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MONS. ASCANIO BRANDAO A Tibieza us Sinais, Consequênclas, Remédios. li edição 1948 lOR VOZ LOA., PERõPO, R. J. RIO DE JANEIRO - SAO PAULO http://alexandriacatolica.blogspot.com.br

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MONS. ASCANIO BRANDAO

A Tibieza

Seus Sinais, Consequênclas, Remédios.

li edição

1948

EOl'TORt\ VOZES L'TOA.., PE.'TRõPOUS, R. J. RIO DE JANEIRO - SAO PAULO

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br

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NIHIL OBSTAT i'etropoli, die li Augusti. anni �IC:\IXXXVII.

Fr. Fridericus Vier, O. F. M. Censor

IMPRIMATUR

Por com1ssao especial do Exmo. e Revmo. Sr. D. José P1reira Alves, Administrador Apostó­lico da Diocese de Petrópolis. - Frei Mateus · Hoepers, O. F. M. Petrópolis, 20 de Dezem-

bro de 1947.

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DUAS PALAVRAS

Ao anunciar a ruína do templo e os últimos dias do mundo, Nosso Senhor predisse: E porque abundou a iniqui­dade se há de resfriar a caridade de muitos. Quoniam abundavit iniquitas refrigescet caritas multorum. (Mt 24, 12).

Pa·recemos chegados a estes dias som­brios. Resfria-se a caridade, o fervor de tantas almas, enquanto a · iniquida­de cresce assustadoramente. A tibieza é o grande flagelo. E' o espinho mais doloroso do Coração de Jesus. Sobre­tudo a tibieza das almas consagradas a Deus, das almas outrora fjéis à graça.

-Não se presta bastante atenção à ti­bieza, esta mediocridade perigosa e fu­nesta na vida espiritúal. Dai tanta falsa piedade e esta ausência do ver­dadeiro espírito evangélico, do sentido cristão na vida de muitos devotos e devotas. O espí-rito de sacrifício, o sen­so da responsabilidade, a seriedade, a

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tremenda seriedade da vida cristã de que fala Bossuet, tudo isto anda ai tão esquecido, tão mal compreendido. Só almas fervorosas poderão salvar este mundo paganizado. Almas de elite. Al­mas de neve e corações de fogo no di­zer do Pe. Mateo. Mas elas são tão ra­ras, tão raras, meu Deus !

Que este livrinho seja uma centelha e provoque incêndios e ilumine algu­mas almas.

Eu o consagro ao Divino Coração de Jesus, fornalha ardentíssima de Amor.

Cor Jesu, flagrans amore nostri. In­flamma cor nostrum amore fui!

Coração de Jesus, todo abrasado de amor por nós, inflamai nosso coração nas chamas de vosso amor!

Junho de 1937.

MoNs. AsclNro BRANDÃo

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I. QUE E' A TIBIEZA?

A tibieza é uma doença espiritual e das mais graves e perigosas. E' o ver­me roedor da piedade. Micróbio terrí­vel! Mina o organismo espiritual, sem que o enfermo o perceba. Enfraquece a pobre alma. Amortece as energias da vontade. Inspira horror ao esforço. Afrouxa a vida cristã. Espécie de lan­guor ou torpor, diz Tanquerey (1), que não é ainda a morte, mas que a ela conduz sem se dar por isso, enfraque­cendo gradualmente as nossas forças morais. Pode-se compará-la a estas doenças que definham, como a tísica, e consomem pouco a pouco algum dos órgãos vitais. E' uma sonolência, um sistema de acomodações na vida es­piritual.

O tibio não quer lutar. Tem horror ao combate da vida cristã. Não com­preende a palavra de Nosso Senhor

1) Ascética e Mistica; 1270, Cp. IV, Tom. 11.

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8 A Tibieza.

no Evangelho: Eu não vim trazer a paz, mas a guerra!

Guerra ao pecado, guerra às paixões, guerra à indiferença.

Quem não é por mim, é contra mim!

O tíbio não compreende este radica­lismo subJime do Evangelho e da cruz. Numa palavra o define bem o Espírito Santo: é morno. Nem frio, nem quente.

Nem o ardor da caridade, o fogo do amor, nem o gelo da descrença e da impiedade e da morte da alma.

A tibieza é uma inércia espiritual. Um estado lamentável da alma.

E' a mediocridade que se contenta com não ofender a Deus pelo peca­do mortal, mas não quer evitar o pe­cado leve, fugir do relaxamento na vida espiritual.

Enfim, para defini-la com precisão e distingui-la do que a ela apenas se assemelha, como a aridez e outras pro­vações da vida espiritual, vamos dar a sua

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Que é a Tibieza

Definição

A tibieza define-a S. Afonso pelo que a caracteriza : o pecado venial. ·

A tibieza, diz o Santo Doutor, é o há­bito do pecado venial plenamente vo­luntário.

Guardemos bem esta definição.

Para a tibieza essencial, são necessá­rias três condições:

1. O pecado venial plenamente vo­luntário;

2. O hábito do pecado venial volun­tário;

3. A paz com este hábito e a ausên­cia de esforços para se corrigir.

Desde que falte uma destas condi­ções, já não há tibieza propriamente dita.

Uma alma talvez caia de vez em quando nalguma falta venial. Cai por fragilidade, por miséria. Emenda-se lo­go. Toma boas resoluções, corrige-se. Todavia é tão grande a fraqueza hu­mana! Uma vez ou outra chora uma falta venial.

Não é tibieza.

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10 A Tibieza

Houve o pecado venial, mas não o hábito do pecado venial e muito me­nos ainda a paz com o pecado venial.

Há esforço, generosidade, boa vonta­de, arrependimento sincero.

O Pe. Desurmont (1) define a tibie­za, comentando admiràvelmente S. Afon­so: "A tibieza é o hábito não comba­tido do pecado venial, ainda que seja um só. E' um hábito fundado num cál­culo implícito: ---'--- Esta falta não ofen­derá a Nosso Senhor gravemente, não me há de condenar. Pois vou cometê-la.

