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André Bernardes Moura
Bruno Henrique Martins
Fábio Moura e Oliveira
Lucas Barbosa Amorim
A NARRAÇÃO DE FUTEBOL NO RÁDIO E NA TELEVISÃO: UMA
ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE AS TRANSMISSÕES DA RÁDIO ITATIAIA E
DA TV GLOBO MINAS
Belo Horizonte
Faculdade de Ciências Humanas da Universidade FUMEC
2008
2
André Bernardes Moura
Bruno Henrique Martins
Fábio Moura e Oliveira
Lucas Barbosa Amorim
A NARRAÇÃO DE FUTEBOL NO RÁDIO E NA TELEVISÃO: UMA
ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE AS TRANSMISSÕES DA RÁDIO ITATIAIA E
DA TV GLOBO MINAS
Monografia apresentada à Faculdade de Ciências Humanas da Universidade FUMEC como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Jornalismo. Orientador: Antônio Marcelo de Melo Silva
Belo Horizonte
Faculdade de Ciências Humanas da Universidade FUMEC
2008
3
Universidade FUMEC
Faculdade de Ciências Econômicas
Monografia intitulada “A NARRAÇÃO DE FUTEBOL NO RÁDIO E NA TELEVISÃO:
uma análise comparativa entre as transmissões da Rádio Itatiaia e da TV Globo Minas”, de
autoria dos bacharelandos André Bernardes de Moura, Bruno Henrique Martins, Fábio Moura
e Oliveira e Lucas Barbosa Amorim, aprovada pela banca examinadora constituída pelos
seguintes professores:
__________________________________________
Prof. Antônio Marcelo de Melo Silva – orientador
__________________________________________
Prof. Aurélio José
__________________________________________
Prof. Luiz Henrique Barbosa
Belo Horizonte, 25 de novembro de 2008
4
AGRADECIMENTOS
Agradecemos aos nossos pais e familiares pelo apoio e incentivo durante esses quatro anos de
curso. Este trabalho é uma forma de mostrarmos o quanto foi importante este investimento.
Agradecemos à psicóloga Margarete Amorim pelos ensaios da apresentação e aos narradores,
Jota Jr., Marcos Leandro, Mário Henrique e Osvaldo Reis, pelas entrevistas.
Agradecemos também aos professores Fabrício Marques, Cláudia Fonseca, Luiz Henrique e
Déborah Pennachin pelas correções durante a elaboração do trabalho.
5
RESUMO
No Brasil, o futebol é algo que inspira grandes paixões, por isso, a narração assume um papel
importantíssimo na história desse esporte. Tanto na rádio como na televisão, os narradores
ostentam uma posição de destaque; afinal são eles os responsáveis por explicar ao público o
que acontece ali. A transmissão no rádio, que seduz o ouvinte com sua emoção, e a
transmissão de televisão, que encanta os telespectadores com sua imagem, mesmo com todas
as diferenças conseguem atrair do mesmo modo o público. Por meio de análises comparativas
de partidas narradas pelo rádio e pela televisão, e entrevistas com narradores de ambos os
meios, observa-se que apesar de cada meio ter características próprias, não existe um padrão
de narração em cada meio, o que acontece é que cada narrador escolhe o melhor modo de
fazer sua narração.
Palavras-chave: Futebol, linguagem, narração, rádio, televisão, jornalismo.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.........................................................................................................................8
1 AS LINGUAGENS E AS TEORIAS JORNALÍSTICAS NA NARRAÇÃO DE
FUTEBOL ...............................................................................................................................11
1.1 Newsmaking e Gatekeeper.................................................................................................12
1.1.1 A realidade de Kunczik....................................................................................................12
1.1.2 Mauro Wolf e os critérios de noticiabilidade...................................................................16
1.2 A escolha de notícias na cobertura de futebol................................................................18
1.2.1 O surgimento do “interesse” pelo futebol........................................................................18
1.2.2 A inovação da cobertura do futebol.................................................................................20
1.2.3 O que é notícia neste esporte............................................................................................23
1.3 A linguagem do jornalismo esportivo..............................................................................26
1.3.1 A linguagem de rádio.......................................................................................................26
1.3.2 A linguagem da TV..........................................................................................................28
1.3.3 Jornalismo esportivo e a narração do futebol ..................................................................29
2 A CRIATIVIDADE DO RÁDIO E A IMAGEM NA TV.................................................34
2.1 O futebol antes da TV.......................................................................................................35
2.1.1 A imaginação dos locutores esportivos............................................................................37
2.1.2 Caixa e Pequetito, a criatividade radiofônica...................................................................40
2.2 Contra imagens não há argumentos................................................................................46
2.2.1 Os narradores da imagem.................................................................................................48
2.2.2 A narração televisiva, segundo Jota Jr. e Marcos Leandro..............................................53
3 AS DIFERENÇAS DA NARRAÇÃO FUTEBOLÍSTICA NA RÁDIO ITATIAIA E
NA TV GLOBO MINAS........................................................................................................56
7
3.1 O momento do gol.............................................................................................................58
3.2 Os recursos da televisão....................................................................................................61
3.2.1 Replay, a melhor explicação............................................................................................61
3.2.2 Narração mais detalhada..................................................................................................63
3.2.3 A linguagem ilustrativa....................................................................................................65
3.3 As características de cada meio.......................................................................................68
3.3.1 Os apelidos, aumentativos e os excessos de verbos do narrador de rádio.......................68
3.3.2 Os advérbios de lugar da narração televisiva...................................................................70
3.4 Mais emoções no rádio e a imagem que objetiva a narração........................................71
CONCLUSÃO.........................................................................................................................74
REFERÊNCIAS......................................................................................................................77
ANEXO I..................................................................................................................................78
ANEXO II................................................................................................................................82
ANEXO III...............................................................................................................................87
ANEXO IV...............................................................................................................................94
ANEXO V................................................................................................................................99
ANEXO VI.............................................................................................................................103
ANEXO VII...........................................................................................................................106
8
INTRODUÇÃO
Pretende-se, neste trabalho, analisar o processo histórico da narração futebolística no Brasil,
traçando um paralelo da linguagem no rádio e na televisão, identificando suas principais
diferenças, os estilos e variações de acordo com o tempo. Acreditamos que a narração de
futebol brasileiro foi algo primordial para sua espetacularização. Por meio das transmissões,
os narradores criaram ídolos nacionais, bordões e estilos que contribuíram para transformar o
futebol em um esporte diferenciado, que envolve paixões e emoções, que afeta diretamente o
cotidiano de uma grande parcela da população brasileira. Mesmo existindo no Brasil, desde o
final do século XIX, o futebol só alcançou seu maior status em meados dos anos 30, quando o
rádio passou a transmitir o esporte. Com a consolidação da televisão, nos anos 1980, o rádio
foi perdendo espaço para a nova mídia, que trouxe uma característica que revolucionou a
linguagem das narrações: a imagem.
Mas qual a verdadeira importância do locutor esportivo para as transmissões do futebol?
Muito mais do que apenas um apresentador, o locutor esportivo assume o papel de um
especialista que decodifica o evento para o espectador. No rádio este papel é ainda mais
perceptível, uma vez que o locutor é a única fonte de informação sobre a partida, a partir de
suas palavras, ele incita a imaginação do receptor. Que torcedor nunca se emocionou ao ouvir
um gol do seu clube de coração, ou de um grande craque ou o grito de campeão na voz destes
maestros da voz. Quem não se lembra do grito de “tetra, é tetra...”, na voz de Galvão Bueno, o
narrador de maior audiência da televisão brasileira.
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Porém, com a evolução tecnológica, a emoção teve que conviver com a pauta, informações
estatísticas: não basta apenas ter eloqüência ou ter uma voz audível, é preciso ser profissional.
Segundo o jornalista Paulo Vinicius Coelho, representante do estilo moderno de cobertura,
“entre a lenda e a verdade, a literatura vai sempre preferir a lenda. O jornalismo deve preferir
a verdade” (COELHO, 2006, pág. 18). Não foi só a TV que alterou o estilo da linguagem da
narração esportiva, mas a profissionalização dos narradores, como comunicadores.
A monografia apresentada está dividida em três capítulos. No capítulo 1 fizemos uma
pesquisa bibliográfica de conceitos estudados durante o período acadêmico, como
Newsmaking e Gatekeeper, com base nos autores Michael Kunczik e Mauro Wolf, para
entendermos a transição da linguagem futebolística. As duas teorias se encaixam dentro da
narração futebolística no rádio e na televisão, uma vez que o Newsmaking diz sobre a criação
e poder de reproduzir significados do profissional de narração. O Gatekeeper teoriza a seleção
dentro da comunicação, fato nas coberturas do futebol, como as escolhas dos jogos que redem
mais para as emissoras. Fizemos ainda uma análise histórica do rádio e da televisão, com base
em informações técnicas de autores como Heródoto Barbeiro, Luciana Bistane, Eduardo
Meditsch e outros. Embasamos em autores da área do jornalismo esportivo, como Paulo
Vinicius Coelho, Carlos Fernando Schinner, e Mauro Betting.
No capítulo 2 estudamos a linguagem da narração futebolística atual, visando discutir as
características e as evoluções da narração do rádio e da TV; além de uma retrospectiva dos
principais narradores da história desses dois meios de comunicação. Entrevistamos ainda
quatro narradores: Mário Henrique, da Rádio Itatiaia, Oswaldo Reis, da Rádio Globo Minas,
10
Marcos Leandro da TV Globo Minas e do Sportv, e Jota Júnior, do Sportv, que serviram como
fontes para este capítulo.
Para finalizar esse trabalho, fizemos no capítulo 3, uma comparação de três jogos gravados,
que foram transmitidos simultaneamente pela Rádio Itatiaia e pela TV Globo Minas, todos
válidos pelo Campeonato Brasileiro de 2008: Atlético-MG e Palmeiras; Santos e Cruzeiro; e
São Paulo x Cruzeiro. O objetivo foi fazer uma análise comparativa da linguagem usada pelos
narradores de Rádio e TV e observar as diferenças e as semelhanças entre os dois meios.
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1 AS LINGUAGENS E AS TEORIAS JORNALÍSTICAS NA NARRAÇÃO DE
FUTEBOL
O futebol é um esporte que chegou ao Brasil em 1894, trazido pelo paulista Charles Miller,
que, depois de estudar na Inglaterra, trouxe a primeira bola de futebol e as respectivas regras
deste jogo. A partir de Miller, o futebol começou a se difundir por todo país, com a criação de
times e torneios. Em 1919, o esporte se popularizou no país quando a seleção brasileira
enfrentou o Uruguai, pelo Campeonato Sul-Americano de Futebol, e o presidente Delfim
Moreira declarou ponto facultativo para o comércio e o setor público, consolidando o poder
deste esporte no país, que já começava a ocupar espaços nos impressos brasileiros. Segundo
Carlos Fernando Schinner (2004), em 19 de julho de 1931, o esporte foi transmitido pela
primeira vez, em tempo real, pelo locutor Nicolau Tuma, da rádio Educadora Paulista. “Desde
então, estas transmissões se consolidaram e ajudaram a transformar o esporte em uma paixão
do brasileiro” (SCHINNER, 2004, p.21). Para análise da narração de futebol no Brasil, antes é
necessário estudar alguns conceitos do jornalismo, que servirão de base para analisarmos o
interesse do público pela cobertura do futebol, como o Gatekeeper (seleção de notícias) e o
Newsmaking (produção de notícias).
1.1 Newsmaking e Gatekeeper
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1.1.1 A realidade de Kunczik
Michael Kunczik (2001) analisa a “Produção de Notícias” orientada pelo autor Jurgen Wilken
(1984) que examinou, de maneira empírica, que os valores notícias variam de acordo com o
tempo. Wilken analisou dois jornais de Hamburgo entre os anos de 1622 e 1906. Segundo ele,
os leitores, em 1906, receberam cem vezes mais informações e materiais de leitura do que os
do ano de 1622. Neste ano, 75% das notícias tinham mais do que duas semanas e, com o
passar do tempo, começaram a ficar mais atualizadas e diversificadas, com informações
sociais, comerciais, culturais e jurídicas. Mas ele observa que, apesar da periodicidade e do
imediatismo de 1906, a seleção de notícias piorou com os avanços tecnológicos. As
informações eram selecionadas de acordo com a “realidade editorial” e não com a “realidade
dos acontecimentos”. O autor ainda critica a falta de continuidade:
Antes, os leitores do jornal se informavam menos, mas por outro lado se informavam de maneira mais contínua sobre cada evento. Depois, passou-se a informar mais, mas em geral, a informações tornou-se menos contínua. (WILKEN apud KUNCZIK, 2001, p.29).
O futebol pode ser inserido nas duas realidades; além de o esporte ser uma realidade dos
acontecimentos, ele é uma grande arma editorial. Por ser um esporte popular, a sua cobertura
é de grande valor para os meios de comunicação, pois essas notícias são rentáveis.
Kunczik (2001) analisa também que as notícias não são objetivas, geralmente para um fato há
diversos pontos de vista. De acordo com o autor, a objetividade nada mais é do que o ponto de
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vista do jornalista e/ou da empresa que trabalha. A reportagem, os artigos e as notícias terão
sempre a opinião daquele que a publica. No caso da cobertura futebolística, o jornalista tem
sempre uma objetividade própria, principalmente nas coberturas regionalizadas: a notícia e/ou
a transmissão de uma partida é direcionada, enfocada ao time daquela determinada região.
A seleção de notícias ou gatekeeper (guardião do portão, em português) se baseia no líder de
opinião, que pode ser o empresário, o editor ou mesmo o repórter que vai divulgar a notícia de
acordo com o ponto de vista dele. O termo é inserido, pela primeira vez, em 1947, na
Psicologia. Em 1950, ele é aplicado na comunicação pelo americano David Manning White.
Segundo White, as escolhas das notícias são quase sempre arbitrárias e subjetivas, de acordo
com os interesses do jornalista e do local onde trabalha. De acordo com o autor, o jornalista
tem o poder de decidir se bloqueia ou transmite a informação, só vira notícia aquilo que
passar por uma cancela ou portão (Gate, em Inglês):
A seleção de notícias equivale a restringir o volume de informações, significa que a seleção de assuntos é aquilo que alguém acha que merece ser publicado. Os ‘porteiros’ decidem quais acontecimentos serão divulgados e quais não serão, contribuindo assim para moldar a imagem que o receptor tem de sua sociedade e de seu mundo. (KUNCZIK, 2001, p. 231).
No futebol, será notícia aquilo que o meio de comunicação cobriu no treinamento, no jogo.
Nas transmissões em tempo real, o destaque da partida, as opiniões, o direcionamento do
acontecimento são de responsabilidade do locutor, que se transforma em líder de opinião. As
transmissões dos jogos de futebol são selecionadas de acordo com o interesse do patrocinador
14
e da audiência. No Brasil, destaca-se as coberturas do eixo Rio-São Paulo, cidades centrais
das grandes empresas, que patrocinam as transmissões.
Na contemporaneidade, os fatos publicados devem ser claros, deve haver elementos surpresa,
proximidade geográfica e deve causar impacto social; é o que Walter Lipmann (1922), citado
por Kunczik (2001), chama de “valores informativos”. Kunczik supõe que as notícias são
aquilo que interessa ou chama a atenção do público. De acordo com o autor, os jornalistas
“[...] realizam a seleção de notícias baseados em uma orientação local ou etnocêntrica de fatos
que não se encontram longe do passado [...]” (KUNCZIK, 2001, p. 247).
Com este tipo de seleção padronizada, o público não tem muito o que escolher, pois os
critérios de escolhas são os mesmos, indiferentes dos meios de comunicação. Assim, as
informações serão bastante semelhantes, independente do meio. As notícias serão escolhidas
por meio da resposta do receptor, ou seja, da audiência e das vendas. Desse modo, o efeito
publicitário comanda o critério de escolha das notícias. Fato é que, atualmente, as notícias
sobre futebol se assemelham, indiferente do meio, pois estas são mais rentáveis à empresa de
comunicação.
Kunczik (2001) explicita também que a construção da realidade é feita pelos jornalistas, ou
seja, a realidade não é verdadeiramente objetiva, porque não há consenso do que realmente
aconteceu, os receptores não tem “acesso primário”, a realidade verdadeira é aquilo que é
noticiado. Assim a notícia é o único testemunho autêntico dos acontecimentos “reais”. O
15
receptor vai sempre receber informações de modo unilateral, de acordo com a linha editorial
do meio e não de maneira ampla. Segundo Walter Lippmann, “a seleção é aquilo que combina
com a opinião do jornalista e/ou da sala de redação” (LIPPMANN apud KUNCZIK, 2002, p.
255). No rádio, o locutor de futebol se torna um construtor da realidade, pois ele é responsável
pela emoção da partida, por entreter o ouvinte, ou seja, controla a audiência. Como as notícias
se tornaram ininterruptas, há um fluxo contínuo de informações, o jornalista se torna
dependente de uma elite social - no caso do jornalismo esportivo, a fontes são as mesmas.
Kunczik explica que as fontes principais são da elite, e que, para não perder informações
relevantes, os profissionais da notícia criam laços com algumas pessoas de influência.
Jogadores consagrados e dirigentes de clubes polêmicos serão as principais fontes dentro da
cobertura do futebol:
[...] porque é mais provável que tomem parte em eventos notáveis e porque é mais provável que suas opiniões e ações interessem a outros indivíduos, ou seja, os receptores. (KUNCZIK, 2001, p. 259).
O jornalista esportivo fica dependente de fontes específicas e por isso é necessária uma
relação harmônica com elas para boas transmissões:
[...] jornalistas adotam os pontos de vista das suas fontes, por outro lado, os informantes conseguem publicidade, o que significa poder estabelecer uma relação simbiótica entre jornalistas e os informantes. E se este contato se romper, o fluxo de informação fica fragilizado. (KUNCZIK, 2001, p. 260).
16
Segundo a teoria do Making News (1978), “o jornalista tem o poder de criar, impor e
reproduzir significados sociais, de construir a realidade social” (TUCHMAN apud
KUNCZIK, 2001, p. 264). Kunczik alude à experiência de 10 anos de Gaye Tuchman em
trabalhos televisivos, em jornais impressos e na sala de imprensa de Nova Iorque. Nesta
análise, o autor menciona as “Redes de notícias”, tão importante para esta produção, em que
há locais regulares onde se encontram notícias regularmente, como em delegacias e nas cortes
de justiça. No jornalismo esportivo, os centros de treinamento de clubes de futebol são “Redes
de notícias”. Kunczik também classifica as notícias como as “suaves”, que chamamos de
frias, que não são atuais, e as “duras”, atualmente descritas como factuais, que são as notícias
inesperadas, novas e imediatas. Dentro desta factualidade se inserem as “últimas notícias”,
“contínuas” e as “em desenvolvimento”. As primeiras são aquelas imediatas, as segundas são
os fatos que continuam a se desenvolverem em período prolongado e a última é aquela que
ainda precisa de alguns detalhes para ser finalizada. No jornalismo esportivo esses tipos são
bastante usados pela TV, rádio e, principalmente, pela internet; já as matérias suaves são
raridades. Na narração do futebol, o profissional de locução tem a função de reproduzir
significados, do poder criação na mente do telespectador e principalmente no ouvinte.
1.1.2 Mauro Wolf e os critérios de noticiabilidade
Mauro Wolf (1985) faz uma resenha com as diversas teorias da comunicação e afirma que a
produção de informação tem dois lados: o da cultura profissional, com as táticas, códigos e
outras técnicas dos mass media e o lado dos jornalistas na sociedade, “[...] à concepção do
produto-notícia e às modalidades que superintendem à sua concepção” (WOLF, 1995, p. 170).
17
A afirmação é uma tradução de práticas profissionais - adotadas naturalmente pelos jornalistas
- que se tornam critérios de definição de cada acontecimento para se transformarem, ou não,
em notícia. Quando um acontecimento não ganha estatuto de notícia pelo meio de informação,
ele não irá fazer parte dos conhecimentos do mundo.
Pode também dizer-se que a noticiabilidade corresponde ao conjunto de critérios, operações e instrumentos com os quais os órgãos de informação enfrentam a tarefa de escolher, cotidianamente, de entre um número imprevisível e indefinido de fatos, uma quantidade finita e tendencialmente estável de notícias. (WOLF, 1985, p. 170).
“As notícias são aquilo que os jornalistas definem como tal” (WOLF, 1985, p. 171). O autor
afirma que o assunto raramente é explicitado, e que os acontecimentos são divulgados de
acordo com aquilo que estes profissionais e seus patrões achem relevantes. “[...] faz notícia
aquilo que, depois de tornado pertinente pela cultura profissional dos jornalistas, é suscetível
de ser trabalhado pelo órgão informativo” (WOLF, 1985, p. 171). Assim, torna-se notícia
aquilo que irá entreter o espectador, no entendimento do profissional transmissor de
informação.
Wolf (1995) define os valores/notícia como um componente da noticiabilidade. Eles são
constituídos pelos acontecimentos considerados interessantes, significativos e relevantes para
serem transformados em notícias:
[...] esses valores funcionam, na prática, de uma forma complementar. Na seleção dos acontecimentos a transformar em notícias, os critérios de relevância funcionam conjuntamente, em pacotes: são as diferentes relações e combinações que estabelecem entre os diferentes valores/notícias, que recomendam a seleção de um fato. (WOLF, 1985, p. 175).
18
Em outra consideração, Wolf analisa o caráter dinâmico dos valores/notícia. Segundo o autor,
há uma especialização temática nos meios de comunicação de acordo com o período histórico:
Assuntos que, há alguns anos, simplesmente não existiam, constituem atualmente, de uma forma geral, notícia, demonstrando a extensão gradual do número e do tipo de temas considerados noticiáveis. (WOLF, 1985, p. 175).
