A Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos - Lucas Losnak Harris.pdf

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    Lucas Losnak Harris

    A TEORIA AUSTRACA DOS CICLOS ECONMICOS: seus

    fundamentos e uma anlise da crise de 2008

    Monografia de Bacharelado em Cincias Econmicas

    Faculdade de Economia, Administrao, Contabilidade e Aturia

    PUC - So Paulo

    Novembro/2013

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    Lucas Losnak Harris

    A TEORIA AUSTRACA DOS CICLOS ECONMICOS: seus

    fundamentos e uma anlise da crise de 2008

    Monografia submetida apreciao de banca

    examinadora do Departamento de Economia

    como exigncia parcial para obteno do grau

    de bacharel em Cincia Econmicas,

    elaborada sob orientao do professor Dr.

    Antnio Carlos Alves Santos.

    Faculdade de Economia, Administrao, Contabilidade e Aturia

    PUC - So Paulo

    Novembro/2013

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    Essa monografia foi examinada pelos professores abaixo relacionados e aprovada com

    nota final _______ (_________________________).

    Nomes legveis dos examinadores (orientador e demais membros da banca)

    ___________________________________________

    ___________________________________________

    ___________________________________________

    Autorizo a disponibilizao desta monografia para consulta pblica e utilizao como

    referncia bibliogrfica, mas sua reproduo total ou parcial somente pode ser feita

    mediante autorizao expressa do autor, nos termos da legislao vigente sobre direitos

    autorais.

    So Paulo, ____ de _________ de ______ Assinatura: __________________________

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    minha me, que proveu slidos alicerces

    para minha formao.

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    HARRIS, L. Lucas. A TEORIA AUSTRACA DOS CICLOS ECONMICOS:

    seus fundamentos e uma anlise da crise de 2008 . So Paulo, 2013.Monografia de

    Bacharelado (Faculdade de Economia, Administrao, Contabilidade e Atuaria) -

    Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo.

    Esta monografia apresenta um breve estudo sobre a Teoria Austraca dos Ciclos

    Econmicos, que por vrios anos ficou submersa no debate econmico. No so

    abordadas as diferenas tericas entre economistas austracos, mas, sim, a estrutura

    geral e aceita por todos esses.

    A apresentao da teoria feita na metodologia convencional da Escola Austraca e

    atravs de uma tentativa moderna de aproximao com a Macroeconomia tradicional.

    Por ltimo, com o suporte do que foi apresentado, analisa-se a crise de 2008 nos EUA.

    PALAVRAS CHAVES: Escola Austraca, Ciclos Econmicos, crise 2008.

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    SUMRIO

    INTRODUO

    1-A TEORIA AUSTACA DOS CICLOS ECONMICOS

    1.1- Introduo ............................................................................................................... 3

    1.2- Proposies da escola austraca de economia ......................................................... 3

    1.3- Introduo Teoria dos Ciclos ............................................................................... 7

    1.4- Ciclo econmico - como se origina ........................................................................ 8

    1.5- Ciclo econmicodesestruturao produtiva ........................................................ 12

    1.6- Ciclo econmicoa correo................................................................................. 17

    2 - A TEORIA MACROECONMICA DE CAPITAL E OS CICLOS

    ECONMICOS

    2.1- Introduo ............................................................................................................... 20

    2.2- Um breve relato das contribuies Macroeconmicas das Escolas Econmicas que

    predominaram na segunda metade do sculo XX ............................................................ 20

    2.3- A macroeconomia baseada na teoria de capital - a anlise da escola austraca ...... 26

    2.3.1- Mercado para fundo de emprstimos ..................................................................... 26

    2.3.2- Fronteiras de possibilidade de produo (FPP)

    ............... ................................................................................................................28

    2.3.3-A estrutura intertemporal de produo .................................................................. 29

    2.4- Crescimento econmico.......................................................................................... 32

    2.4.1- Crescimento secular ............................................................................................... 33

    2.4.2 - Mudanas nas preferncias intertemporais ........................................................... 34

    2.5 - A teoria austraca dos ciclos econmicos ............................................................... 37

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    3- CAPTULO 3: CRISE 2008 E A TEORIA AUSTRACA DOS CICLOS

    ECONMICOS

    3.1 Introduo ............................................................................................................... 40

    3.2 - O incio do boom e os sinais apontados pela teoria austraca................................. 42

    3.3A Correo .............................................................................................................. 53

    3.4 - A soluo americana e seu risco ............................................................................. 53

    Concluses ............................................................................................................. 59

    Referncias Bibliogrficas ..........................................................................60

    LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 2.1- Curva IS-LM ................................................................................................. 20

    Figura 2.2- Curva de Phillips ........................................................................................... 21

    Figura 2.3- Grficos AS/AD conforme as respectivas Escolas........................................ 25

    Figura 2.4- Equilbrio entre agentes deficitrios e superavitrios.................................... 27

    Figura 2.5- Fronteira de Possibilidade de Produo ........................................................ 28

    Figura 2.6- Comportamento da Curva de Fronteiras de Produo................................... 29

    Figura 2.7- Tringulo Hayekiano de Produo ................................................................ 30

    Figura 2.8- Equilbrio no processo produtivo .................................................................. 31

    Figura 2.9- Crescimento Secular ...................................................................................... 33

    Figura 2.10- Crescimento baseado em mudanas nas preferncias temporais ................ 35

    Figura 2.11- Crescimento baseado em poupana ............................................................. 36

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    Figura 2.12- Distores monetrias e suas consequncias............................................... 37

    Figura 3.1- Base Monetria Americana ........................................................................... 42

    Figura 3.2- Agregados monetrios M1 e M2 dos EUA ................................................... 43

    Figura 3.3- Taxa bsica de juros norte americana............................................................ 44

    Figura 3.4- ndice de inflao dos EUA (CPI) ................................................................. 45

    Figura 3.5- Taxa de juros para emprstimos imobilirios................................................ 46

    Figura 3.6- Emprstimos voltados construo civil por parte dos bancos .................... 46

    Figura 3.7- ndice Case Shiller......................................................................................... 51

    Figura 3.8- Novas casas construdas ................................................................................ 51

    Figura 3.9- Gastos totais com construo ........................................................................ 52

    Figura 3.10- Base monetria americana (aps 2008) ....................................................... 54

    Figura 3.11- Taxa bsica de juros norte americana (aps 2007)...................................... 55

    Figura 3.12- Reservas voluntrias dos bancos no Fed ..................................................... 55

    Figura 3.13- Ativos do Fed .............................................................................................. 56

    Figura 3.14- Comportamento S&P 500 de acordo com a poltica monetria .................. 57

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    INTRODUO

    Uma das principais lies de Ludwig von Mises, importante economista

    austraco, que por mais bem intencionadas que regulamentaes possam ser, elas

    nunca atingem seus fins; elas apenas distorcem o mercado, que naturalmente buscar

    correes. Essas correes podem ocorrer ou podem ser postergadas por novas

    intervenes, o que far com que quando chegue seja mais drstica.

    Esta monografia analisa a Teoria Austraca dos Ciclos Econmicos, uma das

    principais e mais complexas contribuies da Escola Austriaca ao estudo econmico.

    Tentar-se- compreender o porqu agentes incorrem em erros generalizados com umarelativa frequncia e quais so as solues mais adequadas e benficas sociedade

    nestes cenrios. Aps a exposio da teoria analisa-se a crise que ocorreu em 2008, e

    como esta pode ser explicada a partir da teoria que foi previamente exposta.

    Sua complexidade se d pelo fato de que a teoria pode ser descrita como um

    ciclo de crdito, comumente iniciada a partir das medidas adotadas por um Banco

    Central, passando pela estrutura bancria e finalmente afetando a produo e a

    demanda; ou seja, ser reunida uma srie de fenmenos que normalmente so estudados

    de forma independente.

    No primeiro captulo apresenta-se a teoria dos ciclos econmicos em sua

    metodologia tradicionalmente desenvolvida pelos economistas austracos. Parte-se de

    uma breve exposio dos principais pressupostos da escola e, posteriormente, mostra-se

    a estrutura bsica e aceita por todos economistas austracos, deixando de lado

    controvrsias menores existentes entre alguns membros. Dedica-se uma grande ateno

    ao boom, pois, sua anlise primordial para entendermos o bust.

    No segundo captulo explora-se a tentativa de alguns economistas modernos de

    introduzir teoria austraca determinadas ferramentas do instrumental da

    macroeconomia convencional, objetivando facilitar a compreenso desta; dentre os

    instrumentos encontra-se a fronteira de possibilidade de produo e o equilbrio de

    agentes superavitrios e deficitrios. Neste captulo faz-se, tambm, uma breve anlise

    das principais teorias dos ciclos econmicos.

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    O terceiro captulo descreve os principais eventos da crise de 2008 e,

    comparando com o que foi previamente analisado, procura demonstrar que tal crise

    um exemplo real do que a teoria nos descreve. Para tal estudo, utilizaremos uma srie de

    indicadores econmicos.

    Finalmente, apresenta-se, tambm no terceiro captulo, uma breve explicao de

    quais medidas o banco central americano adotou em 2008 para superar a crise que

    afetou diversos setores da economia americana e inicia um debate de o quo eficaz essas

    polticas adotas so.

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    CAPTULO 1 A TEORIA AUSTRACA DOS CICLOSECONMICOS

    1.1 - Introduo

    Os ciclos econmicos so amplamente estudados e explicados, com diversas

    teorias. Nesse captulo objetiva-se compreender a Teoria Austraca dos Ciclos

    EconmicosTACE-, porm, buscaremos no ressaltar as pequenas divergncias entre

    os pesquisadores, mas sim compreender a estrutura bsica aceita por todos os

    economistas austracos. Exporemos neste captulo as principais etapas da TACE e oporqu acredita-se que sociedades enfrentam erros generalizados dos agentes

    envolvidos, argumentando-se a partir da metodologia utilizada pela Escola.

