Upload
alisson-nogueira
View
243
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
1
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA
DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES
NÚCLEO DE ESTUDOS DA ESPETACULARIDADE (NESP)
Projeto para a Seleção Pública de Bolsas de Produtividade em Pesquisa
nas Áreas de AC – Artes, Ciência da Informação e Comunicação.
Área de Conhecimento: Fundamentos e Crítica das Artes.
Edital Bolsas PQ / 2010
A MEMÓRIA COMO MARCA DE VANGUARDA
NA ARTE DE TADEUSZ KANTOR, ANDRZEJ WAJDA
E GLAUBER ROCHA
Autora: Profª Dra Jolanta Rekawek
Feira de Santana, Julho de 2010
2
I. JUSTIFICATIVA
Num mundo marcado pela multiplicidade de linguagens onde o ser humano é induzido a ser
apenas o homo consumens (BAUMAN, 2004: 20), é fundamental procurar as encruzilhadas,
confluências e pontos de interseção entre diversas comunidades culturais para poder nos livrar da
perspectiva de uma humanidade globalizada, formada pelos indivíduos solitários, obrigados a
lidar com a modernidade líquida (BAUMAN, 2001) que conseguiu nos privar das referências e
identificações sólidas. A desorientação que acompanha o processo da construção de identidades,
determinadas pelos legados dos contextos culturais imersos na nossa trajetória, pode obscurecer
a nossa perspectiva do mundo e dificultar a abertura, fundamental para o nosso desenvolvimento,
que nos permitiria penetrar em territórios novos. A nossa transformação orgânica no plano
individual, social e artístico depende da nossa disposição a assumir o risco da alteridade, de
confrontar o “outro”, protegendo o nosso próprio eixo (BARBA, 1991: 190). Com base nesta
premissa da abertura e da metamorfose como componente fundamental da vida e do processo de
construção de conhecimento, este projeto de pesquisa tem como objetivo contemplar a
encruzilhada dos contextos artísticos distantes: a Polônia e o Brasil, representados por Tadeusz
Kantor, Andrzej Wajda e Glauber Rocha.
Tadeusz Kantor (1915 – 1990), pintor e diretor de teatro polonês, é um dos mais
significativos representantes da vanguarda artística do século XX, conhecido internacionalmente
pelo seu Teatro da Morte no qual escolheu a memória como elemento fundador e proclamou o
triunfo do passado. Talvez o mais cosmopolita dos artistas poloneses1, Kantor era pioneiro em se
familiarizar com as propostas vanguardistas do conceitualismo, performance e happening, entre
outras. Em 1955 funda o teatro Cricot 2, cujo nome é um anagrama da frase “to cyrk” (“é o
circo”), e que pretende juntar músicos, artistas plásticos, atores em função da imaginação
libertada e da “intensificada intervenção cênica”. O ápice da atividade artística de Cricot 2 é o
Teatro da Morte articulado a partir de 1975 em espetáculos como A classe morta (1975), Onde
estão as neves de antes (1978), Wielopole, Wielopole (1980), que se tornaram referência
obrigatória na história universal do teatro. Aplaudido em todas as partes do mundo, Kantor tecia
1 Apelidado injustamente por certos críticos de arte de “vendedor ambulante de novidades”.
3
a sua singular poética do imaginário da qual expulsava a ordem da razão e instaurava o poder
absoluto da memória como a única força capaz de lidar com a utopia da vida coletiva.
Obviamente, Kantor não era o primeiro a fundamentar a sua proposta nos meandros do
pensamento irracional, pois antes dele o fizeram Proust, Bergson, Henry James, Joseph Conrad,
James Joyce, Freud, para citar alguns. No começo do século XX, o conhecimento científico e a
criação artística coincidiram ao penetrar nas formas não reflexivas do espírito com o objetivo de
elucidar a experiência existencial coletiva e individual (DUVIGNAUD, 1990: 11).
No contexto marcado pela voz contundente das neo-vanguardas que preferiam apostar pela
seqüência prospectiva do progresso, Tadeusz Kantor não tinha medo nem vergonha de se
identificar com um gênero que ele chamava da confissão pessoal, e inclusive de proclamar sua
paixão por este tipo de articulação artística que, para ele, era uma forma de se defender da
apavorante expansão da coletividade que faz o sujeito se exilar num estado de desgosto e
descrença completos. Kantor menospreza a história “coletiva”, oficial, a “história massiva” e
aposta na história do ser humano, singular, “inerme, porém magnífica” (KANTOR, 1984).2 Sem
pudor de recorrer à lembrança, Kantor se familiariza com o funcionamento da memória para
elaborar a sua proposta da vanguarda do invisível, do vazio e da morte. A memória com o seu
modus operandi irracional, subjetivado e efêmero guia o artista quando manipula os objetos em
cena ou quando constrói as personagens re-combinando os restos da infância com os destinos da
vida já vivida. Quando penetra nas regiões dos nossos sentimentos, da nossa emoção, do nosso
choro, Kantor institui a lembrança como um recurso que abole o poder da razão e questiona a
competência da visualidade.
A memória, disputada pelas lembranças concorrentes no plano individual e coletivo, também
constitui o elemento fundamental no cinema de Andrzej Wajda (1926), o cineasta polonês com
mais destaque internacional, inclusive premiado em 2000 com um Oscar pela trajetória artística.
Com os filmes como Kanal (1957) ou Cinzas e diamantes (1958), por exemplo, Wajda participa
do processo da articulação da memória coletiva retirando da margem clandestina e oficializando
a memória subterrânea, configurada pelas lembranças traumáticas de uma sociedade oprimida.