O conceito dos valores/notícia vai se redefinindo por meio de novos temas, setores,
argumentos ou assuntos que comecem a ser regularmente divulgados. Como todos os
acontecimentos, os assuntos do futebol também se modernizaram, os valores, as fontes e os
direcionamentos vão se transformando de acordo com o tempo.
1.2 A escolha de notícias na cobertura de futebol
1.2.1 O surgimento do “interesse” pelo futebol
Antes de entrarmos na análise da cobertura futebolística no Brasil, abordaremos
sociologicamente a influência do futebol sobre a sociedade brasileira, embasado no
antropólogo Roberto DaMatta (1994), que escreveu o artigo “Antropologia do óbvio: notas
em torno do significado social do futebol brasileiro”. Segundo DaMatta, o futebol chegou ao
Brasil por meio dos ingleses, era um jogo de elite e foi se popularizando. A partir daí, ele faz
uma análise do sentido social do futebol para o povo brasileiro. Para o autor, o futebol é uma
19
atividade dotada de uma capacidade complexa que permite entendê-lo e vivê-lo
simultaneamente de muitos pontos de vista. Assim, embora este esporte seja uma atividade
moderna, um espetáculo pago, produzido e realizado por profissionais da indústria cultural,
dentro dos mais extremados objetivos capitalistas ou burgueses, ele, não obstante, também
possui características cívicas, valores culturais profundos e gostos individuais singulares.
A função do futebol no mundo moderno tem um pacto íntimo com dois aspectos
fundamentais da vida burguesa. Antigamente, os homens perdiam a honra num jogo de
esgotamento como os combates. Hoje, quando se assiste a um espetáculo esportivo,
internaliza-se uma mentalidade egoísta e concorrente, que vai estabelecer ou reafirmar os
melhores e os piores, os ganhadores e os perdedores, os primeiros e os últimos, dentro de um
quadro estratificado que o credo igualitário tende a mistificar e ocultar. No Brasil, o esporte
como um domínio associado à habilidade e ao uso desinibido corpo teve no futebol um
veículo de notável notoriedade. Talvez porque o futebol seja jogado em equipe, o que permite
retornar no nível simbólico a idéia de uma coletividade exclusiva, como a de uma casa ou
família, agrupamento com a qual se tem semelhanças insubstituíveis de simpatia, “sangue” ou
“raça” e amor.
É certamente por tudo isso que o futebol tem servido como um instrumento privilegiado de
dramatização de muitos aspectos da sociedade brasileira. Ele é um formidável código de
integração social. “De fato, este ajuda uma coletividade altamente dividida internamente a
afirmar-se como uma coletividade capaz de atuar de modo coordenado, corporalmente e de
eventualmente vencer.” (DAMATTA, 1994, p. 15). Finalmente, o futebol proporciona à
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sociedade brasileira a experiência da igualdade e da justiça social. Por meio deste esporte, as
diferentes classes se igualam em patamar de entendimento, pois, produzimos um espetáculo
complexo, mas governado por regras simples que todos conhecem.
Foi, portanto, só com o futebol que conseguimos, no Brasil, somar estado nacional e sociedade, e, assim fazendo, sentir, pela avassaladora e formidável experiência de vitória em cinco Copas do Mundo, a confiança na nossa capacidade como povo criativo e generoso. (DAMATTA, 1994, p.17).
Betting (2005) nos coloca em contato com a história da narração futebolística. Inicialmente, o
autor tenta demonstrar a importância do aprimoramento dos jornalistas já que “qualquer
bípede pode comentar futebol no Brasil” (BETTING, 2005, p.16). Segundo ele:
Se os times passam a semana treinando, aprimorando fundamentos, ensaiando lances, executando estratégias, estudando os adversários, por que a imprensa não deve fazer o mesmo?(BETING, 2005, p.16).
Betting propõe menos “ladainha” e mais “determinação”. Poucos comentaristas vão a
treinamento das equipes, não vêem as movimentações, as alterações táticas, nem tem atenção
para ver a formação das equipes, “[...] Não se aprofundando porque não querem, porque não
sabem, porque ninguém manda, porque aborrece”. (BETTING, 2005, p.17).
1.2.2 A inovação da cobertura do futebol
Betting (2005) afirma que profissionais devem se apropriar de dados, de fatos, de fotos, de
observações e participar mais dos treinamentos; “o jornalista esportivo tem que ser um
21
multimídia” (BETTING, 2005, p.17). Para ele, a inovação da linguagem na cobertura
futebolística começa nos anos de 1930, a partir de Mário Filho e o seu Jornal dos Sports, no
Rio de Janeiro. Até então, a linguagem de futebol era direcionada para a elite e ocupava
pouco espaço na mídia. Daí pra frente, a cobertura passa a ser não para a elite, mas para o
povo.
O texto parnasiano e dependente dos sportmens de origem elitistas do futebol, no início, foi perdendo terreno para a linguagem de botequim das arquibancadas. A popularização do jogo encheu o futebol de pobres. Antes disso, o futebol é para a elite. (BETTING, 2005, p. 19).
O jornalista Mário Filho foi responsável pela transformação das páginas de esportes, ao dar
mais espaço ao futebol; privilegiou os jornalistas que trabalhassem com o futebol, pagando
melhores salários. Primeiramente, Filho criou o diário Mundo Esportivo, em 1931, que durou
oito meses. Em 1936, comprou e refez o Jornal dos Sports. Sua frase “Um jornal não deve se
limitar a dar notícias, deve também produzir notícias que precisam ser a notícia” demonstra
como ele acabou criando o jornalismo futebolístico do futuro, ou seja, aquele que quer que a
notícia vá atrás dele, o artista.
O rádio desta época contribuiu bastante para a proeminência da narração futebolística, e o narrador brasileiro cria um estilo próprio, “tão nacional quanto o trato do boleiro tupiniquim” (BETTING, 2005, p. 20).
Esse estilo mudou pouco quando se adapta à televisão, em 1950. Só a partir dos anos 1970,
surgem inovações de linguagem e de método, quando o carisma e o charme pessoal do
jornalista se transformam em uma filosofia de trabalho, surgindo uma nova escola de grandes
locutores. O que vale é o locutor carro-chefe, não a equipe. Galvão Bueno é um exemplo
22
desse tipo de locutor. Também surge o jornalista que se prepara com qualidade, como os
profissionais de canais fechados, como Paulo Vinícius Coelho, da Espn e Milton Leite do
Sportv, que “nem precisam fazer tudo isso para brilhar” (BETTING, 2005, p.21). Há ainda
aquele jornalista que só gosta de aparecer: “o repórter metido a besta, como muitas bestas
metidas a repórter que infestaram a televisão nos últimos anos” (BETTING, 2005, p.21). Mas
o jornalismo futebolístico é mais do que isso. Deve vasculhar todo o tipo de informações em
todos os lugares possíveis. A nova geração tem uma atitude crítica com profissionais do
passado: “Parece briga entre ‘os românticos ofensivistas’ e os ‘pragmáticos defensivistas’.”
(BETTING, 2005, p. 23).
A briga entre os jornalista de diferentes estados foi um problema nos primeiros anos do
futebol brasileiro. Mas, com os anos, foi se depurando; as novas gerações foram mais abertas,
como o próprio mercado, que agora é mundial. O jornalismo tem que evitar o bairrismo, mas
não pode deixar de divulgar o sentimento que é próprio do futebol. O jornalista precisa se
preparar para ser cobrado nisso, deve buscar a imparcialidade e a isenção, ou seja, o futebol
tem que se sobressair sobre seu time. Isso deve ser um exercício diário do profissional, de ser
mais racional do que passional. Não quer dizer que ele tem que renegar o amor pelo seu time
preferido, apenas ser profissional. “Todo jornalista futebolístico é um torcedor, – quem não
for, insisto, pode ser jornalista, mas não de futebol.” (BETTING, 2005, p. 36).
O que interessa ao jornalista é o que pouco importa ao torcedor – a tática. Ele tem que ser
crítico e não o julgador. Ter responsabilidade para criticar e elogiar. Mas a cobertura esportiva
é cheia de pressões: a televisão quer o jogo na hora, os patrocinadores querem faturar de todas
23
maneiras, o que deixa em dúvida a lisura dos jornalistas esportivos e dos meios que cobrem
esses eventos: “A culpa não é do jornalista. É do jornal. É do rádio. É da TV. É do site. Do
negócio jornalístico que admite apenas a liberdade de empresa, não de imprensa.” (BETING,
2005, p. 35).
Há mais independência no texto e na palavra radiofônica do que nas “imagens compradas” da
televisão. É difícil uma imprensa independente econômica e politicamente, principalmente na
televisão.
1.2.3 O que é notícia neste esporte
Notícias de futebol são a maioria quando se trata de jornalismo esportivo, principalmente no
Brasil, onde esse é o esporte preferido da população. Noticiar futebol é lidar com a principal
diversão do povo, e é por isso que a notícia na cobertura jornalística de futebol possui, antes
de mais nada, um caráter de entretenimento. Ela é voltada principalmente para os torcedores e
apaixonados pelo esporte e, por isso, assume também um lado de prestação de serviços, afinal
são nas notícias que o torcedor se informa sobre seu clube e sobre seus jogos.
Ele [o jornalista] deve fazer o trajeto a caminho do evento e informar tudo o que vê que seja relevante para o torcedor, que também está a caminho e ávido por informações que vá lhe trazer mais comodidade. [...] boa parte dos torcedores procura informações úteis para o seu dia-a-dia, que resolvam problemas concretos. Preços dos ingressos, local de venda, horários dos jogos, mudanças de local/dia/horário, trânsito a caminho do estádio, transporte, acidentes, caminhos alternativos para cada torcida e até capacidade de público no local do evento. (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p. 61)
24
Mesmo sendo tão popular, a cobertura de futebol sofre muitas vezes com a falta de notícias
diversificadas; pouca coisa, além de análises de jogos e notícias da cobertura diária dos times
(escalação, jogadores machucados e transferências), é apresentado ao público. Pode-se dizer
que a cobertura jornalística do futebol segue um cumprimento automático de pautas.
Heródoto Barbeiro e Patrícia Rangel (2006) afirmam que infelizmente a pauta na cobertura
do futebol virou refém da agenda. Segundo eles, o noticiário semanal acaba ficando
subjugado, aos jogos, treinamentos, e as entrevistas coletivas dos times de futebol.
Os jogos acontecem na quarta, quinta-feira, sábado e domingo, o time treina na segunda, terça, e sexta-feira, a televisão transmite tudo. Assim, as notícias resumem-se ao jogo que acontece amanhã, ou o que aconteceu ontem. (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p. 26)
Para construir uma cobertura com mais qualidade e mais diversificada, o repórter deve,
sempre que puder, fugir da agenda. O jornalista Paulo Vinícius Coelho (2003) aponta o que
deve ser feito para melhorar a cobertura. Segundo ele, a falta de interesse por parte de alguns
jornalistas é que transforma a cobertura do futebol em algo rotineiro.
É cada dia mais comum ver técnicos, jogadores, preparadores físicos e fisiologistas reclamando do desconhecimento de profissionais que atuam em jornais em busca apenas de notícia. Que não buscam saber o que se passa dentro de um centro de treinamentos e das coisas que explicam esse ou aquele procedimento. (COELHO, 2003, p. 42)
25
Coelho (2003) diz ainda que é preciso sempre criar pautas inteligentes, e fugir do lugar-
comum, esforçar-se diariamente para conseguir uma pauta mais criativa. Deve-se prestar
atenção em pequenos detalhes, pois é ali que se encontra o diferencial, que vai tornar a notícia
de um veículo mais interessante que de outro.
Não há lugar, ainda mais em um grande clube brasileiro, em que não haja notícia. O repórter em questão é que não está conseguindo enxergá-la pela cultura do fato imediato. Vale a declaração bombástica, entrada mais forte de reserva em titular, discussão. Qualquer coisa que sirva para criar polêmica. (COELHO, 2003, p. 81).
Uma outra vertente peculiar da cobertura de futebol é a chamada política do esporte, os
assuntos de bastidores, das diretorias dos clubes, que interessam, e muito, aos torcedores.
Esses assuntos, em geral, não ganham muito espaço no noticiário diário, porém são de
extrema importância, pois é quase sempre nos bastidores da política do futebol que saem as
melhores informações, os chamados furos de reportagem. E é a partir desses furos que o
jornalista conseguirá matérias diferentes, que fujam da rotina da cobertura diária.
A política do esporte implica cobertura dos bastidores, antecipar decisões e procurar o que todo jornalista mais gosta, o furo, a informação inédita. Aí cabem as pautas e as reportagens especiais, a defesa do torcedor e do consumidor, as políticas públicas, a violência e as ações vinculadas à cidadania e ao terceiro setor. (BARBEIRO; RANGEL 2006, p.27).
26
1.3 A linguagem do jornalismo esportivo
Antes de falarmos diretamente da linguagem do jornalismo esportivo e da narração
futebolística, abordaremos as características gerais das linguagens radiofônicas e televisivas.
1.3.1 A linguagem de rádio
Heródoto Barbeiro e Paulo Rodolfo de Lima (2001) fazem uma análise a respeito dos textos
de rádio. Os autores analizam o papel de cada membro envolvido na produção de uma notícia.
O texto de rádio difere do texto da imprensa escrita, pois o ouvinte só tem uma chance de
entender a informação. Portanto, a mensagem se dissolve no momento em que é levada ao ar.
Para que a missão de conquistar o ouvinte seja alcançada, o texto deve ser coloquial. O jornalista precisa ter em mente que está contando uma história para alguém, mas sem apelos à linguagem vulgar, e acima de tudo, respeitando as regras do idioma. (BARBEIRO; LIMA, 2001, p. 62).
Segundo eles, o que prende o ouvinte é a naturalidade como a informação é passada, a
naturalidade da fala, a simplicidade e principalmente a pronúncia correta das palavras.
A clareza que buscamos ao redigir um texto deve estar presente na fala. Não é um belo timbre de voz que prende a atenção do ouvinte, mas a naturalidade, a simplicidade e a pronúncia correta das palavras. (BARBEIRO; LIMA, 2001, p. 79).
27
A linguagem radiofônica é diferente da linguagem televisiva. Ela não pode ser considerada
como parte do universo audiovisual. Na televisão, o comunicador pode falar de certo fato
mostrando-o para o telespectador. Já no rádio isso não é possível, pois o ouvinte não está
vendo nada, ele apenas está recebendo uma informação auditiva. Eduardo Meditsch explica
assim:
[...] ao contrário do que afirma o senso comum, e tem sido sacralizado mais ou menos acriticamente pelos meios profissional e acadêmico, a linguagem do rádio não pode ser considerada como integrante do campo audiovisual e deve ser igualmente diferenciada da linguagem da fonografia. (MEDITSCH, 2001, p. 147).
A rapidez como a informação tem que ser dada no rádio leva os profissionais desse meio a
encaminhar ao ouvinte informações quentes, e talvez o profissional ainda não esteja preparado
para dar aquela informação. Por exemplo, quando o jornalista está transmitindo um fato ao
vivo,como um jogo de futebol, ele não sabe o que vai acontecer, por isso tem que usar uma
linguagem diferenciada, para não causar um certo alarde no ouvinte. Isso é diferente da
imprensa escrita, pois o profissional desta tem mais tempo para apurar melhor o fato.
A presunção da oralidade do rádio informativo, como referimos, tem servido de estratégia pedagógica que funciona como antítese em relação à linguagem escrita, para diferenciá-la do jornalismo impresso. (MEDITSCH, 2001, p. 147)
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1.3.2 A linguagem da TV
Como confirma uma pesquisa do IBGE (2006)1, a televisão chega a 90% das residências
brasileiras, o que confirma o poder desse meio de comunicação e sua importância na
sociedade. Isso justifica a preocupação com a importância da linguagem televisiva em seu
conteúdo, mensagens e formas. A televisão brasileira tem pouco mais de meio século de
existência, é uma concessão pública, que pode ser explorada comercialmente, e que, por causa
da sua popularidade, avançou muito em tecnologia. E é exatamente por causa desta
notoriedade que a responsabilidade ética dos profissionais do jornalismo aumenta, devendo:
[...] privilegiar a boa informação, respeitar o interesse público e do público. É preciso buscar uma informação que sustente o senso crítico e permita identificar o que é uma notícia e a dimensão de um fato. [...] a agilidade é uma das características do telejornalismo e não deve servir de álibi para noticiários de má qualidade. (BISTANE; BACELLAR, 2005, p. 10).
A linguagem da televisão propõe ao jornalista um desafio diário, que é relatar com precisão e
síntese, transmitindo a relevância da informação de forma atraente e inteligível. O texto deve
sempre estar “casado” com a imagem, complementando e esclarecendo a informação visual,
sem ser uma mera descrição. Na televisão, não se deve usar palavras de difícil compreensão,
estas devem ser substituídas por termos que se empregam no dia-a-dia, como se estivesse
mantendo um diálogo com os telespectadores, de forma direta e com frases curtas para
1 Segundo o IBGE, foram pesquisados 53.114 domicílios brasileiros, 48.533 (91,4%) residências possuem aparelhos de televisão. Na região sudeste a porcentagem é ainda maior, das 23.801 casas pesquisadas, 22.874 (96,1%) possuem televisor. A pesquisa foi realizada entre os anos de 2005 e 2006.
29
facilitar o entendimento. O ideal é prender o telespectador já no início da matéria, como no
lead do jornal impresso.
O trabalho em televisão lembra o das linhas de montagem das fábricas, em que cada um é
responsável por uma fase da produção; o repórter nem sempre sabe qual vai ser a próxima
matéria. Antes de o repórter sair para uma externa ou atuar como narrador de um evento, são
checados a relevância dos temas, os dados, os fatos e as fontes pela produção.
Narradores, repórteres e cinegrafista devem conhecer aquilo que vão transmitir e para isso é
necessária uma boa interação entre os profissionais. Boa pauta, imagens bem feitas e um
repórter competente facilitam a transmissão e a edição, que pode ser usada nos compactos,
que são exibidos em outros programas.
Na transmissão de futebol, a televisão ainda conta com vários recursos da computação gráfica
que aumentam a interação com o telespectador e auxiliam na passagem mais clara da
mensagem, como as artes para a escalação, para os scouts, a linha de impedimento, o
congelamento de imagens e o replay.
Com a televisão, a narração esportiva tornou-se ainda mais um entretenimento, e assim o
jornalista futebolístico é cada vez mais polivalente. “É preciso colorir o jogo, dourar a pílula,
chumbar os olhos do telespectador”. (BETTING, 2005, p.24). A opinião quando é abalizada,
30
equilibrada, que mostra o outro lado, que possibilita crítica, mostra fatos e deixa espaço para a
opinião alheia deve ser condenada.
1.3.3 Jornalismo esportivo e a narração do futebol
O jornalista Mauro Betting afirma que, até os anos 1930, a linguagem esportiva era voltada
para a elite; portanto, tinha pouco espaço na mídia daquela época. Mário Filho, responsável
pela revolução da linguagem esportiva, percebeu que o esporte, principalmente o futebol,
estava se popularizando e seria necessário adotar uma linguagem simples, mais voltada para a
população pobre.
Nessa época, o rádio contribuiu bastante para o crescimento do jornalismo esportivo; com
isso, os narradores brasileiros criaram seus próprios estilos. Esses profissionais narravam os
jogos e tentavam empolgar e causar emoção no público. Eles distorciam totalmente o fato, ou
seja, exageravam na hora de narrar um lance do jogo. Durante as transmissões, eles usavam a
emoção, o excesso de bordões e as frases cômicas para isso. Como o espectador não podia ver
o que acontecia, ele era obrigado a acreditar em tudo o que o locutor dizia. Com o advento da
televisão, o espectador passou a acompanhar as transmissões de um modo diferente. Portanto,
esse surgimento da imagem, na década de 1950, acarretou em mudanças na linguagem do
jornalismo esportivo. O futebol passou a ser uma grande máquina de gerar audiência na
maioria das emissoras de televisão do país.
31
A importância para TV é tão grande, que até hoje, as maiores audiências das histórias do SBT, Bandeirantes e Rede Gazeta de televisão foram em jogos de futebol, em transmissões de Copa do Brasil, Mundial de Clubes e Libertadores das Américas. (BETTING, 2005, p. 20).
A narração esportiva tornou-se um grande entretenimento para o público. Com isso, o
jornalista que trabalha com o futebol passou a ter que ser mais polivalente, ou seja, ele tem
que passar para o telespectador muito mais que o conteúdo do jogo, precisa agilizar a
informação.
Hoje, o jornalista precisa detalhar a partida, ele tem que passar informações mais detalhadas
ao ouvinte, ao espectador. O jornalista tem que mostrar dados históricos das equipes,
estatísticas do jogo, dados dos jogadores.
Um jornalista-comentarista analisa o jogo dando o outro lado do espetáculo, a informação qualificada, a estatística da partida, os dados que o ‘boleirão’ não tem por que não quer ter, sobre a luz e a inspiração da ética jornalística, de comprometimentos com os dois lados (times) da questão. (BETTING, 2005, p. 38).
Heródoto Barbeiro e Paulo Rodolfo de Lima (2001) abordam que a emoção se torna o grande
item de uma transmissão esportiva, mas, além dela, os narradores precisam conhecer mais as
regras dos esportes, buscar mais objetividade e evitarem exageros. Segundo eles, os exageros
podem transformar a informação em desinformação. Para os autores, as transmissões
esportivas estão seguindo o mesmo estilo de antigamente e isto precisa ser mudado. “As
transmissões esportivas seguem o mesmo estilo há 50 anos.” (BARBEIRO; LIMA, 2001, p.
76).