E' um ato dificílimo de se desarrai­gar da alma. E' um hábito muito es­palhado sobretudo entre as pessoas que fazem profissão de piedade e entre as almas consagradas a Deus.

Espécies de tibieza

A tibieza pràpriamente dita é a que definimos - o hábito do pecado venial voluntário e a paz com este hábito. Há, entretanto, outras espécies de tibieza.

1. A tibieza de fragilidade e irrefle­xão. Até os Santos a experimentaram.

1) La fidélité à J ésus Christ.

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Só a Virgem Imaculada não a teve. Nosso Senhor permite nos Santos algu­mas fragilidades e misérias, para con­servar neles as virtudes fundamentais da humildade, a desconfiança de si, a compaixão para com as misérias alheias, o desapego da terra e o desejo do céu.

Oh! os santos tiveram as suas peque­nas fragilidades e misérias.

Como se humilhavam! Um dia S. Vicente de Paulo, num ato

irrefletido de amor próprio, envergo­nha-se de um parente pobre!

Como se humilhou perante seus ir­mãos por esta falta!

S. Teresinha, no leito de morte, sen­te-se pobrezinha e imperfeita com uma fragilidade: "Como sou feliz, diz ela, vendo-me tão imperfeita e com tanta necessidade da misericórdia do Bom Deus no momento da morte" (1).

Bernadette, o anjo de Lourdes, la­menta as suas imperfeições, a teimosia que a humilhava tanto.

S. Catarina Labouré lamenta igual defeito.

1) Novissima Verba, 29 de Julho.

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Guido de Fontgalland expia no leito de dores o que ele chamava as suas preguiças.

Poderia multiplicar os exemplos.

São as misérias inerentes a esta po­bre natureza humana.

A perfeição inteira e absoluta não se encontra neste mundo. O Concílio de Viena condenou o erro dos que afir­mavam que o homem, nesta vida mes­mo, pode adquirir um tal grau de per-. feição, que se torna impecável e inca­paz de progredir na virtude. Tal foi também o erro dos Iluminados.

O Concílio de Trento é mais claro ainda. Condena quem disser que o ho­mem pode, durante esta vida, evitar as mais pequeninas faltas, a não ser por um privilégio especial de Deus. E este privilégio só o teve Maria Santíssima (Sess. 6, can. 23) .

A tibieza de fragilidade é inevitável. Não nos perturbemos com ela. Recorra­mos à oração, aos sacramentos e sobre­tudo à Santa Eucaristia, e nos purifi­caremos sempre destas fragilidades e misérias. Depois temos a

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2. Tibieza da vontade. E' mais gra­ve que a de fragilidade.

E' a vontade enfraquecida. Deus a permite para confusão de nosso orgu­lho e melhor nos convencer de nossa miséria. Um firme propósito, um gesto de arrependimento sincero, com a re­solução de se vigiar com mais cuidado, e tudo está reparado.

A tibieza de vontade é fàcilmente re­mediável.

Finalmente a 3. Tibieza do pecado venial voluntá­

rio e habitual e é desta que aqui vi­mos tratando.

Sinais da tibieza

Os sinais da tibieza em geral são os oito seguintes:

1. Omissão fácil das práticas de pie­dade. A alma fervorosa tem a sua vida de piedade toda dirigida por um regu­lamento particular fácil de ser obser­vado e bem criterioso.

Não omite fàcilmente qualquer prá­tica de piedade. E' de uma fidelidade extrema, sobretudo à meditação. Se gra­ves ocupações ou verdadeira necessida-

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de a impedem, procura, logo que seja possível, suprir a falta. A alma · tíbia sob qualquer pretexto omite os exercí­cios de piedade, passa dias sem medi­tação, e até mesmo sem práticas de piedade de qualquer espécie.

Ora, isto é exatamente o contrário do fervor. "Não digo que isto prove tudo, diz o Pe. Faher (1), mas prova muito. Seja como for, sempre que existir ti­bieza, existirá este sintoma".

2. Fazer o.� exercícios de piedade com negligência. Na tibieza também há ora­ção, missas, confissões, comunhões, ter­ços, etc., mas a rotina vai inutilizando tudo. A rotina e a má vontade. Confis­sões e comunhões mal preparadas, ora­ções com inúmeras distrações voluntá­rias. E o pior ainda a falta de genero­sidade e de todo esforço para se cor­rigir.

3. Outro .�inal de tibieza é a alma sentir-se aborrecida com o pensamento dP que tudo vai mal na sua vida espi­ritual. Não se sente inteiramente à von­tade com Deus. Não sabe exatamente

1) O Progresso na vida espiritual. - Trad. (Cap. XXV).

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onde está o mal, mas tem certeza de que tudo não está em ordem. E' um mau estar, um aborrecimento interior. E, sem paz, o tíbio se agita inutilmente e vai deixando arraigar-se-lhe no cora­ção o hábito do pecado venial.

Este sinal anda sempre com os dois primeiros. Desde que faltou generosi­dade numa alma para ser fiel aos seus deveres de piedade, estas omissões e ne­gligências acabam deixando-a num es­tado lamentável de aborrecimento das coisas santas e até de Nosso Senhor.

4. O quarto sinal é agir sem pureza de intenção, .�r.m ordem nem método. A pureza de intenção consiste em fa­zermos com um fim honesto e sobre­natural todas as ações de nossa vida: práticas de piedade, deveres de esta­do, trabalhos de cada dia ou qualquer coisa por mínima que seja. E' aquele olhar interior sempre fixo em Deus e desviado das criaturas.

Tudo fazer para a glória de Deus, e ver

· em tudo a vontade de Deus e a ela

se submeter com espírito de fé e resi­gnação.

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Eis a mais pura intenção que se pode imaginar, o mais elevado princípio e o mais perfeito ideal de uma alma fer­vorosa.

Os santos não tinham outro motivo nem visavam outro fim na terra.

