A PROPÓSITO DE ANJOS

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/29/2019 A PROPSITO DE ANJOS

    1/9

    A PROPSITO DE ANJOS

    RAUL DA FRANCA LEAL DE CARVALHO GUERREIRO

    Nrtingen, Alemanha [email protected]

    (Reviso de artigo publicado na revista Crescer, Lisboa, dez. 1995, pp. 47-51)

    Para a maioria das pessoas, o problema dos anjos (do grego ggelos = mensageiro) reside

    acima de tudo no fato de os mesmos serem "invisveis". Assim, contrariamente a uma

    quantidade de coisas que chamamos modernamente de "realidade", eles no esto venda

    nos supermercados, no se prestam para fazer negcios, no entram na poltica e tambm

    no tomam parte em programas de televiso. Em resumo, para muita gente os anjos so

    umas perfeitas inutilidades. Alm disso, preciso uma certa coragem para se falar de anjos a

    srio e em pblico, no v algum se lembrar de chamar um psiquiatra...

    OS ANJOS EXISTEM?

    preciso aqui evitar logo partida um erro fundamental: entrar em discusses ou

    altercaes acerca da questo absolutamente desinteressante do "existir ou no existir" dos

    anjos. Seno, as pessoas se dividem entre descrentes ferrenhos ('no me venham com

    histrias da carochinha, comigo o negcio ver para crer...') e crentes difusos ('no sei no,

    sinto que tem a qualquer coisa mais sria... afinal, at est na bblia, no ?') e o resultado

    que propriamente o assunto dos anjos fica colocado de lado.

    tambm importante desmontar essa fantasia acerca da "invisibilidade" dos anjos, como se

    isso fosse prova de que eles no existem. Afinal, h um monto de coisas neste mundo que

    invisvel, mas ningum se preocupa em provar se existem ou no. Por exemplo (para no

    falar de banalidades como o ar que respiramos ou o buraco na camada de ozono) tambm o

    nosso pensar, sentir e querer, que so fundamento do nosso complexo existir humano e

    no-animal, so to invisveis como os anjos. Igualmente invisvel uma declarao de amor

    (e ao telefone, sem pele para tocar, fica ainda mais invisvel) ou uma palavra amiga proferida

    num momento de aflio. Tambm invisvel a fora que nos sujeita a todos superfciedeste globo no espao sideral, no esquecendo que invisvel tambm a radioatividade de

    Tschernobyl ou o sofrimento de uma me perante o seu filho abatido a tiro sada da escola

    em qualquer canto do Kosovo. Se a gente fosse medir a realidade do mundo s na base do

    que perceptvel atravs dos sentidos, ficaramos com um pobre mundo, feito apenas de

    minerais mortos, plantas e animais -- com homens, mquinas, armas atmicas e

    computadores mistura.

    Podemos assim deixar para trs o bl-bl infantil do "acredito/no acredito" e avanar no

    tema para colocar algumas questes bem mais interessantes: que espcie de existncia tmos anjos, quais so as suas tarefas e como que podemos chegar a contat-los?

    mailto:%[email protected]:%[email protected]:%[email protected]
  • 7/29/2019 A PROPSITO DE ANJOS

    2/9

    DE QUE SO FEITOS OS ANJOS?

    Comparado com as nossas assim chamadas "faculdades superiores" o nosso corpo fsico

    pode ser chamado, sem pejorativos, de veculo inferior da condio humana. O investigador

    Rudolf Steiner sugeriu uma vez que podemos formar uma boa idia daquilo que no caso dosanjos veculo inferior, ou seja o seu "corpo", se tivermos em mente a vasta diversidade dos

    elementos naturais que nos cercam, nas suas formas etricas mais delicadas: a neblina que

    se ergue e se abate sobre campos e montanhas, a gua de uma fonte que irrompe de uma

    rocha e se projeta fragorosamente num abismo, a portentosa descarga eltrica de um raio

    cortando os ares, momentaneamente unindo o cu e a terra, ou ainda as massas de ar que

    cruzam como vento o espao em todas as direes, etc.

