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A PRODUÇÃO DE UM DOCUMENTÁRIO DE MEMÓRIA SOBRE O PROJETO 10
ANOS DA UNIPAMPA1
Emanuelle Tronco Bueno2
Franceli Couto Jorge3
Joel Felipe Guindani4
Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar o documentário de memória como uma
ferramenta audiovisual para resgate histórico de uma indústria criativa, no caso, a Universidade
Federal do Pampa (Unipampa). Dessa forma, realiza-se o seguinte questionamento: o
documentário de memória é o recurso audiovisual mais adequado para registrar os dez anos de
história da Unipampa e retratá-la como uma indústria criativa? A fim de responder tal
problemática, faz-se um levantamento bibliográfico e histórico do gênero audiovisual
documentário. Sendo assim, teoriza-se acerca de conceitos como: produção audiovisual
(ALVES, 2008; MELO, 2002), documentário de memória (TOMAIM, 2016), indústria criativa
(FIRJAN, 2016; UNCTAD, 2012) e acessibilidade nos produtos audiovisuais (MAYER, 2012).
Por fim, entende-se que o recurso audiovisual permite traçar um panorama da trajetória da
Unipampa enquanto indústria criativa, a partir do seu potencial científico e disseminador de
conhecimento, instituindo-se como documento histórico de resgate e de perpetuação da memória.
Palavras-chave: audiovisual; documentário de memória; indústria criativa.
INTRODUÇÃO
Este artigo propõe-se a analisar o documentário de memória como uma ferramenta
audiovisual para resgate histórico dos 10 anos de uma indústria criativa, neste caso, a
Universidade Federal do Pampa (Unipampa). Isso será feito a partir da seguinte problematização:
o documentário de memória é o recurso audiovisual mais adequado para registrar a história da
Unipampa e retratá-la como uma indústria criativa? Para dar conta dessa questão, realiza-se um
levantamento bibliográfico e histórico-documental com base nos conceitos norteadores
1 GT 03: Comunicação e Indústria Criativa.
2 Jornalista da Universidade Federal do Pampa (Unipampa). Mestranda em Comunicação e Indústria Criativa.
[email protected]. 3 Jornalista da Universidade Federal do Pampa (Unipampa). Mestranda em Comunicação e Indústria Criativa.
[email protected]. 4 Professor do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Indústria Criativa (Stricto Sensu) da Universidade
Federal do Pampa (Unipampa). Doutor pelo programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). [email protected].
de documentário de memória (TOMAIM, 2016) e de indústria criativa (UNCTAD, 2012). A
partir destes, a Universidade Federal do Pampa (Unipampa) será entendida como indústria
criativa e o audiovisual (documentário) como instrumento para a indústria criativa (no caso, a
própria Unipampa).
A partir da motivação de promover o resgate da memória da primeira década da
Instituição, a execução desta proposta será realizada por um coletivo formado por discentes e
técnico-administrativos em educação. Além disso, contará com a colaboração de docente do
Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Indústria Criativa (PPGCIC) da Unipampa.
Cabe destacar que os autores deste trabalho atuarão em duas frentes, pois são integrantes do
PPGCIC (docente e discentes) e são servidores da Instituição (atuando como jornalistas na
Assessoria de Comunicação Social ou como docente da referida Universidade). Essa atuação
dualista ampliou uma inquietação profissional dos autores, que perceberam a importância de uma
instituição pública federal possuir registro de sua trajetória.
A respeito desse resgate histórico, considera-se que as pessoas que testemunharam o
processo de construção da Unipampa são fontes fundamentais para elaboração de um produto
audiovisual consistente, tendo em vista que as produções audiovisuais, entendidas como mídias,
“carecem das testemunhas, sejam elas personagens ilustres, celebridades ou anônimos”
(TOMAIM, 2016, p. 107). No caso específico desta Instituição, pela ausência de muitos
momentos detalhados de sua história, o registro em audiovisual da memória dos sujeitos é peça-
chave no processo de criação.
Para tanto, os raros registros audiovisuais sobre a trajetória da Unipampa certificaram a
lacuna de resgate oral e documental sobre a instituição, que não possui acervo audiovisual nem
banco de imagens. Esse cenário evidencia a necessidade de ampliação do conhecimento sobre a
história da Universidade e o fortalecimento de sua imagem, preservando-se a memória
institucional.
