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A Nova Aliança, o PROSUL e o PEDEC: O que são, a quem
interessam e o que a sociedade civil pode fazer a respeito
Análise de políticas de desenvolvimento com incidência no campo em Moçambique
N
DO I
R A W S'E EG LI PAN EOP
Apoio: Publicação:raisRu
Ficha Técnica
AcçaoAcademicaparaoDesenvolvimentodasComunidadesRurais(ADECRU)ComissaoArquidiocesanadeJustiçaePazdeNampula(CAJuPaNa)
BoaventuraMonjane(ContribuiçoesdeMelissaMarineRebecaGomes)
Janeirode2017
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RESUMO
Este trabalho analisa uma polıtica e dois
projectos de desenvolvimento com
incidencia no campo, nomeadamente a
Nova Aliança para a Segurança Alimentar e
Nutr i ç ao (Nova A l iança) , o Pro jec to de
Desenvolvimento de Cadeias de Valor nos
Corredores deMaputo e Limpopo (PROSUL) e o
Projecto das Estrategias de Desenvolvimento
Economico do Corredor de Nacala (PEDEC).
Enquanto aNovaAliançaMoçambique tornou-se
aderente (2013) sem ser o proponente, os dois
ultimossaodeconcepçao“domestica”,namedida
em que, a pesar de terem sido, em parte ou
completamente,desenvolvidoscomapoiotecnico
de consultores nao moçambicanos, pode-se
a�irmar que sao da iniciativa do governo da
RepublicadeMoçambique.
O documento oferece uma analise profunda das
referidas polıticas, debate suas implicaçoes, os
interessesenvolvidos,osprincipaisactoreseavalia
comotaispolıticastransformariam(transformam)
a realidade rural em Moçambique e afectariam
(afectam)ascomunidadescamponesasdasregioes
onde se propoe a sua implementaçao, o meio
ambiente e outras dinamicas socioeconomicas
caracterısticas dessas regioes. Apresenta
igualmenterecomendaçoesdeaçoesdeincidencia
polıtica,metodologicaejurıdicaqueaADECRU,as
comunidades camponesas e outras entidades
aliadaspodemdesenvolveremrespostaaoavanço
docapitaleseusimpactosnocampo.
As polıticas analisadas tem muito em comum e
estabelecemvariospontosdedialogo,sobretudo
n o q u e d i z r e s p e i t o a o s mod e l o s ( d e
desenvolvimento) propostos, ou seja, nao serao
completamentecompreendidassenaoolhadasno
seuconjunto.
Construıd ascomumaabordagemtop-down,estas
polıticas propoem transformar a realidade do
campo atraves de uma logica do capital e do
mercado.Emborasuasnarrativasapontemparao
alavancamento das condiçoes de vida das
populaçoes “vulneraveis”, nomeadamente
camponeses e camponesas, elas propoem uma
logicadeintervençaoqueda,claramente,primazia
aoinvestimentoprivadoeintensivo(Agronegocio,
mineraçao, infraestruturas de escoamento,
tecnologiasdeponta,etc.),crendoquenoprocesso
dessas intervençoes e em consequencia delas os
pobresruraisseiraobene�iciar,inevitavelmente,ja
que adoptariam novas formas de produçao
Namedidaemqueasuaconcepçaoedesenhonaoenvolveuaparticipaçaoeasopinioesdasmesmascamadasvulneraveisquesepropoememservir.
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(comodizaçao), seriam competitivos e estariam
completamenteinseridasnacadeiadevalores.
A mesma tendencia pode ser veri�icada nas
propostasdoprojectodoCorredordeCrescimento
Agrıcola da Beira (BAGC – sigla em ingles), nao
incluıdanestaanalise.
Aoenunciaremos seusobjetivoseprincıpios, as
polıticasemanalisea�irmamquererempriorizar
um desenvolvimento agrıcola sustentavel de
pequenaescalaquepermitaerradicarapobreza,
parece, pelo contrario, quererem promover uma
agriculturaemineraçaointensivasdeexportaçao
que bene�iciem muito mais as empresas
internacionais a investir nos paıses africanos,
nestecasoemMoçambique.
A analise concluiu que, na sua essencia, estas
propostas promovem e faci l i tam o lucro
corporativo em nome dos pobres rurais e da
segurança alimentar paraMoçambique, uma vez
que o status quo corporativo tenta ditar os
sistemasalimentareseagrıcolasnocontinenteao
promoverem agricultura orientada ao mercado
(market-oriented agriculture). A intençao dessas
propostas e conectar terras agrıcolas e grandes
recursos naturais(carvao,gas,metaispreciosos,
madeira)aosmercadosglobaisparacommodities
agrıcolas(paranutriçaoalimentar,�ibra,alimentos
eagrocombustıveis)porviadeportoscosteiros.
A pesar das terras serem varias vezes descritas
comolivresousubaproveitadas,narealidadeestas
iniciativasestaocomoolhopostonasterrasmais
ferteis, areascomrecursoshıdricos,comjazidas
derecursosnaturaiseomaisproximopossıveldos
corredoresdeescoamento.
ParaocasodoPEDEC(focadanodesenvolvimento
de“uma extensa rede de transporte que cubra toda a
região e que ligue as zonas do interior aos portos
marítimos...”, ou seja infraestruturas e aparelho
logıstico), o proprio projecto reconhece que as
populaçoes vulneraveis e pobres “poderiam
permanecer nessa condição mesmo após a melhoria
bem sucedida dos corredores de transporte e do
desenvolvimento regional relacionado”.
INTRODUÇÃO
O modelo de agricultura defendido pela Nova
Aliança está ultrapassado (Olivier de Schutter).
antiga ideia que relaciona A� frica a uma
Aimagem de um vasto territorio sub-
h a b i t a d o , c o m v a s t a s a r e a s
“subaproveitadas”, “abandonadas” e, portanto,
disponıveis para o investimento (agrıcola,
mineraçao, etc.)em larga escala, continua
fortemente presente nas narrativas dominantes,
tantodegovernoslocais,instituiçoesmultilaterais,
assimcomodeinvestidoresestrangeiros.
Apesardessa imagemarraigadadeabundanciae
disponibilidade de terras para todos os que as
quiserem nao ser a realidade da maioria do
continente, importantes e in�luentes actores
polıticoseeconomicoscontinuamapromovertal
discurso.
Suas abordagens paternalistas continuam a
menosprezar a capacidade dos paıses do sul de
encontrarem soluçoes locais aos seus proprios
desa�ios, sem a intervençao daqueles que
reivindicamconheceremasformulasparaalcançar
odesenvolvimento.
Moçambique, um dos destinos preferidos para
açoesdesenvolvimentistas,aderiuem2013aNova
AliançaparaaSegurançaAlimentareNutriçaoe
comprometeu-se a tomar medidas em políticas nas
áreas de ambiente de negócios, insumos, terras,
nutrição, resiliência e gestão de riscos, comércio e
mercados.
No mesmo perıodo, foi proposto o Projecto de
Desenvolvimento de Cadeias de Valor nos
CorredoresdeMaputoeLimpopo(PROSUL),como
objectivo de apoiar produtores de pequena escala ao
acesso sustentável, aos serviços essenciais e criar um
ambiente de negócios favorável.Orçadoem44,95
milhoes de dolares americanos, o PROSUL conta
c o m o F u n d o I n t e r n a c i o n a l p a r a o
Desenvolvimento Agrıcola (FIDA/IFAD) como o
principal�inanciador.Espera-seque1,9milhoesdo
fundototalsejamcobertosporinvestidoreslocais
e 1,4milhoes pelos bene�iciarios (camponeses e
produtoresdepequenaescala).
OMinisteriodaEconomiaeFinançasencomendou
a Agencia JaponesadeCooperaçao Internacional
(JICA,siglaemingles)umestudoparaaconcepçao
do Projecto das Estrategias de Desenvolvimento
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Peters,2014NovaAliançawebsiteof�icial:https://new-alliance.org/country/mozambiqueOsseguintessaoosconsultoresenvolvidosnaproduçaodoPEDEC:OrientalConsultantsGlobalCo.,Ltd.RECSInternationalInc.InternationalDevelopmentCenterofJapanKokusaiKogyoCo.,Ltd.Eight-JapanEngineeringConsultantsInc.OProSavanaeumprogramadetripartidodedesenvolvimentoagrıcolaalargaescalapropostopelosgovernosdeMoçambique,BrasileJapao.
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Economico do Corredor de Nacala (PEDEC)cujo
relatorio�inaledatadodeAbrilde2015.OPEDEC
e um ambicioso projecto incluindo diversos
programas,dentreelesoProSavana.
Importa realçar que, para uma compreensao e
analise mais �iel da visao do governo de
Moçambiqueparaosectoragrario–nos ultimos
anos casado com outros sectores de extraçao
mineira–enecessarionaoignoraravastalistade
planos(estrategicos)epolıticasqueogovernotem
promovido na ultima decada. Dentre eles
destacamosaqui PolıticaAgrariaeEstrategicade
Implementaçao (PAEI), o Plano Estrategico de
Desenvolvimento do Sector Agrario (PEDSA), a
Estrategia de Desenvolvimento Rural (EDR),
Estrategia de Segurança Alimentar e Nutricional
(ESAN) Plano de Acçao Multissectorial para a
ReduçaodaDesnutriçaoCronicaemMoçambique,
oProgramaNacionaldeForti�icaçaodeProdutos
Basicos e a Estrategia de Revoluçao Verde.Mais
recentemente (2013) o entao Ministerio da
Agricultura propos o Plano Nacional de
InvestimentodoSectorAgrario(PNISA)eoentao
Ministerio de Plani�icaçao e Desenvolvimento
liderou o desenho e aprovaçao da Estrategia
Nacional de Desenvolvimento (2015-2035).
Emboranemsempreeclaraadiferençaentreelas
Recomenda-seumestudocomparativoeanalıticosobreeentreestesvariosplanosepolıt icasdemodoaidenti�icarsuasdialogicidade,convergenciasecontradiçoes.PNISA2013-2017Contraditorianamedidaemquenaoseexplicacomogarantirsustentabilidadedentrodacompetitividadeepreservaçaoambientalnaexploraçaoderecursosnaturais(carvao,pedraspesadas,gas,�lorestas)nomodeloemvigoremMoçambique.
nem sequer sao conhecidas as avaliaçoes daefectividade de cada um deste varios planos epolıticas,aactualvisaodogovernodeMoçambiquepara o sector agrario e dedesenvolver um sector agrário próspero, competitivo, equitativo e sustentável cujo objectivo fundamental é contribuir para a segurança alimentar, a renda e rentabilidade dos produtores agrários e aumento da produção agrária orientada para o mercado, de forma rápida, competitiva e sustentável.
Estavisaoeacompanhadaporumacombinaçaode“prioridades” contraditorias nomeadamente as e g u r a n ç a a l im en t a r e n u t r i c i o n a l , acompetitividadedaproduçaonacionalemaioresnıveisderendadosprodutores,ousosustentaveldosrecursosnaturaiseapreservaçaoambiental.Embora,reconheça-se,osplanoscontenhamumanarrativa de boas intençoes, nao se conseguecompreenderemquemedida,operacionalmente,se pode fazer coexist ir dois modelos dedesenvolvimento agrario em confronto: oagronegocio e a competitividade (mercados) e aagriculturafamiliarcamponesa.
Iniciamosa analiseolhandoparaaNovaAliançapara a Segurança Alimentar e Nutriçao, porfornecerelementosparacompreendermoscomo,aconcepçao das outras duas polıticas nacionais,nomeadamente o PROSUL e PEDEC (ProSavana,maisconcretamente)estaoalinhadosaumavisaosobre o desenvolvimento pensada numaperspectivaocidental(exemplooG7).