    1.2 - Proposies da escola austraca de economia

    A Escola Austraca caracterizada por algumas preposies que a diferenciamdas demais escolas. Entre eles so citado por de Soto (2010):

    1- Conceito de Economia (SOTO, 2010, p.16):

    O conceito de ao humana deve ser interpretado no somente como uma

    tomada de deciso, mas algo que se d ao longo do tempo, caracterizando um processo

    em que agentes demonstram seus valores subjetivos isto , uma prpria percepo de

    fins e meios que mudam constantemente - e resultam na interao humana/social. Acincia que busca estudar o homem e suas aes, cujos objetivos so atingir

    determinados fins, chamada de Praxeologia:

    2- Perspectiva metodolgica:

    Compreende-se que atravs da Praxeologia d-se o entendimento da Economia,

    uma vez que o estudo do homem e de suas aes resultar no estudo de bens, riquezas,

    mercadorias, trocas e os demais fenmenos econmicos. Logo, a produo, por

    exemplo, no ser um fato fsico natural e externo, mas um fenmeno intelectual. Desta

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    forma, a metodologia de estudo necessariamente deve ser o individualismo

    metodolgico.

    3-

    Protagonista dos processos sociais:

    O empresrio entendido como principal agente, que, diferente da economia

    neoclssica, no se encaixa em nenhum modelo de equilbrio. Sua principal funo est

    relacionada criao, existncia e ao uso da informao, possibilitando assim o

    processo de produo com informaes que antes no existiam. Logo, tanto o lucro

    quanto o custo no conhecido antes da ao, e essas informaes so impossveis de

    serem descobertas antes da prpria funo empresarial.

    4- Possibilidade de os agentes se equivocarem a priori e natureza do ganhoempresarial:

    Empreendedores buscam lucro, caso contrrio no agiriam. No entanto, erros

    so perfeitamente possveis de ocorrer, sendo que a descoberta se d a posteriori da

    ao; esses erros, porm, poderiam ser evitados por maior perspiccia empresarial. No

    possvel, portanto, analisarmos na forma de custo benefcio sob um modelo que

    maximiza matematicamente a satisfao sujeito restries.

    5- Concepo da informao:

    As diferentes informaes existentes no mercado se caracterizam por seu

    carter subjetivo, isso , o conhecimento subjetivamente interpretado e utilizado pelos

    agentes - criatividade empresarial. Essas informaes esto difundidas no mercado na

    forma de conhecimento prtico, interpretado e utilizado, tornando assim o mercado

    imperfeito. Essa imperfeio exatamente o que possibilita descobertas e gerao delucro, processo esse que representa a coordenao empresarial.

    Por essa razo entende-se a crtica da Escola Austraca centralizao de poder

    e interveno estatal, que implicaria em todo o conhecimento - que est disperso na

    sociedade, inclusive, dos valores de cada indivduo -, centralizado em um ou poucos

    intelectuais.

    6- Ponto de referncia:

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    Analisando sob a tica do processo dinmico, todo momento h alguma

    descoordenao social, o que indica uma oportunidade de lucro por parte dos

    empreendedores que, quando agem, criam uma ordem espontnea de coordenao. Essa

    ordem gera uma tendncia ao equilbrio, porm, esse nunca atingido, pois, enquanto

    seus planos so concretizados, haver mudanas de preferncia dos agentes ao longo do

    tempo.

    7- Conceito de concorrncia:

    De acordo com esse paradigma e junto aos anteriores, compreendemos que a

    concorrncia no um processo de equilbrio, mas algo dinmico e constante, que

    sempre existir. Teremos imperfeies no mercado e embora estes tendam ao equilbrio,esse jamais ser alcanado.

    8- Conceito de custo:

    Custo deve ser entendido como algo subjetivo, que depende da capacidade

    empresarial para descobrir novos fins alternativos. Ou seja, dado que os meios so

    sempre limitados e que a base para compreenso da economia a ao humana,

    logicamente, entendemos como custo os fins que se abdica quando se empreende um

    determinado curso de ao. Esses custos se do em trocas voluntrias, o que demonstra

    tambm a subjetividade do valor: o que um custo para um agente o fim almejado de

    outro, e vice e versa. Os preos de bens, como conhecemos, so a materializao do

    mercado atravs das avaliaes subjetivas existentes, e esses determinaro os custos da

    produo e a viabilidade de projetos.

    9-

    Formalismo:

    Como todo processo real algo dinmico e no esttico, abandona-se a

    utilizao da modelagem matemtica, pois, essa leva a uma simplificao exacerbada da

    realidade. Modelos estticos podem levar a grandes erros, principalmente quando

    utilizados por umpolicy maker.

    Para a escola austraca, o formalismo se d na lgica verbal (abstrata e formal)

    que permite a considerao da criatividade humana e do tempo subjetivo.

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    10 - Relao com o mundo emprico:

    Frente oposio metodologia emprica e positivista, os economistas

    austracos optam por uma pesquisa apriorstica1

    e dedutiva a partir de verdades autoevidentes, i.e, o axioma da ao humana uma verdade auto evidente que quando

    negada implica em uma auto contradio.

    11 - Possibilidade de previso especfica:

    Existe uma impossibilidade da previso, uma vez que o observador no pode

    obter todas as informaes subjetivas que so continuamente criadas e descobertas de

    forma descentralizada pelos agentes. No se pode saber o que ir suceder no futuro, j

    este depende de conhecimento empresarial ainda no criado.

    Nas palavras de Soto, os problemas com previses se do:

    [...] primeiro, pelo imenso volume de informao de que setrata; segundo, pela natureza da informao relevante (disseminada,subjetiva e tcita); terceiro, pelo carter dinmico do processo

    empresarial (no se pode transmitir informaes que ainda no foigerada pelos empresrios no seu constante processo de criaoinovadora); e quarto, pelo efeito da coao e da prpria observaocientfica (que distorce, corrompe, dificulta ou simplesmenteimpossibilita a criao empresarial de informao) [...]. (SOTO, 2010,p.26)

    importante ressaltar que a Escola Austraca no cr na possibilidade de

    previses embasadas matematicamente, mas aceita previses de tendncias de tipo

    genrico e qualitativo, principalmente com a funo de reconhecer desajustes e

    descoordenes causados por coaes institucionais exercidas sobre o mercado.

    12 - Responsvel pela previso (SOTO, 2010, p.16)

    A funo do empresrio deve ser entendida como inerente ao mundo real que

    est em constante desequilbrio; essa consiste em criar e descobrir informaes que

    antes no existiam, de forma a gerar ganhos; portanto, o empresrio o responsvel por

    tentativas de previso.

    1 Isto , que se baseiam em princpios anteriores experincia; conceitos, portanto, a priori .

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    1.3- Introduo Teoria dos Ciclos

    Mises, em seu livro Theory of Money and Credit (1912), influenciado pela

    teoria dos juros do economista sueco Knut Wicksell, reconhece a diferena entre a taxa

    natural de juros equilbrio entre agentes poupadores e gastadores (superavitrios e

    deficitrios) e a taxa de juros cobrada pelos bancos. Somando-se a esse conceito a teoria

    de capital, desenvolvida previamente por Carl Menger e Eugen Von Bohm-Bawek, o

    autor entende que taxas de juros artificialmente baixas, sem respaldo de poupana

    previamente feita e mantida sob expanso de crdito, geram uma m alocao de

    capital. Isso ocasiona uma reestruturao do processo de produo, tornando-o maisdemorado em relao ao padro temporal de procura dos consumidores. Conforme o

    tempo demonstra essa discrepncia, tanto os mercados de bens de produo quanto de

    bens de capital iro desfazer essa m alocao. Em determinado momento a taxa de

    juros dever ser elevada, encerrando o boom e refletindo a escassez de capital

    circulante, aps um excessivo montante de capital ter sido direcionado aos primeiros

    estgios do processo de produo.

    Uma vez que a distoro no processo produtivo se iniciou, normalmente aps o

    estmulo creditcio vindo do Banco Central, impossvel o mesmo consert-lo. Suas

    duas opes possveis seriam: a) continuar com a poltica expansionista ou b) adotar

    uma poltica contracionista. A primeira gerar inflao e a segunda falncias. A

    correo, que apesar de dolorosa deve ser encarada como inevitvel, encontra vrias

    dificuldades: polticos que visam reeleies, conflitos tcnicos entre economistas e

    foras sindicais que no permitem a liberdade de preo para salrios e contratos.Conforme elucida Garrison:

    The market works; it tailors production decision to consumptionpreferences. But production takes time, and as the economy becomesmore capital intensive, the time element takes on greater significance.The role of the interest rate in allocating resources over time becomesan increasingly critical one. Still, if the interest rate is right, that is, ifthe interplay between lenders and borrowers is allowed to establish thenatural rate, then the market works right. However, if the interest rateis wrong, possibly because of central bank policies aimed at growing

    the economy, then the market goes wrong. The particulars of justhow it goes wrong, just when the misallocations are eventuallydetected, and just what complications the subsequent reallocation

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    might entail are all dependent on the underlying institutionalarrangements and on the particular actions of policy makers andreactions of market participants(GARRISON, 2001, p.13)

    1.4 - Ciclo econmico- como se origina

    Influenciados pela teoria wickseliana, os economistas austracos consideram

    que a taxa bsica de juros deve ser reflexo da taxa natural de juros, que surge do

    equilbrio existente entre agentes superavitrios e deficitrios; esse equilbrio resulta em

    um crescimento sustentvel da economia2. Alm disso, a mesma taxa tem a funo

    importantssima de refletir as preferncias temporais dos participantes do mercado

    (tanto por consumo de bens quanto pelo dinheiro), que quando se abstm de umconsumo presente e optam por um consumo futuro, cobram um prmio para isso e

    sinalizam tambm que tipo de demanda apresentaro; consequentemente, haver uma

    alocao de recursos por parte dos agentes empreendedores nos diversos estgios da

    cadeia de produo. Assim, a taxa de juros contm importantes informaes e tem a

    funo de sinalizar e coordenar alocaes por parte de empresrios/empreendedores.