Defende-se que o recurso audiovisual permite traçar um panorama da trajetória da
Unipampa, instituindo-se como documento histórico de resgate e perpetuação da memória. Para
isso, a proposta de produzir um documentário institucionaliza-se a partir da ideia de um produto
audiovisual em formato de documentário de memória, a ser veiculado nas mídias sociais. Sabe-
se que, ao utilizar a internet para divulgar tal conteúdo, democratiza-se o acesso ao produto
audiovisual e possibilita-se a visualização em qualquer tempo e espaço. Além do mais, ao
consultar-se os dados da Pró-reitoria de Graduação (Prograd) da Unipampa, verificou-se um
perfil de ingressantes nos cursos de graduação que possui idade entre 22 e 23 anos, dado que
classifica o público geral da Universidade como jovem e inserido ao contexto de conexão
propiciado pelas novas tecnologias.
Percebe-se que a memória da Universidade Federal do Pampa é oriunda de um
movimento peculiar, integrado pela comunidade e pautado por iniciativas inovadoras.
Gradativamente, servidores e estudantes foram se integrando a esse projeto de expansão de uma
instituição de ensino voltada ao desenvolvimento de regiões tidas como “esquecidas” no estado
do Rio Grande do Sul. Todos esses aspectos, quando elucidados, preservados e democratizados
constituem uma base para se entender melhor a natureza da instituição e solidificam a tarefa
relevante de resgate da memória institucional.
No cenário traçado, a Universidade será apresentada enquanto indústria criativa
(UNCTAD, 2012), a partir de seu potencial científico e disseminador de conhecimento. Os
resultados parciais deste estudo possibilitam verificar a necessidade do resgate e da preservação
da memória da Universidade, principalmente no campo audiovisual. Nessa ótica, o audiovisual,
através do documentário de memória, se mostrou bastante apropriado para reconstituição
histórica através do resgate da fonte oral (fundamentada na técnica de entrevista) e documental
(consulta a textos, jornais, imagens, etc.), ambas entendidas como documentos históricos de
grande valor para construção do produto final.
1 PRODUÇÃO AUDIOVISUAL
O audiovisual, atualmente, é o modo de expressão predominante em nossa sociedade. Ele
está presente na mídia, na ciência, nas artes, nas instituições, entre outros. Conforme Alves
(2008, p. 20), “os métodos, as técnicas, as ferramentas e as linguagens usadas no audiovisual são
muitas e atraem cada vez mais profissionais para atuar na produção sonora e imagética, além de
seu produto final fascinar o público em geral”. A autora destaca que a função principal do
audiovisual é comunicar algo a alguém. “Comunicar é um ato inerente ao ser humano. Mas
comunicar audiovisualmente é um ato intencional e, como tal, é um fenômeno que precisa ser
amplamente analisado, discutido e aprendido” (ALVES, 2008, p. 20).
Apesar dos diferentes gêneros de audiovisuais, interessa-nos para este trabalho o
documentário, que tem como característica predominante o seu caráter autoral. Segundo Melo
(2002, p. 23), “alguns elementos linguístico-discursivos evidenciam esse caráter autoral: a
maneira como se dá voz aos outros, a presença de paráfrases discursivas e um efeito de sentido
monofônico”. Além dessas evidências, a autora destaca a criatividade presente no processo de
edição como importante marca de autoria.
Melo (2002) defende que o gênero documentário tem características particulares, o que
permite, independente do tema tratado, diferenciar o documentário de outros tipos de produtos
audiovisuais, tais como os filmes de ficção e as reportagens de televisão, por exemplo. De acordo
com a autora, o “documentário é construído ao longo do processo de sua produção” (MELO,
2002, p. 26). Mesmo que haja um roteiro, o produto final somente será definido após a realização
das filmagens, da edição e da montagem. Este, talvez, seja um dos fatores por meio do qual o
documentário mantém sua relação com a realidade, seguindo um conjunto determinado de
convenções como “registro in loco, não direção dos atores, uso de cenários naturais, imagens de
arquivo etc” (ibidem, p. 25).
Nesse sentido, Penafria (1999) também aborda o papel do sujeito filmado. Para a autora,
no documentário há a imperfectibilidade dos intérpretes, que são personagens reais. “Como os
diálogos não podem ser previamente escritos e costumam não ser previsíveis, diz-se que um
documentário é o argumento encontrado" (PENAFRIA, 1999 apud MELO, 2002, p. 26).
