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Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra – Análise dos Media A Personagem Jornalística no Cinema A Personagem Jornalística no Cinema Análise dos Media – Jornalismo Professora Ana Teresa Peixinho Professora Ana Teresa Peixinho André Costa-Ferreira João Caetano Neves

A Personagem do Jornalista no Cinema

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Que papel tem o jornalista no mundo da sétima arte?

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Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra Anlise dos MediaA Personagem Jornalstica no Cinema

A Personagem Jornalstica no CinemaAnlise dos Media JornalismoProfessora Ana Teresa Peixinho

IntroduoDesde que os irmos Lumire realizaram Sortie de lusine Lumire de Lyon, em 1894, centenas de milhares de histrias foram contadas no grande ecr at aos dias de hoje; crnicas sobre todo o tipo de pessoas e profisses: mdicos, professores, construtores, bombeiros, polticos, advogados, cientistas, agricultores e, claro, jornalistas. No se sabe ao certo quantos filmes haver sobre jornalistas, mas a primeira tentativa foi Miss Jerry, em 1894. Os aficionados diro que no se trata de um filme e dizem-no com razo: a longa-metragem de Alexander Black uma srie de slides projetados numa tela, acompanhados de narrao e msica. Mas independentemente de onde encaixarmos Miss Jerry, seguro afirmar que desde os seus primrdios que o Cinema e o Jornalismo andam de mos dadas.No meio de tantos anos, o objetivo do presente trabalho , muito simplesmente, averiguar qual o papel do jornalista no Cinema. Como retratado? Para isso, visionamos mais de uma dzia de filmes sobre jornalistas e desses escolhemos aqueles que fazia mais sentido analisar. So eles Ace in the Hole (The Big Carnival), de 1951, Network e All the Presidents Men, ambos de 1976 e Good Night, and Good Luck., de 2005. Uma escolha de apenas quatro o que no nos impedir de, pontualmente, fazer aluso a outras pelculas. A subjetividade na escolha destas quatro obras tem uma razo: muitos dos filmes sobre Jornalismo ou com jornalistas usam a profisso apenas como adereo. Ou seja, para a histria to relevante que a personagem seja um jornalista como um cozinheiro ou informtico. Apenas acontece, por acaso, ser jornalista.Como se sabe, o Cinema acusado de oferecer frequentemente ao pblico personagens unidimensionais. Reduzidos a duas ou trs caratersticas, os jornalistas que habitualmente vemos no Cinema so, das duas uma, ou os heris apaixonados/apaixonantes que lutam pela verdade e justia ou os viles que vergam qualquer obstculo para ter a sua estria. Esperamos dissipar algumas dessas dvidas ao longo das prximas pginas e conseguir distinguir a fico da realidade.Para as nossas concluses, analisaremos as temticas abordadas nos filmes, os clichs associados aos nossos heris, os desafios a que eles prprios se propem e, claro, o que dizem. No nos debruaremos, por isso, em questes mais tcnicas, como a realizao, cinematografia, edies de som ou imagem.A personagem cinematogrficaO Cinema um dos meios com maior impacto na sociedade do sculo XX. A stima arte suplantou a Literatura e o Teatro como forma de entretenimento favorito das sociedades ocidentais e o seu poder s foi posto em causa pelo aparecimento da televiso a cores e, posteriormente, das videocassetes. Sendo assim, fcil aferir os efeitos deste meio de comunicao de massa na opinio pblica e, portanto, a importncia de saber distinguir entre realidade e fico. O Cinema, com o seu enorme poder de penetrao nos mais diversos grupos sociais ajudou a construir mitos (Travancas, 2001:1). Tanto assim que institui, entre o filme e o espetador uma relao que no se assemelha relao que se mantm com o real (Akoun, 1976:63). Esses mitos ainda se refletem, hoje, mais de um sculo depois do primeiro filme, e o Jornalismo no lhes alheio. Carlos Reis e Ana Cristina Lopes entendem a personagem como o eixo em torno do qual gira a ao e em funo do qual se organiza a economia da narrativa. Este termo, retirado