Cabe esclarecer que a memória subterrânea tradicionalmente entrava na disputa pela
memória coletiva dos poloneses, pois a situação geográfica do meu país - no centro da Europa,
2 As traduções dos escritos de Kantor, publicados em polonês, são nossas.
4
entre duas potencias: a atual Alemanha e a Rússia - determinava a sua história repleta de
conflitos. Em 1945, mais uma vez a Polônia deixava de ser um país soberano para se transformar
num feudo do regime soviético que, desde o começo, efetivou um processo de enquadramento da
memória coletiva através do sistema de ensino, meios de comunicação, mercado editorial e umas
políticas culturais marcadas pela ideologia. A sociedade foi obrigada de uma maneira traumática
a constituir um circuito subterrâneo das suas lembranças, já que a maioria delas evocava um
passado historicamente anti-soviético, e, por conseguinte, indesejável no novo contexto político.
O caráter opressor da memória coletiva, configurada pelo poder, se intensificou na época
stalinista (1945-1954). No entanto, desde a periferia, a comunidade afetiva da maioria dos
poloneses socavou as precárias estruturas da memória oficial até finalmente derrubá-las junto
com o muro de Berlim. Naquela disputa pela memória coletiva, o grupo heterogêneo dos
cineastas poloneses, chamado a Escola Polonesa de Cinema (1956-1963), ocupou um lugar
singular. A polifonia das vozes dos artistas como Andrzej Munk, Andrzej Wajda, Kazimierz
Kutz, Wojciech Jerzy Has, Jerzy Kawalerowicz, Tadeusz Konwicki, Stanislaw Lenartowicz,
Stanislaw Rózewicz, Jerzy Passendorfer, Tadeusz Chmielewski, Witold Lesiewicz, Janusz
Morgenstern, Czeslaw Petelski, entre outros, correspondia às novas expectativas da sociedade. A
explosão daquelas expectativas foi propiciada pela época de degelo3, após a morte de Stalin em
1953, na qual os poloneses manifestaram a sua frustração pelas deficiências do sistema totalitário
e reivindicaram um diálogo público sério. Aquele momento histórico foi aproveitado pela
geração de cineastas, marcada pela guerra e, depois, pela asfixia criativa, imposta na época
stalinista. O objetivo deles era:
Fazer filmes sobre o passado recente que é possível de abranger com o pensamento, em vez de abordar a contemporaneidade censurada e, por outro lado, inatingível, e colocar neles toda a emoção atual e selvagem – eis a receita da Escola Polonesa, determinada pelo talento dos seus autores e também pelas circunstâncias externas (LUBELSKI, 2008: 218).
Driblando a censura, Andrzej Wajda, ao lado de outros artistas da Escola Polonesa de
Cinema4, contestou o enquadramento da memória subterrânea que a própria comunidade afetiva
3 Termo emprestado da novel a de Ilja Erenburg. 4 A Escola Polonesa de Cinema não teve uma morte natural (como p. ex. o Cinema Novo que se esgotou como fenômeno no Brasil), mas foi atingida pela decisão política do partido comunista O documento secreto do Comitê Central do Partido Comunista sobre a cinematografia de 1960 criticou os filmes da Escola por “não relacionar a martirologia e o heroísmo da nação polonesa com a luta consciente pela Polônia Comunista”, “não criticar o governo polonês da época de entre-guerras (1918-1939, anti-soviético) e por “ser cheios de pessimismo e amargura”. O documento dava prioridade aos filmes “engajados ideologicamente”, dedicados aos “problemas
5
dos poloneses exercia. Recolhida num minúsculo espaço da periferia da memória coletiva a
partir de 1945, a maioria da sociedade polonesa sentiu uma visceral necessidade de consolidar
seus mitos e identificações ancorados no passado, que dificilmente podiam dar respostas aos
dilemas e apontar novos rumos no presente. Wajda desafiava aquela hegemonia da memória
subterrânea e, aclamado pelo sucesso do Canal e Cinzas e diamantes, entrava na disputa pela
memória coletiva dos poloneses. Naquele combate o cineasta foi auxiliado pela sua memória
individual, animado pela identificação com uma geração de artistas da Escola Polonesa de
Cinema e disposto a configurar um espaço para um debate severo, politicamente incorreto,
filtrado pelas emoções e memórias individuais e coletivas. Esta pesquisa tem como objetivo
analisar como o cinema de Andrzej Wajda penetra no arquivo da memória coletiva dos
poloneses, de que maneira oficializa a memória subterrânea e que pontos de referência aponta
diante dos dilemas que emergem da contemporaneidade.
Ao falar da memória, em especial a memória coletiva, é imprescindível remeter à
distinção de Pierre Nora entre lugares de memória, onde a sociedade contemporânea corporifica
a memória se eximindo da responsabilidade de lembrar, e ambientes de memória, os “contextos
reais onde a memória é vivenciada espontaneamente” (NORA, 1984: 1). E é precisamente nos
ambientes de memória onde penetra o cineasta brasileiro Glauber Rocha, que, inspirado pela sua
memória individual, entrecruzada com vastos repertórios de memórias coletivas do povo baiano,
relata o Brasil, denunciando-o ao mesmo tempo. A memória social articulada através da
memória corporal como signo de transmissão de saber (TYLOR, 2003: 1) opera como um dos
elementos fundamentais do cinema de Rocha oficiando a mimesis da mestiçagem brasileira, da
mistura de matrizes estéticas que flutuam de maneira híbrida num palimpsesto consolidado como
uma realidade que se destaca pela exuberante dimensão espetacular. A forma em que Glauber
Rocha explora e encena a memória social, e em especial a memória corporal, oficiada através das
partituras performáticas, que têm como marca significativa a alteração da linguagem contestando
a legitimidade do discurso oficial, constitui um objeto de estudo que é muito pouco explorado
pela extensa bibliografia sobre o artista brasileiro.
morais e educacionais à serviço das necessidades de um país que está construindo o socialismo”, e os filmes de entretenimento visando satisfazer “as necessidades dos espectadores massivos” (LUBELSKI:221).
