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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X A REVOLUÇÃO CUBANA E OS ESPAÇOS OCUPADOS POR HOMENS E MULHERES Andréa Mazurok Schactae 1 Resumo: A Revolução Cubana está entre os grandes acontecimentos do século XX. Um processo revolucionário que uniu diferentes forças e após a vitória do Exército Rebelde e os seus aliados, instaurou-se o governo revolucionários. Herdeira de uma tradição que está presente no Ocidente, Cuba também construiu um discurso sobre sua História focado em grandes homens e em um ideal de masculinidade. A imagem de homens com barba, armados e usando uniforme militar é recorrente nas revistas na década de 1970. O objetivando contribuir para as reflexões no campo dos estudos de gênero, volto olhar para as relações de gênero no espaço da luta revolucionária em Cuba. Sendo assim, são analisados os espaços de poder ocupados por homens e mulheres nos movimentos que compõem a luta revolucionária nos anos de 1950, observando os discursos da imprensa do Estado Cubano na década de 1970. Esse estudo visa identificar construções de feminilidades e masculinidades nos discursos da década de 1970. O observa-se que a construção da história oficial de Cuba é marcada pela guerra. Uma construção que dá significada as relações de gênero, que estabelece o homem militar, guerreiro como modelo de cidadania, bem como tende a definir a mulher como a mãe dos guerreiros. Para orientar a reflexões é utilizado o gênero como categoria de análise, bem como, os conceitos de identidades e masculinidade hegemônica. As fontes são publicações do Estado Cubano e bibliografias. Palavras-chave: Revolução Cubana; espaços generificados; masculinidades e feminilidades; luta armada. Voltando o olhar para a Revolução cubana: definindo o objeto 2 A Revolução Cubana é um acontecimento que marcou a história Ocidental, especialmente da América Latina, na segunda metade do século XX. As atuações políticas de dois dos líderes do movimento revolucionário Cubano, Ernesto Guevara (Che) e Fidel Castro, legitimam a Revolução Cubana como um símbolo de resistência ao imperialismo. Porém essa ideia é resultado de uma construção discursiva, que remontam ao período da luta armada, nos anos de 1950 em Cuba, bem como os primeiros anos dos revolucionários no poder em Cuba Ao voltar o olhar para historiografia, observa-se que as narrativas sobre a Revolução Cubana, remetem ao processo de independência de Cuba, no final do século XIX. Conforme afirma 1 Doutora em História, pesquisadora do NEG/UFPR, Curitiba, Paraná, Brasil; Professora e pesquisadora do IFPR, Telêmaco Borba, Paraná, Brasil. 2 Esse texto é parte dos resultados do projeto de pesquisa: A(s) Biografia(s) de Célia Sanchez: a construção de uma heroína e de um ideal de feminilidade em Cuba; o qual está registrado no IFPR, referente ao período de 2016-2018.

A REVOLUÇÃO CUBANA E OS ESPAÇOS …...Revolução Cubana é a primeira guerra da Independência, em 1868. (RAMONET, 2006, p. 42-43). (RAMONET, 2006, p. 42-43). Observando algumas

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

A REVOLUÇÃO CUBANA E OS ESPAÇOS OCUPADOS POR HOMENS E

MULHERES

Andréa Mazurok Schactae 1

Resumo: A Revolução Cubana está entre os grandes acontecimentos do século XX. Um processo

revolucionário que uniu diferentes forças e após a vitória do Exército Rebelde e os seus aliados,

instaurou-se o governo revolucionários. Herdeira de uma tradição que está presente no Ocidente,

Cuba também construiu um discurso sobre sua História focado em grandes homens e em um ideal

de masculinidade. A imagem de homens com barba, armados e usando uniforme militar é recorrente

nas revistas na década de 1970. O objetivando contribuir para as reflexões no campo dos estudos de

gênero, volto olhar para as relações de gênero no espaço da luta revolucionária em Cuba. Sendo

assim, são analisados os espaços de poder ocupados por homens e mulheres nos movimentos que

compõem a luta revolucionária nos anos de 1950, observando os discursos da imprensa do Estado

Cubano na década de 1970. Esse estudo visa identificar construções de feminilidades e

masculinidades nos discursos da década de 1970. O observa-se que a construção da história oficial

de Cuba é marcada pela guerra. Uma construção que dá significada as relações de gênero, que

estabelece o homem militar, guerreiro como modelo de cidadania, bem como tende a definir a

mulher como a mãe dos guerreiros. Para orientar a reflexões é utilizado o gênero como categoria de

análise, bem como, os conceitos de identidades e masculinidade hegemônica. As fontes são

publicações do Estado Cubano e bibliografias.