S. Madalena de Pazzi sentia-se arre­bata da em êxtase, ouvindo esta pala­vra: - A vontade de Deus!

S. Inácio legou à Companhia de Je­sus, como rica herança, o seu lema : A. M. D. G. - Ad majorem Dei gloriam - Tudo para a maior glória de Deus !

A pureza de intenção é a alquimia celeste que transforma em ouro de mé­ritos para o céu todas as nossas boas obras. Sem ela, perdemos cada dia ri­quezas incomensuráveis.

A alma tíbia faz tudo por amor pró­prio e capricho, seguindo em tudo a natureza.

E' a leviandade, a preocupação da vontade própria, os cálculos muito hu­manos, a vaidade quando faz o bem, o desejo de agradar às criaturas e de aparecer.

Anda à cata de louvaminhas e abor­rece o sacrifício oculto, a abnegação e

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outras virtudes que não brilham aos olhos das criaturas e constituem o se­gredo (lo Rei!

E Deus recompensa as nossas ações, diz Santa Madalena de Pazzi, a peso de pureza de intenção.

Oh! como a tibieza rouba e despoja a pobre alma, quando lhe arrebata a pureza de intenção I

5. Contentar-se com a mediocridade e negligência em formar hábitos de vir­tude. Se a mediocridade já é desastra­da na ciência, na literatura e na arte, o é em proporção verdadeiramente ca­lamitosa quando se trata da prática da virtude.

O medíocre não gosta da palavra: Santidad_e. Não compreende o heroismo das almas generosas, a abnegação, o sa­crifício. Para ele, a virtude heróica é o exagero!

A santidade é um misticismo! E que entende por misticismo? Algo de lou­cura e de anormal.

Contenta-se com o meio termo. E as­sim não se esforça por adquirir hábi­tós de uma virtude sóli(la.

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6. O desprezo das pequenas coisas. Os santos fugiam das menores imper­feições, e se purificavam cada dia das pequeninas faltas. O tíbio, não. Ri-se do que ele chama escrúpulo das almas fervorosas: - a fidelidade nas peque­nas coisas.

E não nos esqueçamos destas gran­des verdades: primeira - os santos se tornaram santos pela repetição con­tínua duma multidão de ações insigni­ficantes, pelo cuidado infatigável das pequeninas coisas. E segunda: - só fi­zeram eles grandes coisas quando che­garam à santidade.

Os pequeninos sacrifícios ocultos, as pequeninas cruzes, as pequeninas vir­tudes, as pequeninas mortificações, tu­do isto a cada dia, a cada minuto, aceito com generosidade, como santifi­ca uma alma! E' o caminho batido de S. Teresinha, a pequenina via da Infân­cia espiritual.

Que fonte riquíssima de graças! A tibieza, porém, seca esta fonte, es­

teriliza a vida espiritual, sonha com êx­tases e comete cada dia o pecado qua­se sem remorso. E os pecados ve-

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mais, sob o disfarce de pequeninas fal­tas inevitáveis à fraqueza humana, vão se multiplicando assustadoramente na alma e alimentando a tibieza até ao pecado mortal e, sabe Deus, até ao en­durecimento do coração!

E' muito grave desprezar habitual­mente as pequeninas coisas. S. Gregó­rio chega a dizer que se deve ter mais receio das pequenas faltas que das gran­des. Porque estas provocam logo o ar­rependimento e causam horror; aque­las não assustam, e vão preparando sur­damente a ruina espiritual. E, o que é pior, sem remorso da consciência, e até sob a capa da virtude.

7. E' pensar mais no bem já feito do que no bem que ainda resta a fazer. E. uma presunção que leva a descan­sar e afrouxar no caminho do sacrifí­cio e da virtude, porque julga ter feito alguma coisa no passado para a salva­ção. Nada de esforço e generosidade. Nosso Senhor dizia no seu Evangelho que, depois de termos feito muito, de­veríamos dizer : - somos servos inúteis.

E prosseguir na luta, porque o ideal

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20 A Tibie:tá

da perfeição é o Infinito: "Sede perfei­tos como vosso Pai Celeste é perfeito".

A tibieza, como já dissemos, contenta­se com a mediocridade. Julga ter feito muito a alma tibia, porque no passado foi bem fervorosa e trabalhou pela sua santificação, lutou, praticou boas obras de zelo e de caridade, sacrificou-se na luta do bem. Agora, quer repouso. Des­cansa, não luta mais, deixa-se ficar na indolência e faz de seu coração o cam­po do preguiçoso. S. Paulo pensava jus­tamente o contrário: "Irmãos meus, não considero que alcancei o prêmio, mas uma coisa eu faço: esquecendo o que está atrás de mim, esforçando-me por alcançar o que está na minha frente, prossigo até ao alvo, para alcançar o prê­mio para o qual me chamou do Alto por Cristo Jesus. Sejamos nós, quan­tos queremos ser perfeitos, do mesmo espírito" (Filip 3, 13).

O tíbio não se compara aos mais santos e fervorosos, mas sempre se jul­ga melhor do que tantos outros piores do que ele.

E é assim que adormece tranquila­mente. Não quer progredir na virtude.

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Que é a Tibieza 21

S. Gregório compara a vida cristã a uma barca em que se navega contra a corrente. Quem sobe, há de remar sem­pre, ou é arrastado pela correnteza.

S. Agostinho, no seu estilo incisivo e claro, assim faln: - "se dizes: bmta, e.�tás perdido!"

Sim, no dia em que se cruzam os braços na luta pela santificação da al­ma, tudo está perdido! Adeus, santifi­cação, e talvez: Adeus, salvação eterna!

S. Bernardo pergunta: - Não quereis adiantar? Dizeis: - quero ficar e viver onde cheguei? Quereis o impossível!

O demônio, diz S. Teresa, conserva muitas almas no pecado ou na tibieza, fazendo-as crer que é orgulho aspirar à santidade.