6
Diante da ausência do foco sobre os criadores das artes cênicas, articuladas no Brasil e na
Polônia, este projeto de pesquisa se justifica, visto que propõe estabelecer uma perspectiva
original e inusitada, inter- e trans- cultural e também inter-disciplinar, através da qual seriam
contemplados o cinema e o teatro polonês e a obra do cineasta brasileiro Glauber Rocha. Através
desta pesquisa, com caráter histórico e ao mesmo tempo crítico, pretendemos oferecer um amplo
painel de referências, analisando como Glauber Rocha, no Brasil, e Tadeusz Kantor e Andrzej
Wajda, na Polônia, se alimentam do legado da memória individual e coletiva e articulam a
tradição como marca identitáaria da contemporaneidade.
Cabe esclarecer que este projeto de pesquisa conta com a circunstância favorável de que
eu, como proponente, sou nativa da Polônia, e isso comporta o acesso privilegiado às riquíssimas
fontes em língua polonesa, e, por conseguinte, o amplo uso do material bibliográfico
desconhecido no Brasil e excelentes condições de leitura. Cabe acrescentar que entre os objetivos
desta pesquisa consta a tradução ao português dos Escritos de Tadeusz Kantor (publicados em
2004 na Polônia), que são uma referência imperdível para os artistas e os estudiosos que se
empenham em reforçar a fundamentação crítica na área de artes cênicas no Brasil. A tradução
proposta como um dos objetivos deste projeto de pesquisa poderá contribuir numa perspectiva de
publicar este valioso documento no Brasil, onde aumenta de forma patente o interesse pela obra
de Kantor, o que reforça e justifica ainda mais a necessidade do desenvolvimento do presente
projeto. Neste sentido vale a pena lembrar que a editora Perspectiva publicou no ano passado o
livro Teatro da morte, uma coletânea de textos sobre o teatro do artista polonês, organizados por
Denis Bublet.
Do mesmo modo, a minha origem polonesa poderá favorecer também a realização do
outro objetivo desta pesquisa que é articular e reforçar contatos, já iniciados no ano passado, com
as instituições polonesas como a Cricoteca – Centro de Documentação e Pesquisa da Obra de
Tadeusz Kantor em Cracóvia, Universidade Jaguelloniana de Cracóvia (uma das mais antigas e
destacadas universidades da Europa, que aceitou este ano a publicação do meu artigo sobre
Cinema Novo e Glauber Rocha em sua revista Studia Iberystyczne), Universidade de Varsóvia e
Escola de Cinema em Łódź - a maior referência de ensino superior de cinema na Polônia, que
formou artistas como Andrzej Wajda, Roman Polanski, Jerzy Skolimowski, Krzysztof
Kieslowski, entre outros.
7
Finalmente, vale a pena lembrar que este projeto de pesquisa é uma ampliação do projeto
“A tradição na cena contemporânea de Tadeusz Kantor e de Glauber Rocha” que concorreu à
Bolsa de Produtividade em Pesquisa PQ/2009 do CNPQ (nº do processo 310430/2009-7), foi
aprovado pelo Comitê Assessor (AC) e recomendado à diretoria do CNPQ como prioritário
(porém, em definitiva, não conseguiu entrar na lista dos projetos beneficiados com a bolsa).
II. OBJETIVOS GERAIS
- Articular um diálogo inter- e trans-cultural a partir do estudo das manifestações artísticas de
origens e contextos diversos, criando um debate que promoveria a melhor divulgação da obra
de Glauber Rocha na Polônia e de Tadeusz Kantor e de Andrzej Wajda no Brasil.
III. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Traduzir os três volumes dos Escritos de Tadeusz Kantor ao português.
- Criar o Grupo de Trabalho dentro de Núcleo de Estudos da Espetacularidade (NESP) na
Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), dedicado à pesquisa multi-, inter- e
trans- disciplinar sobre A cena contemporânea: a arte em função da memória.
- Promover o amplo debate sobre a obra de Glauber Rocha, Tadeusz Kantor e Andrzej Wajda
através de sessões de trabalho, seminários, mostras, etc.
- Reforçar os contatos com Cricoteka (Centro de Estudos e Documentação da Obra de
Tadeusz Kantor em Cracóvia – Polônia) para organizar no futuro as mostras da obra de
Tadeusz Kantor no Brasil.
- Estabelecer contatos com a Escola de Cinema de Lódź (Polonia) e organizar mostras dos
artistas da Escola Polonesa de Cinema no Brasil.
- Oferecer uma série de mostras da obra de Glauber Rocha na Universidade de Varsóvia
(Polônia) e na Universidade Jaguelloniana (Cracovia, Polônia) - uma referência para as
universidades européias.
8
- Aplicar os resultados obtidos desta pesquisa em aulas, aulas – espetáculo, e outras formas
através de Laboratório de Práticas Espetaculares (dentro do Núcleo de Estudos da
Espetacularidade - NESP) da UEFS.
- Articular a discussão sobre os temas pesquisados em publicações e eventos acadêmicos.
- Promover o melhor conhecimento dos participantes desta pesquisa nos processos do
funcionamento da memória individual e coletiva que contribuiria para uma valorização das
suas raízes.
- Articular o processo de ensino, pesquisa e extensão, vinculando atividades de produção
artística e de conhecimento técnico - teórico dentro e fora da universidade.
- Desenvolver e consolidar o conceito de pesquisa artístico – científica.
IV. METODOLOGIA
Cabe esclarecer que operando como pesquisadora na área de artes cênicas, fundadas no
fenômeno da espetacularidade, entendo este termo de acordo com uma nova perspectiva
científica, germinada pelos pesquisadores franceses e brasileiros, que surgiu em 1995 em
Paris e é chamada de etnocenologia. Conforme esta perspectiva, inspirada na fenomenologia
husserliana e também na reflexão de Maurice Merleau-Ponty, o olhar o mundo se torna um
instrumento metodológico. No entanto, a etnocenologia discrepa da visão unidimensional do
olhar e a estende a todos os sentidos (SANTOS, 2007: 70-74). A espetacularidade instaurada
através da nossa capacidade e disposição de ver, intrinsecamente ligadas à todas as
dimensões do corpo, inclusive a nossa historicidade, se articula através das práticas
espetaculares organizadas (não necessariamente relacionadas com os códigos de
representação típicos do teatro convencional), entendendo-se como aquelas que são extraídas
da banalidade cotidiana, premeditadas, organizadas em função de ser vistas e repetidas.