Palavras-chave: Revolução Cubana; espaços generificados; masculinidades e feminilidades; luta

armada.

Voltando o olhar para a Revolução cubana: definindo o objeto2

A Revolução Cubana é um acontecimento que marcou a história Ocidental, especialmente

da América Latina, na segunda metade do século XX. As atuações políticas de dois dos líderes do

movimento revolucionário Cubano, Ernesto Guevara (Che) e Fidel Castro, legitimam a Revolução

Cubana como um símbolo de resistência ao imperialismo. Porém essa ideia é resultado de uma

construção discursiva, que remontam ao período da luta armada, nos anos de 1950 em Cuba, bem

como os primeiros anos dos revolucionários no poder em Cuba

Ao voltar o olhar para historiografia, observa-se que as narrativas sobre a Revolução

Cubana, remetem ao processo de independência de Cuba, no final do século XIX. Conforme afirma

1 Doutora em História, pesquisadora do NEG/UFPR, Curitiba, Paraná, Brasil; Professora e pesquisadora do IFPR,

Telêmaco Borba, Paraná, Brasil. 2 Esse texto é parte dos resultados do projeto de pesquisa: A(s) Biografia(s) de Célia Sanchez: a construção de uma

heroína e de um ideal de feminilidade em Cuba; o qual está registrado no IFPR, referente ao período de 2016-2018.

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Fernandes, o nacionalismo cubano é resultado do processo de independência, que uniu diferentes

grupos sociais, contra um inimigo comum. Portanto, o nacionalismo,

[...] não cresceu a partir da dominação econômica, social e política dos estratos

conservadores frequentemente aliados aos controles externos e á própria representação

antinacionalista, mas da confluência de varias forças sociais divergentes, empenhadas na

liberação nacional [...] ou nas lutas contra imperialismo e a dominação estadunidense.

(FERNANDES, 2012, p. 90)

Para Aviva Chomsky, a Revolução Cubana, é compreendida a partir da luta armada na

Sierra Maestra, que é identificada como uma prática que liga a independência, do século XIX, à

Revolução, da década de 1950. Portanto, a Revolução é percebida como a aplicação dos ideais da

independência. E o Movimento 26 de Julho queria levar a cabo o projeto pelo qual José Martí e

tantos outros haviam morrido. Em 1898, as forças de ocupação norte-americanas impediram que o

exército rebelde de Cuba entrasse na capital de Santiago. (CHOMSKY, 2015, p. 46)

Chomsky e Fernandes identificam o processo revolucionário como uma continuidade dos

ideais que moveram as guerras da independência. Essa idéia também é compartilhada por Luis F.

Ayerbe (2004). O pesquisador destaca que “a revolução de 1959 tem profundas raízes na trajetória

histórica nacional, com antecedentes que remontam ao período independentista.” (AYERBE, 2004,

p. 21)

As três colocações apresentadas indicam que a Revolução ocorrida na década de 1950 é uma

continuação do ideal da independência, bem como, é um posicionamento contra a influência norte-

americana na ilha. Esse discurso também é compartilhado pelas narrativas construídas pelo Estado

Cubano, na segunda metade do século XX, seja nos livros ou nos impressos de circulação semanal e

mensal (revistas e jornais).

Para os historiadores cubanos, Francisca López, Oscar Loyola e Arnaldo Silva (2005) a

Revolução é um processo de libertação nacional das influências do capitalismo e do imperialismo

norte-americano. (LOPEZ; LOYOLA; SILVA, 2005, p. 223-228) A Revolução como um processo

resultante de uma conjuntura política e social, que remonta a meados do século XIX, é utilizada

para construir a narrativa sobre a Revolução, em Cuba.