Que perigosa ilusão! Lembrem-se os tíbios, sobretudo se já receberam gra­ças de Nosso Senhor, como por exem­plo sacerdotes, religiosos e almas con­sagradas a Deus, oh! lembrem-se de que é terrível abusar da graça e muitas al­mas chamadas ti santidade, diz o Pe. Desurmont, baseado em S. Afonso, ou se salvam como santos ou arriscam a sua eterna salvação.

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22 A Tibieza

Escreveu o Santo Doutor: Se alguém na vida religio.m (e poderíamos acres­centar: na vida de piedade) quer se salvar. mas não como santo, corre o risco de se perder (1).

Todos estes sinais de tibieza andam em geral com este último e infalfvel:

8. Pecado venial voluntário e habi­tual. Os outros sinais podem ser atenua­dos ou alguns falham, mas este é in­falível. Onde existe o hábito do pecado venial, existe .. tibieza com todo o cor­tejo de males c desgraças que ela acar­reta à vida espiritual.

O pecado venial

Embora em grau inferior, o pecado venial oferece, todavia, os mesmos ca­racteres de malícia que o pecado mortal.

A rainha Maria Teresa de França, es­posa de Luís XIV, chorava uma falta venial. A delicada consciência da Prin­cesa a deixava inconsolável.

- Como?! - disseram-lhe - tanta lágrima, por uma falta leve, um pe­cado venial?!

1) La volonté de se sauver en saint - Pe. Desunnont.

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Que é a Tibieza 23

- Sim, pode ser venial, mas é mor­tal para -o meu coração! Tudo quanto ofende a Nosso Senhor nunca é leve ou coisa de somenos importância para uma alma fervorosa.

E o pecado venial é uma ofensa a

Deus. Há nele três circunstâncias agra­vantes:

1) Uma injúria à Majestade Divina,· 2) Revolta contra a Autoridade de

Deus ,· 3) Ingratidão à Bondade Eterna. Deus, em cuja presença estamos, é

ofendido e por uma bagatela, um ato de preguiça, uma vaidade, uma deso­bediência!

Não desprezemos o que fere tanto ao Sagrado Coração de Jesus!

O pecado venial ofende a Deus. E não basta para que o aborreçamos?

Seja venial, embora, mas sempre é mortal para nosso coração e para a de­licadeza de nossa consciência.

E' uma injúria à Majestade Divina. Num dos pratos da balança coloca­

mos a vontade de Deus e a sua glória, e no outro, o nosso capricho e nosso prazer, e ousamos preferi-los a Deus I

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Que ultraje! Diz S. Teresa: E' co­mo se se dissesse: Senhor, apesar de esta (lção Vos desagradar, não deixarei de a fazer. Não ignoro que a vedes, sei perfeitamente que a não quereis; mas prefiro a minha fantasia e a minha in­clinação à vossa Vontade.

E seria coisa sem importância pro­ceder desta forma?

"Quanto a mim, acrescentava a San­ta, por mais leve que seja a falta em si mesma; acho pelo contrário que é grave e muito grave" (1) .

Não cometamos o pecado venial de­liberado sob o pretexto de que não ofende a Deus gravemente. E• pecado, e basta isto, para ser objeto de nosso ódio.

O pecado venial é uma revolta con­tra a Autoridade Divina.

E' como se disséssemos a Nosso Se­nhor : "Quero vos obedecer, Senhor, más quando esta obediência não me abor­recer e quando me agradar e quando eu hem quiser".

Isto é obediência?

1) Caminho da Perfeição, cap. XLI.

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Que é a Tibieza 26

Não é uma InJ ur1a e um desrespeito à Autoridade Divina?

Mas, o que é mais triste no pecado venial é a ingratidão sem nome que ele encerra. Desta ingratidão queixou­se Nosso Senhor a S. Margarida Maria, mostrando-lhe o seu Divino Coração rasgado pela lança e cercado de uma coroa de espinhos.

Estes espinhos eram a imagem das almas ingratas, sobretudo almas consa­gradas a Deus que vivem na tibieza. São as que mais ferem o Sagrado Co­ração do Bom Jesus.

Uma injúria à Majestade Divina. Uma revolta contra a Autoridade Di­vina. Uma ingratidão à Divina Bon­dade! Meu Deus! Meu Deus! Isto é leve?

Oh! combata mos o pecado venial de­liberado.

"Eu me lançaria num oceano de cha­mas se fosse preciso, dizia S. Catarina de Sena, para evitar um só pecado ve­nial, e preferiria permanecer neste fo­go a dele sair por um só pecado ve­nial".

Exagero? Não. Os Santos sabem me­lhor a valia r o que é uma alma, o que

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26 A Tibieza

é um Deus ofendido e o que é uma eternidade que se arrisca!

Estejamos prontos, se for preciso, a

padecer e morrer, mas não cometer um só pecado venial! Oh! quem nos dera tão bela disposição!

Castigos do pecado venial

O pecado venial é punido severamen­te pela Justiça Divina e tis vezes com terríveis castigos!

A mulher de Lot se transforma em estátua de sal por um pecado venial de curiosidade. Moisés é privado da conso­lação de ver a terra prometida por um pecado venial de desconfiança. Qua­renta e dois meninos, porque zombaram do profeta Eliseu, são punidos e mor­tos pelas feras. Ananias e Safira, ful­minados por um pecado venial de men­tira!

E pode-se dizer ainda que o pecado venial é de pouca importância?

Deus o castigaria assim com tanta severidade?

São castigos temporais. Mais terriveis, porém, sãos os casti­

gos espirituais.

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Consequências e Males da Tibieza 27

O pecado venial leva ao abuso da graça. E quando se abusa da graça, a fonte das graças vai secando!

Ai! em .que abismos se precipita quem abusa da misericórdia e esbanja o tesouro da graça!

Cuidado! Tremei! Nada tão grave e de maior responsabilidade como o em­prego da multidão de graças que Nosso Senhor nos prodigaliza cada dia!

"As contas das graças, diz S. Afon­so, são maü .�evera.'l que m dos próprios pecados!"

