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A MARCA DO PRECONCEITO EM CLARA DOS ANJOS, DE LIMA BARRETO
ALMEIDA, Isis, FRAZÃO, Idemburgo
Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de dezembro
de 2015, ISSN 2316-266X, n.4
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A MARCA DO PRECONCEITO EM CLARA DOS ANJOS, DE LIMA
BARRETO
ALMEIDA, Isis Maia Estudante do Programa de Pós-Graduação em Humanidades, Culturas e Artes
FRAZÃO, Idemburgo Pereira
Professor do Programa de Pós-Graduação em Humanidades, Culturas e Artes
RESUMO
Para este trabalho buscou-se no campo da literatura um espaço importante para a reflexão do preconceito como aspecto identitário a partir das contribuições da vida e obra do romancista
Lima Barreto, que em muitos momentos se confunde. Mais especificamente, no enredo “Clara
dos Anjos”, foi possível analisar os preconceitos: social, racial, de gênero, ao tratar de uma mulher mulata e suburbana, e de linguagem, ao analisar um escritor autêntico que escrevia suas
obras com uma linguagem mais simples e acessível ao entendimento do povo e que sofreu com
a discriminação não sendo aceito como membro da Academia Brasileira de Letras. Por tratar da
problemática do preconceito em sua obra e por não ceder aos modelos estrangeiros da escrita, o romancista rompeu com a tradição do início do século XX e permitiu travar diálogos no intuito
de combater os problemas sociais e culturais que percebia na cidade do Rio de Janeiro e que a
elite preferia camuflar.
Palavras-chave: Preconceito. Identidade. Clara dos Anjos.
ABSTRACT
For this work sought in the field of literature an important place of reflection about the prejudice
as an aspect of identity from the contributions of life and work the novelist Lima Barreto, which
in many instances is confused. More specifically, the "Clara dos Anjos" plot, we could analyze the prejudices: social, racial, gender, the case of a mulatto and suburban wife and language,
when analyzing an authentic writer who wrote his works with simpler language and accessible
to the understanding of the people and who suffered discrimination not being accepted as a
member of the Brazilian Academy of Letters. By dealing with the prejudice of the problems in his work and not give in to foreign models of writing, the novelist broke with the tradition of the
early twentieth century and allowed catch dialogues in order to combat the social and cultural
problems that realized in the city of Rio de January and that the elite would rather camouflage.
Key-words: Prejudices. Identities. Clara dos Anjos.
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho intenta refletir sobre as figurações do preconceito como
aspecto identitário em campos como o da literatura, da história e da linguagem, a partir
da interpretação da obra Clara dos Anjos e da vida de Lima Barreto.
A MARCA DO PRECONCEITO EM CLARA DOS ANJOS, DE LIMA BARRETO
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A literatura pode ser considerada um campo especial, que serve como
importante espaço para se refletir sobre a forma como o preconceito (em suas várias
faces e manifestações) atinge de diversas maneiras, os cidadãos e se torna umas das
armas mais eficazes e perversas da exclusão social. Lima Barreto foi vítima de
preconceito por conta da sua cor, origem, classe social e inadaptação à linguagem
parnasiana, então em voga na virada do século XIX para o XX. Também a aproximação
da linguagem culta à popular em suas obras literárias, a frequente tematização dos
pobres, do subúrbio e das periferias, colaboraram bastante para que seus romances não
fossem bem aceitos.
Mesmo com todos os seus problemas e descontentamentos mais íntimos, o
escritor Lima Barreto conseguiu expressar suas aflições e a de seus contemporâneos, da
periferia de sua época, através de textos que foram, muitas vezes incompreendidos por
grande parte da elite literária brasileira. Barreto dedicou-se através de seus textos ao
combate às discriminações sociais e trouxe para a discussão problemas dos subúrbios
cariocas, a subalternidade da mulher e os conflitos vividos pela população esquecida
para o centro de suas narrativas. Ao expor tais problemas e conflitos no romance,
entende-se que a obra do escritor teve papel um primordial e precursor, pois a atenção
que Lima Barreto deu a assuntos camuflados da época e a linguagem simples e direta
que, conscientemente utilizava, fez com que a literatura brasileira se aproximasse do
povo que, com entendimento, poderia lutar por mudanças.