Nos discursos de Fidel Castro, publicados pelo Departamento de Orientación

Revolucionária del Comité Central del Partido Comunista de Cuba, publicados em 1978, a história

de Cuba é uma história de lutas realizadas por homens, que se uniram contra o imperialismo,

iniciada no ano de 1868. Em entrevista com Ignacio Ramonet, Fidel reafirma que o início da

Revolução Cubana é a primeira guerra da Independência, em 1868. (RAMONET, 2006, p. 42-43).

Observando algumas narrativas sobre a Revolução construída pela historiografia e presente

nos discursos de Fidel Castro, percebe-se que todas essas construções discursivas, explicam a

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Revolução Cubana, a partir da longa duração. E também destacam os homens como agentes que

atuaram nesse processo e se constituíram em líderes e heróis. Uma construção que estabelece uma

masculinidade hegemônica (CONNELL, 1997) em Cuba.

Vale destacar, que esse período é também o período de construção de uma comunidade

imaginada em Cuba, considerando o conceito de Benedict Anderson (2005, p. 25), para explicar a

construção das identidades nacionais, no século XIX. E também o processo de construção dos

heróis nacionais. Para Raoul Girard não se trata essencialmente de um personagem, mas sim de sua

imagem, de representação que dela foi feita e que parece ter imposto muito amplamente a opinião,

em outras palavras, é uma narrativa, que é preciso ler e interpretar. (GIRARD, 1987)

Portanto, a narrativa da história nacional está atrelada a construção dos heróis, que são

representações da nação. Sendo assim, a nação luta contra o imperialismo e a dominação

estrangeira. Em nome da nação homens pegaram em armas. Essa é a ideal central nas narrativas.

Todavia, em diversos textos, publicados nas revistas, nos anos de 1970 em Cuba, as mulheres

também figuram como agentes desse processo histórico.

A partir dessa constatação, esse texto tem como objetivo analisar os espaços de poder

ocupados por homens e mulheres nos movimentos que compõem a luta revolucionária nos anos de

1950, observando os discursos da imprensa do Estado Cubano na década de 1970. Esses discursos

permitem identificar as construções de feminilidades e masculinidades. Vale destacar, que essas

narrativas são construtoras da história nacional. Essa construção é significativa para compreender as

narrativas sobre a Revolução Cubana, a partir das relações de gênero, pois marcadas pela luta

armada.

Para essa reflexão foram selecionados textos publicados pelo Estado Cubano, tendo como

foco central algumas edições da Revista Mujeres, dos anos de 1970. Esses discursos são analisados

partir da categoria gênero, dialogando com os conceitos de comunidade imaginada, de Benedict

Anderson (2005), de herói de Raoul Girardt (1987) e de masculinidade hegemônica, de R. Connel

(1997).

Entre fuzis, barbas e marianas: masculinidade(s) e feminilidade(s) nos anos de 1970

Em janeiro de 1959 terminaram os combates e os rebeldes ocupam os campos de poder em

Cuba, portanto deixam de ser rebeldes para se constituírem em estabelecidos. No processo de

construção da nova estrutura de poder do Estado Cubano, foram criadas novas instituições entre

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elas o Exército Revolucionário, composto por homens e mulheres que haviam lutado para depor o

governo de Batista, e Federación de Mujeres Cubanas (FMC).

Os discursos de Fidel Castro, bem como, outras publicações do Estado Cubano, são lugares

de construção de uma memória sobre a Revolução e o processo de estabelecimento de um Estado

Socialista em Cuba. Esses discursos são parte da construção e re-construção da identidade nacional

cubana, na segunda metade do século XX. Portanto, voltar o olhar para esses discursos é

fundamental para compreender as narrativas sobre a Revolução Cubana e a significação das

políticas implantadas pelo poder estabelecido. Todavia as publicações dos 1970 são fundamentais

para compreender essa nova identidade nacional e o estabelecimento da memória sobre a

Revolução, pois os anos de 1970 foram marcados pela construção de um aparato de instituições,

organizadoras e legitimadoras do Estado Cubano. Mesmo que muitas instituições tenham sido

criadas nos anos de 1960, foi na década seguinte elas se afirmam como legitimadoras do Estado

Cubano, e demarcam espaços de poder.