E o pecado venial, sobretudo o há­bito do pecado venial, eis ai também o estado de contínuo abuso da graça! E Deus ofendido, por castigo, retira a sua graça ou vai dá-la a outros.

Haverá mais tremendo castigo?

11. CONSEQU�NCIAS E MALES DA TIBIEZA

A tibieza tem consequências funestas na vida espiritual e acarreta para a alma os males do pecado venial.

-1) Aborrece Deus Nosso Senhor e o obriga a nos abandonar. Que terrível sentença aquela do Apocalipse I O Bispo

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de Laodiceia caíra na tibieza. E S. João, em nome de Deus, lhe manda dizer: Eu conheço as tuas obras: porque não és frio nem quente (Apoc 3, 15).

Conheço as tuas obras! Havia, pois, algum trabalho, alguma virtude naque­le homem. Não era de todo mau. Mas .. . não era frio nem quente. Era tíbio, mor­no, frouxo, algo indiferente na obra da sua santificação.

Faltava-lhe o fogo da caridade. · E como o Senhor castiga, e com ele,

a toda alma no lamentável estado de tibieza?

"Antes fosses frio ou quente/" Como? Deus prefere também o gelo

do pecado e da morte da alma à vida enlanguescida e agonizante da alma tí­bia? ...

Sim! Utinam frigidus esses aut cali­dus! Antes fosses frio ou quente!

E aí vem o castigo: Mas porque não é.-; frio nem quente, eu começo a te vo­mitar de minha boca.

Que castigo tremendo! Deus rejeita a alma tíbia como nosso estômago vomita a água morna ou um alimento que pro­voca náuseas.

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A tibieza aborrece a Nosso Senhor e o obriga a nos abandonar à nossa pró­pria sorte, ao nosso capricho e orgu­lho, à nossa grosseira sensualidade.

Não há maior castigo. E' a mais fu­nesta das consequências da tibieza e a origem de todos os males.

Meditar o texto de S. João no Apoca­lipse e trazê-lo sempre na memória e gravá-lo no coração!

2) A tibieza enfraquece a alma.

E a enfraquece de três maneiras. Afasta-nos a graça, fortifica os inimi­gos da alma e abre o coração para aquele mau uso das criaturas de que nos fala S. Inácio nos seus Exercidos espirituais;

Na tibieza, a pobre alma contrai uma enfermidade perigosa que a vai depau­perando dia a dia, e fazendo perder as energias.

Quando S. Tomás e S. Afonso compa­ram a tibieza à tuberculose, dão bem uma ideia da gravidade daquele morbo espiritual.

O tuberculoso sente-se enfraquecer dia a dia, minado por uma febrezinha

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impertinente que o vai consumindo. A tibieza produz a febre do orgulho e do amor próprio, febre da vaidade, febre da sensualidade e de mil pequenas fal­tas e infidelidades. E a pobre alma vai caminhando para o túmulo do pe­cado mortal e do hábito do pecado.

A estAtua de Nabucodonosor era bela e gigantesca. Cabeça de ouro, peito de prata, ventre de bronze, pernas de fer­ro e pés de ferro, argila e barro.

Rola uma pedrinha da montanha, e bate violentamente nos pés de barro. Toda a mole imensa da estátua veio a baixo.

Bela estátua é a da alma no estado de graça!

Mais rica e preciosa que a estátua de Nabucodonosor. Entretanto, às vezes, ai! tem o pedestal de uma matéria frágil: - o barro do pecado venial, o barro da tibieza. Aí vem uma pedrinha de uma ocasião perigosa, de uma tentação grave, e .. . rola toda uma vida de es­piritual e se destrói todo um passado de virtudes até heróicas. O inferno ba­teu no ponto fraco, e venceu.

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3) A tibieza é o caminho do pecado m{)rtal.

Diz S. Gregório: Ordinàriamente não nos tornamos maus de repente. Não pas­samos subitamente do fervor ao peca­do mortal. E' mister uma escada, é a tibieza; um ponto de apoio: a tibieza. Se não desceis um degrau desta escada e dela fugis, estais salvos.

A experiência demonstra que dificil­mente se ficará muito tempo no hábito do pecado venial deliberado, sem se chegar ao pecado mortal. Não quer di­zer isto que uma multidão de pecados veniais faça um pecado mortal; mas, a facilidade em cometer o pecado ve­ni!}l prepara a alma e a dispõe a cair fàcilmente no pecado mortal.

Quem despreza as pequenas coisas, cairá pouco a pouco, diz o Espírito San­to (Ecli 19, 1).

Aplicando este texto às almas tibias, diz um intérprete que as almas per­dem em primeiro lugar a devoção. De­pois vão passando das faltas leves, que consideram sem importância, às faltas graves, aos pecados mortais, e do esta­do de graça passam ao estado de pecado.

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ai! A Tibiezá

Quem comete fàcilmente o pecado venial, dificilmente escapará dos peca­dos mortais, afirmam experimentados mestres da vida espiritual.

"Por um justo castigo de Deus, diz S. Isidoro, os que fazem pouco caso dos pecados veniais, das faltas leves, vêm a cair um dia nos maiores pecados".

S. Agostinho tem uma fl'8se que deve merecer de nós sérias reflexões. O pe­cado mortal é, segundo ele, uma mon­tanha que esmaga, que ma ta, e os pe­cados veniais, grãos de areia. Aconte­ce, porém, que o desprezo das faltas leves faz com que a alma venha a pe­recer como estes infelizes, que morrem sufocados sob um montão de areia. E' verdade que só o pecado mortal dá morte à alma, e os pecados veniais, por mais numerosos que sejam, não nos podem tirar a graça santificante. Mas, diz S. Gregório, o hábito dos pecados veniais tira aos nossos olhos a malicia do pecado grave, e em breve não re­ceamos mais passar das faltas mais le­ves aos maiores pecados.

O mal da tibieza é tirar a sensibili­dade, a delicadeza de consciência. E

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haverá um estado mais lastimável de alma que essa cegueira de coração?