Devido ao seu discurso sobre o real, o documentário aproxima-se do jornalismo, como
afirma Melo (2002, p. 28): “As informações obtidas por meio do documentário ou da reportagem
são tomadas como "lugar de revelação" e de acesso à verdade sobre determinado fato, lugar ou
pessoa”. Quanto à narração, a autora diz que, diferente da prática jornalística, sua presença não é
necessária nos documentários.
Os depoimentos podem ser alinhavados uns aos outros sem a necessidade de
uma voz exterior, oficial, unificadora, que lhes dê coerência. Isso não quer dizer
que um documentário sem locutor não seja um discurso coerente. Nesses casos,
a coerência, o sentido, manifesta-se na seleção e encadeamento dos depoimentos
que compõem a narrativa (MELO, 2002, p. 33).
Por esse motivo, a autora destaca a necessidade da presença da criatividade no processo
de edição e montagem do audiovisual, porém, Lipovetsky (2009) faz uma importante ressalva,
para ele a criatividade técnica não funciona para si mesma. “Ela está a serviço de uma história e
das emoções do espectador” (LIPOVETSKY, 2009, p. 290), ou seja, apesar de registrar o real, o
documentário pode utilizar-se de outros recursos para transmitir sua mensagem ao público e
envolvê-lo e, para que isso ocorra, a criatividade pessoal é fundamental. Conforme Lipovetsky
(2009), a criatividade pessoal adquiriu uma dimensão inédita, resultando na produção e na
difusão de inúmeras sequências filmadas, antes, sequer, imaginadas pelo público.
Diante das diversas formas que o documentário pode apresentar-se, escolhemos o
documentário como “lugar de memória”. O recorte feito pelas autoras deve-se pela importante
função que o audiovisual, especialmente o documentário, tem de preservar a memória e resgatar
a história, a fim de compor um acervo documental que sirva de (re)afirmação da identidade de
uma instituição, neste caso, da Universidade Federal do Pampa (Unipampa).
2 INDÚSTRIA CRIATIVA
Neste trabalho, a indústria criativa pode ser identificada em dois grupos com funções
distintas, por isso, alguns conceitos são necessários. Segundo Meleiro (2009, p. 43), a indústria
criativa está presente dentro da lógica da economia criativa, sendo caracterizada como um “ciclo
que engloba a criação, produção e distribuição de bens e serviços que usam a criatividade e o
capital intelectual como seus principais insumos, produzindo produtos dotados de valor
econômico e cultural, conteúdo criativo e objetivos de mercado”.
A partir dessa conceituação, a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e
Desenvolvimento (Unctad) divide as indústrias criativas em quatro grandes grupos: patrimônio,
artes, mídia e criações funcionais, tais grupos são subdivididos em nove. Para este trabalho,
interessa-nos o grupo Mídia, o qual tem “o objetivo de estabelecer comunicação com grandes
públicos” (UNCTAD, 2012, p. 8). Este grupo apresenta as subdivisões Editoras e mídias
impressas e audiovisuais (incluindo as indústrias cinematográficas).
Meleiro (2009, p. 46) apresenta dados da Unctad, onde cita a produção mundial de
audiovisuais: “Os países industrializados têm quase 90% do mercado mundial de audiovisuais,
ao passo que os países em desenvolvimento respondem por apenas 8% das exportações de
produtos audiovisuais”.
Apesar da produção audiovisual nos países em desenvolvimento, como o Brasil, ser
pequena comparada ao mercado mundial, ela apresenta constante crescimento, mesmo em
períodos de recessão econômica. Isso se deve a sua principal característica: a criatividade,
insumo indispensável para que o audiovisual seja o responsável pela divulgação de outras
indústrias, criativas ou não. Dessa forma, a produção audiovisual pode ser entendida como um
produto de comunicação criativo ou como uma ferramenta comunicacional para auxiliar a
indústria criativa.
3 O AUDIOVISUAL COMO LUGAR DE MEMÓRIA
A cultura audiovisual, caracterizada por sua “imediatez da expressão corporal”, evoca
emoções e, portanto, é capaz de preservar - através de som e de imagens em movimento - o
campo do sentir (SODRÉ, 2010, p. 23). Ou, melhor dizendo, preservar a própria memória, a qual
“diz respeito diretamente à vida, pertencendo à constituição identitária de grupos ou indivíduos,
sujeita às transformações, à dialética lembrança/esquecimento”, portanto dotada de carga
emotiva (TOMAIM, 2016, p. 98).