32
Carlos Fernando Schinner (2004) cita os maiores narradores esportivos da história do Brasil,
como Pedro Luiz, Edson Leite, Mário Morais, Jorge Curi, Fiori Gigliotti, Willy Gonser. Ele
fala um pouco sobre o estilo de narrar e sobre a linguagem usada por eles. Segundo Schinner,
Pedro Luiz era destaque na arte de narrar jogos:
Extremamente técnico, voz clara, estilo sóbrio e impecável, Pedro não ousava errar. E segurava tudo no gogó, numa época que não existiam as famosas vinhetas que dão um colorido especial às transmissões. (SCHINNER, 2004, p. 39).
Uma posição de bastante força no jornalismo esportivo é a dos comentaristas, pois eles
sempre tiveram muita credibilidade perante o público.
Os comentaristas sempre desfrutaram de enorme credibilidade junto ao público, unindo técnica, precisão, análise estatística e carisma. Os craques dos microfones usam esses aspectos como matéria prima. (SCHINNER, 2004, p. 62).
No jornalismo esportivo nota-se muito o uso de uma linguagem bélica, ou seja, os
profissionais da área usam muitas metáforas para passar as informações para os amantes do
esporte. Na cobertura esportiva, quando um time vence o outro por uma grande diferença de
gols, essa vitória na linguagem esportiva é considerada um “massacre”. Não existe um
goleador no futebol, existe o “artilheiro”. Quando um jogador chuta a bola em direção ao gol
e esse chute sai muito forte, os profissionais da imprensa esportiva chamam esse chute de
“bomba”, “tiro”, “pancada”, “porrada”, “foguete”. Um jogo muito difícil, que vale vaga na
fase seguinte, é chamado de “batalha”, como o jogo entre Náutico e Grêmio, no Estádio dos
Aflitos, em Recife, que decidiu a Série B do Campeonato Brasileiro de 2005. Esse jogo ficou
conhecido como “A Batalha dos Aflitos”.
33
O uso do verbo é fluente, e os narradores do passado, de tão letrados que eram, chegavam a ser eruditos em suas transmissões. Era uma maneira de potencializar a veia poética por intermédio das metáforas [...]. (SCHINNER, 2004, p. 103).
Então o narrador é o principal elo entre o público e o meio de comunicação, por isso ele deve
usar uma linguagem simples, direta, objetiva, clara e sem rodeios. Caso contrário, pode perder
a simpatia do público: “[...] a mensagem se perde no ar no momento em que é transmitida. Ou
seja, se não conseguir entendê-la, o receptor talvez não dê a você uma segunda oportunidade.”
(SCHINNER, 2004, p.103); ainda mais quando se trata de uma transmissão ao vivo.
34
2 A CRIATIVIDADE DO RÁDIO E A IMAGEM NA TV
Antes de entrarmos na análise do nosso objeto, vamos fazer um histórico das transmissões de
rádio e de televisão no Brasil. Também faremos uma retrospectiva dos principais narradores
de futebol desses dois meios. Não é novidade que o narrador de rádio utiliza-se de uma
linguagem mais popular, descontraída e com palavras menos formais, até porque este meio é
voltado para o torcedor. Não é preciso comprovações para esta afirmação, quem acompanha
pouco o futebol dificilmente vai ouvir uma partida no rádio. Outra peculiaridade do rádio são
as transmissões regionais, com narrações mais parciais aos clubes do estado da determinada
empresa, como a Itatiaia em Minas Gerais, a Rádio Pampa no Rio Grande do Sul, a Rádio
Manchete no Rio de Janeiro e a Rádio Eldorado em São Paulo. Esses meios de comunicação
direcionam as transmissões aos times de seus estados e, com isso, os narradores torcem juntos
com os ouvintes.
[...] o estilo peculiar de transmitir uma partida faz dos locutores esportivos na transmissão radiofônica, parte do jogo. Essa narrativa do rádio parece ter sido incorporada ao espetáculo. Daí o torcedor levar o aparelho para os estádios, como uma “muleta” para “ver melhor” o jogo, ou optar por assistir a tv, mas se manter fiel ao áudio do rádio. (GUERRA, 2006, p. 3).
Já a televisão tem um público mais amplo, as transmissões de grande parte dos jogos passam
para todo o Brasil. O telespectador muitas vezes desconhece regras, os bordões e os jargões
próprios da linguagem de torcida de futebol. Por isso, o narrador televisivo tem que ter uma
linguagem mais didática, explicativa e informativa. E a imagem, em si, formaliza a linguagem
da narração. “O que muda é a maneira como as informações são transmitidas” (BISTANE;
BACELLAR, 2005, p. 41). Ou seja, Bistane e Bacellar (2005) afirmam que não tem como
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inventar diante da imagem, ela dentro de uma transmissão futebolística subsidia a
compreensão do telespectador. Mas é claro, o narrador televisivo também usa do artifício da
emoção, sabendo colorir o jogo de acordo com a imagem, que muitas vezes também é
emocionante. Para ilustramos o capítulo em questão, entrevistamos quatro narradores: Marcos
Leandro, da TV Globo Minas; Jota Junior do canal pago Sportv; Mário Henrique, da Rádio
Itatiaia e Osvaldo Reis (Pequetito, como é conhecido) da Rádio Globo Minas. O interessante é
que todos eles já trabalharam no rádio e na televisão.
2.1 O futebol antes da TV
A relação do futebol com a mídia começou a ganhar força a partir do final da década de 1920,
quando as emissoras de rádio começaram a divulgar pequenas notícias sobre partidas de
futebol realizadas em São Paulo e no Rio de Janeiro. Quando começaram as primeiras
transmissões esportivas pelo Rádio, os jornais impressos é que tinham o dever de ajudar os
ouvintes a entender um pouco sobre táticas e colocação dos jogadores em campo.
Como não havia TV, eram os jornais que publicavam um esquema do campo de futebol, cheio de quadros, indicando a colocação dos jogadores. Este recurso serviu durante algum tempo para ajudar o ouvinte a “visualizar” as quatro linhas principais do campo e as subdivisões, além de permitir que acompanhasse a movimentação dos jogadores. (BAUM, 2004, p.7).
O futebol começou a ganhar força dentro da sociedade a partir do final da década de 1930
quando ocorreram as primeiras transmissões em rede nacional pelo rádio. A primeira Copa do
Mundo transmitida em rede nacional foi a de 1938, disputada na França. A transmissão foi
36
comandada por Leonardo Gagliano Neto, da Rádio Clube do Brasil, do Rio de Janeiro. O
acontecimento levava as pessoas a se aglomerarem em alguns locais para ouvir as
transmissões.
Quem não tinha rádio em casa, se aglomerava no Largo do Paissandu, em São Paulo. Por esse país afora, onde fosse viável, as pessoas se reuniam para não perder as transmissões ampliadas pelos alto-falantes que as emissoras espalhavam em lugares estratégicos, inclusive os estádios de futebol: os apaixonados pelo futebol não queriam perder a façanha dos craques patrícios nos campos franceses. (AMARAL, 2001).
Quando começaram essas transmissões de futebol, as condições técnicas eram muito precárias
e nem sempre a narração do jogo chegava ao destinatário, ou seja, o ouvinte, como explica o
escritor e narrador Carlos Fernando Schinner (2004): “Nos primórdios do rádio, as
transmissões esportivas eram heróicas, e nem sempre chegavam aos ouvidos do público por
intermédio dos enormes receptores de rádio” (SCHINNER, 2004, p. 21).
O avanço nas melhorias de transmissões nas partidas de futebol começou a partir de grandes
inovações tecnológicas. Antigamente o profissional de rádio transmitia o jogo todo, mas não
sabia se a transmissão havia ocorrido, ou seja, ele trabalhava incansáveis horas sem ter a
certeza de que o trabalho teria dado certo.
O locutor contava até dez e recebia uma ordem para iniciar a irradiação, como se falava na época. E como não havia o retorno de áudio, o jeito era sair do estádio após o jogo e ir correndo para o hotel para esperar a mensagem telegráfica confirmando a recepção. (SCHINNER, 2004, p. 22).
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Nessa época o futebol não tinha tanta repercussão. Tanto que apenas uma empresa patrocinou
a primeira transmissão de uma Copa do Mundo, feita por uma emissora brasileira. Foi a
empresa Cassino da Urca. Na Copa de 1938, Leonardo Gagliano Neto foi o único profissional
da imprensa da América do Sul a trabalhar. O locutor enfrentou muitas dificuldades na
transmissão realizada em ondas curtas, e teve que narrar as partidas na beira do gramado ou,
quando possível, de algum telhado nas redondezas do estádio, e até da geral. “Gagliano era o
único radialista sul-americano em ação nos estádios franceses.” (AMARAL, 2001).
Ainda segundo Amaral, “naquele tempo, não existiam comentaristas, repórter de campo e
toda a equipe que atualmente participa de uma transmissão” (AMARAL, 2001). As grandes
equipes que hoje transmitem um jogo de futebol surgiram com o passar dos anos.
Antigamente apenas um narrador era responsável por toda a transmissão.
2.1.1 A imaginação dos locutores esportivos
As primeiras transmissões esportivas no Brasil foram feitas pelos profissionais Romeu Tuma
e Amador Santos. Com o passar do tempo foram surgindo estilos próprios de narração
esportiva. Para ilustrar o jogo para o ouvinte e conquistar sua audiência, os narradores
utilizam-se de formas criativas, inventam bordões e expressões para identificar o que estão
falando.
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Durante mais de 70 anos de transmissões esportivas, o rádio brasileiro revelou grandes nomes
da narração. Em Minas, nas décadas de 1970 e 1980, os nomes mais lembrados são os de
Vilibaldo Alves, que teve uma passagem marcante pela Rádio Itatiaia e costumava anunciar o
gol com a palavra “Adivinhe”. Outro que marcou época foi o goiano Jota Júnior, que
comandava as transmissões da então líder de audiência daquela época, a Rádio Guarani,
pertencente ao Grupo Diários Associados. Jota, com seu estilo inconfundível, anunciava o gol
dizendo o nome do goleiro e pronunciando a frase “Vai buscar lá dentro, fulano” (LINO,
2003)
Com a saída de Vilibaldo Alves, a Rádio Itatiaia teve que buscar dois locutores que até hoje
fazem sucesso na emissora mineira com seus estilos irreverentes de comandar as transmissões
esportivas. Um deles já tinha uma passagem pela Rádio, mas estava trabalhando em outra
emissora. Era Alberto Rodrigues, que voltou para não mais sair. O “Vibrante”, como é
conhecido, conquistou a admiração da torcida cruzeirense com sua criatividade e imaginação.
Alberto criou um modo de conquistar os cruzeirenses, o de apelidar os jogadores do Cruzeiro.
Ao longo dos anos foram muitos os que ganharam uma pitada de bom humor do “Vibrante”.
O jogador Alex era chamado de “Talento Azul”, Ricardinho era o “Mosquitinho Azul”,
Ramires é chamado de “Perna longa Azul”, entre outros.
De Curitiba, veio aquele que é chamado de “O locutor esportivo mais completo do Brasil”,
Willy Gonser. Quando a Itatiaia decidiu que teria um narrador para cada time de Minas, Willy
foi escolhido para ser o narrador dos jogos do Atlético. Um marco, nesses quase 30 anos
narrando os jogos do Atlético, é a música do cantor Benito de Paula, que diz o seguinte: “É
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gol, que felicidade. O meu time é alegria da cidade”. Quando essa música é tocada, Willy está
anunciando um gol do Atlético. Willy Gonser tem um grande feito na carreira. Já participou
da cobertura de 11 Copas do Mundo, em 55 anos de profissão. Outros grandes nomes da
narração esportiva em Minas são Milton Naves, Mário Henrique, Oswaldo Reis (o Pequetito)
e Jairo Anatólio Lima, um dos mais antigos narradores esportivos de Minas.
Em São Paulo um dos maiores nomes da narração foi Fiori Gigliotti, conhecido como
“locutor da torcida brasileira”. Fiori criou vários bordões durante a sua carreira como “abre a
cortina, começa o espetáculo”, “é fogo no boné do guarda” e “crepúsculo de jogo”. Outro
nome importante do rádio paulista foi Sílvio Luís. Sílvio migrou para a TV, e conseguiu
grande êxito, mesmo mantendo um pouco do estilo do rádio com a fala de bordões. Mas
nenhum é tão lembrado como Osmar Santos, chamado de “O pai da matéria”. Muitos
especialistas dizem que Osmar Santos chegava a pronunciar mais de 100 palavras por minuto
sem cometer erros. Nas transmissões Osmar Santos usava a sua criatividade para lançar
expressões como “ripa na chulipa” e “pimba na gorduchinha”.
Dirceu Maravilha seguiu um pouco do estilo de Osmar Santos e conquistou uma enorme
audiência no rádio de São Paulo. Entre as frases que surgiram da imaginação de Dirceu
Maravilha estão “Se for pro gol, me chama que eu vou”, “Estou sentindo o cheiro de gol”,
“com ele não tem talvez, ele foi pra rede outra vez” e “Tô por conta da galera”. O também
mineiro, José Silvério, é um dos mais ouvidos hoje em São Paulo. Ele é considerado por
muitos como um dos narradores mais dramáticos do rádio. Quando acontece um gol, Silvério
diz: “Eu vou descer pra te abraçar”.
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No Rio de Janeiro, grandes nomes da narração esportiva são lembrados até hoje. Maurício
Menezes, Luiz Carlos Silva, Sérgio Morais, Airton Rabelo, Celso Garcia e José Carlos Araújo
(O Garotinho), que hoje é o principal narrador da Rádio Globo do Rio.
2.1.2 Caixa e Pequetito, a criatividade radiofônica
O estilo popular de narrar é bem característico da transmissão radiofônica de futebol, uma vez
que na televisão a transmissão assume uma postura mais descritiva e informativa, sendo
apenas um complemento para a imagem. Os narradores que usam o estilo popular de narrar
buscam facilitar a assimilação do torcedor e conquistar a sua audiência. Utilizando formas
criativas, inventam bordões e trazem da cultura popular, expressões que facilitem a
identificação do ouvinte com o que é dito por ele. A transmissão na rádio, por si só, já envolve
o ouvinte ao ponto de criar a sensação de estar dialogando com o emissor. E, exatamente por
isso, os locutores que usam uma fala carregada de bordões, sinonímias e expressões populares
conseguem atingir exatamente o público que gosta de futebol. Essa narrativa possibilita ao
espectador imaginar o que está acontecendo no estádio. E foi provavelmente por causa dessa
linguagem estereotipada, e cheia de clichês que esse tipo de narrador de rádio conseguiu seu
lugar dentro do próprio futebol, conquistando o “povão”, as pessoas de classes mais baixas,
que usam um linguajar mais coloquial. O torcedor começou então a perceber a transmissão
como parte do espetáculo. Ouvir uma narração esportiva feita por um narrador popular é ver
além do próprio futebol, é antes de qualquer coisa um espetáculo a parte.
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O narrador de outrora não se limitava a acompanhar os eventos, tinha de fazer parte deles. Considerava-se personagem da ação que se desenrolava[...] sem ele o espetáculo não existia e as cortinas não se abriam, logo estavam incompletos. (BARBEIRO, 2006, p.48)
Ary Barroso é um ótimo exemplo de narrador popular e irreverente. Ele foi o precursor desse
tipo de narração no Brasil, e um dos primeiros a usar bordões e incrementar sua narração com
outros recursos; entre eles o uso de uma gaita que ele tocava na hora dos gols. Como já
falamos anteriormente, Waldir Amaral, Fiori Gigliotti, Oduvaldo Cozzi, Silvio Luiz e Osmar
Santos, entre outros, também são bons exemplos desse tipo de narração mais popular do rádio
brasileiro, tendo influenciado vários outros narradores que vieram depois.
A transmissão do futebol no rádio tem um marco divisório estudiosos do veículo, cronistas esportivos e torcedores habituados a ouvir as irradiações das partidas são unânimes em destacar que existe uma fase antes e outra depois de Osmar Santos. (GUERRA, 2006, p.6).
A “rádio de Minas”, como é conhecida a Rádio Itatiaia, é a principal rádio transmissora de
futebol em Minas Gerais. Mesmo não sendo voltada exclusivamente para o esporte, a Itatiaia
é referência quando se trata do assunto. Com uma audiência fiel, ela se destaca por possuir,
atrás dos microfones, locutores emocionantes e completamente parciais, que são aclamados
pelos torcedores mineiros, como Willy Gonser e Alberto Rodrigues. Eles são adorados pelos
torcedores que se identificam muito com o jeito popular de narrar adotado por ambos. A
equipe de narradores é composta ainda por Ênio Lima, Milton Naves e Mário Henrique da
Silva, esse último nos concedeu uma entrevista para esta pesquisa. Sobre a Itatiaia Mário diz o
seguinte:
42
A Itatiaia é uma parceira do torcedor mineiro, o cara que escuta Itatiaia fica mais seguro mais confiante. Às vezes você está fazendo jogo lá em Taguatinga e aparece um cara eu “sou lá do Barreiro, trabalho em uma empresa não sei onde” e o cara tem prazer de ouvir Itatiaia. A audiência da Itatiaia é uma coisa que impressiona até a gente mesmo, é uma coisa muito grande, eu nunca vi uma radio com o poder que tem a Itatiaia, a relação com o torcedor é muito grande. (ANEXO III).
Mário Henrique da Silva começou a trabalhar em rádio aos 15 anos. A primeira oportunidade
foi na rádio Três Pontas, em sua cidade natal. Mário ainda trabalhou na rádio Sentinela,
também em Três Pontas, antes de se mudar, em 1991, para Belo Horizonte para ser narrador
da Rádio Globo, que naquela época estava começando a transmitir futebol. Depois de dois
anos na Rádio Globo, Mário Henrique se transferiu em 1993 para a Rádio Itatiaia, na qual
permanece até hoje. Em seu currículo, Mário carrega três copas do mundo (1998, 2002, e
2006) e quatro Olimpíadas (1996, 2000, 2004 e 2008).
Influenciado principalmente por Villibaldo Alves, Oswaldo Maciel, José Carlos Araújo e Luiz
Penido, Mário Henrique adota um estilo “popular” de narrar, abusando de expressões
idiomáticas e bordões. A característica mais marcante de sua narração é o bordão “caixa”, que
é usado por ele para narrar um gol. O bordão é tão popular que virou inclusive o apelido do
narrador. Sobre o uso de tantas expressões e bordões, Mário Henrique comenta:
Eu sou bem popular, não sou muito de ficar “eu quero crer” não, eu vou é de “boca do gol”, “boca do balaio”, “chego o reio”. Umas coisas assim que o povão gosta. Eu não narro pro governador, eu narro é pro cara que foi de ônibus pro Mineirão, que é a maioria, e é daí que eu acho que vem a minha popularidade.(ANEXO III).
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Ainda seguindo o estilo popular, entrevistamos também Osvaldo Reis, o “Pequetito” da Rádio
Globo AM de Belo Horizonte. Osvaldo começou na Rádio Progresso de Monte Santo de
Minas, depois passou para a rádio Difusora em São Sebastião do Paraíso, seguiu para a Rádio
Cultura, de Alfenas, depois Rádio Atenas, de Alfenas, Rádio Passos, de Passos, Rádio Minas
Liberdade, de Passos, Rádio Convenção, de Itu, Radio Nova Sumaré, na grande Campinas,
Rádio Inconfidência, CBN e está na Rádio Globo Minas desde 2002. Pequetito se diz
influenciado por Fiori Gigliotti, Alfredo Orlando, Jorge Cury, Valdir Amaral e principalmente
por Osmar Santos, que para ele é o melhor narrador que já escutou.
Osvaldo Reis vê o estilo popular de narrar como parte importante da partida; segundo ele,
quanto pior o jogo, melhor é para o narrador, pois é nesse momento que aparece a
oportunidade de mostrar o seu melhor e aprimorar o seu trabalho. “Não tem jogo ruim, você é
que tem que fazer o jogo ficar bom.” (ANEXO IV, 2008)
No modo mais popular é comum ver narradores fazendo comentários sobre o jogo, o que eles
mesmos consideram errado. Mário Henrique, por exemplo, afirma que é um erro narrador
comentar, mas se justifica dizendo que de vez em quando é difícil segurar um comentário:
Tem dia que o jogo está tão ruim, que você perde a paciência, você vai vendo tanta besteira em campo que não tem jeito. Mas eu tento me policiar, eu acho que isso atrapalha sim. Porque o torcedor já está ali xingando também, se você começa a falar demais na cabeça dele e o cara desanima. (ANEXO III)
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Pequetito concorda com a afirmação de Mário Henrique e completa:
[...] eu procuro evitar, porque eu acho que narrador tem é que narrar, mas a gente comete esses erros sim, a gente dá muito pitaco, começa a dar opinião, começa querer forçar alguma coisa pra cima do comentarista... Mas é claro que em alguns lances a gente precisa comentar também. (ANEXO IV).
Osvaldo Reis e Mário Henrique tiveram experiências com narração televisiva, ambos pelo
canal pago Sportv. Mário Henrique de 2000 até 2003 e Osvaldo Reis no Campeonato Mineiro
de 2008. Os dois dizem gostar da narração televisiva, porém ambos afirmam que precisam
mudar o estilo de narrar quando estão na televisão. Osvaldo reclama da presença do diretor
falando na televisão: “Toda hora o diretor ficava no ponto pedindo mais calma, porque a bola
passava do meio de campo e eu já começava a falar mais alto” (ANEXO IV). Mário Henrique
explica que prefere o rádio por causa da liberdade: “[...] me sinto mais à vontade no rádio. Na
TV você fica com um coordenador no caminhão, um coordenador no Rio, o cara toda hora te
podando, não fala isso, não fala aquilo” (ANEXO III). Mário afirma ainda que acha o rádio
mais completo, por passar mais detalhadamente todas as informações do jogo:
[...] Tem jogo às seis horas da tarde e a gente começa a transmissão às duas horas da tarde, a gente fica falando “vai ser um jogão”, “os caras chegaram”, “olha o ônibus do Cruzeiro”, “olha o ônibus do Atlético”. Eu acho isso fundamental. (ANEXO III).