A perspectiva etnocenológica tenta abordar a complexidade de formas de articulação da
cultura e da memória individual e coletiva que não foram contempladas, até então, pela
ciência ou foram classificadas apenas como “teatrais” ou “ do campo da dança”. De modo
que, a etnocenologia, que formula o termo operacional das práticas espetaculares
organizadas, poderia nos servir de base teórica para observar a espetacularidade patente na
9
obra do cineasta brasileiro Glauber Rocha, não só como uma re-atualização das matrizes
estéticas da Europa, (p. ex. as barrocas), mais sobretudo como um reflexo da miscigenação
intrínseca à realidade brasileira. Neste sentido, cabe remeter ao termo repertórios de
memória, proposto por Diana Taylor, que analisa a memória social como forma de
transmissão de saber retomando o discurso pioneiro sobre a história e memória de Pierre
Nora, que estabeleceu uma diferença entre ambientes de memória (milieux de mémoire) e
lugares de memória (lieux de mémoire). Os lugares de memória são, para Nora, os lugares
onde a memória estaria corporificada deliberadamente para preservar o sentido da
continuidade histórica (museus, arquivos, bibliotecas, parques temáticos, etc.). E os
ambientes de memória seriam os contextos reais onde a memória é vivenciada
espontaneamente pela sociedade (NORA, 1985: 1). Dialogando com Nora, Taylor propõe o
conceito do repertório de memória que:
(…), tiene que ver con la memoria corporal que circula a través de performances, gestos, narración oral, movimiento, danza, canto - en suma, a través de aquellos actos que se consideran como un saber efímero y no reproducible. El repertorio requiere presencia - la gente participa en la producción y reproducción del saber al 'estar allí' y ser parte de esa transmisión (TYLOR, 2003: 2).
Por conseguinte, o repertorio da memória, em si, implica a espetacularidade, pois
constitui uma forma de transmitir o saber social através do corpo e está organizado em função de
ser visto e compartilhado com um coletivo capaz de descodificá-lo.
Outro conceito teórico operacional, útil para os efeitos desta pesquisa, é aquele da
oralitura, que propõe Leda Martins. Martins pretende abordar com este conceito as partituras
performáticas, a particular grafia do corpo e da voz, que tem como marca significativa a
alteração da linguagem, própria dos indivíduos e comunidades confrontados com as condições
sociais adversas nas quais não podiam confluir naturalmente suas múltiplas identificações, como
no caso dos afro-descendentes no Brasil. Martins associa a oralitura nem tanto aos atos verbais
da articulação da cultura, que habitualmente são denominados com o termo da oralidade, mas a
restringe à:
Aquilo que na sua performance indica a presença de um traço residual, estilístico, mnemônico, culturalmente constitutivo, inscrito na grafia do corpo em movimento, na vocalidade. Como um estilete, este traço cinético inscreve saberes, valores, visões do mundo e estilos. A oralitura é do campo da performance, sua ancora; uma grafia, uma linguagem, seja desenhada na letra performática da palavra ou nos volteios do corpo (MARTINS, 2003: 81).
10
Para analisar como a memória opera na cena de Tadeusz Kantor, Andrzej Wajda e
Glauber Rocha, consideramos também oportuno citar as teorias de Jerzy Grotowski que evoca a
palavra r e s p i -c i o, que “é uma palavra latina que significa o respeito às coisas, eis a função da
testemunha real; não meter a nariz com o seu papel miserável, com aquela demonstração “eu
também”, mas ser a testemunha - ou seja, não esquecer, não esquecer acima de tudo”
(GROTOWSKI, 1990: 66-67). Grotowski se referia dessa maneira à situação original do
espectador que, para ele, era aquela de testemunha que está em osmose com o ator formando
parte do espetáculo. Aquela convivência harmoniosa dos indivíduos inseridos num ato
performático nos remete igualmente à ideia do corpo como lugar de memória, apontada por Leda
Martins. Conforme Martins, o corpo é um local onde o corpus cultural oficia seus diversos
saberes num processo de metamorfose constante.
Nas tradições rituais afro-brasileiras, arlequinadas pelos seus diversos cruzamentos simbólicos constitutivos, o corpo e um corpo de adereços: movimentos, voz, coreografias, propriedades de linguagem, figurinos, desenhos na pele e no cabelo, adornos e adereços grafam este corpo/corpus, estilística e metonimicamente, como lócus e ambiente de saber e da memória. Os sujeitos e suas formas artísticas que de aí emergem são tecidos de memória, escrevem historia (MARTINS, 2003: 82).
Para os efeitos desta pesquisa pretendemos observar o cinema de Glauber Rocha como
uma articulação artística inspirada pela memória social, manifesta na memória corporal, que
relata um país contemporâneo onde as suas múltiplas marcas identitárias se seduzem e se
combatem ao mesmo tempo. Ao penetrar em vastos repertórios de memória dos indivíduos e das
comunidades culturais, manifestos em práticas espetaculares organizadas, em corpos como
lugares de memória, em oralitura, Glauber Rocha faz jus à uma tradição em constante
metamorfose, que re-atualiza o passado e que, ao mesmo tempo, com o seu glamour espetacular
identifica a essência da contemporaneidade.
Por outro lado, o teatro de Tadeusz Kantor, acionado pela lembrança que proclama o
triunfo do passado, retoma o tema da morte incorporado à tradição entendida como uma
dimensão singular, íntima, e ao mesmo tempo social, compartilhada pelo ser humano. O artista
polonês escolhe a memória como elemento fundamental da sua arte de vanguarda configurada
através do Teatro da Morte (1975-84) que rigorosamente procede a decompor a fútil gramática
da ilusão. A proposta metodolígica selecionada para o projeto se coaduna perfeitamente com o
objetivo desta pesquisa que consiste em analisar como o processo de funcionamento da memória
11
se insere no processo criativo de Tadeusz Kantor que elabora a sua proposta de vanguarda
apontando os componentes identitários do mundo contemporâneo.