    Quando agentes econmicos optam por poupar o que significa absterem-se doconsumo imediato -, isso aumenta a quantidade disponvel para emprstimos3 e,

    consequentemente, haver uma diminuio na taxa de juros. Caso o inverso ocorra, a

    taxa de juros aumentar. Como explica Rothbard:

    Imaginemos uma economia com uma certa oferta monetria. Parte dodinheiro gasto no consumo; o resto poupado e investido numa imensaestrutura de capital, em vrias ordens de produo. A proporo entreconsumo e poupana ou investimento determinada pelas prefernciastemporais das pessoas o grau em que elas preferem satisfaes presentesou futuras. Quanto menos elas as preferirem no presente, menor ser sua taxade preferncia temporal, e menor, portanto, a taxa pura de juros, que determinada pelas preferncias temporais dos indivduos na sociedade.(ROTHBARD, 2012, p.52)

    Considerando uma oferta monetria constante, as opes individuas se limitam

    entre poupar (disponibilizar recursos para investimento) e consumir. Notamos que uma

    taxa de juros elevada a consequncia de indivduos priorizando a segunda opo,

    2As justificativas dessa afirmao sero compreendidas ao longo do trabalho.3Sistema potencializado pela existncia de intermediadores, i.e, bancos.

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    enquanto a taxa de juros mais baixas nos remetem a primeira, sendo que a ltima

    propicia um cenrio mais favorvel ao aumento das estruturas de produo isto ,

    investimentos de longo prazo e mais distantes do bem final. Ainda nas palavras de

    Rothbard:

    Uma taxa mais baixa de preferncia temporal ser refletida emmaiores propores entre investimento e consumo, no prolongamentoda estrutura de produo, e em formao de capital. Prefernciastemporais mais altas, por outro lado, refletir-se-o em taxas de jurospuras mais altas e numa proporo menor entre investimento econsumo. As taxas de juros finais do mercado refletem a taxa de jurospura mais ou menos o risco empresarial e os componentes do poder decompra. (ROTHBARD, 2012, p.52)

    A produo de longo prazo ser beneficiada numa situao de taxas baixa,

    pois, alm desta estar refletindo o comportamento referente demanda de inmeros

    agentes econmicos4, tambm torna vivel projetos cuja maturao mais longa.

    Projetos, esses, que dificilmente seriam viveis num cenrio de altas taxas de juro.

    Algumas metodologias simples utilizadas em valuation, como VPL5nos elucidam esta

    situao.

    A taxa natural de juros, que representa o equilbrio entre superavitrios e

    deficitrios, tendia a predominar quando a moeda era lastreada em ouro e os bancos

    tinham a funo de custodiar o dinheiro, sem utilizarem-se de reservas fracionadas para

    aumentar seus lucros. No entanto, essas duas situaes foram substitudas por um

    modelo em que Bancos Centrais so quem garantem o valor da moeda, conhecido como

    modelo de moeda fiduciriaum monoplio de moeda de curso forado-, e bancos que

    4H poupana para futuras ofertas.5 VPLValor Presente Lquido uma metodologia muito utilizada na avaliao de projetos, em que, a

    partir dos fluxos de caixa esperados e da taxa de juros (taxa mnima de atratividade), calcula-se qual ovalor vivel para determinado projeto. Nota-se, portanto, o quanto maior a taxa de juros, menos vivelser o projeto.

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    operam alavancados, sendo que o mnimo que devem manter em reserva determinado

    pelo Estado6.

    Notamos, porm, que independente do modelo haver formas de aumentar

    artificialmente o crdito na economia, embora uns em menor proporo que outros,

    como explica Haberler:

    [] Differences can arise only (a) in respect to the particularway in which the expansion take place- whether it is primarily anincrease in the quantity of credit money or legaltender or gold or justof the velocity of circulation of one of thesesand (b) as to the causalsequence.

    As to the causal relation, broadly speaking, two possibilities seem tobe open:1-On might assume that the impulse comes from the side of money,that the circulation is expanded by a deliberate action of the banks orother monetary, and this sets the whole chain of eventsgoing[].(HABERLER, 2001, p.42)

    No entanto, as taxas de juros passam a ser mais facilmente manipuladas pelo

    governo no momento em que surge um Banco Central, pois, cria-se um monoplio que

    atualmente se utiliza de trs meios para esse controle: taxa de redesconto, percentual de

    compulsrio e operaes no mercado aberto.

    Ou seja, a taxa de juros de uma economia diretamente relacionada com a

    quantidade de moeda circulante, cujo detentor do direito de cri-la o Banco Central.

    6 Entre os economistas austracos h um debate entre qual o modelo monetrio mais favoravel: padro

    ouro oufree bankingum modelo em que bancos emitiriam suas notas e seriam a prpria garantia, o que

    geraria um modelo concorrencial -. Entende-se que mesmo no segundo modelo, a base monetria no

    tenderia a aumentar como ocorre hoje, pois, o livre mercado e a concorrncia entre os bancos faria com

    que esses no pudessem operar muito alavancados, uma vez que: i) um banco veria seus recibos emitidos

    sem cobertura (sem cobertura de dinheiro) rapidamente transferidos para os clientes de outros bancos, os

    quais pediriam o resgate ao banco; ii) os bancos ficariam limitados pelo grau em que o pblico usasse as

    notas ou depsitos bancrios como dinheiro padro; e; iii) eles seriam limitados pela confiana dos

    clientes em seus bancos, que poderiam ser arruinados por corridas a qualquer momento.

    Uma coletnea de artigos em defesa a ambas as teses dentro da Escola Austraca pode ser encontrado no

    artigo Reservas Fracionadas O debate da dcada. Disponvel em:

    , acessado em 23 de agosto de 2013.

    http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1403http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1403
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    Existe, desta forma, uma simbiose entre Banco Central e bancos comerciais,

    onde ambos podem expandir o crdito e criar dinheiro sem lastro, e essa relao visa

    garantir maior estabilidade a um sistema frgil sob a hiptese de uma corrida bancria.

    Esse arranjo permite que bancos tenham altos lucros7e o governo passa a ser financiado

    mais facilmente, beneficiando assim seus governantes e possibilitando um aumento de

    seu poder. Caso haja algum erro por parte das instituies privadas, muito

    provavelmente essas sero salvas pelo governo. Como observa Rothbard:

    The Central bank acquires its control over the banking systemby such governmental measures as: Making its own liabilities legaltender for all debts and receivable in taxes; granting the central bank

    monopoly of the issue of Banks notes, as contrasted to deposits (inEngland the Bank of England, the governmentally established centralbank, had a legal monopoly of bank notes in the London area); orthrough the outright forcing of banks to use the central bank as theirclient for keeping their reserves of cash as their reserves of cash (as inthe United States and its Federal Reserve System). Not that the bankscomplain about this intervention; for it is the establishment of centralbanking that makes long-term bank credit expansion possible, sincethe expansion of Central Bank notes provides added cash reserves forthe entire banking system and permits all the commercial banks toexpand their credit together. Central banking works like a cozycompulsory bank cartel to expand the banks liabilities; and the banks

    are now able to expand in a larger base of cash in the form of centralbank notes as well as gold. (ROTHBARD, 2001, p.71)

    Para os economistas austracos, no momento em que a taxa de juros que

    sinaliza as preferncias dos poupadores e gastadores- passa a ser manipulada, perde

    completamente sua importante funo de referncia para a coordenao econmica.

    Bancos comeam a criar crdito que no tem respaldo em poupana, e Bancos

    Centrais, influenciados por governantes que visam somente o curto prazo, estimulam

    mais ainda esse comportamento; esse respaldo se d, pois, no curto prazo, haver uma

    aquecimento da economia.

    Somase a isso o fato de que uma expanso monetria no distribuda

    igualmente. Assumindo que quanto maior a quantidade de moeda na economia, menor

    7 Principalmente na ausncia de concorrncia, como o caso brasileiro, em que a excessivaregulamentao resulta em uma enorme concentrao no setor. Essa constatao pode ser feita atravs dealguns indicadores para mensurar concentrao de setores, sendo um dos mais utilizados o ndiceHerfindahl-Hirschman.

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    ser o seu valor, conclumos que os que recebem primeiro o dinheiro recm criado iro

    utiliz-lo com um valor, porm, conforme esse se difunde pela sociedade, ir se

    desvalorizar, fazendo com que os ltimos a receb-lo sejam os que menos podero

    aproveit-lo e os primeiros os que mais tero seu poder de compra elevado. Portanto, ao

    mesmo tempo em que h uma expanso de crdito que gera menores taxas de juros, h

    tambm a gerao de inflao e uma redistribuio desigual. Essa inflao reflexo de

    mais moeda em circulao8 e de menores taxas de juroso que gera um desestmulo a

    poupana e maior atividade econmica a curto prazo, resultante tambm do novo

    prmio (nova taxa juros) e mais consumo. O fenmeno da distribuio desigual citada

    acima suporta a concluso de que a inflao, alm de gerar uma desvalorizao da

    moeda, aumenta a desigualdade social, favorecendo os que inicialmente recebem odinheiro e prejudicando os ltimos normalmente os mais pobres9. O fenmeno

    explicado por Iorio:

    A ideia central dos austracos que o dinheiro novo entra emum ponto especfico do sistema econmico e, sendo assim, ele gastoem certos bens e servios particulares, at que, gradualmente, vai-seespalhando por todo o sistema, assim como um objeto qualquer, ao seratirado na superfcie de um lago, forma crculos concntricos com

    dimetros progressivamente maiores, ou como quando se derrama melno centro de um pires e ele vai-se espalhando a partir do montculoque se forma no ponto em que est sendo derramado (analogias,respectivamente, de Mises e Hayek). Por isso, alguns gastos e preosmudam antes e outros mudam depois e, enquanto a mudanamonetria digamos, uma expanso do crdito for mantida, suairradiao para gastos e preos persiste em movimento. (IORIO,online, 2012)

