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A PROPOSTA DE CREMATÓRIO EM GOIÁS: a modernidade em questão,
1920-30
DEUZAIR JOSÉ DA SILVA*
Resumo
O presente trabalho toma como ponto de partida a proposta de edificação de um forno
crematório na cidade de Goiânia, construída para sediar a nova capital do Estado de Goiás
na década de trinta do século passado. A nova capital foi erguida com o discurso de que
representaria a modernidade e o rompimento com o atraso a que foi associada a antiga
sede do governo, a cidade de Goiás. A ideia suscitou um intenso debate envolvendo
diversos atores sociais, desde a classe política até os religiosos. Vale lembrar que ainda
na década anterior na gestão de Totó Caiado, este já previa a construção de um crematório
no estado de Goiás quando da aprovação do Regulamento dos Serviços Sanitários
dedicando um artigo para esse fim. Minha intenção é de debater o discurso de
modernidade que representava a nova capital ante a proposição do crematório no estado
de Goiás, posto que, tal propositiva já tendo ocorrido anteriormente. A historiografia
regional sobre assunto apresenta posições diversas, opinando ora que Goiânia e a chegada
dos trilhos da estrada de ferro possibilitaram a chegada da modernidade, depois de um
longo período de decadência que teria iniciado com a diminuição na produtividade das
lavras de metais preciosos ainda no século XVIII. Outra corrente se opõe a tal tese,
afirmando que logo após o declínio da mineração a população seguiu seus caminhos com
base na atividade agrícola e que diversas fazendas e cidades surgiram ao longo do período
subsequente à mineração. Ressalto que não pretendo fazer uma revisão destas posições,
mas tomar como problemática a proposta de criação de um crematório para o Estado e
depois na nova capital no bojo do discurso da modernidade. As inumações são um ponto
forte no imaginário da sociedade. Como esta reagiu a tal projeto? Podemos dizer que
frações desta assumiram posições conservadoras e outras não? Seria a Religião
conservadora e a Saúde o oposto? Ou problema não é este e sim de aplicação dos
conceitos? As fontes a serem utilizadas na construção deste são: Revista Católica “A
Cruz”, Código de Postura da cidade de Campinas de 1921, Lei nº 357 de julho de 1909,
Regulamento dos Serviços Sanitários, Regulamentação para edificação de Cemitérios de
1932, Regulamento dos Cemitérios do Estado de Goiás de 1935 e Correio Official de
Goyaz.
Palavras-chave: Crematório, Goiás, Modernidade
* Universidade Estadual de Goiás – UEG – Brasil. Doutor. Trabalho com apoio da Universidade Estadual
de Goiás (Pró-Eventos). [email protected]
2
Summary
The present work takes as its basis the proposal to build a crematory furnace in the city
of Goiânia, built to host the new capital of the State of Goiás in the thirties of the last
century. The new capital was erected with the discourse that would represent modernity
and the breaks with the backwardness associated with the old government headquarter
the city of Goiás. The idea provoked an intense debate involving diverse social actors,
since the political class to the religious ones. It is worth remembering that even in the
previous decade in Totó Caiado. This one already foresaw the construction of a
crematorium in the state of Goiás when the Regulation of the Sanitary Services was
approved dedicating an article for that purpose. My intention is to debate the discourse of
modernity that represented the new capital before the proposition of the crematorium in
the state of Goiás, since, this propositive already having occurred previously. The
regional historiography about the subject presents diverse positions, opining now that
Goiânia and the arrival of the rails of the railroad made possible the arrival of modernity,
After a long period of decadence that would have begun with the diminution in the
productivity of the precious metals plots still in the century XVIII. Another current is
opposed to such a thesis, affirming that soon after the decline of the mining the population
followed its paths based on the agricultural activity and that diverse farms and cities arose
throughout the period after the mining. I emphasize that I do not intend to review these
positions, but to take as problematic the proposal to create a crematorium for the State
and then in the new capital in the bulge of the discourse of modernity. The burials are a
strong point in the imaginary of society. How did she respond to such a project? Can we
say that fractions of this have assumed conservative positions and others have not? Is
Conservative Religion and Health the opposite? Or is not this problem, rather than the
application of concepts? The sources to be used in the construction of this are: Catholic
Magazine “The Cross”, Code of Posture of the city of Campinas of 1921, legislation nº
357 by July, 1909, Regulation of Sanitary Services, Regulation for building Cemeteries
of 1932, Regulation of Cemeteries of the State of Goiás of 1935 and Correio Official de
Goyaz.