“Pequetito” e “Caixa”, no entanto, discordam sobre a necessidade de se passar pela rádio
antes de narrar na televisão. Mário Henrique acha que a televisão “estraga” os narradores de
rádio, e cita exemplos.
45
Você sente a diferença de quem narra no radio e na TV, o Luís Roberto [narrador da Rede Globo], por exemplo, ele veio do rádio, neste meio o acho genial, e na televisão fraco. Eder Luís é excelente no rádio, na televisão fraco, e é exatamente por isso, na TV o cara te poda tanto que você perde a graça. (ANEXO III).
Osvaldo Reis também cita exemplos, porém ele afirma ser importante a passagem pelo rádio
antes de narrar em televisão, pois o rádio dá uma boa base para o narrador.
Eu acho que vale a experiência adquirida no rádio, você pega os grandes narradores de TV, e vê que todos vieram do rádio, você pode pegar Luciano do Valle, Cléber Machado, Luis Roberto, todos esses vieram do rádio, então eu acho que é importante passar pelo rádio sim. (ANEXO IV)
Sobre serem formadores de opinião, ambos concordam que o poder que se consegue com o
microfone é forte, e que por isso deve-se sempre ter muito cuidado “a gente recebe muito e-
mail aqui do pessoal falando ‘eu concordo com você’[...] Temos uma responsabilidade junto
ao público que é forte, o pessoal confia muito na gente” (ANEXO III). Pequitito acredita que
o narrador tem que se policiar antes de se expressar: “acho que isso é muito perigoso, tem que
ter muito cuidado com o que vai falar; às vezes de brincadeira você pode falar uma coisa e o
torcedor se sentir ofendido (ANEXO IV). Osvaldo Reis ainda afirma que também é preciso
prestar atenção no que se fala, para não errar. Ele diz que tenta sempre levar em conta as
coisas que outras pessoas falam para ele na rua.
Hoje o torcedor é muito é muito ligado, acessa muito a internet, e muitas vezes sabem muito mais do que você. Nós somos muito corrigidos, ainda mais quem pensa que sabe tudo. (ANEXO IV).
Como já foi dito há alguns parágrafos anteriores, o narrador de rádio assume um lugar de
extrema importância na transmissão de uma partida. Osvaldo Reis afirma que no Brasil a
46
ligação das pessoas com os narradores de rádio é algo natural, principalmente os narradores
regionais; ele acha que o vínculo criado entre esses narradores e o público é imprescindível
para uma boa transmissão.
Acho que aqui em Belo Horizonte, é importante sim, você vê as crianças nas ruas imitando o Alberto Rodrigues, o Willy Gonzer, e isso tudo é muito importante pra criação, passa de pai pra filho. O futebol faz parte da nossa vida, e eu acho que a transmissão no rádio também. (ANEXO IV).
Mário Henrique, apesar de concordar com Osvaldo, diz que a importância do narrador é tanta,
que ele também é responsável pela supervalorização dos jogadores de futebol:
Nós somos culpados por esses altos salários de jogadores, porque colocamos os atletas como se fossem deuses. Acho que o trabalho nosso é de grande importância para o futebol, mas eles não reconhecem isso. [...] Eu queria ver, se todas as rádios ficassem um mês sem noticiar futebol, parar mesmo. Sei que isso nunca iria acontecer por causa da briga da audiência, mas se acontecesse, os dirigentes, jogadores e empresários passariam mal, tomariam um susto daqueles. Eles ficaram mal acostumados. (ANEXO III)
Henrique (2008) acredita que os meios de comunicação sustentam o futebol, sem eles o
esporte não teria esta dimensão, esta repercussão mundial.
2.2 Contra imagens não há argumentos
Segundo Guerra (2006), a televisão, mesmo com toda a evolução tecnológica, ainda não
chegou a uma narrativa própria do futebol. É verdade que os narradores de televisão vieram
47
do rádio, por isso a dificuldade de uma identidade própria de linguagem. Mas o que pouca
gente sabe, é que o mineiro de Leopoldina, Olavo Bastos Freire, foi o responsável pela
primeira transmissão televisiva no Brasil. Ele transmitiu para algumas pessoas da cidade Juiz
de Fora o jogo entre Tupi e Bangu, que ocorreu nesta mesma cidade. Freire era operador de
câmera e foi o responsável por todos os equipamentos da transmissão, todos criados por ele.
Ou seja, a transmissão televisiva no Brasil surge com uma partida de futebol e a linguagem da
narrativa televisiva ainda não tem uma identidade, parece contraditório, mas não é. Foi só nos
anos 1980 que a transmissão futebolística se consolidou na TV: “Durante os anos de 1980, a
televisão abriu o leque de coberturas esportivas com as transmissões de campeonatos de
futebol” (SCHINNER, 2004, p. 25).
Mesmo com o esporte ganhando espaço na televisão, até o final da década de 1970, as rádios
ainda dominavam, tinham um público maior e faturavam mais comercialmente. Para a
afirmação da transmissão do futebol na TV, Schinner (2004) explica:
[...] para que houvesse a consolidação de grandes projetos e a garantia das conquistas das fatias de audiência e de mercado, as emissoras se apoiaram em nomes consagrados do rádio. Isso porque eles carregam milhares de fãs, além, é claro, dos preciosos patrocinadores. [...] Da mesma maneira que os torcedores querem nomes famosos em seus clubes, as emissoras também apostam em nomes consagrados em seu elenco. (SCHINNER, 2004, p. 27).
A TV Bandeirantes é a principal responsável por esta consolidação, ao trazer nomes
consagrados do rádio como Sílvio Luiz e Luciano do Valle; este último era o principal
narrador da Rede Globo. “Em virtude do grande sucesso alcançado, a emissora passou a ser
chamada de ‘O Canal do Esporte’.” (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p. 68). Com esses
48
profissionais, a emissora investiu nas transmissões de campeonatos internacionais e não
deixava de cobrir os principais torneios no Brasil.
2.2.1 Os narradores da imagem
Com o aumento das transmissões de televisão, alguns narradores de rádio migraram para a
televisão e se destacaram pela inovação da linguagem. Osmar Santos foi o principal elo de
transição da linguagem radiofônica para a televisiva na narrativa futebolística. Com ele, a TV
Globo resolveu inovar e incorporou os bordões de Santos às vinhetas de programação. Osmar
Santos tinha uma linguagem bastante informal e jovem, continuando com os seus bordões
usados no rádio. “Osmar Santos transmitiu a Copa de 1986. [...] Foi o momento em que a TV
Globo começou a mudar a linguagem junto ao público- telespectador” (SCHINNER, 2004, p.
47). Apesar de os narradores virem do rádio, as transmissões televisivas tinham uma narrativa
mais descritiva, com menos emoção. Nomes como Fernando Solera, José Carlos Cicarelli,
Rui Viotti, entre outros, tinham estilos mais formais de narração.
Os críticos contumazes tentaram provar que o narrador de futebol era absolutamente desnecessário nas transmissões televisivas, devendo se manter discreto, apenas como um condutor das jogadas que estavam sendo mostradas no vídeo. (SCHINNER, 2004, p. 53)
Foi a partir de Osmar Santos que surgiram nomes consagrados, conhecidos pelo público como
Galvão Bueno, Luciano do Valle, Sílvio Luiz, Fernando Sasso, Cléber Machado, Luiz
Roberto, Rogério Côrrea e tantos outros.
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Carlos Eduardo Santos Galvão Bueno ou simplesmente Galvão Bueno, é, sem dúvida, o mais
consagrado locutor esportivo do Brasil. Galvão é sinônimo de emoção para os torcedores
brasileiros, principalmente em época de Copa de Mundo. Ele é dono do grito de gol mais
conhecido nacionalmente: “Gooool. É... do Brasil”. E de narrativas próprias como “sai que é
sua Taffarel”, “Denílson neles”, “Pedala Robinho”. Além de enfatizar a letra “R”, ao gritar os
nomes dos principais jogadores do Brasil como Romário, Ronaldinho, Rivaldo, Ronaldinho
Gaúcho e Robinho. Antes de ser narrador televisivo - entrou para televisão em 1981 -, Galvão
era comentarista esportivo de rádio. Há 25 anos é o principal narrador da Rede Globo, e
possui um estilo de narrar peculiar, o de narrador-comentarista. Pelo poder alcançado – é o
narrador mais popular e por isso o de maior audiência -, Galvão extrapola nos comentários,
que é de função de outros profissionais, opina a todo o momento, além de criticar com
veemência alguns jogadores.
Nunca, em tempo algum, o país possuiu um comunicador com tanta audiência concentrada, principalmente nas transmissões exclusivas em que os concorrentes acusam a Globo de monopólio. Talvez essa ação da poderosa emissora nas últimas décadas tenha inibido o surgimento de concorrentes à altura. O que não tira os méritos do narrador, e que você goste dele ou não, há de reconhecer que Galvão Bueno é verdadeira voz do Brasil. (SCHINNER, 2004, p. 57).
Outro narrador que merece destaque é Luciano do Valle; como já falamos, ele é um dos
responsáveis pela consolidação da transmissão esportivas no Brasil. Luciano é dono de uma
narrativa emocionante, que tem por característica o grito de gol longo e a voz marcante.
Também pelo poder adquirido, pelos trabalhos marcantes na TV Globo, Bandeirantes e Rede
Record, Luciano exagera nos elogios e abraços aos amigos e patrocinadores.
50
Mesmo assim, ele continua sendo extremamente respeitado nos meios esportivos e consegue manter um público absolutamente fiel. Por sua credibilidade conquistada em décadas de profissão, muitos espectadores o têm como o melhor narrador da televisão brasileira. (SCHINNER, 2004, p. 55).
Atualmente, Luciano do Valle é o narrador número um da TV Bandeirantes; crítico, ele
repreendeu dois comentaristas em programa na própria emissora. Por ter trabalhado algum
tempo no Recife para uma afiliada da Bandeirantes, Luciano não gostou dos comentários de
dois profissionais da emissora, que criticaram um time pernambucano, antes da final da Copa
do Brasil de 2008. O narrador chamou os colegas de bairristas e ainda estendeu a crítica aos
cronistas esportivos paulistas.
Agora, o mais ousado dos narradores televisivos é Sílvio Luiz. Atualmente desempregado,
Sílvio é, sem dúvida, o dono de um arsenal de frases e expressões criativas da narração
esportiva brasileira como “Pelas barbas do profeta”, “Olho no Lance...”, “É mais um gol
brasileiro”, Foi, foi, foi ele”, “Pelo amor dos meus filhinhos”, “Minha Nossa Senhora!”, “Esse
até minha sogra fazia!” e tantos outros. Silvio Luiz é o mais espontâneo narrador de futebol da
televisão brasileira. Ele tem uma característica humorística diferenciada, mesclada com uma
voz grave e marcante.
Numa partida absolutamente enfadonha e chata [...] Sílvio não teve dúvidas: tirou do bolso uma receita de bolo e mandou ver [...]Algo absolutamente inusitado. Sem contar as brincadeiras e provocações feitas ao torcedor e jogadores. (SCHINNER, 2004, p.58).
Segundo Guerra (2006), Sílvio Luiz é o único narrador que encontrou a fórmula de transmitir
pela TV sem cair na mesmice.
51
Sílvio Luiz trouxe para a transmissão do futebol na TV, o comportamento do torcedor da arquibancada e do que vê o jogo pela televisão e comenta com quem está ao seu lado ou sozinho. Ele cria, inclusive, um diálogo com o telespectador. Ao contrário de descrever cada jogador que tocou na bola e de utilizar a redundância, já apontada neste trabalho como um aspecto negativo da narração televisiva, ele apresenta um estilo que foge ao óbvio. (GUERRA, 2006, p.5)
Filho de atriz, Sílvio Luiz trabalha como comunicador desde criança e na televisão,
especificamente, começou no ano de 1952, na TV Paulista, hoje TV Globo São Paulo. Um
dado curioso é que, em 1982, quando estava na Record, Sílvio não poderia narrar a Copa do
Mundo pela televisão, pois a Globo tinha exclusividade. Criativo, Sílvio transmitiu os jogos
pela rádio Record e lançou a campanha: “Veja a Copa na TV, mas ouça com o coração”.
Sílvio foi demitido da TV Bandeirantes em novembro de 2008.
Outros narradores que se destacam na televisão são: Cléber Machado, o principal narrador da
TV Globo São Paulo, área de medição do Ibope. Cléber começou como repórter de rádio e
televisão e em 1989 estreou como narrador de TV; Luiz Roberto, que é o principal narrador
dos jogos de rede (transmissão de maior amplitude no país) do Campeonato Brasileiro pela
TV Globo. Luiz também vem de uma escola radiofônica e por isso tem um estilo vibrante de
narração.
Em Minas Gerais, Fernando Sasso foi o narrador de televisão que mais se destacou. Famoso
por usar o bordão “Tá no filó”, em vez de gritar gol, Sasso trabalhou na TV Globo Minas
durante 15 anos, na década de 1980 e início de 1990. Antes, foi repórter de rádio e narrador da
extinta TV Itacolomi, de Minas Gerais. Depois, trabalhou como comentarista da Rádio
Itatiaia. Fernando Sasso, que faleceu em 2005, aos 68 anos, tinha uma voz inconfundível,
52
tranqüila, típica de mineiro. Narrava o jogo com uma voz estável, como se estivesse
comentando com o telespectador.
Outro destaque em Minas Gerais é Rogério Côrrea. Desde 2003, na TV Globo Minas,
Rogério é o quarto narrador de rede da emissora, participou de coberturas, como a Copa de
2006 e a Olimpíada de 2004 e 2008. Côrrea não foi narrador de rádio, trabalhou como
repórter no rádio e na televisão, além de apresentador de um programa esportivo de TV, antes
de ser convidado a trabalhar como narrador de futebol no canal pago PSN, em 2000. Rogério
tem um estilo de narrador-informante; nas transmissões gosta de informar estatísticas e
históricos. O narrador tem uma voz jovem, inovadora e bem-humorada.
Outro narrador com um estilo jovem de narração é Marcos Leandro da TV Globo Minas e dos
canais pagos Sportv e PFC. Ele e o experiente narrador Jota Júnior, do Sportv, foram
entrevistados nesta pesquisa, para analisarmos, um pouco mais, a narração televisiva do
futebol.
53
2.2.2 A narração televisiva, segundo Jota Jr. e Marcos Leandro
“Uma transmissão de futebol é muito dinâmica e envolvente, porque os espetáculos são
envolventes” (ANEXO I). O experiente narrador José Francischangelis Júnior, ou Jota Junior,
como é conhecido, acredita que o narrador não deve interferir na partida, não deve opinar,
porque, segundo ele, o espetáculo é muito maior do que isso. Aos 59 anos, atualmente no
canal pago Sportv, Jota Jr. tem sete Copas no Mundo e quatro Olimpíadas em seu currículo.
Apesar de não ser formado, Jota começou a trabalhar cedo como jornalista, em 1969,
escrevendo para um jornal de Americana, sua cidade natal e em seguida como locutor, em
uma rádio local.
Comecei, em 1969, escrevendo para um jornal da minha cidade e logo depois fui para o rádio. A paixão pelo rádio me despertou para a atividade. E também por gostar de esporte. (ANEXO I).
Jota explica que a TV foi circunstancial na carreira dele. Como trabalhava na rádio Gazeta,
ele foi deslocado para transmitir na televisão da mesma empresa. Desde 1983 trabalhando
neste meio, Jota acredita que a linguagem da narração televisiva tem que ser o mais simples
possível, pois o telespectador não gosta de palavras complicadas. “Não gosto de inventar. Até
pelo fato de que numa jornada de televisão, o mais importante não é o narrador, mas as
imagens do evento” (ANEXO I). Júnior ainda explica que o tom de voz de uma locução de
televisão deve aumentar apenas quando o lance é agudo, ou seja, nos lances que acontecem
dentro da grande área do jogo de futebol.
54
Marcos Leandro de Oliveira, da TV Globo Minas, concorda com Jota Júnior e afirma que o
narrador tem que entrar decidido para narrar um gol, momento máximo do futebol. Segundo
ele, quando o narrador está ligado na partida, o timbre de voz aumenta automaticamente nos
lances crucias. Leandro também trabalhou em rádio; segundo ele, a desenvoltura aprendida
neste meio o ajudou muito na desenvoltura e improvisação na narração de TV. “Quando sinto
o perigo de gol, automaticamente já vem a explosão, tem que segurar o gogó” (ANEXO II).
No rádio, Marcos Leandro de Oliveira trabalhou como apresentador de programas de músicas
em rádios populares, antes de se formar em jornalismo. Depois de formado, Leandro
ingressou para a Rede Minas, e lá começou a trabalhar com narração esportiva. Em 2005, foi
chamado para trabalhar como repórter da TV Globo Minas. Como o narrador principal da
emissora, Rogério Côrrea, faz trabalhos para a Globo rede – transmissão para todo o Brasil - ,
em 2006, Leandro teve a oportunidade de começar a narrar para os canais pagos da Globosat,
Sportv e PFC e em seguida para a TV Globo Minas, narrando jogos do Atlético-MG no
Campeonato Brasileiro da série B, em 2006.
Marcos Leandro, aos 32 anos, tem um estilo jovem de narração, inspirados em narradores de
rádio. “É um esporte popular, então se você ficar muito ‘carrancudão’ ali, não jogar um
sorriso, um gracejo na narração, não dá uma temperada, eu acho que fica aquela coisa”
(ANEXO II). Segundo ele, o narrador tem que um lado irreverente, deve usar um “sorriso” na
voz e cita alguns profissionais que possuem este estilo, como Mário Henrique do rádio e
Rogério Côrrea e Luiz Roberto, da TV, outros narradores da nova geração.
55
Jota Junior e Marcos Leandro concordam que a paixão pelo clube não pode influenciar em sua
narrações de maneira nenhuma.
Teve uma vez que eu narrei naquele esquema da Rede Minas – compacto – a final da Copa do Brasil entre Cruzeiro e Flamengo, ficou três a um para o Cruzeiro aqui no Mineirão. Neste jogo, o Cruzeiro foi campeão. Era só local, pois o compacto passaria só para Minas Gerais. No dia seguinte passou os melhores momentos no programa da tarde. Rapaz, o Cruzeiro fez três a zero, e no segundo tempo o Flamengo fez um gol. Mas eu narrei tão chocho, e eu ouvi aquilo no dia seguinte e me incomodou profundamente. (ANEXO II).
Segundo Jota, ele é favorecido por nunca ter sido fanático pelo clube que torce. O narrador
afirma que é frio diante das emoções do esporte, o que, segundo ele, é raro na área de
narração. “Tenho que respeitar todos os torcedores, de todas as agremiações. Não seria
honesto se puxasse para este ou aquele lado”. (ANEXO I).
Sobre as diferenças das narrações de rádio e televisão, Jota Jr. afirma que a linguagem no
rádio é mais liberal, mais íntima do ouvinte e a rádio não tem tanta repercussão quanto na
televisão. De acordo com o narrador, na TV tudo fica amplificado e repercute mais
fortemente; para ele, a televisão fica mais exposta às críticas e retaliações.
Marcos Leandro finaliza dizendo que o narrador “é uma ponte de entendimento para o que
está acontecendo dentro de campo”. Segundo ele, o narrador apenas deve auxiliar o público,
explicando o que está acontecendo nas quatro linhas. Leandro diz ainda que o desafio é
procurar a ”objetividade”, com informações e comparações interessantes, para incrementar a
transmissão de uma partida de futebol.
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3 AS DIFERENÇAS DA NARRAÇÃO FUTEBOLÍSTICA NA RÁDIO ITATIAIA E
NA TV GLOBO MINAS
Atualmente, tanto na televisão como no rádio, o locutor de futebol precisa ser mais que um
mero relator das jogadas. Ele precisa atuar como o elo entre o jogo e o torcedor, pois é o
responsável por passar para o espectador tudo o que acontece no estádio, desde a
movimentação fora de campo, até o que se passa nas arquibancadas, tudo isto sem se esquecer
de transmitir toda a emoção da partida.
Inovações de linguagem e de método [...] devem-se muito mais ao carisma e ao charme pessoal que a uma filosofia de trabalho e a uma nova escola de narradores esportivos. (BETTING, 2005, p. 21).
Existem muitas diferenças das narrações de futebol no rádio e na televisão, praticamente todas
em função da vantagem da imagem. Por causa da transmissão das imagens, o locutor de
televisão não precisa ser tão detalhista em sua narração; ele deve apenas situar o telespectador
com qual jogador está a bola, e dar outras informações sobre o jogo. Na rádio, o locutor não
pode se calar em momento algum, o que é comum na televisão, uma vez que a imagem não
perde nenhum detalhe da partida.
Já o narrador de rádio deve criar imagens na mente do ouvinte e transportá-lo para o estádio. Muitas vezes a transmissão esportiva é tida como espetáculo porque, em sua maioria, se centra em uma única pessoa, o narrador. (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p. 66).
57
Para uma análise comparativa das narrações do rádio e da televisão, gravamos três jogos
simultaneamente nas duas mídias. As empresas de comunicação escolhidas foram a Rádio
Itatiaia de Belo Horizonte e a TV Globo Minas, também de Belo Horizonte. A escolha se deu
pelo fato de as transmissões serem direcionadas ao ouvinte e telespectador de um mesmo
estado; no caso, Minas Gerais.