    1.5 - Ciclo econmicodesestruturao produtiva

    A taxa de juros artificialmente baixaisto , abaixo da taxa natural de juros-

    trar vrias consequncias economia, sendo a principal a desestruturao dos

    processos produtivos. Dentre algumas das razes que podemos citar: i) h um

    desestmulo a poupana e uma maior presso para o consumo; ii) projetos que antes no

    eram viveis tornar-se-o;iii) o prprio mecanismo para abaixar artificialmente a taxa de

    8

    Criada pelo Banco Central e Bancos Comercias.9De acordo com o jornal Estado , mais de 65% dos recursos do BNDES so

    destinados a poucas e grandes empresas. Acessado em 03 de maro de 2013.

    http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,bndes-usa-verba--do-tesouro-para-grandes-empresas-,897822,0.htmhttp://www.estadao.com.br/noticias/impresso,bndes-usa-verba--do-tesouro-para-grandes-empresas-,897822,0.htmhttp://www.estadao.com.br/noticias/impresso,bndes-usa-verba--do-tesouro-para-grandes-empresas-,897822,0.htmhttp://www.estadao.com.br/noticias/impresso,bndes-usa-verba--do-tesouro-para-grandes-empresas-,897822,0.htm
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    juros requer um aumento na quantidade de dinheiro entrando na economia, sendo

    direcionado inicialmente para os grandes bancos; iv) preos sero distorcidos conforme

    o novo dinheiro se distribui na economia.

    fundamental para a correta compreenso da TACE entendermos a simbiose

    entre taxas de juro e emisso/reduo da quantidade de moeda, pois, assim, ficar claro

    como se d a formao do boom econmico.Ambas so relacionadas, mas, sozinhas, j

    so o suficiente para iniciar um boom. No real a hiptese de um helicptero que

    distribua dinheiro recm-criado de forma igual para toda populao10; necessariamente,

    alguns agentes devem receb-lo antes que outros, o que gera uma desestruturao do

    resto da Economia. Se h, por exemplo, um estmulo monetrio ao setor imobilirio,investimentos nesse setor aparentam ser mais vantajosos, pois os preos so sempre

    ascendentes. Como observa Hayek:

    The whole conventional analysis reproduced in most textbooks proceeds as id a rise in average prices meant that all prices riseat the same time by more or less the same percentage, or that this atleast was true of all prices determined currently on the market, leavingout only a few prices fixed by decree or long term contracts, such as

    public utility rates, rents, and various conational fees. But this is nottrue or even possible. The crucial point is that so long as the flow ofmoney expenditure continuous to grow and prices of commodities andservices are driven up, the duffer prices of commodities and servicesare driven up, the different prices must rise, not at the same time but insuccession, and that in consequence, so long as this process continues,the prices which rise first must all the time move ahead of the others.This distortion of the whole price structure will disappear onlysometime after the process of inflation has stopped. (HAYEK, 2001,p.96)

    Embora no seja comum, possvel termos taxas de juros nominalmente altas,porm, havendo estmulos monetrios, o que torna os investimentos em setores

    estimulados mais lucrativos que sob condies normais11. Conforme descrito

    anteriormente, o estmulo existe a partir de incentivos monetrios a determinados

    setores ou na forma de juros mais baixos, ou ambos. O mais comum que aconteam de

    10 Analogia proposta inicialmente por Milton Friedman em seu livro Money Mischief (1994), cap.2.Friedman sups que emisses monetrias controladas seriam similares a uma emisso de dinheiro vinda

    de um helicptero, e que toda a populao teria um acrscimo similar em sua renda.11Situao muito recorrente no Brasil. Em diversos momentos tivemos um crescimento de nossa basemonetria e ao mesmo uma taxa Selic alta.

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    forma unificada, pois, um utilizado como instrumental para controlar o outro. A

    relao entre expanses, taxa de juros e boom bem descrita por Mises:

    During the period of credit expansion, it is true that thebanks progressively raised the rate of interest; from a purelyarithmetical point of view it ends up higher than it had been at thebeginning of the boom. This raising of the rate of interest isnevertheless insufficient to reestablish equilibrium on the market andput a stop to the unhealthy boom. For in a market where the prices arerising continually, gross interest must include in addition to interestrate on capital in the strict sense i.e, the net rate of interest stillanother element representing a compensation for the rise in pricesarising during the period of the loan. If the prices rise in a continuousmanner and if the borrower as a result gains a supplementary profit

    from the sale of the merchandise which he bought with the borrowedmoney, he will be disposed to pay a higher rate of interest then hewould have paid in a period of stable prices; the capitalism, on theother hand, will not be disposed to lend under these conditions, unlessthe interest includes a compensation for losses which the diminutionon the purchasing power of money entails for creditors. If the banksdo not take account of these conditions in setting the gross interest ratethe demand their rate ought to be considered as being maintainedartificially at too low a level, even in from a purely arithmetical pointof view it appears much higher than that which prevailed undernormal conditions. (MISES, 2001, p.31)

    Nesse momento, daremos nfase nos projetos que passaro a ser viveis em

    funo da taxa de juros. Sabe-se que todo empreendimento privado deve gerar lucro, e

    uma das principais metodologias para avaliar a viabilidade trazer o projeto a valor

    presente, descontando os fluxos futuros de caixa. Notamos, portanto, que a taxa de juros

    tem carter temporal e sua manipulao afeta os diferentes setores econmicos, uma vez

    que por essa metodologia, quanto mais longo o processo mais seu valor ser afetado por

    mudanas na taxa de juros. Em outras palavras, empreendedores que buscam lucro so

    induzidos, quando h uma queda na taxa de juros, a iniciar e ampliar projetos que levam

    mais tempo para serem maturados (gerar lucros); paralelamente, so induzidos a evitar

    projetos cujas maturaes so mais rpidos. Ressalta-se, portanto, que muitos dos novos

    empreendimentos que antes no eram viveis, tornar-se-o somente em funo da taxa

    de juros menor.

    Uma vez que empresas mais distantes do consumo final se caracterizam pelo

    uso intensivo de bens de capital, commodities e mo de obra, notaremos uma

    valorizao desses insumos.

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    Como mencionado anteriormente, esse arranjo ocorre em funo da nova

    moeda no mercado de emprstimo, que reduz os juros de emprstimos. Embora seja

    similar ao fenmeno do aumento de fundos poupados para investimento12 o que est

    ocorrendo no passa de inflao; esse arranjo cria uma iluso ao empresrio de que est

    ocorrendo uma poupana maior do que realmente . Quando os fundos aumentam,

    empresrios investem em processos de produo mais longos isto , uma estrutura

    de produo mais longa e com etapas mais distantes do consumidor final. Inicia-se um

    processo de aumento de preos do capital e bens de outros produtores, o que estimula

    uma transferncia dos investimentos de ordem inferior(prximo ao consumo) para

    ordens superiores (mas distantes do consumidor); em outras palavras, h uma

    migrao da industria de consumo para indstria de bens de capital que no haveria

    numa situao sem estmulos monetrios.

    As consequncias desse arranjo resumido por Rothbard:

    Se esse fosse o efeito de uma queda verdadeira naspreferncias temporais e de um aumento na poupana, no haveria

    problema nenhum, e a nova estrutura alongada da economia poderiasustentar-se indefinidamente. Mas essa transferncia produto daexpanso do crdito bancrio. Logo o dinheiro novo comea a descerdos muturios empresariais para os fatores de produo: nos salrios,nos aluguis, nos juros. Porm, a menos que as preferncias temporaistenham mudado, e no h qualquer motivo para achar que isso tenhaacontecido, as pessoas logo gastaro suas rendas maiores nas antigaspropores entre investimento e consumo. Em suma, as pessoas logorestabelecero as antigas propores, e a demanda vai se transferir dasordens superiores, onde estavam, para as ordens inferiores. Asindstrias de bens de capital vero que seus investimentos foramequivocados: que aquilo que eles julgaram lucrativo na verdade no ,

    porque no h demanda de seus consumidores empreendedores. Asordens superiores de produo revelaram-se um desperdcio, e os mal-investimentos tm de ser liquidados. (ROTHBARD, 2012, p.54)

    Como citado por Rothbard, essa reestruturao no advinda de aumento de

    poupana, mas sim por expanso monetria, o que gera uma srie de consequncias.

    Inicialmente, teremos um conflito de demanda por insumos de produo por

    parte dos empresrios nas diferentes etapas do processo de produo. Haver, por

    12Com um aumento da oferta para investimentos haver uma reduo das taxas de juro.

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    exemplo, uma presso para aumento de preos e dos salrios, j que agora haver maior

    demanda nos primeiros estgios. Se o prolongamento fosse baseado em

    poupana/investimento, haveria uma abdicao por parte da sociedade ao consumo

    (estariam poupando), porm, no o caso; mantendo-se os nveis de consumo e o

    aumento de projetos distantes, haver um cabo de guerra pelos fatores de produo,

    como, por exemplo, trabalhadores (remunerados por salrios) o que intensificar o

    aumento de preos.

    Teremos, num segundo momento, um provvel cenrio prejudicial aos projetos

    de longo prazo recm iniciados. Durante o cabo de guerra citado anteriormente, tende

    a prevalecer as empresas mais estruturadas e com maior demanda. Como vimos, nohouve mudanas de preferncias pelos consumidores, portanto, h uma tendncia das

    empresas de bens de consumo que apresentam demanda real- se sobreporem s

    empresas de bens de capitalque possivelmente viro seus produtos13sem apresentar a

    demanda que imaginavam.