    Devemos assim ter em mente que os anjos pertencem a um vasto espao nocional que

    como uma espcie de contrapartida existencial, no-sensorial, do nosso mundo sensorial.Por outras palavras, eles habitam na "outra metade" do mundo.

    O problema dos atuais crentes da decadente Seita Universal da Matria (tambm apelidados

    comumente de materialistas cientficos racionais) que, quando ouvem falar em "mundo

    no-sensorial", costumam sentir um arrepio, comeando logo a fazer fogo com os canhes

    da defesa costeira da massa cinzenta sob a calota craniana: "Devagar a minha gente -- se

    no-sensorial, ento no d para sentir, e se no d para sentir, ento no existe, e se no

    existe intil, e se intil pertence ao lixo".

    Na verdade, para alm do complexo e fascinante "mundo real- material" acessvel nossa

    instrumentao biolgica, a esfera do "no-sensorial" tambm um espao extremamente

    real e denso da existncia superior intrnseca de qualquer ser humano. Afinal, nesse

    domnio que esto presentes os nossos ideais, os nossos impulsos de vontade, os nossos

    esforos de orientao da prpria vida e destino, etc.

    O interessante no caso dos anjos que, pelo fato de eles prescindirem de um corpo

    biolgico como o nosso, a sua constituio inferior ou "corpo", fica um degrau acima da

    nossa. Eles evoluram para uma hierarquia logo acima do plano humano, onde tm

    disposio possibilidades de incorporao na natureza ou na subconscincia humana. As

    suas energias e qualidades so necessria e intrinsecamente diferentes daquelas que

    vigoram para a assim chamada condio humana. As pessoas que sabem o que estar

    intensamente expostas aos elementos (por exemplo, atravs de uma demorada excurso

    pelas montanhas, de uma perigosa viagem martima ou de intenso trabalho em campo

    aberto) conhecem muito bem esta experincia subtil, em que nos apercebemos

    intuitivamente da presena nos elementos de foras para alm da realidade fsica que nos

    cerca.

  • 7/29/2019 A PROPSITO DE ANJOS

    3/9

    AS HIERARQUIAS ESQUECIDAS

    A classificao das entidades angelicais foi praticada em todas as religies ocidentais

    (Zoroastrismo, Judasmo, Cristianismo e Islamismo) segundo um sistema de 4, 7 ou 12

    hierarquias, refletindo em geral as concepes csmicas gregas ou iranianas. Todas as outrasreligies do mundo, em todos os tempos e por vezes de maneira complexa e aparentemente

    desordenada, assumem fundamentalmente a presena de "entidades invisveis" como uma

    parte integral da condio existencial do mundo. Tanto quanto se sabe, Dionsio o

    Areopagita, uma personalidade grega que foi convertida ao cristianismo pelo apstolo

    Paulo, foi o primeiro a sistematizar o coro dos anjos segundo 9 hierarquias, com a frmula 3

    x 3 (trs entidades distribudas em cada um de trs grupos). A primeira e mais elevada

    hierarquia aquela dos seres que que se encontram, segundo a tradio, "perante a face

    mesma de Deus": Serafins, Querubins e Tronos. Segue-se um grupo intermedirio:

    Potestades, Virtudes e Domnios; e por ltimo as entidades mais prximas do homem:Principados, Arcanjos e Anjos.