Anlisamos exclusivamente as características de cada narração, desprezando as participações
dos repórteres e comentaristas. Os jogos escolhidos foram Santos e Cruzeiro, realizado no dia
24 de agosto de 2008; São Paulo e Cruzeiro, que foi transmitido no dia 28 de setembro de
2008 e Palmeiras e Atlético – MG, do dia quatro de outubro. Todas essas partidas foram
válidas pelo Campeonato Brasileiro de 2008.
A partida entre Santos e Cruzeiro foi narrada por Marcos Leandro na TV Globo e por Milton
Naves na Rádio Itatiaia. Na partida entre São Paulo e Cruzeiro, a narração foi de Rogério
Côrrea pela Globo Minas e por Milton Naves na Itatiaia. Palmeiras e Atlético foi transmitida
pelo narrador Marcos Leandro da Globo e por Mário Henrique na Itatiaia. Segundo Schinner
(2006), o narrador esportivo é uma espécie de âncora, responsável por comandar a
transmissão e movimentar a sua equipe:
O narrador esportivo é o profissional de comunicação capacitado a descrever, contar, relatar, transmitir um evento ou conduzir uma transmissão, interagindo com seus ouvintes, espectadores ou assinantes. (SCHINNER, 2004, p. 75)
58
Para o estudo de caso, além da gravação das partidas, transcrevemos alguns lances das
partidas, incluindo todos os gols (em anexo), momento máximo de um jogo de futebol. “É só
usar o microfone e salientar o que há de bom, mostrar o que há de ruim. [...] Tudo o que
importa, afinal, é o show dos locutores e repórteres.” (COELHO, 2003, p. 64). Locutores que
serão avaliados e comparados nas diferentes mídias.
3.1 O momento do gol
Nos lances dos gols ocorridos nas partidas analisadas, notam-se algumas diferenças entre as
narrações no rádio e na televisão. No rádio, o narrador deve estar atento a tudo que está
acontecendo, tem que ser detalhista, narrar mais palavras. Já na televisão, o narrador muitas
vezes comenta outros assuntos e deixa a jogada desenvolver sem uma descrição, devido a
objetividade da imagem, que não deixa o telespectador perder nenhum lance de perigo.
A norma de transmissão no rádio se resume a uma narração mais descritiva, mostrando aos ouvintes detalhes dos uniformes dos times, da posição do campo e das jogadas. [...] na TV, por tradição e pelo sentido migratório dos profissionais de rádio, é, antes de mais nada, a supervalorização da imagem. (SCHINNER, 2004, p.103).
O gol é o ponto máximo de qualquer narração de futebol; é quando o narrador pode
demonstrar todo o seu potencial, seja com gritos potentes, com bordões criativos. Um gol bem
narrado é o que faz o narrador ser apreciado. Na narração do primeiro gol do Santos - partida
gravada no dia 24 de agosto, entre Santos e Cruzeiro – algumas diferenças são bastante
relevantes, ao comparar a Rede Globo com a Rádio Itatiaia. Primeiro é a supressão de nomes
59
feita pelo narrador da Rede Globo. Como ele é obrigado a acompanhar as imagens, por causa
da velocidade da jogada que resultou no gol, ele não tem tempo para falar o nome de todos os
jogadores que participaram da jogada, nem mesmo o do que fez o gol. Na narração da Rádio
Itatiaia, fala-se o nome de todos os jogadores que participam da jogada, e inclusive repete o
nome de Kleber Pereira - autor do gol - várias vezes.
Outra diferença perceptível é o fato de o narrador da Rede Globo, após gritar gol, não falar
qual time fez o gol, ele diz apenas “olha o gol. Gol. Gooool. Gol de artilheiro”. E na rádio
Itatiaia, junto com o grito de gol, o narrador diz que foi do Santos “Kleber bateu e é gol,
Gooool do Santos”. Tudo isso, tanto a repetição dos nomes, como falar qual equipe fez o gol,
é bem característico da rádio, e extremamente necessário, pois o ouvinte não tem a imagem
para se orientar. “As transmissões de televisão exigem menos do narrador, que não tem a
necessidade de preencher os vazios ocasionais da competição”. (BARBEIRO; RANGEL,
2006, p. 66).
O segundo gol do Santos apresenta ainda a diferença no próprio grito de gol. Enquanto na
narração da Rede Globo o grito de gol dura 11 segundos, na Rádio Itatiaia dura apenas três
segundos. Isso se deve por dois motivos: o primeiro é que na rádio a narração precisa ser mais
rápida para que a transmissão possa continuar, e segundo porque a Itatiaia é uma rádio
exclusivamente regional, e por isso acaba visando mais o time mineiro, pois pouco interessa
ao torcedor do Cruzeiro que se demore na narração do gol sofrido. Apesar da transmissão da
TV Globo ser também regionalizada para Minas Gerais, o narrador não pode se transformar
60
em um torcedor mineiro, pois há torcedores de outros clubes dentro do estado e a empresa é
nacional e não apenas estadual, como no caso da Itatiaia.
Na televisão é mais difícil independência para se transmitir um evento, é preciso ser sócio do poder constituído. No rádio não. Por isso, pode- se dizer, digamos, ‘independente’ no texto e na palavra radiofônica, que nas imagens compradas da televisão. Não é mérito das rádios, nem demérito das televisões. É apenas uma realidade comercial. (BETTING, 2005, p.23).
Após a narração do gol, ambos os meios explicam o gol de Kléber Pereir; porém o narrador
da Rádio Itatiaia faz referência ao que ele está vendo no estádio, e conta que ao lado da cabine
dele está o goleiro Fábio Costa, “que aplaude de pé o gol santista”. Ele ainda opina: “o gol
tinha praticamente matado o jogo”. Já o narrador da TV Globo descreve o replay do lance.
O grito de gol não é um susto. O narrador vai construindo a jogada a partir da defesa, passando pelo meio-de-campo e chegando ao ataque. A partir do momento em que surge a possibilidade do gol, tudo está devidamente articulado, sem atropelos. (SCHINNER, 2004, p. 188)
O único gol de um time mineiro entre as gravações aconteceram no jogo entre Palmeiras e
Atlético. Na TV Globo, o narrador Marcos Leandro gritou o gol do Atlético da mesma
maneira como narrou os outros três do Palmeiras. Mário Henrique, da Itatiaia, deixou-se levar
pela emoção e não economizou no volume da voz e no tempo da palavra que representa o
momento máximo do futebol. Foram 17 segundos narrando a palavra gol, logicamente ele
usou o seu tradicional bordão “caixa” para identificar o gol mineiro: “Caixa! Goooool. Renan
Oliveira no fundo do barbante [...]”. Após o gol, o narrador ainda falou por mais de um
minuto sobre o lance; foi o maior tempo dentre os gols analisados no rádio e na televisão,
mostrando o estilo narrador-torcedor. “Não existe jornalista de esportes, especialmente os que
61
trabalham com o futebol, que não tenha um time na infância”. (COELHO, 2003, p. 53). Mas
no caso de empresa nacional, como a TV Globo, o narrador deve ser imparcial, é o que
explica Barbeiro e Rangel (2006):
O jornalismo pressupõe um distanciamento crítico do acontecimento narrado. Portanto, se o narrador esportivo deixar transparecer seu entusiasmo por seu time de coração, seu trabalho provavelmente ficará comprometido. (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p. 66)
Caso contrário, o narrador poderá ofender uma parte do público e isso reflete na audiência,
que influi nas vendas comerciais.
3.2 Os recursos da televisão
3.2.1 Replay, a melhor explicação
Como na televisão a descrição dos lances é menos detalhada, usa-se muito o recurso do replay
para explicar melhor as jogadas, principalmente os gols. O recurso é uma forma também de
explorar a espetacularização das partidas, mostrando imagens que chamam a atenção do
telespectador, com cenas em câmera lenta, que transforma um lance em cena cinematográfica.
Na partida entre São Paulo e o Cruzeiro, o narrador Rogério Côrrea, da TV Globo, narra da
seguinte maneira o primeiro gol do Jogo: “Olha o desvio. Goooool!”. Repare que, sem a
imagem, não podemos identificar nem qual time fez o gol. Mas, além da imagem, a televisão
tem o recurso do replay, que repete o lance e ajuda o narrador a descrever com clareza o
62
lance; observe: “Na cobrança de escanteio do Jorge Wagner, o desvio do André Dias na
pequena área, aos 35 minutos do segundo tempo, o São Paulo abre o placar”. A partir desta
repetição com a descrição do narrador, o lance fica mais claro para o telespectador.
Na partida entre Palmeiras e Atlético, a explicação do lance, com a repetição do primeiro gol,
chega a 56 segundos. O narrador Marcos Leandro conta da seguinte maneira: “Vibração do
torcedor atleticano no Palestra Itália. O zagueiro Maurício bobeou. Marques aproveitou muito
bem a falha do Maurício, pra tocar para o garoto Renan Oliveira. Sai o primeiro zero do
placar e o Atlético está na frente”. A narração vem a partir da imagem.
No lance do gol de empate do Palmeiras, podemos observar um fato interessante. Não é
possível ao narrador contar tudo o que aconteceu, pois a imagem é rápida. Quando ele fala
“Sobrou para o Élder Granja. Alex Mineiro procura um espaço. Bom toque para Leandro.
Gol, do Palmeiras”, não dá tempo de falar que o jogador Leandro chutou a bola. Apenas
depois, quando o replay é mostrado, é que o narrador diz que o jogador Alex Mineiro tocou
para o jogador Leandro, e este chutou a bola para marcar o gol.
O fato acima ocorre também no segundo e no terceiro gol do Palmeiras. O segundo gol
começa com uma jogada do atacante Denílson pelo lado esquerdo do campo. Ele dribla um
jogador adversário e cruza a bola, mas não dá tempo de o narrador dizer que ele cruzou a
bola; reparem que, no drible do jogador Denílson, ele já passa para o jogador Alex Mineiro
63
que estava dentro da área: “Muito habilidoso o Denílson, conseguiu o drible, deixou pra trás o
Rafael Aguiar. Alex Mineiro, dominou, bateu... Gol, do Palmeiras”.
Já no terceiro gol, a jogada começa pelo meio de campo, chega até o jogador Kleber que
chuta, o goleiro Juninho espalma a bola, que sobra para o jogador Denílson, autor do terceiro
gol do Palmeiras. Durante a narração, Marcos Leandro não fala que o jogador Denílson
chutou a bola. Ele passa da defesa do goleiro Juninho para o grito de gol. “Recuperação do
Palmeiras no meio-de-campo, Denílson na velocidade vai conduzindo. Bom toque para o
Kleber, bateu, Juninho. Sobrou... Gol do Palmeiras”. Só na repetição da jogada, que o
narrador confirma o autor do gol: “A jogada começou com Denílson. Ele acreditou e apareceu
pra finalizar, pra estufar as redes do Atlético.”
3.2.2 Narração mais detalhada
Como no rádio não há o recurso do replay, o narrador tem que se esforçar para detalhar as
jogadas. O narrador Mário Henrique, da Rádio Itatiaia, explicita bem o primeiro gol do
Atlético: “[...] Olha lá o zagueirão se complicando. Marques chegou, roubou. Olha o gol do
Galo. Ainda o Marques, rolou pra trás. Renan vai fazer. Caixa! Gooool” Repare a diferença da
narração na televisão: “Olha só a bobeada da defesa do Palmeiras. Marques rolou pra trás.
Renan... Gol do Atlético.”
Em um lance de perigo no jogo entre Cruzeiro e Santos, ocorrido aos quatro minutos e 56
segundo do segundo tempo, podemos observar que, no rádio, o narrador descreve
64
meticulosamente cada jogada: “Bola na direita, agora para Marquinhos Paraná, rolou próximo
da área para Bruno.” Já na televisão, o narrador apenas cita o nome dos jogadores envolvidos
na jogada: “Marquinhos Paraná, Bruno [...]”. Ainda em relação ao detalhamento, quando a
bola sai, o narrador da Rede Globo apenas diz “pra fora”, enquanto o locutor da Itatiaia é mais
detalhista e diz que a bola saiu “[...] pela linha de fundo, sem nenhum problema para o goleiro
Douglas”.
É comum os narradores de rádio errarem os nomes dos jogadores, devido ao dinamismo do
jogo de futebol e à falta de recursos. Às vezes, ele confunde o nome do jogador do time com
algum jogador do passado, por isso eles têm que ter um rápido raciocínio. Isso é mais raro na
televisão, pois o narrador tem tudo preparado, como, por exemplo, diversos monitores em sua
cabine, que mostram diferentes ângulos da partida.
No jogo entre São Paulo e Cruzeiro, o narrador Milton Naves, da Itatiaia, é traído pela falta de
recursos do rádio, como a falta de um monitor na cabine e o replay. O locutor erra o nome do
autor do segundo gol do São Paulo, que ocorre no final da partida: “Olha a falta batida... Gol
do São Paulo. Gooool, Jorge Wagner, na batida de falta, confesso que pegando todo mundo
de surpresa. A falta muito bem batida, Jorge Wagner no ângulo.” Na verdade, o autor do gol
foi Jancarlos; o repórter até tentou intervir, mas o narrador não escutou. Para piorar, após esse
lance, a partida terminou e Milton Naves finalizou com o erro, enfatizando erroneamente a
autoria do gol. De acordo com Schinner (2006), nesse caso o receptor pode ser lesado e talvez
não dê outra oportunidade ao narrador. Ou seja, o narrador de rádio não terá uma segunda
chance, caso descreva um lance incorretamente. Coelho (2003) acredita que os narradores não
65
devem se preocupar com os erros, pois os repórteres e comentaristas estão nas transmissões
para corrigi-lo:
Ele [ouvinte] se irrita mais pela superexposição dele [narrador] do que pelos supostos erros que comete. Ele [narrador] está lá para levar o torcedor ao delírio. O comentarista e o repórter é que tem obrigação de analisar friamente o que está ali, na cara do espectador. (COELHO, 2003, p. 64).
Coelho discorda de Schinner e acredita que os narradores de futebol têm a função apenas de
conduzir a partida, levar a emoção, relatar o jogo. Os erros deles podem ser retificados pelos
repórteres e comentaristas. No caso dessa partida, Milton Naves foi corrigido por um repórter
e essa intervenção foi ao ar.
3.2.3 A linguagem ilustrativa
Outra diferença que pode ser notada entre as narrações de Rádio e de TV é que no rádio a
todo o momento o narrador tem que ficar informando o placar e o tempo de jogo. A Rádio
Itatiaia tem até um bordão para este momento da partida: “A Itatiaia informa o tempo de
jogo”. Aí entra o narrador com as informações. Esse item não é necessário na TV, pois existe
no alto da tela um gerador de caracteres que informa os nomes das equipes que estão jogando,
o placar da partida e o tempo de jogo. Além disso, nos jogos pela televisão são introduzidos
outros geradores de caracteres durante a partida, com informações de cartões amarelos,
números de faltas, passes certos e errados e outros. Tais recursos favorecem ao narrador de
TV, que pode ou não narrar aquilo que é mostrado na tela:
66
Hoje o placar na tela é tão imprescindível que, quando a emissora deixa de colocá-lo por algum motivo, você [telespectador] imediatamente sente falta. (SCHINNER, 2004, p. 144)
No rádio, o auxílio do repórter e do comentarista é primordial:
O locutor, distante das jogadas mais perigosas, próximas ao gol, chamava o repórter que estava atrás da meta para que ele tirasse suas dúvidas e do comentarista [...] o repórter tem a vantagem de estar dentro de campo, próximo ao acontecimento. (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p. 65)
No início do lance do primeiro gol do jogo entre São Paulo e Cruzeiro, acontecem duas
substituições. Essa troca para os narradores de TV é bem mais tranqüila, pois neste momento
aparece o gerador de caracteres com as informações. No lance, o narrador da TV Globo,
Rogério Côrrea, conversa com o comentarista: “Os dois técnicos mexem praticamente ao
mesmo instante. No Cruzeiro, o Adílson tira o Tiago Ribeiro e tá aí o Maurinho na lateral-
direita. E o Jonathan que se vire para arrumar posição. Logicamente que estou brincando”.
(intervenção do comentarista).
No rádio não há tempo de um comentário tão longo e a ajuda do repórter é fundamental para
que a informação seja fidedigna. Nesse mesmo lance, na Rádio Itatiaia, o repórter faz uma
intervenção de quase vinte segundos para informar a substituição e volta para o narrador
Milton Naves, que tem pouco tempo para comentar a substituição: “Saiu Tiago Ribeiro, resta
saber se não tinha condição de continuar. Sai Tiago entra Maurinho na equipe celeste. Jogo
reiniciado.” Observe que ele já tem que voltar a narrar aquilo que ocorre dentro do campo de
67
jogo. Caso contrário, ele perderia o lance de origem do primeiro gol: “[...] Jancarlos levou
para a linha de fundo, tentou o cruzamento e bola saiu pela linha de fundo”. Na cobrança de
escanteio saiu o gol do São Paulo; se o narrador comentasse ou deixasse para o comentarista
analisar as substituições, talvez perdessem uma jogada de grande importância e lesariam o
ouvinte.
Em todos os gols dos jogos analisados da TV Globo Minas, após o lance, o gerador de
caracteres mostra o autor do gol, o número do jogador e o número de gols dele no
Campeonato. São quase cinco minutos de ilustração na tela. Com esse subsídio, o narrador
televisivo geralmente descreve a informação com o gerador de caracteres; diferentemente do
rádio, em que o narrador espera a intervenção de um profissional, chamado de plantonista,
que informa, após a narração do gol, os detalhes do autor gol e o número de gols da equipe no
campeonato. Esse mesmo profissional também repassa os resultados dos outros jogos da
rodada.
Na TV, os outros resultados também são por conta do narrador, como exemplo neste lance
narrado por Rogério Côrrea, no jogo entre São Paulo e Cruzeiro: “[...] Bola no alto, o Tiago
Ribeiro tava por lá, o Guilherme também e a bola saiu”. Neste momento aprece um gerador
caracteres com uma ilustração de uma bolinha, que representa que tem gol em outra partida e
Côrrea diz: “E esse gol no Brasileirão; é gol no clássico Atletiba, o Atlético paranaense
jogando no estádio do Coritiba faz um a zero.” Enquanto ele fala, aparece outro caractere,
com o placar do jogo a que ele se refere.
68
O resultado da competição é a informação mais importante. Muitas pessoas ligam o rádio ou a TV apenas para saber o andamento a disputa e nada mais. Na televisão isso é suprido com o resultado na tela. No rádio é preciso repetir sempre. (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p. 71).
No rádio, como não há essa linguagem visual, o narrador tem a ajuda de outro profissional,
que tem a função de acompanhar as outras partidas da rodada e informar os gols, com
intervenções durante a partida transmitida. Caso contrário, o narrador radiofônico perderia o
foco na partida; pois, além de tudo, o narrador tem que repetir o resultado da partida
transmitida a todo o momento.
3.3 As características de cada meio
3.3.1 Os apelidos, aumentativos e os excessos de verbos do narrador de rádio
“[...] estica a perna ainda o Elicarlos, tenta retomar a posse de bola, não chegou a sair, entra
também na jogada o Bruno, o Eli sentiu, está valendo tudo isso. Então sai jogando time do
Santos [...]”. Nesta narração, anterior ao segundo gol da partida do Santos contra o Cruzeiro, o
narrador da Rádio Itatiaia, Milton Naves, mostra outra diferença de narração entre rádio e
televisão. O narrador chama o jogador Elicarlos de Eli; o uso de apelidos é bem particular da
transmissão de rádio, uma vez que na televisão tudo é mais formal. Em um lance, Milton
Naves, da Rádio Itatiaia, usa outro vício do rádio, o aumentativo, que é uma forma do locutor
enfatizar uma jogada: “Num presentaço do Bosco, na cobrança do tiro de meta. O Tiago
69
entrou sozinho na área [...] poderia ter conduzido a bola um pouco mais”. Além de
presentaço, outras palavras no aumentativo são comuns no rádio, como chutaço, defesaça,
golaço, zagueirão, goleirão e outras expressões da linguagem coloquial, como disparo, que
significa chute; canhão, que significa chute forte; roubar a carteira, que significa desarmar; na
boca do gol, que significa próximo ao gol; no barbante, que significa na rede. Quando essas
palavras se tornam corriqueiras, o ouvinte fica incomodado, pois as narrações acabam caindo
em uma mesmice que entedia.
As gírias e outros recursos devem ser usados com moderação. O excesso pode motivar alguma simpatia no começo, mas logo cansa e cai na vulgaridade. É bom lembrar que as palavras de moda caem em desuso, e é preciso substituí-las, sob a pena de ser considerado um narrador ultrapassado. (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p. 69).
Em outro lance da transmissão da Itatiaia do jogo Santos e Cruzeiro, percebe-se outra
característica da narração radiofônica, o excesso de verbos: “Elicarlos dominou, tentou,
passou, voltou.” Isso nada mais é do que uma forma de detalhar a jogada, devido à falta da
imagem. No jogo entre São Paulo e Cruzeiro, essa característica do narrador de rádio é
comprovada: “[...] abriu, soltou para Hugo. Hugo pisa na bola, caiu. É falta nele, marcou o
árbitro”. Só nessa passagem são cinco verbos, no total de 15 palavras. Neste lance do jogo
entre Palmeiras e Atlético, o narrador Mário Henrique exagera nos verbos, principalmente no
gerúndio: “[...] Léo Lima, dominava, vai tentando fazer a caminhada pro time do Palmeiras.
Rolando bola curtinha, chegando ali o jogador Kleber, dominou de fora da grande área,
ameaçou bater [...]. Segundo Schinner (2004), muitas vezes o excesso de verbos é uma
alternativa para agilizar a transmissão radiofônica:
70
Ser ágil não significa ser veloz ao extremo, atropelar as palavras e supervalorizar o jogo, como se todas as partidas fossem uma final de campeonato. Saiba dosar a emoção e a velocidade, comunique-se mais com seus ouvintes. (SCHINNER, 2004, p. 187).
