplificadas a seguir:
2.6.1 TAXIONOMIAS DE NATUREZA FÍSICA
1- Astrotopônimos: topônimos relativos aos corpos celestes em geral. Ex: Estrela (AH BA);
Rio da Estrela (ES); Saturno (AH ES)34
.
2-Cardinotopônimos: topônimos relativos às posições geográficas em geral. Ex: Praia do
Leste (PR); Serra do Norte (MT); Entre-Rios (AH AM); Ribeirão do Norte (MG); Lagoa do
Sul (SC).
3-Cromotopônimos: topônimos relativos à escala cromática. Ex: Rio Branco (AM); Rio
Negro (AM); Rio Pardo (SP); Serra Azul (SP).
4-Dimensiotopônimos: topônimos relativos às características dimensionais dos acidentes
geográficos, como extensão, comprimento, grossura, largura, espessura, altura, profundidade.
Ex: Ilha Comprida (AM); Serra Curta (BA); Larga (AH GO); Riacho Grosso (CE); Morro
Alto (GO); Córrego Fundo (MT); Igarapé Profundo (RO).
5- Fitotopônimos: topônimos de índole vegetal, espontânea, em sua individualidade. (Arroio
Pinheiro, RS), em conjuntos da mesma espécie (Pinheiral, AH RJ), ou de espécies diferentes
(Morro da Mata, MT; Caatinga, AH BA; Serra da Caatinga (RN), além de formações não
espontâneas individuais (Ribeirão Café, ES) e em conjunto (Cafezal, AH PA).
6-Geomorfotopônimos: topônimos relativos às formas topográficas: elevações (montanha -
Montanhas, AH RN; monte - Monte Alto, AH SP; morro - Morro Azul, AH RS; colina -
Colinas, AH GO; coxilha - Coxilha, AH RS) e depressões do terreno (vale – Vale Fundo, AH
MG; baixada - Baixadão, AF/AH MT) e às formações litorâneas (costa - Costa Rica, AH MT;
cabo - Cabo Frio, AH RJ; angra - Angra dos Reis, AH RJ; ilha - Ilhabela, AH SP; porto -
Porto Velho, AH RO).
7- Hidrotopônimos: topônimos resultantes de acidentes hidrográficos em geral. Ex: água -
Serra das Águas (GO), Água Boa, AH MG; rio - Riozinho, AH PI, Rio Preto, AH SP;
34
Cumpre-nos esclarecer que neste trabalho as siglas AF diz respeito aos acidentes físicos representados pelos
topônimos de natureza física como rios, serras, morros, lagos, cachoeiras, vegetais, animais e minerais, etc. e AH
refere-se aos acidentes humanos ou aglomerados humanos, representados pelos topônimos de natureza humana
como fazendas, rodovias, municípios, cidades, bairros, ruas, pontes, vilas, favelas, porto, escolas, etc.
64
córrego-Córrego Novo, AH MG; ribeirão - Ribeirão Preto, AH SP; braço - Braço do Norte,
AH BA; foz - Foz do Riozinho, AH AM.
8- Litotopônimos: topônimos de índole mineral, relativos também à constituição do solo,
representados por indivíduos (barro, Lagos do Barro (BA); barreiro - Córrego do Barreiro
(AM); tijuco - Tijuco Preto, AH SP; ouro - Arroio do Ouro (RS), conjunto da mesma espécie
(Córrego Tijucal (SP) ou de espécies diferentes (Minas Gerais, AH MG, Cristália, AH MG,
Pedreiras, AH MG).
9- Meteorotopônimos: topônimos relativos a fenômenos atmosféricos. Ex: vento - Serra do
Vento (PB); Ventania, AH SP, Botucatu, AH SP; neve - Riacho das Neves (BA); chuva -
Cachoeira da Chuva (RO), Cachoeira do Chuvisco (MT); Chuva, AH MG; trovão - Trovão,
AH AM; Cachoeira Trovoada (PA).
10- Morfotopônimos: topônimos que refletem o sentido de forma geométrica. Ex.: Curva
Grande, AH AM; Ilha Quadrada (RS); Lagoa Redonda (BA); Triângulo, AH MT.
11- Zootopônimos: topônimos de índole animal, representados por indivíduos domésticos
(boi - Rio do Boi (MG), e não domésticos (onça - Lagoa da Onça (RJ), e da mesma espécie
em grupos (boiada - Ribeirão da Boiada (SP), Vacaria, AH RS, Tapiratiba, AH SP.
2.6.2 TAXIONOMIAS DE NATUREZA ANTROPOCULTURAL
1-Animotopônimos ou Nootopônimos: topônimos relativos à vida psíquica, à cultura
espiritual, abrangendo a todos os produtos do psiquismo humano, cuja matéria prima
fundamental, e em seu aspecto mais importante como fato cultural, não pertence à cultura
física. Ex.: vitória - Vitória, AH CE; triunfo - Triunfo, AH AC; saudade - Cachoeira da
Saudade (MT); belo - Belo Campo, AH BA; feio - Rio Feio (SP).
2- Antropotopônimos: topônimos relativos aos nomes próprios individuais. Ex.: prenome -
Abel, AH MG, Benedito (igarapé, MT), Fátima, AH MT; hipocorístico - Bentinho, AH MG,
Chiquita (ilha MT), Nico - (igarapé, AC); prenome + alcunha - Fernão Velho, AH AL,
Joaquim Preto (igarapé do, PA), Jorge Pequeno (ribeirão, MG), Maria Magra – (serra da,
MG), Pedro Ligeiro, AH GO); apelidos de família - Abreu, AH RS, Barbosa (arroio, RS),
Silva, AH PA, Tavares (rio, SP); prenome + apelido de família - Antonio Amaral, AH MG,
Francisco Dantas, AH RN, Manoel Alves (rio, GO).
65
3- Axiotopônimos: topônimos relativos aos títulos e dignidades de que se fazem acompanhar
os nomes próprios individuais. Ex.: Presidente Prudente, AH SP, Doutor Pedrinho, AH SC,
Duque de Caxias, AH RJ.
4- Corotopônimos: topônimos relativos aos nomes de cidades, países, estados, regiões e
continentes. Ex.: Brasil, AH AM; Europa, AH AC, Amazonas, AH BA, Uruguai, AH MG.
5-Cronotopônimos: topônimos que encerram indicadores cronológicos, representados, em
Toponímia, pelos adjetivos novo/nova, velho/velha. Ex.: Velha Boipeba, AH BA; Rio Novo
Mundo (GO), Nova Viçosa (AH BA), Velha e Nova Emas, AH SP.
6- Ecotopônimos: topônimos relativos às habitações de um modo geral. Ex.: Casa da Telha,
AH BA; Ocauçu, AH SP; Sobrado, AH BA.
7- Ergotopônimos: topônimos relativos aos elementos da cultura material. Ex.: flecha -
Córrego da Flecha (MT); jangada - Jangada, MT; relógio - Relógio, AH PR.35
8- Etnotopônimos: topônimos referentes aos elementos étnicos, isolados ou não (povos,
tribos, castas). Ex.: Guarani, AH PE; Ilha do Francês (RJ), Rio Xavante (MT), Chavantes,
AH SP; Árabe (arroio, RS).
9- Dirrematotopônimos: topônimos constituídos por frases ou enunciados linguísticos. Ex.:
Há Mais Tempo, AH MA; Valha-me Deus, AH MA; Vai Quem Quer (igarapé, AM), Deus me
Livre, AH BA.
10 -Hierotopônimos: topônimos relativos aos nomes sagrados de diferentes crenças: cristã,
hebraica, maometana, etc. Ex.: Cristo Rei, AH PR; Jesus (rio GO), Alá (lago, AM); Nossa
Senhora da Glória, AH AM; às efemérides religiosas: Natividade, AH GO; Natal, AH AC; às
associações religiosas: Cruz de Malta, AH SC; aos locais de cultos: igreja - Serra da Igreja
(PR)); capela - Capela, AH AL; Capelazinha, AH MG. Os hierotopônimos podem apresentar,
ainda, duas subdivisões: a) hagiotopônimos - topônimos relativos aos santos e santas do
hagiológio romano: São Paulo, AH SP; Santa Tereza, AH GO; Santana da Boa Vista, AH RS;
b) mitotopônimos: topônimos relativos às entidades mitológicas: saci - Ribeirão do Saci
(ES); curupira - Lago Curupira (AM)); jurupari – Jurupari, AH AM; anhangá - Anhangá, AH
BA.
11 -Historiotopônimos: topônimos relativos aos movimentos de cunho histórico-social e aos
seus membros, assim como as datas correspondentes. Ex.: Independência, AH AC; Rio 7 de
35
Entre os ergotopônimos, será possível também a inclusão dos manufaturados como: farinha - Rio das Farinhas
(ES); pinga - Riacho da Pinga (PI); vinho - Córrego do Vinho (MG); óleo - Óleo, AH SP; azeite - Morro do
Azeite (MT).
66
Setembro (MT); Inconfidência, AH RJ; Inconfidentes, AH MG, Rua Vinte e Um de Abril
(SP).
12 -Hodotopônimos (ou Odotopônimos): topônimos relativos às vias de comunicação rural
ou urbana. Ex.: Estradas, AH AM; Avenida, AH BA; Córrego do Atalho (GO); Travessa, AH
BA; Rua de Palha, AH BA; Ladeira, AH MA.
13 -Numerotopônimos: topônimos relativos aos adjetivos numerais. Ex.: Duas Barras, AH
BA; Duas Pontes, AH RO; Três Coroas, AH RS.
14-Poliotopônimos: topônimos constituídos pelos vocábulos “vila”, “aldeia”, “cidade”,
“povoado”, “arraial”. Ex.: Rio da Cidade, RJ; Serra da Aldeia (PB); Arraial, AH BA; Taubaté,
AH SP.
15 -Sociotopônimos: topônimos relativos às atividades profissionais, aos locais de trabalho e
aos pontos de encontro dos membros de uma comunidade (largo, pátio, praça). Ex.:
Sapateiro (serra do, SP); Pescador, AH MG; Serra dos Tropeiros (MG), Córrego Engenho
Novo (MG), Oficina, AH MG.
16 - Somatotopônimos: topônimos empregados em relação metafórica às partes do corpo
humano ou do animal. Ex.: Cotovelo, AH MG; Pé de Boi, AH SE; Pé de Galinha, AH BA;
Rio da Mão Esquerda (AL); Lagoa da Mão Quebrada (PI); Igarapé do Dedo (RR); Córrego do
Dedo Cortado (GO), Dedo Grosso, AH SC.
Vale assinalar que outros pesquisadores brasileiros trouxeram contribuições ao
modelo classificatório de Dick. São eles:
Isquerdo (1996, apud Sousa, 2009, p. 5) propõe uma subclassificação para a taxe dos
animotopônimos ou nootopônimos: animotopônimos ou nootopônimos eufóricos marca
uma impressão agradável, otimista. Ex. (Bonsucesso); e animotopônimos ou nootopônimos
disfóricos marca uma impressão desagradável, pessimista. Ex. Seringal Solidão.
Lima (1997, apud Sousa, 2009, p. 5), por sua vez, apresenta uma subdivisão para os
hagiotopônimos: hagiotopônimos autênticos, nomes de inspiração religiosa que recuperam
um santo ou santa aceitos e aprovados pelos dogmas da Igreja Católica Apostólica Romana,
ex: Santo Antonio; e hagiotopônimos aparentes nomes de inspiração política que prestam
tributos a um fundador ou uma pessoa influente da localidade. Ex.: Fazenda Santa Elina -
homenagem à proprietária de um imóvel rural em Mato Grosso.36
Já em Francisquini (1998, apud Sousa, 2009, p. 6-7), encontra-se o acréscimo das
seguintes taxes:
36
Os topônimos Bonsucesso e Fazenda Santa Elina são exemplos apresentados pela autora desta dissertação.
67
Acronimotopônimos - relativos às siglas. Ex: CIANORTE (PR);
Estematotopônimos - os percebidos pelos sentidos. Ex: Ribeirão Doce;
Grafematopônimos - os que apresentam entre os elementos distintivos letras do alfabeto. Ex:
Seção C (PR);
Higietopônimos - relativos à saúde, à higiene, ao estado de bem-estar físico. Ex: Água
Limpa.
Necrotopônimos - os que se referem ao que são ou que está morto, a restos mortais. Ex:
Córrego Caveira (PR).
Sousa (2009, p. 6-7) afirma que as 05 (cinco) taxes anteriormente citadas são de
autoria de Francisquini, enquanto Zamariano (2006, p. 92) atribui as duas primeiras
acronimotopônimos e estematotopônimos, à sugestão da professora Drª Vanderci de Andrade
Aguilera e Ignez de Abreu Francisquini em sua Monografia de Especialização; as demais,
grafematopônimos, higietopônimos e necrotopônimos, foram criadas com a ajuda de Aluysio
Fávero, professor de Latim e Literatura Latina do Departamento de Letras Vernáculas e
Clássicas da Universidade Estadual de Londrina.
Não cabe aqui, discutir a autoria das referidas taxes, apenas registrá-las em função da
importância que o assunto traz para o enriquecimento da taxionomia toponímica.
Carvalho (2010, p. 149) apresenta 01 (uma) taxe que não integra a classificação
toponímica de Dick. Trata-se do igneotopônimo cujas unidades lexicais se referem ao fogo,
abrangendo todos os produtos resultantes de sua ação direta, quando usadas para denominar
acidentes físicos e acidentes antrópicos. Ex: Morro do Fogo, no município de Alto Araguaia -
MT.
68
CAPÍTULO 3
ANÁLISE DO CORPUS
Neste capítulo apresenta-se a metodologia utilizada nas várias etapas da investigação
e a análise do corpus.
Tendo-se em vista que a Toponímia trabalha com a carga cultural do nome,
considerou-se importante levantar os traços característicos das comunidades no tocante aos
seus aspectos físicos gerais neles incluindo informações geomorfológicas e hidrográficas,
condições econômicas, fauna, flora, religiosidade, processo de ocupação, enfim, todos os
fatores que podem ser verbalizados em formas denominativas.