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A Nova Aliança Para a Segurança Alimentar e Nutrição
Contexto e actores
AcriaçaodaNovaAliançaparaaSegurança
Alimentar e Nutriçao inscreve-se num
contexto de rotura da visao tradicional
sobreodesenvolvimento.Comefeito, ate aqui, o
desenvolvimento derivava principalmente da
responsabilidadeedosorçamentosdosEstadose
dasorganizaçoessem�ins lucrativos,enquantoo
investimentoprivadosemantinharelativamentea
margem.Entretanto,comasubidadospreçosdos
produtosalimentaresem2007e2008quegerou
vagasdefomeemvariospaıseseacriseeconomica
quegrassadesde2008equetemporconsequencia
a reduçao dos orçamentos consagrados ao
desenvolvimento,osectorprivadopassouasurgir
comosoluçaoaparente/milagrosapararesponder
a s n e c e s s i d ad e s d e � i n a n c i amen to d o
desenvolvimento.
Na Cimeira do G8 em L'Aquila, em 2009, osgovernosdosEstadospresentescomprometeram-se a «tomar, com a maxima urgencia, medidasabrangentes para criar condiçoes de segurançaalimentar sustentavel, a nıvel mundial ». Nestaocasiao, adotou-se a Iniciativa deL'Aquila para a
Fiche d'information : Action du G8 dans les domaines de la sécuritéalimentaire et de la nutritionDr. Jacky Ganry, 2009, La déclaration de L'Aquila ...
segurança alimentar, onde se a�irma que «asegurança alimentar, a nutriçao e a agriculturasustentavel devem permanecer questoesprioritariasnaagendapolıticaeseralvodeumaabordagemtransversaleparticipativa,queenvolvatodos os atores interessados, a escala global,regional e nacional ». Apesar disso, em 2012,apenasmetadedos22milmilhoesdedolaresqueos Estados se comprometeram a mobilizar foirealmentecanalizadaparaesse�im,oquelevaosEstados-membrosdoG8reunidosemCampDavidafazerumapeloo�icialaosectorprivado,lançandoa Nova Aliança para a Segurança Alimentar eNutriçaoemA� frica (NOVAALIANÇA).
Dessemodo,muitoemboraacimeiradeL'Aquilatenhaimplicadoo�icialmenteosectorprivadonodesenvolvimento, a Nova Aliança lançada naCimeiradeCampDavidmarca o inıcio o�icial dainstitucionalizaçao da parceria publico-privada(PPP) no sector agrıcola de que se torna umve rd a d e i r o c o c r i a d o r d e p o l ı t i c a s d edesenvolvimentonospaısesdoSul.Desdelogo,asPPP s a o cons ideradas uma fe r ramentaindispensavel para o desenvolvimento. Os�inanciamentos privados que proporcionapermitem concretizar, consolidar e manter osesforçosconsentidosegarantematransformaçaoea manutençao das economias centradas naagricultura.
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Como intuitodedesenvolver aNovaAliança, os
membros do G8 colaboram em parceria com a
Uniao Africana (UA), a Nova Parceria para o
DesenvolvimentodaA� frica(NEPAD)eoPrograma
DetalhadoparaoDesenvolvimentodaAgricultura
Africana (PDDAA) que permitem enquadrar as
medidaslevadasacabonoambitodaNovaAliança.
UmoutroparceiroprivilegiadodaNovaAliançaea
«GrowAfrica»,umaplataformafundadapelaUA,a
NEPAD e o Forum Economico Mundial, com o
objetivodepromover o investimentoprivadona
agriculturaafricana.
ANovaAliançae,portanto,umaparceriatripartida
entreospaısesdoG8(atualmente,G7,umavezque
a Russia ja nao faz parte), os governos e as
instituiçoes publicas dos dez paıses-parceiros
africanos e o sector privado representado pelas
227 empresaslocaisemultinacionais,sendoas
principais,emtermodeinvestimento,aSyngentae
a Yara International.No anoda sua criaçao, seis
paısesaderiramaNovaAliança:oBurkinaFaso,a
CostadoMar�im,aEtiopia,oGana,Moçambiqueea
Tanzania; em 2013, juntaram-se o Benim, o
Malawi,aNigeriaeoSenegal.
Mas também a Coca-Cola Company, a Bayer CropScience, a Okomu Oil Palm Company Plc, a Millstones FZE, a Maslaha Seeds Limited, a Westfalia Limited, a Techno Brain Ltd., Lda, a Portucel Moçambique, a Nova Terra AG, a Lusosem, a IKURU, a Frango King, a Global Shea Alliance, a Seed Co, entre outras.African Development Bank, African Union Commission, Alliance for a Green Revolution in Africa (AGRA), Association for Strengthening Agricultural Research in Eastern and Central Africa (ASARECA), Centre for Coordination of Agricultural Research and Development for Southern Africa (CCARDESA), West and Central African Council for Agricultural Research and Development (CORAF/WECARD), CGIAR, Common Market for Eastern and Southern Africa (COMESA), Forum for Agricultural Research in Africa, Global Open Data for Agriculture and Nutrition, HarvestPlus, International Fund for Agricultural Development, International Food Policy Research Institute, International Labour Organization, Scaling Up Nutrition Movement, Semento Seed Consulting, University of California, Davis, World Bank Group
Para alem destes tres tipos principais de atores
sobreosquais assenta aNovaAliança, umcerto
numerodeorganizaçoesinternacionais,institutos
d e i n v e s t i g a ç a o e o r g a n i z a ç o e s n a o
governamenta i s t ambem par t i c ipam na
implementaçaodosprogramasdaNovaAliança.A
cada paıs-membro africano, associa-se um paıs-
parceiromembrodoG8oudaUniaoEuropeia,para
co laborar na c r iaç ao de es t ra t e g ias de
desenvolvimento,nomeadamente,nosquadrosde
cooperaçao.
Por �im, a Nova Aliança procura envolver a
participaçaodasociedadecivildasorganizaçoesde
camponeses locais e nacionais, em particular, as
organizaçoes de pequenos camponeses. Apesar
d e s t a a p a r e n t e b o a - v o n t a d e , e c omo
constataremos mais adiante, a inclusao das
organizaçoesdecamponesesedasociedadecivil
permanece muito marginal, manipuladora e
instrumental,factoqueADECRU,sociedadecivile
certas instituiçoes internacionais criticam
fortemente.
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Objetivos da Nova Aliança e políticas
implementadas para os alcançar?
AnovaAliançaparaaSegurançaAlimentare
Nutriçao foi criada supostamente com o
objetivo de eliminar a fome e reduzir a
pobreza no continente africano. Tal como ela
propriade�ine,oseuobjetivoe«ajudar50milhoes
deafricanosasairdapobreza,ate2022»e isso,
explorando «o potencial dos investimentos
privadosparafavorecerarealizaçaodosobjetivos
dedesenvolvimento».
Teoricamente, entre os seus objectivos, a Nova
Aliançavisadesenvolvere�inanciarprojetosque
respeitemoambienteeasociedade.Dessemodo,
os programas implementados no quadro dessa
cooperaçaodevemcoadunar-secomasDirectrizes
Voluntariasparaumagovernaçaoresponsaveldos
regimesfundiariosaplicaveisasterras,aspescase
as �lorestas, no contexto da segurança alimentar
nacional e os Princıpios para um investimento
responsavel na agricultura e nos sistemas
alimentares, dois documentos elaborados pela
OrganizaçaodasNaçoesUnidasparaAgriculturae
A l imentaç ao (FAO) , para enquadrar os
investimentosnosectoragrıcola,nomeadamente,
no que diz respeito a terra, uma vez que a
usurpaçao de terras e um tema recorrente em
Relatório de etapa 2013-2014 da Nova AliançaIdem
A� frica. Nao obstante, mesmo que se recomende
conformidadecomestesdocumentos,averdadee
quenenhumadasrecomendaçoesimplicasançoes
deincumprimento.
A Nova Aliança tambem insiste no facto de os
investimentosnao favoreceremsoasempresase
grandesexploraçoesagrıcolas,mas,pelocontrario,
os pequenos camponeses, ajudando-os a aceder
aosmercadosnacionaiseinternacionaiseasairda
pobreza.Damesmaforma,refere-seanecessidade
dedarespecialatençaoasmulheresnosprojectos,
nosentidodeasencorajaraparticiparativamente
nosprogramas.
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Princípios orientadores da Nova Aliança
nova Aliança assenta sobre quatro
Aprincıpios orientadores integrados nos
quadros de cooperaçao, os quais devem
ser subscritos pelos diferentes actores. Para
começar, e como ja vimos, um dos princıpios
fundamentais e apoiar as prioridades africanas,
nomeadamente inscrevendo os projetos nos
quadros dos objetivos do PDDAA, mas tambem
permitirquesejamospropriospaısesafricanosa
de�inirassuasestrategias,a�imdeconcretizaros
seusobjectivos,faceaNovaAliança.Poroutrolado,
aAliançaprocura instaurarumdialogo inclusivo
entreasdiferentespartesenvolvidas,encorajando-
asaodialogo.Paraassegurara transparencia,os
compromissossaopublicadosetornadospublicos
no ambitoda cooperaçao, tal comoos relatorios
das etapas realizadas anualmente pela Nova
Aliança.
Oprincıpiodaresponsabilidade egarantidopela
publicaçaodedocumentospublicosquepermitem
comparar o s compromis sos a s sumidos
previamente pelos intervenientes, os progressos
feitoseosresultadosobtidos.Por �im,ecomoja
referimos, aAliançaa�irmapretenderapoiarum
invest imento respons avel que bene� ic ie
especialmente os pequenos camponeses e as
mulheres.
Reformas das políticas nacionais
NoquadrodaAliança,ospaıses-membros
tambemaceitarammodi�icarmaisde200
polıticas relativas a agricultura e a
segurança alimentar, respeitando sempre o seu
Planodeinvestimentonacionalparaaagriculturae
asegurançaalimentar.Essasmudançaspodemser
agrupadasemsetecategoriasprincipais.
Numa primeira fase, trata-se de criar um
ambiente favorável às empresas,comcondiçoes
quepromovamoinvestimento.Nessesentido,os
paısesafricanos criarampolıticasque favorecem
essesinvestimentos,nomeadamente,promovendo
o desenvo lv imento das in f raes t ru turas
(rodoviarias, portuarias, ferroviarias, etc.) e o
acesso ao �inanciamento, ambos considerados
indispensaveisparaodesenvolvimentodosector
agrıcola.Damesmaforma,0�izeram-sereformas
�iscais para reduzir os impostos sobre os
investimentoseatraircapitais.
Paraalemdissocriaram-seoumodi�icaram-seas
polıticas relativas aos direitos fundiarios e aos
recursos. O esclarecimento e a consolidaçao do
acesso da agricultura aos recursos produtivos
necessarios, como a terra e a agua, visa nao so
proteger as comunidades locais, mas tambem
favorecerosinvestimentos,comleisqueprotegem
asempresas,emcasodedesacordo.
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Semprecomoobjetivodefavoreceroinvestimento
nosectoragrıcola,aNovaAliançaexigequeosseus
paıses-membros modi�iquem as suas polıticas
relativamente aos insumos, permitindo a
modernizaçao da agricultura e o aumento dos
rendimentos. Do mesmo modo, as leis devem
regularaproduçao,autilizaçaoeadistribuiçaodas
sementescerti�icadas,bemcomodosadubos,dos
insumosquımicosedasferramentasagrıcolaspara
estimular o desenvolvimento da agricultura
intensiva de exportação.
Para combater os problemas de subnutriçao
presentes em varios paıses africanos, devem ser
igualmente criadas polıticas para melhorar as
condiçoes nutricionais e a vitaminaçao das
populaçoes,sobretudo,asmaisvulneraveis.
Asinstituiçoesnacionaisquepartilhamdavisaodo
desenvolvimento do sector agrıcola e do
investimento comaNovaAliançaeosgovernos-
membros devem ser fortalecidas e apoiadas por
polıticas adequadas, por forma a promover as
estrategiasgovernamentaisjuntodaspopulaçoes
implicadas.
Entreasmodi�icaçoesimpostaspelaNovaAliança,
contam-se tambem polıticas que permitam uma
melhoriadagestaodosriscoseofortalecimentoda
r e s i l i e n c i a d a s c om u n i d a d e s l o c a i s ,
nomeadamente,daspopulaçoesmaisvulneraveis.