do Dicionrio da Narratologia, foca-se na personagem com origens na fico literria mas pode ser transposto para o grande ecr. Por isso, a personagem cinematogrfica o elemento que liga o panorama do filme; em vez de pargrafos e captulos, temos planos e cenas a focar o protagonista, o espao e a ao da pelcula.O estudo da personagem cinematogrfica per se no interessa a este trabalho acadmico. Dado que se trata de uma anlise de um medium como um todo e no de uma exteriorizao artstica desse meio, centraremos este breve enquadramento terico na personagem cinematogrfica e a sua ligao com o Jornalismo, bem como nos impactos que provoca no mito da personagem jornalstica na realidade. A emergncia da figura jornalstica () refora a posio de destaque ocupada por esses profissionais nas imagens do Cinema (Meirelles e Caleiro, 2012: 4). A esta posio de destaque junta-se a forte categorizao entre o bom e o mau. Os mitos, de que falava Isabel Travancas, provm da forte utilizao do Jornalismo no Cinema so dezenas as pelculas sobre jornalistas ou o Jornalismo e ainda mais aquelas em que figuram jornalistas como personagens. Para o bem ou para o mal, a viso estereotipada do tratamento cinematogrfico quebrou a quarta parede do Cinema e reflete-se, ainda hoje, na forma como o pblico perceciona os prprios jornalistas.O Jornalismo como alavanca narrativaComo j referimos, nem todos os filmes com jornalistas so pertinentes para a nossa anlise. De to leviana que , arriscamos dizer que a maioria da produo hollywoodesca trata o Jornalismo apenas como uma alavanca narrativa. Isto , a profisso do jornalista no faz desenrolar a ao diretamente. Em vez disso, o Jornalismo aparece, enquanto vocao, para atribuir certos traos caratersticos a essa personagem. Talvez por esteretipo, tem espao em muitos filmes porque confere um agudo grau de curiosidade, inteligncia e astcia; porventura, tambm verdade que o Jornalismo enquanto profisso desprezado e mal retratado, de vez a vez.Essa alavanca, que facilita a narrativa, ainda mais frequente que os filmes sobre o Jornalismo propriamente dito. Podemos observar este fenmeno em vrias ocasies sobejamente conhecidas do mundo da banda desenhada, com as personagens de Superman, da DC Comics, ou Les Aventures de Tintin, de Herg. Ambos so jornalistas ou reprteres, como a verso americanizada refere mas raramente so vistos em trabalho ou como jornalistas. Tintin viaja pelo mundo inteiro e mete-se em sarilhos, mas raramente escreve uma linha para um jornal. Temos, portanto, o Jornalismo como um acessrio simples e eficaz para localizar a audincia no plano do desenvolvimento das personagens.A personagem tpica do jornalista fcil de identificar: normalmente do sexo masculino, tem entre os 30 e os 50 anos de idade; usa culos, curioso, apaixonado e leva consigo todo o tipo de aventuras. a profisso perfeita para desvendar mistrios, desenterrar histrias e suscitar emoes ao pblico. Amigo da vida bomia, costume v-lo a puxar do cigarro, beber whisky num bar lembramos a cena de Good Night, and Good Luck., por exemplo, na qual Hollenbeck diz a Murrow I could use a scotch e este responde I think everyone could use a scotch e a ter pouco tempo para si e para a famlia. Quando no trabalha na redao, est a arriscar a vida ou a reputao para conseguir um furo. Quem nunca viu, por outro lado, aquele jornalista chato, de estilo paparazzi, a importunar qualquer um apenas para obter uma resposta? Em Five Star Final[footnoteRef:1], Hollywood apresenta aquela que , provavelmente, a viso mais sombria do Jornalismo alguma vez dada no Cinema. O Yellow Journalism ultrapassa os limites do aceitvel ao representar uma redao que tem ao seu dispor um jornalista que se mascara literalmente a fim de descobrir os podres que vendem. O mote do filme vender a todo custo, independentemente das consequncias que isso possa trazer. a secretria do editor do jornal em questo quem diz, da forma mais natural possvel, I think you can always get people interested in the crucifixion of a woman. [1: Filme de 1931, realizado por Mervyn LeRoy.]

