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A minha história

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De certeza para muitos de nós, na nossa vidaescolar, o primeiro dia de aulas é aquele quemais nos marcou, sobretudo por abrir a portapara o mundo do saber.

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Desse primeiro dia é da figura domeu pai que mais recordo, que maisme marcou pela autêntica lição devida que me deu.

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Primeiro dia, primeira vez no quadro, mas aocontrário do quadro de ardósia com algumas letrasencontrava-me em branco.

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Naquele tempo perdido antes do vinte cinco de Abril, numa pequena vila do interior do país, ainda não se partilhavam histórias de jardins-de-infância.

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A professora, vinda da grandecidade, muito para lá dosmontes que nos rodeavam, masque ao mesmo tempo nosprotegiam estava habituada auma realidade bem diferente.

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A professora que tinha trabalhado um ano, nojardim Escola João de Deus, habituada a crianças jácom outras aprendizagens com outras vivências.

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Perante uns rabiscos que se encontravam noquadro demonstrei desconhecimento.Instintivamente, a professora deu-me umapequena bofetada, presumo, porque a dor jádesapareceu faz muito, no pescoço que meimpeliu para diante embatendo com a testano quadro.

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Espantado, chocado, habituada às brincadeirada rua, do jogo do pião, da bola detrapos, muito raramentecastigado, fisicamente nempensar, simplesmente saí porta fora, semsequer ouvir os gritos da professora a chamar-me de volta.

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Muito ofendido contei aos meus pais, paraencontrar neles o apoio para não voltar mais àEscola.

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O meu pai de sorriso nos lábios, concordavacomigo, que aquilo tinha sido um ultraje, doqual resultara um galo que cantaria maistarde.

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Grande “ofensa”, e isso agora de saber quais eram as letras. Para que aprender isso, continuava o meu pai.

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Entretanto, chamou-me atenção parauma carta que tinha recebido de umsobrinho a trabalhar numa terra queficava tão longe, tão longe, de quaseum dia de viagem que era Lisboa.

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Na carta vinha uma referência de uma prenda paramim. O meu pai deu-me a carta para mão edaquele emaranhado de letras não conseguiaretirar nenhuma informação, mas também nãocontei com ajuda do meu pai.

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O meu pai de uma forma pausada, com a mãono meu ombro disse-me: “Ó rapaz, não serámelhor aprenderes a ler?”.

Disse-lhe que sim com cabeça, e acompanhadopelo meu pai voltei à Escola.

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Na escola, o meu pai a pedir desculpa pelomeu gesto, ao mesmo tempo, a professora apedir desculpa pelo que aconteceu.

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Desde esse dia, até aos dias de hoje, guardouma imagem de grande carinho e de grandeamizade pela minha professora que meensinou a ler e a escrever, sobretudo por terdescoberto a importância da Escola no meufuturo.

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Já agora, a coisa que aludia a carta era umabola de couro, grande bola, grandesmomentos que vivemos com ela e que veiosubstituir a bola de trapos dos nossos jogos defutebol.