Nessa linha, a memória institucional poderia ser entendida como uma “(re)construção do
passado”, pois resgata e registra aquilo que ficou no tempo passado. Desse modo, “como em
todo processo de escolha e de seleção, constituirá a memória da organização aquilo que foi
relevante para ela e ela estará impregnada de sua cultura” (BARBOSA, 2013, p. 16).
É válido ressaltar, portanto, que a produção audiovisual da memória pode ser concebida
“enquanto uma atividade que requer a busca ou o registro da naturalidade do mundo,
expressando, assim, o absoluto, a unicidade e a singularidade” (BORGARTZ et. al., 2016, p. 8).
Surge desse contexto o documentário de memória, preservando e armazenando “uma memória
experiencial do vivido, do que como uma ameaça ao passado recordado” (TOMAIM, 2016, p.
97). Portanto, como pontua o autor: “Antes que os rastros sejam apagados, que as lembranças
sejam esquecidas, o documentário revela-se como refúgio de uma memória viva, como um lugar
de exercitar a rememoração enquanto um ato encarregado de ressignificar o mundo em sua
dimensão temporal” (TOMAIM, 2016, p. 99).
O documentário é uma mídia criativa que busca valorizar e, principalmente, consolidar a
memória de uma instituição, que também pode ser uma indústria criativa, como no caso da
Unipampa, que se enquadra nessa classificação a partir dos insumos criatividade e
intelectualidade.
4 O DOCUMENTÁRIO 10 ANOS DE HISTÓRIA DA UNIPAMPA: PESQUISA
EXPLORATÓRIA
Por escolhermos um objeto de pesquisa que se localiza na maior área fronteiriça do
Mercosul, com 153.879km², e que possui um sistema de multicampia (uma universidade com
dez campi dispersos na fronteira do Rio Grande do Sul), a pesquisa exploratória torna-se ainda
mais complexa, tendo em vista a necessidade de unificar os dados coletados em um só produto.
Por isso, salientamos que esta investigação está apenas em sua fase inicial, considerando que ela
poderá ser desenvolvida inclusive durante a gravação do documentário.
A Unipampa integrou o programa de expansão das universidades públicas no Brasil. A
proposta inicial previu a federalização da Universidade da Região da Campanha (Urcamp), que
possuía unidades universitárias em oito municípios. No entanto, concretizou-se por meio de um
Acordo de Cooperação Técnica firmado entre o Ministério da Educação, a Universidade Federal
de Santa Maria (UFSM) e a Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Cada uma das
Universidades ficou responsável pelo estabelecimento de cinco campi.
Em 27 de julho de 2005, o então Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva,
anunciou, em ato público realizado em Bagé, as ações do Governo Federal que visavam a
atender as demandas da Educação Superior Pública, através da implantação dos campi Bagé e
Jaguarão, e das demais cidades como extensão da UFSM e da UFPel. Informações essas
resgatadas através das notícias veiculadas na RBS TV, nos jornais regionais e acervo do Instituto
Lula. Durante o seu discurso, na presença de milhares de pessoas, Lula ressaltou que, em dois
meses, enviaria para o Congresso Nacional o Projeto de Lei que instituiria a criação, em até três
anos, da Universidade Federal da Região do Pampa, atualmente denominada Universidade
Federal do Pampa.
O vídeo institucional, produzido em 2014, resgata o anúncio da criação da Unipampa,
realizado em Bagé-RS, através de um ato com a presença de Presidente da República na época.
O acontecimento reuniu cerca de 40 mil participantes, dentre moradores de Bagé e de 23
municípios da região.
Imagem 01: discurso do Presidente da República em 2005, Luiz Inácio Lula da Silva. Fonte: vídeo institucional da
Unipampa de 2014.
No decorrer deste trabalho, algumas datas mostraram-se fundamentais. O primeiro
concurso para docentes da Unipampa foi divulgado em janeiro de 2006, através do Edital nº
003/2006, da UFPel. Em seguida, o primeiro concurso para Técnico-administrativos em
Educação ofertou 63 vagas para 11 cargos, a serem lotados nos cinco campi sob responsabilidade
da UFPel. Esses certames reuniram a primeira equipe de servidores responsável por iniciar o
processo de desenvolvimento da Universidade Federal do Pampa.
Imagem 02: trecho do edital que formaliza o primeiro concurso da Unipampa. Fonte: UFPel.
O servidor Daniel dos Santos Viegas ingressou na Unipampa por meio do referido
concurso e tomou posse no dia 09 de agosto de 2006 como Técnico em Contabilidade.