Na maioria das vezes, a imagem que fica at mais a do visado, aquele sobre quem a pea fala ou o artigo prejudica. O jornal amarrotado deitado ao lixo, o mudar de estao de rdio ou o murro na televiso so, normalmente, o efeito dos tabloides e, para todos os efeitos, do Jornalismo tal como ele no Cinema. O jornalista bom, jornalista mauHaver cenrio mais clich do universo policial que o good cop/bad cop? Embora os jornalistas no faam parte do imaginrio do interrogatrio, em quase todos os filmes que vimos no mbito deste trabalho h a tendncia para colocar o protagonista do lado heroico ou do outro lado da barricada. Como sabemos, o Cinema feito de heris e viles; de boas e ms decises. At aqui tudo bem. No entanto, existe uma necessidade quase excessiva na stima arte de desenhar uma linha na areia e etiquetar os heris e os viles. Por um lado, h o jornalista correto, que luta sempre pela Verdade. No se corrompe, no se vende, pensa nos seus leitores e no que , efetivamente, de interesse pblico. Muitas vezes, talvez numa tentativa de destacar ainda mais o herosmo da personagem, o jornalista inserido num panorama particularmente obscuro e negativo. Os seus colegas, como se diz na gria, no tm coluna vertebral e podem muito bem ser inseridos na categoria jornalista vilo. Expurgado de valores morais e empatia, este o jornalista que faz tudo para conseguir a sua estria, mesmo que isso signifique passar por cima de outros. Muitas vezes mais bem-sucedido que a sua anttese, passa o filme geralmente sem grandes dvidas morais: o Jornalismo um meio para o sucesso e riqueza e a informao um conceito poderoso e corrompvel.Em qualquer um dos filmes analisados conseguidos descortinar essa separao. Nuns casos, a caraterizao do jornalista mais declarada; noutros, mais subtil. Um dos casos em que essa caraterizao mais evidente em Nothing but the Truth[footnoteRef:2] curiosamente, aqui a personagem jornalstica desvia-se do esteretipo e -nos apresentada uma reprter, mais jovem, moderna e me de uma criana. Rachel Armstrong consegue um furo histrico que pe em causa o futuro do presidente dos EUA, atravs de uma fonte que pretende manter o anonimato do grande pblico. Quando obrigado a divulgar a fonte, a jornalista recusa-se e, por isso, detida durante vrios meses, sem nunca revelar a identidade do informador. [2: Filme de 2008, realizado por Rod Lurie.]