As crônicas do Carmelo contam que n Vcncrúvcl Sórm· Ana dn Encl'1rnn�;ão viu um dia no inferno uma alma que na terra foi tida como pessoa de certa virtude. Ora, a infeliz, no suplício eter­no, tinha o rosto coberto de insetos que representavam as inumeráveis faltas ve­niais de que estava culpada. E destas, umas lhe diziam: Por nós começaste! E outras enfim: por nós te perdeste!

Não é esta, porventura, a sorte de tantas almas? Numa visão terrivel foi revelado a S. Teresa o lugar que lhe seria reservado no inferno, se, despre­zando a graça, se deixasse levar por uma falta leve, que depois, multiplica­da, a levaria ao abuso da graça, ao pe­cado e à condenação final. Oh! e diz­se que o pecado venial é de pouca ou nenhuma importância! E vive-se e dor­me-se tranquilamente no estado de ti­bieza ! Que cegueira!

4) A tibieza leva à cegueira espiritual.

As moléstias corporais costumam ser imagem das moléstias da pobre alma. Se procurarmos uma imagem feliz da

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tibieza, encontrá-la-emos na cegueira. A tibieza é uma cegueira, escreve o pie­doso oratoriano Pe. Faber, cegueira que não conhece a si mesma, não suspeita o seu estado, nem admite que outros tenham melhor vista. E' uma cegueira judicial, porque um dia houve em que viu melhor e agora não se lembra mais do que viu nem mesmo que tinha olhos.

Esta cegueira vem de três causas: os pecados veniais frequentes, a dissi­pação do e.'lpírito e a paixão dominan­te. Sobretudo a paixão dominante. Esta é uma violência externa, que nos leva a fechar os olhos e conservá-los assim para nos lançar no abismo. E a consciência neste estado de cegueira se falsifica, não tem mais equilíbrio, não tem firmeza. Daí as trevas e que trevas espessas!

E nesta escuridão, os maus instintos do espírito humano, diz ainda o Pe. Fa­ber, como corujas noturnas, se tornam mais animados e ativos. E' um des­pertar de maus pensamentos, de pai­xões que já se julgavam mortas. Já não há mais aquele horror ao pecado. A moleza dos costumes, o comodismo, a vida sensual, leviandades repetidas, cer-

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ta amargura secreta do próximo, fal­tas de caridade, mentiras, maledicên­cias, enfim o orgulho e a sensualidade, aves noturnas agourentas, anunciam a morte próxima da infeliz alma tíbia.

Finalmente, vejamos o pior dos ma­les, a mais tremenda consequência da tibieza.

5) A tibieza prepara a impenitência final.

Será possível? dirá alguém. Sim, a experiência o tem provado

mil vezes. Tibieza é o abuso da graça, e o abuso da graça teve quase sempre, como consequência última, a impeni­tência final.

Deus non irridetur! - Com Deus não se brinca !

Conheceis a palavra de S. Paulo? A terra que bebe muitas vezes as águas

da chuva e que só produz cardos e es­pinhos, está reprovada e próxima da maldição. Será entregue ao fogo e re­duzida a cinzas (Hb 6, 7) . Deus nos chama, bate, bate mil vezes à porta do coração. E' desprezado.

Ai! um dia o candelabro da graça com todas as suas luzes será transportado

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para outro lugar: Eu mudarei teu can­delabro (Apoc 2, 5). E ai! meu Deus! Pobre alma! O abismo da impenitência final a espera. E ela sorri presunço­sa, dorme tranquila na inconsciência, na cegueira do seu lamentável estado!

Conheceis a história dolorosa de Ter­tuliano? Um apologista famoso, um ba­talhador pela causa da Igreja! Uma obstinação, uma falta de docilidade à Igreja, e ei-lo na heresia e na heresia morre. . . Lamennais fulgurava com to­do o seu talento na Igreja de França. Em torno deste homem, a flor do pen­samento católico se congrega para ou­vi-lo como a um oráculo. Que gênio! Diretor de almas como raramente se viu outro! Entretanto, um orgulho secreto de sábio o vai minando. A vaidade tal­vez de se sentir grande, admirado, um oráculo da Igreja de França. Havia nele uma tristeza que impressionava o Pe. Lacordaire, seu amigo. Veio a provação, a hora da luta, a prova de fogo. Ei-lo revoltado, inimigo da Igreja, blasfema­dor, herege e apóstata.

Até à hora da morte renega tudo quanto amou e pregou e defendeu com

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ardor. A sobrinha, toda aflita, lhe per­gunta quase à hora da morte: - Meu tio, meu tio, queres um padre, não é? Um padre, meu tio . . . Lamennais, obsti­nado, responde com aspereza : - Não.

Insiste a sobrinha. - Não! não e não! deixem-me em

paz! No dia seguinte, 27 de Fevereiro de 1854, às 9 horas da manhã, expirou o desgraçado na impenitência final.

O que preparou tamanha ruína? Oh! sem dúvida a tibieza. Uma alma

fervorosa não tocaria jamais assim o fundo do abismo.

A história de muitas apostasias e es­cândalos que amarguram a Igreja, não teve muita vez a sua origem na tibieza! Ninguém cai de repente. Ninguém che­ga à impenitência final sem uma vida tíbia no começo.

Eis as lamentáveis e muitas vezes ir­remediáveis consequências da tibieza.

Despertemo-nos por amor de Deus, por amor da nossa pobre alma, desper­temo-nos deste sono perigoso!

Desanimar? Seria pior. Confiança I A confiança faz milagres. A enfermidade é gravíssima e parece mesmo incurável.

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Entretanto, um bom regime, um bom médico, um bom clima, a podem curar.

O bom médico: um confessor zeloso e experimentado, bem santo e bem enér­gico. O bom clima: um meio fervoroso, a companhla de almas piedosas e san­tas, uma atmosfera onde se respire o sobrenatural.