    Em muitas culturas primitivas -- como por exemplo a azteca, maia ou indiana -- fala-se

    intensamente de variados "deuses", em geral emplumados, os quais afinal so um retrato

    destas hierarquias angelicais na sua ao interveniente nos destinos humanos. Um exame

    rigoroso da mitologia grega, por exemplo, demonstra que os seus "deuses" eram entidades

    especficas das hierarquias mais prximas do homem: anjos e arcanjos. Nos primeiros

    tempos da cristandade, o slido conhecimento das relaes entre homens e anjos fazia parte

    da prtica natural da vida religiosa (todos os livros do novo testamento falam, nos seuscaptulos de abertura, de um anjo). Alm disso, a sua presena, especialmente a hierarquia

    mais ntima do homem, era percebida em vises, estados semi-onricos ou arrebatamentos

    de xtase. Com o passar dos sculos este vnculo se perdeu, e o conhecimento das nove

    hierarquias cau em esquecimento. Em suma, os anjos foram "abandonados". Hoje em dia,

    at em crculos docentes de universidades teolgicas se podem ouvir troas veladas sobre

    esses "adornos religiosos" que se encontram espalhados por todo o novo testamento.

    A razo deste aparente "eclipse" dos anjos deve-se por um lado ao fato de os homens

    realmente j no perceberem os mesmos na intimidade da sua alma (como era o caso emtempos remotos, em que uma certa clarividncia constitua um atributo natural e

    involuntrio de inmeras pessoas). Por outro lado, a nossa moderna era de uma cultura

    fundamentada sobretudo na carismtica experincia sensorial, provoca um desinteresse por

    tudo que esteja acima dos sentidos, at ao ponto extremo de alcunhar de ridculo ou

    irracional qualquer coisa que se revista de um carter superior. Neste sentido, a

    personalidade de Bultmann, um estudioso protestante do incio do sculo, ocupa um lugar

    central entre os promotores de uma pretensa onda de "desmistificao" da viso religiosa do

    mundo, a qual de fato veio colaborar para o crescimento desmesurado do atual

    materialismo cientfico e o conseqente empobrecimento da cultura religiosa em termos deverdades fundamentais.

  • 7/29/2019 A PROPSITO DE ANJOS

    4/9

    PORQU OS ANJOS TM ASAS?

    Evidentemente os anjos no tm propriamente asas, mas a nossa representao artstica dos

    anjos necessita de um smile que torne compreensvel certa caracterstica do seu estado de

    ser. No mundo animal, os pssaros constituem a espcie que tem a capacidade (umacapacidade que podemos chamar virtualmente de "sobre-humana") de se elevarem no

    espao por energia prpria. Da mesma maneira, a tradio de representar os anjos como

    seres alados quer precisamente tornar patente as suas qualidades espirituais sobre-humanas.

    O mesmo se aplica a inmeras tradies artsticas dos grandes mestres, onde as prprias

    asas dos anjos esto cobertas de uma mirade de olhos. Ao contrrio dos nossos olhos

    humanos, dirigidos exclusivamente ao mundo fsico, estes olhos simblicos querem significar

    que a conscincia e habilidade perceptiva, ou seja a "viso" das hierarquias angelicais, est

    projetada de uma maneira integral para as realidades do mundo supra-sensvel, em todas as

    direes e planos. O fato de que as asas "crescem para trs", portanto inacessveis aosprprios olhos, ajuda tambm a evidenciar que se trata aqui de uma dimenso da vida que

    se encontra oculta da viso fsica, ou seja, "para trs e para alm" dos homens. Mais um

    smile ligado aos animais alados: tal como os pssaros detm uma relao especial com a luz

    fsica, tambm os anjos vivem numa realidade espiritual dominada pelo elemento "luz do

    princpio divino". Por outras palavras, aquilo que o mundo dos pssaros expressa

    exteriormente, os anjos o realizam interiormente.