Keywords: Crematorium, Goiás, Modernity
Goiânia é erguida no bojo das transformações decorrentes da Revolução de
30 em Goiás. Vale destacar primeiramente que já tivemos duas capitais, a primeira sede
administrativa dos goianos foi a cidade de Goiás, surgida nos decênios iniciais do século
XVIII com a mineração. Com a criação da capitania de Goiás desmembrada de São Paulo
pelo governo português, a então Vila Boa torna-se capital, situação que perpassará o
Império, quando o Brasil se torna independente de Portugal e que se estenderá até a
década de trinta do século passado já em plena república.
3
A ideia de criação de uma nova capital para o estado já fora cogitada em
outros momentos, assunto já com farta bibliografia e que não me deterei neste trabalho.
Me importa aqui discutir a criação de Goiânia e o discurso de modernização ora utilizado
pelos seus idealizadores, principalmente, por parte do interventor federal Pedro Ludovico
Teixeira, principal artífice da construção da mesma. Montada uma comissão com o fito
de escolha do local da nova cidade, esta fez uma série observações e a escolha recaiu
sobre as proximidades de Campinas, cidade extinta com a criação de Goiânia, que passou
a incorporar àquela. Hoje a antiga cidade de Campinas é um bairro da capital.
Considerando que Campinas se acha situada no ponto centrico da parte mais
povoada do Estado e sua topografia das mais apropriadas e belas para
construção de uma cidade urbanamente moderna, entre um vasto perimetro de
terras de ótimas culturas com matas de superior qualidade e que enormemente
facilitarão a construção da nova cidade; a Sub-comissão é de parecer que a
nova Capital seja construída em Campinas, nas proximidades da “Serrinha”,
situada na direção azimutal de 130 (cento e trinta) graus, ou em caso de
urgencia em Bonfim. [...]
DECRETO N. 3.359, DE 18 DE MAIO DE 1938
O Interventor Federal, neste Estado, resolve decretar o seguinte:
Art. 1º – A região ás margens do corrego “Botafogo”, compreendida nas
fazendas denominadas “Criméa”, “Vaca Brava” e “Botafogo”, no município
de Campinas, fica escolhida para ser edificada a futura capital do Estado,
devendo o governo mandar organizar o plano definitivo da nova cidade. [...]
DECRETO Nº 327, DE 2 AGOSTO DE 1935
O Governador do Estado de Goiaz, usando das atribuições que lhe são
conferidas e tendo em vista o Relatório apresentado pela Comissão nomeada
pelo decreto nº 3804 de 18 de setembro de 1933,
DECRETA:
Art. 1º – Ficam fundidos em um único os atuais municipios de Campinas,
Hidrolandia e parte dos territórios dos de Anapolis, Bela Vista e Trindade que
passarão a constituir o Municipio de Goiânia, com séde na cidade do mesmo
nome, ora em construção no Municipio de Campinas, desaparecido por efeito
deste decreto, o mesmo de que fala o art. 5º do projeto da Constituição do
Estado, já aprovado, nessa parte, em sua redação final. (MONTEIRO, 1938, p.
44; 67; 269)
Considerando a fala da Comissão de estudos para a escolha do local da nova
capital já entramos no discurso que foi amplamente utilizado de se fincar pé em um local
apropriado, não só do ponto de vista natural, mas também político e econômico. Ao
mesmo tempo, que reforçava o papel inapropriado da cidade de Goiás. É esse o discurso
de Pedro Ludovico sobre a necessidade de mudança da capital. Ele estabelece como
analisa Souza (2015) um diagnóstico, neste momento o médico e o político se misturam.
Desse modo, o médico e o político se entrelaçam. Se para justificar a sua
participação na Revolução de 1930 Pedro Ludovico precisou construir um
discurso dasabonador a respeito da política exercida pela família Caiado e a
sua intolerância e violência ao lidar com vozes dissonantes, para justificar a
4
construção de uma nova Capital não foi diferente, Pedro Ludovico não só
examinou cuidadosamente a Cidade de Goiás como a um doente, como atestou
a ela uma enfermidade incurável, quase que produzindo um atestado de óbito.