    H, tambm, um segundo cenrio que talvez seja ainda mais prejudicial: a

    probabilidade desses novos projetos no chegarem ao fim. Como no houve poupana,

    e toda a mudana creditcia se deu somente por manipulao de Bancos Centrais, muito

    provavelmente isso ter como consequncia um aumento posterior das taxas de juros, o

    que far com que muitos projetos deixem de ser viveis. Caso o projeto no tenha se

    encerrado, diante da nova situao, o empresrio poder se deparar com um TIR14no

    mais atraente, parcelas de emprstimos mais altas (caso sejam ps fixados), uma

    demanda projetada menor, entre outros. Em uma situao como essa, muito vezes o

    projeto abandonado, o que implica em um enorme desperdcio de capital, que poderia

    ter sido utilizado em outros projetos caso no houvesse a manipulao inicial de juros.

    Hoje a maioria das economias vive em uma economia dinmica com bolsas de

    valores e vrios produtos financeiros, como aes, debntures e derivativos. Durante o

    perodo de realocao de capital na estrutura de produo notaremos tambm o boomno

    comportamento dos preos desses produtos. Haver uma valorizao de empresas e

    13Considerando aqui que os investimentos foram maturados.14 TIR (taxa interna de retorno), eminglsIRR (Internal Rate of Return), uma taxa de desconto

    hipottica que, quando aplicada a um fluxo de caixa, faz com que os valores das despesas, trazidos aovalor presente, seja igual aos valores dos retornos dos investimentos, tambm trazidos ao valor presente.Essa deve ser comparada a taxa mnima de atratividade normalmente a taxa bsica da economiaparaanalisar-se a viabilidade do projeto.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_inglesahttp://pt.wikipedia.org/wiki/IRRhttp://pt.wikipedia.org/wiki/IRRhttp://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_inglesa
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    setores distantes do consumo final, no valor das commodities negociadas no mercado

    futuro, em aes de empresas produtoras de bens de capital, etc..

    Portanto, supondo que os novos projetos sejam de fato do interesse dapopulao e que haver demanda para eles15, observaremos um problema temporal no

    processo como um todo. Todo o resultado dessa nova alocao de capital levar um

    tempo para ser concludo, porm, os insumos disponveis continuam os mesmo at l, j

    que ainda no houve uma maior produo nem um aumento ou melhoria de qualidade

    na mo de obra; no entanto, as novas demandas passaro a existir momentaneamente.

    Esse um dos pontos cruciais para a compreenso da TACE e o que a difere de muitas

    outras teorias que ignoram o tempo.A maior demanda por trabalho resultar em mais trabalhadores empregados e

    uma demanda maior e/ou um aumento nos salrios. Essa maior demanda

    necessariamente pressionar os preos da economia, uma vez que i) no houve um

    aumento na quantidade de bens de consumo, ii) muito possivelmente houve uma

    realocao de trabalhadores que antes contribuam para a produo de bens de consumo

    para a produo de bens em estgios mais distantes e iii) os projetos que se iniciaram e

    que poderiam vir a baratear o bem final ainda no foram concludos.

    No h, portanto, um comportamento prvio de maior poupana que resultou

    em uma diminuio nas taxas de juros, e o aquecimento gerado nos setores mais

    distantes do consumo final propiciar mais condies a uma parcela significativa que

    deseja consumir como antes ou at mesmo mais; porm, houve um sobreinvestimento

    em bens de capital e um subinvestimento em bens de consumo.

    O novo cenrio necessariamente ser inflacionrio por presses de demanda e

    maior oferta de moeda (desvalorizao).

    1.6 - Ciclo econmicoa correo

    Em algum momento haver interrupo do crdito farto a baixas taxas de juros,

    seja porque a inflao est atingindo nveis inaceitveis (tanto para o governo quanto

    para sociedade) ou porque os bancos esto demasiadamente expostos ao risco de

    15Sem poupana prvia para que esses investimentos ocorressem.

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    inadimplncia. Haver uma diminuio da expanso de crdito por parte das instituies

    financeiras ou at mesmo uma poltica monetria contracionista ser adotada, resultando

    numa esterilizao monetria. Esse momento depender de tolerncia dos cidados

    quanto inflao, dos polticos e planejadores econmicos e dos prprios bancos.

    Parte dos empreendimentos criados no momento do boom tornar-se-o

    inviveis a taxas de juros mais altas. Empresas endividadas em juros ps fixados tero

    dificuldades para honrar suas dvidas, o valor atual (valor presente lquido) de diversos

    projetos passaro a ser negativosisto , inviveis- com a nova taxa de juros, os fluxos

    deixaro de ser o que se imaginava, uma vez que haver menos consumo, maior

    poupana e parte da demanda prevista desaparecer. Haver um aumento na taxa dedesemprego, principalmente nos setores que envolvem projetos mais longos e mais

    distantes do consumo final16e o preo de muitos bens sero menores do que antes. De

    acordo com Mises:

    Many enterprises or business endeavors which had beenlaunched thanks to the artificial lowering of the interest rate, andwhich had been sustained thank to the equally artificial increase ofprices, no longer appears enterprises back their scale of operation,others close down or fail. (MISES, 2001, p.35)

    O incio e a proporo do bust so difceis de serem previstos, porm, sabemos

    que projetos distantes sero os mais afetados, havendo tambm consequncias para

    outros mercados. Projetos ruinosos tendero a ser abandonados ou usados de maneira

    mais eficiente, com o setor de bens de capital (ordem superior) sendo muito afetado,

    mas tambm haver efeitos em terras, mercado de trabalho, construo civil, aes, etc..

    Oppers, indica alguns setores que certamente sero afetados:

    []the shortages of consumer goods will force an increasein the price of current consumption goods relative to futureconsumption goods, which correspond to a rise in the market interestrate. Such a rise would get firms in trouble: they had invested in longproduction process on the basis of lower interest rates, and the rises inrates would make these processes unprofitable, because of highercarrying costs. Firms profits would fall, labor demand would shrink,and households would decline. A recession ensues, during whichfirms undertake a process of restructuring effort has been completely.

    (OPPERS, online, 2002)

    16Exatamente os que foram mais beneficiados com a reduo artificial das taxas de juros.

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    No momento em que surgir o incio da recesso, convencionalmente proposto

    por muitos uma nova rodada de expanso monetria e juros baixos, no entanto, os

    economistas austracos rejeitam esse posicionamento, pois, acreditam que seria como

    repetir o erro e somente postergar a necessria recesso tornando-a ainda mais grave

    no futuro, j que a desestruturao ser ainda maior. Se nada for feito, esse momento

    ser de correes, em que os maus investimentos sero corrigidos, e caso no haja uma

    interveno, em breve os mercados podero voltar a atuar normalmente.

    Sobre a concepo de crise como uma correo, Rothbard explica:

    [...]the depression is then seen as the necessary and healthy phase bywhich the market economy sloughs off and liquidates the unsound,uneconomic investments that are truly desired the consumers. Thedepression is the painful but necessary process by which the free marketslough off the excesses and errors of the boom and reestablishes the marketeconomy in its function of efficient service to the mass of consumers. Sinceprices of factors of productions have been bid too high in the boom, thismeans that prices of labor and goods in theses capital goods industries mustbe allowed to fall until proper market relations are resumed. (ROTHBARD,2001, p.85)

    Como pde ser compreendido ao longo do captulo, o momento de expanso

    creditcia e baixa taxa de juros causou uma reestruturao do processo produtivo queno condizente com o desejo dos consumidores. Logo, a recesso/bust/depresso

    vista pelos economistas austracos no como algo que deva ser combatido, mas como

    um processo pelo qual a economia se ajusta aps equvocos e desperdcios causados

    anteriormente; essa correo, por mais dura que seja, a nica forma de se voltar

    normalidade de produo, de acordo com o desejo dos consumidores.

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    CAPTULO 2: A TEORIA MACROECONMICA DE CAPITAL EOS CICLOS ECONMICOS

    2.1 - Introduo

    Nesse captulo faremos uma breve anlise das contribuies macroeconmicas

    de diversas escolas ao longo da segunda metade do sculo XX e, posteriormente, ser

    exposto a Macroeconomia baseada na Teoria de Capital uma abordagem austraca

    cujo intuito aproximar-se da Macroeconomia tradicional.

    2.2 - Um breve relato das contribuies Macroeconmicas das Escolas

    Econmicas que predominaram na segunda metade do sculo XX

    Durante a dcada de 50 e 60 a Escola Keynesiana representava a anlisepredominante na Cincia Econmica, apoiando-se, principalmente, nas curvas IS-LM,

    criada por John Hicks e Alvim Hasen. Essa pode ser representada graficamente como:

    Figura 2.1: Curva IS-LM (KLAMER, 1988, p.3)

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    Onde o eixo vertical representa a taxa de juros e o eixo horizontal o

    Produto/Oferta Real/Renda. A curva IS Investment/Saving-representa o lado real da

    economia, agregando consumo, investimento e despesas do governo. J a curva LM

    Liquidity Preference / Money Supply- representa o lado financeiro.

    Nota-se que, a partir desse modelo, vrios pontos de equilbrio so possveis de

    serem encontrados. Mudanas podem decorrer a partir de uma variao da curva IS ou

    da curva LM e, normalmente, uma variao em uma implica na variao de outra. Uma

    poltica fiscal expansionista, por exemplo, desloca a curva IS para direita, o que resulta

    num novo ponto de interseco, onde a taxa de juros mais alta. Porm, agora com uma

    maior atividade, a demanda por dinheiro aumenta, o que resulta em uma poltica

    monetria expansionista17, implicando em um novo ponto de equilbrio.

    relevante ressaltar que a base para tal representao a preferncia pela

    liquidez, conceito muito enfatizado por Keynes.

    Em 1950 foi criado, tambm a partir da anlise Keynesiana, um grfico que

    ocuparia muitas das discusses econmicas que viriam posteriormente: a curva de

    Phillips:

    Figura 2.2: Curva de Phillips (KLAMER, 1988, p.4)

    17Caso contrrio, os juros se elevariam e suas consequncias poderiam ser conflitantes com o objetivo da

    poltica fiscal.