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Por �im, e necessario implementar polıticas que
favoreçamocomercioeomercado.Trata-senaoso
de suprimir os potenciais obstaculos �iscais,
normativos e administrativos passıveis de
dissuadir o investimento, mais tambem de
desenvolver infraestruturas adaptadas ao
desenvolvimentodeumaagriculturaintensiva.
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Análise política das consequências da Nova Aliança sobre o campesinato
africano e o ambiente
SabendojaocontextoemqueaNovaAliança
paraaSegurançaAlimentareaNutricional
ganhou vida, quais sao os seus atores, os
seusobjetivoseprincıpios,passamosaprocurar
entender se esta cooperaçao de PPP podera
efetivamenteresponderaoseuobjetivoprincipal:
eliminarafomeereduzirapobrezanaA� frica.
Desde o seu lançamento, em 2012, que a Nova
Aliança e alvo de crıticas contınuas da parte da
sociedadeciviledediferentesorganizaçoes,mais
de uma centena das quais exigiu aos paıses-
membros africanos que se retirassem da Nova
Aliança, em 2015. Um grande numero de
publicaçoesdeorganizaçoesda sociedade civil e
camponesas,bemcomodiferentesrelatoriospara
o P a r l am e n t o E u r o p e u e s t u d a r am o s
compromissos e resultados daNovaAliança, e e
nalguns desses documentos que basearemos a
nossa analise. Uma vez que as analises das
diferentes organizaçoes da sociedade civil
concordamemtodosospontoscomaanalisedos
relatoriosparaoParlamentoEuropeu,tambemnos
basearemos aqui principalmente nas crıticas e
recomendaçoesdestesultimos.
Umadasmaiorescrıticas feitasnessesrelatoriosdasorganizaçoesdasociedadeciviledosrelatoriospara o Parlamento Europeu e a fa l ta departicipaçaodasociedadecivilatodososnıveisdacooperaçao.Comefeito, apesardea inclusao serumdosprincıpiosorientadoresdaAliança,tantoasorganizaçoes da sociedade civil como asassociaçoesdeprodutores,demulheres,etc.foramconsultadasdeformairregulareinadequada,naotendo, por isso, podidoparticipar realmentenosdiferentesencontrosedebates.Asociedadecivilfoiconvidadaaparticiparnalgunseventos,masnuncaemdebates—soemreunioes informativasparalhesdarconhecimentodasdecisoesjadebatidasetomadas. Como ja constatamos, os pequenos produtores e as mulheres,quesegundoaNovaAliança deveriam ser os primeiros bene�iciariosdos programas daAliança, veem-se excluıdos dacooperaçao.Seelesnemsequerforamconvidadosa participar na elaboraçao dos quadros decooperaçao nacionais nem nos acordos-quadrocom as empresas, di�icilmente se pode imaginarque os seus direi tos e interesses se jamrepresentados e respeitados. Todosos relatoriosestudados apelam, pois, a integraçao dasorganizaçoesdasociedadecivil,emparticular,dasorganizaçoes dos pequenos camponeses e dasmulheres.Poroutrolado,insistemnaimportanciadatransparencia,nomeadamente,noqueconcerneascartasde intençoesaqueopublicoaindanaotemacesso.
Relatório da Oxfam 2013, Contributions de la SociétéCivile pour le rapport d'Initiative de la Commission Développement, mars 2016 ; Rapport de la Commission du développement pour le Parlementeuropéen du 3 mai 2016 ; Rapport de Avis de la commission de l'agriculture et du développement Ruralà l'intention de la commission du développement du18 mars 2016
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Um dos desa�ios da Nova Aliança para o
desenvolvimento da agricultura africana e a sua
modernizaçao que impoe aos governos a
necessidadedeinstaurarleisqueregulamentemos
insumos (pesticidas, sementes, etc.). Para alem
disso, segundo o Relatorio da Comissao do
desenvolvimentoparaoParlamentoEuropeu, «a
NovaAliançavisareproduziremA� fricaomodelo
darevoluçaoverdeimplementadonaA� sianosanos
60e70,fundadonamonocultura,amecanizaçao,a
biotecnologia,adependenciadosinsumos,longas
cadeiasdedistribuiçaoeaproduçaodeculturasde
exportaçao.».
Ora,hojeemdia,jaseconhecemasconsequenciassocioambientais desastrosas da revoluçao verde:envenenamento dos camponeses pelos insumosquımicos, dependencia face as multinacionaissementeiras e agroquımicas que gera sobre-endividamento, poluiçao dos lençois freaticos edos rios, erosao dos solos, etc. Em acrescimo,segundo Olivier de Schutter, antigo Relatorespecial das Naçoes Unidas para o direito aalimentaçao,«90%dosmeiosdesubsistenciadosagricultores africanos repousam sobre o seudireito de produzir, trocar e vender as suassementes». Impor-lhes a utilizaçao de sementescerti�icadasequivale,pois,afaze-losdependerdasmultinacionais sementeiras e, portanto, aenfraquece-los.Apardoproprioperigoque issorepresenta,aproibiçaodassementescamponesasimplicatambemaperdadaspraticasculturais,dossaberes ancestrais e de um patrimonio genetico
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extremamente diversi�icado e adaptado por
geraçoes de camponeses. E� , entao, um risco
socioculturalnaosoparaoscamponesesafricanos,
mas tambem para a diversidade das sementes,
vitaisparaaadaptaçaoasmudançasclimaticase
para a soberania alimentar das populaçoesmais
vulneraveis. Do mesmo modo, os pesticidas, os
herbicidas e outros insumos quımicos nao so
obrigamos agricultores adependerda industria
agroquımica, como tambem geram graves
consequencias sobre a saude dos camponeses,
especialmente,dosmaispobres, semmeiospara
investir em equipamentos de proteçao que
minoremosefeitosnocivosdessesprodutossobre
a saude. Acresce que esses insumos quımicos
tambem sao particularmente nefastos para o
ambiente,nomeadamente,osoloeaagua.Aagua
poluıdadeixadeserpotavel,porserperigosapara
asaude,eossolosempobrecem,deixandodeser
ferteisetornandooscamponesesadependermais
nosinsumos.Noqueserefereassementes,porsua
vez, o relator do Relatorio da Comissao do
DesenvolvimentoparaoParlamentoEuropeuinsta
os�inanciadoresa«apoiarossistemasdesementes
c ampone s a s , q u e g a ran t em uma c e r t a
independencia em relaçao ao sector sementeiro
comercialeque,graçasasuavariedadegenetica,
saomais adaptadas as condiçoes agroecologicas
locais».
AadesaoaNovaAliançaimplicaqueosgovernos
regulemoacessoaterra.Emtodoocaso,existem
diversos tipos de regimes fundiarios que nao
relevam automaticamente dos tıtulos fundiarios,
como acontece na maioria dos paıses africanos,
nomeadamente nas comunidades rurais e
camponesas, onde a gestao das terras tende a
dependerdodireitoconsuetudinariooucomunal.
Assim, em Moçambique, o direito fundiario e
regido DUATpela Lei de Terra que consagra o
(DireitodoUsoeAproveitamentodaTerra),oque
signi�icaqueumapessoaviva,queutilizeaterraha
mais de dez anos, e efetivamente reconhecida
comoasuaproprietaria.
Ainstauraçaodeumdireitofundiarioregidopor
tıtulosfundiariosprovoca,porconseguinte,graves
problemasaspessoasquenaopossuamumtıtulo
de propriedade o�icial e facilita a usurpaçao de
terraspelosinvestidores.Dessemodo,trata-sede
umapolıticafortementecriticadapelosdiferentes
re l a t o r i o s , po r p o r em r i s co i n umeras
comunidades camponeses e, sobretudo, as
mulheres,queseveemdespojadasdassuasterras
e dos seus meios de produçao. O relator do
RelatoriodaComissaododesenvolvimentoparao
Parlamento Europeu insiste, portanto, na
importanciaderespeitarosdireitostradicionaise,
nessesentido,deaplicarasdiretivasvoluntariasde
2012, para uma governança responsavel dos
regimesfundiariosaplicaveisasterras,aspescase
as�lorestas.Talcomojaevocamos,umavezqueas
mulheresassumemumpapelmuitoimportantena
a g r i c u l t u r a d e s s e s p a ı s e s em v i a s d e
desenvolv imento e s ao part icu larmente
vulneraveis, a Nova Aliança deveria dar especial
atençao a sua integraçao nos programas. Apesar
disso,orelatoriodeetapadaNovaAliança, indica
que, apesar de representarem 50% da mao-de-
obra das pequenas exploraçoes subsaarianas, as
mulheresperfazemapenas21%daspessoasque
participam na implementaçao dos projetos da
Aliança.DeacordocomorelatoriodaComissaodo
desenvolvimentoparaoParlamentoEuropeu,essa
situaçaosoagravaamarginalizaçaodasmulheres.
E� , portanto, com o objetivo de reduzir essa
discriminaçaoqueessemesmorelatoriosublinhaa
importanciadefavoreceroacessodasmulheresa
terraeaomicrocredito,bemcomoasuaintegraçao
na concepçao e implementaçao das polıticas de
investigaçao e desenvolvimento no domınio
agrıcola.
ANovaAliançaque,aoenunciarosseusobjetivose
pr inc ı p ios , a � i rma querer pr ior izar um
desenvolvimento agrıcola de pequena escala
sustentavel que permita erradicar a pobreza,
parece, pelo contrario, querer promover uma
agriculturaintensivadeexportaçaoquebene�icie
12
ameaçadospelas leis impostasporessaPPP,que
favorecem imensamente as grandes exploraçoes
dealtorendimento,emdetrimentodaagricultura
de subsistenciae,por conseguinte,da segurança
alimentar.Paraevitaressaameaçasocioambiental,
osdiferentesrelatoriosinstamtod asempresaseas
os investidores tanto a apostarem em praticas
agrıcolasmaisadaptadasaocontexto localeque
respeitem o ambiente como «a investirem na
agricultura familiar e agroecologica», tal como
recomendamorelatoriodeOlivierdeSchutterea
Avaliaçao Internacional do conhecimento, das
ciencias e das tecnologias agrıcolas para o
desenvolvimento,publicadaem2009.
Paradarumaideiadaamplitudedacrıticaquea
ComissaododesenvolvimentoparaoParlamento
EuropeufezrelativamenteaNovaAliançadeque
faz parte a Uniao Europeia, citamos aqui a sua
conclusao: «O relator nao esta plenamente
convencido da capacidade da […] NASAN para
contribuir para a reduçao da pobreza e para a
segurançaalimentar,porqueomaisprovaveleque
as comunidadesmais pobres venhama carregar
todoopesodosriscossocioambientaiseaferentes.
Tendoemcontaessesproblemas,orelatorestima
queaUniaoeosseusEstados-membrosdeveriam
retiraroseuapoioaNASAN.
Os �inanciadores e os governos nacionais
deveriam, antes, investir num modelo de
agricultura sustentavel, favoravel as pequenas
exploraçoes e as mulheres e nao so capaz de
realizar o potencial dos mercados nacionais e
regionais, em prol das exploraçoes familiares,
como tambem de fornecer aos consumidores
produtosdequalidadeapreçosacessıveis.»