Para isso, visitamos regularmente as duas comunidades para conhecer a sua
dinâmica, buscamos informações e/ou dados nos órgãos oficiais como a Prefeitura Municipal
de Várzea Grande-MT, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, o Arquivo
Público de Mato Grosso - APMT, o Cartório de Registro Civil de Várzea Grande, a Fundação
Júlio Campos, as Secretarias Municipais de Educação e de Cultura de Várzea Grande, a
Biblioteca Central da Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT, o Núcleo de
Documentação e Informação Histórica Regional da UFMT - NDHIR, o Instituto Memória da
Assembléia Legislativa do Estado de Mato Grosso, a Biblioteca Pública Municipal de Cuiabá,
a Biblioteca Pública Municipal de Várzea Grande, livrarias e livrarias de livros usados
(sebos). Também participamos de seminários de linguagem e de cursos sobre o tema,
adquirimos acervo bibliográfico, tomamos, por empréstimo, obras sobre Toponímia, já
usados, uma vez que há escassez dessas obras no mercado. Realizamos leituras sobre obras de
Linguística e sobre a História de Várzea Grande, assim como consultamos sítios da rede
mundial de computadores - Internet e conversamos com os moradores dos dois distritos e
outras pessoas, tudo com vistas a conhecer, através da toponímia local, como se constituiu
e/ou como se constitui a história linguística dessas duas comunidades ribeirinhas.
3.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa toponímica pode ser realizada por meio de fontes documentais, como
mapas, cartas topográficas, documentos oficiais e de particulares, por pesquisa de campo,
69
quando o próprio pesquisador faz o levantamento da nomenclatura ou, ainda, pela junção da
modalidade bibliográfica com a de campo.
Esta pesquisa foi desenvolvida através de uma abordagem qualitativa, a qual não
começa com um conjunto de hipóteses a serem verificadas, mas, sim, com uma aproximação
ao cenário ou lugar de investigação, levantando alguns problemas e refletindo sobre eles.
A elaboração deste trabalho ocorreu de forma sistêmica utilizando-se como técnica
de investigação as modalidades de pesquisa bibliográfica e de campo, necessárias para dar
conta da constituição do corpus a ser analisado. O levantamento do inventário toponímico
ocorreu em duas fases, descritas a seguir:
3.1.1 COLETA DOS DADOS
Para a coleta das informações quanto à ocorrência dos topônimos relativos às
localidades de Bonsucesso e Pai André, lançou-se mão de dois diferentes instrumentos. O
primeiro instrumento, usual em pesquisa sociocultural, a entrevista, semiestruturada, através
da qual, utilizando-se gravador, foram colhidas informações de pessoas residentes nas
localidades.
Vale registrar que as entrevistas gravadas foram precedidas de preenchimento de
formulário impresso com dados desses informantes como: nome, apelido, idade, local de
nascimento, atividade profissional, local de nascimento dos pais e avós, grau de escolaridade,
tempo de residência no local.
Considerando que, dentre os objetivos da pesquisa, está a identificação de topônimos
atuais e anteriores, bem como a sua significação, foram realizadas entrevistas com 03
informantes de cada distrito com idade a partir de 65 anos, que residem nos locais desde a
infância e possuem domínio da história oral da região em estudo.
As entrevistas gravadas, sempre com a anuência dos entrevistados, foi, de certa
forma, direcionada pela entrevistadora/pesquisadora, quanto aos objetivos da pesquisa,
através do estímulo a que os entrevistados procurassem narrar a história oral de Bonsucesso,
de Pai André e localidades contíguas.
Além das referidas entrevistas observamos as ruas, as placas e visitamos algumas
residências, locais de trabalho, escolas, comércio e restaurantes (peixarias), assim como
mapas, fotografias e informações bibliográficas obtidas nas leituras sobre o assunto.
70
3.1.2 ANÁLISE DOS DADOS
A partir dos procedimentos metodológicos utilizados e das referências teóricas sobre
Toponímia, procedemos à análise do corpus valorizando as observações de campo as quais
foram registradas em caderno de anotações, assim como as entrevistas gravadas e as
conversas espontâneas com os moradores de ambos os locais, com os diretores das escolas,
com as tecelãs, os pescadores, os presidentes das Associações de Bairro, os proprietários das
peixarias e bares e as vendedoras de rapaduras e doces.
3.2 O CORPUS
Nesta seção examinamos os dados segundo sua classificação toponímica,
desenvolvendo-se um estudo linguístico sob os aspectos geo-históricos, lexicográficos e
toponímicos, relativos à procedência, tipo de acidente, língua de origem, taxionomia e
estrutura morfológica do topônimo.
A análise do corpus ancora-se nos pressupostos teóricos de Dick (1990, p. 10) a qual
afirma que o topônimo se liga ao acidente geográfico que o identifica, constituindo um
conjunto ou relação binômica, passível de desmembramento para melhor se distinguirem os
seus termos formadores que, ligados, produzem uma nova unidade semântica.
Destacam-se como base teórico-metodológica dados da Linguística Geral, na
perspectiva de Saussure, associando-os ao signo toponímico segundo os fundamentos de Dick
(1990 e 1987).
Ainda nesta parte, apresenta-se o estudo global do topônimo em seu aspecto
linguístico e geo-histórico demonstrando-se a taxionomia toponímica com maior incidência
nas localidades.
Assim, nessa relação dúplice há um termo ou elemento genérico, relativo à entidade
geográfica que irá receber a denominação, e o outro, o elemento ou termo específico, ou
topônimo propriamente dito, que particularizará a noção espacial, identificando-a e
singularizando-a, conforme bem ilustra o gráfico a seguir:
71
Rio Cuiabá
3.2.1 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DO INVENTÁRIO TOPONÍMICO
3.2.1.1 CLASSIFICAÇÃO TOPONÍMICA DE NATUREZA FÍSICA
Nº de
Ordem
Procedência Tipo de
Acidente
Topônimo Língua(s)
de origem
Taxionomia Estrutura
morfológica
do topônimo
01 Bonsucesso Córrego Formigueiro LP Zootopônimo Simples
02 Córrego Piçarrão LP Litotopônimo Simples
03 Córrego Traíra LI Zootopônimo Simples
04 Cuiabá Microrregião Baixada
Cuiabana
LP+LI Geomorfotopônimo Híbrido
05 Rio Coxipó LI Zootopônimo Simples
06 Rio Cuiabá LI Zootopônimo Simples
07 Rio Manso LP Animotopônimo Simples
08 Rio Pari LI Ergotopônimo Simples
09 V. Grande Morro Vermelho LP Cromotopônimo Simples
10 Ribeirão Aguaçu LP Fitotopônimo Simples
11 Ribeirão Espinheiro LP Fitotopônimo Simples
12 Santo Antônio
de Leverger
Morro de Santo
Antônio
LP Hagiotopônimo Composto
13 N. Sª. do
Livramento
Ribeirão Cocais LP Fitotopônimo Simples
Termo ou elemento genérico
Termo ou elemento específico
(o topônimo propriamente dito)
72
3.2.1.2 CLASSIFICAÇÃO TOPONÍMICA DE NATUREZA ANTRÓPICA,
ANTROPOCULTURAL OU HUMANA
Nº de
ordem
Procedência Tipo de
acidente
Topônimo Língua(s)
de origem
Taxionomia Estrutura
morfológica
do topônimo
01 Bonsucesso Chácara Bom Jardim LP+LE Animotopônimo ou
nootopônimo
Composto
02 Distrito de Bonsucesso LP Animotopônimo ou
nootopônimo
Composto
03 Distrito de Água
Branca
LP Hidrotopônimo Composto
04 Distrito de Capão
Grande
LP+LI Fitotopônimo Híbrido
05 Distrito de Praia
Grande
LP Dimensiotopônimo Composto
06 Distrito de Souza
Lima
LP Antropotopônimo Composto
07 Distrito do Sovaco LP Somatotopônimo Simples
08 Escola Profª Maria
Barbosa
Martins
LP Axiotopônimo Composto
09 Engenho da Dona
Buguela
LP Axiotopônimo Composto
10 Igreja do Divino
Espírito
Santo
LP Hierotopônimo Composto
11 Localidade de Capão do
Pequi
LI Fitotopônimo Composto
12
Localidade de Capela do
Piçarrão
LP+LE Litotopônimo Híbrido
13 Localidade de Capelinha LP Hierotopônimo Simples
14 Localidade de Curicaca
LI Zootopônimo Simples
15 Localidades da Rota do
Peixe
LP+LE Zootopônimo Híbrido
16 Localidade de Limpo LP Dimensiotopônimo Composto
73
Grande
17 Rua João Gil da
Silva
LP Antropotopônimo Composto
18 Usina Cachoeira do
Pau
LP Hidrotopônimo Composto
19 Cuiabá Arraial da
Forquilha37
LE Geomorfotopônimo Simples
20 Arraial de São
Gonçalo
LP Hagiotopônimo Composto
21 Bairro do Porto LP Geomorfotopônimo Simples
22 Município de Cuiabá LI Zootopônimo Simples
23 Distrito do Coxipó da
Ponte
LP+LI Zootopônimo Híbrido
24 Estado de Mato
Grosso
LP Fitotopônimo Composto
25 Porto Passagem
Velha
LP+LE Cronotopônimo Híbrido
26 Pai André Distrito de Pai André LP Axiotopônimo Composto
27 Localidade Céu LP Astrotopônimo Simples
28 Cooperativa de
Pescadores
COORIMBA
TÁ
LP Acronimotopônimo Simples
29 Comunidade do Morrinho LP Geomorfotopônimo Simples
30 Pesqueiro da Dona
Morena
LP Axiotopônimo Composto
31 V. Grande Aeroporto Marechal
Rondon
LE Axiotopônimo Composto
32 Alameda Julio Müller LP Historiotopônimo Composto
33 Avenida Couto
Magalhães
LP Historiotopônimo Composto
34 Avenida da FEB LP Acronimotopônimo Simples
35 Avenida Profª Alzira
Santana
LP Axiotopônimo Composto
36 Cidade de Várzea
Grande
LP Dimensiotopônimo Composto
37
Vale registrar que não foi elaborada a Ficha Lexicográfico-toponímica dos topônimos Arraial da Forquilha,
Pesqueiro da Dona Morena, Ribeirão Aguaçu e Rodovia dos Imigrantes, por insuficiência de dados sobre eles.
74
37 Estrada Boiadeira LP Zootopônimo Simples
38 Localidade Bosque LP Fitotopônimo Simples
39 Localidade do
Carrapicho
LP Fitotopônimo Simples
40 Distrito do
Engordador
LP Sociotopônimo Simples
41 Localidade do Poço
Grande
LP Dimensiotopônimo Composto
42 Localidade Umbauval LI Fitotopônimo Simples
43 Povoado de Passagem
da Conceição
LP Antropotopônimo Composto
44 Ponte do Poço
Grande
LP Dimensiotopônimo Composto
45 Ponte Julio Müller LP Historiotopônimo Composto
46 Povoado de São
Gonçalo
LP Hagiotopônimo Composto
47 Complexo
viário
do Trevo do
Lagarto
LP Zootopônimo Composto
48 Rodovia dos
Imigrantes
LP Etnotopônimo Composto
49 Usina São Gonçalo LP Hagiotopônimo Composto
50 Santo
Antônio de
Leverger
Usina Aricá LI Fitotopônimo Simples
51 Usina Conceição LP Antropotopônimo Simples
52 Usina Flechas LP Ergotopônimo Simples
53 Usina Itaycy LI Litotopônimo Composto
54 Usina Maravilha LP Animotopônimo ou
nootopônimo
Simples
55 Usina Tamandaré LI Antropotopônimo Simples
56 Usina São Sebastião LP Hagiotopônimo Composto
57 Usina São Miguel LP Hagiotopônimo Composto
58 Município de Stº.
Antonio de
Leverger
LP+LE Hagiotopônimo Composto
59 N. Sª. do
Livramento
Município de N. Sª. do
Livramento
LP Hagiotopônimo Composto
75
3.2.1.3 ANÁLISE TOPONÍMICA DOS DISTRITOS DE BONSUCESSO,
PAI ANDRÉ E MUNICÍPIOS CIRCUNVIZINHOS
3.2.1.3.1 FICHA LEXICOGRÁFICO-TOPONÍMICA
No item anterior, os topônimos foram classificados quanto à sua procedência, ao tipo
de acidente, à sua identificação, à língua de origem, à taxionomia à qual está filiado e à sua
estrutura morfológica.
Nesta parte, apresenta-se o estudo do topônimo em seu aspecto linguístico e geo-
histórico, demonstrando-se a característica toponímica mais recorrente nas localidades
pesquisadas.
Apoiando-se no modelo de análise proposto por Dick (1990), elaborou-se a ficha
lexicográfico-toponímica38 própria para classificar o topônimo conforme a sua natureza, que
serve como instrumento para orientar o pesquisador dando a ele a possibilidade de estudar o
topônimo no que se refere aos aspectos linguísticos, históricos, geográficos, etimológicos e
taxionômicos.
Vale consignar que para o tratamento e análise dos topônimos levantados, tem-se
utilizado a metodologia de tratamento de dados do Projeto ATESP (Atlas Toponímico do
Estado de São Paulo), coordenado por Dick (2004,1999), combinada com a perspectiva
teórica da mesma toponimista (2001; 1992; 1990). O modelo que se segue é o idealizado por
Dick e adotado no Projeto ATESP (2004, p. 130).
MODELO DE FICHA LEXICOGRÁFICO–TOPONÍMICA
N° de ordem: Informações enciclopédicas:
Localização/Município: Fonte:
Topônimo: Data da coleta:
Taxionomia: Pesquisador:
Etimologia: Revisor:
Estrutura morfológica
Fig.05 - Ficha Lexicográfico-toponímica
Fonte: DICK (2004, p. 130).
38
Este tipo de ficha, modelado por Dick ao longo dos anos (1980-2004), pode ser adaptável, em seus campos, de
acordo com cada pesquisa, mas sua essência permanece e é um modelo que tem revelado grande praticidade e
eficácia nas pesquisas toponímicas, sendo adotada pelo Projeto Atlas Toponímico do Estado de São Paulo,
coordenado por essa autora, como também por outros Atlas Toponímicos em fase de desenvolvimento, no Brasil
(CARVALINHOS, 2005, p. 143).
76
Com fundamento em Dick (2004, p. 130) elegeu-se os seguintes componentes para
elaborar a ficha lexicográfico-toponímica desta pesquisa:
Nº de Ordem: este campo refere-se à numeração de ordem de cada topônimo.
Localização: corresponde ao local de registro/ocorrência do topônimo.
Município: indica o município ao qual a localidade a que o topônimo se refere está
localizado.
Topônimo: refere-se ao nome do acidente físico ou humano coletado.
Taxionomia: registra-se a taxe do topônimo.
Etimologia: indica a procedência do topônimo contida em dicionários, livros ou outras
fontes.
Estrutura morfológica: indica a classe gramatical a que pertence o topônimo.