Voltando o olhar para Federación de Mujeres Cubanas (FMC), observa-se que a criação

ocorreu no dia 23 de agosto de 1960 e que naquele momento possuía 17.000 (dezessete mil)

mulheres federadas. No início da década seguinte esse número passou de um milhão de federadas.

Esses números demonstram que a instituição estava cumprindo com seu objetivo, que era unificar

todas as organizações femininas cubanas e uma única organização. Além desse objetivo Vilma

Espín – que foi presidente da FMC, ao longo da segunda metade do século XX –, destaca, em seu

discurso no ato de criação da instituição, que:

(…)organización, la Federación de Mujeres Cubanas, se propone, (…), la defensa de la

mujer y el niño, la defensa de la paz mundial, la salvaguarda de las generaciones presentes

y futuras, y la defensa de la soberanía de nuestro pueblo. Pues, además de eso, es nuestro

propósito, en la nacional, apoyar a la Revolución Cubana, y en lo internacional la

solidaridad con todos los pueblos de Latinoamérica y el mundo. Además de eso, hemos

acordado algunas labores específicas, como por ejemplo: el comenzar a trabajar

inmediatamente en la creación de guarderías o creches para los hijos de la mujer

trabajadora, (…). (ESPIN, 1960; BELL; LÓPEZ; CARAM, 2007, p. 267)

No ano de 1962 foi realizado o I Congresso Nacional da FMC, quanto foi aprovado o

estatuto e o programa de trabalho para os anos seguintes. Em setembro de 1974 ocorreu o II

Congresso Nacional, no qual foram apresentadas as políticas realizadas ao longo da primeira década

de existência da instituição.

O discurso de Fidel Castro, no Segundo Congresso da Federação de Mulheres Cubanas, no

ano de 1974, foi publicado na Revista Bohemia, e destaca o espaço da mulher após 15 anos de

revolução. Todavia ele admite que os espaços de poder ocupados pelas mulheres em Cuba ainda

apresentavam números baixos (mulheres em cargos de dirigentes 15%; no Partido 12,79% e nos

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quadros ou funcionários do Partido 6%; entre os eleitos são 3% em uma população de

aproximadamente 50% de mulheres). Como solução Fidel afirma ser necessário rever as políticas e

transformar as construções tradicionais, pois segundo ele: “la realidad es que aún subsisten

factores objetivos e subjetivos que mantienen una situación de discriminación con relación a la

mujer”. (CASTRO, 1974)

No entanto, os estudos do historiador Julio César González Pagés, sobre a participação das

mulheres na História de Cuba, indicam que desde o século XIX mulheres cubanas participam de

espaços historicamente masculinos entre os quais a luta armada no século XIX e no século XX. O

pesquisador indica que entre 1941 e 1958, haviam noventa e nove (99) organizações de mulheres,

em Cuba (PAGÉS, 2005). E na década de 1950, muitas mulheres integraram organizações

oposicionistas a ditadura de Batista, bem como criaram organizações oposicionistas femininas como

a Frente Civico de Mulheres do Centenario Martiniano, criada no início da década e a organização

Mujeres Oposicionistas Unidas (M.O.U), criada no ano de 1956. Conforme as investigações do

historiador o objetivo dessa última organização foi reunir as mulheres de diferentes grupos de

oposição (Partido Socialista Popular; Diretória Revolucionário; Movimento 26 de Julho; Mulheres

Católicas; Professoras Universitárias). (PAGÉS, 1991)

No ano de 1976, o Partido Comunista de Cuba – vale destacar que o I Congresso do Partido

Comunista de Cuba, ocorreu no ano de 1975 – afirma que o papel Federación de Mujeres Cubanas,

era:

(…)educar ideológicamente a través de cada tarea, crear conciencia para en prender

actividades cada vez más complejas, preparar a la mujer para desempeñar su papel en la

edificación del socialismo y para representar los intereses y aspiraciones especificas de este

importante sector de la población. (DEPARTAMENTO DE ORIENTACION

REVOLUCIONÁRIA DEL COMITÉ DEL PARTIDO DE CUBA, 1976, p. 6)

O processo de unificação das organizações femininas em Cuba é percebido como uma

necessidade da homogeneização de práticas e discursos dirigidos as mulheres, sendo o Estado o

legitimador desse discurso. Portando, todos os questionamentos sobre os diretos das mulheres eram

absorvidos pelo Estado, representado pela Federación de Mujeres Cubanas, a qual apresentava uma

resposta.