Em Abril de 2013, a Acçao Academica para o
Desenvolvimento das Comunidades Rurais
(ADECRU)publicouumcomunicadoaquandodo
lançamento da Nova Aliança para a Segurança
Alimentar e Nutriçao em Moçambique. O
comunicado,quepodeserlidonaıntegranolink
desta nota do rodape, a�irma, dentre outros
pontos,que:
https://adecru.wordpress.com/2013/04/08/posicao-da-adecru-sobre-a-nova-alianca-para-a-seguranca-alimentar-e-nutricional-em-mocambique-2/
13
16
(1)Apolıticatraçadapara“salvar”A� fricarepresentaumaimposiçaoimperialista,elaboradanosgrandescentrosealiançasdecisoriasneoliberaiseneocolonialistas;(2)Asbases,osfundamentoseasestrategiasdaNovaAliançanosremetem ao passado colonial esclavagista no qualMoçambiqueeA� fricapermaneceramdurantemaisde500anosdedominaçaoeopressao,constituindo,porissoumgrande entrave para a realizaçao de direitos humanos,justiçasocialeambiental;(3)ANovaAliançaeumadasformas mais abusivas e agressivas de exploraçao e doretornoemMoçambiquedascompanhiasmercantilistas,camu�ladas em pressupostos �ilantropicos de libertar aA� frica da fome e damiseria, ignorando os fracassos dediversasincitativasdogeneroimplementadasnopassadopelas mesmas agencias multilaterais e potenciasimperialistas; (4) Fomenta e �lexibiliza a reforma do
16
14
E conclui que a Nova Aliança ira contribuir
fatalmente para um maior empobrecimento da
populaçaoedascomunidadesrurais,porexigira
utilizaçao extensiva e intensiva de terra, agua,
energiaemecanizaçaoalienada.
Num outro artigo da autoria da ADECRU,
denunciam-se as acçoes de empresas ligadas a
NovaAliança, afectando cercade10mil famılias
camponesasvitimasdeusurpaçaodeterras.
A ADECRU manifestou-se sempre contra esta
iniciativa acusando-a de representar a ultima e
violentafasedeajustamentoestruturaldoseculo
http://www.farmlandgrab.org/post/view/24602
XXI. No artigo que referimos, aponta-se que “a
estrategia de entradadaNovaAliança emA� frica
a s sen ta - se na cap tura do Programa de
Desenvolvimento Abrangente da Agricultura de
A� frica (CAADP), com o objectivo de dar alguma
legitimidadeaacçaodoG8.EmMoçambique,essa
intervençao e sustentada pelo argumento de
alinhar o apoio �inanceiro e tecnico agrıcola dos
paısesmembrosdoG8comasprioridadesdoPlano
deInvestimentodoCAADPdoPaıs,mascaradoem
PlanoNacionaldeInvestimentodoSectorAgrario
(PNISA), para atender as demandas dos paıses
supracitados e respectivas corporaçoes e nao as
soberanasprioridadesdoPais.
No seu posicionamento, ADECRU sugere que a
“NovaAliança”aoconverter-seemPlanoNacional
deInvestimentodoSectorAgrario(PNISA)captura
e integra-se automaticamente em todaspolıticas
do sector agrario tornando-se num documento
central e operacionalizador da polıtica agraria,
tendoforçadoogovernomoçambicanoaassumir
15grandescompromissosdereformasdosector
agrario extremamente perigosos para os
camponeses, que tem conduzido a tres grandes
transformaçoes favoraveis as corporaçoes
mu l t inac iona i s : ( i ) Trans formaç ao dos
mecanismos legais de aquisiçao da terra,
traduzidos na �lexibilizaçao da atribuiçao do17
quadrolegalsobreaterra,introduzindooarrendamentodaterraeposteriormenteasuaprivatizaçaosobopretextodemelhoraratransparenciaee�iciencianaadministraçaoepolıticadeterras,legitimandodestemodoausurpaçaodeterras,patrimoniossecularesemeiosdevivenciasdascomunidades e dos povos; (5) Acelera a emissao deDireitos de Uso e Aproveitamento de Terras (DUATs)atraves da eliminaçao das consultas comunitarias parapromovero investimentode agronegocios; (6)Força aalteraçaodepolıticasnacionaisdefertilizantesesementesparapossibilitaraentradadeOrganismosGeneticamenteModi�icados (OGMs) e certi�icaçao das mesmas pelasmultinacionaiscomoaMonsato;(7)OG8atravesdassuascorporaçoespretendeassegurarocontrolodasprincipaisregioesgeoestrategicaseagroecologicasdeMoçambique,detentoras de mais de 70% das potencialidades dasriquezas naturais e do subsolo do paıs, situadas nosCorredoresdeDesenvolvimentodaBeira,NacalaeValedoZambeze;
17
DireitodeUsoeAproveitamentodeTerra(DUAT),
incluindoarevisaodaLeideTerra;(ii)Reformada
legislaçao nacional de sementes e fertilizantes,
conhecida como harmonizaçao das leis de
sementes e fertilizantes da SADC, conferindo
direitos exclusivos as multinacionais; e (iii) O
avanço do agronegocio (empresas nacionais e
e s t range i ra s ) s obre o s t e r r i t o r i o s da s
comunidades com todas as consequencias
conhecidas.
A ADECRU esta na posse de informaçoes e
evidencias que indicam que a USAID e o Banco
Mundial pressionaram e tentaram forçar o
GovernodeMoçambiqueeoextintoMinisterioda
Agricultura (MINAG) a �lexibilizar a reforma do
quadrolegalsobreaterravigentenopaısparaque
se introduzisse o arrendamento de terra e
posteriormenteasuaprivatizaçaosobrepretexto
de melhorar a transparencia e e�iciencia na
administraçaoegestaodepolıticasagrariasede
terras. Na sequencia desta pressao e temendo
eventuais con�litos e convulsoes sociais com
consequencias polıticas que pudesse resultar de
possıveis tentativas de alteraçao da lei da terra
dada a sensibilidade da questao fundiaria, os
dirigentes do entao MINAG viram-se obrigados
encontrarummeio-termo.
15
No ambito da reforma da legislaçao nacional de
sementes sabe-se que o Governo moçambicano
comprometeu-seareestruturaroseusistemade
sementesparapermitiraproduçaoedistribuiçao
desementesmelhoradas,comparticularenfaseem
sementes hıbridas, altamente dependentes de
irrigaçaoemgrandeescalaedousodefertilizantes
sinteticos e pesticidas. Isso levou a revisao da
legislaçao de sementes atraves da revogaçao do
Decreton°41/94,de20deSetembro,osDiplomas
Ministeriaisn°s95/91de7deAgosto,6/98,de11
deFevereiro,67/2001,de2deMaio,171/2001de
28deNovembroe184/2001de19deDezembro
que e o Regulamento de Produçao, Comercio,
ControlodeQualidadeeCerti�icaçaodeSementes,
cujoprocessofoiconduzidodeformarestritaesem
ampliar consultas as organizaçoes da sociedade
civiledosproprioscamponeses.
Este foi dirigido unicamente pelo Governo de
MoçambiqueepelaUSAID,ignorandoossistemas
de produçao de sementes de camponeses que
servemmaisde90%dosprodutores,responsaveis
pelaproduçaodemais90%dealimentos,comum
contributodecercade25%doProduto Interno
Bruto (PIB) e emprega 81% da populaçao
economicamente activa, sendo 60% mulheres.
Outrossim,oDecreton.º12/2013,de10deAbril
(Regulamento de Sementes) corporiza a
introduçaodemudançassubstanciaisafavordas
empresas nos mecanismos de produçao ,
comercializaçao e utilizaçao de sementes pelo
sector comercial e pela agricultura camponesa.
Esta revisao da legislaçao de semente foi
acompanhada pela adopçao pelo Conselho de
MinistrosdeMoçambiquedoRegulamentosobre
GestaodeFertilizantes,Decreton°11/2013de10
deAbril.
Informaçoes colhidas por pesquisadores da
ADECRUrevelamqueateJaneirode2015,cercade
21 empresas integram a Nova Aliança em
Moçambique, das quais 6 nacionais e 15
estrangeiras.Comoformadefacilitaraaquisiçao
deterrasporestasempresasfoiinstituıdoaonıvel
doCentrodePromoçaodaAgricultura(CEPAGRI)
uma unidade de assistencia as empresas
integrantes da Nova Aliança, cujos consultores
foramcontratadosepagospelaUSAID.Associadoa
esta unidade, um conjunto de empresas e
organizaçoes internacionais promotoras de
serviços de assistencias as empresas foram
concedidas�inanciamentospelaUSAID,sendoum
dos maiores expoentes a TechnoServe cujo
mandatoedeencorajaroscamponesesamudarem
suaspraticas agrıcolas, fomentandoa culturade
s o j a a o l ongo do Co r redo r d e Na c a l a ,
estabelecendo“business linkages”entreesteseas
16
empresas. Paralelamente a este processo, foram
adoptados tresprogramasdeavançopelaUSAID
p a r a c o op t a r o s c ampon e s e s e impo r
transformaçoesbrutais,integrandosupostamente
osmais “competentes”nacadeiadoagronegocio
atraves de tres sob programas nomeadamente:
AgriFUTURO,SpeedprogrameFinAgro,sendoeste
ultimo muito contestado publicamente por
camponesesdoCorredordeNacala,incluindopela
DirecçaoprovincialdaAgriculturadeNampula.
FoidentrodesteesquemaqueaMozacoobteveum
DUATde2.389hectaresdeterranaComunidadede
Natuto de Natuto, Aldeia de Rucha, Posto
AdministrativodeCanhunha,DistritodeMalema.
Em Outubro de 2012 cerca de 1500 famílias que
tinham machambas na área da antiga machamba
estatal foram retiradas pela Mozaco, incluindo 10
famílias que tinham suas residências na área, tendo
estas recebido uma indemnização entre 3.000 Mt
(US$100) a 9.000 Mt (US$ 200) cada. Eu “produzia
na minha machamba desde 1991” até altura em
que“técnicos dos Serviços Distritais de Actividades
Económicas de Malema (SDAE) disseram-nos que
devíamos sair da terra do estado. E porque não
tínhamos casa nesta zona também disseram-nos que
não tínhamos direito a nada e consequentemente
devíamos procurar machamba noutro lado”, relatou à
ADECRU uma das camponesas vítimas da Mozaco,
mãe de 6 filhos.
Projecto das Estratégias de Desenvolvimento Económico do Corredor de Nacala
p r o j e c t o d a s E s t r a t e g i a s d e
ODesenvo lv imen to Econ omi co do
CorredordeNacala (PEDEC) e resultado
de um estudo que se iniciou em 2012, de
formulaç ao de es trat eg ias para gu iar o
desenvolvimentoeoinvestimentonoCorredorde
Nacala,NortedoPaıs, regiaoondeseencontram
imensos recursos naturais, terras altamente
araveis,cursosdeagua,incluindojazidasdecarvao
edepositosgasnatural.OPEDECvisa,portanto,o
desenvolvimento integrado, estimulando o
investimento em diferentes areas no Corredor,
focando na recuperaç ao e ampl iaç ao da
infraestrutura de transporte, considerada ainda
precarianestaregiao.
Em 2014 o governo deMoçambique divulgou o
Relatorio Final PEDEC-Nacala, elaborado com o
apoiotecnicodaAgenciaJaponesadeCooperaçao
Internacional(JICA)–queetambemo�inanciador
principal do projecto – e teve como orgao
implementador o Ministerio de Plani�icaçao e
Desenvolvimento de Moçambique (MPD). O
Projectofoiaprovadoem2016.
O Corredor de Nacala
17
Para se compreender a necessidade
defendidaparaa formulaçaodoPEDEC e
crucialoconhecimentodascaracterısticas
doCorredordeNacala.O Corredor abarca cinco
provıncias do centro e norte de Moçambique,
nomeadamente, Nampula, CaboDelgado, Niassa,
TeteeZambezia.Abrangeumaenorme areaque
ocupa 440 mil km². Segundo o Censo Geral da
PopulaçaoeHabitaçaoapopulaçaonaregiaodo
Corredor de Nacala em 2007 foi de 10.548.000
habitanteseespera-sequeate2025apopulaçao
cresça para 17.707.000, com uma taxa de
crescimentode2,5%(Censo,2007).
O PEDEC destaca que essa regiao e pouco
desenvolvida em diversas areas como as
infraestruturas e que essa condiçao tem
contribuıdo para a actual situaçao daquele
te r r i t o r i o onde , apesar de seu P IB te r
supostamente crescido, apobreza e aindamaior
queamedianacional.