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    Na curva de Phillips notamos a relao inversa da varivel Taxa de Inflao,

    representada pelo eixo vertical, e o Desemprego, representado no eixo horizontal. Ou

    seja, se o desemprego diminuir, veremos um aumento da Inflao e se o desemprego

    aumentar haver uma queda na taxa de inflao.

    Nos dois grficos expostos, muito utilizados por economistas keynesianos, fica

    claro o que os diferem de Keynes: a recorrncia Microeconomia neoclssica. Sua

    consequncia foi um maior enfoque na tica da oferta da Economia (enquanto Keynes

    foca a demanda), principalmente na Curva de Phillips e sua relao com o Mercado de

    Trabalho. A abordagem matemtica tambm foi adaptada.

    Para validar a teoria da Curva de Phillips, necessrio considerarmos que o

    mercado de trabalho est em desequilbrio. Desta forma, um excesso de procura de mo

    de obra seria responsvel pela elevao das taxas de salrio, o que resultaria em altos

    preos. No entanto, algumas crticas surgiram a tal pressuposto, entre ela: i) o

    desequilbrio no deve apenas existir, mas deve persistir para tornar vlida a

    representao e ii) no to claro como a procura de mo de obra pode coexistir com

    desemprego, que denota um excesso de mo de obra. (KLAMER, 1988, p.5)

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    Como justificativa, incorpora-se a hiptese de imperfeies de mercado, como

    falta de informao, heterogeneidade de trabalhadores e descompasso entre

    qualificaes necessrias e disponveis. A persistncia constante do desequilbrio

    enfrentada como consequncia da rigidez de salrios nominais18, que impedem o

    equilbrio no mercado de trabalho.

    Essa hegemonia durou at a dcada de 1970, quando houve a conhecida

    estagflao, perodo com altas taxas de inflao e desemprego, uma realidade

    impossvel quando adotamos somente a Curva de Phillips. Nesse cenrio, quatro outras

    escolas recebem destaque: A Marxista,com nomes como Paus Sweezy; a Ps

    Keynesiana, com representantes como Joan Robinson; a Monetarista, cujo principal

    terico Milton Friedman; a Escola das Expectativas Racionais, desenvolvida por

    Robert Lucas. Dentre as citadas, as duas ltimas so a que obtiveram maior repercusso,

    portanto, sero rapidamente detalhadas.

    Segundo os monetaristas, apesar da moeda ser neutra, ela pode causar ciclos

    em funo do efeito de seus saldos reais19. Quando h um aumento na quantidade de

    moeda (curva LM para direita), os indivduos elevam seus gastos (curva IS para direita),

    e o produto cresce. No entanto, esse o efeito somente de curto prazo. No longo prazo

    h um ajuste no mercado, logo, os preos sobem, os gastos idem e os saldos voltam a

    cair. Assim, a nica variao que se manteve foi no nvel de preos, que aumentou; o

    que implica em uma curva LM vertical.

    Para os Monetaristas, a curva de Phillips instvel porque os governantes

    querem diminuir o desemprego e, para isso, optam por uma poltica expansionista,

    resultando no aumento da produo e de preos. Inicialmente os trabalhadores creem

    que o aumento de preos temporrio e no ajustam suas expectativas em relao ao

    preo, e so induzidos a trabalhar mais, mesmo com um salrio real vigente no

    justificando a maior disposio para o trabalho. Os empregadores, ao obterem preos

    mais elevados sem precisar pagar salrios mais altos, aumentam a procura por mo de

    obra. Essa fase ser temporria, pois logo os trabalhadores comearo a ajustar suas

    18Normalmente, esses so previamente acordados em contrato por um dado perodo.

    19Volume de moeda em poder do pblico dividido pelo ndice de preo. Ou seja, a riqueza pblica.

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    expectativas e exigir salrios mais elevados. No longo prazo as expectativas alcanaro

    o nvel efetivo de preos e restauraro a situao clssica de equilbrio no longo prazo.

    (KLAMER, 1988, p.5)

    Na viso Monetarista o desequilbrio seria algo temporrio e as expectativas

    adaptativas, e no os preos rgidos, so as causas dessa situao. Trabalhadores s so

    iludidos no curto prazo e, uma vez que suas expectativas se adaptaram novamente, a

    taxa de desemprego tender novamente a sua taxa natural outra questo de grande

    relevncia na tese Monetarista.

    A Escola das Expectativas Racionais, que tambm recebe o nome de Nova

    Economia Clssica em funo de suas concluses de que a moeda neutra e a polticaeconmica ineficaz, tambm foi muito relevante no debate econmico. Primeiramente

    John Muth iniciou algumas referncias na dcada de 60, afirmado que a expectativa

    tima num determinado momento, dadas as informaes do futuro disponveis naquele

    instante. No entanto, quem mais desenvolveu a teoria foi Robert Lucas.

    Enfatizando o lado da Oferta (mercado de trabalho), e no da demanda (IS-LM),

    o modelo desenvolvido consolida o curto e o longo prazo na explicao monetarista e

    reestabelece a proposio clssica de neutralidade da moeda. A curva AS (oferta)

    ajusta-se imediatamente a alterao da Demanda (curva AD), os trabalhadores so

    racionais e sabem, desde logo, de que modo uma variao de AD afetar seu salrio

    real. Consequentemente, o efeito de tal alterao inexistente, e o resultado vale mesmo

    para o curto prazo. Esse resultado indica que o produto encontra-se em seu nvel natural

    em todos os momentos, mas isso claramente no ocorre, o que implica num desafio

    teoria, pois, alguns creem que esta variao o que gera os ciclos econmicos. Deve-se

    deixar claro, porm, que indivduos tm informaes limitadas, e erros so inevitveis.

    Esse erro explica o porqu da curva AS ser ascendente e o porqu a curva AS nem

    sempre se ajusta imediatamente, como ocorre no diagrama que veremos frente. Assim,

    desvios do produto real em relao ao seu nvel natural so possveis e o peso recai

    sobre a explicao do comportamento da curva AS. . (KLAMER, 1988, p.12)

    Para os Novos Clssicos o Produto Ofertado determinado pelo progresso

    tecnolgico e pelo crescimento da populao, sendo determinado tambm pelo Produto

    no perodo anterior e, talvez o mais importante, pelo erro de previso no nvel de preos.

    Lucas deu grande foco informao imperfeita e incerteza exemplificando pelo

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    conhecido problema das ilhas e sua falta de informao das demais, criando um

    descompasso entre preos realizados e esperados. Ou seja, as expectativas so racionais

    e os agentes tomam decises racionais, porm, as restries quanto s informaes

    disponveis e incerteza so suficientes para explicar a curva de Phillips e os ciclos

    econmicos sem fazer referncias a fatores de desequilbrios, como salrios rgidos e

    expectativas adaptativas.

    Pode-se resumir as principais relaes entre Demanda Agregada (AD) e Oferta

    (AS) nos grficos a seguir:

    Figura 2.3: Grficos AS/AD conforme as respectivas Escolas. (KLAMER, 1988,

    p.17)

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    2.3 - A macroeconomia baseada na teoria de capital - a anlise da escola

    austraca

    Conforme apresentadas, as tradicionais Escolas de pensamento econmico

    enfatizam em suas anlises o trabalho e a moeda, no entanto, diferente da anlise da

    Escola Austraca, nenhuma delas oferece um estudo criterioso da estrutura de capital.

    Baseando-se na subjetividade aplicada ao valor e as expectativas, e no individualismo

    metodolgico com nfase na diferena dos indivduosdiferena essa que se mostra no

    tratamento de bens que se d no mercado a partir de seu complexo processo-,

    analisaremos a Macroeconomia a partir de uma tica diferente que trar uma reflexo

    alternativa sobre os ciclos econmicos.

    Como vimos anteriormente, a Macroeconomia convencional utiliza-se muito

    de agregados em todas as esferas, e o mais prximo que chega da anlise de indivduos

    a partir de um agente representativo. No alicerce da Macroeconomia baseado na

    Teoria de Capital o foca ser em empreendedores operando em diferentes estgios de

    produo e tomando decises a partir de seus prprios conhecimentos, palpites e

    expectativas, informados pelos preos, salrios e taxa de juros. Em conjunto, as

    decises desses empreendedores resultaro em alocaes particulares de recursos ao

    longo do tempo. Nessa anlise, a concretizao do tempo e do dinheiro resultar na

    estrutura intertemporal de capital.

    Os instrumentos grficos que utilizaremos para aproximar a Teoria Austraca

    das demais sero: o grfico de fundos para emprstimos, o grfico das fronteiras de

    possibilidade e a estrutura intertemporal de produo, sendo o ltimo exclusivo da

    Macroeconomia baseada na Teoria de Capital.

    2.3.1 - Mercado para fundo de emprstimos

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    O mercado de oferta de recursos, que representa a disposio dos agentes a

    emprestarem a diferentes taxas de juros e a demanda por estes recursos, pode ser

    representado pela figura:

    Figura 2.4: Equilbrio entre agentes deficitrios e superavitrios

    Na utilizao desse modelo, partiremos de duas premissas: i) Emprstimos ao

    consumidor so disponibilizados pelo lado da oferta desse mercado, ou seja, cada

    quantia de emprstimos ao consumidor representa uma economia por parte da credora.

    Desta forma assumiremos que a poupana ser disponibilizada aos empreendedores para

    financiar investimentos, e essa poupana oriunda de diversos agentes econmicos, i.e,

    famlias, governos e poupana externa20; e ii) Apesar de excluir o crdito para consumo,

    o crdito e os emprstimos representados na oferta e demanda de fundos emprestveis

    so ampliados para incluir os lucros acumulados e de poupana na forma de compra de

    aes. (GARRISON, 2004, p.37)

    20As concepes de entesouramento e preferncia pela liquidez so compatveis com o modelo, porm,

    no so de grande relevncia aqui.