Os nossos jornalistasAce in the Hole fala de um Jornalismo podre e o apetite insacivel do pblico por ele. Aqui, mais do que se falar da representao e papel do jornalista, fala-se do Jornalismo enquanto atividade na sociedade. Charles Tatum o jornalista-protagonista que chega a um jornal de uma pequena localidade no sul dos EUA, vindo de uma das maiores metrpoles do pas. Quando chega, encontra na redao do modesto peridico o primeiro indcio de honestidade da populao local e a primeira pontada de Wilder aos media: um placar na parede com a frase tell the truth.Para Tatum, a verdade algo acessrio; na sua entrevista de emprego, diz ao humilde dono: I can handle big news and little news. And if theres no news, Ill go out and bite a dog. O lugar seu e durante um ano Tatum reduziu-se a notcias locais, at que enviado para cobrir um evento estatal a umas milhas de distncia. Pelo meio, apercebe-se de alguma convulso no sop de uma Montanha, a dos Sete Abutres: um caador de tesouros foi longe demais na procura de artigos de valor e acaba soterrado. Os ndios locais recusam-se a entrar, alegando que a montanha est amaldioada e apenas Tatum entra, desenfreadamente, com o seu adjunto, um estagirio inexperiente. O jornalista identifica de imediato a mina que ali tem. No no ouro ou nos artefactos, mas no pobre Leo, enterrado. Tatum d a primeira lio ao jovem colega e diz-lhe: One man's better than 84. Didn't they teach you that? () Human interest. You pick up the paper, you read about 84 men or 284, or a million men, like in a Chinese famine. You read it, but it doesn't stay with you. One man's different, you want to know all about him. That's human interest. Tinha-lhe sado a lotaria. Afinal de contas, bad news sells best. Because good news is no news.Passaram as horas, os dias e as semanas. Tatum tinha os seus exclusivos em acordo mtuo com o Xerife e a pequena localidade tornou-se num circo. Foi feita a maior cobertura da histria no local; pessoas de todo o pas alegavam ter sido os primeiros a chegar ao lugar e esperava-se impacientemente pelo regresso de Leo. A simbiose media/pblico, de facto, pode ser impiedosa. Aqui, Wilder apelida-os de abutres, uma denominao justa que vai ao encontro da personagem jornalstica de Tatum. Duro, assertivo, calculista, ele quem engendra forma de fazer render o peixe e continuar a lucrar enquanto Leo prossegue enterrado.Finalmente, e ao bom estilo de Hollywood, Tatum aprende com a morte de Leo. No se pode dizer que encontra a sua moralidade no a tem , mas liga ao antigo patro, em Nova Iorque, que o havia despedido depois de o recontratar luz do seu recente sucesso e promete-lhe uma ltima grande estria: jornalista mata homem.This was the story of Howard Beale: The first known instance of a man who was killed because he had lousy ratings. Estas so as ltimas palavras narradas em Network, de Sidney Lumet, que no mostra um lado muito diferente do Jornalismo. Passaram 25 anos desde Ace in the Hole e apesar de Network transferir as suas crticas para a Televiso, no so menos incisivas. O filme , esquematicamente, um ataque ao pequeno ecr. A imagem com que dele ficamos ainda pior que a deixada pelo filme de Wilder. Sendo uma stira nada subtil, acrescente-se , no descura problemas fraturantes que j nos anos 70 eram centrais: as audincias e a competitividade desmesurada do meio.Network mostra uma emissora televisiva falhada cujas fracas audincias a fazem perder milhes de dlares por ano. A aposta numa nova diretora de programao vira a estao do avesso: Howard Beale, o pivot de h anos, avana para a velhice na mesma proporo que decresce em audincias. O fracasso profissional junta-se aos pessoais e o experiente jornalista anuncia em direto que se ir suicidar ali mesmo, dentro de uma semana, depois de saber que ia ser dispensado.Beale sofre um esgotamento e a sua queda vista por milhes. Mas o seu descalabro transforma-se num xito. Nos bastidores, as vozes mais jornalsticas levantam-se; um dos diretores da estao grita all I know is that this violates every canon of respectable broadcasting e recebe resposta do novo responsvel mximo da fictcia UBS: We're not a respectable network. We're a whorehouse network, and we have to take whatever we can get. Mesmo violando todos os cnones deontolgicos do Jornalismo, Beale, agora um perfeito