Atualmente [junho de 2017], Viegas exerce o cargo de pró-reitor adjunto da Pró-reitoria de
Gestão de Pessoas e será uma das testemunhas fundamentais na construção deste documentário.
A Unipampa foi criada por lei em 11 de janeiro de 2008. A Lei nº 11.640 daria início a
outra fase para a Universidade.
Imagem 03: cabeçalho da Lei que institui a Unipampa. Fonte: Governo Federal.
Logo após a publicação da referida Lei, toma posse, em Brasília, no dia 29 de janeiro de
2008, a reitora pro tempore da Unipampa, Maria Beatriz Luce. Durante a solenidade, a futura
reitora declara que “O pampa, para nós, é uma terra amada, republicana e igualitária. E a
Unipampa representa esse caráter; é o direito de todos à educação e à ciência” (LUCE, 2008).
Imagem 04: reitora pro tempore da Unipampa, Maria Beatriz Luce, durante sua posse em 29 de janeiro de 2008.
Fonte: MEC.
Após dois anos, em 28 de agosto de 2010, a Unipampa gradua sua primeira turma. Os
acadêmicos do curso de Enfermagem, do Campus Uruguaiana, foram os primeiros a receber o
diploma pela instituição.
Imagem 05: notícia sobre a primeira turma graduada pela Unipampa. Fonte: Unipampa.
Todos os dados e documentos até aqui coletados servem de base para produção do
documentário. Todavia, como citado anteriormente, esta é uma pesquisa em processo de
construção e tanto testemunhos quanto documentos ainda serão investigados e incorporados ao
trabalho.
4.1 UNIPAMPA COMO INDÚSTRIA CRIATIVA
As universidades estão deixando a posição de estrito espaço formador de profissionais
para se consolidarem como agentes produtores. Essa transição ocorre, prioritariamente, pelo fato
das instituições de ensino superior produzir um dos fatores base da indústria criativa: o
conhecimento. Segundo Unctad (2012), a indústria criativa está na tríplice criação-produção-
distribuição de produtos ou serviços que utilizem a criatividade e o capital intelectual como
matéria-prima.
Neste sentido, a Universidade Federal do Pampa (Unipampa), atuante em dez municípios
do Rio Grande do Sul e na educação a distância, pode ser vista como indústria criativa, uma vez
que produz não só conhecimento, mas riqueza cultural e econômica. O conhecimento está
diretamente ligado aos cursos de graduação e de pós-graduação em nível de especialização,
mestrado e doutorado. Já a riqueza cultural é propiciada pelos atores envolvidos na instituição
(docentes, discentes, servidores e comunidade) e o desenvolvimento econômico se relaciona com
o progresso regional (geração de emprego, nova lógica no sistema de transporte, surgimento de
novos setores na economia local, etc.).
A Unctad (2012, p. 8) reafirma esse conceito ao descrever as indústrias criativas como o
“conjunto de atividades baseadas em conhecimento, focadas, entre outros, nas artes, que
potencialmente gerem receitas de vendas e direitos de propriedade intelectual; produtos tangíveis
e serviços intelectuais ou artísticos intangíveis com conteúdo criativo, valor econômico e
objetivos de mercado”.
4.2 DOCUMENTÁRIO DE MEMÓRIA PARA A UNIPAMPA
Após apresentado o objeto deste trabalho, a Unipampa, e a argumentação sobre o
entendimento da referida instituição como indústria criativa, partimos para analisar se o
documentário de memória é o recurso audiovisual mais adequado para o resgate histórico
proposto pelo projeto 10 anos da Unipampa e para identificá-la como indústria criativa.
De acordo com o relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e
Desenvolvimento (Unctad), o audiovisual é um subgrupo do segmento criativo “Mídia”, que
produz conteúdo a fim de estabelecer comunicação com grandes públicos. No subgrupo
audiovisuais encontram-se os filmes, a televisão, o rádio e demais radiodifusões. No
entendimento da Unctad, os audiovisuais são produtos da indústria criativa, onde se enquadram
os documentários.
Apesar da produção audiovisual usar a criatividade e o capital intelectual como insumo
primário, uma das características da indústria criativa, ela também pode ser utilizada como
instrumento para dar visibilidade aos produtos e serviços dessa indústria. É com esse intuito que
pensamos o produto audiovisual em questão, pois entendemos a Universidade Federal do Pampa
(Unipampa) como indústria criativa, já que gera uma gama de produtos e serviços criativos.