Com parte desse projeto de unificação está à criação de um periódico direcionado para o

público feminino, a Revista Mujeres. No dia 15 de novembro de 1961 foi publicado o primeiro

número do periódico, o qual permanece sendo publicado até os dias atuais.

Vale destacar que o discurso da Revista Mujeres, que é a voz da FMC e portanto de uma

parte do Estado Cubano, pode ser identificado como um instrumento que objetiva: a) orientar a

construção de um modelo ideal de feminilidade; b) divulgar as políticas públicas voltadas para as

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mulheres; c) legitimar um espaço para as mulheres na estrutura do Estado. Portanto, é importante

uma análise do discurso desse periódico, pois ele é entendido como construído e construtor de

significados para o(s) feminino(s), bem como orientador de relações de gênero, as quais resultam na

construção de femininos e definem os espaços ocupados pelas mulheres na sociedade cubana,

construindo uma ordem diferente. Uma ordem que redefine relações de poder entre masculino e

feminino, embora a tendência seja de o Estado reproduzir o domínio masculino sobre o feminino.

Vale destacar que, no ano de 1958 das treze (13) pessoas citadas como membros da direção

nacional do Movimento 26 de Julho, três (3) são mulheres. Isso significa que 23% dos cargos

diretivos do movimento pertenciam às representantes do sexo feminino3 e segundo afirma Yolanda

Ferrer das seis províncias cubanas da década de 1950 três (Matanzas, Oriente e Villas) tiveram

mulheres como coordenadoras provinciais do Movimento 26 de Julho, o que significa 50% das

coordenações provinciais. (FERRER, 2002) Todavia em 1975, durante o primeiro Congresso do

Partido Comunista Cubano, somente cinco (05) mulheres figuravam entre os cento e vinte (120)

homens na direção do PCC (Partido Comunista Cubano). (BOHEMIA, n. 53, ano 67, 1975) Esses

dados demonstram que embora existisse um discurso de inclusão das mulheres nos espaços de

poder, na prática a representação de mulheres em espaços de poder durante o processo de luta

armada foi maior que na estrutura de poder do Estado Cubano, na década de 1970.

Considerando esses dados, é fundamental voltar o olhara para o discurso da Revista

Mujeres, sobre as mulheres na Revolução Cubana. A edição comemorativa do 15º aniversário do

Exército Rebelde, de dezembro de 1971, vincula o Pelotón Mariana Grajales ao Exército Rebelde.

Vale destacar, que o esse pelotão de guerrilheiras foi criado por Fidel Castro, em setembro de 1958.

Além da matéria sobre a criação do Exército Rebelde e sobre o Pelotón Mariana Grajales, a

edição trouxe uma entrevista com algumas marianas – as mulheres que participaram do Pelotón

Mariana Grajales –, e uma entrevista com então Vice Ministro Chefe da Direção Política das

Forças Armadas Revolucionárias (FAR), o Comandante Antonio Perez Herrero. Sendo que, ao

longo da entrevista, o Comandante é questionado sobre o papel da mulher cubana nas FAR.

Completando o olhar da revista sobre as mulheres militares/guerrilheiras estão publicadas fotos de

agentes militares realizando atividades no espaço militar. Portanto, essa edição permite uma leitura

3 Os dados resultam da consulta aos seguintes textos: SUÁREZ, Eugenio Pérez; CANER, Acela A. Román. Fidel: de

Cinco Palmas a Santiago. La Habana: editorial Verde Olivo, 2006; RAMOS, Lucrecia Estives. El apoyo de la mujer

santiaguera a la lucha contra a tirania de Batista de 1952-1958. Trabalho de graduação. Universiade do Oriente,

Faculdade de Filosofia e Historia: Santiago de Cuba, 1984.

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sobre a construção de significados sobre o feminino e o masculino, no espaço da luta armada em

Cuba.