louco, torna-se num profeta com lugar cativo nos quatro cantos dos televisores americanos. But, man, you're never going to get any truth from us. We'll tell you anything you want to hear; we lie like hell. () We'll tell you any shit you want to hear. We deal in *illusions*, man! None of it is true! () You're beginning to think that the tube is reality, and that your own lives are unreal. You do whatever the tube tells you! You dress like the tube, you eat like the tube, you raise your children like the tube, you even *think* like the tube! This is mass madness, you maniacs! In God's name, you people are the real thing! *WE* are the illusion! So turn off your television sets. () TURN THEM OFF!, grita o protagonista no seu programa.A ideia de infotainment est muito presente em Network. Lumet no parece um f da ideia e apresenta uma personagem jornalstica contaminada. No existem regras na televiso e a informao algo de secundrio. A ideia canibal de se alimentar de algum que acaba de ter um esgotamento uma ilao do filme. E da personagem jornalstica fica, sem dvida, a imagem de que no h problema na prostituio por audincias.Network tem uma diversidade de personagens bastante mais rica que qualquer outro dos restantes filmes em anlise. Jornalistas antiga e avant-garde; protetores dos ideais informativos e predadores de audincias; sbrios e sensacionalistas, etc. Tratando-se de uma stira, perfeitamente normal que os seus retratos sejam exagerados, mas mais uma vez somos confrontados com a questo dos excessos na bebida, do esgotamento nervoso e stress, da busca do fator x que a concorrncia no tem e, claro, pela supremacia no meio.Completamente diferente de Ace in the Hole e Network, Good Night, and Good Luck., de George Clooney, mostra a viso mais otimista de todas. Surpreendentemente sbrio o uso do preto e branco, em 2005, tambm o sugere mostra o jornalista heri, mas no o do Cinema; Edward R. Murrow e a sua equipa de jornalistas que no querendo nem fazendo por isso, so heris.A longa-metragem relata os conturbados anos 50 americanos e a luta de Murrow com o Senador Joseph McCarthy e a sua caa aos comunistas. Good Night, and Good Luck. retrata um marco no Jornalismo ocidental. Pela primeira vez algum se levantou pblica e jornalisticamente sob ameaa de fortes represlias e mesmo no tomando partido, fez o que se pedia: ouviu os dois lados e foi isento no seu tratamento; algo que, de resto, entendemos ser do mais bsico no Jornalismo. Murraw sabia o poder que tinha nas mos e a obrigao que tinha a sua voz e Clooney optou por escolher o seguinte discurso do locutor: To those who say people wouldn't look; they wouldn't be interested; they're too complacent, indifferent and insulated, I can only reply: There is, in one reporter's opinion, considerable evidence against that contention. But even if they are right, what have they got to lose? Because if they are right, and this instrument is good for nothing but to entertain, amuse and insulate, then the tube is flickering now and we will soon see that the whole struggle is lost. This instrument can teach, it can illuminate; yes, and it can even inspire. But it can do so only to the extent that humans are determined to use it to those ends. Otherwise it is merely wires and lights in a box.Deixamos All The Presidents Men para o fim por considerarmos ser o baluarte do Jornalismo no Cinema e a verso mais romantizada da Imprensa no grande ecr. O relato da dupla Bernstein & Woodward est mais que documentado e sobre ele h pouco a dizer: jornalistas do Washington Post, investigaram o caso Watergate e foram, em ltima anlise, os responsveis pela demisso de Richard Nixon do cargo de Presidente dos EUA. Autnticas vedetas at aos dias de hoje, Bernstein e Woodward nem sempre foram estrelas. Na pelcula de Alan J. Paluka, a dupla no passa de simples jornalistas no meio de uma das maiores redaes do mundo.No h como ter a certeza sobre tudo o que se passa no filme. A verdade que, afinal, se trata de uma produo da Warner Bros. e, como tantas vezes acontece em Hollywood, a tendncia transformar a realidade dos acontecimentos em algum folclore. Mas de uma coisa no duvidamos: Bernstein e Woodward arriscaram. Arriscaram a vida, a carreira e os familiares para levar a cabo a sua investigao. E talvez aqui se justifique algum romantismo. Talvez