Cabe esclarecer que o interesse da ciência pela memória como objeto de estudo, fora da
área de psicologia ou psicanálise clínica, é um fenômeno relativamente recente, pois suas origens
remetem apenas ao começo do século XX. O conceito da memória coletiva foi usado pela
primeira vez, em 1902, por Hugo von Hofmannsthal e discutido, duas décadas depois, por
Maurice Halbwachs, que contrariando Bergson e Freud, concluiu que a memória é um fenômeno
social e destacou entre as suas funções positivas justamente a adesão do individuo ao grupo e,
por conseguinte, a existência de uma “comunidade afetiva”. Preocupado com o caráter
uniformizador e opressor da memória coletiva, Michel Pollak retomou o conceito de Halbwachs
para discutir a memória coletiva como uma memória disputada pelas memórias concorrentes,
entre elas, as memórias subterrâneas, articuladas clandestinamente pelas culturas minoritárias e
dominadas, que contestam a “memória oficial”. Dentro do processo de mobilidade da memória,
garantido pela dicotomia entre a memória e o esquecimento, Pollak reivindica a inclusão do
silêncio, pretendendo penetrar na periferia da memória coletiva, na qual afloram lembranças
traumatizantes.
A despeito da importante doutrinação ideológica, essas lembranças durante tanto tempo confinadas ao silêncio e transmitidas de uma geração à outra oralmente, e não através de publicações, permanecem vivas. O longo silêncio sobre o passado, longe de conduzir ao esquecimento, é a resistência que uma sociedade civil impotente opõe ao excesso de discursos oficiais. Ao mesmo tempo, ela transmite cuidadosamente as lembranças dissidentes nas redes familiares e de amizades, esperando a hora da verdade e da redistribuição das cartas políticas e ideológicas (POLLAK, 1989: 3).
Na disputa pela memória, observada por Pollak, o silêncio da memória subterrânea não
significa a sua ausência, e sim, a sua força que é capaz de se articular num confronto com a
memória configurada através de um processo de enquadramento, empreendido pelo poder
hegemônico. Trata-se, sobretudo, da memória coletiva nacional que o poder se esforça em
legitimar e forjar a sua credibilidade.
Este projeto de pesquisa pretende analisar como o cinema de Andrzej Wajda participou
do processo de negociação entre as memórias individuais e coletivas da sociedade polonesa, que
a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, foi oprimida pelo processo de
enquadramento da memória, típico do poder totalitário, imposto pela União Soviética até 1989.
12
Ao propor o foco inusitado que relaciona a obra dos artistas como Tadeusz Kantor,
Andrzej Wajda e Glauber Rocha tem-se como objetivo realizar uma pesquisa de caráter histórico
e crítico, com uma abordagem inter- e trans-cultural e também inter-disciplinar, visando reforçar
a fundamentação crítica na área de artes cênicas no Brasil.
V. CRONOGRAMA
A pesquisa divide-se em três anos: o primeiro relativo à coleta de dados sobre a obra de
Tadeusz Kantor, Andrzej Wajda, Glauber Rocha, o discurso sobre a memória, a tradição e a
contemporaneidade; o segundo relativo à analise destes dados e a tradução dos três volumes dos
Escritos de Tadeusz Kantor, publicados na Polônia em 2004 e inéditos no Brasil. O terceiro ano
será dedicado à aplicação dos resultados em sala de aula, publicações, palestras, oficinas,
mostras de cinema, exposições, seminários, work-shops e outro tipo de eventos dentro e fora da
universidade.
O primeiro ano divide-se em 4 fases:
1. Março de 2011 até outubro de 2011 inclui as seguintes atividades:
- Levantamento bibliográfico, vídeo-gráfico e eletrônico (internet) internacional e
especializado, com obtenção de materiais relevantes (vídeos, fotos, resenhas,
depoimentos, etc.). Entre outras atividades está prevista a visita a Cricoteka – Centro de
Documentação e Pesquisa da Obra de Tadeusz Kantor (Cracóvia), com o objetivo de
reforçar contatos e realizar pesquisa, adquirir material bibliográfico: DVDs com registros
da obra de Tadeusz Kantor, publicações da Cricoteca. Também está prevista a pesquisa
na biblioteca da Escola de Cinema de Łódź (Polônia) com o objetivo de iniciar contatos e
configurar as perspectivas de colaboração no futuro.
- Seleção dos participantes do Grupo de Trabalho inserido no Núcleo de Estudos da
Espetacularidade (NESP) da UEFS e focado nas pesquisas sobre A cena contemporânea: a arte
em função da memória.
13
2. De novembro até dezembro 2011.
- Listagem do material coletado.
- Discussão sobre os fundamentos teóricos do discurso sobre a memória, tradição e sobre os
métodos de análise adotados.
- Análise de efeitos de sobreposição de linguagens oriundas de diferentes culturas que
articulam a memória como uma das marcas identitárias do mundo contemporâneo.
3. De janeiro até fevereiro de 2012
- Discussão baseada na análise comparativa das obras selecionadas.
- Análise detalhada das especificidades da obra de Andrzej Wajda, Tadeusz Kantor e de
Glauber Rocha.
- Mapeamento das articulações artísticas no contexto brasileiro e polonês cuja essência é
revelar a memória como uma das marcas identitárias da contemporaneidade.
4. Março de 2012.
- Análise e discussão dos dados coletados no primeiro ano, com elaboração do Relatório
Parcial (Anual).
O segundo ano da pesquisa (abril de 2012 até março 2013) tem como objetivo:
1. A tradução dos três volumes dos Escritos de Tadeusz Kantor, publicados em 2004 na
Polônia e inéditos no Brasil.