Informações enciclopédicas: referem-se às informações mais completas e genuínas do local
pesquisado.
Fonte: indica o local de onde foi coletado o topônimo.
Data da coleta: refere-se ao período em que foi coletado o dado.
Pesquisadora: refere-se à pessoa responsável pela coleta dos dados.
Revisor: refere-se ao orientador da pesquisa.
a) FICHA LEXICOGRÁFICO -TOPONÍMICA DOS ACIDENTES
FÍSICOS
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 01 Localização: Bonsucesso
Topônimo: Córrego Formigueiro Taxionomia: Zootopônimo
Etimologia: Do lat. formica, ae, formiga, inseto.
Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc. + suf.).
Informações enciclopédicas: Habitação de formigas, onde vivem em sociedade, geralmente na
terra ou em velhos tocos ou troncos de árvores.
O córrego Formigueiro em Várzea Grande possui declive leve e abrange o trecho da estrada
boiadeira que liga os municípios de Poconé e N. Sª do Livramento. Geralmente é de suave
correnteza, contudo, torna-se torrentoso e de difícil acesso no período de grandes chuvas, época
em que é comum o seu transbordamento o qual atinge ruas e casas.
Fonte: Monteiro (1987) e Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
77
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 02 Localização: Bonsucesso
Topônimo: Córrego Piçarrão Taxionomia: Litotopônimo
Etimologia: Piçarrão, suf. aumentativo de piçarra (piçarra +ao) do espanhol pizarra, ardósia,
quadro-negro, material encontrado logo abaixo do cascalho diamantífero. Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc. + suf.)
Informações enciclopédicas: Curso d’água de declive leve que forma a hidrografia de Várzea
Grande, porém em períodos de grandes chuvas costuma transbordar causando prejuízos à
população.
Fonte: Monteiro (1987) e Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov./10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 03 Localização: Bonsucesso
Topônimo: Córrego Traíra Taxionomia: Zootopônimo
Etimologia: Do tupi tare’ïra. Segundo Sampaio (1987, p. 325) o correto é Tara-guira ou tar-a-
guira, o que bamboleia, ou se contorce. É o nome do peixe d’água doce que vive mergulhado na
vasa. (Erythrinus Tareíra). Alt. Trahíra, Tareíra, Taraíra.
Estrutura morfológica: Ns (Sb. fem).
Informações enciclopédicas: A traíra é um peixe encontrado em ambientes lênticos da América
Central até a Argentina e com ampla distribuição no Brasil. Em Várzea Grande, o córrego
Traíra localiza-se na região oeste no caminho da antiga estrada que demanda à cidade de Nossa
Senhora do Livramento, itinerário que influenciou o crescimento do distrito de Capão Grande.
Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009) e Sampaio (1987). Data da coleta: mar/09 a nov./10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 04 Localização: Cuiabá
Topônimo: Baixada Cuiabana Taxionomia: Geomorfotopônimo
Etimologia: Do português baixada + do bororo cuiabana, microrregião do estado de Mato
Grosso caracterizada pelo predomínio de terrenos sedimentares planos a suavemente inclinados,
de baixa altitude, com ocorrência de solos profundos e bem drenados. Etimologia toponímica:
Cuiabá + ana.
Estrutura morfológica: Nc (LP: Baixada + Cuiabana: LI indígena. Baixada, s.f. do particípio
baixado + adj. fem. resultante de Cuiabá + ana, refere-se a depressão de terreno junto de uma
lombada. Cuiabana, s.f. adj. relativo à microrregião de Cuiabá).
Informações enciclopédicas: Baixada Cuiabana, Planície Cuiabana ou Vale do Cuiabá – Região
de Mato Grosso cujo território abrange uma área de 85.369,70 km² sendo constituído por 14
municípios que margeiam os rios Cuiabá e Paraguai, juntamente com seus afluentes,
confluentes e defluentes, e têm como principal pólo de desenvolvimento e raízes socioculturais
a cidade de Cuiabá, capital de Mato Grosso.
Fonte: Monteiro (1987) Houaiss (2009), Lima (2007). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias A. de Andrade
78
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 05 Localização: Cuiabá/Coxipó
Topônimo: Rio Coxipó Taxionomia: Zootopônimo
Etimologia: Na língua Bororo (Macro-Jê), o termo “coxipó” é corruptela da palavra “kugibo” e
significa kugi - peixe; po= bo – rio (rio de peixe). Há, ainda, outra versão que traduz kugibo
como “córrego do mutum.” O nome também é conhecido como Cojipó e Cujipó. Silveira Bueno
(2008, p. 109 e 579) apresenta as seguintes grafias: Cochipó e Cogipó.
Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc.)
Informações enciclopédicas: O Coxipó é um rio que banha o estado de Mato Grosso. Ele nasce
na Área de Proteção Ambiental de Chapada dos Guimarães e passa pelo Parque Nacional da
Chapada dos Guimarães, formando a cachoeira Véu de Noiva ao despencar pela escarpa. O
referido rio cruza a área urbana de Cuiabá e como um dos afluentes do rio Cuiabá pela margem
esquerda neste deságua próximo à Comunidade de São Gonçalo Beira Rio. A sua região era
habitada pelos Bororo, também denominados Coxiponé, Araripoconé, Araés, Cuiabá, Coroados,
Porrudos, dentre outros. Esses índios rechaçaram, na confluência dos rios Coxipó e Mutuca, a
expedição de Moreira Cabral. Fonte: Ferreira (2001), Houaiss (2009), Silveira Bueno (2008) e
Chiaradia (2008). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 06 Localização: Cuiabá
Topônimo: Rio Cuiabá Taxionomia: Zootopônimo
Etimologia: Cuiabá, topônimo de origem indígena e de estrutura simples que nomeia um rio no
município do mesmo nome.
Vale registrar que há inúmeras acepções para a origem do topônimo Cuiabá. Nesta pesquisa
optou-se pela hipótese apresentada por Agustín Castañares que justifica, com argumentos
plausíveis, que a origem do nome Cuiabá (rio da lontra brilhante) foi motivada pela quantidade
de ariranhas existentes no rio.
Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc.)
Informações enciclopédicas: O rio Cuiabá nasce na Serra Azul e possui 98 km de extensão,
separa os municípios de Cuiabá e Várzea Grande e fornece 95% da água potável utilizada na
cidade de Cuiabá e nos demais municípios ribeirinhos da região, além de contribuir com o
pescado para subsistência e comercialização. Desde o séc. XVIII abriga em suas margens
populações de origem indígena, luso-brasileira e negra. Somente a partir da década de 1930 é
que a navegação no estado de Mato Grosso começou a ser desativada em função da abertura de
estradas de rodagem. Foi a principal via de comunicação da capital para o centro sul brasileiro,
bem como para alguns países da América do Sul como o Paraguai, Argentina, Uruguai e
Bolívia. Essa via fluvial foi usada principalmente pelos bandeirantes paulistas através das
monções.
Fonte: Ferreira (2001), Silva (2007),Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
79
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 07 Localização: Cuiabá
Topônimo: Rio Manso Taxionomia: Animotopônimo
Etimologia: do lat. vulg. mansuetus, a, um, rio de pouca correnteza, sereno.
Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc. + adj.)
Informações enciclopédicas: O Rio Manso é o principal afluente do rio Cuiabá e constitui com
este uma sub-bacia do rio Paraguai. Nasce a aproximadamente 800 m de altitude entre as serras
Azul e Mutum, no município de Chapada dos Guimarães-MT e possui cerca de 200 km de
extensão até a confluência com o rio Cuiabá. No trecho médio, onde sua declividade é menor, o
rio Manso recebe o rio Palmeiras e, posteriormente, seu afluente mais importante, o rio da
Casca, com o qual controla uma área de drenagem de 9.364 km², que representa cerca de 40%
da bacia do rio Cuiabá em Cuiabá e, aproximadamente, 2% da bacia hidrográfica formadora do
Pantanal de Mato Grosso. Nesse rio fica a Usina Hidrelétrica de Manso entre os municípios de
Chapada dos Guimarães e Nova Brasilândia.
Fonte: Andrade (2008), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 08 Localização: Cuiabá
Topônimo: Rio Pari Taxionomia: Ergotopônimo
Etimologia: Do Tupi (pa’ri) cujo significado é canal de tomar peixe = Pari. É uma barragem de
madeira, espécie de armadilha para apanhar peixe. Sampaio o define como cercado para apanhar
peixe, a caniçada ou curral. Chiaradia (2008, p. 503) o define como esteira ou cerca móvel de
varas, com que se fazem tapagens nos rios ou nas praias (maré) para pesca; paritá, cacuri, cauri,
curral de peixe, caiçara e ibapari.
Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc.)
Informações enciclopédicas: O Rio Pari é afluente do rio Cuiabá, divide ao meio o município de
Várzea Grande sendo o limite natural do povoado de Passagem da Conceição e Guarita. O
ribeirão é famoso pela Lenda do Minhocão do Pari, um grande monstro que surge como um
rebojo e que vem do leito do rio levantando água, areia e folhas, fenômeno na verdade causado
pela presença de um gás natural existente no referido rio.
Fonte: Monteiro (1987), Sampaio (1987), Houaiss (2009) e Chiaradia (2008).
Data da coleta: mar/09 a nov/10. Pesquisadora: Marcilene R. da Silva
Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 09 Localização: Várzea Grande
Topônimo: Morro Vermelho Taxionomia: Cromotopônimo
Etimologia: do lat. vermiculus, relativo a cor vermelha. Em Várzea Grande designa um morro.
Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc. + adj.)
Informações enciclopédicas: Trata-se o referido topônimo de uma rampa de terreno modelada
pela erosão, contribuindo para a formação do rio Cuiabá. Esse morro é a maior elevação do
município de Várzea Grande. Após as descobertas de ouro em Cuiabá, o bandeirante Miguel
Sutil transpôs o rio Cuiabá e tentou a mineração nos córregos e encostas desse morro,
vasculhando as terras varzea-grandenses que nada lhe ofereceram, nem ouro nem índio.
Fonte: Dick (1987) Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
80
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 10 Localização: Várzea Grande
Topônimo: Ribeirão Espinheiro Taxionomia: Fitotopônimo
Etimologia: Formado pela unidade lexical espinho + o sufixo eiro. Arbusto pequeno que possui
casca fina, cinzenta, e ramos com espinhos recurvados. A casca, frutos e folhas tem uso
medicinal e gastronômico, como condimento.
Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc. + suf.)
Informações enciclopédicas: O ribeirão Espinheiro é afluente do rio Cuiabá que constitui o
limite inicial do município de Cuiabá com Várzea Grande sendo este último banhado por suas
águas em toda extensão ocidental. Está localizado numa região de relevo acidentado na zona
rural. A área de preservação permanente está conservada, o que indica boa qualidade da água
superficial.
Fonte: Monteiro (1987) e Houaiss (2009), Michaelis (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 11 Localização: Santo Antonio de Leverger
Topônimo: Morro de Santo Antonio Taxionomia: Hagiotopônimo
Etimologia: Do lat. sanctus, que pertence à religião, aos ritos sagrados e à divindade, a Deus,
sendo essencialmente puro e perfeito. Antonio – nome popular, do lat. Antonius, significa
inestimável ou digno de apreço. Este santo pertence ao hagiológio católico romano de origem
portuguesa.
Estrutura morfológica: Np (Adj. masc. + Sb. próprio).
Informações enciclopédicas: O Morro de Santo Antonio, topônimo de origem geográfica,
localiza-se no município de Santo Antônio de Leverger. É tombado como patrimônio histórico,
cultural e ambiental. Distante 35 km de Cuiabá, está a 500 metros acima do nível do mar, é
margeado pelo rio Cuiabá e pelo Pantanal. É frequentemente citado em livros de história por ter
sido ponto de observação dos soldados mato-grossenses, que protegiam o estado de uma
possível invasão de inimigos durante a Guerra do Paraguai.
Fonte: Ferreira (2008), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R.da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 12 Localização: Nossa Senhora do Livramento
Topônimo: Ribeirão Cocais Taxionomia: Fitotopônimo
Etimologia: Constituído pela unidade lexical portuguesa coco+ al (ais).
Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc.)
Informações enciclopédicas: Ribeirão Cocais, topônimo formador da hidrografia do município
de Nossa Senhora do Livramento. Está situado a 36 km de Cuiabá e a 03 km do local onde mais
tarde se formou a primeira povoação, berço da atual cidade de Nossa Senhora do Livramento.
Nesse ribeirão, que passa por Praia Grande antes de desembocar no rio Cuiabá, em 1730, os
paulistas sorocabanos Antônio Aures e Damião Rodrigues descobriram ouro.
Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
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b) FICHA LEXICOGRÁFICO-TOPONÍMICA DOS ACIDENTES
ANTRÓPICOS
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 01 Localização: Bonsucesso
Topônimo: Distrito de Bonsucesso Taxionomia: Animotopônimo ou nootopônimo
Etimologia: Bom, do lat. bonus, a, um + Sucesso, do lat. successus,us. A lexia Bom, que
designa uma qualidade em oposição ao mau + a lexia Sucesso que designa êxito, triunfo, grande
popularidade. Bonsucesso, topônimo idealizado para sagrar-se vitorioso em todos os seus
empreendimentos.
Estrutura morfológica: Nc (Adj. + Sb.).
Informações enciclopédicas: Bonsucesso é um distrito de Várzea Grande-MT, localizado à
margem direita do rio Cuiabá tendo, no passado, sido uma sesmaria constituída das povoações
de Souza Lima (Sovaco), Capão Grande, Pai André, Praia Grande, Capela do Piçarrão e Limpo
Grande. Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009), Tavares (2004). Data da coleta: mar/09 a
nov/10. Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias A. de Andrade.
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 02 Localização: Várzea Grande
Topônimo: Distrito de Água Branca Taxionomia: Hidrotopônimo
Etimologia: Do lat. aqua, líquido essencial à vida, a parte líquida do globo terrestre.
Estrutura morfológica: Ns (Sb. fem.)
Informações enciclopédicas: O hidrotopônimo Água Branca refere-se à primeira denominação
do distrito de Souza Lima, ex-integrante da sesmaria de Bom Sucesso.
Fonte: Monteiro (1987), Ferreira (1980), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 03 Localização: Várzea Grande
Topônimo: Distrito de Capão Grande Taxionomia: Fitotopônimo
Etimologia: Do tupi (Capão= ka’a pu’ã) + adjetivo (Grande), porção de mato isolado no meio
do campo. Sampaio, assim o define: Capão: corr. Caá-pãu, caá, mato; pãu (ou paum), ilha: a
ilha de mato; o mato crescido e isolado no meio do campo, da planície.