Schinner explica que o narrador deve ser ágil, mas não pode ter problemas de dicção, pois a
narração deve ser clara ao público, que busca um entendimento da situação.
3.3.2 Os advérbios de lugar da narração televisiva
Os narradores de futebol de televisão se apóiam nos advérbios de lugar para uma melhor
compreensão do telespectador. Apesar de também ser usado no rádio, esse recurso de
linguagem é mais comum na TV. É uma maneira mais prática de leitura da imagem,
direcionando a narração para tal jogada.
No jogo entre São Paulo e Cruzeiro, o narrador Rogério Côrrea usa o advérbio aí para chamar
a atenção do espectador para o replay: “Olha aí de novo, um chute firme do Tiago, ele não
acredita que a bola saiu”. Ainda nessa partida o narrador usa o advérbio ali para mostar o que
o jogador em foco está fazendo: “O goleiro Fábio outra vez arruma a barreira, protegendo ali
o canto direito”.
Em outra jogada, o narrador usa o advérbio lá para enfatizar a posição em que o jogador se
encontra: “[...] e o São Paulo chega pelo meio, bola tocada para Hugo, lá com o Dagoberto”.
71
Segundo Schinner (2004), “essa é uma maneira de o narrador chamar a atenção para esse ou
aquele lance” (SCHINNER, 2004, p. 145). Esquerda e direita também se tornam advérbios de
lugar, como nesta narração deste lance do jogo entre Palmeiras e Atlético: “Vem o Atlético
com Marques, ele cruza. Olha o chute. À direita do goleiro Marcos.” Ou seja, foi a uma
descrição enfatizada daquilo que o telespectador viu pelas imagens.
3.4 Mais emoções no rádio e a imagem que objetiva a narração
A emoção da narração do rádio não é novidade; os locutores radiofônicos muitas vezes
exageram nos lances, chegam até a inventar. Por isso analisamos algumas jogadas nas
transmissões da Itatiaia e da TV Globo Minas, para comprovarmos essa diferença. Observe
essa jogada que transcrevemos da narração de Mário Henrique, do jogo entre Palmeiras e
Atlético. “Aqui na direita a bola é lançada para Elder Granja. Ele bate na bola de primeira.
Tentativa na frente. Vai chegar no Kléber. Sai pra cima dele o Serginho, fez a proteção. A
bola não sai. Conseguiu dominar Diego Souza, na grande área. Rolou para trás. Bola batida.
Juninhooo! Salva o Galo Juninho.” É lógico que a transcrição não serve de base para
analisarmos a emoção de sua narração. O narrador aumenta o timbre de voz quando diz o
nome do goleiro do Atlético, Juninho, e transmite tanta emoção, que ativa a imaginação do
ouvinte.
Um perigo gerado pelo aspecto fantasioso da transmissão é levar o torcedor a sonhar com uma competição muito mais emocionante do que vista no estádio. Um jogo não pode parecer maravilhoso se na verdade é ruim. (BARBEIRO: RANGEL, 2006, p. 66).
72
Na verdade, a narração de Mário Henrique não foi tão exagerada, o lance foi realmente de
perigo e necessitou de um aumento no volume da voz para chamar a atenção do espectador.
“A forma radiofônica segue uma linha de narração mais veloz, com bordões e frases
repetitivas, e emoção extremada”(SCHINNER, 2004, p. 195). O mesmo lance narrado pela
TV é mais comedido. Como a imagem já causa impacto ao telespectador, o narrador não
precisa exagerar no seu timbre. “Boa chegada do Palmeiras. Olha o toque para que vem de
trás. Defesa do goleiro Juninho. Grande jogada da equipe do Palmeiras. O Atlético se safa.”
Foi assim a narração de Marcos Leandro na transmissão da Globo. É só ouvir para notarmos a
diferença.
Nas TVs abertas, a narração deve ser mais ilustrativa e o conteúdo, mais ancorado, de maneira com que você (narrador) vai conduzir a transmissão. Deixe a bola rolar e apenas siga os movimentos, usando todo o seu carisma e suas qualidades essenciais. (SCHINNER, 2004, p.181).
Um lance que chama mais a atenção na comparação das narrações foi o que originou o
segundo gol do São Paulo na partida contra o Cruzeiro. Como o jogo caminhava para o final,
o narrador da TV Globo, Rogério Côrrea, deixou o lance ser seguido apenas pela imagem.
Enquanto a jogada acontecia, o narrador global comentava sobre os outros jogos da rodada do
Campeonato Brasileiro: “[...] O Palmeiras vai assumindo a liderança do campeonato, com 50
pontos, já que vai empatando no Recife com o Náutico. O Grêmio tem 50 pontos, mas o
Grêmio ainda joga hoje, contra o Internacional. Também hoje à noite, o Santos e Portuguesa
na Vila Belmiro. Botafogo e Fluminense no Engenhão, no Rio de Janeiro.” Enquanto isso,
ocorria um lance de perigo, o jogador do São Paulo tinha sofrido uma falta. E ainda quando
Côrrea comentava, eram mostradas imagens por diversos ângulos da jogada de falta, por meio
do replay. Só depois que o jogador do time paulista foi para a cobrança da falta, é que
73
Rogério voltou a narrar: “O São Paulo vai vencendo o jogo e ainda tem uma falta para
cobrar.” E na cobrança saiu o segundo gol do São Paulo.
Talvez por isso houve uma mudança na transmissão televisiva e o locutor deixou de perseguir a bola – o que a câmera mostra bem – e a enriquecer a transmissão com outros atrativos. (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p.66).
Diferentemente da transmissão da TV Globo, Milton Naves narrou toda a jogada que originou
a falta: “O Cruzeiro demorou muito para bater o lateral. O São Paulo recupera, Jorge Wagner
abriu, soltou para Hugo. Hugo pisa na bola, caiu. É falta nele, marcou o árbitro. Falta no
Hugo, era tudo que o São Paulo queria, arrumar essa falta aí no finalzinho.” Como não há
imagem no rádio, é obrigação do narrador não perder nenhum lance.
Na TV, com o uso da imagem, a narração é descritiva. No rádio, a narração é discursiva, ou seja, usa-se a imagem-som. [...] A emoção, a animação e o encantamento ficam por conta do estilo e do talento de cada locutor. (SCHINNER, 2004, p.70).
Segundo Schinner (2006), o rádio deve ter uma linguagem diferenciada e mais descritiva. O
narrador tem que provocar o ouvinte, tem causar que impacto. Na TV, o narrador tem que
apenas descrever, relatar aquilo que a imagem mostra. De acordo com o autor a televisão é
imagem e entretenimento e o rádio é apenas o áudio, que deve ser mais emocionalmente
narrado.
74
CONCLUSÃO
A narração de uma partida de futebol é um espetáculo especialmente radiofônico, uma vez
que nesse meio é possível abusar da emoção, e passar ao ouvinte toda a paixão que esse
esporte carrega. Como o ouvinte não pode ver o que acontece em campo, o narrador de rádio
funciona como uma ponte entre o público e o que ocorre na partida, já que ele é a única fonte
de informação disponível. O narrador abusa de diversos artifícios como bordões, clichês e
sinonímias, tudo isso visando sempre criar uma imagem mental no ouvinte, o que o ajuda a
compreender melhor a narração.
Com o advento da imagem, proporcionado pela chegada da televisão, o espectador passou a
acompanhar as transmissões de um modo diferente. Como está vendo o que acontece em
cada lance, o espectador pode tirar conclusões e em muitas vezes até mesmo discordar do
narrador que, depois da TV, deixou de ser imprescindível e passou a ser apenas mais um
recurso de transmissão. Porém, como a emoção que acontece na transmissão rádio se tornou
parte do espetáculo, é impossível para o narrador de televisão não usar a emoção como
recurso. Com isso, os narradores precisaram adotar um novo estilo de narração, com mais
informações e dados estatísticos, sem fugir da emoção.
O narrador de TV passou a conversar com o público de maneira didática, agindo como uma
pessoa que pode explicar o que está acontecendo. Na TV, o uso de recursos de imagem como
75
arte, tira-teima, scout, replay, diferentes ângulos, etc., auxiliam o narrador na transmissão, que
pode inclusive dividir com o telespectador as suas dúvidas
Começamos o nosso trabalho tentando provar que a transmissão futebolística de rádio era
mais romântica e a da televisão mais objetiva; porém o que descobrimos é que isso não é
regra, e que é possível encontrar objetividade na transmissão de rádio, e emoção na
transmissão de televisão. Ou seja, há uma mescla de características entre os meios.
Para embasarmos teoricamente nossos estudos, relembramos alguns conceitos estudados ao
longo do curso de jornalismo, como Gatekeeper e Newsmaking, que tem uma ligação com a
narração, como o poder de criação do locutor e seleção dos jogos de futebol. A primeira
conclusão dessa análise é que não existe um padrão de narração específico para o rádio ou
para a TV. A variação é mais característica do profissional de narração e a presença da
imagem na televisão.
Nas análises que fizemos das narrações de televisão e de rádio, percebemos que existem
pequenas diferenças entre os dois meios, mas que não são padrões; no rádio, a falta de
imagem força o narrador a ter que falar o tempo inteiro, enquanto o narrador de televisão pode
ficar calado durante alguns períodos da narração, sem que isso cause maiores problemas. Por
ter que falar tanto, o narrador de rádio acaba passando mais informações sobre a partida do
que o narrador de televisão; ele ainda conta com o apoio de vários comentaristas e repórteres
de campo que completam as informações dele, o que caracteriza a objetividade. Tudo isto
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acaba tornando a transmissão do rádio mais completa. Ou seja, concluímos, que a falta da
imagem e de câmeras no rádio é substituída pela equipe de repórteres e comentaristas. Na
partida entre São Paulo e Cruzeiro, o narrador da rádio Itatiaia, Milton Naves, errou ao falar o
nome do autor do gol do São Paulo e quem o corrigiu foi o repórter de campo, que interveio
na transmissão.
Nessa mesma partida, antes da jogada do último gol do São Paulo, na transmissão da TV
Globo Minas, enquanto o lance ocorria, Rogério Côrrea informava sobre outras partidas, ou
seja, a imagem completa a narração na televisão. Isso nos permite concluir que muitas vezes o
narrador de televisão não precisa descrever as ações que acontecem o jogo.
Concluímos também que a narração futebolística atual é totalmente ligada ao jornalismo. As
técnicas de linguagem, pauta e pesquisa são fundamentais ao profissional, tanto no rádio
como na televisão. Apesar de todas as regras e formalidades da comunicação social, a
narração dentro do jornalismo permite uma singularidade do profissional. E, sem dúvida, a
cobertura do futebol, as transmissões dos jogos são fundamentais para a evolução e
valorização deste esporte.
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REFERÊNCIAS
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ANEXO I
ENTREVISTA COM O NARRADOR JOTA JUNIOR, DO CANAL SPORTV DE SÃO
PAULO
Nome completo: JOSÉ FRANCISCHANGELIS JÚNIOR
Idade: 59
Naturalidade: Americana - SP
Não é Formado em jornalismo
1 - Carreira: Quais os meios (empresas de comunicação) em que trabalhou?
Jota Jr.: Jornal O Liberal, Jornal Todo Dia, Rádio Clube, Rádio Notícia de Americana e
Rádio Azul Celeste, todos de Americana; Rádio Brasil e Rádio Luzes, de Santa Bárbara do
Oeste; Rádio Jornal, de Limeira; Rádio Brasil, de Campinas; Rádio e TV Gazeta, Rádio e TV
Bandeirantes e canais Sportv, tudo de São Paulo.
2- Principais coberturas:
J.J: Copas de 1978, 1982, 1986, 1990, 1994, 1998 e 2006. Olimpíadas de 1984, 1988, 1992 e
1996. Vários Sul-Americanos de vôlei e basquete. Mundiais de vôlei e basquete. Fórmula-1
pela rádio Bandeirantes, nas temporadas de 1980, 81 e 82. Fórmula Indy pela Band, além de
Eurocopa e Libertadores da América.
3 - Quando começou? Por quê? O que o influenciou?
J.J: Comecei, em 1969, escrevendo para um jornal da minha cidade e logo depois fui para o
rádio. A paixão pelo rádio me despertou para a atividade. E também por gostar de esporte.
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4 - Qual narrador o inspirou?
J.J: Nenhum especificamente. Sempre ouvi a todos os narradores, desde criança. Acho que
peguei um pouco de cada um.
5 - Por que a TV?
J.J: Televisão foi circunstancial na minha carreira. Na Gazeta eu fazia rádio e me colocaram
para algumas transmissões e VT’s. Na Bandeirantes, da mesma forma. Eu fazia rádio na Band
e fui deslocado para trabalhos na televisão, em 1983.
6 - Quais as técnicas de linguagem você usa para narrar uma partida?
J.J: Procuro utilizar a linguagem mais simples possível. Telespectador não gosta de nada
rebuscado, entendo assim. Principalmente em transmissões do esporte. Não gosto de inventar.
Até pelo fato de que numa jornada de televisão, o mais importante não é o narrador, mas as
imagens do evento.
7 - E o tom de voz? Qual o momento você vibra mais, além do gol?
J.J: A tonalidade deve crescer quando o lance é agudo, lances de área, bola na trave e etc.
Gritar numa troca de passes ou em um arremesso lateral, por exemplo, não é compatível com
o que todos estão vendo.
8 - A paixão pelo seu time influencia suas narrações?
J.J: Nunca me deixei levar. Sou favorecido por nunca ter sido fanático pelo clube da minha
simpatia. Sou frio para as emoções do esporte e talvez seja uma exceção na área. Mas essa
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frieza me ajudou e me ajuda a não me deixar influenciar. E tenho de respeitar a todos os
torcedores, de todas as agremiações. Não seria honesto se puxasse para esse ou aquele lado.
9 - E a paixão pelo futebol? Ajuda, atrapalha... Você costuma opinar em algumas
transmissões? Por quê?
J.J: Uma transmissão de futebol é muito dinâmica e envolvente, porque os espetáculos são
envolventes. Então, o narrador muitas vezes extrapola e invade a área do comentarista,
indevidamente. Não deve fazer isso, tecnicamente. Eu me policio muito, mas quando cometo
o deslize peço desculpas ao companheiro que está nos comentários.
10 - Quais as diferenças da linguagem da narração do rádio para a TV?
J.J: A linguagem no rádio é mais liberal, mais permissiva. Mais íntima do ouvinte. O que se
diz no rádio, muitas das vezes, passa batido. Na televisão tudo fica mais amplificado e
repercute mais fortemente. Entendo que a televisão amplia a opinião, ficando mais exposta a
críticas e retaliações.
12 - Qual a sua preferência? Rádio ou TV?
J.J: Gosto dos dois. Indistintamente.
13 - Você teve dificuldades, ou o rádio é uma base para a narração televisiva?
J.J: O rádio é importantíssimo para uma boa desenvoltura na televisão. Ele dá lastro ao
profissional. Mas há grandes narradores de televisão que não passaram pelo rádio nessa
atividade. Galvão Bueno, como exemplo, nunca narrou em rádio (ele foi comentarista de
rádio no início de carreira).
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14 - Você acha que todo narrador de TV tem por obrigação passar pelo rádio?
J.J: Se puder ter passado pelo rádio, tanto melhor. Mas não é obrigatório.
15 - Qual a importância do narrador de futebol para este esporte? E qual a relação dele
com o torcedor? Você se considera um formador de opinião?
J.J: Entendo que o narrador não deveria ser formador de opinião, pois sua função é relatar as
jogadas, ilustrar a transmissão com dados estatísticos e conduzi-la apenas. Já o comentarista
tem esse papel de formar opinião. O narrador não é mais importante que o evento, que o
comentarista, não é mais importante que as imagens. Mas o que se vê no dia-a-dia é que os
torcedores consideram o narrador um formador de opinião. Sempre defendo que numa
transmissão de televisão, todos são muito importantes. O narrador é o que mais fica no ar
comunicando, mas não é sua função dar opinião e atravessar a área do comentarista. Mas nem
sempre a gente fica no papel fundamental de relatar. E erra por isso.
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ANEXO II
ENTREVISTA COM O NARRADOR MARCOS LEANDRO DA TV GLOBO MINAS
Nome: Marcos Leandro de Oliveira
Idade: 32 anos
Naturalidade: Rio de Janeiro, mas mora em Belo Horizonte desde os 12 anos de idade.
Formado em jornalismo pela UNI-BH
1 - Carreira:
Marcos Leandro: Comecei fazendo locução na rádio Extra, depois fui para rádio BH FM.
Depois de formado, em 2003, fui para a Rede Minas para fazer o programa Ação Total e
depois o Meio de Campo, onde comecei a narrar futebol. Depois fui chamado para trabalhar
na TV Globo Minas, em 2006. Contando com as narrações pelo Sportv e PFC (Canais a cabo
da Rede Globo), já narrei cerca de 250 jogos.
2 - Você foi influenciado por algum narrador?
M.L: Tem muita gente boa de serviço aqui em Minas Gerais. O Mário Henrique narra
demais, ele é muito bom. É espirituoso, tem presença de espírito, consegue colocar uma certa
irreverência na narração e propriedade nela ao mesmo tempo com profissionalismo, ele
consegue unir essas duas coisas. É um esporte popular, então se você ficar muito
“carrancudão” ali, não jogar um sorriso, um gracejo na narração, não dá uma temperada, eu
acho que fica aquela coisa. Não é fulano tocou pra fulano, porque isso ai é muito fácil. Acho
que o desafio é esse. Eu procuro estar aprendendo cada vez mais, está pegando essa
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experiência, me espelhando em profissionais mais experientes. Misturando esse lado
irreverente, não irreverente demais, eu não sou um Silvio Luiz, embora eu admire o trabalho
dele. Mas assim dando umas pitadas mesmo. O Mário Henrique daqui, o Rogério Correia meu
colega de emissora, acho ele brilhante, um sujeito de uma capacidade enorme. Os narradores
da Rede Globo nacional também, o Galvão eu acho bom demais, o Cléber, o Luís Roberto,
que dessa questão de tempero popular pra narração esportiva. Acho o Luís o que melhor faz
isso, o que melhor trabalha isso, sabe esse sorriso na voz, essa simpatia, ele trabalha muito
bem isso. Mas além dele tem muita gente boa de serviço. No rádio, nem se fala, é uma
infinidade, o que não falta é gente para eu me inspirar, assim, porque eu acho isso importante.
3 - Você nunca narrou em rádio?
M.L: Eu nunca tive a oportunidade, eu toparia fazer, mas nunca tive oportunidade. A
narração pintou mesmo foi na TV, primeiro comecei a narrar Campeonato Brasileiro de
MotoCross na Rede Minas, na seqüência fiz o Campeonato Brasileiro de Moto Velocidade, e
a partir daí comecei a desenvolver nessa área. Também transmitir três finais de BH Tênis
Open, aqui em Belo Horizonte, também pela Rede Minas. O futebol, quando comecei foi bem
difícil, o meu primeiro jogo não foi para ar, no programa de esportes que apresentava aos
domingos, na Rede Minas, chamado “Meio de Campo”. Não rolou de ir, eu já tinha até
avisado para a galera, até pegar o esquema, é um ritmo continuo ali. Mas no segundo eu entrei
meio pressionado, eu fui ali pra decidir mesmo, eu falei tem que sair, tem que fazer, ai
consegui fazer, os primeiros sempre com dificuldade, mas foram indo e aos poucos fui
pegando o gancho da narração de futebol.O Guilherme Mendes, o jornalista – na época editor-
chefe do programa Globo Esporte Minas - que me trouxe para a TV globo, me falou uma
coisa que é muito interessante, narração é bagagem. É você estar fazendo, não é no primeiro,
no segundo, é lá para quinto ano que você ganha uma cancha legal, e vai aperfeiçoando.
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Porque é difícil de fazer, o Rogério Côrreia – outro narrado da TV Globo Minas- mesmo já
me falou isso, não é fácil fazer, você vai adquirindo aos poucos.
4 - Você tem alguma técnica de linguagem nas transmissões? E o momento do gol?
M.L: A locução em rádio me ajudou muito, a própria rapidez mesmo, eu sou da época do
rádio jovem, em que tinha que anunciar a música rápido, então essa desenvoltura, e a
improvisação me ajuda muito na televisão, é uma técnica que me serve muito bem para fazer
as minhas narrações. Na hora do gol, eu acho que tem entrar decidido. Porque ali é o
momento em que você vai subir, isso tem que entrar automaticamente. No início eu sofria um
pouco com isso, de desafinar. Às vezes você fica inseguro, então quando você sente que é
perigo de gol, que o gol está saindo, automaticamente já vem a explosão, tem é que segurar no
gogó.
5 - A paixão pelo clube de preferência ou Minas Gerais influencia em suas transmissões?
M.L: Teve uma vez que eu narrei naquele esquema da Rede Minas – compacto – a final da
Copa do Brasil entre Cruzeiro e Flamengo, ficou três a um para o Cruzeiro aqui no Mineirão.