    Considerando assim os homens como seres intermedirios entre os animais e os anjos,

    poderamos nos perguntar: porque que os homens no tm asas ou coisa parecida? Aresposta que os homens -- todos os homens -- tm precisamente algo como asas, uma

    espcie de asas espirituais em desenvolvimento. Num futuro distante, elas sero parte

    integrante do seu estado humano imaterial metamorfoseado. No mundo quotidiano fala-se

    at de 'dar asas imaginao' para designar uma atividade interior especialmente criativa;

    tambm se fala de 'dar asa' para significar uma oferta de independncia e intimidade, ou

    ento de 'ganhar asas' para indicar o esforo anmico de algum que se ultrapassa a si

    prprio. Neste sentido, os homens realmente j podem ter asas, mesmo que s por

    momentos. Mas elas podem ser estimuladas, treinadas e intensificadas, at ao ponto de uma

    pessoa ganhar j hoje algumas das qualidades e habilidades que pertencero humanidadeno futuro. Qualquer pessoa que se dedique a cultivar esse espao no-sensorial da vida

    interior, aparentemente invisvel ou obscuro porque situado " retaguarda", est

    virtualmente promovendo as suas asas e melhorando o seu contato com os anjos; ou seja,

    est promovendo uma iluminao e expanso da prpria conscincia.

    COMO SO OS HOMENS, VISTOS PELOS ANJOS?

    preciso primeiramente lembrar novamente que, entre a diversidade de seres angelicais, a

    nona hierarquia (os anjos que a tradio chama de anjos da guarda ou protetores) tem amxima intimidade com os homens, pois o seu estado de conscincia est um grau acima

  • 7/29/2019 A PROPSITO DE ANJOS

    5/9

    daquele dos homens. A intensa proximidade destes anjos - consignados um para cada ser

    humano - significa que os mesmos desenvolvem a sua conscincia e habitam nas dimenses

    superiores da existncia humana, isto , nas foras ligadas com o destino, ideais, aes e

    sofrimentos dos homens. A eles se sentem "como em casa" e podem consequentemente

    agir.

    Vistos pelos anjos, os homens s surgem como uma imagem ntida e luminosa na medida

    em que esto em causa as suas melhores qualidades e intenes. Tudo aquilo que pertence

    mais ou menos ao quotidiano material, ou compulso causal do mundo fsico,

    apreendido pelos anjos como se fosse uma regio escura numa pintura. Por outro lado,

    quanto mais impulsionadas forem nos homens as preocupaes superiores do esprito -

    intelectuais, artsticas ou religiosas - mais ntidos ficam os contornos, mais fortes as cores e

    mais brilhantes as imagens que um anjo pode formar. Desta maneira, embora os anjos no

    tenham um acesso direto s condies materiais, crescem as possibilidades de suainterveno nas foras positivas da vida individual dos homens, especialmente em assuntos

    que dizem respeito ao destino e orientao da vida no seu todo.

    Muitas representaes artsticas clssicas mostram anjos tocando instrumentos,

    especialmente trombetas. Isto pretende representar a afinidade muito especial que as

    hierarquias tm com a esfera musical e com os seus impulsos puramente espirituais, algo

    que os homens tambm conseguem afinal perceber quando esto mergulhados em estados

    de elevao e inspirao atravs da msica. Diz-se at popularmente que algum foi

    transportado "pelas asas da msica". A experincia musical tem realmente algo deespetacular: ela permite aos homens acessar estados supra-sensveis (ou seja, o domnio

    espiritual) sem ter que abandonar o material! Por outro lado, preciso no esquecer que

    neste domnio tambm se levanta a questo da espcie de "espiritualidade" que se pretende

    invocar, pois atravs de formas brutais e degeneradas de "msica" pode-se igualmente

    apelar no ao supra-sensvel habitado pelos anjos, mas sim ao infra-sensrio habitado por

    foras contrrias.