A matéria sobre o as marianas tem como destaque uma fotografia composta por algumas

mulheres do Pelotón Mariana Grajales e o Fidel Castro. A composição da imagem emite um

discurso sobre a relação de poder entre masculino e feminino. O líder – Fidel – no centro e as

mulheres ao redor, marcam espaços de poder. O centro é o lugar do poder e o lugar ocupado pelas

mulheres, legitimam o poder masculino. Todavia, ao mesmo tempo em que a presença delas

legitima o poder masculino, por estarem no espaço da guerra, elas rompem com a ordem

estabelecida. Sendo assim, as soldados e as guerrilheiras, tendem a ser legitimadoras e

transgressoras da ordem. Elas subvertem a ordem por se constituírem em guerrilheiras e soldados,

mas legitimam ao colocarem os homens no centro e como modelo de guerrilheiro, o qual é

referência para homens e mulheres, pois historicamente o modelo de guerrilheiro é percebido como

domínio de homens.

Imagem 1 – Marianas com Fidel na Sierra Maestra - 1958

Fonte: Revista Mujeres, ano 11, nº 12, de dezembro de 1971, p. 12

No primeiro parágrafo da matéria – identificada pelo título: “Pelotón Mariana Grajales” –

há seguinte afirmação: “Mujeres guerrilleras y estirpe de Mariana. Partes de la historia

independentista que desemboco en una batalla decisiva de emancipación social, económica e

política: la Revolución.” (REVISTA MUJERES, 1971, p. 13) Essa afirmação apresenta um ideal

de feminilidade, que é buscado pela Revolução, o qual é constituido pela guerrilheira – que pega em

armas para defender a patria – e pela mãe – que deve se inspirar em Mariana Grajales, a mãe dos

Maceos, heróis da Independêcia de Cuba, no século XIX.

O discurso da revista reafirma o ideal de feminilidade que se constituiu no espaço da guerra,

a relação entre a guerreira e a maternidade, pois a construção de heroína Mariana Grajales, destaca-

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se seu papel de mãe dos “grandes guerreiros”, os Maceos. As marianas representam esse ideal e

também assumem outros papéis sociais, no espaço de luta armada.

Entre os lugares ocupados por elas, além das armas estão: enfermeiras, guias de mulas,

abastecedoras de alimentos para a os combatentes, transportadoras de munições e armas,

professoras e mensageiras. Essas práticas são definidoras da multiplicidade de papéis e

identificações que essas mulheres “marianas” desempenharam no espaço da guerra. Portanto, todas

as mulheres cubanas também são capazes de assumirem essas múltiplas atividades, inclusive

atividades tidas como pertencentes aos homens, o combate na guerra. Essa é a idéia que norteia a

construção do discurso apresentado pela Federación de Mujeres Cubanas.

Todavia, a constituição da guerrilheira é apresentada como uma tarefa difícil, da qual Fidel

Castro, figura como grande idealizador e defensor. Segundo o texto, muitos homens se

posicionaram contra a criação do pelotão de guerrilheiras. Entendiam que o combate era papel de

homens. O posicionamento de Fidel, segundo a Revista Mujeres indicava que ele

“Queria que la mujer combatiera, pues ésta no era sólo para los menesteres domésticos y

como madre, sino como parte integral de la guerrilla. Que no sólo era para cocinar, atender

a los herido, buscar agua, sino que era preciso reivindicar suposición social.(…).El

comandante en Jefe, al defender la presencia de la mujer en lucha de liberación, defendía el

papel que debla ocupar posteriormente.” (REVISTA MUJERES, 1971, p. 13)

Porém, a construção do discurso coloca que romper com a ordem em um espaço de poder e

de construção de um ideal de masculinidade é a finalidade de Fidel. O texto indica que essa ruptura

permitiria construir uma nova ordem social, na qual homens e mulheres teriam direitos iguais e o

ocupar todos os espaços sociais. No entanto quem deu as mulheres esse direito foi “El comandante

en Jefe”. O poder simbólico da atuação do comandante, coloca as mulheres como sujeitos menos

importantes no processo, mesmo elas sendo agentes construtoras do processo, o discurso transfere o

poder de conferir-lhes um espaço ao homem chefe, que também representa um ideal de

masculinidade a ser seguido.