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    A taxa de juros de equilbrio nada mais do que a taxa de equilbrio de trocas

    intertemporais, que se manifesta no mercado de emprstimos. O mercado de fundos de

    emprstimos, no entanto, merece ateno especial. A manifestao mais direta e

    evidente de troca intertemporal, a taxa de emprstimo que apura esse mercado,

    fundamental para traduzir as preferncias intertemporais de consumo dos assalariados e

    os planos de produo intertemporais da comunidade empresarial.

    vlido ressaltar que para a Economia Austraca, o objetivo de um agente

    poupar acumular um poder para exercer futuramente. Desta forma, uma poupana no

    presente resultar em um consumo futuro.

    2.3.2 - Fronteiras de possibilidade de produo (FPP)

    Conhecida na literatura econmica, a Fronteira de Possibilidade de Produo nos mostrauma produo de dois bens e, por serem limitados, qual o trade-off entre eles nasescolhas de produo. Para nossa anlise, usaremos a mesma estrutura, porm, ao invs

    de trabalharmos com dois bens especficos, trabalharemos com bens de capital e bens deconsumo.

    Figura 2.5: Fronteira de Possibilidade de Produo

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    Como podemos observar, caso estejamos numa situao esttica, s possvel

    modificar o quanto produziremos de cada bem, uma vez que tudo mais est constante.

    No entanto, caso haja uma expanso ou retrao da economia, a curva de Fronteiras de

    Produo poder se deslocar para direita ou para esquerda, representando a evoluo

    econmica. O que ir determinar o seu comportamento ser a taxa de investimentos.

    Figura 2.6: Comportamento da Curva de Fronteiras de Produo (GARRISON,

    2001,p.43)

    De acordo com Iorio, sobre os grficos acima:

    O investimento medido em termos brutos (manuteno eexpanso de capital). Em algum ponto da FPP denominado de"ponto de estacionamento" ou "no-growth") o investimento brutoser igual ao montante para cobrir a depreciao, sem investimentolquido, isto , teremos uma economia estacionria. interessanteobservarmos que, no grfico, direita do ponto de no-growth ocorreexpanso da FPP (maior eficincia) e sua esquerda uma contraoda FPP (perda de eficincia). (IORIO, 2010, p.183)

    2.3.3 - A estrutura intertemporal de produo

    Recebendo grande foco somente na Teoria Macroeconmica da Estrutura de

    Capital, este modelo auxiliar a compreenso da relao entre o bem final (ou bem de

    consumo) e a produo durante seu processo, considerando o tempo e suas etapas. O

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    modelo tambm conhecido como os Tringulos de Hayek, e considerado uma

    aprimorao do que havia previamente sido desenvolvido por Bohm-Bawerka mosca

    de alvo bawerkiana.

    Em sua anlise estrita, o modelo uma produo continua e imediato consumo

    (continuous-input/point output). O eixo horizontal mostra o tempo de produo e a

    evoluo do produto conforme os seus estgios. O eixo vertical estima o valor do bem

    produzido conforme sua evoluo no processo, podendo ser compreendido tambm

    como sua agregao de valor. A inclinao da hipotenusa representada pela taxa de

    juros.

    No exemplo, mostraremos a dimenso de valor e a dimenso de tempo para umproduto que se inicia na minerao e evolui at o varejo. Utilizaremos poucos estgios

    de produo a fim de facilitar a compreenso.

    Figura 2.7: Tringulo Hayekiano de Produo (GARRISON, 2001, p.47)

    No exemplo, deve ficar claro que a imagem no s mostra o bem evoluindo

    conforme seu processo de produo, mas tambm o fato de que os diferentes estgios de

    produo existentes em cada momento visam o consumo em diferentes momentos do

    futuro.

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    Diferentes desdobramentos quanto ao processe produtivo e consumo final so

    possveis, como consumo no instantneo (continuous input / continuous output) .

    Nessa situao inicialmente analisada por William Jevons, o grfico teria o cateto

    horizontal com um grau de declividade. Outra alternativa seria uma a combinao de

    produo e consumo instantneto (point-input/point output), porm, o relevante

    compreender que em todos os modelos a inclinao ser reflexo da taxa de juros.

    (IORIO, 2012, p.189)

    Os trs modelos interligados, quando analisados juntos e em equilbrio, sero

    apresentados da seguinte forma:

    Figura 2.8: Equilbrio no processo produtivo

    A figura acima resume o funcionamento de uma economia privada ou uma

    economia com o oramento pblico includa no balano e como os trs grficos esto

    interligados. Nota-se como a declividade da hipotenusa do tringulo de Hayek reflete a

    taxa de juros de equilbrio no mercado. Pode-se concluir tambm que numa produo

    contnua (continuousinput construction), a hipotenusa mostrar no s a taxa de juros,

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    mas tambm que a cada estgio da produo parcialmente atribudo aos insumos que

    so adicionados naquele momento e parcialmente atribudos mudana temporal da

    proximidade do produto final.

    Na situao acima observamos a economia em seu nvel natural. Ou seja, os

    investimentos so apenas suficientes para compensar a depreciao do capital; o

    consumo mantm-se no mesmo nvel e a poupana suficiente para financiar o

    investimento bruto.

    Antes de discutirmos a respeito do crescimento econmico e sua diferena entre

    um modelo de boome bust, devemos detalhar um pouco sobre o modelo proposto:

    No h definies sobre o mercado monetrio, pois, a Escola Austraca v a

    moeda como uma junta frouxa (loose joint), conforme foi previamente explicada no

    captulo 1. Apesar de no ser explcita, a ideia de moeda est em todos os grficos e,

    posteriormente, analisaremos como a poltica monetria afeta a economia real,

    distorcendo a poupana, consumo, investimento e o tempo de produo.

    No h referncias sobre o nvel de preo. Apesar da Escola Austraca no

    desconsiderar a essncia da teoria quantitativa da moeda a inflao no longo prazo um fenmeno monetrio-, foca-se no fato de que a alocao intertemporal

    influenciada principalmente por variaes nos preos relativos dentro da estrutura de

    capital, e no somente no nvel de preos. Desta forma entende-se o porqu a moeda

    no neutra.

    No que se refere inflao como sendo um fenmeno monetrio, entende-se que

    uma determinada criao de moeda no ser igualmente dividida entre a populao 21,

    mas sim ser destinada a um determinado setor. Esse receber a moeda e conforme for

    gastando ir gerar inflao gradualmente, fazendo com que os ltimos a receb-los

    sejam os mais prejudicados em funo do aumento de preos. Hayek exemplifica o

    fenmeno fazendo uma analogia a uma quantidade de mel derramada no centro de um

    pires e esse vai espalhando-se para as laterais (HAYEK, 2011, p.43).

    2.4- Crescimento econmico

    21Exemplificado por Friedman pelo helicptero distribuindo notas.

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    2.4.1 - Crescimento secular

    O modelo de crescimento secular representa o crescimento advindo de umaumento de renda, que resulta num aumento da poupana e, consequentemente, doinvestimento bruto, em uma proporo em que as taxas de juro no se alterem. Ou seja,no est relacionado a avanos tecnolgicos, variaes nas preferncias intertemporaisou polticas. Conforme observa Iorio:

    Se a taxa de juros permanece constante, as hipotenusas dostringulos de Hayek so paralelas, isto , a taxa de juros aloca recursosentre os estgios de modo a alterar o tamanho, mas no osprofitsintertemporais da estrutura de capital. E o que dizer sobre a moeda eo nvel geral de preos? Se MV=PY (em que M o estoque demoeda, V a sua "velocidade", P o "nvel geral de preos" e Y o "PIB"real) dados M e V, como preconiza a verso de Irving Fisher da teoriaquantitativa da moeda, como C (consumo) e I (investimento)aumentam (C + I = Y), isso significa que o nvel geral de preos devecair. o caso conhecido como deflao secular. (IORIO, 2012,p.192)

    Em uma economia em crescimento secular, o equilbrio costuma requerer

    preos e salrios mais baixos; e esses ajustamentos nos preos e salrios se do nos

    mercados particulares em que o crescimento em si ocorre. O resultado que a mdia

    dos preos cai.

    De acordo com a ltima figura, em que os trs grficos encontravam-se emequilbrio, podemos ilustrar como se daria esse crescimento, em que no haveria

    mudana na preferncia dos agentes e nem nas taxas de juros. Assim, o modelo de

    crescimento secular poder ser representado da seguinte forma:

    Figura 2.9: Crescimento Secular (GARRISON, 2001, p.54)

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    Notamos, portanto, um aumento de poupana e da demanda por emprstimos, sem

    alterao na taxa bsica de juros. Isso desloca a curva de fronteiras de possibilidade de

    produo para direita o que significa uma expanso- e torna a estrutura intertemporalde produo mais longa, representando assim um crescimento econmico.

    2.4.2 - Mudanas nas preferncias intertemporais

    Quando supomos que, por algum motivo, h uma mudana na preferncia dos

    indivduos em uma sociedade, isso levar a uma mudana na estrutura de capital; essa

    mudana pode refletir em uma maior poupana ou em um maior desejo por consumo

    imediato. Diferente de Keynes, que acredita que um consumo menor no presente

    resultar em um consumo menor tambm no futuro, a Macroeconomia baseada na

    Estrutura de Capital cr que no momento em que uma pessoa poupa, essa almeja

    consumir mais no futuro. Desta forma, economiza-se com um objetivo futuro.

    A reestruturao de todo o processo produtivo dar-se- por trs motivos: i) um

    aumento na poupana aumentaria os recursos disponveis para emprstimos; ii) dado o

    menor consumo, o trabalho nos setores relacionados a este seriam menos demandados e

    iii) os investimentos que tornar-se-iam atrativos, dada uma menor taxa de juros, seriam

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    os mais distantes do consumo, uma vez que o trabalho valorado a partir de uma taxa

    descontada. Assim, setores que produzem, por exemplo, bens de capital, teriam grandes

    estmulos.

    Nota-se, portanto, que quando analisamos a dinmica de trabalho, ele tende a

    ser menos demandado nos setores relacionados a consumo, o que gera um menor

    salrio, e mais demandado nos setores relacionados a investimento, com tendncias de

    aumentos de salrio. No longo prazo, a substituio tenderia a um novo equilbrio.