Este artigo apresenta questões referentes à biografia de Lima Barreto e analisa a
obra Clara dos Anjos dando ênfase à problemática do preconceito social, apontando
para a maneira como as diferenças sociais – relativas à pobreza -, de gênero, raciais e de
linguagem promovem a exclusão de enorme parte da população. Lima Barreto sofreu na
pele o preconceito social em sentido amplo - não apenas o racial - e lutou contra ele,
denunciando-o através do amor que tinha pela literatura.
A metodologia utilizada no trabalho tem uma abordagem qualitativa do tipo
bibliográfica e interpretativa através dos dados obtidos pela análise da obra “Clara dos
Anjos”.
1.1. Lima Barreto e sua literatura à deriva
Brasileiro, contista, romancista e cronista, Lima Barreto nasceu em 13 de maio
de 1881. Sua mãe, Amália Augusta, era professora. Seu pai, João Henriques de Lima
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Barreto, era tipógrafo. Durante a maior parte de sua vida o autor viveu na periferia da
então Capital Federal. As expectativas iniciais de ascensão social e, mais do que isso, de
reconhecimento, esvaíram-se ao longo de sua trajetória. Lima Barreto foi um dos
maiores críticos e um dos mais criticados escritores do período da República Velha no
Brasil. Nasceu na zona sul do Rio de Janeiro, em Botafogo, porém viveu no subúrbio de
Todos os Santos, na condição de negro e filho de pais pobres, algo que implicou uma
condição de vítima de preconceitos que perdurou ao longo de sua vida.
Perdeu a mãe ainda criança, o que trouxe muito sofrimento para ele ainda
menino. Acrescente-se a tudo isso, a loucura que o perseguia, vitimando seu pai e o
alcoolismo que o levou algumas vezes ao “hospital dos alienados”. Alguns dos
preconceitos com os quais conviveria, ao longo da vida, tiveram origem no colégio,
uma vez que, por intermédio de Visconde de Ouro Preto, seu padrinho, teve a
oportunidade de estudar em colégios de excelência naquele período. Contudo, embora a
educação fosse de qualidade, os momentos eram de desconforto, isso porque os outros
estudantes e professores apresentavam, em alguns casos, preconceitos por Lima Barreto
ser negro.
Já na velhice, seu pai enlouqueceu. Lima Barreto era quem sustentava todos os
seus irmãos. Sendo assim, o escritor, mesmo apaixonado por literatura e filosofia, foi
obrigado a abandonar a escola politécnica que frequentava para trabalhar e sustentar
seus irmãos, pois seu pai já não mais possuía condições de conduzir essa função. Neste
sentido, prestou concurso para o Ministério da Guerra, conquistando um cargo de
escriturário que garantiu o sustento de seus irmãos e sua aproximação com a atividade
de escrita. Contudo, Lima Barreto não se manteve mais do que três anos nessa função,
pois, em 1905, iniciou uma nova jornada como jornalista na mídia impressa intitulada
“Correio da Manhã”. Cabe ressaltar que, concomitante a essa nova função, também
iniciava sua prática de escritor de textos do gênero romanesco que eram divulgados nos
jornais. Em 1911, publicou seu primeiro livro com o título de Recordações do Escrivão
Isaías Caminha.
Clara dos Anjos do romancista Lima Barreto, assim como outras obras, implicou
no desmoronamento de extraordinárias barreiras de pensamento, pois apresentou como
temática o subúrbio carioca e questões acerca do preconceito social, racial e de gênero.
Tais temáticas, os traços e atributos dos personagens, a linguagem simples, distante da
linguagem rebuscada dos parnasianos, em voga em sua época, são características
apresentadas nos textos de Lima Barreto que o fazem alvo de críticas, uma vez que as
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mesmas não estariam de acordo com a prática textual literária e do pensamento daquela
época. Essas e outras questões, também implicaram na sua não aceitação do escritor
como membro da Academia Brasileira de Letras.