E um bom regime: a volta decidida, enérgica, constante, às práticas de pie­dade. Custe o que custar. E a mortifi­cação. Sobretudo o regime eficaz da oração. A oração mental. Princip�lmen­te a oração mental. E esta parece mes­mo o remédio específico.

III. REM�DIOS DA TIBIEZA

A tibieza parece um mal incurável e o é realmente, não porque haja na vi­da espiritual doenças incuráveis, mas porque afeta a vontade, tornando-a fra­ca e rebelde, surda à voz da graça. E, geralmente, o tíbio não se considera como tal. Ignora o mal que o vai per­dendo. E esta ignorância, esta obstina­ção, esta cegueira que acompanham a tibieza, a fazem um mal incurável. En­tretanto a graça tudo pode.

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A cura da tibieza é um milagre, mas no mundo espiritual a graça opera mi­lagres cotidianos. Alguns remédios apon­tam os autores para a salvação de uma alma tíbia.

1.0 remédio: Descobrir a tibieza. Esta descoberta se faz pela medita­

ção e o exame de consciência. Desco­brir que somos tíbios é uma graça e das maiores e o presságio de uma cura miraculosa. Estaremos, porém, perdidos se não agirmos logo com vigor, com prontidão e energia ao fazermos esta assustadora descoberta. Ao perceber este estado de alma, logo sem demora re­correr à oração e mãos à obra.

2.0 Remédio: Fazer o que foi omitido e fazê-lo bem.

A omissão das práticas de piedade foi a causa da tibieza. Pois bem. E' preciso fazer sem demora, com energia, tudo o que se omitiu, custe o que custar.

E' difícil! Sim, mas não é impossível. Experimentar pelo menos um dia, de fi­delidade absoluta e intransigente a to­das as práticas piedosas abandonadas. Há de se ver a dificuldade diminuir. De­pois, entrar na luta contra a preguiça, a

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rotina, o mau hábito. Não obstante as muitas omissões, não desanimar. Nada tão dificil como voltar à prática dos exercícios da vida espiritual, sobretudo se de há muito vêm sendo omitidos. A custa de esforço, de luta e de oração se consegue alguma coisa. Oh I qut: a•, menos não falte a boa vontade. Já é alguma coisa. Faça-se um pouco hoje, depois mais um pouco. . . Quem sabe? Coragem! Confiança I

3.0 Remédio: Fazer tudo com métod9 e com pureza de intenção.

Para o método, nada melhor que um bom e criterioso regulamento particu­lar, e neste marcar a hora da medita­ção e fazê-la custe o que custar. Com isto, é certo, se há de salvar o tibio. Tibieza e meditação não podem anda ;•

juntas. Uma ou outra há de perecer. In meditatione tua exardescet ignis,

diz o profeta David. Na meditação se abrasa o fogo da caridade, que é o fer­vor. Da pureza de intenção já falámos. Resta praticá-la .

. !_o Remülio: jjJ edilciÇ('io colidiena. Todos os outros exercícios de pieda­

de, que o tíbio recomeça quando se es-

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força por sair do seu lastimoso estado, têm a sua eficácia. Nenhum, porém, como a meditação. Meia hora de me­ditação cotidiana, bem preparada, e bem feita, eis o remédio soberano e especí­fico da tibieza. A meditação é o ali­mento substancial· do regime a que se deve submeter a alma enfraquecida pela tibieza. Disse, meditação bem feita. Sim, porque a tibieza é companheira inseparável da meditação sem prepara­ção alguma, feita às pressas, sem mé­todo, com preguiça, sonolência e má vontªde. O remédio há de ser bem pre­parado, bem dosado e bem tomado, pa­ra que seja eficaz. Se a receita não foi observada, o remédio poderá curar?

Insisto: - Meditação bem feita! Seja por que método: Sulpiciano, Ina­

ciano ou Afonsiano, mas. . . torno a re­petir: - Meditação bem feita!

5.0 Remédio: Uma penitência depois de cada falta.

Examinar qual o pecado venial que me retém escravo da tibieza e castigá­lo toda vez depois de cometido.

Uma penitência para cada pecado. Não perdoá-lo. A natureza é um cão.

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Ladra, ameaça quando corremos me­drosos. Um gesto de energia, um grito, uma bordoada, e ei-lo abatido, humi­lhado, a correr de nós. Sem penitência não se sai da tibieza. A mortificação e a meditação andam juntas e con­stituem aquele espírito de oração e de penitência de que nos fala o profeta.

6.0 Remédio: A mortificação.

Custa muito, é verdade. A tibieza ca­racteriza-se também pelo horror ao es­pírito de mortificação.

Mortificai vossos membros, diz o Após­tolo S. Paulo, trazei a mortificação de Je.m.s Cristo em nosso corpo (Col 3, 5).

A mortificação é a vida do Evange­lho em ação e a imitação da vida de Jesus Cristo. Querer sacrificar-se sem mortificação é querer o impossível. "Se alguém desaprova a penitência, diz S. João da Cruz, não lhe deis crédito, ain­da que faça milagres".

As pequenas mortificações cotidianas são remédio também para as pequenas faltas cotidianas. Contraria, contrariis. Espírito de sacrifício no cumprimento do dever. Custa a meditação? Fazei-a por mortificação. Custa a oração um

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dever penoso? custa deixar alguma sen­sualidade? Mortificai-vos um pouco. E vereis a transformação que em breve se fará em vossa alma. A mortificação com a oração, eis o remédio soberano da ti­bieza.

7.0 Remédio: Confissões e Comunhões bem preparadas.

Rigoroso exame de consciência antes da confissão. A confissão do tíbio é ro­tineira e mal feita. Procura sempre um confessor muito h:rando e sw1ve. Não gosta de uma palavra enérgica e severa no tribunal da penitência. Disfarça os seus pecados. Não procura uma sólida direção espiritual. Não costuma ter um confessor fixo. Confessar-se não é par:'!. o tíbio uma mudança de vida, um fir­me propósito de não mais peear: é arranjar zzma absolvição para poder comungar.