(SOUZA, 2015, p. 84)
Apesar de aparecerem como pano de fundo, vale destacar que as questões
políticas e econômicas pesaram muito mais fortemente na decisão de Ludovico de
transferir a sede da administração estadual. O grupo ludoviquista procurava passar um
discurso implodindo Goiás. A nova capital se tornava uma necessidade premente, não por
ela mesma, mas pela absoluta falta de condições da antiga, que estava condenada e não
tinha remédio capaz de salvá-la. O exame revelara um paciente terminal. Investir em
Goiás seria um desperdício completo de recursos com um doente que já estava condenado
à morte. Restava agora a única alternativa viável: a edificação de uma nova. Esta sim,
seria capaz de dar resultados aos gastos e investimentos (SOUZA, 2015).
Goiânia não era apenas necessidade, era também uma confiança para se
refutar os defeitos associados à Goiás. Ela simbolizava aquilo que não éramos, mas tinha
um futuro promissor e que poderia claramente vir a se consolidar. São os ideais de
progresso, obstinadamente perseguidos por Pedro Ludovico, base das falas mudancistas
e condição sine qua non para o estado galgar o crescimento e a riqueza em sua visão. Era
preciso romper as amarras com o passado que nos prendia ao atraso. Ela seria capaz de
fazer a assepsia necessária desse novo tempo, ruas largas e retilíneas, projeto urbanístico,
etc. Raminelli destaca isso sobre Paris, que teve ruas alargadas, construção de
monumentos e obeliscos, como pontos dessa nova realidade. A iluminação artificial é
outro ponto da modernidade urbana, que favorece novos hábitos e padrões de consumo.
Da mesma maneira que a Paris da época, o território goiano passava por grandes
mudanças e a afirmação de uma burguesia que procurava fincar pé a partir do sudoeste
do estado, região mais dinâmica neste momento (RAMINELLI. In: CARDOSO &
VAINFAS, 1997). Importante destacar que a oposição solicita reformas na cidade de
Goiás para evitar seu desastre e garantisse o seu crescimento, reformas essas que eram
justamente as motivações argumentadas para a retirada da capital da mesma. As disputas
políticas nacionais também tiveram forte peso na mudança da capital. A oposição via na
saída de Vargas um caminho para deter a transferência, ou ao menos, garantir mais apoio
para Goiás. O Golpe do Estado Novo, em 1937, acabou de vez com tais esperanças dos
oposicionistas, que ainda viram a cidade ser transformada em uma estância balneária, e
perdendo até a condição de eleger seu próprio prefeito (SOUZA, 2015; CHAUL, 1988).
5
Em suma, Goiânia pode ser considerada um fruto do Estado Novo, uma vez
que sua realização dependeu basicamente do regime instalado em 1930 e que
culminou na ordem imposta por Vargas em 1937. Para o Estado Novo, o
inverso é também verdadeiro, Goiânia era a representação maior do
“nacionalismo”, do “bandeirantismo”, da “sagacidade” do brasileiro, tão
decantados pelos ideólogos do Estado Novo. (CHAUL, 1988, p. 157-158.
Grifos do autor)
A transferência da capital respondia e representava um projeto político de
Estado. Era a síntese do novo, da esperança de dias melhores, melhor, da certeza de que
esses dias viriam no rastro da implantação da nova sede de governo. O progresso estava
a caminho e Goiânia era a chave e peça principal disso, emblema do crescimento e
desenvolvimento, “expressão de um Estado que rompe com seu passado e de um povo
que se mostra capaz de construir seu futuro ativamente. E isso será dito por Pedro
Ludovico, em diferentes oportunidades” (CAMPOS. In: BOTELHO, 2002, p. 176-177).
É essa a mesma interpretação que dá Palacín (1986) ao analisar o Relatório do Interventor
Federal em Goiás. A nova capital era a fonte de transformação de que necessitávamos e
meio para tal empreendimento, capaz de manter acesa a chama da revolução.
Construir a nova Capital passou a significar, após a mutação das pessoas no
poder e suas idéias de governo – o que o Relatório chama de “ambiente de
sadia renovação” – a mutação global das estruturas: uma nova terra. O que em
outras revoluções significam os acenos da repartição da propriedade ou sua
coletivização, a socialização dos meios de produção, a industrialização
acelerada. (PALACÍN, 1986, p. 87)
Ora, Goiânia era então a modernização. Nada no discurso ludoviquiano se
resolveria com a manutenção da sede de governo na cidade de Goiás. Já diagnosticada
com uma “enfermidade” incurável e sem perspectivas, o crescimento e a prosperidade do
estado, implicava a edificação de uma capital (SOUZA, 2015). Por trás do discurso da
necessidade de progresso escondia-se os verdadeiros motivos, como depois admitiria o
próprio Pedro Ludovico. As disputas políticas e os interesses econômicos falaram mais
alto. Sua fala e escolha do local na proximidade com Campinas e não da cidade de
Bonfim, que neste momento reunia melhores condições é a prova cabal da opção tomada.