Capão - fitogeografia: formação arbórea de pequena extensão, volume e composição variados,
e de aspecto diverso da vegetação que o circunda; caapuã, capuão, capuão de mato, ilha de
mato.
Estrutura morfológica: Nc de estrutura híbrida (Sb. masc.+ adj.).
Informações enciclopédicas: Capão Grande, reduto mais populoso do Bom Sucesso antigo do
qual se desmembrou. No início, tinha como atividade principal o abate de reses para a produção
de carne seca que era dividida em mantas de oito libras, de meia ou de uma arroba, que,
enroladas e amarradas com cipó verde, eram acomodadas em bois cargueiros que as
transportavam para comercialização em Várzea Grande e Cuiabá.
Fonte: Cunha (1978), Monteiro (1987), Ferreira (1980), Sampaio (1987) e Silveira Bueno
(2008). Data da coleta: mar/09 a nov/10. Pesquisadora: Marcilene R. da Silva
Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.
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Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 04 Localização: Várzea Grande
Topônimo: Distrito de Praia Grande Taxionomia: Dimensiotopônimo
Etimologia: do lat. medv. plaga, ae + adjetivo 2g. grande, do lat. grandis,e.
Estrutura morfológica: Ns (Sb.fem. + adj. 2g.).
Informações enciclopédicas: Praia Grande, localidade que no passado pertencia a Bom Sucesso,
foi formada no início do século XX tendo sua povoação se intensificado a partir de 1940 com a
abertura da estrada que dá acesso a Várzea Grande. O lugar é próprio para lavoura e atividade
pesqueira. A sua motivação toponímica está relacionada à grande praia fluvial do rio Cuiabá.
Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 05 Localização: Várzea Grande
Topônimo: Distrito de Souza Lima Taxionomia: Antropotopônimo
Etimologia: Topônimo formado por dois nomes próprios de família (Souza + Lima).
Estrutura morfológica: Nc (Sb. masc.).
Informações enciclopédicas: Souza Lima – Antigo “Sovaco” ou “Subaco de Cobra”39, integrava
antigamente o distrito de Bonsucesso, com o nome de Água Branca. Denominado “Sovaco” até
1948, teve esse nome substituído por “Souza Lima” através da lei nº 178, de 30/10/48, em
homenagem ao médico cuiabano Agostinho Souza Lima.
Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 06 Localização: Várzea Grande
Topônimo: Distrito do Sovaco Taxionomia: Somatotopônimo
Etimologia: Origem contrv., o mesmo que axila. Há a variante sobaco.
Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc).
Informações enciclopédicas: Sovaco, denominação antiga do distrito de Souza Lima. A
motivação toponímica do lugar, nada sugestiva, na opinião de Monteiro (1987, p.168), foi
decorrente do crescimento da população.
Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.
39
A denominação “Subaco de Cobra” não tem caráter oficial. É utilizada por populares e, principalmente, por
uma significativa parcela de alunos da localidade como manifestação pejorativa ao extinto “Sovaco”, topônimo
que identificou, oficialmente, o distrito de Souza Lima até 1948.
83
Ficha Lexicográfico-Toponímica
N° de ordem: 07 Localização: Bonsucesso
Topônimo: Escola Profª Maria Barbosa Martins Taxionomia: Axiotopônimo
Etimologia: Do lat. professore (professora), mulher que ensina ou exerce o professorado.
Estrutura morfológica: Nc (Sb. fem. + nomes próprios de família).
Informações enciclopédicas: A EMEB Profª Maria Barbosa Martins está situada na Av. João Gil
da Silva. Funciona nos três turnos sendo o matutino e o vespertino destinados à clientela da pré-
escola e ao ensino fundamental e o noturno, à alfabetização de jovens e adultos e ao ensino
médio. O prédio dessa unidade escolar foi totalmente destruído pela enchente de 1974. Quando
a água baixou a escola foi reconstruída sob a liderança da Profª Maria Barbosa Martins. Por este
trabalho a professora recebeu a homenagem da comunidade, tendo seu nome na identificação da
EMEB de Bonsucesso.
Fonte: Ferreira (2010), Revista Ótima (2011), Houaiss (2009) Data da coleta: mar/09 a jan/11.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 08 Localização: Bonsucesso
Topônimo: Engenho da Dona Buguela Taxionomia: Axiotopônimo
Etimologia: Dona, do lat. domina, proprietária, mulher, senhora, esposa + Buguela (apelido
familiar de Belmira Ferreira Fontes).
Estrutura morfológica: Nc (Sb. fem. ).
Informações enciclopédicas: O engenho da D. Buguela é um dos remanescentes de um total de
32 unidades que sustentou economicamente o distrito no auge do “Ciclo do Tacho” cuja
produção era para o consumo interno e para o abastecimento dos garimpos que compravam toda
produção. Dona Buguela é bisneta de Justino Antonio da Silva Claro, o fundador de Bonsucesso
e aprendeu com seus pais a arte de fazer rapadura, um dos símbolos do distrito. Segundo dela,
está nessa lida há mais de 40 anos.
Fonte: Ferreira (2010), Monteiro (1987). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 09 Localização: Bonsucesso
Topônimo: Igreja do Divino Espírito Santo Taxionomia: Hierotopônimo
Etimologia: Divino, do lat. divinus, a, um, id. Designação dada ao Espírito Santo, a 3ª Pessoa da
Santíssima Trindade. Espírito, do lat. spiritus, us significa sopro, exalação, alma. Santo, do lat.
sanctus, a, um que tem caráter sagrado.
Estrutura morfológica: Nc (Sb. masc.).
Informações enciclopédicas: A igreja local é a expressão da religiosidade católica dos
bonssucessianos. O altar e as imagens emergem de um painel onde o destaque é o rio Cuiabá, a
mata ciliar e o Morro de Santo Antonio, elementos marcantes na paisagem dessa comunidade.
Uma das formas de a comunidade expressar sua religiosidade é a comemoração da Festa de
Nossa Senhora Auxiliadora, São Benedito, Senhor Divino e São Pedro, este último é o
padroeiro do local, cuja festa é a maior delas.
Fonte: Ferreira (2010), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.
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Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 10 Localização: Bonsucesso
Topônimo: Capão do Pequi Taxionomia: Fitotopônimo
Etimologia: Do Tupi (Capão= ka’a pu’ã + Pe’ki ¨+ o conectivo do) O fitotopônimo Pequi enseja
essa conotação, porque refere-se a designação comum as árvores do gênero Caryocar, de boa
madeira para construção civil e naval, além de seus frutos serem utilizados na culinária. Para
Silveira Bueno (2008, p. 274) trata-se de nome de uma planta, pyqui, de casca espinhenta e de
cujo fruto se faz um afamado licor em Mato Grosso. Chiaradia (2008, p. 512) o define como
T.G. pi-qui cujo significado é casca áspera, espinhenta.
Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc.).
Informações enciclopédicas: Capão do Pequi, antiga sesmaria de Várzea Grande - MT, surgida a
partir de 1800, onde se concentrava grande população de escravos. As negras desenvolveram a
tecelagem, em teares, e passaram a fabricar as redes de dormir da região. Atualmente integra o
distrito de Capão Grande, sendo seu mais velho núcleo populacional.
Fonte: Cunha (1978), Monteiro (1987), Silveira Bueno (2008), Chiaradia (2008).
Data da coleta: mar/09 a nov/10. Pesquisadora: Marcilene R. da Silva
Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 11 Localização: Bonsucesso
Topônimo: Chácara Bom Jardim Taxionomia: Animotopônimo
Etimologia: Bom, do lat. bonus, a, um + Jardim, do francês jardin, terreno cercado em que se
cultivam vegetais ornamentais ou comestíveis.
Estrutura morfológica: Nc (Adj. + Sb.).
Informações enciclopédicas: A Chácara Bom Jardim está localizada na Rua do Alto, no lado
direito da saída para o distrito de Pai André. É de propriedade do Sr. Petronilo Gonçalves da
Silva, popular Fião, bisneto de Justino Antonio da Silva Claro, fundador de Bonsucesso.
Segundo relato oral de “Seo Fião” a sua chácara se chama “Bom Jardim, o meu paraíso” porque
nela ele vive, cultiva suas frutas e cria os seus animais (gado e aves) e, além de tudo isso, tem
bons vizinhos, motivos que lhe dão tranquilidade para dormir e acordar com Deus, ou seja, em
sua opinião,“lugar assim é um paraíso”.
Fonte: Relato oral, colhido em 21/11/2010, na própria chácara. Data da coleta: nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 12 Localização: Bonsucesso
Topônimo: Capela do Piçarrão ou (Pissarrão) Taxionomia: Litotopônimo
Etimologia: Capela (do lat. Cappella, ae = a pequeno lugarejo) Piçarrão (piçarra + ao) do
espanhol pizarra, ardósia, quadro-negro= material encontrado logo abaixo do cascalho
diamantífero).
Estrutura morfológica: Ns (Sb. fem. + conectivo + Sb. masc. + suf. aum.).
Informações enciclopédicas: Capela do Piçarrão ou Pissarrão, povoado que integrava o
distrito de Bonsucesso em 1823. Está ligado à sede da antiga sesmaria de Capão do Pequi,
onde os negros das senzalas foram residir após a libertação dos escravos em 1888.
Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009) Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.
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Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 13 Localização: Bonsucesso
Topônimo: Capelinha Taxionomia: Hierotopônimo
Etimologia: do lat. cappella, ae + o sufixo inha, pequena comunidade.
Estrutura morfológica: Ns (Sb. fem.+ suf. diminutivo).
Informações enciclopédicas: Capelinha, pequena povoação surgida a um quilômetro ao sul de
Capão Grande, constituída, em sua maioria, de famílias capoanas.
Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 14 Localização: Bonsucesso
Topônimo: Curicaca Taxionomia: Zootopônimo
Etimologia: do tupi kuri’kaka, ave aquática, da fam. dos tresquiornitídeos, nome pelo qual se
conhece em Mato Grosso a ave maçarico real.
Estrutura morfológica: Ns (Sb. fem.).
Informações enciclopédicas: Curicaca, localidade situada no distrito de Praia Grande cuja
atividade de subsistência predominante é a agricultura e a criação de gado.
Fonte: Monteiro(1987) e Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 15 Localização: Bonsucesso
Topônimo: Rota do Peixe Taxionomia: Zootopônimo
Etimologia: Rota (do francês route = via, caminho) + peixe (do lat. piscis), nomeia a região de
Bonsucesso e circunvizinha representativa do peixe tanto na produção (pesca) quanto na
comercialização e culinária.
Estrutura morfológica: Nc (Sb. fem. +conectivo+Sb.masc. de estrutura híbrida).
Informações enciclopédicas: A Rota do Peixe refere-se às localidades de Bonsucesso, Pai
André, Praia Grande, Souza Lima, Limpo Grande e Passagem da Conceição nas quais os
empresários e os pescadores comercializam o peixe in natura e também, tendo o pescado como
o prato principal de sua gastronomia, sobressaindo-se nessa atividade Bonsucesso sobre as
demais localidades por reunir mais de dez peixarias em sua rua principal.
Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009), Tavares (2011). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 16 Localização: Bonsucesso
Topônimo: Localidade de Limpo Grande Taxionomia: Dimensiotopônimo
Etimologia: Limpo (do lat. limpidus,a,um) + Grande (do lat. grandis, e), denomina uma
localidade do antigo Bom Sucesso.
Estrutura morfológica: Nc (Sb. masc.+ adj. 2g.).
Informações enciclopédicas: Limpo Grande, grande área descampada, desmembrada do
município de Nossa Senhora do Livramento em 1948. Tem como principal atividade a lavoura
devido às boas condições do solo e a tecelagem de redes e similares, tradição que passa de
geração para geração.
Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.
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Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 17 Localização: Bonsucesso
Topônimo: Rua João Gil da Silva Taxionomia: Antropotopônimo
Etimologia: Nome próprio (João Gil) + nome próprio de família (Silva).
Estrutura morfológica: Nc (Sb. masc.).
Informações enciclopédicas: O nome da Rua Principal (por ser a mais importante) ou Rua da
Beira (por localizar - se bem próxima à orla do rio Cuiabá) homenageia João Gil da Silva, um
dos troncos da família Claro. Esse cidadão era neto de Justino Antonio, o fundador da
comunidade. João Gil era morador da comunidade e pescador profissional cadastrado na
Marinha, Agência CP Cuiabá.
Fonte: Relato oral do Prof. Tavares em 21/11/10. Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 18 Localização: Bonsucesso
Topônimo: Usina Cachoeira do Pau Taxionomia: Hidrotopônimo
Etimologia: Derivado de cachão (do lat. cactione) sob a forma radical cacho (com perda de
nasalidade) + o sufixo eira, denomina extinta usina açucareira do antigo Bom Sucesso.
Estrutura morfológica: Nc (Sb. fem. + conectivo + Sb. masc.).
Informações enciclopédicas: Usina Cachoeira do Pau, empresa do ramo açucareiro,
localizada no distrito de Bonsucesso, que consumia toda a produção de cana local na
fabricação de rapadura, aguardente de alambique e açúcar. Atualmente está desativada a
exemplo das outras usinas existentes na região, como a São Gonçalo e a Conceição.
Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 19 Localização: Cuiabá
Topônimo: Bairro do Porto Taxionomia: Geomorfotopônimo
Etimologia: Do lat. portus,a,um, trecho de mar, rio ou lago, próximo à costa, que tem
profundidade suficiente e é protegido por baia ou enseada, onde as embarcações podem
fundear e ter acesso fácil à margem.
Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc.).
Informações enciclopédicas: Porto, bairro antigo de Cuiabá, assim chamado em razão de
nele estar localizado o porto fluvial de Cuiabá que foi destino e ponto de retorno dos
bandeirantes paulistas a Araritaguaba, atualmente Porto Feliz-SP. Nele, além das moradias
dos monçoeiros, surgiram as primeiras pensões e hospedarias que acolhiam os viajantes e
comerciantes, e onde também residia parte significativa das famílias cuiabanas. Suas ruas e
praças recebiam os visitantes, viajantes e comerciantes, sendo palco de retretas,
apresentações de bandas e de festas, por ocasião da chegada dos navios, recebidos sempre
festivamente pela população. O contato com Várzea Grande e o oeste e norte mato-
grossense era feito através da balsa que operou na travessia do rio Cuiabá entre 1874 e
1942. No Porto situa-se também o antigo Mercado do Porto como ponto intermediário dos
negócios servindo, principalmente, aos pescadores, produtores e lavradores de Cuiabá,
Várzea Grande e Nossa Senhora do Livramento.
Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 e nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
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Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 20 Localização: Cuiabá
Topônimo: Município de Cuiabá Taxionomia: Zootopônimo
Etimologia: Registra-se que há inúmeras acepções sobre a origem do topônimo Cuiabá que
nomeia um município e sua cidade-sede e um rio. Nesta pesquisa optou-se por apresentar as
duas versões consideradas mais importantes pelos argumentos que as justificam, quais sejam: a
de origem Bororo e a de origem Guarani. Adotou-se para efeito de classificação taxionômica a
versão Guarani (ariranha = lontra brilhante).
Versão fundada na língua Bororo: De acordo com Albisetti e Venturelli (1962), o termo
Cuiabá é uma corrupção e sonorização de Ikuiapá – ikuia= flecha-arpão; pá = lugar (lugar da
flecha-arpão). O termo é uma designação de uma localidade onde se pesca com a flecha-arpão.
Diz respeito também a uma localidade onde antigamente os bororo costumavam pescar com
flecha-arpão, correspondente à foz do Ikuiebo, córrego da Prainha, afluente esquerdo do Rio
Cuiabá. Para os citados autores, o nome da capital de Mato Grosso, justamente edificada nas
duas margens do córrego da Prainha, não seja outra coisa que a corrupção e sonorização de
Ikuiapá. Essa idéia é corroborada também por Carlos Drumond no livro Contribuição do Bororo
à toponímia brasílica (1965).
Versão fundada na língua Guarani: De origem guarani, formada de kyya = nutra o lontra,
verá = resplandeciente .
Nesta versão há a hipótese apresentada por Agustín Castañares citado por Ferreira e Silva
(2008, p. 73-74) que afirma, com argumentos plausíveis, que a origem do nome Cuiabá (rio da
lontra brilhante) foi motivada pela quantidade de ariranhas existentes no rio. Relatam os
referidos autores que apareceu neste séc. XXI uma nova teoria bastante sólida e
documentalmente bem instruída sobre a origem do topônimo Cuiabá, baseada em uma carta do
padre jesuíta Agustín Castañares a D. Rafael de la Moneda, Adelantado da Província do
Paraguay, escrita em Assunção em 16 de setembro de 1741, que informa sobre o Arroyo
Cuyaverá, segundo quem a palavra “Cuyaverá”, de origem guarani, é formada de “kyya = nutra
o lontra, en portugues, y verá = resplandeciente”, portanto, “rio da lontra brilhante”, em alusão
aos bandos de ariranhas existentes no rio Cuiabá, o seu habitat. Assim, a palavra “Kyaverá” ou
“Rio da Lontra Brilhante”, por corruptela e por aglutinação, transformou-se em Cuyaverá”,
“Cuiaverá”, “Cuiavá” e, finalmente, “Cuiabá.”
Outras versões: Ferreira e Silva citam outras hipóteses que são aventadas sobre o significado
do nome Cuiabá: “Fazedor de cuia”, “gente caída”, “cuia que vai, “índios Cuiabases”, “homem
que faz farinha”, “índio do Pantanal”, “Pantanal mato-grossense”, “madeira líquida”, “cuia
rodando”, “gente forte”, “índio das águas”, “nação das cuias” e “mulher corajosa.” Na opinião
dos citados historiadores, elas são baseadas mais em lendas e em suposições do que lastreadas
em pesquisa histórica consistente.
Fonte: Ferreira e Silva (2008), Silva (2007), Albisetti e Venturelli (1962), Drumond (1965).
Data da coleta: mar/09 a nov/10. Pesquisadora: Marcilene R. da Silva
Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
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Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 21 Localização: Cuiabá
Topônimo: Distrito do Coxipó da Ponte Taxionomia: Zootopônimo
Etimologia: Na língua Bororo, o termo “coxipó” é corruptela da palavra “kugibo” e significa
kugi - peixe bo – rio, rio de peixe. Há, ainda, outra versão que traduz kugibo como “córrego do
mutum.” Coxipó, do Bororo também denominado Coxiponé e do lat. pons, pontis, em referência
à ponte construída sobre o rio Coxipó.
Estrutura morfológica: Nc (Sb. masc., de estrutura híbrida (LP+LI).
Informações enciclopédicas: O Coxipó da Ponte é um distrito de Cuiabá, surgido em função do
rio Coxipó e dos índios Coxiponé (Bororo) que habitavam em suas margens. A partir da
instalação da ponte com estrutura metálica, em 1897, a denominação se estendeu à
circunvizinhança e, posteriormente, ao distrito cuiabano. A estrutura da ponte, atualmente
tombada pelo Patrimônio Histórico Estadual, foi construída e importada da Inglaterra e montada
pelo engenheiro inglês Jacques Marckwalder.
Fonte: Ferreira (2001), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 22 Localização: Cuiabá
Topônimo: Porto Passagem Velha Taxionomia: Cronotopônimo
Etimologia: Passagem (do francês, passage= a travessia) + Velha (do lat. vetulus,a,um = que
tem muito tempo de existência).
Estrutura morfológica: Nc (Sb. fem. + adj. fem. de estrutura híbrida).
Informações enciclopédicas: Passagem Velha, porto improvisado nas barrancas da margem
esquerda do rio Cuiabá, no início da expedição dos bandeirantes rumo ao norte e ao oeste. Este
porto era considerado ponto estratégico, porque servia como ancoradouro de canoas e batelões,
origem da estrada boiadeira que se prolongava até dois mil metros num plano só. Quando em
curvas de morrotes ganhava a altura de uns 15 metros, para formar o planalto onde se localiza
Várzea Grande-MT.
Fonte: Monteiro (1987), Houais (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 23 Localização: Cuiabá
Topônimo: Arraial de São Gonçalo Velho Taxionomia: Hagiotopônimo
Etimologia: Santo da hagiologia portuguesa. Aquele que foi canonizado e/ou a quem os fiéis
rende culto. Gonçalo significa aquele que se preserva mesmo no combate e indica uma pessoa
que não foge à luta, quando se trata de alcançar seus objetivos, mas que não se deixa seduzir por
causas que não sejam suas. A palavra “São” é empregada diante de nomes que iniciam por
consoante.
Estrutura morfológica: Nc (Adj.+Sb. masc. + Adj. masc.).
Informações enciclopédicas: São Gonçalo Velho, atual São Gonçalo Beira Rio, é arraial
pioneiro de Cuiabá, fundado no séc. XVIII, localizado à margem esquerda do rio Cuiabá, a 11
km do centro da cidade, próximo à barra do rio Coxipó, no distrito do Coxipó da Ponte. Esse
local, antigamente, serviu de pouso aos bandeirantes paulistas, sendo Antonio Pires de Campos
o mais famoso deles. Fonte: Ferreira (2001), Houaiss (2009), Barbosa (1984) Data da coleta:
mar/09 a nov/10. Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias A. de Andrade.
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Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 24 Localização: Cuiabá
Topônimo: Estado de Mato Grosso Taxionomia: Fitotopônimo
Etimologia: De origem portuguesa, significando mato elevado, espesso, de difícil penetração.
Estrutura morfológica: Nc (Sb.masc.+ Adj. masc.).
Informações enciclopédicas: Mato Grosso, estado da região Centro-Oeste do Brasil, assim
nomeado pelos irmãos sorocabanos, bandeirantes paulistas, Fernão e Arthur Paes de Barros, em
1734, devido à existência de mato elevado, espesso, quase impenetrável na região noroeste, em
que mais tarde foi fundada Vila Bela da Santíssima Trindade, a primeira capital da Capitania de
Mato Grosso, região também rica em ouro. Pelo Alvará Régio de 1820, Vila Bela perde a
condição de sede da Capitania de Mato Grosso e recebe o título de cidade, com a denominação
alterada para Matto Grosso, e, por ser município de fronteira, em região limítrofe com a Bolívia,
passa a ser área de Segurança Nacional, voltando a ser denominada Vila Bela da Santíssima
Trindade. O topônimo Mato Grosso teve essa nomenclatura atribuída à Capitania em 1748, à
Província, em 1822, com a independência do Brasil, e ao Estado de Mato Grosso, a partir da
proclamação da República Federativa do Brasil, em 1892. A configuração geográfica inicial do
estado de Mato Grosso abrangia os atuais estados de Mato Grosso do Sul e Rondônia. Pela Lei
Complementar Federal nº 31, de 11 de outubro de 1977, o então Presidente do Brasil, Ernesto
Geisel, criou o estado de Mato Grosso do Sul, desmembrando-o da parte meridional do estado
de Mato Grosso e instalando-o, oficialmente, em 01/01/1979. Entre os argumentos
justificadores do ato de criação da nova unidade federativa incluíam-se imposições
administrativas - o território de Mato Grosso era grande demais para ser gerenciado por uma só
máquina administrativa e preceitos da Doutrina de Segurança Nacional - que considera pouco
recomendável a existência de estados grandes e potencialmente ricos na região de fronteira.
Embora recente, a divisão geopolítica do antigo estado de Mato Grosso já vinha sendo
arquitetada por movimentos separatistas desde o século XIX motivada pelo desenvolvimento
desigual entre o norte e o sul. Desde a Constituinte de 1823, já havia a preocupação com os
enormes vazios demográficos existentes em alguns estados, dentre eles, Mato Grosso, nome
original, em 1978.
Fonte: Ferreira e Silva (2008), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 25 Localização: Pai André
Topônimo: Distrito de Pai André Taxionomia: Axiotopônimo
Etimologia: Pai (dignidade, de prov. evolução do lat. vulgar, patre>padre>pade>pai + André,
nome próprio de pessoa). Nesta pesquisa Pai André tem a conotação de aquele que pratica o
bem, que ajuda ou favorece; benfeitor, protetor.
Estrutura morfológica: Nc (Sb.masc + Sb. masc.).
Informações enciclopédicas: O axiotopônimo Pai André, formado por uma dignidade e um
nome próprio designa a localidade que constitui parte do corpus desta pesquisa, o distrito de Pai
André.
O referido distrito está situado entre Praia Grande e Bom Sucesso, à margem direita do rio
Cuiabá, de frente para o “Morrinho”, povoação localizada à margem esquerda do citado rio.
Rico em canaviais, nele se instalaram, no passado, usinas açucareiras, devido à facilidade de
transporte por se localizar junto ao rio. Hoje, com o desaparecimento das usinas e a redução do
transporte fluvial, a população vive da horticultura e da pesca em pequena escala. Segundo
relato, Pai André era um senhor negro, idoso, bondoso e caridoso, qualificativos que motivaram
o nome do povoado. Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.
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Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 26 Localização: Pai André
Topônimo: Localidade Céu Taxionomia: Astrotopônimo
Etimologia: Do lat. caelum, i , significa claro, luzente, brilhante.
Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc.).
Informações enciclopédicas: Céu, lugar às margens do rio Cuiabá, distante um quilômetro da
sede de Pai André. Nesse local existia a Usina Manoel Nobre que fabricava a famosa
aguardente “Nobre”, além de outros produtos como rapadura e melado de cana-de-açúcar.
Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.
Ficha lexicográfico-toponímica
Nº de ordem: 27 Localização: Pai André
Topônimo: COORIMBATÀ Taxionomia: Acronimotopônimo
Etimologia: Resultante da sílaba inicial do intitulativo da palavra cooperativa + o nome de um
peixe comum e abundante na região, o curimbatá (do Tupi kurimatá), também chamado de
papa-terra ou papa-lama, por alimentar-se de lodo e remexer a terra nas lagoas, características
que contribuem para a sua desvalorização econômico-gastronômica.
Estrutura morfológica: Ns (Sb. fem.).
Informações enciclopédicas: A Cooperativa dos Pescadores e Artesãos de Pai André e
Bonsucesso - COORIMBATÁ, tem sua sede no distrito de Pai André. Criada em 1997 tem por
objetivo fazer o processamento de carnes de peixes, jacarés e seus derivados, o fabrico de sucos
e frutas passas (banana, caju, manga, goiaba) com a produção local, além de húmus de minhoca.
A partir de 2000 passou a congregar também a pesca artesanal e o artesanato.
Fonte: SECOM/MT (2008), Houaiss (2009) e Ferreira, M. (1980).
Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
Ficha Lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 28 Localização: Pai André
Topônimo: Comunidade do Morrinho Taxionomia: Geomorfotopônimo
Etimologia: De origem controversa, que tem sido ligada a línguas pré-romanas, ao latim e ao
germânico, sem que as diversas hipóteses consigam explicá-la satisfatoriamente. Monte de
poucas dimensões.
Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc. + Suf. diminutivo).
Informações enciclopédicas: Morrinho nomeava uma localidade no distrito de Pai André. A
então comunidade estava localizada à margem esquerda do rio Cuiabá na qual a população de
Bom Sucesso era qualificada quando dos alistamentos eleitorais durante o Brasil-Império. Esse
local não progrediu porque sua área, junto à margem do rio, era baixa, alagadiça e insalubre,
razão que motivou o êxodo da população para a margem oposta do rio dando origem à
comunidade de Pai André.
Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
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Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 29 Localização: Várzea Grande
Topônimo: Aeroporto Marechal Rondon Taxionomia: Axiotopônimo
Etimologia: Do francês aéroport, superfície terrestre dotada de pista, prédios e equipamentos
necessários ao tráfego aéreo.
Estrutura morfológica: Nc (Sb. masc. + nome de família).
Informações enciclopédicas: O axiotopônimo Marechal Rondon denomina o Aeroporto
Internacional de Cuiabá, em homenagem ao sertanista Cândido Mariano da Silva Rondon, o
Marechal Rondon.
O referido aeroporto é o principal de Mato Grosso. O complexo aeroportuário não está situado
em Cuiabá, mas sim em Várzea Grande, na antiga localidade denominada Morro Vermelho,
distante cerca de 8 km do centro da capital mato-grossense. O local foi escolhido por possuir
melhores condições de operabilidade que as da capital. Em 1996 foi classificado como
internacional e desde 2007 vem ultrapassando a marca de 1 milhão de passageiro/ano.
Fonte: Houaiss (2009), Monteiro (1987). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 30 Localização: Várzea Grande
Topônimo: Alameda Júlio Müller Taxionomia: Historiotopônimo
Etimologia: Julio do lat. = cheio de juventude, Müller, do alemão= o que moe, o moedor.
Originalmente era nome de profissão. Atualmente é usado como sobrenome. Em Mato Grosso,
a família Müller faz parte da História da Política do Estado.
Estrutura morfológica: Nc (Sb. masc. de estrutura composta).