    OS NOSSOS ANJOS DA GUARDA

    A nona hierarquia ocupa-se dos homens de uma maneira especial, no s durante cada

    minuto da vida como tambm ao longo das suas anteriores e futuras incarnaes. Esta classe

    de anjos conhece integralmente, tal como se fosse um livro aberto, as foras de destino que

    trabalharam no passado e esto agora no presente trabalhando sobre os homens. Mais

    importante do que tudo, graas a uma conscincia omnisciente dos caminhos e

    descaminhos j trilhados pelos homens ao longo dos anteriores sculos e milnios -- ou

    seja, os seus atos, sofrimentos, negligncias e aspiraes de vida -- os anjos sabem "o que

    necessrio que venha". Esta uma caracterstica fundamental dos anjos, o que inclusive est

    patente no vocbulo grego ("ggelos") significando "mensageiro". Eles intervm assim nodestino dos homens, mas sem chegar a determinar de maneira absoluta o seu futuro. Ao

  • 7/29/2019 A PROPSITO DE ANJOS

    6/9

    contrrio do que sugerido por modernas formulaes decadentes de leis espirituais,

    infelizmente muito em moda como paliativo para tenses advindas do esvaziamento

    espiritual da cultura (por exemplo, a lei do karma e da predestinao, ou a astrologia

    mundana), os anjos s impelem ou sugerem os homens na medida exata da sabedoria da

    sua espiritualidade e em conformidade com a identidade do Eu prprio de cada pessoa. Aliberdade intrnseca dos homens, enquanto seres espirituais, no alterada.

    Os anjos operam atravs de contnuas e delicadas operaes nas esferas da imaginao,

    inspirao e intuio, sugeridas psique mais profunda dos homens. Alm disso, em

    determinados momentos de "emergncia" eles podem intervir instantaneamente em estados

    mais densos da conscincia das pessoas, a fim de provocar certos acontecimentos. A histria

    da humanidade -- e a poca portuguesa dos descobrimentos rica em episdios deste

    gnero -- est repleta dos mais variados exemplos de impulsos sbitos, por vezes

    absolutamente irracionais, que que podem dominar uma pessoa em estado de viglia ou emsonhos, revelando-se depois como providenciais para determinados acontecimentos

    importantes na sua vida pessoal ou coletiva.

    No s o povo fala vagamente de "providncias divinas", mas at grandes nomes da cincia

    e da cultura devem suas criaes ou decises vitais a momentos deste tipo. Nestes casos, o

    anjo propriamente no interfere diretamente no mundo fsico, mas sim inculca determinados

    impulsos na esfera volitiva de uma pessoa, os quais depois tm conseqncias at ao nvel

    fsico e prtico. Por outro lado, uma pessoa pode tambm se fechar ou endurecer

    intimamente, at ao ponto de no estar receptiva para estes instantes. A sua condio podeento ser simplesmente comparada de um telefone desligado, incapaz de receber as

    chamadas dos anjos.

    Os anjos tm alm disso uma espcie de percepo sinttica ou "viso de conjunto" sobre os

    destinos comuns de variadas pessoas, de modo que conseguem interferir providencialmente

    tambm nos assim chamados "acasos" entre pessoas. Existe a histria real de uma jovem

    que um dia sonhou de maneira realstica que um anjo lhe mostrava o semblante do seu

    futuro marido. A imagem onrico-premonitria inculcada na sua memria foi to poderosa,

    que ela durante muito tempo se concentrou em procurar, um pouco por todo o lado, o rostodo "homem da sua vida". Passaram-se os anos, durante os quais o assunto esmoreceu. Um

    dia, ela foi convidada para fazer frias num pas estrangeiro, na casa de uma famlia amiga. A

    sua estadia numa pequena aldeia tradicional da Escandinvia foi um sucesso, sendo que no

    ltimo dia o pessoal organizou uma festa tradicional de despedida. No final da mesma ela

    deveria embarcar num navio. J mais no fim da festa, apresentou-se por acaso no local um

    amigo da famlia, que segundo a tradio vigente devia tambm obrigatoriamente danar

    pelo menos uma vez com a visitante. No meio da dana, a moa reconhece no jovem o tal

    "homem mostrado pelo anjo" e, como que atingida por um raio, conta-lhe rapidamente a

    histria. Ela explica que no h tempo a perder, porque tem que embarcar em seguida devolta para a sua ptria distante, e pergunta queima-roupa se ele quer casar com ela. O

  • 7/29/2019 A PROPSITO DE ANJOS

    7/9

    rapaz, semi-aturdido, pede uns momentos de reflexo e em seguida concorda. Mais tarde

    eles se reuniram, casaram e tiveram uma harmoniosa vida, rica em filhos e em experincias.