________________________________________________________________________
14
O terceiro ano da pesquisa está dividido em duas fases detalhadas a seguir:
1. De abril de 2013 até outubro de 2013 consiste em aplicação didático-criativa da
análise anterior, e inclui as seguintes atividades:
- Exploração didático-criativa do entrelaçamento cultural com as técnicas
selecionadas a partir dos princípios de composição na cena contemporânea,
observados e analisados nas fases acima.
- Organização do seminário ”A arte em função da memória: Andrzej Wajda, Tadeusz
Kantor e Glauber Rocha” na Universidade Estadual de Feira de Santana e outras, em
colaboração com Cricoteka (Cracóvia), Tempo Glauber (Rio de Janeiro) e Escola de
Cinema de Łódź (Polônia).
- Criação e apresentação de pelo menos uma montagem didática e/ou performance
inter-cultural.
- Negociação com as editoras dispostas a publicar os Escritos de Tadeusz Kantor no
Brasil.
2. Segunda fase: de novembro de 2013 até fevereiro de 2014.
- Análise e divulgação de materiais obtidos, através de relatórios, publicações,
palestras e workshops;
- Preparo de materiais didáticos diversos, a partir da edição dos dados coletados, com
a criação de um arquivo digital e de um acervo bibliográfico e vídeo - gráfico
específico no tema da pesquisa;
- Elaboração do Relatório Final.
VI. CONTRAPARTIDA
- Pesquisas e produção científica.
- Perspectiva viável da publicação dos Escritos de Tadeusz Kantor no Brasil.
15
- Divulgação dos processos criativos de Tadeusz Kantor, Andrzej Wajda e Glauber Rocha
fundamentados na memória. Incorporação destes processos nas propostas criativas da companhia
de teatro na UEFS.
- Contribuição para o crescimento da UEFS na área de artes, com a perspectiva da
implementação de licenciatura na área de artes cênicas e audiovisuais.
- Elaboração de projetos para captação de recursos externos.
- Organização de eventos.
- Divulgação das várias manifestações artísticas e culturais.
VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS
ANDRADE, Mário de (1959). “Danças dramáticas do Brasil”. Em: Obras Completas de Mário de Andrade. São Paulo: Livraria Martins Editora.
____ (1963). O baile das quatro águas. São Paulo: Livraria Martins.
ARAÚJO, Nelson de (1982). O Teatro do pobre. Notas de cultura popular. Salvador: UFBA.
____ (1986). Pequenos mundos: um panorama da cultura popular da Bahia. Tomo I – O Recôncavo. Salvador: UFBA, (EMAC) Fundação Casa de Jorge Amado.
BARBA, Eugenio (1991). Além das ilhas flutuantes. Campinas: Hucitec.
BASTOS NEMER, Sylvia Regina (2005). A função intertextual do cordel no cinema de Glauber
Rocha. Río de Janeiro: Escola de Comunicação Universidade Federal do Río de Janeiro, 2005.
Tesis de doctorado.
BAUMAN, Zygmunt (2001). Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.
___ (2005). Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi; tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Ed.
___ (2006). Spoleczenstwo w stanie oblezenia. Varsóvia: Ed. Sic!.
BIÃO, Armindo (orgz.) (1998). Etnocenologia: textos selecionados. São Paulo: Annablume.
___ (2007). Artes do corpo e do espetáculo: questões da etnocenologia. Salvador: P&A Editora.
16
BIÃO, Armindo, PEREIRA, Antônia, CAJAÍBA Luiz Cláudio, PITOMBO, Renata orgz. (2000).
Temas em contemporaneidade, imaginário e teatralidade. San Paulo: Annablume, Salvador:
GIPE-CIT.
BENTES, Ivana (orgz.) (1997). Cartas ao mundo / Glauber Rocha. San Pablo: Companhia das
Letras.
BERGSON, Henri (1997). Matéria e memória: ensaios sobre a relação do corpo com o espírito.
São Paulo: Martins Fontes.
BIEDRZYCKI, Krzysztof (2009). “Jak domek z kart”. Entrevista com Andrzej Wajda. Znak,
Cracóvia, setembro, pp.69-75.
CHROBAK, Józef, KULKA, Ewa, TOMASZEWSKI, Tomasz (orgz.) (2004). Powrót Odysa” i
podziemny Teatr Niezalezny Tadeusza Kantora w latach 1942-1944. Cracóvia: Cricoteka.
CHROBAK, Józef, RAMUT, Katarzyna, TOMASZEWSKI, Tomasz, WILK, Marek (orgz.)
(2007). Kunnstgewerbeschule 1939-1943 i Podzeimny Teatr Niezalezny Tadeusza Kantora w
latach 1942-1944. Cracóvia: Cricoteka.
CHROBAK, Józef, ZARZECKA, Natalia (orgz.) (2007). Kantor. Wielopole Wielopole. Dossier.
Cracóvia: Cricoteka.
CHROBAK, Józef, WILK, Marek (orgz.) (2008). Cricot 2 lata 50. Tadeusz Kantor i poczatki
Teatru Cricot 2. Cracóvia: Cricoteka, 2008.
___ (2008). Teatr pamieci Tadeusza Kantora. Wypisy z przeszlosci. Debica: Muzeum Regionalne
em Debica.
CHROBAK, Józef, ROGALSKI, Michal, WILK, Marek (orgz.) (2008). Grupa Krakowska.
Dokumenty i materialy z lat 1932-2008. Cracóvia: Cricoteka.
___. Panoramiczny happening morski I Tadeusz Kantor w latach1964-1968. Cracóvia:
Cricoteka, (20..).
DEBS, Sylvie (2002). Cinéma et littérature au Brésil – Les mythes du Sertão: émergence d’une
identité nationale. Paris: L’Harmattan.
17
DELAHAYE, Michel, KAST, Pierre, NARBONI, Jean (1969). “Entretien avec Glauber Rocha”.
Cahiers du Cinema. París, nº 214, pp. 23-40.
DURAND, Gilbert (1997). As estruturas antropológicas do imaginário. São Paulo: Martins
Fontes.
DUVIGNAUD, Jean (1971). “Dwa fragmenty (Dos fragmentos)”. Dialog, Varsovia, nº 12, pp.