Osectorextractivoeoquemaiscontribuiparao
crescimentonaregiao.OcorredordeNacalaeuma
18
regiaopredominantementerural,ea economia na
região é mais dependente da agricultura em
comparação a outras provinciais. Nas cinco
províncias, 85,2% (em 2007) da população
economicamente activa e 40,8% (em 2010) do PIB
Regional pertencem ao sector de agricultura.
Ainda segundo o PEDEC, apesar da regiao do
Corredor de Nacala possuir varios recursos
naturais e grande potencial para se desenvolver,
devidoaprecarizaçaodasestradasedasferrovias,
essepotencialesubaproveitado.Dessamaneira,as
provıncias supracitadas sao consideradas como
potenciais receptoras de impactos substanciais das
melhorias na função e na capacidade de transporte e
que assim, estas áreas possam tirar proveito das
oportunidades e potenciais de desenvolvimento a
surgirem graças à melhoria do Corredor de Nacala.
AatençaodadaaoCorredordeNacala iniciou-se
nos anos 2000 obtendo investimento para
melhorias nas estradas, a�irmando-se como um
importante corredor internacionalde transporte
compostopeloPortodeNacala,pelosCaminhos-
de-ferro do Norte e pelo Sistema Ferroviario
Malawiano. As provıncias de Nampula, Niassa e
Zambez ia vem recebendo um crescente
investimento nos sectores agrıcolas e �lorestais
atravesdeempresascomoaAgromoz,Hoyo-Hoyo,
Rei do Agro, Portucel, etc. Ha tambem varios
projetosdeexploraçaodocarvaoemgrandeescala
naProvınciadeTeteporempresascomoaVale,Rio
T into , J inda l , os qua is acred i ta -se vem
contribuindo para o desenvolvimento deste
Corredor.
As iniciativas do sector privado sao sentidas
sobretudoentreasdecadasde1990e2000porem
o investimento privado não tem sido capaz de
garantir fundos su�icientes para reabilitar as
instalações ferroviárias e o material circulante
devido à baixa demanda de transporte de carga na
região do norte. Assimo desenvolvimento do sector
privado não obteve impulso su�iciente para se
tornar capaz de dirigir o desenvolvimento regional
da região.Todavia,essasituaçaocomeçaamudar,
principalmente nos �inais da decada de 2000
quandooCorredordeNacalacomeçouachamara
atençao de grandes negocios e dessa forma
percebeu-seanecessidadedeumaorganizaçaodo
terri t or io de modo a acomodar grandes
investimentoseaproveitarosseusrecursos.
Visão, principais objetivos e metas do
PEDEC
Avisao/lema do PEDEC e Uma região
pací�ica, próspera, igualitária e sustentável
livre da pobreza e em harmonia com o meio
ambiente.Aestavisao,juntam-seospropositosde:
(1)Melhoraracapacidadesocialeocrescimento
economiconaRegiaodoCorredordeNacala;(2)
Guiar o desenvolvimento apropriado de forma
efectiva na Regiao do Corredor de Nacala; (3)
Promover o investimento privado de maneira
adequadanaRegiaodoCorredordeNacalae(4)
Administraradequadamenteosrecursosdaregiao
doCorredor.
O estudo do PEDEC de�iniu igualmente o que
chama deMetas de Desenvolvimento as quais se
mostram como sendo as direções desejáveis de
desenvolvimento de forma a buscar a Visão
e s t a b e l e c i d a p a ra a Re g i ã o . S ao e las : o
desenvolvimento de capacidades, a gestao
ambienta l , o desenvolv imento soc ia l , o
desenvolvimentoeconomicoeodesenvolvimento
espacial.
O d e s e nvo lv i m e n t o d e c a p a c i d a d e s e
considerado em tres nıveis: a capacidade
individual, que se refere ao aumento da
capacidade individual, ou seja, o aprimoramento
daspessoasatravesdaeducaçao,da inclusaono
desenvolvimentoeconomico;ofortalecimentodas
c apac idades i n s t i tuc iona i s med ian te a
consolidaçaodasorganizaçoesdeplani�icaçao,de
monitoria,deavaliaçaoanıvelnacional,provincial
e local; e a garantia do fortalecimento das
comunidades, de sua participaçao no que diz
respeito aos seus interesses em relaçao ao
territoriodiantedosinvestidores.19
Em relaçao a gestão ambiental o PEDEC preve
lidardeformaequilibradacomdiferentestiposde
problemasambientaisque,reconhece,iraosurgir
naregiaodoCorredordeNacala.Alerta,contudo,
que a curto prazo e dentro do contexto regional
ocorreraovariosimpactosambientaisocasionados
pelos projectos das infraestruturas, de expansao
das areasurbanas edos investimentosprivados.
Aqui destaca-se enquanto estrategia essencial o
FortalecimentodoSistemadeImplementaçaoeda
CapacidadeparaaGestaoAmbientaleaGestaoda
Terra.ParatalobjetivooPEDECargumentapara
lidar com os crescentes impactos ambientais e as
disputas de terra devido às crescentes atividades
econômicas e de desenvolvimento e investimentos no
decorrer do desenvolvimento regional, é essencial
que se comece com o fortalecimento do sistema de
implementação e a capacidade para a gestão
ambiental e a gestão de terras/�lorestas.
Odesenvolvimento socialvisao fortalecimento
das comunidades, sua participaçao nas questoes
que lhessaode interesse, tendocomo�inalidade
contribuircomoaumentodarendaebem-estarda
populaçao, como tambem oportunidades de
emprego,garantiadeproteçaoaosdireitosdeuso
da terra das comunidades locais e, como ja
referido, da participaçao da populaçao no
desenvolvimentolocal.
20
Odesenvolvimentoeconomicovisa apromoçao
dosinvestimentosestrangeirose internosparaa
dinamizaçao da economia, promoçao do
desenvolvimentoindustrialatravesdaexploraçao
dos recursos naturais disponıveis na regiao,
melhoriadaprodutividadeagrıcolatantoparaos
pequenosagricultoresquepraticamaagricultura
familiar como para os agricultores de escala
comercial, vitalizaçao dos sectores privados na
criaçaodacadeiadevalornosectoragrıcola,em
concordancia com as orientaçoes dos Princıpios
para o Investimento Responsavel em Sistemas
AgrıcolaseAlimentares(Princıp iosdoRAI).
Os(10)princıpiosnorteadoresdoPEDECincluem
a sus ten tab i l i dade , a d ive r s i � i c a ç a o , o
desenvolvimento inclusivo, o desenvolvimento
dinamico,aintegraçaodaperspectivadegeneroe
o desenvolvimento da mineraçao como a força
motrizinicialparaodesenvolvimentoregional.
OPEDECetidocomoumcaminhoestrategicopara
acriaçaoderelaçoesdinamicasentreossectores
economicos.Salientam-sequatroforçasmotrizes
impulsionadorasdodesenvolvimentodoCorredor
deNacala:amineraçaodocarvaoeseutransporte
paraaexportaçao;aexploraçaodogasnaturale
produçaodeGNLparaaexportaçao;oscrescentes
investimentos e desenvolvimento da Zona
Rota promissora e questões globais
Segundo o PEDEC o Corredor de Nacala e
uma das rotas mais promissoras. O
transportedocarvaopelaslinhasferreasdo
CorredordeNacalaexigeasuarequali�icaçao.
O PEDEC destacaQuestões Globais da Região do
Corredor de Nacala quedevemestar empauta e
devemserresolvidasnodecorrerdoprojecto.As
questoesglobaisenvolvemascondiçoesprecarias
dasestradasedas linhas ferreasque, segundoo
estudo, contribuıram para a estagnaçao da
economianaqueleCorredor.
Emcontrapartida,omelhoramentodasestradase
das linhas ferreas, assim como suamanutençao,
Economica Especial (ZEE) de Nacala nas
proximidadesdoPortodeNacalaqueporsuavez
sera reabilitado e melhorado; e os principais
projetos de transporte como Força Motrizes do
DesenvolvimentoRegional.
OsprojetosdeexploraçaodocarvaoemTeteforam
cruciais para o processo de desenvolvimento no
CorredordeNacala,tendoacompanhiaaustraliana
RioTintoeamultinacionalbrasileiraValedoRio
Doce grande destaque, sendo esta ultima a
principalresponsavel,deacordocomoPEDEC.
resultamemimpactossocioambientaisnegativos,
principalmente nos centros urbanos por onde
passaalinhaferreacomoacidadedeNampulaede
Cuamba, sendo extremamente necessario
implementar medidas que mitiguem esses
impactos.
Promoção do Desenvolvimento
Agrícola Sustentável
PEDEC a�irma estar preocupada com a
Oagricultura sustentavel. Uma das suas
estrategiastemavercomaPromoçaodo
DesenvolvimentoAgrıcolaSustentavelatravesda:
1) Promoçao doDesenvolvimento dos Pequenos
21
Desenvolvimento Inclusivo?
A narrativa promovida pelo estudo do PEDEC
anuncia um suposto desenvolvimento inclusivo
para apoiar o desenvolvimento dinamico, pois
considera que diante da implementaçao de
estrategias de desenvolvimento nao e sempre
possıvel lidar com a variedade de questoes que
surgem concomitantemente (sociais, ambientais,
institucional) e que por isso faz-se necessario o
Desenvolvimento Dinâmico e Inclusivoquesedeve
pautar por questoes referentes aos problemas
ambientais e sociais causados pela melhoria da
linhaferreaetodaasmudançascausadasduranteo
processo;mencionatambemaquestaodadisputa
por terras entre os investidores e os pequenos
agricultoresdiantedoaumentodosinvestimentos
baseados na terra. Destaca tambem outros
impactos que podem surgir no curso do
desenvolvimento, como resultado das primeiras
medidasequesetornaraocomunsnamedidaem
que os objectivos desse projecto prosseguem,
nomeadamente os crescentes reassentamentos
devido ao desenvolvimento de infraestruturas, a
poluiçaoambientalcausadapelodesenvolvimento
industrial e os impactos sobre os valores
tradicionais sociais e culturais causados pela
modernizaçaoeurbanizaçao.
O PEDEC reconhece que mesmo depois da
modernização dos corredores de transporte,
algumas áreas menos acessíveis poderão continuar
subdesenvolvidas. O projecto reconhece tambem
queasiniciativasdedesenvolvimentodoCorredor
poderao afectar de forma destrutiva o meio
ambiente. Coloca como um dos seus desa�ios
proporcionar apoios aos pequenos agricultores não
somente na produção, mas também na proteção dos
seus direitos à terra, e como criar uma cadeia de
valor para a agricultura nessa vasta área.Ouseja,e
exposto, de forma nıtida, que um dos principais
impactosseraa ine�icienciaemabarcar todasas
populaçoes vulneraveis nos “ganhos” do
desenvolvimento.
22
gas natural e produçao de GNL tambem para a
exportaçao.
Talcomoreconheceoproprioestudo,nas áreas de
mineração e nos seus arredores, não será tão fácil
desenvolver outros sectores económicos mesmo que
estes sectores possam aproveitar as infraestruturas
e funções urbanas disponibilizadas com vista às
atividades de mineração e seus sectores de apoio,ou
seja,as atividades de mineração com os sectores de
apoio não serão sustentáveis a um termo muito
longo.
Poroutro lado, salienta-sequea função da linha
férrea de Tete ao Porto de Nacala não será bem
desenvolvida e será mais limitada ao transporte do
carvão, uma vez que nem as cargas gerais nem os
contentores serão su�icientemente transportados,o
quelevouaconsiderarestecenariode“OpçaoZero,
ja que nao contribuira substancialmente para o
desenvolvimentonoCorredordeNacala.
No cenario B2além dos recursos minerais, serão
desenvolvidos diversi�icados setores económicos que
incluam a indústria manufatureira, o turismo, a
agricultura, a plantação �lorestal, assim como o
comércio e os serviços . Assim, pretende-se
desenvolverossectoresindustriais,oscomplexos
turısticos,eodesenvolvimento agrícola ao longo do
Agricultores; 2) Promoçao do Uso Efetivo da
Vitalidade e do Fundo do Setor Privado para a
AssistenciaaosPequenosProdutores.Paraoponto
numero1 oPEDECa�irmapretender garantiros
dire i tos dos pequenos agricultores e das
comunidades em relação à terra e aos recursos
naturais no seu uso sustentável e à prevenção de
con�litos; assim como tambem aumentar a
produção agrícola e sua diversi�icação e melhorar a
produtividade dos pequenos agricultores.