Daí almas que no mundo e na vida religiosa se confessam durante anos e anos, quase toda semana, e vivem, en­tretanto, no mais lamentável estado de tibieza. Ai! O Sangue de Jesus Cristo no Tribunal sagrado não é aproveitado!

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A Tibieza

Depois, as Comunhões sem devida preparação, sem fé, sem amor. Comu­nhões por rotina. Ações de graças li­d::.s às carreiras em manuais de devo­eão. Nem sequer um pensamento sério, hem meditado. da Presença real de Nosso Senhor na hósti� consagrada! Po­bre Jesus! Que sepulcros gelados não acha Ele todo dia no coração de tan­tas almas tíbias!

Para sair da tibieza, a Santa Comu­nhão, que, no dizer do Concílio de Tren­to, é o antídoto da.� faltas cotidianas, é um remédio eficaz. Mas há de ser hem preparacla. A leitura espiritual, as jaculatórias, um pensamento eucarísti­co à noite, ao deitar, e sobretudo uma vida isenta de pecado e em luta contra q pecado, eis aí uma excel�nte pre­paração para as nossas Comunhões. Tirar da rotina a confissão e a Comu­nhão é um passo decisivo para ·sair da tibieza.

8.0 Remédio: A devoção ao Sagrado Coração de Jesus.

"As almas tíbias tornar-se-ão fervo­rosas", prometeu Nosso Senhor a S. Mar­garida. E' o grande milagre, o perene

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Remédios da Tibieza -----

milagre desta devoção. O Sagrado Co­ração é uma fornalha de amor, é fogo, e fogo puro da Divina Caridade. Ja­culatórias ao Divino Coração. A sua imagem diante de nós, conosco em toda parte. Falar desta devoção, propagâ-la, estudâ-la. Oh! não encontro meio tão eficaz e poderoso para arrancar uma alma da tibieza. Leituras sobre o Co­ração de Jesus, o Exercício da Hora­Santa, a entronização. Oh I como tudo. isto abrasa o coração ainda mais ge­lado e faz milagres de conversões. To­mar a peito fazer uma novena ao Sa­grado Coração de Jesus, para sair da tibieza. Fazê-la custe o que custar com uma leitura apropriada, por exemplo: a história das Aparições a S. Margarida Maria ou a vida desta discípula predi­leta do Coração de Jesus. Ler este li­vro de fogo do Pe. Mateo Crawley que eu desejava ver em muitas mãos: "Je­sus, Rei de Amor". E sobretudo, mais do que tudo, ler e reler o Evangelho, as cenas tocantes do Evangelho, onde apa.rece, onde brilha a misericórdia do Coração de Jesus. Oh! o nosso coração é matéria inflamável. Não resistirâ

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muito tempo às chamas do Amor sem nelas se abrasar. E o Coração de J e­sus nos põe junto ao braseiro da · ca­ridade. Quando os judeus foram leva­dos ao cativeiro de Babilônia, os sacer­dotes esconderam o fogo sagrado num poço. De volta, Neemias só encontrou lama. Com esta, regou a lenha e as ví­timas do sacrifício; e as expôs ao sol. E o sol as acendeu e queimou. Estava aceso de novo o fogo sagrado. A nossa vida espiritual talvez era o fogo sagra­do do amor no templo vivo do Divino Espírito Santo, que somos todos nós, os cristãos batizados. Lançamos este fo­go no poço da tibieza e ele se fez lama. E agora? O remédio? V amos ao sacer­dote, o Neemias da Lei do Amor. Uma boa e sincera confissão. Depois, expor a lama de nossa pobre vida aos raios do sol do Coração de Jesus e pedir, rogar, bradar que ele consuma tudo e acenda de novo o fogo da caridade, o fogo sa­grado sem o qual não pode viver nos­sa alma, templo do Espírito Santo. O sol do Coração de Jesus fará este mi­lagre.

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:Remédios da Tibieza

9.0 Remédio: O Rosário de Nossa Se­nhora.

Pois já não falamos das práticas de piedade como remédio da tibieza? Por-· ventura o rosário não é uma delas?

Sim, mas é uma especialissima devo­ção e vejo nela um remédio à parte, além dos mais.

Ao Bem-aventurado Alano da Rocha, como antes a S. Domingos, prometeu a Virgem SSma. muitas graças a quem rezasse o seu saltério. Entre as quinze promessas tão conhecidas para os de­votos do Rosário, estão estas: "O Rosá­rio, disse Nossa Senhora, fará reflo­rescer as virtudes, fará conseguir mise­ricórdia para as almas. Atrairá os co­rações dos homens para o céu e os le­vará do amor do mundo ao amor de Deus e os elevará aos desejos das coi­sas eternas".

Não é fervor o que nestas palavras Nossa Senhora promete aos devotos do Rosário?

Recitai bem o terço, e, se possível, o

Rosário todos os dias. Recitai-o como for possível, pedindo o fervor. Nossa Senhora vos concederá esta graça.

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E a devoção ao Rosário é um grande sinal de predestinação, diz Nossa Se­nhora, na última promessa feita ao Bea� to Alano da Rocha. A verdadeira de­voção do Rosário, tal como ela deve ser praticada, isto é, com a meditação dos mistérios, é um remédio eficacíssimo na cura da tibieza. E o é justamente porque tem um duplo caráter de ora­ção mental e .vocal. O Rosário salva os pecadores e faz o milagre de converter os tíbios.

Rezai-o bem, com atenção e perseve­rança. Vereis que maravilhas ele rea­lizará em vossas almas, piedosos leito­res. Eis aí a terapêutica espiritual a ser empregada na gravíssima enfermidade da tibieza. Coragem, vamos aos remé­dios.

A enfermidade é grave, e quase in­curável, sim; mas a Divina Misericór• dia pôs em nossas mãos recursos para tratá-la. Diz-se que é incurável a tibie­za. E é verdade, mas só quando não se empregam energicamente os meios de combatê-la.

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