Essa recusa da ABL, posteriormente foi criticada por Zélia Nolasco de Freire
(FREIRE, 2005, p. 13) na apresentação do livro intitulado Lima Barreto: Imagem e
Linguagem na qual argumenta que “a hipocrisia dominante não poderia aceitar que em
hipótese alguma, que um mulato pobre, filho de escrava, se equiparasse aos medalhões e
tivesse o seu nome literariamente reconhecido”.
Essa crítica foi realizada pela não inserção de Lima Barreto ao lado dos literatos
de sua época, uma das justificativas era fundada no entendimento de que o escritor
incorria em erros, pois não utilizava rigidamente a norma culta da língua. Não obstante,
embora houvesse a existência de críticas, o estudioso da língua portuguesa, Antônio
Houaiss (1956) não entendia a escrita de Lima Barreto desta forma. Na percepção desse
importante filólogo, escrita no prefácio da obra Vida urbana: artigos e crônicas. Obras
de Lima Barreto, as críticas emergentes eram levianas, uma vez que ele considera Lima
Barreto um escritor consciente, senão o maior, dos escritores da fase crítica da evolução
social daquele período, afirmando ainda sua riqueza de comunicação e de expressão que
indubitavelmente qualquer orientação estilística pode compreender.
De acordo com Zélia Nolasco-Freire, a escrita de Lima Barreto
antecipa o retorno às origens, promovendo uma aproximação entre a
literatura e o povo. Isto é possível através do uso de uma linguagem
equivalente ao público leitor ao qual a obra literária é destinada. Pode-se afirmar que esta seja, talvez, a grande preocupação do escritor:
transformar a sociedade (2005, p. 120).
Como grande crítico do período, Lima Barreto escreveu seus textos para
demonstrar o que pensava sobre as coisas e o mundo, na tentativa de despertar a
sociedade para outras práticas e reflexões e por isso foi causador de grandes
insatisfações. Nesta perspectiva, o historiador brasileiro, jornalista e crítico literário,
Sérgio Buarque de Holanda costumava afirmar que os personagens e os enredos dos
contos, romances e crônicas do autor carioca muito tinham a ver com a própria
biografia. Buarque de Holanda argumenta que “a obra deste escritor é, em grande parte,
uma confissão mal escondida, confissão de amarguras íntimas, de ressentimentos, de
malogros pessoais, que nos seus melhores momentos ele soube transfigurar em arte”
(HOLANDA, 1956, p. 9).
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Mesmo com o trabalho que gostava de realizar, a vida de Lima Barreto também
estava rodeada pela depressão e pelo alcoolismo que o acompanhou até o final de seus
dias.
O escritor ao encontrar o desprezo e a exclusão devido o fato de ser
pobre, alcoólatra e ter passagens pelo hospício- mas, principalmente, por ser negro – poderia ter desistido da arte literária. Porém, era
exatamente esta a dor que o alimentava e fazia com que se tornasse
mais forte em frente às intempéries que teimavam em boicotar-lhe o sucesso (FREIRE, 2005, p.66).
Os primeiros modernistas, como Mário e Oswald de Andrade, viam em Lima
Barreto um precursor, em termos de narrativa, do modernismo que “engatinhava” no
início do século XX. Pela dificuldade de impor seu estilo e não figurar na lista dos
melhores ficcionistas, em sua época e, mesmo por tornar-se alcoólatra (ter sido
internado como louco) e sentir-se injustiçado por seus contemporâneos, pode ser
considerado, por esse viés, um escritor marginal. No artigo “A biografia e o biografado:
reflexões sobre Afonso Henriques de Lima Barreto”, Ferreira (2009, p. 4) argumenta
que: “A imagem que o indivíduo Afonso Henriques de Lima Barreto fazia de si era, em
muitos momentos, marcada por uma forte negatividade. Apesar de se reconhecer como
um escritor de talento via-se esmagado pelo preconceito”. O escritor não passou
despercebido, recebeu críticas positivas, mas, na maioria, negativas.
Lima Barreto faleceu em 1 de novembro de 1922, aos 41 anos, sofrendo um
colapso cardíaco. “Lima Barreto, por sinal, mesmo criticando enfaticamente as
falcatruas, os desmandos e o arrivismo, não desiste. Só para de lutar forçado pela
doença e pela morte” (FRAZÃO, 2000, p. 152).