Confesso, fazendo justiça, à velha Goiás, que não foram motivos de ordem
sanitária que pesaram no meu espírito para retirar-lhe a primazia de ser a
metrópole goiana. Causas de origem econômica, política e social, influíram
poderosamente para que lhe cerceasse o privilégio de que usufruía.1
1 Relatório apresentado pelo Interventor Pedro Ludovico Teixeira a Getúlio Vargas, 1940-1942. p. 11.
APUD: CHAUL, 1988, p. 77.
6
O discurso do progresso e da modernização adentrou também as questões
relativas à morte. No momento da edificação do primeiro cemitério de Goiânia – Nossa
Senhora de Sant´Anna –, cogitou-se também a construção de um forno crematório. Sobre
o referido cemitério a documentação é escassa, e tampouco, se têm um arquivo
organizado, o que dificulta um trabalho mais sistematizado, embora não seja um fator
impeditivo. Segundo Brito (2015) o cemitério recebe esse nome em homenagem à
padroeira da cidade de Goiás. Informa também que as construções iniciaram no ano de
1939, nos limites entre o extinto município de Campinas e Goiânia. Sua inauguração
ocorre em julho do mesmo ano com transferência dos restos mortais do desativado
cemitério que se localizava na praça João Rita Dias no bairro de Campinas.
Posteriormente em 1959 é transferido a sua administração do Governo estadual para o
municipal. Ainda de acordo com a autora esse seria o terceiro cemitério da cidade de
Campinas.
No Relatório de 1º de junho de 1874, o presidente Antero Cícero de Assis,
informa aos congressistas que Goiás era uma das províncias com menos avanço na
construção de cemitérios em suas cidades e vilas. A maioria destas ainda continuava
inumando seus mortos no interior das igrejas. Apontava como causa principal para isto a
falta crônica de recursos do tesouro provincial e das povoações. Prossegue informando
que criara comissões locais no intuito de solucionar o problema e possibilitar a edificação
dos mesmos e que no dia 10 de abril do corrente ano nomeara o “vigário conego José
Olympio da Silva [...], do capitão Manoel Pereira de Araujo, e dos cidadãos Clemente da
Costa Abreu, José Rodrigues de Moraes e Antonio de Souza Rocha”,2 para levantamento
do cemitério de Campinas. Afirmava ainda que esse e outros estavam em construção3.
As dificuldades financeiras e/ou de interesse administrativo prosseguem na
década seguinte. Em relatório de 1881, o primeiro vice-presidente Theodoro Rodrigues
de Moraes afirma “Tambem tenho recebido constantes reclamações pedindo auxilio para
reparos de cemitérios, e os tenho negado”4. A negação ocorre no momento em que ele
esclarece que a saúde pública continua caótica, grassando endemias e epidemias por toda
a província5.
2 Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de Goyaz, pelo Exmo. Sr. Dr. Antero Cicero
de Assis, Presidente da Província de Goiás, 1º de junho de 1874. (MEMÓRIAS GOIANAS, 11, p. 265). 3 Idem, ibidem, p. 264-265. 4 Relatório apresentado pelo Ilmo. E Exmo. Sr. Dr. Theodoro Rodrigues de Moraes, 1º Vice-Presidente, ao
Exmo. Sr. Dr. Joaquim de Almeida Luiz Moraes, Presidente da Província, no dia 10 de fevereiro de 1881.
(MEMÓRIAS GOIANAS, 13, p. 232). 5 Idem, ibidem, p. 276.
7
Continuando com o assunto do forno crematório, esse está claramente dentro
das premissas de desenvolvimento e avanço, mote das mudanças em curso. O caso torna-
se objeto de calorosos debates na sociedade. A imprensa ante isso procura os irmãos
engenheiros Coimbra Bueno responsáveis pela construção de Goiânia, instando-os a
falarem sobre o assunto. De acordo com o jornal Correio Official Estado de Goyaz, de 25
de janeiro de 1936, Aberlado Coimbra Bueno teria afirmado que a cidade estava sendo
erguida dentro dos padrões mais desenvolvidos da época e que não se fazia de bom tom
a criação de um cemitério para a nova cidade, mesmo afirmando que já se conhecia
técnicas que resultaria menores níveis de poluição e problemas de saúde e higiene.