Cenários de Desenvolvimento
estudodoPEDECanalisoutres“cenarios
Odedesenvolvimento”asaber:CenarioA-
1,quefocanaForte Orientação ao Sector
de Mineração e aos Três Enclaves de Tete, Palma e
N a c a l a ; C e n a r i o B 2 , q u e s e r e f e r e a o
Desenvolvimento de Sectores Económicos
Diversi�icados com Base no Corredor Único de Tete-
N a ca l a ; e Cenar io B3 , que se centra no
Desenvolvimento de Sectores Económicos
Diversi�icados com Base numa Rede de Corredores
ao Nível Regional.
Estescenarioscolocamasuaaatençaoaossectores
relacionadoscomamineraçao,pois,comojadito,
existem no Corredor de Nacala dois sectores de
mineraçaodominantes:aexploraçaodocarvaoeo
seutransporteparaaexportaçaoeaexploraçaodo
Compreendendo o PEDEC
AanaliseeasinterpretaçoessobreoPEDEC
naodevemestardesassociadasdeoutros
cenariosedinamicasemcursonopaıse
nocontinenteafricano.Oprocessodaexploraçao
dos recursos naturais na A� f r ica vem se
aprofundando devido a busca cada vez mais
intensiva de acumulaçao de capital e A� frica
continuaaserumterritorioemdisputa,sendoelaa
nova f ronte i ra de expans ao do cap i ta l .
Moçambique emaisum“excelente”exemploque
vemacontecendoumpoucoportodaaregiaoda
A� fricaAustral.A regiaodoCorredordeNacala e
considerada a area mais promissora no que diz
respeitoaexploraçaoderecursosnaturaisjaque
fornece facilidades de exportaçao. O PEDEC
procura,justamente,atenderaesseintento.
Enquadradodentrodeumapolıticaneoliberalde
desenvolvimento, onde o poder corporativo e as
instituiçoes �inanceiras ditam o curso dos
acontecimentos e os governos, ao serviço dos123
corredor principal através do apoio aos pequenos
agricultores e do estabelecimento de uma cadeira de
valor para a agricultura, visando, desta forma,
desenvolver a agricultura em areas proximas a
exploraçaodo carvaonaProvıncia deTete e nas
areas proximas a exploraçao do gas natural no
norte da provıncia de Cabo Delgado. Defende-se
que estes diferentes sectores economicos
poderiamapoiarunsaosoutroscontribuindopara
odesenvolvimentoanıvel regional, bene�iciando
varias pessoas principalmente na geraçao de
empregos, como tambem, possibilitara mais
resistenciaasin�luenciaseconomicasexternas.
JanocenarioB-3arededecorredoresparauma
ampla regiao sera desenvolvida atraves da
extensaodossub-corredoreselinhasdeacessoa
partirdosprincipaiscorredoresquegraças a esta
extensa rede de corredores, vastas áreas não apenas
no interior de Moçambique mas também em Malawi
e na parte oriental da Zâmbia serão conectadas
intensamente umas às outras de modo a formar uma
economia regional ampla e integrada..
Ostrescenariossupracitadosforamcomparadose
estudadoslevandoemconsideraçaoosimpactose
os benefıcios economicos, espaciais, sociais e
ambientais. Concluiu-se que o melhor dos tres
cenarios do ponto de vista dos impactos
economicosesociaiseocenarioB-3,oqualpode
produzir os bene�ícios de desenvolvimento para uma
área mais ampla, permitindo que mais e vários
grupos de pessoas participem no desenvolvimento
regional por meio da utilização de vários potenciais
disponíveis na vasta região.
24
Leroy, 2013Bassey, 2015: 15
por conceder ampla liberdade ao capital no
processo de apropriaçao dos recursos naturais,
desconsiderando os interesses dos demais
segmentosdapopulaçaolocal.Ascontradiçoesdas
sociedadescapitalistascamu�lam-se,dentreoutras
estrategias,apartirdaconexaoentre ideologiae
Estado.OEstadopossuiafunçaointegradora,ou
seja, tempor intuito garantir que a ideologia da
sociedadecontinuesendoadaclassedominantee,
assim, que o desenvolvimento seja a principal
pau ta a s e a l cançar, i ndependente das
consequencias.
Desta forma, amedida emque oEstado assume
decisoes acerca do acesso aos recursosnaturais,
taisdecisoes implicambonusparaalgunse onus
para outros, e essas medidas tem uma unica
�inalidade:defenderosinteressesdocapital.
Pois,senarealidadeapreocupaçaofossedefacto
comaspopulaçoespobreresidentesna areaque
abrangeoCorredordeNacala,haveriaummelhor
detalhamento dos modos como se incluiriam
camponesesecamponesas,compreendendoque,a
agricultura familiar e a actividade que a mais
pessoasdasustentoesobrevivencia.
19
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19
primeiros, facilitam o processo atraves, por
exemplo, da “�lexibilizaçao” das legislaçoes
(legislaçao sobre a terra, minas, �lorestas,
comercio).
Associado a isso , a estrat eg ia ampla de
desenvolvimentonoCorredordeNacalacontacom
grande apoio de investimentos externos
(principalmente japoneses, mas tambem
brasileiros,americanoseeuropeus)todos avidos
em espoliar, expropriar, explorar terras, direitos,
pessoas,territorios,paraamaximizaçaodolucro.
Porconsequencia,diantedetodoodesejoparaque
Moçambiqueseabraparaesses investimentos,o
PEDEC foi concluıdo e aprovado, visando ser
executadonosproximosanos.
Oestudoexpressapreocupaçaocomapopulaçao
que reside no Corredor de Nacala. Entretanto,
percebe-se que a principal questao em jogo e o
aproveitamentodascondiçoesjadescritasqueesta
regiao oferecepara o enriquecimentodepoucos
emnomedo“desenvolvimento”.
Nesse contexto, o Estado vem propiciando ao
capitalaperpetuaçaodasuadinamicapredatoria.
Aine�icienciadaacçaoreguladoradoEstado,acaba
Bassey, 2015
25
21
Em todo o continente “a agricultura familiar,
conduzidaprincipalmentepormulheres,eabase
da alimentaçao do continente, representando
quase 70% da populaçao”. EmMoçambique ha
tambem mais mulheres t raba lhando na
agricultura.PoremoPEDECnaooferecedetalhes
sobrecomoseratratadaaquestaodegeneronesse
Projecto, sendo apenas pontuada a pretensa
atençaoquesedevedaraestegrupo,queporsinal
s e r a o ma i s a t ing ido pe lo p rocesso de
intensi�icaçao dos investimentos em seus
territorios.
Olhando para o cenario B3, escolhido para ser
implementado,veri�ica-seumconfrontoentreos
impactos positivos e os negativos. Dentre os
positivosdestaca-sequea melhoria das cadeias de
valor para a agricultura estará disponível em vasta
área da Região do Corredor de Nacala. Como
resultado, os pequenos agricultores poderão ter
acesso aos insumos químicos e serviços de
transporte, comotambemos preços de venda dos
produtos agrícolas destes agricultores aumentarão
em áreas relativamente amplas devido à diminuição
dos custos de transporte.
Em contrapartida, os efeitos negativos sao
determinantes: Enquanto a rede de corredores
alargada estimulará investimentos comerciais na
agricultura e projetos de obras públicas bem como
expandirá as oportunidades de negócios na região,
aumentarão reassentamentos não espontâneos,
resultantes da obtenção legalizada da terra. Como
consequência, poderá aumentar o risco de perda das
fontes de renda ou meios de subsistência, que
afetaria as populações da região, sobretudo os
pequenos agricultores, mesmo tendo os esforços de
gestão da terra recomendados.Aperguntaquese
colocae:comopoderaaomesmotempogarantira
rendadapopulaçaoquesobrevivedaagriculturae
indicar como um dos grandes impactos os
reassentamentos,ousejaaperdadeterrasdessas
populaçoes?
O PEDEC,mesmo na tentativa de sinalizar que
garantiraaterraparaapopulaçao,evidenciaque
todas as estrategias de “desenvolvimento” no
CorredordeNacalanaopassamdeummodode
privaçaodosdireitos,quemonopolizaoacesso,o
usoeaapropriaçaodocontroledosrecursos,da
te r ra e dos te r r i t o r ios com d i scursos
pretensamenteprogressistas.
Odiscursoretoricoquedestacaapobrezaeda
miseriadaspopulaçoesdaregiaopoderaseruma
armadilha para facilitar a entrega de terras e
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Bassey, 2015: 8822
outros recursos naturais aos investidores
estrangeiros.Aterratemsidonosultimosanosum
importantemeiodeproduçaoparaacumulaçaode
capital(acumulaçaoprimitiva)e,emMoçambique,
elatemavantagemdeser“barata”e“degraça”.
EmboraaConstituiçaodaRepublica,assimcomo
na Lei da Terra consagrem que a terra e da
propriedade do Estado, ou seja, nao podera ser
vendido nem comprada, o Estado Moçambicano
temdemonstradoumaatitudecontraditoriaeque
viola a essa legislaçao, namedida em que suas
opçoes de desenvolvimento economico sao
precisamente antagonicas a preservaçao do
estabelecidonalegislaçao.
Umprojectocompretensoesambiciosascomoeo
PEDEC nao evitara, como o proprio PEDEC
reconhece, impactos desastrosos ao meio
ambiente (terras, cursos de agua, vegetaçao,
�lorestas, biodiversidade, etc.). O documento
apresenta igualmente uma linguagem que reduz
essesimpactosnegativosaonaofornecerdetalhes
sobrecomoserao tais impactos,quemedidasde
mitigaçao, que perdas (culturais, agroecologicas,
ambientais) estao em questao em troca desse
“desenvolvimento”,etc.
A exploraçao intensiva do carvao, assim como a
aberturaparaos investimentosagrariosde larga
escala (agronegocio), exercem uma enorme
pressaosobreaterra,sobreosrecursoshıdricos,e
tudo traz impactos severos na produçao de
culturas alimentares, ameaçando, assim, a
soberania alimentar da regiao e os sistemas de
produçaocamponesa.NavisaodoPEDEC,“aterrae
consideradaumamercadoriaenaoumlocalparaa
produçaodealimentosesubsistencia”.
O projecto fala da melhoria da produtividade
agrıcola para os pequenos agricultores que
praticamaagriculturafamiliarmastambempara
osagricultoresdeescalacomercial.Essamelhoria
naodevera passardeumdiscurso,a�inal,emque
medida conseguira garantir aos pequenos
agricultoresganhosecontroledesuasterrasse,ao
mesmo tempo, abre-se as portas para o
investimentoexternousufruirdasterras?
Uma das “vantagens” que se destacam para os
pequenos produtores e o acesso aos insumos
quımicos e serviços de transportes pelo
melhoramento das vias no Corredor de Nacala.
Veri�ica-se, aı esta , a desvalorizaçao dos
conhecimentos locais sobre produçao nao
dependentedeagrotoxicoseoutrosfertilizantesde
22
logicacorporativa.Pretende-seimporumalogica
deproduçaodesassociadade saberesancestrais.
Ignora-se que tanto o conhecimento quanto o
alimento sao essenciais para a reproduçao,
dissociam aqueles que ate historicamente
produzem seu alimento de uma determinada
forma e lhe impoe umanova formadeproduzir,
fazendo, assim, uma separaçao entre o fazer e o
pensar.Oquesepretendeevalorizarumtipode
conhecimentonegandoooutro,fugindododialogo
entrematrizesderacionalidadesdistintas.