Lima Barreto deixou em seu texto marcas que o imortalizariam. Sua criticada
maneira de escrever e seu estilo crítico e combativo tornaram-se, após o modernismo,
motivo de inúmeras pesquisas e estudos. “O escritor Lima Barreto antecipa a revolução
estética de 1922 através da linguagem, daí o fato de se reivindicar e demonstrar o
quanto moderno está presente na obra de Lima Barreto” (FREIRE, 2005, p. 102). Lima
Barreto criou novas possibilidades para a literatura e influenciou muitos escritores
brasileiros, principalmente os modernistas e continua influenciando gerações.
1.2. O cotidiano do subúrbio em Clara dos Anjos
Percebe-se em Clara dos Anjos, obra concluída em 1922 e publicada somente
em 1948, que Lima Barreto se apropria de forma peculiar da problemática social como
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marca principal de sua obra, havendo temas voltados diretamente para questões
relacionadas à exclusão social, racial e de gênero. Lima Barreto é um escritor cuja fala e
ideias originam-se no conhecimento dos problemas dos oprimidos, e humilhados.
Clara dos Anjos é um romance urbano, mais propriamente, suburbano. Como
afirma Antônio Cândido, em um romance,
O enredo existe através dos personagens; as personagens vivem do
enredo. Enredo e personagem exprimem, ligados, os intuitos do
romance, a visão da vida que decorre dele, os significados e valores que o animam” (CANDIDO, 1987. p. 534).
Lima Barreto consegue prender a atenção dos leitores pelo viés da crítica, da
ironia, através da criação de narrativas que mostram o pensamento preconceituoso da
sociedade brasileira. E o objeto de tal preconceito (social) é o subúrbio. Não apenas o
subúrbio em si, mas o que ele representa. Lima Barreto se apropria dos acontecimentos
e das peculiaridades dos subúrbios para criar um tipo de romance precursor. A
apresentação das mazelas funciona como forte elemento estratégico romanesco.
Aparentemente se trata de um romance urbano, por ter seu enredo instalado em um
espaço da cidade. É importante refletir sobre o fato de que como par antagônico de
cidade, costuma-se ter o meio rural. Mas no caso das narrativas limabarretianas nem se
tem um romance rural, nem urbano, pois, de acordo com os narradores e mesmo com o
cronista Lima Barreto, nega-se ao espaço físico ocupado pelos personagens de Lima
Barreto as benesses da cidade. Se não se deixa de estar na cidade, o subúrbio, entretanto
não vive sob a lógica urbana, propriamente dita. Assim, o romance limabarretiano é,
não um romance urbano, mas suburbano e Clara dos Anjos é um bom exemplo disso.
Para o autor o subúrbio era um espaço habitado pela população marginalizada e
ignorada. “...Lima Barreto nos mergulha nos subúrbios pobres e humildes do Rio de
Janeiro dos primeiros anos do século XX. O retrato do meio suburbano no romance
póstumo encaixa perfeitamente os personagens menores que circundam a heroína
patética...” (OAKLEY, 2011, p. 204/205).
As autoridades públicas do início do século XX eram conservadoras e
partilhavam das mesmas ideias da elite. Lima, através de seus textos literários e de uma
linguagem mais popular, denuncia as humilhações impostas à mulher mulata, pobre e
moradora do subúrbio. Escritor e também morador do subúrbio, Lima Barreto sofreu na
pele o descaso por ser suburbano e negro, devido a isso, pretendia, com suas obras,
aguçar no seu público leitor, uma reflexão e um comportamento contra estes valores
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preconceituosos. Assim como Lima Barreto, é importante citar, aqui, o escritor e
professor de literatura Joel Rufino dos Santos e a escritora Carolina Maria de Jesus que
são figuras importantes para a história brasileira por tratarem de questões que, para a
sociedade era pano de fundo, sendo postergadas por muito tempo. A crítica indiana
Gayatri Chakravorty Spivak, ao escrever sobre o subalterno, dando ênfase à questão da
mulher, mais especificamente, permite que se discuta que, de certa forma, a mulher e o
suburbano são subalternos. Lima Barreto, portanto, não lutou sozinho e tem sido cada
vez mais reconhecido e “vem entrando para o cânone literário brasileiro” (FRAZÃO,
2013, p. 550). Lima Barreto era um intelectual que trazia os seus inconformismos para a
literatura e, portanto, rompia com a tradição, buscando uma literatura militante e
diferenciada “que lhe permitisse travar diálogos no intuito de combater os problemas
sociais e culturais que percebia na cidade do Rio de Janeiro, espelho naquele momento
do país” (NORONHA, 2009, p.45).