116- 123.
___ (1990). „Prefácio”. In: HALBWACHS. Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Vértice.
Editora Revista dos Tribunais, pp. 9-17.
FENTRESS, James, WICKHAM, Chris (1992). A Memoria sócial: novas perspectivas sobre o
passado. Lisboa: Teorema, 1992.
GATTI, José. “Entrevistas com cineastas baianos sobre Barravento e cinema baiano”.
Documento consultado em Cinemateca Brasileira, San Paulo. [s.f.]
GERBER, Raquel (1973). “O processo cinemanovista: a partir do depoimento concedido por
Glauber Rocha en Roma”. Fevereiro. Documento consultado em Cinemateca Brasileira, São
Paulo.
____ (1975). “Glauber Rocha y la experiencia inacabada de Cinema Novo”. Documento
consultado en Cinemateca Brasileira, São Paulo.
____ (1980). “Glauber – Exú implode a terra”. Documento consultado em Cinemateca
Brasileira, São Paulo.
____ (1981). “Glauber além da morte”. Documento consultado en Cinemateca Brasileira, São
Paulo, 1981.
GILROY, Paul (2002). O Atlântico negro – Modernidade e dupla consciência. Rio de Janeiro:
Editora 34/UCAM – Centro de Estudos Afro-Asiáticos.
“GLAUBER: el ‘transe’ de América Latina”. Entrevista con Glauber Rocha realizada por
Federico de Cárdenas y René Capriles, Hablemos de Cine, Lima, 1969, mayo-junio, nº 47, pp.
34-48.
18
GROTOWSKI, Jerzy (1990). Teksty z lat 1965-1969 (Textos de los años 1965-1969). Wroclaw:
Wydawnictwo Centralnego Programu Badan Podstawowych,.
HALAWA, Mateusz, WRÓBEL, Paulina. Bauman o popkulturze. Wypisy (2008). Varsóvia:
Wydawnictwo Akademickie i Profesjonalne.
HALBWACHS. Maurice (1990). A memória coletiva. São Paulo: Vértice. Editora Revista dos
Tribunais.
HALCZAK, Anna (org.) (2009). Galeria-Pracownia Tadeusza Kantora. Cracóvia: Cricoteka, 2009.
HALCZAK, Anna, RENCZYNSKI, Bohdan (orgs.) (2007). Tadeusz Kantor. Obiekty / Przedmioty. Zbiory Cricoteki. Cracóvia: Cricoteka.
___. Tadeusz Kantor. Epoka chlopca. Catálogo da exposição. Cracóvia: Cricoteka, 2008.
HUSSERL, Edmund (1996). Investigações lógicas: sexta investigação. Elementos de uma
elucidação fenomenológica do conhecimento. São Paulo: Abril cultural.
KANTOR, Tadeusz (2004). Pisma. Metamorfozy. Teksty o latach 1934-1974. Ossolineum/Cricoteca: Breclau, vol. I.
___ (2004). Pisma. Teatr smierci. Teksty z lat 1975-1984. Ossolineum/Cricoteca: Breclau, vol. II.
___ (2004). Pisma. Dalej juz nic... Teksty z lat 1985-1990. Ossolineum/Cricoteca: Breclau, vol. III.
Kantor tu jest. Obchody 15 rocznicy smierci Tadeusza Kantora”. Gazeta Wyborcza, Varsóvia:
Agora, 06.12.2005., suplemento.
KOLANKIEWICZ, Leszek (1995). Samba z bogami: opowiesc antropologiczna. Varsóvia: Ed.
KR.
KOT, Wieslaw (2005). PRL czas nonsensu. Poznań, Publicat.
KOTT, Jan (2005). Kadysz. Strony o Tadeuszu Kantorze. Danzig: slowo/obraz terytoria.
LUBELSKI, Tadeusz (2008). Historia kina polskiego. Twórcy, filmy, konteksty. Chorzów,
Videograf II.
19
MARTINS, Leda (1997). Afrografias da memória: o Reinado do Rosário no Jatobá. San Pablo:
Perspectiva; Belo Horizonte: Mazza Edições.
___ (2003). “Performances do tempo e da memória: os congados”. Revista O Percevejo.
Departamento de Teoria do Teatro. Programa de Pós-graduação em Teatro, Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UNIRIO), ano 11, nº 12, pp. 68-98.
___ (2006). Participação no painel sobre Memória y Referencia Cultural (Identidade e
Negritude) promovida pelo Núcleo de Referência Cultural da Fundação Cultural do Estado da
Bahia, 12 de junho, Salvador.
MATSUDA, Matt (1996). The memory of the modern. Oxford University Press.
MERLEAU-PONTY, Maurice (1999). Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins
Fontes.
NAGIB, Lucia (1996). “O Sertão está em toda parte. Glauber Rocha e a Literatura Oral”.
Imagens, Campinas: Editora da UNICAMP, janeiro/abril, nº 6, pp. 70-83.
NORA, Pierre (1984). Entre a memória e a história: os lugares de memória. Trad. Patrícia
Farias. Traducido del original francés publicado in: Les lieux de mémoire. Paris: Gallimard, vol
1 (La République), pp. 18-34.
ORTEGA Y GASSET, José (1996). La deshumanización del arte. Madrid: Revista del
Occidente en Alianza Editorial, 1996.
PAVIS, Patrice (orgz.) (1996). The Intercultural Performance Reader. Londres: Rotletge.
PILICHOWSKA, Bogdana (2008). “Andrzej Wajda – tematy, które mu doradzano (1958-89)”,
Konteksty, Varsóvia, ano LXIII, n° 2, pp. 94-101.
POLLAK, Michel (1989), “Memória, esquecimento, silencio”, Estudos Históricos, Rio de
Janeiro, vol. 2, nº 3, pp. 3-15.
PIRES FERREIRA, Jerusa (2003). Armadilhas da memória. São Paulo: Atelier Editorial.