Neste jogo, o Cruzeiro foi campeão. Era só local, pois o compacto passaria só para Minas
Gerais. No dia seguinte passou os melhores momentos no programa da tarde. Rapaz, o
Cruzeiro fez três a zero, e no segundo tempo o Flamengo fez um gol. Mas eu narrei tão
chocho, e eu ouvi aquilo no dia seguinte e me incomodou profundamente. A gente vai
ganhando maturidade com o decorrer do trabalho, e ali foi uma coisa que eu aprendi que era
erro, até que no caso de um Brasil tudo bem, eu acho que até é usável, mas de lá pra cá eu
tomei aquilo como exemplo e aprendi que não mais, gol é gol, independentemente de
qualquer time do Brasil. Eu sei que hoje isso é mais necessário, ainda mais, porque eu faço
narração pelo PFC – Pay-per-view da Globosat – e esses jogos vão para todo o Brasil e alguns
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lugares do mundo. Então a mesma intensidade que é pra um é pra outro. E eu tomo muito
cuidado quando eu faço clássico, porque clássico é complicado, todo mundo critica. É um
cuidado redobrado. Eu já fui criticado pela torcida do Atlético, pela torcida do Cruzeiro, eu
sou um cara que procura estar se informando, gosto de acessar internet e analisar o que a
galera achou e tal. Mas eu passei a não dar muita importância, eu olho para entender as
críticas, porque é interessante também a gente não pode fechar os olhos pra tudo, porque
trabalho para as pessoas, a gente presta um serviço social, é uma coisa cultural, não tenho o
direito de narrar um gol do Cruzeiro que seja em um clássico mais alto ou com mais vibração
do que um gol do Atlético e vice-versa, o narrador é muito pequeno em vista da história de
um clube. Ninguém tem o direito de tomar partido pra lado nenhum, beleza que depois fique
triste, fique chateado, fique murmurando a derrota da equipe enfim, mas durante o trabalho a
gente tem que se ater aos fatos, é um desafio a todo o momento, é o que nos cabe enquanto
jornalistas, que tem um compromisso com a ética jornalística e com a ética profissional.
6 – E paixão pelo futebol ajuda? Você costuma opinar nas transmissões?
M.L: A paixão pelo futebol é o que move mesmo. Com a bagagem, que você vai ganhando
com tempo, vai te dando essa “cara-de-pau”, você começa a ficar solto. Você fica mais seguro
de chegar e fazer um comentário, mas esse comentário tem que ser com base naquilo que você
está vendo, sem querer extrapolar, só aquilo que você está enxergando. É lógico que a função
do comentarista é de enxergar aquilo que muita gente não está vendo, essa é a busca. Mais
sem querer inventar demais, acho que dar umas pitadas assim, até mesmo pra levantar a bola
para comentarista, é legal o narrador ter essa cancha, essa condição de levantar um tema e
jogar um “pitaco”, acho que isso não faz mal não, ajuda a temperar também.
7- O que você prefere: rádio ou TV?
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M.L: TV, mas como eu falei, não tenho predileção assim, gosto de todos os meios. Se
amanhã eu tiver de ir trabalhar no jornal “O Globo”, eu vou fácil. Voltaria a fazer rádio,
televisão é uma paixão, mas eu gosto de tudo, mas curto demais TV e espero que eu tenha
vida longa.
8 - Você acha que todo narrador de TV tem que passar pelo rádio?
M.L: Não necessariamente, o Rogério (Côrrea), por exemplo, não passou pelo rádio. O rádio
ajuda demais, tem me ajudado muito, mas não necessariamente.
9 - Qual a importância do narrador de futebol para o futebol?
M.L: Ele é uma ponte de entendimento para o que está acontecendo dentro de campo. Não
adianta a gente ficar em cima do óbvio, porque o receptor também entende um pouco, ele não
é “burro”. O narrador não tem que ser mais estrela, ele não tem que ser o dono do espetáculo,
o espetáculo é o que esta se passando dentro das quatro linhas. Acho que é ater mesmo, a
tentar passar da melhor maneira possível o que esta passando ali, nada além do que isso.
10 – Você se considera um formador de opinião?
M.L: A gente não deixa de ajudar na formação da opinião sobre determinado tipo de coisa
que venha a acontecer. O fato em si ele tem vários desdobramentos, por exemplo, se
aconteceu algum erro de arbitragem, algo polêmico, isso mesmo tem vários desdobramentos,
cada um vai ter uma opinião. Mas tem um de imediato, instantâneo, que já nasce junto com o
fato que aconteceu naquela hora e que depois vai ter desdobramentos, e isso faz parte. Então é
procurar a objetividade, embora ela não exista, e ir cercando, apurando, tentando levantar
coisas, por exemplo, comparações que sejam interessantes, pra tentar fazer aquilo que se
passou ser entendido, esse é o desafio.
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ANEXO III
ENTREVISTA COM O NARRADOR MÁRIO HENRIQUE, DA RÁDIO ITATIAIA
Nome: Mário Henrique da Silva
Idade: 35
Naturalidade: Três Pontas
Formado em Jornalismo pela UniBH, em 2004
1 - Quais as rádios que já trabalhou?
Mário Henrique: Rádio Três Pontas, Rádio Sentinela, Rádio Globo, Rádio Itatiaia.
2 - Quais as principais coberturas que você já fez?
M.H: As últimas três Copas do Mundo e as últimas quatro olimpíadas, todas pela Itatiaia.
3 - Como você começou no rádio? Porque o rádio?
M.H: Comecei na Rádio Três Pontas em 1988, com 15 anos. Gostava de futebol e de ouvir
rádio, eu ficava imitando o narrador da própria Rádio Três Pontas, quando apareceu uma
oportunidade lá mesmo. O mesmo narrador que eu imitava me chamou pra fazer um teste, foi
então que comecei e não parei mais. Sobre o rádio, e sempre gostei, desde criança ia aos jogos
e ouvia rádio, mas nunca imaginava que trabalharia com isso. Foi muito natural o que
aconteceu e nunca fiz outra coisa.
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4 - Você veio para Belo Horizonte quando?
M.H: Eu vim pra Belo Horizonte em 1991, fiquei sabendo que a Rádio Globo estava
começando futebol aqui com o Willian Jorge - ele era locutor da rádio BH FM. Fiz o contato
com ele e falei que era narrador e queria vir trabalhar em Belo Horizonte, precisava de
oportunidade na capital. Então, mandei um várias gravações de narrações minha, o Willian
gostou e me chamou para trabalhar na Rádio Globo.
5 - Você foi influenciado por algum narrador?
M.H: Escutava e me inspirava no Sá Mendonça, com quem trabalhei em Três Pontas. No meu
começo de carreira também ouvia muito Vilibaldo Alves da rádio Itatiaia e Oswaldo Maciel,
que é de São Paulo. Esses são teoricamente os que o que eu mais me inspirei, embora hoje eu
tenha o meu estilo próprio. No começo quando você começa a narrar, você mistura um tanto
de coisa, você pega um pouquinho de José Carlos Araújo, um pouquinho Luiz Penido, porque
na verdade você é fã dos caras, pois já são consagrados. Então você faz uma “mistureba
danada”, e com o passar do tempo você vai vendo que tem que encontrar seu estilo, que ficar
imitando não é o ideal. Mas hoje as coisas que eu falo, tudo, eu que inventei.
6 - Você usa alguma técnica de linguagem?
M.H: Eu sou bem popular, não sou muito de ficar “eu quero crer” não, eu vou é de “boca do
gol”, “boca do balaio”, “chego o reio”, umas coisas assim que o povo gosta. Eu não narro para
governador, eu narro é para o ouvinte que foi de ônibus para Mineirão, que é a maioria, e é
daí que eu acho que vem a minha popularidade.
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7 - E o tom de voz? Em que momento você vibra mais além do gol?
M.H: A minha narração é muito alta, aqui na rádio eu o Willy e o Milton narramos muito
alto, enquanto o Alberto Rodrigues entra na cabine e parece que não está nem narrando, ele
fala mais baixinho, eu quase que grito mesmo o tempo todo.
8 - Você mantém o mesmo ritmo durante toda a partida?
M.H: Não, bola da defesa até o meio campo você vai mais devagar, do meio do campo para
frente você dá uma esquentada.
9 - De onde veio o bordão “caixa”, usado no momento do gol?
M.H: O “caixa” eu que inventei, assim de uma hora para outra. Eu estava em uma roda de
amigos e falei “vou mudar esse gol”, ai eu inventei “caixa”. No começo eu enfrentei até
resistência, o pessoal falando que esse caixa não ia dar certo, e hoje eu sou mais conhecido
como “Caixa” do que como Mário Henrique, então é uma coisa que pegou mesmo, foi muita
sorte.
11- A paixão pelo seu time influencia suas narrações?
M.H: Não, não, eu sou bem profissional, pelo menos eu tento né.
12 - E a paixão pelo futebol? Ajuda, atrapalha..... Você costuma opinar nas
transmissões?
M.H: Tem hora que atrapalha, é um erro até, narrador não tem que ficar comentando. Mas
tem dia que o jogo está tão ruim que você perde a paciência, vai vendo tanta besteira em
campo que não tem jeito. Mas eu tenho que me policiar, acho que isso atrapalha sim. Porque o
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torcedor já está ali xingando também, aí você começa a falar demais na cabeça dele e o cara
desanima.
13 - Você já teve alguma experiência em algum outro meio?
M.H: Eu fiquei no canal Sportv de 2000 a 2003, em 2003 entrou a Globo e o diretor que tinha
me levado foi demitido e acabei dançando. Foi uma experiência boa, porque a televisão vai
para o Brasil inteiro, cheguei a fazer final de Copa Sul-Minas, final de vôlei, mas no momento
que iria decolar, houveram algumas mudanças na estrutura do canal e acabei sobrando. Mas
televisão ainda é um projeto muito interessante que espero voltar a trabalhar.
14 - Qual a sua preferência, rádio ou TV?
M.H: Prefiro o rádio, me sinto mais a vontade neste. Na TV você fica com um coordenador
no caminhão, um coordenador no Rio, o cara toda hora te podando, não fala isso, não fala
aquilo. Eu estava narrando um Cruzeiro e Vasco, o Cruzeiro fez quatro gols e eu falei que o
Vasco tinha caído de quatro no Mineirão, tomei a maior bronca. No rádio eu fico mais a
vontade, na TV é mais complicado.
15 - E na Itatiaia, você já foi cerceado por alguma coisa que falou no ar?
M.H: Aqui, o Emanuel Carneiro (presidente da Itatiaia) dificilmente fala alguma coisa,
comigo então tem anos que ele na fala nada.
16- Qual a diferença de rádio pra TV?
M.H: É exatamente isso, a TV você não pode falar “boca do gol”, “bola no segundo pau” e
“bola na segunda trave”. Neste meio a linguagem é mais, digamos, formal, agora no rádio
você tem um leque maior, você pode inventar mais.
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17 - Você teve dificuldades para se adaptar à narração televisiva, ou o rádio serve como
base?
M.H: A narração na TV é mais devagar, não pode empurrar muito, falar muito rápido, e o
rádio é mais liberal. Eu não podia gritar “caixa”, porque o patrocínio era do Banco Real. Um
outro narrador do Sportv, Deva Pascovich gritava explode coração, e mandaram ele parar de
explodir coração, eu narrava vôlei e falava “olha o braço da Leila voando”, a equipe não
gostava e ainda comentavam ironicamente: “uai o braço da Leila ta saindo do corpo dele, ela
é leprosa?”. A TV é cheia desses negócios, no rádio eu gritava “o braço da Leila voa no
Mineirinho” e na televisão não podia. Você sente a diferença de quem narra no rádio e na TV.
O Luís Roberto, por exemplo, ele veio do rádio, e no rádio eu o acho genial, na televisão, ele
é fraco. Éder Luis, no rádio é sensacional, na televisão é fraco. É exatamente por isso, na TV
o cara te poda tanto, que você perde a graça.
17 - Você acha que todo narrador de TV tem por obrigação passar pela rádio?
M.H: Não necessariamente, o Cléber Machado (narrador da Rede Globo), por exemplo, não
fez rádio, mas se fez foi mal feito, porque eu acho que ele atrapalha o jogo. Acho ele um
“chato de galocha”, quando ele está narrando você tira o som do Cléber Machado e o jogo
melhora.
18 - Qual a importância do narrador de futebol para esse esporte?
M.H: Eu acho que nós, de rádio e de televisão fazemos tudo. Por exemplo, a Rádio Itatiaia
tem cinco programas de esporte, a gente fica falando o dia inteiro. Tem jogo às seis horas da
tarde, mas começamos a transmissão às duas horas da tarde. Sempre convocamos o torcedor e
passamos detalhes das partidas: “vai ser um jogão” “os caras chegaram” “olha o ônibus do
Cruzeiro” “olha o ônibus do Atlético”. Então, acho que a nossa importância é fundamental.
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Nós somos culpados por esses altos salários de jogadores, porque colocamos os atletas como
se fossem deuses. Acho que o trabalho nosso é grande importância para o futebol, mas eles
não reconhecem isso. O Levir Culpi não queria imprensa na Toca da Raposa (Centro de
treinamento do Cruzeiro), queria que a gente pegasse tudo na internet, de repente a gente tava
incomodado (risos). Eu queria ver, se todas as rádios ficassem um mês sem noticiar futebol,
parar mesmo. Sei que isso não nunca iria acontecer por causa da briga da audiência, mas se
acontecesse, os dirigentes, jogadores e empresários passariam mal, tomariam um susto
daqueles. Eles ficaram mal acostumados.
19 - Qual é a relação da rádio com o torcedor? Você acha que você influencia? Você se
considera um reflexo do torcedor?
M.H: A Itatiaia é uma parceira do torcedor mineiro, o cara que escuta Itatiaia fica mais
seguro e mais confiante. Às vezes você está fazendo jogo em Taguatinga e aparece um cara e
diz: “eu sou da região do Barreiro, trabalho em uma empresa não sei onde” e afirmar que tem
prazer de ouvir Itatiaia. A audiência da Rádio Itatiaia é uma coisa que impressiona até a gente
mesmo, é uma coisa muito grande, nunca vi uma rádio com o poder que tem a Itatiaia, a
relação com o torcedor é muito grande.
20 - Você se considera um formador de opinião?
M.H: Claro, com certeza, a gente recebe muito e-mail aqui do pessoal falando “eu concordo
com você”. Tenho uma responsabilidade junto ao publico que é forte, o pessoal confia muito
na gente.
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21 - Você tem algum problema com voz? Toma algum cuidado?
M.H: Não, nada. Eu vou ao fonoaudiólogo uma vez por ano só pra ver se está tudo bem. Eu
tomo gelado, mas quando vou narrar no domingo, sábado eu descanso, repouso. Mas é só, não
tem esse negócio de “comer rapadura é bom pra voz”, a única coisa que chega à voz é vapor
de água. Uma vez eu comi meia rapadura e não adiantou nada, é lenda. Voz é repouso e água,
mais nada.
22 - Você tem vontade de ser narrador de uma só torcida?
M.H: Não sei se vai continuar com isso aqui na Itatiaia. Mas, na verdade, eu tinha vontade de
fazer só um time, não vou falar qual aqui, mas vocês são pessoas inteligentes e devem saber
qual é? Mas é possível, até porque o Willy vai parar antes do Alberto, mas assim se tiver que
narrar para os dois times de Minas, ou os três, com o América, não tem problema nenhum, até
porque a gente tem que ser profissional.
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ANEXO IV
ENTREVISTA COM O NARRADOR PEQUETITO, DA RÁDIO GLOBO DE BELO
HORIZONTE
Nome completo: Francisco Osvaldo Pereira dos Reis “Pequetito”
Idade: 48
Naturalidade: Monte Santo de Minas
Não é formado
1 - Em quais meios já trabalhou?
Osvaldo Reis: Na comunicação eu fiz de tudo, rádio, televisão, jornal. Mas tenho mais tempo
de rádio
2 – Em quais rádios já trabalhou?
O.R: Rádio Progresso, em Monte Santo; Rádio Difusora, em São Sebastião do Paraíso; Rádio
Cultura, de Alfenas; Rádio Atenas, também de Alfenas; Rádio Passos, da cidade de Passos;
Rádio Minas, também de Passos; Rádio Convenção, de Itu; Radio Nova Sumaré, na grande
Campinas; Rádio Inconfidência, Radio Globo e CBN, todas de Belo Horizonte.
3 - Quais as principais coberturas que você já fez?
O.R: As três últimas Copas do Mundo, 1998, 2002 e 2006, duas finais da Liga de vôlei, aqui
no Brasil e a Liga Mundial, de 1995 e 2000.
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4 - Como você começou no rádio? Porque o rádio?
O.R: Desde criança, desde os cinco que minha mãe fala que eu já gostava da rádio. O pessoal
brincava no quintal e eu pegava uma latinha de massa de tomate e ficava brincando “Alô, alô,
alô, alô” e ai ficou, e desde os 12, 13 anos que gosto de ouvir rádio.
5 - Você foi influenciado por algum narrador?
O.R: Os primeiros que ouvi na minha região, que é o sul de Minas Gerais, eram de rádios
paulistas, como Fiori Giglitotti, que eu ouvi muito na Rádio Bandeirantes. Tinha o Alfredo
Orlando, rádio Tupi do Rio de Janeiro. Gostava também do Jorge Cury, Valdir Amaral. Mas,
na minha adolescência, eu ouvia muito era o Osmar Santos, que foi, na minha opinião, o
melhor narrador de todos os tempos.
6 - Você usa alguma técnica de linguagem?
O.R: Eu fiz alguns cursos de dicção de voz de postura, com fonoaudiólogas. Eu me cuido um
pouco, apesar de gostar de tomar gelado e fumar, de vez em quando.
7 - Você faz alguma preparação antes das partidas?
O.R: Eu faço um aquecimento de voz, uma exercícios básicos de cinco minutos, dez minutos
pra aquece-la.
8 – Durante as partidas, qual é o tom de voz? Em que momento você vibra mais além do
gol?
O.R: É difícil, por exemplo, domingo agora tem o Cruzeiro e Atlético, e esse é o jogo que
requer do narrador a maior atenção possível. Porque você não pode fazer uma transmissão
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tendenciosa, porque é polarizado, aqui em Minas, Atlético e Cruzeiro é bem dividido o
público, então você não pode entusiasmar muito. Na transmissão normal a partir do meio de
campo, da intermediária você vai crescendo um pouco o volume da voz.
9 - A paixão pelo seu time influencia suas narrações?
O.R: Não, eu por exemplo, como sou do sul de Minas gostava mais do Santos, quando era
moleque, por causa do Pelé. Mas depois que eu trabalhei muito tempo no interior, isso não
tinha tanto problema. Mas aqui, em Belo Horizonte, a cobrança é muito grande porque é aqui
é Cruzeiro e Atlético, então você jamais pode ser tendencioso.
10 - E a paixão pelo futebol? Ajuda, atrapalha...
O.R: Ajuda, às vezes quando jogo está ruim é que fica bom para narrador, e aí aparece a
oportunidade de mostrar sua paixão e melhorar seu trabalho. Não tem jogo ruim, você tem
que fazer o jogo ficar bom.
12 - Você costuma opinar nas transmissões?
O.R: Eu tenho feito alguma coisa sim, mas procuro evitar, porque acho que o narrador tem é
que narrar. Mas cometemos esses erros sim, a gente dá muito “pitaco”, começa a opinar,
forçamos alguma coisa para cima do comentarista. Isso ocorre demais, mas não acho que isso
é legal, temos é que narrar, procurar sempre narrar. Mas é claro que em alguns lances, a gente
precisa comentar também.
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13 - Você já teve alguma experiência em algum outro meio?
O.R: Trabalhei em TV, quando eu vim para Belo Horizonte, 1995, foi no canal 25, quando
começou a TV a cabo aqui, foi um experiência de dois anos. Depois eu trabalhei na TV
Manchete. Agora estou na TV Horizonte, onde apresento e comento em programa de esportes.
Este ano tive uma experiência Pay-Per-View, narrando alguns jogos do Campeonato Mineiro
pelo canal pago PFC.
14 - Existe alguma diferença entre rádio e TV?
O.R: A diferença é total. Toda hora o diretor fica no ponto pedindo mais calma, porque a bola
passava do meio de campo e eu já começava a falar mais alto, mais foi uma experiência muito
gratificante, acho que agora vou fazer de novo o Campeonato Mineiro do próximo ano.
15 - Qual a sua preferência, rádio ou TV?
O.R: Rádio, mas eu não desprezo a TV, Este meio tem grande visibilidade. Você faz um jogo
no Pay-Per-View e a resposta é muito grande.
16 - Você teve dificuldades para se adaptar à TV, ou o rádio é a base para a narração
televisiva? Você acha que todo narrador de TV tem por obrigação passar pela rádio?
O.R: No começo é mais difícil, porque você tem que ficar ligado no campo, no monitor, ter
atenção aos textos, as chamadas de texto, têm ainda as entradas interativas. Também é tudo
muito rápido, você quer dar a escalação e não dá tempo, porque você entra praticamente com
a bola rolando. Quando entra alguma informação, como o banco de reserva, a classificação,
você tem que ler aquilo rapidinho. Mas a gente acaba levando. Eu acho que vale a experiência
adquirida no rádio, você pega os grandes narradores de TV, e vê que todos vieram do rádio,
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você pode pegar Luciano do Valle, Galvão Bueno, Luis Roberto, todos esses vieram do rádio,
então eu acho que é importante passar pelo rádio sim.
17 - Qual a importância do narrador de futebol para este esporte?
O.R: Eu acho que, aqui em Belo Horizonte, é importante sim, você vê as crianças nas ruas
imitando o Alberto Rodrigues, o Willy Gonzer. Isso tudo é muito importante pra criação,
passa de pai pra filho. O futebol faz parte da nossa vida e acho que a transmissão no rádio
também.
18 - Você se considera um formador de opinião?
O.R: Às vezes sim, acho que isso é muito perigoso, tem que ter muito cuidado com o que vai
falar.
19 - Você leva em conta o que ouve na rua? Recebe muitas idéias das pessoas?
O.R: Muito, muito mesmo. Até as expressões que eu uso, o “vai que eu tô te vendo” foi o
Reinaldo, ex-jogador do Atlético, que me passou em uma transmissão de Copa do Mundo que
fiz com ele. A gente pega essas expressões é do povo. Muitas vezes você está em um lugar e
chega uma pessoa para te falar alguma coisa, aí você passa a prestar mais atenção naquilo que
ele te falou. Hoje o torcedor é muito ligado, acessa muito a internet e muitas vezes sabem
muito mais do que você. Nós somos bastante corrigidos, ainda mais quem pensa que sabe
tudo.