Sérgio Buarque de Holanda, no prefácio da obra, edição de 1974, de Clara dos
Anjos, retrata o subúrbio como um lugar dos refugiados onde Lima Barreto viveu e
escolheu como cenário, um ambiente em que tinha o privilégio de conhecer bem e onde
os moradores compartilhavam dos mesmos problemas e se ajudavam.
O subúrbio, diz, é o refúgio dos infelizes. Os que perderam o emprego, as fortunas; os que faliram nos negócios, enfim, todos os
que perderam a sua situação normal vão se aninhar lá; e todos os dias,
bem cedo, lá descem à procura de amigos fiéis que os amparem, que lhes deem alguma coisa, para o sustento seu e dos filhos (HOLANDA,
1974, p.7).
A solidariedade suburbana, como se pode depreender do fragmento citado, é
um elemento que se distancia da individualidade própria dos espaços mais privilegiados
da cidade. Mas o vírus da cidade, como poderia afirmar o cronista Lima Barreto, infesta
também as periferias. A periferia imita o centro. Isso é comum. O comportamento da
família de Cassi Jones é um exemplo disso. Dona Salustiana e suas filhas Catarina e
Irene eram vaidosas e ambiciosas. A mãe de Cassi é um exemplo de uma participante da
sociedade brasileira do início do século XX que se esmerava em ser uma senhora
elegante da elite e se achava superior aos seus “vizinhos” do subúrbio e as irmãs de
Cassi tinham grande desprezo por ele, por conta de sua conduta moral e a falta de
modos educados e ignorância do rapaz.
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É possível perceber características semelhantes entre a vida de Lima Barreto e
sua obra. O escritor, em Clara dos Anjos, retrata com muitos detalhes o subúrbio
carioca onde precisou deslocar-se junto com sua família e viveu grande parte de sua
vida. Conheceu muito bem as ruas, as casas, os problemas e moradores do lugar.
O subúrbio propriamente dito é uma longa faixa de terra que se
alonga, desde o Rocha ou São Francisco Xavier, até Sapopemba,
tendo para eixo a linha férrea da Central. Para os lados não se
aprofunda muito, sobretudo quando encontra colinas e montanhas que tenham a sua expansão; mas, assim mesmo, o subúrbio continua
invadindo, com as suas azinhagas e trilhos, charnecas e morrotes... Há
casas, casinhas, casebres, barracões, choças, por toda a parte onde se passa fincar quatro estacas de pau e uni-las por paredes duvidosas
(BARRETO, 2005, p.68).
Lima andava pelas ruas do subúrbio com o seu olhar atento às transformações
com a criação dos bondes e trens. Diariamente, o escritor embarcava na estação do
Méier até a estação de Todos os Santos, para chegar ao seu destino, a Secretaria da
Guerra, seu local de trabalho, e ficava a observar os espaços geográficos do subúrbio.
Essa limitação geográfica é a primeira marca social em Lima Barreto.
Não tendo escrito senão sobre pessoas e coisas de uma parte de sua
cidade, pode retratá-las contra um fundo claro e preciso. Esse pequeno espaço físico, olhado por ele, mais parecia uma boca de poço, abertura
para uma funda trama de relações sociais (SANTOS, 2004, p.106).
Os espaços periféricos ganharam destaque em sua obra, dando ênfase ao
preconceito social, à exclusão dos pobres. Pode-se se dizer que, na obra de Lima
Barreto, a vida está constantemente a misturar-se com a arte. Joel Rufino destaca o
movimento dialético da vida e obra do autor.