Questionava que esta seguia paradigmas estéticos modernos, sendo assim não era
aconselhável um cemitério, que “quebraria” com isso, além das lembranças lúgubres que
os cemitérios traziam para as pessoas.
Abordado por nós sobre o Crematório o ilustre profissional, levantando o seu
lapis de projeto de um edifício em que no momento fazia pequenas
modificações, prestou-nos as declarações seguintes: “disse que Goiânia, cidade
construída agora, sob um plano arquitetado segundo as mais modernas normas
de urbanismo, pois que apenas ha dois anos foram iniciados os seus estudos
pelo urbanista Correia Lima, que vem trazendo para o coração do Brasil as
idéias mais recentes de urbanismo, melhor comporta, dentro do seu traçado,
um Forno Crematorio, que um cemiterio.
Sem querer, continuou o entrevistado, significar [?] que um plano moderno
não comporta um cemiterio, posto que a técnica de hoje já permite a construção
de cemitérios isentos de qualquer poluição da zona urbana, perfeitamente
higienizados, acho para o caso particular de Goiânia, sob o ponto de vista
exclusivamente de urbanismo, ficaria mais estetico a simples construção de um
unico predio para a “Casa dos Mortos” do que um cemiterio que, se estendendo
por uma área muito maior, salientaria muito mais a vista, enviando deste modo,
mais aspêto [sic] inevitavelmente triste que é a lembrança dos mortos nos traz.6
Independentemente de tentar separar o homem do profissional, a fala de
Abelardo Coimbra Bueno é muito reveladora do espírito que se quer passar sobre a
construção de Goiânia em todos os seus detalhes. Ela é insistentemente sinônimo de
modernização. “No século XX, os processos socais que dão vida a esse turbilhão,
mantendo-o num perpétuo estado de vir-a-ser, vêm a chamar-se ‘modernização’”
(BERMAN, 1986, p. 16). A edificação de um cemitério significaria o atraso, coisa do
passado. Ocupa um grande espaço, e agora mais do que nunca há uma maior valorização
6 Correio Official Estado de Goyaz. “O Forno Crematório de Goiânia”. Goyaz, 25 de janeiro de 1936. Anno
LXXX. Nº 3.175. p. 4. Correio Oficial. Jan-Mar, 1936, nº 204. Arquivo Histórico Estadual de Goiás.
AHEG.
8
do terreno. Terra é capital e esse não pode ficar imobilizado sem uma maior perspectiva
de lucro. A cidade parece querer não ter lugar para os seus mortos. Vingando essa
hipótese, isso poderia explicar a construção do primeiro cemitério da nova capital nos
limites da cidade de Goiânia com o extinto município de Campinas. O moderno não cabe
os falecidos. Como afirma o engenheiro, já se dispõe de conhecimentos que permitem
que as necrópoles não poluam, mas sob o ponto de vista da imagem, eles – os cemitérios
– são um contrassenso, um retrocesso.
Até na morte o discurso do moderno está presente. Ligar-se ao passado é
sempre um prejuízo. É um retorno a um passado que se pretende sepultar. Um recuo que
deve ser evitado a todo custo. O progresso está no novo, aval de um futuro eivado com
desenvolvimento. É a emersão de um homem contemporâneo, que rompe com as
“amarras” do antigo. Esse novo tempo é uma “fascinação por esse mundo sublunar, por
suas riquezas, glórias e prazeres” (REIS, 2006, p. 23).
Acredito que uma discussão mínima do conceito de moderno se faz aqui
necessária. É no decorrer dos séculos XIII e XVI, no espaço da Europa Ocidental que se
estabelece uma nova percepção e explicação do mundo. Constitui-se uma outra
identidade, que advém do corte com a interpretação e rejeição da metafísica, afirmando
um outro tempo histórico – totalmente hodierno. O tempo humano se opõe ao tempo santo
e religioso do cristianismo. O domínio deixava de ser divino e agora o homem também
fora elevado ao status de astro principal, dividindo com aquele a preponderância. “A
conquista do mundo não significava necessariamente a perda da alma e a aceitação do
diabo, mas a colaboração dos homens na restauração da criação divina” (REIS, 2006, p.
23).