O pesquisador Rafael Teixeira, destaca que a relação entre os guerrilheiros e a luta armada

em defesa da pátria, é uma relação de amor entre os homens e a mulher-pátria. (TEIXEIRA, 2009,

p. 120) Conforme ele destaca, o perfil do guerrilheiro é do herói viril, o homem-macho, que defende

a mulher-pátria e conquista as mulheres. (TEIXEIRA, 2009, p. 158)

Vale destacar que os anos de 1960 em Cuba, são marcados pela perseguição aos

homossexuais4, especialmente aos homens devido ao ideal de masculinidade que foi estabelecido no

4 Unidades Militares de Ayuda a la Producción (UMAP), existiram entre 1965-1968, e muitos homossexuais do sexo

masculino, foram enviados para essas instituições.

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processo de construção da nação cubana, entre o final do século XIX e meados do século XX

(PAGÉS, 2002; SIERRA, 2006). Essa prática deve ser percebida dentro de um processo de

legitimação de um ideal de masculinidade, que é definido pelos heróis da Revolução Cubana, o

Che, o Camilo e o Fidel.

Portanto, para conseguirem o reconhecimento dentro do ideal que se estabelecia as mulheres

lutaram lado a lado com os homens. Essa relação entre a incorporação de um padrão de

masculinidade pelas mulheres, no espaço da luta arma, é destacado por Fidel em um do discurso no

ano de 1959, mas cujo trecho foi publicado em 1971. Para ele, “las mujeres son tan excelentes

soldados como nuestros mejores soldados hombres.” (REVISTA MUJERES, 1971, p. 14)

Vale destacar, que para elas serem aceitas elas deveriam lutar igual aos melhores soldados,

pois se elas fossem com a maioria não seria possível legitimar sua presença na guerra. Portanto, o

espaço das armas permanece como espaço de poder dos homens e eles sedem parte desse espaço

para as melhores soldados. Todavia aos homossexuais se nega qualquer espaço, pois são percebidos

como traidores da revolução. Uma revolução macho/viril, que cedeu alguns espaços para as

mulheres, porém sem romper a ordem estabelecida. O domínio e o predomínio do poder nos

espaços da guerra e da política deveriam seguir nas mãos dos homens.

Nas memórias sobre a guerrilha figuram algumas mulheres. Na Revista Mujeres, ao lado do

discurso de Fidel, está a foto das guerrilheiras: Célia Sánchez, Lidia Rielo, Téte Puebla e Isabel

Rielo (dispostas da esquerda para direita – Imagem 2). Elas com suas armas legitimam seu espaço

na guerra e a identificação de guerrilheira. A posse da arma – símbolo do poder do macho/viril –

legitima a construção de um espaço para as mulheres de poder dentro do Estado Cubano, o qual

estava sendo construído pelos “rebeldes barbudos”.

Imagem 2: Mulheres do Pelotón Mariana Grajales (1959)

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Fonte: Revista Mujeres, ano 11, nº 12, de dez. de 1971, p. 15.

Além dessas guerrilheiras, figuram nas páginas da Revista Mujeres outras dezessete (17)

guerrilheiras, as quais constituíam o Pelotón Mariana Grajales – 1) Isabel Rielo, 2) Lidia Rielo, 3)

Norma Ferrer, 4) Rita Garcia, 5) Teté Puebla, 6) Olga Guevara, 7) Dolores Feria, 8) Angelina

Antolin, 9) Eva Rodrigues, 10) Juana Peña Hernandez, 11) Aurora Quiñones Rodriguez, 12) Isabel

Rivero Nuñez, 13) Bertha Arnau Ojito, 14) Laura Perez Rencol, 15) Orosia Soto Sardinas, 16)

Benita Ramos Osorio e 17) Vicenta Duret Sarmiento. Vale destacar que durante os combates a Teté

Puebla, recebeu patente de capitã, e atualmente General de Brigada das FAR. Além dela, outras

desse grupo se tornaram agentes das FAR.