O movimento real vida-obra nunca é mecânico, como acreditam os
biografistas – até mesmo aqueles que prezam o autor de Policarpo
Quaresma. É dialético: sofrimentos do escritor o aproximaram da corrente renovadora das ideias da sua época – que em literatura era
antiestetizante – o que lhe permitiu enxergar a dimensão social de
certos fenômenos, o que, pôr sua vez, o levou à criação literária de situações, personagens e ambientes típicos. O final deste processo foi
o escritor fazer-se personagem de si mesmo, se retratando quando
retratava a classe média pobre do primeiro subúrbio carioca. Essa auto
retratação foi encarada, frequentemente, como deficiência, intemperança, imaturidade etc., o que não se sustenta (SANTOS,
2004, p. 107).
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Lima Barreto também observava o cotidiano da população suburbana e criticava
os problemas que os moradores do subúrbio sofriam: “Por esse intrincado labirinto de
ruas e bibocas é que vive uma grande parte da população da cidade, a cuja existência o
governo fecha os olhos, embora lhe cobre atrozes impostos, empregados em obras
inúteis e suntuárias noutros pontos do Rio de Janeiro” (BARRETO, 2005, p. 69). Não
escapava aos olhos do escritor, a desigualdade entre o espaço do subúrbio e da cidade
do Rio de Janeiro, entre a elite e os pobres, o luxo e o lixo, os holofotes em direção ao
centro da cidade e a invisibilidade e exclusão daquela gente humilde do subúrbio.
O escritor ousa trazer para a ficção elementos comuns, do dia-a-dia.
Totalmente despido de qualquer subterfúgio, quer seja com a
linguagem rebuscada ou quanto à posição social. Trouxe para a obra:
pessoas, fatos e acontecimentos, que antes dignos de uma nota apenas nas páginas policiais, podendo resumir em uma única palavra: o
subúrbio (FREIRE, 2005, p.99).
Pode-se observar que os problemas do subúrbio apresentados no século XIX
continuam sendo bem parecidos com os atuais, e os suburbanos, como costumava dizer
o autor, continuam sendo alvo do descaso.
A rua em que estava situada a sua casa desenvolvia-se no plano e,
quando chovia, encharcava e ficava que nem um pântano; entretanto, era povoada e se fazia caminho obrigado das margens da Central para
a longínqua e habitada freguesia de Inhaúma. Carroções, carros,
autocaminhões que, quase diariamente, andam por aquelas bandas a suprir os retalhistas de gêneros que os atacadistas lhes fornecem,
percorriam-na do começo ao fim, indicando que tal via pública devia
merecer mais atenção da edilidade (BARRETO, 2005, p. 11).
1.3. Identidade subalterna: a mulher suburbana, mulata e pobre
Clara dos Anjos, a protagonista do romance, é uma jovem por volta de seus
dezessete anos, proveniente de uma família pobre e moradora do subúrbio que “era
tratada pelos pais com muito desvelo, recato e carinho, e, a não ser com a mãe ou pai, só
saía com Dona Margarida, uma viúva muito séria, que morava nas vizinhanças e
ensinava Clara bordados e costuras” (BARRETO, 2005, p. 18). Pode-se perceber que,
neste fragmento inicial, o narrador apresenta Clara para o leitor como uma menina frágil
e ingênua, dócil, prendada e obediente aos pais. O recato - tido por muitos como
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ultrapassado também é um elemento tradicional do suburbano que o diferenciava da
cidade no início do século XX.
Criada ao som das modinhas melancólicas e superprotegida pelos pais, Clara era
uma menina romântica que sonhava, timidamente, com o dia do seu casamento. A
idealização romântica faz da mulher uma sonhadora.
No início do século XX, a identidade ainda era sólida, vista apenas como
herança cultural; pertencente a um determinado grupo e exclusiva de uma determinada
pessoa. No cenário da obra Clara dos Anjos, destaca-se a identidade de uma família de
mulatos do subúrbio, constituída por pai, mãe e filha. Esta por sua vez tem uma
identidade individual (cada sujeito nasce com sua individualidade) e coletiva (apesar de
nascer com sua individualidade, faz parte de um grupo social, logo, recebe informações
que terminam por interferir em seu construto sociocultural), construída através do
contexto social da época, da própria percepção e experiências de Lima Barreto e da
linguagem do narrador.