O conceito de “modernidade”, portanto, assim como o próprio processo que
ele designa revelam uma tensão: no início, nos séculos XIII-XVI, representara
a ruptura com o passado de universalismo cristão e abrira um presente
secularizado, com suas consequências – racionalização da ação e fragmentação
da vida interna do homem ocidental. No início, essa recusa radical das visões
religiosas do mundo representou o aprofundamento da fissura congênita do
espírito ocidental, a luta permanente e intensa entre a cultura profana e a cultura
sagrada. (REIS, 2006, p. 28)
Ainda de acordo com Reis (2006), o mundo burguês não cabe no tempo da
Igreja, são aspirações dispares. A modernidade se apresenta como uma penetração da
ideia de desintegração do pensamento no ocidente. Houve uma marcha de racionalização,
que teve reflexos em todos os campos da atividade humana, como afirma o autor citado
9
acima, um “desencanto”. Os princípios tomam rumos regidos por características próprias.
Um homem que agora, como que não se reconhece a si mesmo, repartido por distintas
convicções.
Quer o êxtase neste mundo transitório: avarento e cobiçoso, quer o êxito
econômico (acumular riquezas); ambicioso e arrogante, quer o êxtase político
(acumular força); invejoso e orgulhoso, quer o êxtase social (o prestígio, a
honra, o reconhecimento de todos); luxurioso e obsceno, quer o êxtase erótico
(o prazer egoísta e antifraternal do sexo); vaidoso, quer o êxtase estético (a
fruição da forma sem submetê-la ao conteúdo); pretensioso e arrogante, quer o
êxtase intelectual (formular princípios lógicos alheios e concorrentes da fé).
(REIS, 2006, p. 25)
É um homem que se pretende domar todas as circunstâncias do seu existir,
dando explicações racionais para todos os casos. Me permitam voltar aqui à fala do
engenheiro Abelardo Bueno, justificando de forma racionalizada o porquê da criação de
um Forno Crematório para a nova capital. Em consonância com os pensamentos do
momento esse era o mais indicado, representava o progresso, a evolução. Era a
representação do futuro, mas de um futuro que está criado, já estabelecido no meio social.
É a cidade de Goiânia, que personifica o novo já corrente na sociedade goiana. “A idéia
de progresso exprime a nova situação do homem como criador, produtor de futuro. A
profecia previa o fim da história; a utopia prevê a realização da história. O fim da história
não seria o seu término, mas a ‘realização’ humana no tempo” (REIS, 2006, p. 29-30).
Como também destaca Berman (1986), esse homem do século XX guia-se por esse futuro
realizável. É um momento que carrega consigo incertezas. Embora isso, houve um
rompimento das atitudes comportamentais, ainda que não estivéssemos sabendo lidar
claramente com tais alterações.
Nossos pensadores do século XIX eram simultaneamente entusiastas e
inimigos da vida moderna, lutando desesperados contra suas ambigüidades e
contradições; sua auto-ironia e suas tensões íntimas constituíam as fontes
primárias de seu poder criativo. Seus sucessores do século XX resvalaram para
longe, na direção de rígidas polarizações e totalizações achatadas. A
modernidade ou é vista com um entusiasmo cego e acrítico ou é condenada
segundo uma atitude de distanciamento e indiferença neo-olímpica; em
qualquer caso, é sempre concebida como um monolito fechado, que não pode
ser moldado ou transformado pelo homem moderno. Visões aberta da vida
moderna foram suplantadas por visões fechadas: Isto e Aquilo substituídos por
Isto ou Aquilo. (BERMAN, 1986, p. 22-23. Grifos do autor)
As inumações são um ponto forte no imaginário da sociedade. Como esta
reagiu a tal projeto? Podemos dizer que frações desta assumiram posições conservadoras
10
e outras não? Seria a Religião conservadora e a Saúde o oposto? Ou problema não é este
e sim de aplicação dos conceitos? A interpelação jornalística sobre o assunto, já nos dá
uma primeira pista. A ideia da cremação não era tão bem deglutida pela mesma. A sua
preocupação e questionamento mostra que a sociedade, no mínimo, se sentia
“incomodada” com o fato. É um raciocínio lógico, partindo do ponto que questiono aquilo
que “foge” meu ao costumeiro, atitudes que não são tidas como comuns e “previsíveis”
no seio social. Mesmo ante às colocações de vantagens do processo da parte do
engenheiro, isso desagrada. Não está dentro desse previsível que “trilha” a sociedade.
Por outro lado, enfatizo que a proposta não é original. Ainda sobre o governo
de Totó Caiado, esse previa a construção de um forno crematório para a antiga capital. A
ideia está contida no Decreto nº 8968, de 23 de Abril de 1926 que instituía o Regulamento
dos serviços sanitários a que se refere a lei 781, de 16 de Julho de 1925 e que foi publicada
no Correio Official Estado de Goiaz. Goyaz, 4 de Maio de 1926. Através deste Decreto
ficava regularizado e autorizado a criação de crematórios, indicando claramente que se
tratava de um assunto já posto em discussão.