    Vejamos o comportamento grfico dado um aumento da poupana em um

    primeiro momento:

    Figura 2.10: Crescimento baseado em mudanas nas preferncias temporais

    (GARRISON, 2001, p.69)

    No grfico observamos um aumento de recursos disponveis para emprstimos

    faria com que um novo ponto de equilbrio fosse estabelecido, a uma taxa bsica de

    juros menor do que anteriormente. Essa nova taxa de juros faria com que o ponto deequilbrio no grfico de fronteiras de possibilidade de produo se deslocasse para

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    direita, aumentando a proporo de investimentos e diminuindo a de consumo. Por

    ltimo, notamos um alongamento da estrutura intertemporal de produo e, ao mesmo

    tempo, uma diminuio na produo de bens de consumo.

    Observamos agora como se daria um crescimento contnuo a partir da poupana:

    Figura 2.11: Crescimento baseado em poupana (GARRISON, online, 2003)

    Conforme Roger Garrison explica:

    Resources are bid away from late stages of production, wheredemand is weak because of the currently low consumption, and intoearly stages, where demand is strong because of the lower rate ofinterest. That is, if the marginal increment of investment in early

    stages was just worthwhile, given the costs of borrowing, thenadditional increments will be seen as worth-while, given the new,lower costs of borrowing. While many firms are simply reacting to thespread between their output prices and the input prices in the light ofthe reduced costs of borrowing, the general pattern of intertemporalrestructuring is consistent with anticipation of a strengthened futuredemand for consumption goods made by the increased saving.(GARRISON, 2001, p.63)

    Ou seja, a poupana no s ir causar uma reestruturao da produo em

    funo dos custos empresariais mais baixos, consequncia das taxas de juros menores,

    mas tambm estar sinalizando que futuramente haver um novo padro social de

    consumo que dever ser atendido.

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    2.5- A teoria austraca dos ciclos econmicos

    Com respaldo do que foi previamente exposto, faremos agora uma distino do

    que iremos definir como crescimento genuno a base de poupana e crescimento

    oriundo de manipulaes das autoridades monetrias. O ltimo representa exatamente o

    boomque antecede o bust, caracterizando assim o ciclo econmico.

    vlido ressaltar que nessa abordagem, o ciclo tem inicio numa manipulao

    monetria, mas no necessariamente pela quantidade de moeda, mas tambm pelos

    sinais que os juros provenientes dessa iriam transmitir; h, portanto, uma relevncia de

    como ser o ponto de entrada dessa nova moeda. De acordo com Iorio:

    Na ABCT (Austrian Business Cycle Theory), o impulso amoeda, via variaes nos preos relativos afetando a estrutura deproduo, e esse impulso provocado pela caractersticade looseness (frouxido) inerente s trocas indiretas; a propagao constituda pelos efeitos dessas alteraes nos preos relativos sobre osetor real da economia. (IORIO, 2012, p.192)

    Em nossa anlise grfica simplificada, independente da forma como for feita a

    manipulao por parte da autoridade monetria22, o crdito criado estar representado

    no grfico de oferta de fundos.

    Figura 2.12: Distores monetrias e suas consequncias (IORIO, 2012, p.198)

    22A manipulao pode se dar por redesconto, operaes no mercado aberto ou compulsrio.

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    Inicialmente, verificamos que a expanso do crdito ir reduzir a taxa bsica de

    juros, o que far com que haja uma diminuio da poupana e um aumento do

    investimento; consequentemente, haver um deslocamento para direita do FPP. No

    entanto, uma queda na poupana implica em um aumento do consumo, o que leva a um

    deslocamento para cima da FPP. Diante desta situao, haver um fenmeno de

    excessiva produo em ambas as categorias. Chamaremos os dois fenmenos

    resultantes do aumento de crdito de sobre consumo23 e poupana forada24 A

    poupana forada resultar em investimentos que s so viveis em funo da baixa

    taxa de juros e, como j explicado, esses tendem a se dar nas etapas mais distantes do

    consumo final. Esses empreendimentos, sero chamados de malinvestments.

    Essa situao sustentvel por um perodo, porm, logo haver um cabo de

    guerra entre consumidores e investidores por recursos escassos, entre eles, mo de obra.

    Os setores mais prejudicados sero os que ficam no meio da estrutura de produo; o

    que ser uma fora no desequilbrio da nova estrutura. De acordo com Garrison:

    23Aumento do consumo advindo da queda da taxa de juros.

    24Crdito disponibilizado s empresas sem respaldo de poupana prvia.

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    For a time, increased consumption and increased investmenthave their separate effects. The economy moves beyond its PPF and ischaracterized by an unsustainable level of output.

    There is an investment bias in the allocation of resources,however, because of the artificially low interest rate. The tug-of-war ispartially won by investors if only because they have more pull, thenew money having come to them through credit markets.25(GARRISON, online, 2003)

    A situao acima descrita, inevitavelmente gerar uma presso inflacionria, e em

    algum momento as taxas de juro tero de ser elevadas. Muitos investimentos deixaro

    de ser rentveis e projetos sero abandonados - principalmente aqueles que estavam

    endividados a taxas de juros ps fixadas; o desemprego nesse setor aumentar, e haver

    ociosidade no s de trabalho como tambm de capital. Haver um reflexo na renda,

    que por sua vez diminuir os gastos. Dar-se- incio ao bust! A situao agora ser

    caracterizada pela presena de deflao consequente dos malinvestments, o qual Hayek

    chamou despiraling downward. Conforme Iorio explica:

    No h nada que possa prevenir a espiral decrescente depois

    que a trajetria de ajustamento cruza a FPP: as rendas e os gastoscaem, o que leva a economia para dentro da FPP. Isto ainda seagravar se a oferta e a demanda de fundos se deslocarem para aesquerda, o que pode acontecer se os poupadores desejarem ficar maislquidos e os investidores perderem a confiana na economia. Esseaumento na "preferncia pela liquidez" no psicolgico, comosustentava Keynes na Teoria Geral: simples averso ao risco!(IORIO, 2012, p.199)

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    CAPTULO 3: CRISE 2008 E A TEORIA AUSTRACA DOS

    CICLOS ECONMICOS 26

    3.1 - Introduo

    A crise mundial iniciou-se em 2007, no setor imobilirio norte americano e,

    posteriormente, veio a contaminar todo o sistema financeiro. O valor dos imveis

    vinham subindo rapidamente a atingiram seu ponto mximo por volta de 2005/2006.

    Anteriormente notava-se um excesso de liquidez no sistema e as taxas de juros haviam

    atingindo sua taxa mnima de um longo perodo; a populao estava altamenteendividada:

    []a broader trend of lowered lending standards andhigher-risk mortgage products. Further, U.S. households had becomeincreasingly indebted, with the ratio of debt todisposable personalincome rising from 77% in 1990 to 127% at the end of 2007, much ofthis increase mortgage-related. (THE ECONOMIST, online, 2008)

    Pessoas que tinham como objetivo adquirir seu primeiro imvel aproveitarampara financiar suas casas a taxas de juros extremamente baixas27. Proprietrios

    utilizavam seus atuais imveis para adquirir hipotecas; uma vez que os preos vinham

    ascendentes, sabia-se que era possvel, em pouco tempo, fazer uma nova hipoteca (com

    valor do imvel mais alto) e ter um resultado financeiro na operao. Assim, partindo da

    crena de que os imveis nunca se desvalorizam, esses se tornaram semelhantes a caixas

    eletrnicos que eram recorridos quando proprietrios precisavam de dinheiro.

    Essas hipotecas cujos principais credores eram os bancos, porm, haviam sido

    transformadas em ttulos negociveis por securitizadoras e ento eram repassados a

    investidores. Ou seja, eram ttulos lastreados em dvidas de hipotecas e forneciam uma

    enorme liquidez ao sistema de emprstimos.

    26Nesse captulo as sries histricas utilizadas encerram em julho de 2013.

    27Ignorando o fato dos preos estarem historicamente altos.

    https://en.wikipedia.org/wiki/Disposable_personal_incomehttps://en.wikipedia.org/wiki/Disposable_personal_incomehttps://en.wikipedia.org/wiki/Disposable_personal_incomehttps://en.wikipedia.org/wiki/Disposable_personal_income
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    Esses ttulos, por sua vez, eram classificados pelas principais agncias de risco

    do pas como sendo de altssima confiana, e estavam pulverizados no sistema

    financeiro norte americano nas mais diferentes carteiras, como fundos de penso,

    companhias de seguro, hedge funds etc.

    No momento em que os preos dos imveis comearam a cair e as taxas de

    juros estavam mais altas, muitos viram o pagamento das hipotecas como sendo

    inviveis, optando pela venda da casa ou simplesmente a entrega desta para a o banco.

    O resultado dessa maior oferta para venda foi acelerar e intensificar ainda mais a queda

    dos preos; os credores viram suas receitas diminuir em funo de dificuldade dos

    endividados em honrar as dvidas e muitas vezes recebiam as prprias garantias (que

    agora valiam menos do que a dvida), causando, assim, uma enorme dificuldade para

    que os direitos dos ttulos no mercado fossem honrados.

    Com a diluio do valor desses ttulos, instituies viram seus ativos que

    representava uma pequena parcela do seu passivo - diminuir significativamente e

    iniciou-se um efeito domin que s teve a falncia generalizada evitada aps uma

    grande interveno do governo, que injetou liquidez no sistema via Banco Central.

    Inicialmente vimos o Bear Stearns, o quinto maior banco de investimentos do

    mundo, vir prximo falncia; em poucos dias o Fed fez um emprstimos de US$30

    bilhes ao J.P Morgan Chase para aquisio do primeiro.

    Posteriormente as empresas semi estatais (government sponsored

    enterprises) Fannie Mae e Freddie Mac apresentaram problemas de liquidez. Ambas

    eram respo