REKAWEK, Jolanta (2009). “A memória como uma marca de vanguarda no teatro de Tadeusz
Kantor”. Anais do I Colóquio Nacional de Poéticas do Imaginário. Manaus: UEA.
___ (2009). “O corpo lembrante na cena de Tadeusz Kantor”. Anais do V Colóquio Internacional
de Etnocenologia. Belo Horizonte: UFMG.
20
___ (2009). “Um patrimônio cultural sem capital histórico: Varsóvia”. Anais do V Encontro de
Estudos Multidisciplinares em Cultura (ENECULT). Salvador: UFBA.
___ (2009). “Samba de roda como uma prática espetacular em Barravento (1961) de Glauber
Rocha”. Repertório&Dança, Salvador: Programa de pós-graduação em Artes Cênicas, UFBA,
pp. 115-125.
___ (2010). “Escola Polonesa de Cinema: Andrzej Wajda ou como ganhar a disputa pela
memória coletiva”. Anais do VI Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura
(ENECULT), Salvador, UFBA, 2010.
ROCHA, Glauber (1971). Entrevista a Diário Popular, Lisboa, 24 de junho.
___ (1975). La última entrevista de Glauber Rocha en Cuba (a Jaime Sarusky), recogida en
Folha de São Paulo, 14 de dezembro.
___ (1981). Revolução do cinema novo. Rio de Janeiro: Alhambra.
ROTHENBERG, Jerôme (2008). Etnopoesia do milênio. São Paulo: Azogue.
SANTOS, Adailton (2007). “O desmascaramento categorial do sujeito”. In: BIAO, Armindo
(org.). Artes do corpo e do espetaculo: questoes da etnocenologia. Salvador: P&A Editora, pp.
55- 76.
TARKOVSKI, Andriej (1989). Kompleks Tolstoja, Varsóvia, Pelikan.
TAYLOR, Diana (2003). “Performance y memoria social. El archivo y el repertorio”. NYU. In:
The Archive and Repertoire: Performing Cultural Memory in the Americas, Dirham: Duke
UniversityPress:
http://hemi.nyu.edu/esp/seminar/peru/call/workgroups/perfsocmemdtaylor.shtml.
TEIXEIRA, João Gabriel, Gusmão, Rita (orgz.) (2000). Performance, cultura e
espetacularidade. Brasilia: Ed. Universidade de Brasilia.
UNAMUNO, Miguel (2005). En torno al casticismo. Madrid: Cátedra.
21
VENTURA, Zuenir (2001). “O barroco é estilo ou será a alma do Brasil? Ele está presente até
nos seios da Gisele Bündchen.” Disponível em:
http://epoca.globo.com/edic/20000717/zuenir.htm
WAJDA, Andrzej (2007). “Prefácio”. Em: HENDRYKOWSKI, Marek. Andrzej Munk. Varsovia: Biblioteka Wiezi.
WAJDA, Andrzej, WÓJCIK, Jerzy. Entrevista em extras do DVD Cinzas e diamantes (1958),
Polônia, Bestfilm.
WISNIK, José Miguel (2008). Veneno remédio: o futebol e o Brasil. São Paulo: Companhia das
Letras, 2008.
XAVIER, Ismail (1983). Sertão mar. Glauber Rocha e a estética da fome. São Paulo:
Brasiliense.
____ (1993). Alegorias do subdesenvolvimento. Cinema Novo, tropicalismo, cinema marginal.
São Paulo: Brasiliense.
___ (2003). O olhar e a cena – Melodrama, Hollywood, Cinema Novo, Nelson Rodrigues. São
Paulo: Cosac & Naify.
YERUSHALMI, Yosef Hayim (1982). Zakhor: Jewish History and Jewish memory. Seattle:
University of Washington Press.
ZUMTHOR, Paul. Tradição e esquecimento. São Paulo: Hucitec, 1997.
___. Performance, recepção, leitura. São Paulo: EDUC, 2000.
Material audiovisual:
JARDIM, João, CARVALHO, Walter. Janela da alma (2001), Brasil.
ROCHA, Glauber. Barravento (1961), Brasil
___. Deus e o diabo na terra do sol, (1964), Brasil.
___. Terra em transe. (1967), Brasil.
22
___. O dragão da maldade contra o santo guerreiro. (1969), Brasil
___. O leão de sete cabeças. (1971), Itália.
SAPIJA, Andrzej. Manekiny Tadeusza Kantora (1983), Polônia.
___. Gdzie sa niegdysiejsze sniegi (1984). Polônia.
___. Wielopole, Wielopole de Tadesz Kantor (1984), Polônia.
___. Kantor (1985), Polônia.
___. Powrot Odysa Tadeusza Kantora. Notatki z prób (1987-1988). Registro de ensaios do espetáculo Nigdy tu juz nie powróce, Polônia.
___. Nigdy tu juz nie powróce (1990). Registro do espetáculo de Tadeusz Kantor. Polônia.
___. Dzis sa moje urodziny (1991). Registro do espetáculo de Tadeusz Kantor. Polônia.
___. Próby tylko próby. Registro dos ensaios do espetáculo Dzis sa moje urodziny. Polônia.
WAJDA, Andrzej. A Geração (1954), Polônia.
___. Kanal (1957), Polônia.
___. Cinzas e diamantes (1958), Polônia.
___. Lotna (1959), Polônia.
___. The Birch Wood (Brzezina, 1970), Polônia.
___. Landscape After the Battle (Krajobraz po bitwie, 1970), Polônia.
___. Umarla klasa seans Tadeusza Kantora (1976), Polônia.
___. Man of Marble (Człowiek z marmuru, 1977), Polônia.
___. Man of Iron (Człowiek z żelaza, 1981), Polônia.
___. Katyń (2007), Polônia.
ZAJACZKOWSKI, Stanislaw. Wielopole, Wielopole (1983). Registro do espetáculo de Tadeusz Kantor, Polonia.
___. Niech szczezna artysci (1986). Registro do espetáculo de Tadeusz Kantor. Polônia: Telewizja Polska.