CAPITULO XX
Art. 284 – É permitida a construcção de crematorios, cuja utilização é
facultativa, respeitadas as medidas policiaes e de hygiene.7
O fato de estar prevista a autorização de construção de um crematório na
cidade de Goiás, mostra que, pelo menos em parte, o discurso comumente atribuído à
Goiânia como símbolo da modernidade cai por terra. É interessante destacar como isso
se constrói. A velha capital teve sua imagem associada ao atraso. Mas pontos como este
demonstram como que são estabelecidas ou impostas as memórias. Goiás usou de sua
memória para se soerguer, o título de Patrimônio da Humanidade é a prova mais cabal
disso. Ela se reapropria de seu passado para se fazer presente. Hoje seu passado é seu
principal capital (SANDES & ARRAIS, 2014).
Continuando o debate sobre o disposto no Regulamento aprovado no governo
de Totó Caiado fica a discussão de que Goiânia foi instada a essa representação da
modernidade, do atual. E isso era uma necessidade, para justificar a edificação da nova
sede de governo. A modernidade é o presente, a ratificação desse presente vanguardista
7 Decreto nº 8968, de 23 de Abril de 1926. Regulamento dos serviços sanitários a que se refere a lei 781,
de 16 de Julho de 1925. Correio Official Estado de Goiaz. Goyaz, 4 de Maio de 1926. Anno LXX. Nº
1.160. p. 4. Correio Oficial. Jan-Jun, 1926, nº 110. Arquivo Histórico Estadual. AHE.
11
e progressista, uma nova cidade erguida sobre esses ditames. Mas aqui vale também
enveredar sobre essa “pseudo” modernidade de Goiânia. Começo pela interrogação: o
que move o seu surgimento? Minha hipótese é de que isso está ligado aos interesses
econômicos e ao maior fluxo populacional da região sudoeste do estado, que nesse
momento se apresentava com a mais dinâmica do território. Tal situação ensejava que a
capital fosse em um local de maior proximidade. Fato depois reconhecido pelo próprio
ex-interventor, Pedro Ludovico Teixeira. Não vou me aprofundar e ater esse fato, posto
que é não minha proposta.
Ainda sobre o Regulamento citado fica evidenciado que o discurso da
modernidade não era algo estranho na cidade de Goiás. A simples menção da
possibilidade de criação de um forno crematório para a cidade é um indicativo disso. Até
que ponto foi incorporado ou desenvolvido pela sociedade é difícil mensurar e precisar.
A aceitação trata-se de um quadro que não é exatamente uma equação de resultados
precisos. Valendo-me dessa matéria quero romper com essa visão de Goiânia como
símbolo da modernidade, mas certamente seus idealizadores e também a parte da
sociedade que apoiava a mudança souberam muito bem “vender”, disseminar e legitimar
tal situação.
Dizer que frações da sociedade tomaram posições mais conservadoras – como
por exemplo – a igreja, pode ser uma hipótese crível, principalmente no aspecto estrito
dos sepultamentos. Mesmo depois de os enterros deixarem os espaços interiores das
mesmas, os cemitérios foram tornados bentos, portanto, locais sagrados. Esse seria o
destino final de cada ser humano, “o que veio do pó, ao pó voltará”, trecho bastante
conhecido e citado da Bíblia. Mas é preciso destacar também que aqueles que aventaram
a possibilidade de criação de um forno crematório são pessoas que não abandonaram a
religião.
Num outro questionamento: seria a religião conservadora e a saúde o inverso,
a modernidade? Penso que é uma resposta que sugere muitos cuidados e demanda um
grande trabalho. Rotular este ou aquele ponto pode ser perigoso e levar o pesquisador a
uma armadilha mortal. Acredito que o mais correto seria trilhar um caminho que evitasse
tais situações. As propostas higienistas que são vinculadas são frutos das concepções que
estão em evidência no momento. Os rompimentos e novas ideias como o crematório estão
aí contidas. A “absorção” e interiorização da parte das pessoas ultrapassam nosso senso
de “medição”. Os avanços na área médica são acompanhados de proposições de novos
comportamentos – até mesmo exigidos de forma legal, como as campanhas de vacinação.
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A mudança é sempre um momento de crise, estranheza que provoca naturalmente
resistências.