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ANEXO V
TRANSCRIÇÃO DE LANCES DA PARTIDA ENTRE SANTOS E CRUZEIRO
Data da partida: 24/08/2008
Jogo válido pela 22ª rodada do Campeonato Brasileiro
TRANSMISSÃO DA TV GLOBO MINAS
Narração: Marcos Leandro
Comentarista: Bob Faria
Repórteres: Rogério Ferreira e Leonardo Zanotti
Primeiro gol: “Mais uma vez a bola voltando para o Santos. Jogada do Wendel. Rodrigo
dentro da área, o toque.Olha o gol. Gol, Goooool (Início da trilha) Gol de artilheiro (início do
replay). Cara-a-cara com o goleiro Fábio. Na entrada da pequena área, o artilheiro Kleber
Pereira. Pra levantar o torcedor do Santos, na Vila Belmiro. Sai na frente o peixe. Santos um,
cruzeiro zero. Bob Faria (Intervenção do comentarista)”
Tempo do comentário do lance: 24”
Tempo do grito de gol: 8”
Tempo do Gerador de Caracteres:5”
Segundo gol: “O Cruzeiro tenta partir, Elicarlos. Voltou para direita o Eli, tentou a
recuperação na base da vontade, da raça. Fica a disputa de bola na lateral, e o Santos levou a
melhor e puxa o contra-golpe. Perigoso por sinal. A bola é levantada para Kleber Pereira,
100
matou no peito, encheu o pé...E o gol, gooool do Santos (trilha). A bela jogada pela esquerda
(replay), o cruzamento na área. Matou no peito e bateu no canto direito do goleiro Fábio, o
Kleber Pereira. Santos dois, Cruzeiro zero. Bob Faria. (Intervenção do comentarista)”.
Tempo do comentário do lance: 30”
Tempo do grito de gol: 11”
Tempo do Gerador de Caracteres: 5”
4’53” do segundo tempo – Lance 1: “Marquinhos Paraná, Bruno... Mais atrás, Fabrício de
primeira jogando dentro da área do Santos, a cabeça do Gerson Magrão, pra fora. Bob Faria.
(Intervenção do comentarista)”
41’34 do segundo tempo – Lance 2: “Elicarlos, o chute de longe do Henrique... Vai pra fora.
Vamos ao gol do Ipatinga (corte para o gol do Ipatinga)”
TRANSMISSÃO DA RÁDIO ITATIAIA
Narração: Milton Naves
Comentarista: Júnior Brasil
Repórteres: Arthur Moraes e Emerson Romano
Primeiro gol: “41 minutos e 40, o Santos vem para o ataque, atenção estamos caminhando
para o final do primeiro tempo. Olha a bola do Rodrigo Souto, na direita Maicon cruzou,
Kleber bateu e é gol, Gooool (início trilha) do Santos, Kleber Pereira, ele é matador, ele é
artilheiro, não perde duas vezes. Cruzeiro melhor no jogo, leva o gol aqui na Vila Belmiro,
101
um gol que se desenhou, gol de Kleber Pereira, tá na rede, se tá na rede é gol, Kleber Pereira
aos 42, um para o Santos zero para o Cruzeiro. Arthur Morais. (Intervenção do repórter)”.
Tempo do comentário do lance: 37”
Tempo do grito de gol: 6”
Segundo gol: “Falta nele... Não, mandou tocar o árbitro, estica a perna ainda o Elicarlos, tenta
retomar a posse de bola, não chegou a sair, entra também na jogada o Bruno. O Eli sentiu, tá
valendo tudo isso... Então sai jogando time do Santos olha a velocidade, tenta colocar
velocidade Molina, Molina no cruzamento pro Kleber Pereira, matou no peito, ajeitou, bateu e
é gol. Gooool (trilha) do Santos, Kleber Pereira faz o segundo gol do Santos, matou no peito,
ajeitou, chutou cruzado e bateu pra fazer o segundo gol do Santos, aos 34 minutos. O goleiro
Fábio Costa que está aqui do nosso lado aplaude de pé o gol marcado por Kleber Pereira,
praticamente matando o jogo, dois para o Santos zero para o Cruzeiro. Arthur Morais
(Intervenção do repórter)”.
Tempo do comentário do lance: 36”
Tempo do grito de gol: 3”
4’53” do segundo tempo – Lance 1: “Bola na direita, agora para Marquinhos Paraná, rolou
próximo da área para Bruno, ajeitou para Fabrício. Fabrício vem para o cruzamento pro
Gerson Magrão, cabeceou pra fora, sai pela linha de fundo sem nenhum problema para o
goleiro Douglas, Arthur Morais. (Intervenção do repórter).”
102
41’34” do segundo tempo – Lance 2: Voltou para Elicarlos. Elicarlos dominou, tentou,
passou, voltou, pro disparo do Henrique de longe pra fora, pela linha de fundo, tiro de meta
Arthur Morais. (Intervenção do repórter).”
103
ANEXO VI
TRANSCRIÇÃO DE LANCES DA PARTIDA ENTRE SÃO PAULO E CRUZEIRO
Data da partida: 28/09/2008
Jogo válido pela 27ª rodada do Campeonato Brasileiro
TRANSMISSÃO DA TV GLOBO MINAS
Narrador: Rogério Côrrea
Comentarista: Bob Faria
Analista de arbitragem: Márcio Rezende Freitas
Repórteres: Rogério Ferreira e Marcelo Di Espanha
Primeiro gol: “Os dois técnicos mexem praticamente ao mesmo instante. No Cruzeiro, o
técnico Adílson tira Tiago Ribeiro e tá aí o Maurinho na lateral-direita. E Jonathan que se vire
para arrumar posição dele no campo. Logicamente que estou brincando (Intervenção do
comentarista Bob Faria). Foi driblado ali o Guilherme, e o São Paulo chega pelo meio. Bola
tocada do Hugo lá com o Dagoberto. Bola rasteira com o Hugo. Se apresenta para receber a
bola Hernanes. Hugo pára, demora para fazer o passe. O Cruzeiro deixa pra fazer a marcação
ali na entrada da área. (Silêncio por quatro segundos). Ameaça fazer o cruzamento Jeancarlos
e consegue ganhar o escanteio. Escanteio para o São Paulo pela direita. Temos 34 minutos, a
bola explodiu ali no Marquinhos Paraná (neste momento é mostrado o replay do lance).
Segundo tempo de jogo. São Paulo zero, Cruzeiro zero. Para as duas equipes, que têm sonhos
ambiciosos, o empate é pouco. Olha a disputa do Rodrigo com Espinoza. Tenta escapar ali o
Rodrigo, o Espinoza não deixa (zoom nos dois). Agora chega a ameaçar uma cabeçada, o
104
Rodrigo...Olha os desvio...Goooool (Início da trilha do hino São Paulo)- Três segundos sem
narração, apenas com imagem da torcida. Na cobrança de escanteio do Jorge Wagner, o
desvio do André Dias (Replay) na pequena área, aos 35 minutos do segundo tempo, o São
Paulo abre o placar (fim da trilha). Ficou debaixo do travessão o Fábio, e o André Dias
escapou da marcação pra meter de cabeça e fazer um para o São Paulo, zero para o Cruzeiro.”
Tempo do comentário do lance: 49”
Tempo do grito de gol: 6”
Tempo do Gerador de Caracteres: 5”
Segundo gol: “[...]o Cruzeiro é o terceiro, Flamengo é o quarto e o São Paulo é o quinto
colocado. E a falta marcada pelo árbitro. (Replay da falta por outro ângulo). O goleiro Fábio
outra vez organiza a barreira, protegendo ali o lado canto direito. O São Paulo fez o gol aos
35. Tem uma chance aí aos 47. Tomou distância ali o Jancarlos. Bateu por cima da
barreira...Gooool do São Paulo(Início da Trilha) - Imagem de três segundos da torcida, sem
narração). Jancarlos, número 16, aos 47 minutos, talvez o último lance do jogo. O São Paulo
sacramenta a vitória. Final de jogo. Vamos aos instantes finais de Náutico e Palmeiras. Cléber
Machado. (Corte para o jogo Náutico e Palmeiras)”.
Tempo do comentário do lance: 37”
Tempo do grito de gol: 11”
Tempo do Gerador de Caracteres: 5”
43’35” do primeiro tempo – Lance 1: “Toma ali o Jonathan. Fica o tempo todo cantando a
jogada (som ambiente) o técnico do Cruzeiro, ali ao lado do campo. Ramires com Jonathan,
105
ele faz o drible, consegue tocar ali pela direita com o Tiago Ribeiro. O Cruzeiro chegando,
entrando na área com o Tiago Ribeiro. Aí chegou dividindo a zaga. Tentou chegar brigando
pela bola de novo. Aí mostrou categoria o Jorge Wagner e a defesa do São Paulo consegue
afastar.”
17’49” do segundo tempo – Lance 2: “Guilherme; Jonathan. O Cruzeiro chega bem. Olha a
bola levantada pelo Fabrício. Bola no alto, o Tiago Ribeiro tava por lá, o Guilherme também,
e a bola saiu. (Neste momento, aparece o gerador de caracteres com a bolinha, que representa
gol em outro jogo). E esse gol no Brasileirão... É gol no clássico Atle-Tiba. O Atlético
paranaense jogando no estádio do Coritiba faz um a zero. Um a zero para o Atlético
paranaense. Daqui a pouco a gente informa quem fez. (Silêncio por dois segundos). Olha o
Cruzeiro chegando (o narrador aumenta o volume voz)... E a batida pra fora do Thiago
Ribeiro (Replay do lance). Abriu espaço, ele carregou, a bola quicou antes, ele bateu
firme(enfatiza) e a bola saiu à esquerda de Bosco. Talvez a grande chance do Cruzeiro até
agora no jogo. Olha aí de novo, num chute firme do Tiago, ele não acredita que a bola saiu.”
106
ANEXO VII
TRANSMISSÃO DA RÁDIO ITATIAIA
Narração: Milton Naves
Comentarista: Lélio Gustavo
Repórteres: Arthur Moraes e Emerson Romano
Primeiro gol: “Saiu Tiago Ribeiro, resta saber se não tinha condição de continuar. Sai Tiago
Ribeiro, entra Maurinho na equipe celeste. Jogo reiniciado. Jorge Wagner, Jancarlos, que
também já está em campo pelo São Paulo. Vem o Jorge Wagner, abriu, soltou, agora para
Hugo. Hugo domina pela esquerda, tem a passagem de Dagoberto, soltou para ele. Dagoberto
domina, de volta para Hugo. O São Paulo sempre perigoso, agora no ataque, aqui pelo lado
esquerdo. Bola para Hugo, pela meia-esquerda agora. Henrique ao encalço dele, chutou, abriu
pela ponta-direita. Chegando com perigo, o São Paulo. Dominou Jancarlos, levou para a linha
de fundo, tentou o cruzamento e a bola saiu pela linha de fundo. É escanteio, hein Emerson
Romano (Intervenção de 10 segundos do repórter). Jorge Wagner pela ponta direita, para
bater o escanteio para a equipe do São Paulo. Placar de zero a zero. Quase 35 minutos deste
segundo tempo. Segundo tempo de jogo. Jorge Wagner vai com capricho, vai para o
levantamento, para a cobrança de escanteio. Momento de perigo de novo, sempre que bate
escanteio. Jorge Wagner. Autoriza o árbitro Leonardo Gaciba. Finalmente Jorge Wagner na
bola. Olha o cruzamento perigoso... E o gol do São Paulo. Goooool. André. André Dias, o
capitão do time. Foi voando, foi lá em cima e meteu de cabeça pro fundo do gol. Aos 35 do
segundo tempo, André Dias faz o gol do São Paulo. Um para o São Paulo, zero para o
Cruzeiro. Emerson Romano (Intervenção do repórter).”
Tempo do comentário do lance: 45”
107
Tempo do grito de gol: 6”
Segundo gol: O Cruzeiro demorou muito para bater o lateral. O São Paulo recupera, Jorge
Wagner. Abriu, soltou para Hugo. Hugo pisa na bola, caiu. É falta nele, marcou o árbitro.
Falta no Hugo, era tudo que o São Paulo queria, arrumar essa falta aí no finalzinho, hein
Emerson Romano (Intervenção do repórter por 9 segundos). É falta para o São Paulo
(Intervenção de 3 segundos do outro repórter). Não dá pro Wagner, ta dizendo o Arthur
Moraes. Falta. O Cruzeiro então termina com dez. Olha a falta batida...Gol do São Paulo.
Gooooooooool (Intervenção do Repórter, que fala sobre o autor do gol). Jorge Wagner, na
batida de falta, confesso que pegando todo mundo de surpresa. A falta batida, Jorge Wagner
no ângulo. Quando o Fábio pensou em ir pra bola, já era tarde. Liquida, mata o jogo. Jorge
Wagner aos 48 (Intervenção do Repórter, que ao falar, corrige mais uma vez o narrador).
Termina. São Paulo dois a zero. Emerson Romano e Arthur Moraes.”
Tempo do comentário do lance: 32”
Tempo do grito de gol: 3”
43’35” do primeiro tempo – Lance 1: Bola para Guilherme. Guilherme pela direita, bola
para Jonathan. Jonathan, dominou, foi para o meio, passou, abriu para Fabrício. Perna
esquerda na bola, aí para o cruzamento forte. Bola pra fora. Domingos Sávio Baião. E a
vitória do Ipatinga, Baião. (Intervenção de nove segundos do analista de estatísticas). Bosco
batendo o tiro de meta. Olha ali, Fabrício cortou. A bola sobrou para Tiago Ribeiro. Entrou
pela área, bateu para o gol, pra fora (mais alto e enfatizado). Num presentaço do Bosco, na
cobrança do tiro de meta. O Tiago entro sozinho na área e poderia – aquela história, daqui de
108
cima é fácil falar – poderia ter conduzido a bola um pouco mais. Perdeu uma grande chance
para o Cruzeiro, Arthur Moraes. (Intervenção do repórter).”
17’49” do segundo tempo – Lance 2: “Entra Jonathan, cabeça nela, vai mandar. Jorge
Wagner ajeitou errado. Sobrou para Jonathan. Jonathan para Ramires. Ramires dominando
pela meia-direita desceu na ponta, pediu Jonathan, o passe para ele. Domina Jonathan, ainda
Jonathan, prendeu dois jogadores do São Paulo. Boa bola dele pela direita, pra chegada do
Henrique. Foi entrando Henrique (nome errado)...Perdeu. Entrou bem Jorge Wagner e tirou.
Do lado esquerdo, sai jogando o São Paulo.
109
TRANSCRIÇÃO DE LANCES DA PARTIDA ENTRE PALMEIRAS E ATLÉTICO-
MG
Data da partida: 04/10/2008
Jogo válido pela 28ª rodada do Campeonato Brasileiro
TRANSMISSÃO DA TV GLOBO MINAS
Narração: Marcos Leandro
Comentarista: Bob Faria
Repórteres: Rogério Ferreira e Abel Neto
Analista de arbitragem: Márcio Rezende Freitas
Primeiro gol: “Olha só a bobeada da defesa do Palmeiras. Marques rolou pra trás. Renan...
Gol do Atlético. Vibração do torcedor atleticano no Palestra Itália. O zagueiro Maurício
bobeou. Marques aproveitou e muito bem a falha do Maurício, pra tocar para o garoto Renan
Oliveira. Sai o primeiro zero do placar e o Atlético está na frente”.
Tempo do comentário do lance: 56”
Tempo do grito de gol: 9”
Tempo do Gerador de Caracteres: 5”
Segundo gol: “Kleber, caindo pela direita e marcado pelo Marcos. Tentou o cruzamento. A
bola está dentro da área do Atlético. Sobrou para o Élder Granja. Alex Mineiro procura um
espaço. Bom toque para Leandro. Gooool, do Palmeiras, Leandro Silva. A vibração agora é
110
do torcedor palmeirense. Alex Mineiro inteligentemente tocou pro Leandro, teve visão de
jogo. Chega ao empate a equipe do Palmeiras.”
Tempo do comentário do lance: 1`3”
Tempo do grito de gol:: 6”
Tempo do Gerador de Caracteres: 5”
Terceiro gol: “Muito habilidoso o Denílson, conseguiu o drible, deixou pra trás o Rafael
Aguiar. Alex Mineiro, dominou, bateu... Goooool do Palmeiras. Denílson fazendo a jogada
pela esquerda, marcado pelo atacante Rafael Aguiar, conseguiu jogar a bola no peito do Alex
Mineiro. Teve o trabalho de ajeitar para a conclusão o Alex, um dos artilheiros do
campeonato, chegando ao décimo sétimo gol o Alex Mineiro. O Palmeiras vira pra cima do
Atlético.”
Tempo do comentário do lance: 1’04”
Tempo do grito de gol: 9”
Tempo do Gerador de Caracteres: 5”
Quarto gol: Recuperação do Palmeiras no meio-de-campo, Denílson na velocidade vai
conduzindo. Bom toque para o Kleber, bateu, Juninho. Sobrou... Gooool do Palmeiras. Faz
mais um a equipe palmeirense. A jogada começou com o Denílson. Ele acreditou e apareceu
pra finalizar, pra estufar as redes do Atlético. Mais um do líder Palmeiras, Denílson. Três a
um no placar.
111
Tempo do comentário do lance: 48”
Tempo do grito de gol: 7”
Tempo do Gerador de Caracteres:5”
4’15” do 1° Tempo - Lance 1: Boa chegada do Palmeiras. Olha o toque pra quem vem de
trás. Defesa do goleiro Juninhooooo. Grande chegada da equipe do Palmeiras. O Atlético se
safa.
6’45” do 1º Tempo - Lance 2: Se manda o Palmeiras. Atacando Diego Souza. Bola rolada
pro Alex Mineiro. Olhou, bateu, ficou na marcação do Leandro Almeida.
TRANSMISSÃO DA RÁDIO ITATIAIA
Narração: Mário Henrique
Comentarista: Júnior Brasil
Repórteres: Roberto Abras e Thiago Reis
Primeiro gol: “Lançamento para Marques na ponta-esquerda. Marques correu, tentiva de
domínio do Marques. Olha lá o zagueirão se complicando. Marques chegou, roubou. Olha o
gol do Galo. Ainda o Marques, rolou para trás. Renan vai fazer! Caixa. Gooool (trilha) do
Galo. Renan Oliveira, no fundo do barbante. Na inteligência de Marques. O zagueirão cortou
pro lado esquerdo, Marques, com toda a sua experiência, adivinhou, roubou e dominou.
Renan Oliveira guardou no fundo do barbante. Aos 31 minutas da etapa inicial de jogo. Bica,
bica,bica eles Galo. Renan Oliveira vai rasgando que o Caixa vai costurando. No fundo do
gol. Olha o Galo aí na frente aqui em São Paulo. Roberto (intervenção do repórter)”
112
Tempo do comentário do lance: 1’04”
Tempo do grito de gol: 17”
Segundo gol: “Bola na direita para Kleber. Vai tentar girar. Cruzou na boca do gol. Alex
Mineiro tentou ajeitar pra trás pro Elder Granja. Ele domina, puxou a tabela pra Alex Mineiro.
Rolou na esquerda. Boa batida! Caixa. Goooool do Palmeiras. Leandro, na penetração pela
meia-esquerda. Na inteligência de Alex Mineiro, que rolou. Bateu forte no fundo do barbante
aos 43 minutos da etapa inicial de partida. Leandro para empatar o jogo. Thiago Reis
(intervenção do repórter).
Tempo do comentário do lance: 25”
Tempo do grito de gol: 3”
Terceiro gol: “Olha lá o Rafael Aguir lutando. A bola é batida na grande área. Alex Mineiro
bateu. Caixa. Goooool do Palmeiras. Jogada de Denílson na ponta-esquerda. O Rafael Aguiar
tentou inclusive a falta e não conseguiu. Cruzamento na grande área, Alex Mineiro ao seu
estilo. Dominou, bateu e marcou no canto. Não pôde fazer nada o goleiro Juninho, que já fez
grandes defesas nesta tarde-noite aqui em São Paulo. Aos 18 da etapa complementar o vira-
vira verde. Dois para o Palmeiras, um para o atlético. Roberto (intervenção do repórter).
Tempo do comentário do lance: 40”
Tempo do grito de gol: 4”
Quarto gol: “Olha o Kleber. Olha aí o que o nosso simpático César Prates arrumou.
Palmeiras na grande área. Caixa. Goooool do Palmeiras. O César Prates tentou reolver
113
sozinho aqui atrás. O Palmeiras roubou a bola. O Juninho fez uma defesa que a mão dele tá
pegando fogo até agora, de tão forte que foi o chute. Ela escapuliu, Denílson chegou e
guardou no fundo do barbante. É o terceiro do Palmeiras, aos 33 pode crer. Três para o
Palmeiras, um para o Galo. Ô Roberto. (Intervenção do repórter)”.
Tempo do comentário do lance: 32”
Tempo do grito de gol: 5”
4’15” do 1° Tempo - Lance 1: Aqui na direita a bola é lançada para Elder Granja. Ele bate na
bola de primeira. Tentativa na frente. Vai chegar no Kléber. Sai pra cima dele o Serginho, fez
a proteção. A bola não sai. Conseguiu dominar Diego Souza, na grande área. Rolou para trás.
Bola batida. Juninhooo! Salva o Galo Juninho.”
6’45” do 1º Tempo - Lance 2: “Olha o Palmeiras chegando com Diego Souza. Perigo!
Rolada pro Alex Mineiro. Tira o zagueirão do Galo, Leandro Almeida”.