Informações enciclopédicas: O historiotopônimo Müller é um nome próprio que identifica uma
família tradicional de Cuiabá-Várzea-Grande-MT, sendo que alguns de seus membros integram
ou integraram a História Política do estado de Mato Grosso. O citado nome designa dois
topônimos na região pesquisada, a Alameda Júlio Müller e a Ponte Júlio Müller.
A Alameda Júlio Müller é caminho de pescadores desde o século XVIII, transformando-se
pouco a pouco em estrada carroçável. Essa via pública beira-rio recebeu esse nome em 1942 em
homenagem ao Governador Interventor de Mato Grosso, Júlio Müller, durante sua gestão. Nesse
local instalou-se a empresa Sadia Oeste, importante fonte geradora de emprego e renda no setor
de produção, indústria e exportação de carne.
Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 31 Localização: Várzea Grande
Topônimo: Avenida Couto Magalhães Taxionomia: Historiotopônimo
Etimologia: Couto, do lat., significa defesa. Magalhães, de origem portuguesa, significa O
Grande.
Estrutura morfológica: Nc (Sb. masc. + nomes de família (Couto + Magalhães)).
Informações enciclopédicas: Couto Magalhães denomina uma das principais vias de Várzea
Grande, a Avenida Couto Magalhães. A referida avenida é uma importante artéria de
comunicação onde se concentra a maior parte do comércio central. Foi palco das festas nos
tempos da Vila, importante caminho monçoeiro e estrada boiadeira no séc. XVIII. O nome é
uma homenagem ao fundador de Várzea Grande, o Gal. José Vieira Couto de Magalhães.
Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
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Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 32 Localização: Várzea-Grande
Topônimo: Avenida da FEB Taxionomia: Acronimotopônimo
Etimologia: Da sigla FEB - Força Expedicionária Brasileira, composta de mais de 25 mil
militares que lutaram ao lado dos aliados na Itália durante a Segunda Guerra Mundial.
Estrutura morfológica: Ns (Sb. fem.).
Informações enciclopédicas: A Avenida da FEB é uma das principais artérias comerciais e
industriais de Várzea Grande. Inicia-se na Ponte Júlio Müller e termina no marco zero km. A
avenida recebeu esta nomenclatura em homenagem à Força Expedicionária Brasileira. Como
estrada, nos tempos monçoeiros, foi a primeira rota das Bandeiras que demandaram ao norte e
ao oeste de Mato Grosso.
Fonte: Monteiro (1987) e Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 33 Localização: Várzea Grande
Topônimo: Avenida Profª Alzira Santana Taxionomia: Axiotopônimo.
Etimologia: do lat. professore (professora).
Estrutura morfológica: Nc (Sb. fem. + dois nomes de família).
Informações enciclopédicas: O axiotopônimo professora acompanha o nome de Alzira Santana
para denominar a Av. de Várzea Grande que dá acesso aos distritos de Bonsucesso, Pai André,
Praia Grande e Capão Grande. Esta via pública recebeu o nome da referida professora pela Lei
nº 411, de 7 de julho de 1970, em homenagem a uma das primeiras diretoras das Escolas
Reunidas Pedro Gardés. É uma via de intenso movimento, sendo artéria escoadoura de veículos
e cargas para os citados distritos.
Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 34 Localização: Várzea Grande
Topônimo: Cidade de Várzea Grande Taxionomia: Dimensiotopônimo
Etimologia: Várzea, do celta varga, do latim varcëna (séc.XV), uarzea (séc. XVI), designando
grande extensão de terras, terreno plano entre morros ou planície fértil e cultivada à beira ou
próximo a rio, e “grande”, do latim grandis,e, refere-se a tamanho, volume, intensidade, valor,
de grande extensão.
Estrutura morfológica: Nc (Sb. fem. + adj. 2g.) .
Informações enciclopédicas: A denominação Várzea Grande se deve, portanto, à existência de
uma extensa planície, uma grande várzea em volta do planalto - Morro Vermelho - na estrada
boiadeira, utilizada como ponto de encontro e de descanso de viajantes e boiadeiros em viagem
para o norte ou para o oeste de Mato Grosso, motivo pelo qual Várzea Grande era denominada
Vila dos Vaqueiros, Terra dos Vaqueiros ou Várzea dos Boiadeiros. O município, forma, com
Cuiabá, a região metropolitana mais importante do estado de Mato Grosso.
Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009), Ferreira (2008). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
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Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 35 Localização: Várzea Grande
Topônimo: Estrada Boiadeira Taxionomia: Zootopônimo
Etimologia: Estrada, do lat. imp. stratus, a, um caminho por onde passava a boiada. Boiadeira,
rad. do part. boiada + sufixo eira.
Estrutura morfológica: Ns (Adj.fem. derivado de boiada).
Informações enciclopédicas: A Estrada Boiadeira corta Várzea Grande em três destinos: oeste
Cocais, Nossa Senhora do Livramento pelo Pantanal, derivando-se mais para o sul, Poconé,
enquanto que uma terceira estrada, a partir da várzea, com destino a Acorizal, Rosário Oeste e
Diamantino forma a estrada do espigão, a atual BR- 364. É essa estrada velha a primeira via de
penetração do município. Dela, no km 5, surgiu uma outra estrada rumo ao sul que atravessa o
distrito de Bonsucesso para penetrar na região leiteira livramentense, depois de passar por Praia
Grande, último reduto no extremo sul várzea-grandense. A estrada boiadeira, antiga rota dos
bandeirantes, transformou-se na atual BR 364.
Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 36 Localização: Várzea Grande
Topônimo: Localidade Bosque Taxionomia: Fitotopônimo
Etimologia: do lat. boscus, i, formação vegetal dominada por árvores e arbustos, não muito
extensa.
Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc.).
Informações enciclopédicas: Bosque era o local onde Mestre Bilão, o 1º professor de Várzea
Grande, montou uma escola na qual ministrava o ensino do abecedário, da cartilha e da tabuada.
O topônimo foi motivado devido à existência de árvores altas no local.
Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 37 Localização: Várzea Grande
Topônimo: Localidade do Carrapicho Taxionomia: Fitotopônimo
Etimologia: Angios designação comum a diversas plantas do gên. Desmodium.
Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc.).
Informações enciclopédicas: O carrapicho é semente espinhosa de certas plantas. Erva daninha
cujos frutos aderem ao pelo dos animais. Trata-se de uma comunidade localizada ao lado das
terras de São Gonçalo de Várzea Grande, habitada por pescadores e agricultores que fazem da
terra e do rio seu meio de subsistência.
Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 e nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
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Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 38 Localização/Município: Várzea Grande-MT
Topônimo: Distrito do Engordador Taxionomia: Sociotopônimo
Etimologia: Do verbo engordar + radical em+ sufixo ador.
Estrutura morfológica: Ns (Vb. engordar + radical + suf.).
Informações enciclopédicas: Engordador, distrito situado próximo à sede do município de
Várzea Grande e faz divisa com o Aeroporto Internacional Marechal Rondon. O nome da
comunidade deve-se ao fato de ali se concentrar gado para engorda, principalmente de
propriedade de grandes fazendeiros que vinham de lugares distantes, uma vez que o lugar tem
uma várzea com excelente capinzal. Por esse motivo, a ocupação dos seus habitantes resumia-se
basicamente à agropecuária, além da pesca, cujos produtos eram comercializados no Porto de
Cuiabá. Hoje, a economia local é baseada na produção pesqueira, pomares e produção
hortifrutigranjeira
Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 39 Localização: Várzea Grande
Topônimo: Localidade de Poço Grande Taxionomia: Dimensiotopônimo
Etimologia: Do lat. puteus, i e grande, do lat. grandis, e.
Estrutura morfológica: Nc (Sb. masc. + adj. 2g.).
Informações enciclopédicas: Poço Grande, local situado entre as comunidades do Engordador e
de Bonsucesso. No início, o lugar era de posse de uma única família que pescava com redes de
arrastão, cujo ponto de lance era um grande poço no rio, motivo que deu origem ao nome do
lugar.
Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 40 Localização: Várzea Grande
Topônimo: Localidade Umbauval Taxionomia: Fitotopônimo
Etimologia: Do Tupi, Emba-yba.
Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc. + suf.).
Informações enciclopédicas: Vale esclarecer que não foi encontrado no dicionário o verbete
umbauval e, sim, umbaubal, derivado de umbaúba e embaubal, derivado de embaúba. Como
embaúba, o topônimo é de origem tupi embayba= s.c Emba-yba, a árvore de oco, ou cujo
tronco é cheio de câmaras ou vazios. É a árvore da mata, vulgarmente chamada imbaúba
(Cecropia peltata). Alt. Ambahyba, Embahuba, Imbahyba, Umbahuba.
Umbauval – Local onde se deu a fundação de Várzea Grande, área cheia de cacimbas de águas
azuis que ficava ao lado do extremo oeste da várzea, ponto de parada para bandeirantes e, mais
tarde, boiadeiros.
Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009), Sampaio (1987). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
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Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 41 Localização: Várzea Grande
Topônimo: Passagem da Conceição Taxionomia: Antropotopônimo
Etimologia: Passagem do fr. passage = travessia; da Conceição, pertencente ou sob a
responsabildade de alguém de nome Conceição. Conceição, do lat., nome usado em honra de N.
Sª da Conceição.
Estrutura morfológica: Ns (Sb. fem. + conectivo + nome próprio de pessoa.).
Informações Enciclopédicas: Passagem da Conceição, povoado surgido de uma sesmaria
composta predominantemente por negros escravos. É patrimônio histórico estadual e está
separado da capital pelo rio Cuiabá. A origem de seu nome remonta ao ano de 1813, quando o
lavrador Manoel Antônio da Conceição ali se fixou e fazia a travessia das pessoas em sua canoa
para a margem oposta do rio Cuiabá na altura do ribeirão Pari. A adaptação do nome para o
feminino deu-se após a construção de uma igreja com a imagem de Nossa Senhora da
Conceição.
Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 42 Localização: Várzea Grande
Topônimo: Ponte do Poço Grande Taxionomia: Dimensiotopônimo.
Etimologia: Do lat. puteus, i e do lat. grandis, e.
Estrutura morfológica: Nc (Sb. fem. + contr. + Sb. masc.+adj. 2g.).
Informações enciclopédicas: Ponte do Poço Grande construída sobre o rio Cuiabá, une os
municípios de Cuiabá e Várzea Grande e foi idealizada para descongestionar o tráfego de
automóveis e caminhões pesados em demanda ao nortão e ao oeste mato-grossense e ao estado
de Rondônia. A sua denominação foi motivada pelo nome da localidade. Essa ponte atende aos
distritos de Bonsucesso e Capão Grande.
Fonte: Monteiro(1987); Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 43 Localização: Várzea Grande
Topônimo: Ponte Julio Müller Taxionomia: Historiotopônimo
Etimologia: Julio, do lat. = cheio de juventude, Müller, do alemão= o que moe, o moedor.
Originalmente era nome de profissão. Atualmente é usado como sobrenome. Em Mato Grosso,
a família Müller faz parte da História Política do Estado.
Estrutura morfológica: Nc (Sb. masc.).
Informações enciclopédicas: A Ponte Júlio Muller sobre o rio Cuiabá liga as cidades de Várzea
Grande e Cuiabá. Foi construída pelo interventor federal Júlio Müller e inaugurada em 20 de
janeiro de 1942. Essa ponte representou o início de uma fase promissora para as duas cidades e,
consequentemente, a conquista do norte e oeste do estado de Mato Grosso.
Fonte: Monteiro (1987); Houaiss (2009); http://www.marquardt.com.br/hist_nomemuller.htm.
Acesso: 07/01/2010. Data da coleta: mar/09 a nov/10. Pesquisadora: Marcilene R. da Silva
Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
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Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 44 Localização: Várzea Grande
Topônimo: Povoado de São Gonçalo Taxionomia: Hagiotopônimo
Etimologia: Santo da hagiologia portuguesa. Aquele que foi canonizado e/ou a quem os fiéis
rendem culto. Gonçalo significa aquele que se preserva mesmo no combate e indica uma pessoa
que não foge à luta, quando se trata de alcançar seus objetivos, mas que não se deixa seduzir por
causas que não sejam suas. Outra versão diz que Gonçalo, do teutônico = salvo na guerra. A
palavra “São” é empregada diante de nomes que iniciam por consoante.
Estrutura morfológica: Nc (Adj.+ Sb. masc.).
Informações enciclopédicas: Este povoado está localizado na margem direita do Rio Cuiabá,
sendo no passado habitado por famílias de lavradores e pescadores em choupanas ao longo da
barranca ribeirinha. Nas proximidades do povoado foi montada a Usina São Gonçalo, no séc.
XIX. Ela era responsável pela fomentação econômica local, pois os lavradores plantavam seus
canaviais para o consumo do engenho. Atualmente, com o desaparecimento da usina e da
navegação pelo rio Cuiabá o povoado tem na agricultura de subsistência e no comércio de
cerâmica suas principais fontes de renda.
Fonte: Monteiro (1987); Houaiss (2009), Dick (1987). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias A . de Andrade
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 45 Localização: Várzea Grande
Topônimo: Complexo Viário Trevo do Lagarto Taxionomia: Zootopônimo
Etimologia: Do latim vulgar trifolum, ii = complexo de vias para se evitar cruzamentos de nível
em rodovias de tráfico intenso), Lagarto, do lat. lacertus= designação comum a várias espécies
de lacertílios.
Estrutura morfológica: Nc (Sb. masc. + conectivo + Sb. masc.).
Informações enciclopédicas: Trevo do Lagarto, ponto convergente para o oeste e norte de Mato
Grosso, para o estado de Rondônia e para o sul do país. É o principal cruzamento viário da BR
364 no município de Várzea Grande e, pela importância, é considerado o Portal da Amazônia.
Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009), Dick (1987). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 46 Localização: Várzea Grande
Topônimo: Usina São Gonçalo Taxionomia: Hagiotopônimo
Etimologia: Santo da hagiologia portuguesa. Aquele que foi canonizado e/ou a quem os fiéis
rendem culto. Gonçalo significa aquele que se preserva mesmo no combate e indica uma pessoa
que não foge à luta, quando se trata de alcançar seus objetivos, mas que não se deixa seduzir por
causas que não sejam suas. Outra versão diz que Gonçalo, do teutônico = salvo na guerra. A
palavra “São” é empregada diante de nomes que iniciam por consoante.
Estrutura morfológica: Nc (Sb.fem. + Adj. masc. + Sb. masc.).