    ANJOS E CRIANAS

    O anjo prepara os elementos vitais do destino j antes do nascimento de um indivduo. A

    busca dos pais certos, no momento certo e no local certo, uma tarefa tpica do anjo neste

    estado preparatrio da incarnao, destinado a encontrar determinada constelao

    complexa de elementos sociais, culturais e genticos que se ajustem s necessidades de

    desenvolvimento do Eu que est por incarnar. No Novo Testamento relatado como Maria

    recebe, e compreende, a mensagem de um anjo que lhe faz a anunciao. Uma experincia

    semelhante parece hoje uma fantasia para o comum dos mortais, mas as investigaes da

    psicologia pr-natal demonstram que, em todo o mundo, cada vez mais pais sentem uma

    premonio acerca da chegada de uma criana.

    Quando no embrutecidas por circunstncias exteriores negativas, as prprias crianas

    parecem demonstrar uma habilidade especial para sentir a presena dos anjos, como se

    tivessem uma "linha telefnica" normal com o mundo espiritual, conforme disse Rudolf

    Steiner j em 1920, na sua conferncia sobre a misso da nova cultura espiritual no mundo.

    Isto facilmente compreensvel, se considerarmos que as crianas praticamente "acabaram

    de chegar do lado de l", onde viveram em estado puramente no-sensorial e em total

    intimidade com as mais variadas hierarquias angelicais, antes de serem conduzidas para o

    mergulho na matria. Durante os primeiros trs anos de vida o anjo envolve e permeia porcompleto a existncia infantil, trabalhando afincadamente na substanciao do seu Eu. A

    criana est nesse perodo virtualmente mergulhada numa atmosfera espiritual. Muitos

    sbios at j disseram que se pode aprender muitssimo da pura observao detalhada de

    uma criana de tenra idade.

    Com 3 anos, a criana comea a dizer "eu" e em seguida comeam a trabalhar nela os

    elementos especficos do destino, a caminho da vida adulta. Mas a relao com o anjo

    permanece especialmente forte ao longo da infncia, at aproximadamente puberdade.

    Por isso recomendvel e saudvel manter uma espcie de "cultura do anjo" na idadeinfantil. espantosa a fora espiritual positiva desencadeada, e o trabalho de consolidao

    da personalidade de uma criana, quando os pais cultivam o hbito de um verso ou 'orao'

    ao anjo, formulado antes do adormecer (est na memria uma das frmulas mais singelas

    conhecida em Portugal: "Anjinho da guarda, minha doce companhia, guardai-me esta noite

    e amanh todo o dia"). A formulao exata no tem importncia, e tambm no se trata aqui

    de inculcar hbitos 'religiosos' na criana. Uma criana por si j culto e religio suficientes.

    As investigaes simplesmente demonstraram que as crianas educadas numa atmosfera de

    respeito e recato perante (pelo menos) esta dimenso da realidade espiritual, desenvolvem-

    se mais saudavelmente em termos fsicos e psquicos, e aprofundam melhor a identificaocom o seu destino como futuros adultos. Quadros e pinturas de anjos no so seguramente

  • 7/29/2019 A PROPSITO DE ANJOS

    8/9

    objetos destinados a alimentar uma irracional crendice ou idolatria, mas sim valiosssimos

    elementos artsticos que ajudam a sugerir a essncia de uma presena espiritual universal,

    ativa de maneira positiva e permanente na vida de crianas e adultos.