Estes questionamento fazem todo sentido se
avaliarmos pelo que ja se veri�ica em varios
distritos das provıncias de Nampula, Zambezia,
Niassa e Tete onde a coexistencia entre estes
modelos e nefasta, revelando se impossıvel: os
camponeses acabam �icando em desvantagem,
perdemcontroledasterras,�icamdependentesde
culturas de rendimento (ja que as empresas do
agronegocio criam esses “incentivos”) e �icam
relativamentemais pobres e vulneraveis como a
presençadoinvestimentodoquesemele.
Um projecto sobre as pessoas, sem as
pessoas
PEDECdestaca tambemapretensao em
Oinserir a populaçao nos processos
decisorios,degarantiraparticipaçaoda
populaçao. Tenta-se demostrar, na escrita, essa
intensao,porem,naosaodetalhadososcaminhos
para o alcance de tal objetivo. Nao e claro o
envolvimento das populaçoes da populaçao no
processodainformaçaoeconsentimentoprevios
sobreoqueiraacontecernoseuterritorioeocomo
isso podera trazer impactos em suas vidas. A
pergunta que se coloca e: em que momento as
populaçoesdaregiaodoCorredordeNacalaforam
envolvidosnaconcepçaodoPEDEC?E� ,decerteza,
mais uma polıtica que promove uma narrativa
sobre aspessoas (pobres, vulneraveis),mas sem
elas.
23
Porto-Gonçalves, 201223
27
Projecto de Desenvolvimento de Cadeias de Valor nos Corredores de Maputo e Limpopo
Oobjectivodaestrategiaetransformar[aproduçao]dos actuais alimentos basicos para culturas derendimento,gerandorendaparaaspopulaçoesrurais,atraves do aumento da comercializaçao emmercadoscrescentes(PROSUL,p.22).
28
projectodeDesenvolvimentodeCadeias
Ode Valor nos Corredores de Maputo e
Limpopo (PROSUL) e uma iniciativa do
GovernodeMoçambiquequepretende trabalhar
nos corredores de comercio das provıncias de
Gaza, Inhambane e Maputo, supostamente
vulneraveisasmudançasclimaticas-umaareaque,
segundo os proponentes, tem sido largamente
n e g l i g e n c i a d a e m i n t e r v e n ç o e s d e
desenvolvimentoemboracomcaracterısticasque
lhe fornecem potencial nas cadeias de valor em
determinadas.
Segundo o PROSUL, o projecto pretende apoiar
produtores de pequena escala de dezanove
distritos das provıncias de Maputo, Gaza e
Inhambane, e dedica-se a mercados-chave e
constrangimentos biofısicos, garante acesso
sustentavel aos serviços essenciais para os
pequenos produtores e cria um ambiente de
negócios favorável. Estima-se que vai atingir
20,350 bene�iciarios, principalmente os pobres
economicamente act ivos , os quais est ao
largamenteenvolvidosnaproduçaodecadeiade
valor.
Chicualacuala,Chibuto,Chokwe,Guija,Mabalane,Manjakaze,MassingireXaiXai(Gaza);Boane,Manhiça,Magude,Marracuene,MoambaeNamaacha(Maputo);Inharrime,Jangamo,Massinga,MorrumbeneeZavala(Inhambane).OFIDA/IFADeumaagenciadasNaçoesUnidascriadoem1977comooobjectivodefornecer�inanciamentodirectoemobilizarrecursosadicionaisparaprogramasespeci�icamentedestinadosapromoveroavançoeconomicodospobresrurais,principalmenteatravesdomelhoramentodaprodutividadeagrıcola
produtores de pequena escala nos distritos
selecionados nos corredores de Maputo e
Limpopo, alcançando retornos sustentaveis aos
pequenos produtores desde o aumento dos
volumesdeproduçaoequalidadenascadeiasde
valorde�inidos,melhorarasligaçoesdemarcado,
fortalecimento das organizaçoes de produtores,
assimcomoaltosdividendosparaosprodutoresno
valoracrescentado�inal.
Contando com o �inanciamento do Fundo
Internacional para o Desenvolvimento da
Agricultura(assimcomodegovernosdaEspanha
e Moçambique), o PROSUL e orçado em 44,95
milhoesdedolaresamericanoseescolheufocarna
produçao de horticulturas, mandioca e carnes
vermelhas. Incluem-se igualmente os seguintes
componentes adicionais: serviços �inanceiros,
apoioinstitucionalegestaodoprojecto,mudanças
climaticasegenero.
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25
25
24
29
Contexto de surgimento e principais
actores
Sendo a taxa de pobreza absoluta elevada
(54,7% da populaçao), o PEDEC acredita
que esta situaçao baseia-se, em grande
medida, na predominancia da agricultura de
subsistencia nas zonas rurais e no baixo
crescimento da produtividade agrıcola, sendo
exacerbada pelos choques climaticos e pelas
�lutuaçoesdospreços.Daıanecessidadedestetipo
deabordagemeintervençoes.
OPROSULa�irmaapoiaroProgramaNacionalde
AcçaodeAdaptaçao(PANA),elaboradopeloentao
MinisterioparaaCoordenaçaodaAcçaoAmbiental
(MICOA),quevisavareforçarascapacidadespara
fazer face aos efeitos negativos das mudanças
cl imaticas, incluindo as capacidades dos
agricultores para lidar com as alteraçoes
climaticas,perdasdegadoemregioespropensasa
seca , reduzindo a degradaçao do solo e
promovendoactividadesdiversi�icadasorientadas
paraocomercio.Acredita-seque,nessesentido,o
PEDEC e ainda plenamente coerente com a
EstrategiaparaasMudançasClimaticasdoFIDA,a
Polıtica de Gestao do Ambiente e dos Recursos
Naturais, a Polıtica de Financiamento Rural, a
Polıtica das Empresas Rurais e a Estrategia de
DesenvolvimentoeParceriadoSectorPrivado.
Agricultura climaticamente inteligente
DeacordocomoPROSUL,cercade 4mil
agricultores (50% dos quais mulheres)
adotariam tecnologias climaticamente
inteligentesrecomendadas-de�inidascomo:usar
praticasdecultivodemandiocaresilientesaoclima
e2800pastores(50%dosquaismulheres)adotam
tecnologias c l imat icamente inte l igentes
recomendados - de�inido como: usar o festao
resiliente as alteraçoes climaticas das areas de
pastagem.SegundooPROSUL, “tendoemvistaa
forte foco em investimentos climaticamente
inteligentes,oprojetodeveratermuitosimpactos
positivossobreomeioambienteeacapacidadedos
bene�iciarios para lidar com as mudanças
climaticas”(p.4,5).
DeacordocomaFAO,aAgriculturaClimaticamente
Inteligente pretende melhorar a capacidade dos
sistemas agrıcolas para apoiar a segurança
alimentareincorporaranecessidadedeadaptaçao
easpossibilidadesdemitigaçaonasestrategiasde
desenvolvimentoagrıcolasustentavel.
Oprojectoconsideracomoumdadoadquiridoo
climate-smart agriculture, sem o problematizar
nemmostrarseuspontoscontroversos.Apesarde
ser apresentada como uma combinaçao de30
agroecologia e da agricultura industrial, a
abordagem da Agricultura Climaticamente
Inteligentepretendeenriquecerasmultinacionais,
vendendo sementes geneticamente modi�icadas
resistentes ao clima, pesticidas, herbicidas. Pode
serumaarmadilha.
Movimentos camponeses ao redor do mundo,
comoaViaCampesina,consideramoconceitode
agriculturaclimaticainteligentebastantevazio,em
quehaespaçoparatudo.ParaaViaCampesina,eo
mesmo processo que começou com a Revoluçao
Verde e que continua a desenvolver pesticidas
quımicos,apartirdesementeshıbridase,hojeem
dia,desementesgeneticamentemodi�icadas;E� o
mesmo processo que o Banco Mundial esta
apropriando para desenvolver a agricultura
industrial.
No âmbito deste quadro agricultura inteligente clima, há pouca esperança de reduzir e eliminar gases de efeito estufa, tentando resolver a insegurança alimentar ou qualquer desenvolvimento económico e social significativo rural. Os problemas da pobreza, insegurança alimentar e as mudanças climáticas não são falhas de mercado, mas sim são falhas estruturais que persistem e pioram com a sua
implementação (ViaCampesina,2014).
A Wambao como exemplo de “apoio
produtores de pequena escala”
wanbao Agriculture e uma empresa de
Aorigem chinesa que esta a gerir um
projectodeproduçaodearroznoRegadio
deXai-Xai,provınciadeGaza,numaareadecerca
de20milhectareseumainfraestrutura.
Atraves doBanco deExportaçoes e Importaçoes
(Exim)daChina,ogovernodeMoçambiqueobteve
um credito boni�icado de 60milhoes de dolares
paraaconstruçaodeumComplexoAgro-Industrial
nodistritodeChokue,desenhadopararespondera
necessidadedeprocessamentodoarrozproduzido
pelo projecto chines Wanbao Agriculture. A
Wambao detem um projecto de investimento
avaliado em 250 milhoes de dolares, que esta
essencialmente vocacionado para a expansao da
suaproduçaodearroz.
NaperspectivadetransformaraprovınciadeGaza
no celeiro de Moçambique, as autoridades
moçambicanas tem vindo a promover contactos
entre camponeses da regiao do Chokue e a
WambaoAgriculture.
Macauhub,2015.Acessadoem:http://www.macauhub.com.mo/pt/2015/04/14/fabrica-�inanciada-pela-china-impulsiona-producao-agricola-no-sul-de-mocambique/
26
26
31
Organizaçoes da sociedade civil e camponeses
locais temvindoaacusar, emvariasocasioes, a
Wanbaodeestarausurparterrasdoscamponeses
locais,destruindoseuscultivos,explorandoaforça
de trabalho moçambicana. Por outro lado, a
produçaodaWanbaoe,segundoessasacusaçoes,
maioritariamentedestinada aexportaçao,caindo
porterraodiscursodavalorizaçaodemercadose
consumolocais.
Emboranaoseapresentecomotendoumaligaçao
formalouo�icialcomoPROSUL,aWanbaoeesta
temsuasexploraçoesinseridasdentrodasareasdo
PROSUL e um investimento tido, pelo governo,
comooexemplodeumaabordagempositiva. O
quesesabe,contudo,equeoprojectoemcausafaz
partedaimplementaçaodoPlanoEstrategicopara
o Desenvolvimento Agrario (PEDSA). As
intervençoes propostas no PROSUL “estao
totalmentealinhadasaspolıticasgovernamentais,
especialmenteoPlanodeAcçaoparaaReduçaoda
Pobreza (PARP) , o P lano Estrat eg ico de
Desenvolvimento Agrario (PEDSA) e o Plano
DirectordeExtensaoAgrario(PROSUL,p.x).
27
http://www.verdade.co.mz/ambiente/39110--wambao-agriculture-os-recentes-e-reais-impactos-de-mais-uma-bolada-dos-dragoes-em-nome-do-desenvolvimentoNotıcias,2015.Acessadoem:http://www.jornalnoticias.co.mz/index.php/provincia-em-foco/37015-inhambane-produtores-reclamam-do-desempenho-do-prosul.html
28
Anosdepoisdaimplementaçaodainiciativa,naose
veri�icam resultados palpaveis com impacto nas
comunidades.Em2015aFederaçaoNacionalde
Agricultura denunciou que nao se vislumbram
resultadosconcretosdotrabalho,nomeadamente
do aumento sustentavel da renda dos pequenos
produtores,apartirdoincrementodosvolumesde
produçao,produtividadeemelhoriadequalidade
em tres cadeias, depois de terem sido aplicados
cercadeseismilhoesdedolares.28
27
32
O que podem fazer os camponeses, a ADECRU, a sociedade civil, os movimentos sociais a respeito?
Como ja referido em outras palavras, o
conjunto de polıticas/projectos aqui
analisados levam consigo uma elevada
carga de colonialidade e paternalismo. Os
corredoresdedesenvolvimentoaqueoPEDECeo
PROSUL se dedicam (estradas e linhas ferreas,
incluindo aeroporto e portos costeiros) parece
estarem mais para servir ao capital do que as
pessoas. Ao longo do corredor de Nacala, para
referir um exemplo, vem-se mais comboios de
carvao e camioes de carga do que transportes
publicosparaaspessoas.