faa sentido ver All the Presidents Men e pensar que durante meses a vida destes dois homens esteve em risco; que cada pessoa a tossir ao longe podia significar algo de estranho; que as 18 horas dirias a respirar Watergate foram isso mesmo, 18 horas; que todas as vezes em os prprios responsveis do Post puseram obstculos no seu trabalho resultaram apenas numa vontade ainda maior de descobrir a verdade; que todos os cigarros fumados no foram o produto de uma imagem estereotipada mas o resultado de um stress constante; e que, finalmente, a linha traada na areia deve estar traada e que o Jornalismo deve servir o lado certo. E sim, que o Jornalista s vezes pode e deve ser o heri.ConclusoAinda nem amos a meio da anlise dos filmes selecionados e j era muito percetvel a tipificao da personagem do jornalista no Cinema. Como j referimos, a distino entre o bom e o mau; a luta de valores como a integridade, moralidade ou dignidade retratada como episdios superficiais, a preto e branco e pouco complexos. Para alm disso, a evoluo da personagem ocorre pouco frequentemente e, quando acontece, pouco natural e repleta dos clichs de Hollywood. De qualquer das formas, a personagem jornalstica no Cinema tem sempre agregado a si um certo poder. Independentemente dos valores morais, o jornalista dos filmes que analisamos tem, de certa forma, a tarefa de investigador ou detetive que est na base do Jornalismo como o quarto poder ou co de guarda o que lhe confere autoridade para tomar as rdeas do desenrolar da ao. Mesmo quando no so protagonistas, os jornalistas do Cinema tm o poder de trazer a pblico algumas injustias (que naturalmente atentam contra o sentido de liberdade de democracia), ou, pelo contrrio, retirar benefcio prprio da investigao jornalstica quando os valores no so os ideais.A personagem jornalstica , por norma, pouco densa. Seguindo a distino estabelecida por E. M. Forster, os retratos dos jornalistas so dados como personagens planas, que se constituem em torno de uma nica ideia ou qualidade. Esta categorizao adequa-se tanto aos jornalistas ntegros como aos sem escrpulos; ambos seguem a narrao cinematogrfica sem qualquer imprevisibilidade ou capacidade de surpreender o espetador. Apesar de a sua poca de ouro j ter passado h vrias dcadas, seguro dizer que o Cinema principalmente o ocidental est em franco crescimento. Nos EUA so gastos milhares de milhes de dlares todos os anos para produzir blockbusters que, depois, arrecadam prmios, nomeaes e quantias de bilheteira chorudas e apetecveis. Em contrapartida, a presena do jornalista na stima arte parece estar a decrescer. Se verdade que a nossa lista de pelculas apresenta quatro filmes do sculo XXI, tambm o que apenas em dois identificamos a real importncia da profisso no enredo. E se antes os tais mitos cinematogrficos ajudaram a cimentar a posio do jornalista como figura de relevo da sociedade, os recentes desenvolvimentos da profisso, que a desprestigiaram, afetou o interesse de realizadores e produtores em continuar a retratar o jornalismo.Em jeito de remate, sublinhamos criticamente o facto de apenas muito pontualmente termos descortinado uma personagem jornalstica que nos parecesse real. No nos parece que o jornalista-comum se faa acompanhar de uma vida bomia e muito menos que se encontre diariamente na necessidade de escolher o lado bom ou mau. Existe tendncia para tentar lucrar, algo que afasta este jornalismo dos seus antigos ideais, mas nem sempre isso resulta na busca desenfreada pelo scoop. Por outro lado, nem todas as decises so genuinamente boas; e mesmo que no o sejam, no descaraterizam o carter pessoal do jornalista.Referncias Bibliogrficas Akoun, A. (1976). Cinema, em Guia alfabtico das comunicaes de massas. Edies 70. Lisboa. Bazin, A. (1992). O que o cinema?. Livros Orizonte. Clooney, G. (Realizador). (2005). Good Night, and Good Luck. [Filme]. Fincher, D. (Realizador). (2007). Zodiac [Filme]. Howard, R. (Realizador). (2008) Frost/Nixon [Filme]. Lopes, A. C., & Reis, C. (2011). Dicionrio de Narratologia. Edies Almedina. Lumet, S. (Realizador). (1976). Network [Filme]. Lurie, R. (Realizador). (2008). Nothing but the Truth [Filme]. Mann, M. (Realizador). 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Professora Ana Teresa PeixinhoAndr Costa-FerreiraJoo Caetano Neves