    OS ANJOS EM MARCHA

    Em todo o mundo assinala-se hoje em dia um crescente e surpreendente interesse pela

    literatura "angelical". Alguns dirigentes religiosos formalistas at j comeam a reclamar que

    as crianas falam mais de anjos do que de Deus...

    Efetivamente, est em curso nos nossos tempos -- to invisivelmente como a prpria

    presena dos anjos, mas com iguais conseqncias -- um histrico processo de expanso e

    revelao de foras espirituais, que no tem paralelo na histria do mundo. Um dos seus

    efeitos o despertar simultneo de milhes de pessoas para a necessidade de alimentar as

    suas existncias com algo mais do que a mera luta pela existncia, a qualidade material da

    vida ou a permanente luta pela afirmao da sua personalidade livre. Simultaneamente com

    este verdadeiro chamado na mais profunda essncia oculta dos homens, erguem-se hoje

    formidveis foras antagonistas que tentam obscurecer a conscincia e receptividade das

    pessoas, utilizando para tal todos os meios concebveis: uma medicina marcada pela

    distncia humana e pela robotizao dos procedimentos, uma poltica baseada em

    premissas decadentes e materialistas, uma cultura dominada por meios audio-visuais que

    apelam violncia e provocao de instintos sexuais sem contexto anmico, um jornalismo

    de baixo sensacionalismo, uma iluso de "mundos transcendentais" atravs de drogas, umvirtual envenenamento coletivo por meio da poluio qumica, sonora e psicolgica do

    meio-ambiente, uma militarizao da vida laboral e poltica, e ainda uma invaso de

    mensagens rebuscadas de pretenso espiritualismo vindas de gurus de todas as cores e tipos

    (at mesmo sob a bandeira de Jesus-Cristo), que redundam quase sempre numa

    dependncia sub-reptcia das conscincias, etc.

    No meio de tudo isto o mundo espiritual, e em especial o mundo dos anjos, iniciou uma fase

    histrica de revelao (Apocalipse) que est sacudindo contnua e invisivelmente o mundo.

    Mas no se trata da interveno de um qualquer Deus jeovtico castigador, que vem ajustarcontas com uma humanidade pervertida e oferecer o paraso para os bons, como muitas

    seitas de fim-de-mundo apregoam. Trata-se simplesmente de uma evoluo natural daquilo

    que se vem preparando desde h sculos, como chance de desenvolvimento, de "pulo

    qualitativo" espiritual para a humanidade.

    OS ANJOS COMO MODERNOS MENSAGEIROS DO FUTURO

    Os anjos voltaram a falar -- e a falar forte -- aos homens, trazendo os seus impulsos e pondo

    as suas foras sua disposio. Este processo decorre ininterruptamente, em todo o mundo,

    permeando todas as culturas e religies e afetando at mesmo as pessoas que se dizem

  • 7/29/2019 A PROPSITO DE ANJOS

    9/9

    atestas. Como disse uma vez simbolicamente Rudolf Steiner (propulsor da Antroposofia

    como cincia espiritual prpria para os nossos tempos), est "chovendo a cntaros" do

    mundo espiritual. Mas o perigo enorme na nossa era reside no fato de que este processo se

    desenvolve invisivelmente durante a noite, enquanto os homens esto mergulhados no

    "sono", isto , na estao diria de "encher os tanques" nas regies espirituais. Seria umatragdia se a humanidade, no futuro prximo, no despertasse consciente e ativamente para

    a presena do "outro lado" da realidade e, entre outras coisas... esquecesse os anjos.

    Os anjos so parceiros to fiis dos homens que sofrem com eles. Mais do que isso, os anjos

    precisam de ser regularmente lembrados na conscincia dos homens, a fim de verem

    revitalizada e confirmada a sua ligao e poderem realmente GUARDAR e AJUDAR.