Nas questões ligadas à saúde as alterações são grandes, a exemplo dos
combates às doenças endêmicas e as epidemias. Novas descobertas implicam tratamentos
e condutas diferentes. O trato com os mortos também sofre inovações. Em agosto de 1935
é aprovado um novo regulamento para os cemitérios indicando que as mudanças em curso
atingiam todos os espaços. A proposição do forno crematório pode não ser nova, mas é
claramente uma demonstração de uma outra realidade. As resistências e outros fatores
vão postergar e muito o seu surgimento que só ocorre no final do século em Valparaíso,
cidade do entorno de Brasília e que nesse caso atende as necessidades da região da capital
federal. Em Goiânia o primeiro é inaugurado em 2010, com a criação do Complexo do
Cerrado, que envolve cemitério e crematório.
Tanto tempo para surgir crematórios em Goiás, seria uma força da resistência
ante a isso? Acredito que sim, mas com certeza outras razões se somam: os gastos com o
empreendimento e retorno econômico, pode ser citado como exemplo. Por outro lado,
não quero associar cremação como sinônimo de modernidade, a incineração de corpos já
existia no mundo antigo. No ocidente os enterramentos ainda são o destino da maioria
dos corpos. De toda forma a simples menção ao fato como no Regulamento de 1926 e
também na época da construção de Goiânia representa uma situação nova que a meu ver
são sintomas da modernidade, mas não que isso esteja associada a imagem da atual
capital, posto que o Regulamento acima mencionado se não antecede em muito tempo a
edificação de Goiânia, do ponto de vista da política de 1926 uma nova sede administrativa
não era sequer cogitada. A projeção da mesma é coisa do governo de Pedro Ludovico
Teixeira. Levando pelo fator da ideia do crematório contida no Regulamento citado,
expressa cabalmente como pode ser questionado a pretensa modernidade de Goiânia. A
circunstância de Goiânia ser instada a essa condição de representação da modernidade é
uma questão que merece uma reflexão melhor, que no espaço deste trabalho não permite.
Por outro lado, o questionamento sobre a imputação do atraso para a cidade
de Goiás fica sob “suspeição”. Ao que parece Pedro Ludovico soube com inteligência
manobrar a situação para estabelecer a necessidade da nova capital com o discurso da
modernização e do progresso. Seria o problema então a aplicação dos conceitos? Aqui
também acredito a resposta merece um trabalho mais exaustivo que pretendo fazer no
texto final de pós-doutoramento do qual este texto é fruto. Provisoriamente penso que a
reflexão sobre a aplicação dos conceitos neste caso é muito importante, como é em todo
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trabalho acadêmico, talvez aqui muito mais, posto que, o seu entendimento e de como
isto foi apropriado e utilizado por parte daqueles atores diretamente envolvidos é
substancial. Não é somente uma preocupação em conceituar, é outrossim de compreender
as atuações e apropriações realizadas, passando claramente pela compreensão do
discurso, naquilo que Foucault de forma genial nos ensina (FOUCAULT, 1996). E
finalmente perceber como se trata de um tema melindroso, mas instigante ao permitir
vislumbrar o “assenhoreamento” da realidade e das palavras por parte de seus entes
constitutivos e do estudioso, que, às vezes, não toma o cuidado necessário e acaba
enredado em uma armadilha ao não se precaver na utilização dos conceitos. E sobre a
modernidade essa precaução é ainda maior, utilizando e parafraseando do título da obra
de Berman, na modernidade tudo o que é sólido se desmancha no ar.
Referências
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Tradução: Carlos Felipe Moisés & Ana Maria L. Ioriatti. São Paulo: Companhia das
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janeiro de 1936. Anno LXXX. Nº 3.175. Correio Oficial. Jan-Mar, 1936, nº 204. Arquivo
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refere a lei 781, de 16 de Julho de 1925. Correio Official Estado de Goiaz. Goyaz, 4 de
Maio de 1926. Anno LXX. Nº 1.160. Correio Oficial. Jan-Jun, 1926, nº 110. Arquivo
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(MEMÓRIAS GOIANAS, 11).
Relatório apresentado pelo Ilmo. E Exmo. Sr. Dr. Theodoro Rodrigues de Moraes, 1º
Vice-Presidente, ao Exmo. Sr. Dr. Joaquim de Almeida Luiz Moraes, Presidente da
Província, no dia 10 de fevereiro de 1881. (MEMÓRIAS GOIANAS, 13).
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