Informações enciclopédicas: Ex-empresa do ramo açucareiro, montada nas proximidades do
povoado de São Gonçalo no fim do séc. XIX, propriedade dos irmãos Manoel e Joaquim
Martins Pereira, de descendência portuguesa. Funcionou até 1942, quando foi vendida à firma
CAPI que, por problemas de gestão, foi desmontada, tendo-se aproveitado a maquinaria em
outras usinas de Stº Antônio de Leverger. Principal fonte de economia do povoado, pois os
lavradores a ela vendiam seus canaviais. Atualmente, suas instalações físicas pertencem ao
Governo de Mato Grosso. Fonte: Barbosa (1984), Houaiss (2009), Dick (1987). Data da coleta:
mar/09 a nov/10. Pesq.: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.
97
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 47 Localização: Santo Antonio de Leverger
Topônimo: Usina Aricá Taxionomia: Fitotopônimo
Etimologia: Do T.G. u-ri-canhê- o que morde e foge ligeiro; u- comer, beber, morder; ri-
correndo; canhê – fugir. Palmeira conhecida com as seguintes denominações: guaricana-de-
folha-miúda, aricanga, guaricanga, aricá, aricã, arucanga, guaricana e guaricanga-da-vagem.
Estrutura morfológica: Ns (Sb.fem.).
Informações enciclopédicas: Aricá nomeia uma das usinas açucareiras outrora existentes no rio
Cuiabá no trecho Cuiabá-Várzea Grande-Santo Antônio de Leverger-Barão de Melgaço. Nessa
usina eram fabricados açúcar e cachaça.
Fonte: Ferreira (1999), Póvoas (2011), Chiaradia (2008). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.
Ficha lexicográfico-toponímica
Nº de ordem: 48 Localização: Santo Antonio de Leverger
Topônimo: Usina Conceição Taxionomia: Antropotopônimo
Etimologia: Nome português, de origem cristã, em alusão a N. Senhora da/ou Imaculada
Conceição.
Estrutura morfológica: Ns (Sb. fem.).
Informações enciclopédicas: O nome próprio empregado em sentido genérico, reflete bem a
questão da intersecção existente entre Antroponímia e Toponímia. Nesse caso, ocorre o que
Dick (1990, p. 294) chama de denominação espontânea, distinta daquele imposta por
autoridades ou eventuais detentores do poder de mando e que, tantas vezes, se distinguem pelo
distanciamento da realidade ambiental ou do gosto popular.
Conceição, formado por um pré-nome ou nome próprio de pessoa designa uma ex-empresa do
complexo açucareiro de Leverger. A usina Conceição e a Itaycy eram as duas maiores da região.
Só fabricavam açúcar que abasteciam o mercado de Cuiabá, as comunidades do rio abaixo até
Corumbá.
Fonte: Barbosa (1984), Houaiss (2009), Dick (1987). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias A. de Andrade.
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 49 Localização: Santo Antônio de Leverger
Topônimo: Usina Itaycy Taxionomia: Litotopônimo.
Etimologia: Do Tupi ita, pedra; ici, cortada = Pedra cortada, despedaçada (Silveira Bueno,
2008, p. 406). Do T.G. ita=pedra, icii= miúdo, pedrinha. (Chiaradia, 2008, p. 327).
Estrutura morfológica: Ns (Sb. fem.).
Informações enciclopédicas: A extinta Usina Itaicy (Itaici ou Itaycy), era a mais importante do
ramo açucareiro da época. Era de propriedade do Cel. Antônio Paes de Barros – o Totó Paes,
tendo surpreendido por sua estrutura, bastante moderna para o período, destacando-se por
avançada tecnologia de produção. Possuía escola, banda de música, capela, luz elétrica,
farmácia, armazém, dezenas de casas em estilo padronizado e, até mesmo, moeda própria,
cunhada ali mesmo e, além disso, lidava com um contingente de cinco mil pessoas. Atualmente
encontra-se desativada, bastante danificada devido à ação do tempo, conservando, ainda, apesar
disso, boa parte de sua estrutura física, maquinários, casas e mobiliário. Esta usina é tombada
pelo patrimônio histórico estadual. Fonte: Ferreira, M. (1999), Dick (1987), Chiaradia (2008),
Silveira Bueno (2008).
Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
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Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 50 Localização: Santo Antonio de Leverger
Topônimo: Usina Maravilha Taxionomia: Animotopônimo ou nootopônimo.
Etimologia: Do lat. mirabilia, ium = aquilo que desperta grande admiração em virtude de suas
realizações, perfeição e beleza.
Estrutura morfológica: Ns (Sb. fem.).
Informações enciclopédicas: Maravilha designa uma ex-usina do complexo açucareiro de Santo
Antonio de Leverger. Nessa usina fabricavam-se açúcar e cachaça. Destacava-se pelo fabrico de
uma cachaça considerada de excelente qualidade denominada “Formidável”.
Fonte: Dick (1987), Houaiss (2009), Póvoas (2011). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 51 Localização: Santo Antonio de Leverger
Topônimo: Usina Tamandaré Taxionomia: Antropotopônimo
Etimologia: Do T.G. que significa o fundador do povo. Segundo Sampaio (1987, p. 320),
Tamanda-ré, depois da volta ou em seguida ao rodeio. É também o nome do Noé da lenda do
dilúvio entre o gentio brasileiro. Silveira Bueno (2008, p. 331) cita Baptista Caetano para quem
Tamandaré deriva de Tamoindaré (tab-moi-inda-re) e significa: aquele que fundou um povo,
isto é, o repovoador da terra. O referido linguista ainda informa que para Thevet, citado por
Frederico Edelweiss, o topônimo procede de Taman-duá-ré, insinuando vestígios de totemismo
entre os Tupi.
Chiaradia (2008, p. 613) apresenta os significados acima e ainda relata que Tamandaré é figura
mitológica da tribo Tupi; filho de Sumé que fez brotar uma fonte cujas águas invadiram vales e
serras; salvou-se com sua mulher subindo numa palmeira (carnaúba); seu irmão Aricute e
esposa salvaram-se subindo num jenipapo, que lhes forneceu alimento; os dois casais
repovoaram a terra: Tamandaré originou os Tupinambá e Aricute, os Temiminó; Tamandonaré,
Tamendonare (Thevet), Tamenduaré (Pe. S. Vasconcelos), Tamoiidare, Tamoindaré e Aré.
Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc.).
Informações enciclopédicas: A exemplo das demais usinas esta também pertence ao grupo das
do Rio Abaixo (Stº Antonio de Leverger). Nela eram fabricadas as famosas aguardentes
“Verdinha” e “Tamandaré”.
Fonte: Monteiro (1987); Dick (1987), Póvoas (2011), Sampaio (1987), Silveira Bueno (2008) e
Chiaradia (2008).
Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.
99
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 52 Localização: Santo Antônio de Leverger
Topônimo: Usina São Miguel Taxionomia: Hagiotopônimo
Etimologia: Miguel, do hebraico que significa “Quem é como Deus?” “São”, do latim sanu;
forma apocopada de santo, aquele que foi canonizado.
Estrutura morfológica: Nc (Adj. Sb.masc.).
Informações enciclopédicas: Este topônimo foi classificado como hagiotopônimo em razão de
adotar-se a seguinte acepção: que ou aquele que foi canonizado e/ou a quem os fiéis rendem
culto. A palavra “São” é empregada diante de nomes que iniciam por consoante. São Miguel
nomeia uma das ex-grandes usinas do complexo açucareiro de Leverger.
Fonte: Barbosa (1984), Dick (1987), Houaiss(2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 53 Localização: Santo Antonio de Leverger
Topônimo: Usina São Sebastião Taxionomia: Hagiotopônimo
Etimologia: São, do latim sanu; forma apocopada de santo, aquele que foi canonizado.
Sebastião, do grego, sagrado, reverenciado.
Estrutura morfológica: Nc (Adj. masc. + Sb. masc).
Informações enciclopédicas: Este topônimo foi classificado como hagiotopônimo em razão de
adotar-se a seguinte acepção: que ou aquele que foi canonizado e/ou a quem os fiéis rendem
culto. A palavra “São”é empregada diante de nomes que iniciam por consoante. São Sebastião
nomeava uma usina do complexo açucareiro de Leverger.
Fonte: Barbosa (1984), Dick (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 54 Localização: Santo Antonio de Leverger
Topônimo: Santo Antônio de Leverger Taxionomia: Hagiotopônimo
Etimologia: Santo adj. do lat. sanctus, que pertence à religião, aos ritos sagrados e à divindade,
a Deus, sendo essencialmente puro e perfeito. Antonio – nome popular, do lat. Antonius,
significa inestimável ou digno de apreço. de - preposição (posse). Leverger - sobrenome de
origem geográfica, vindo do francês “le Verger” , significa pomar.
Estrutura morfológica: Nc (Adj. masc. + Sb. masc. + nome próprio de família.)
Informações enciclopédicas: As origens de Santo Antonio de Leverger se ligam às de Cuiabá. A
tradição popular guardou a história da imagem de Santo Antonio que recusou-se a seguir
viagem com seus donos monçoeiros que subiam o rio Cuiabá em demanda das minas de ouro do
Sutil. A resistência foi de tal forma que quando colocavam a imagem na embarcação esta
encalhava. Ao contrário, quando a retirava, a frota seguia o seu fluxo normal.
Fonte: Ferreira (2008), Dick (1987). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.
100
Ficha lexicográfico-toponímica
N° de ordem: 55 Localização: N.Sª. do Livramento
Topônimo: Nossa Senhora do Livramento Taxionomia: Hagiotopônimo
Etimologia: Nossa, interjeição do lat. nostra, próprio. Senhora, do lat. Seniores, designa a
Virgem Maria, Mãe de Jesus. do, contração da preposição de (posse), com o artigo masculino o.
Livramento, do lat. liberamentu, significa libertação, resgate.
Estrutura morfológica: Nc (Interjeição + Sb. fem.+ Contração + Sb. masc.).
Informações enciclopédicas: A crendice popular atribui a origem do lugar à imagem de uma
santa que veio de Portugal e passava por ali no lombo de um burro. Quando parou para
descansar o burro empacou. Ao retirar-lhe a imagem do lombo, este se punha a andar. A cada
tentativa de se colocar a santa o animal empacava. Decidiram, então, construir um ranchinho e
entronizar a santa.
Fonte: Ferreira (2008), Dick (1987). Data da coleta: mar/09 a nov/10.
Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade
3.3 COMENTÁRIOS TOPONÍMICOS
No levantamento do inventário toponímico nas duas comunidades, foram
selecionados 72 (setenta e dois) topônimos, grande parte deles representativa de acidentes
geográficos, que guardam estreita relação com o rio Cuiabá e com o peixe, como é o caso de
Baixada Cuiabana, COORIMBATÁ, rio Cuiabá, rio Coxipó, ribeirão Cocais, Praia Grande,
Rota do Peixe, Porto, córregos Traíra, Piçarrão e Formigueiro, refletindo a forte influência do
rio Cuiabá na formação sócio-histórico-econômica dos dois distritos, cenários desta pesquisa.
Componente mais significativo da paisagem e de importância econômica nos
diferentes momentos históricos de Bonsucesso e Pai André, o rio Cuiabá foi no passado o
elemento de integração, via de comunicação, espaço de obtenção de proteína e fonte
inspiradora na construção dos conhecimentos e da cultura da população, sendo atualmente, o
principal atrativo turístico, que é a atividade econômica de maior expressão, das localidades
em estudo.
O rio Cuiabá, a exemplo de outros rios, é elemento aglutinador das povoações
humanas e, em sendo considerado como um dos mais antigos meios de transporte,
desempenharam, ou ainda desempenham importante papel na penetração, povoamento e
ocupação do interior dos continentes, funcionando como verdadeiros caminhos naturais e
mantendo a integração de diferentes povoados e vilarejos.
Sampaio (1928), Dauzat (1946), Leite de Vasconcelos (1931) e Levy Cardoso
(1961), citados por Di Tizio (2008, p. 137), indicam tendências de se nomear os primeiros
101
aglomerados humanos, formados às margens de rios, pelo próprio hidrônimo, demonstrando
assim a importância do curso d’água para a população que se estabelece em suas margens.
Sobre o assunto Dick (1996, p. 361) afirma que é comum em toponímia o rio dar seu
nome às povoações que se situam às suas margens ou próximas a elas.
É o que ocorre, à guisa de exemplo, com significativa parte de municípios do estado
de Mato Grosso conforme tabela abaixo:
N° de Ord.
Topônimo (município) Nome do rio motivador do topônimo
01 Araguaiana Araguaia
02 Araguainha Araguaia
03 Alto Araguaia Araguaia
04 Alto Garças Garças
05 Alto Paraguai Paraguai
06 Alto Taquari Taquari
07 Apiacás Apiacás
08 Arenápolis Areias
09 Aripuanã Aripuanã
10 Barra do Bugres dos Bugres
11 Barra do Garças Garças
12 Bom Jesus do Araguaia Araguaia
13 Cuiabá Cuiabá
14 Diamantino Diamantino
15 Feliz Natal Feliz Natal
16 Itiquira Itiquira
17 Jangada Jangada
18 Jauru Jauru
19 Juruena Juruena
20 Paranatinga Paranatinga
21 Peixoto de Azevedo Peixoto de Azevedo
22 Pontal do Araguaia Araguaia
23 Poxoréo Poxoréu
24 Reserva do Cabaçal Cabaçal
25 Ribeirãozinho Riacho Ribeirãozinho
26 Rio Branco Rio Branco
27 São José do Rio Claro Rio Claro
102
28 São Félix do Araguaia Araguaia
29 Sapezal Sapezal
A quantificação dos topônimos da região pesquisada retrata que não há
homogeneidade nos resultados, haja vista que três tipologias se sobrepõem às demais como
são os casos dos fitotopônimos que totalizaram 10 (dez) denominações, os hagiotopônimos 09
(nove) e os zootopônimos 06 (seis). Esses dados revelam que as ocorrências de natureza física
suplantaram as de natureza antrópica.
A grande incidência dos fitotopônimos na presente pesquisa vem confirmar o que se
tem observado nos estudos toponímicos, ou seja, a supremacia dos designativos de origem
vegetal na toponímia brasileira, o que significa a sua importância para o homem, para os
animais e para o solo.40
A tipologia dos hagiotopônimos figura em 2º lugar nesta pesquisa, fato explicado
pela forte presença religiosa nas comunidades investigadas, principalmente em Bonsucesso,
onde há residências repletas de nichos ou oratórios com imagens de santos do hagiológio
católico e que estão, por tradição, ligados à vida das pessoas. Também nesse distrito há muitas
casas que ostentam uma faixa em sua porta principal com a seguinte epígrafe: “Católico,
graças a Deus!”