O Pelotón é representado como um espaço de atuação das mulheres em múltiplas atividades

que permitiram a vitória do Exército Rebelde. A vitória é apresenta como o resultado de múltiplas

ações que uniu homens e mulheres em torno de um projeto: a revolução. As marianas para a Revista

Mujeres, no ano de 1971, são todas as mulheres que construíram o processo de luta contra Batista –

nas cidades e na Sierra Maetras –, independente dos papéis que ocuparam, são todas identificadas

como componentes do Pelotón Mariana Grajales.

O olhar da revista torna o pelotão em um batalhão, ao incluírem todas as atividades exercitas

pelas mulheres como atividades guerrilheiras, não apenas o combate. Assim, as marianas não foram

apenas às mulheres treinadas por Fidel para combaterem, mas todas que correram o risco e entram

no espaço da guerra de professoras a guerrilheiras. Pois o espaço da guerra não estava restrito a

Sierra Maetra e aos combates com armas, mas todas as práticas que eram contra a ditadura de

Batista. Portanto, Lídia Doce e Clodomira Acosta Ferrales, as mensageiras que desapareceram, em

12 de setembro de 1958, as quais foram torturadas e assassinadas pela polícia do governo de

Batista, e seus corpos nunca foram encontrados, também são marianas, considerando o

posicionamento da Federación de Mujeres Cubanas, expresso na Revista Mujeres.

A participação das mulheres na luta revolucionária indica a construção de um Estado

marcado por uma ordem diferente. Considerando as colocações de Pierre Bourdieu, é “o Estado,

que dispõe de meios de impor e de inculcar princípios duráveis de visão e de divisão de acordo com

suas próprias estruturas, é o lugar por excelência da concentração e do exercício do poder

simbólico.” (BOURDIEU, 1996:107-108) O Estado Cubano, colocou a masculinidade viril e os

ideais da guerrilha como centrais na construção de um modelo de cidadão. As mulheres foram

respeitadas por igualarem-se aos homens no espaço da guerra. Os homens não viris foram

marginalizados e as mulheres femininas, mantiveram seu espaço de mulheres.

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Em dezembro de 1970, nas primeiras páginas da Revista Mujeres, está uma reflexão escrita

por Isolina Triay (1970), sobre Ernesto Guevarra, cujo título é: “Che: El hombre del siglo XXI”. A

autora reafirma o modelo de masculinidade e de cubania, ao citar um fragmento dos escrito do

Ernesto Guevarra, sobre o homem novo, no qual ele afirma que: “... este tipo de lucha nos da

oportunidad de convertinos en revolucionarios, el escalón más alto de la especie humana pero

también nos permite graduarnos de hombres ...”. (TRIAY, 1970, p. 7)

Portanto, o espaço de luta tende a ser percebido como um lugar onde se constitui homens.

Essa construção discursiva, presente no Estado Cubano nos anos de 1970, tende a reproduzir as

relações de poder generificadas, presentes em outros Estados militarizados no Ocidente, no mesmo

período.

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The Cuban Revolution and the spaces occupied by men and women

Astract: The Cuban Revolution is among the great events of the twentieth century. A revolutionary

process that united different forces and after the victory of the Rebel Army and its allies, the

revolutionary government was instated. Heiress of a tradition that is present in the West, Cuba also

constructed a discourse on its History focused on great men and an ideal of masculinity. The image

of men with beards, armed and wearing military uniform is recurrent in the magazines in the 1970s.

In order to contribute to the reflections in the field of gender studies, I return to look at gender

relations in the space of the revolutionary struggle in Cuba. Thus, the power spaces occupied by

men and women in the movements that make up the revolutionary struggle in the 1950s are

analyzed, observing the Cuban state's press discourses in the 1970s. This study aims to identify

constructions of femininities and masculinities in discourses Of the 1970s. It is observed that the

construction of Cuba's official history is marked by war. A construction that gives meaning to

gender relations, which establishes the military man, warrior as a model of citizenship, as well as

tends to define the woman as the mother of the warriors. To orient the reflections is used the gender

as category of analysis, as well as, the concepts of hegemonic masculinity and identity. The sources

are publications of the Cuban State and bibliographies.

Keywords: Cuban Revolution; gender-spaces; masculinities and femininities; armed struggle.