Estes, por sua vez, enquadram-se como um amplo campo de possibilidades para a produção
audiovisual, por isso, o documentário produzido para resgatar a memória dessa instituição serve
como mídia de divulgação e propagação da indústria criativa (Unipampa).
Mesmo tão recente se comparada a outras instituições educacionais, a Unipampa deixa
sua memória e seu legado para as gerações do hoje e do amanhã. A memória da instituição, por
não ser escriturada, carece de sistematização, registro e publicização. O registro diz respeito ao
resgate da memória da Unipampa, enquanto à publicização revela-se parte do indivíduo pós-
moderno e, portanto, a publicidade aparece nesse contexto como “[...] o único elo de igualdade
entre todas as diferenças” (MARSHALL, 2003, p. 105).
Além disso, o autor destaca outra característica do documentário, relevante para este
projeto, que é a de “comprimir o tempo”. São dez anos de história, dez Unidades Universitárias e
muito a contar, porém, a referida produção audiovisual tem a missão de promover esse resgate
histórico em, apenas, 10 minutos.
Apesar de entendermos que o documentário de memória é o produto audiovisual indicado
para a proposta do projeto analisado, consideramos também que muito pode ser construído ao
longo das gravações. Conforme Penafria (1999), “como os diálogos não podem ser previamente
escritos e costumam não ser previsíveis, diz-se que um documentário é o argumento
encontrado”. Outro fator a ser considerado para que, de fato, a história seja perpetuada, é o
alcance e a acessibilidade dessa produção. Esse último assunto será abordado na seção
subsequente.
4.2.1 ACESSIBILIDADE AUDIOVISUAL
Discutir acerca da acessibilidade audiovisual não parece uma questão simples para um
país em desenvolvimento, como o Brasil, pois pressupõe um alto investimento em tecnologia e
em recursos humanos, este último entendido como capacitação de profissionais. Todavia, a
superação da visão preconceituosa que permeou até poucas décadas, precisa ser superada.
O artigo “O deficiente visual como leitor pressuposto de produtos audiovisuais”
(MAYER, 2012) propõe uma visão esclarecedora sobre a noção de acessibilidade. Nesse sentido,
a autora trata a deficiência baseada em um modelo de direitos, sendo a assistência um desses
direitos básicos inerentes a todo ser humano. Portanto, a audiodescrição é um recurso
fundamental que precisa provocar nos deficientes visuais sensações que qualquer um sentiria ao
se deparar com a obra (MAYER, 2012).
A audiodescrição é, apenas, uma das técnicas para tornar um produto audiovisual
acessível. Conforme Araújo (2010, p. 94), a audiodescrição “trata-se de uma narração adicional
que descreve a ação, a linguagem corporal, as expressões faciais, os cenários e os figurinos”.
Outra técnica utilizada para tornar um produto audiovisual acessível é a inserção da janela de
tradução/interpretação da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Esse recurso permite que os
deficientes auditivos possam assistir às produções sem prejuízo de significação, porém, é preciso
deixar claro que nem todo deficiente auditivo comunica-se por meio da Língua de Sinais, por
isso, a utilização de legendas é outro recurso necessário no processo de acessibilidade de uma
produção audiovisual.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do levantamento bibliográfico e da pesquisa exploratória desenvolvida até o
momento, pode-se considerar o documentário como valioso produto para contar a história dos 10
anos da indústria criativa Unipampa. Reconhece-se, portanto, a capacidade dessa categoria
audiovisual de resgatar, preservar, conservar e registrar a memória institucional, gerando, através
da divulgação, conhecimento histórico para o presente e para o futuro.
Sendo assim, e considerando um cenário de constantes evoluções tecnológicas, a
ferramenta audiovisual configura-se não só como recurso comunicacional com potencial de
atingir os mais variados sentidos, mas também como importante estratégia de comunicação para
atingir um público-alvo jovem e conectado às mídias sociais, ou seja, o público da Unipampa.
Sabe-se que, segundo dados da Pró-reitoria de Graduação (Prograd) da Instituição, a média de
idade dos ingressantes nos cursos de graduação é de 22 a 23 anos.
Nessa ótica, o documentário surge justamente como uma mídia capaz de armazenar e
preservar uma memória experencial do vivido, ao mesmo tempo em que o renova através de seus
recursos tecnológicos atuais.
REFERÊNCIAS
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