Os santos de devoção que marcam a religiosidade dos locais pesquisados são: Senhor
Divino, Santo Antônio, São João, São Gonçalo, São Benedito, Nossa Senhora da Conceição,
Nossa Senhora Auxiliadora e São Pedro, este último, o mais festejado, cuja festa conta com a
participação de cerca de dez mil pessoas todos os anos, oriundas de vários locais. O culto a
estes santos é exteriorizado através de missa, novenas com a oração do terço, procissão por
terra e por água, peregrinação das bandeiras e danças do siriri, cururu e de São Gonçalo.
A religiosidade é tão marcante nas comunidades de Cuiabá e Várzea Grande que
num ínfimo espaço geográfico tem-se o mesmo santo, São Gonçalo, a toponimizar três locais:
Comunidade de São Gonçalo Beira-Rio, lado esquerdo do rio Cuiabá (Cuiabá), Comunidade
São Gonçalo de Várzea Grande, lado direito do rio e Usina São Gonçalo (Várzea Grande).
Ademais, há em Cuiabá um estabelecimento educacional de grande porte, uma igreja, três
40
Sobre esse assunto Isquerdo (s/d) confirma que os fitotopônimos situam-se sempre entre as categorias mais
produtivas, quando não a primeira, em termos de ocorrência em estudos sobre a toponímia brasileira. Diz a
pesquisadora que os projetos do Atlas Toponímico do estado de Mato Grosso do Sul (Projeto ATEMS) e do
Atlas Toponímico do estado de Minas Gerais (Projeto ATEMIG), por exemplo, apontam essa categoria de topônimos como a mais produtiva (1º lugar de ocorrência), nas duas unidades da Federação cobertas por esses
projetos.
103
bairros, um córrego e um cemitério denominados, respectivamente de Colégio São Gonçalo,
Igreja São Gonçalo, Bairros São Gonçalo I, II e III, Córrego São Gonçalo que banha os três
citados bairros e deságua no rio Cuiabá na altura do Bairro São Gonçalo Beira Rio (São
Gonçalo Velho) e Cemitério São Gonçalo, existente na região que atende aos três referidos
bairros São Gonçalo e regiões circunvizinhas do distrito do Coxipó da Ponte.
Além da recorrência constatada nas mencionadas comunidades, a religiosidade
também está presentificada nos municípios de Santo Antônio de Leverger e Nossa Senhora do
Livramento, nos quais a tradição popular atribui aos seus respectivos santos padroeiros, a
motivação toponímica para a sua denominação.
Essa prática comum de os católicos usarem designações com nomes de santos
significa que estão atribuindo a eles a proteção de tal local. É como assinala Isquerdo (2006,
p. 142-143) que “dar o nome de um santo a alguém ou a algum lugar significa colocar esse ser
ou esse local nomeado sob os cuidados específicos desse santo”.
A grande incidência de hagiotopônimos na toponímia dos lugares pesquisados pode
ser justificada, sobretudo, pela tradição religiosa dos colonizadores portugueses, considerando
que Portugal é um país eminentemente católico e, ao deslocarem-se para o Brasil trouxeram
consigo a sua religiosidade e a disseminaram por todos os quadrantes em que pisavam, pois
não se pode ignorar que o Brasil nasceu sob o signo da Cruz e da Fé.41
A relevância da taxe dos hagiotopônimos é assim enfatizada por Dick (1990, p. 311):
A razão de ser dessa toponímia de origem religiosa encontra no
homem, ou no denominador, a sua expressividade, objetiva e concreta.
Legítimo produto de uma mentalidade de época, liga-se a todo um
processo subjetivo de reflexão, muito mais próximo, portanto, do
intangível, que das manifestações reais do mundo sensível, a cercar o
ambiente natural onde o indivíduo se movimenta.
A terceira categoria em escala de ocorrência é a de zootopônimos, com 06 (seis)
topônimos, numa demonstração de que os animais também se constituem em seres
motivadores dos quais o homem lança mão para designar o seu espaço circundante.
Ao referir-se aos zootopônimos, Dick (1996, p. 356) fala da importância do animal
para a realidade cotidiana do índio, sendo comprovado esse fato através da quantidade
41
De acordo com Dick (1990, p. 312-314) o Brasil nasceu sob o signo da Cruz e da Fé. O monte Pascoal teve
seu batismo relacionado à Páscoa cristã que então se celebrava, enquanto a origem do nome da terra, Ilha de
Vera Cruz, transformado, depois, em Terra de Santa Cruz, também de natureza católica, são exemplos de
acidentes recém-nomeados à época do descobrimento e que se enquadraram na sistemática denominativa
genérica, de se buscar os motivos nas inscrições do calendário religioso.
104
elevada de zootopônimos difundidos pelo território. Para a autora, os nomes dos animais
fazem parte de uma realidade perceptível ou do mundo concreto.
Chamou a atenção a recorrência da lexia grande que nomeia os topônimos Várzea
Grande, Capão Grande, Limpo Grande, Poço Grande, Ponte do Poço Grande e Praia
Grande qualificativos que nesta pesquisa foram tipologicamente classificados como
dimensiotopônimos, ou seja, topônimos relativos às características dimensionais dos acidentes
geográficos, como extensão, comprimento, largura, espessura, altura e profundidade. Esse
atributo, no caso específico de Várzea Grande, é sugestivo de poder, influência e ostentação,
levando a crer, numa leitura empírica rasa, que o seu denominador, assim como seus
cidadãos, querem enaltecê-la pelas suas riquezas materiais e pelo seu potencial humano e, por
essas razões, querem exteriorizar que a referida localidade e todos os seus acidentes físicos e
humanos, são importantes.
No decorrer deste trabalho, buscou-se destacar a relevância do nome e do ato de
nomear tanto para pessoas quanto para países, lugares e bens do domínio público. Nomear e
legalizar o espaço é essencial para a evolução da humanidade considerando que o nome é o
primeiro atributo da vida civil do homem e da existência legal para os lugares.
Isso evidenciou o caráter multidisciplinar da Toponímia como um ramo da
Linguística que intersecciona-se com outras ciências que têm um compromisso com o homem
enquanto ser linguístico que usa a língua para expressar a sua cultura, comunicar o seu
pensamento e, sobretudo, relacionar-se com o outro exercitando a sua cidadania.
Embora a cana-de-açúcar também seja um produto presente na economia de
subsistência local, não se constatou sua influência na designação dos topônimos, o que leva a
crer que a repercussão socioeconômica do peixe é decisiva, provavelmente, por gerar
dividendos mais imediatos e palpáveis, uma vez que as usinas açucareiras entraram em
decadência há muito tempo e hoje desapareceram.
O levantamento e a descrição toponímica dessa região, que integra a microrregião da
Baixada Cuiabana, também denominada de Vale do Cuiabá ou Planície Cuiabana, como se
procurou fazer aqui, são muito significativos já que os nomes dos lugares trazem em si marcas
que são verdadeiros testemunhos da história de um povo, considerando que eles retratam o
seu patrimônio sócio-linguístico-cultural, além de propiciarem o conhecimento de parte das
matrizes genealógicas que formam a história linguística do cidadão varzea-grandense.
Ter esta visão a respeito de um lugar é compreender as relações que o permeiam, ou
seja, outras dimensões que extrapolam questões meramente nominativo-descritivas, pois o
topônimo condensa muitas informações, principalmente àquelas relacionadas ao homem
105
situado num determinado ambiente no qual constrói e reconstrói a sua história linguística e
sociocultural. Nessa linha de raciocínio há que se fazer muitas reflexões sobre as vivências
locais sem perder de vista o que foi prejudicado e, tampouco, a capacidade de responder aos
estímulos internos e externos com diferentes velocidades e, para que isso se torne possível a
Toponímia precisa ser estudada considerando a relação homem-espaço-nome.
106
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Elegemos como objetivos neste trabalho inventariar, parcialmente, os topônimos dos
distritos de Bonsucesso e Pai André, classificá-los sob o método taxionômico de Dick (1987,
p. 38-40), com vistas a buscar a sua possível motivação.
O suporte teórico utilizado demonstrou-se compatível com as ações planejadas e
implementadas, pois contribuiu para a elucidação da teoria linguística que fundamenta a
Toponímia como objeto de estudo.
No decorrer da pesquisa entendemos que a Toponímia é uma ciência complexa que
exige uma sólida base de erudição, uma metodologia apropriada à investigação e domínio nas
áreas de Filologia, Dialetologia, História, Geografia, Paleografia, Etnologia, Religião, dentre
outras. Isso porque uma investigação toponímica não se restringe somente à questões
linguísticas, ela possui vínculos interdisciplinares com outras ciências que lhe auxiliam na
análise de seu objeto, o topônimo.
Contudo, necessário se faz esclarecer que mesmo com tais domínios, muitas dúvidas
persistem, muitos equívocos são cometidos, porque nem sempre o topônimo se apresenta de
forma transparente, o que dificulta, em muito, a sua correta categorização. São topônimos
que, no dizer de Dick (s/d), se mostram desvinculados do motivo gerador da denominação;
não apresentam, muitas vezes, relação com a paisagem que os acolhe, não trazem o
continuum denominativo necessário para marcar a tradição local do uso, significam, nesses
casos, unidades lexicais virtuais, sem vínculos referencializáveis.
Foi possível constatar, também, que a Toponímia está presente na vida de todos, pois
está intimamente relacionada com as matrizes histórico-culturais que se constróem em torno
de um lugar. Ela é, portanto, a fonte de referência para a compreensão da história de uma
localidade, por retratar a sua memória coletiva ao mesmo tempo que a identifica,
considerando que o topônimo, nessa função, fala por ela.
Para o alcance dos objetivos propostos e dada à complexidade do objeto a ser
pesquisado utilizamos como procedimento metodológico uma modalidade híbrida de
pesquisa, qual seja, a de campo e a bibliográfica.
Como pesquisa bibliográfica foram estudadas as obras “A motivação toponímica e a
realidade brasileira” e “Toponímia e antroponímia no Brasil”, ambas de Maria Vicentina
Dick. Em seguida, foram analisadas as obras “Várzea Grande passado presente confrontos”,
de Ubaldo Monteiro e “Mato Grosso e seus municípios”, de João Carlos Vicente Ferreira,
107
suportes teóricos indispensáveis para a realização desta pesquisa. Agregadas a elas foram
analisadas outras obras, teses, dissertações, monografias e artigos sobre o assunto visando
obter subsídios para a composição deste trabalho.
No tocante à pesquisa de campo, foi feito o levantamento toponímico de Bonsucesso e
Pai André utilizando-se, para tanto, entrevista gravada, precedida de questionário. Este foi
aplicado a 03 habitantes de cada localidade que nela sempre residiu, com idade a partir de 65
anos e que soubesse narrar a história do local e adjacências. Ao todo, foram 02 entrevistas
com essas pessoas. Todavia, no decorrer da pesquisa entrevistei, sem gravação, o historiador e
diretor da escola estadual de Bonsucesso, o presidente da Associação de Moradores, algumas
tecelãs, proprietários de peixarias, pescadores, comerciantes e demais moradores. Em Pai
André, além das referidas entrevistas, conversei com o presidente da Associação de
Moradores, com pescadores, pequenos comerciantes e com a diretora da escola. Vale
consignar que todas essas comunicações foram direcionadas quanto aos objetivos da pesquisa.
Ao todo, foram inventariados 72 (setenta e dois) topônimos. Parte deles consta na
história oficial de Várzea Grande, na citada obra de Ubaldo Monteiro e parte foi levantada
através de relato oral e constatação in loco. Após, foi registrada a informação histórica de
cada topônimo e sua classificação taxionômica. Em seguida, concluiu-se a análise do corpus
com a elaboração de uma Ficha lexicográfico-toponímica que serviu como instrumento para
orientar a pesquisadora dando-lhe a possibilidade de analisar o topônimo segundo a sua
motivação que pode estar relacionada a características do espaço físico, a crenças, à cultura
ou a sentimentos do próprio denominador.
Essa ficha é de fundamental relevância no estudo toponímico, pois o levantamento
dos dados para a sua montagem é, no entendimento de Andrade e Cavalcante (2009, p. 866-
867), um estímulo para o saber-conhecer a história da própria comunidade, compreender a
cosmovisão individual e coletiva que forma a identidade cultural e linguística de um povo.
Por essas vantagens, julgamos oportuna a realização desta pesquisa tendo como
cenário os dois distritos, pois possibilitará a sua inserção no contexto linguístico-toponímico
do estado de Mato Grosso, o resgate de sua história sociocultural local tão desvalorizada ou
desconhecida pelas autoridades e população em geral.
Este trabalho pretende, portanto, contribuir para a Academia e para a população
levando-se em conta que o homem ao denominar os espaços (topônimos) vivencia suas
experiências e as armazena na memória e, com esse processo, preserva o patrimônio histórico
e linguístico-cultural da sociedade.
108
Realizar esta pesquisa foi uma experiência enriquecedora, pois através dela foi
possível compreender que os nomes são repositórios de significados que nem sempre se
apreende de imediato quando nos relacionamos com os lugares. Alguns têm origem obscura
em razão de não fazer parte do nosso cotidiano tanto do ponto de vista linguístico quanto geo-
histórico-cultural. Mesmo com todas essas limitações uma coisa é certa, este estudo
oportunizou-me um novo olhar em relação à Toponímia. Sei que as designações dos lugares
possuem uma função muito clara na organização social e que ao deparar com um topônimo
estabelecerei com ele uma atitude investigatória, sobretudo no sentido de querer saber que
valores/conteúdos traz consigo que o particulariza tornando-o único no universo.
Por tudo isso, temos a convicção de que os objetivos propostos foram alcançados e
que este trabalho servirá de estímulo para a realização de outras pesquisas na área da
Toponímia, a exemplo dos diversos estudos já realizados no país. Todos eles são importantes
para a consolidação da Toponímia como uma das disciplinas da ciência linguística,
destacando sua importância não só como fonte de informações dos aspectos relacionados à
localidade, como também quanto aos níveis social, econômico, político e cultural de uma
região.
Além do mais, acredita-se que esta pesquisa nas duas localidades possibilitará a sua
inserção no contexto linguístico-toponímico do estado de Mato Grosso, a presentificação de
sua história sócio-cultural local, tão desvalorizada ou desconhecida pelas autoridades e
população em geral. Pretende-se, assim, manter viva a história dos dois distritos e de seus
moradores que contribuem para o seu desenvolvimento econômico e turístico. Por fim,
oferecer à população local e demais interessados um documento científico sobre a sua história
linguística e realidade sociocultural.
109
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