OPROSUL,talcomopretendeaNovaAliança,tema
pretensao de transformar os camponeses em
produtores comerciais, transitando de praticas
agroecologicasetecnicascamponesasparausode
sementes hıbridas, uso de pesticidas quımicas e
cultivo de culturas de rendimento para assim
integra-los numa cadeia que lhes possibilite
alimentar a logica de mercado: o objectivo da
estratégia é transformar [a produção] dos actuais
alimentos básicos para culturas de rendimento,
gerando renda para as populações rurais, através do
aumento da comercialização em mercados
crescentes.
Comojavimosaolongodaspaginasanteriores,a
NovaAliança,oPEDEC-NacalaeoPROSULestao
longedegarantirasegurançaalimentar,empregos
ealiviamentodapobrezadaspopulaçoesruraisde
Moçambique.Muitopelocontrario,estaspolıticas
representam um verdadeiro perigo para os
pequenos camponeses e as populaçoes mais
vulneraveis. Passamos, entao, a observar as
soluçoes que a ADECRU, a sociedade civil e as
organizaçoes camponesas podem implementar
paracombaterosinvestimentosqueasameaçam.
Diantedetantosdesa�ios,presenteseosqueestao
aindaporvir,faz-senecessarioaintensi�icaçaoda
resistencia.Aideiadaposse(enaopropriedade)
colectivados recursos colectivos signi�icaqueas
pessoas tem direito sobre as suas terras, tem
direito ao meio ambiente equilibrado. O povo
moçambicano e um povo com forte legado
historicoderesistencia.
E� necessario uma organizaçao comunitaria (e
intercomunitaria) e um sentido elevado de
solidariedade para enfrentar as investidas do
capital �inanceiro. Uma das ferramentas mais
e�icazes e a informaçao sobre os direitos
33
2015:203
29
29
consagrados na lei. E� necessario ummovimento
fortalecido de propagaçao e dialogo sobre tais
direitos com as camponesas e os camponeses
potencialmente atingidas por projectos como o
PEDECeoPROSUL,umavezqueameaçamomodo
de vida das comunidades, sobretudo porque
interferemdiretamentenarelaçaoharmonicaque
possuem com o meio ambiente e com a
comunidade.
E� necessariaaintensi�icaçaodalutaporgarantira
participaçaonosespaçosdetomadadedecisoes,
compreendendo que, enquanto populaçao
atingida,devehaverespaçoparao levantamento
da sua voz . As i n fo rmaç oe s devem ser
democratizadas,difundidas,partilhadasdemodo
quenaosejamapenasumprivilegioparapoucos.
Para tal �im, e necessario o engajamento das
organizaçoesdasociedadecivil,dosmovimentos
sociaisorganizadosedeoutrosactoressolidarios,
nalutapelademocratizaçaodeinformaçoeschaves
quepermitammuniraspopulaçoesoprimidasde
elementos para actuar. Aqui e chamado o
comprometimentodeclasse,paraformaragentes
polıticos que actuem de modo a transformar a
realidade que se apresenta e propor uma
sociedadeeumprojectopopularquecoloqueas
pessoasnocentrodasprioridades,enaoocapital.
Como defende NnimmoBassey, “a A� frica [e
Moçambique] merece uma pausa – um dia de
descanso.Precisadeespaçopararespirar.Somente
um povo unido, consciente e interligado pode
impedir as mortes, expulsar os parasitas e
reivindicaraterra”.
AtentativadaintroduçaodoprogramaProSavana,
emMoçambique,oferece-nosumexemplodecomo
umalutaarticuladapoderiatravarpropostasanti-
pobres.Acampanhacontraesseprojectoeumcaso
interessante de luta da sociedade civil, dos
movimentos soc ia is e das organizaç oes
camponesas, tanto ao nıvel nacional como
internacional, de programas “perfeitos” para a
visaodaNovaAliança,doPROSULedoPEDEC.
Lançadoem2011,emMoçambique,oprogramadecooperaçao para o desenvolvimento agrıcola dasavanatropical,ProSavana,eumprojetotripartidodosgovernosmoçambicano,brasileiroejapones,executadopelaAgenciaBrasileiradeCooperaçao(ABC), a Agencia Japonesa de CooperaçaoInternacional (JICA) e o entao Ministerio daAgricultura de Moçambique (MINAG), agora,MinisteriodaAgricultura e SegurançaAlimentar(MASA).Oseuobjetivoedesenvolveraagriculturaintensivadeexportaçao(milho,soja,algodao,etc.)no corredor de Nacala, uma das regioes maisferteis dopaıs. Os investidores deveriamocupar
34
Em 2012, por iniciativa da Uniao Nacional de
Camponeses(UNAC),umaorganizaçaocamponesa
membro do movimento internacional La Via
Campesina,asociedadecivilmoçambicanareuniu-
separaseoporaimplementaçaodoProSavana.Em
2014, lançou-se a campanha, Nao ao Prosavana,
para sensibilizar as populaçoes do corredor de
N a c a l a , i n f o rmando - a s d o s p e r i g o s e
consequencias potenciais que o ProSavana
representaparaelas.Comefeito,ascomunidades
locais recebempouca ounenhuma informaçao e
s a o man ipu l adas po r e spec i a l i s t a s em
comunicaçao que lhes apresentam apenas a
possibilidade de terem uma vida “melhor”, sem
lhesexplicaremaquecustoapoderaoterra.
A�imdeganharmaisvisibilidadeemaispoderde
impacto,alutatambemfoiinternacionalizadano
Brasil,noJapaonaA� fricaAustral,ondecontoucom
aparticipaçaodeelementosdasociedadecivil,das
universidadesedosmovimentossociais.
EmMaiode2013,aUNACeoutrasorganizaçoesquelideramacampanhatomaramainiciativadeescrever uma carta aberta assinada pormais de130organizaçoesmoçambicanas,internacionaisesignatarios individuais aos dirigentes dos trespaısescujasagenciasestaoimplicadasnoprojeto:o entao Presidente de Moçambique, ArmandoGuebuza; a entao Presidente do Brasil, DilmaRousseff; eoPrimeiro-Ministrodo Japao, ShinzoAbe.Nessacarta,exigiramaostresgovernosque
umterritoriodemaisde14milhoesdehectares,
afetando as mais de 4 milhoes de pessoas que
habitam a regiao e que vivem sobretudo da
agricultura.Paraalemdassuasterrasferteiseda
suasituaçaogeogra�icaprivilegiada(fazfronteira
com a Z ambia e o Malawi e possui uma
importantıssima infraestrutura portuaria na
provınciadeNampula),ocorredordeNacalaeuma
zona particularmente estrategica para os
investidores,porquecontemumgrandenumerode
infraestruturas ja bem desenvolvidas (estradas,
caminhosdeferro,aeroportose,comoreferido,o
portodeNacala)necessariasparaoescoamentoe
exportaçoes. Entretanto, o projeto foi altamente
criticadopelas organizaçoes da sociedade civil e
camponesas que nao estao de acordo com as
propostasdoProSavana,segundoaqualoprojeto
bene�iciariaospequenoscamponesesdaregiao–a
mesma narrativa da Nova Aliança. Para alem da
degradaçaoedapoluiçaoambientais resultantes
da utilizaçao intensiva de insumos quımicos,
outrosprojetossemelhantesmasmaispequenos
conduziramjaaexpropriaçaodemuitospequenos
camponeses.Dadasascircunstancias,tudolevaa
crer que implementaçao efetiva do programa
ProSavanasetraduzanoaumentoexponencialdas
expropriaçoes.
35
Acções concretas
travemoprojetoe«redirijamtodososrecursos
humanos, materiais e �inanceiros destinados ao
programaProSavanaparaesforçosdede�iniçaoe
implementaçaodeumplanonacionaldeapoio a
agricultura familiar sustentavel», de modo a
garantirasoberaniaalimentardos16milhoesde
Moçambicanos que vivem da agricultura, bem
como a implementaçao de polıticas agrıcolas
centradasnaagriculturadepequenaescala.
Apesardejaseteremfeitoalgumasexperienciasde
cultivodealgodao,sojaemilhoemrelativamente
grandeescalanocorredordeNacala,oprograma
ProSavanaaindanaoconseguiurealmenteganhar
vida, muito embora ja tenha feito algumas
modi�icaçoesparapaci�icarasociedadecivil.A8de
novembrode2016,asorganizaçoesdasociedade
civil moçambicana interromperam o dialogo,
exigindo que toda a documentaçao relativa ao
ProSavana seja tornada publica, para que as
comunidadeslocaislhepossamteracesso.Por�im,
o ProSavana ja e considerado tanto um caso de
fracassodePPPcomoumcasodesucessodaluta
dasorganizaçoesdasociedadecivil.Apartirdesta
analisedoprogramaProSavana,podemosconcluir
queasociedadecivilpoderealmenteexerceruma
in�luenciaaomaisaltonıvel,enquantoforcapazde
seorganizardeformasolidariaentreosdiferentes
atores,nıveisereivindicaçoes.Paraissoepreciso
que as informaçoes de polıticas publicas e os
documentossobreinvestimentossejamdoacesso
das pessoas para assim permitir uma melhor
investigaçao.
Osmovimentos sociais e outras organizaçoes da
sociedade civil, nomeadamente a ADECRU,
precisam contribuir no fortalecimento da
identidade, consciencia e orgulho campones,
atraves do resgate historico de suas praticas e
modosdeproduçaoedoquantoessaspraticassao
essenciais para a preservaçao dos recursos
naturaisebiodiversidadeemseuterritorio.
De f o r m a c o n c r e t a , a c ç o e s d e
conscientizaçao e formaçao podem ser
desenvolvidas atraves iniciativas como
o�icinas, nas quais se trabalharia o resgate
historicoeculturaleosconhecimentosancestrais
das comunidades, podendo metodologicamente,
recorrer a proposta da linha do tempo, para
compreender-se as transformaçoes que tem
ocorridonosseusterritorios.
Dessas o � i c inas poder-se- iam produzir,
colectivamente, materiais para educação
populardascomunidadesassimcomomanuais
de advocaciaparaosdiversosactoresenvolvidos36
naquestaododesenvolvimentorural.Entende-se
poreducaçaopopularumprocessonoqualtodos
sao actuantes envolvem-se, colectivamente, no
processo de aprendizagem e na busca de
ferramentaspara deformacomum,transformar
talrealidade.
Arealizaçaodeo�icinase rodas de diálogos,que
visemadivulgaçaoeadiscussaosobreasleisque
garantem os direitos das comunidades rurais,
comoaLeideTerras,aLeidasFlorestaseaLeido
Ambiente e de extrema relevancia. Aqui,
ferramentasderepresentaçaocomoatécnica do
teatro do oprimidopoderiaserutil.
Tal como se tem mostrado viavel em outros
contextos, a criaçao e/ou articulaçao com um
colectivo de advogados populares, dispostos a
apoiar juridicamente as comunidades rurais
semprequeestejamemcon�litocomalei.
IniciativascomooPEDEC(Prosavana,mineraçao
intensiva, etc.), ao violarem sistematicamente
direitos humanos, podem ser denunciados
juridicamente,activandoinstrumentos legaisde
direito internacional adequados, desde que
rati�icados pelo Estado moçambicano e sem
clausulas de reserva quanto a submissao de
queixasdeparticulares.Poroutro lado,odireito
internopodetambemseraccionado,enissotem
relevanciaoart.58º,daConstituiçaodaRepublica
deMoçambique, que preve as responsabilidades
doEstado.
Ummecanismodedenúncia rápidaquesirvade
alertasemprequealgumaviolaçaodalegislaçaoou
dedireitoscomunitariosacontecerpermitiriauma
ampla exposiçao as atrocidades cometidas tanto
porempresascomoporagentesdoEstado.
37
Parceiros da ADECRU:N
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