As características, os sentimentos de Clara não foram apresentados pela
personagem, de fato, ganharam voz através do narrador que mostra a sua subalternidade
e a falta de criticidade da jovem, ao aceitar, passivamente - o contexto em que vivia.
Dessa forma, o narrador exerce um papel fundamental neste romance, pois através da
sua fala e de seu olhar crítico mostra seu ponto de vista sobre as aflições e desgostos da
sociedade, destacando as mazelas do subúrbio carioca e principalmente a condição de
Clara e sua família na sociedade do início do século XX.
A identidade de Clara se baseia, principalmente, na educação que recebeu da
mãe. Dona Engrácia era uma personagem passiva, não gostava de tomar decisões e de
sair de casa, e assim criou Clara, aos seus moldes. A mãe recebeu boas instruções ao
estudar com os filhos do senhor que a criava antes de casar, porém depois de casada
dedicou-se apenas aos filhos, marido e afazeres de casa.
A filha que era protegida ao extremo e tinha amizades restritas, tinha a mãe
como principal referência. Desta maneira, o narrador apresenta uma personagem que é
efeito de uma educação inapropriada, vítima de uma situação hostil, conforme à cor e
condição social, incapaz de enfrentar os problemas sozinhas e transcender a sua
realidade social.
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Clara era uma natureza amorfa, pastosa, que precisava mãos fortes que a modelassem e fixassem. Seus pais não seriam capazes disso. A mãe
não tinha caráter, no bom sentido, para o fazer; limitava-se a vigiá-la
caninamente; e o pai, devido aos seus afazeres, passava a maioria do
tempo longe dela. E ela vivia toda entregue a um sonho lânguido de modinhas e descantes, entoadas por sestrosos cantores, como o tal de
Cassi e outros exploradores da morbidez do violão (BARRETO, 2005,
p.90).
O narrador expressa neste trecho a subordinação das mulheres, neste caso,
considerando o contexto do romance, principalmente, as mulheres negras e pobres,
mostrando a dominação masculina, na qual o homem é o chefe da família e tem a
responsabilidade de ser o provedor da casa e que a mulher tem um papel social bem
definido de subimissão, portanto, de cuidar do marido, realizar os afazeres domésticos e
cuidar da educação dos filhos. Segundo Spivak:
No contexto do itinerário obliterado, o caminho da diferença sexual é
duplamente obliterado. A questão não é a da participação feminina na insurgência ou das regras básicas da divisão sexual do trabalho, pois,
em ambos os casos, há “evidência”. É mais uma questão de que,
apesar de ambos serem objetos da historiografia colonialista e sujeitos
da insurgência, a construção ideológica de gênero mantém a dominação masculina. Se, no contexto da produção colonial, o sujeito
subalterno não tem história e não pode falar, o sujeito subalterno
feminino está ainda mais profundamente na obscuridade (SPIVAK, 2010, p.85).
De acordo com a maneira que foi educada, Clara não demonstra perspectivas e
iniciativa de estudar, de ascender socialmente, pelo contrário, o narrador mostra a
fragilidade de uma jovem que vive sonhando a espera de um marido e deposita no
casamento o seu futuro e a sua felicidade. Como é possível perceber no trecho a seguir:
O mundo se lhe representava como povoado de suas dúvidas, de queixumes de viola, a suspirar amor. Na sua cabeça, não entrava que
nossa vida tem muito de sério, de responsabilidade, qualquer que seja
a nossa condição e o nosso sexo. [...] Não havia, em Clara, a representação, já não exata, mais aproximada, de sua individualidade
social; e concomitantemente, nenhum desejo de elevar-se, de reagir
contra essa representação (BARRETO, 2005, p. 90).
A MARCA DO PRECONCEITO EM CLARA DOS ANJOS, DE LIMA BARRETO
ALMEIDA, Isis, FRAZÃO, Idemburgo
Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de dezembro
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Clara era ingênua e apagada, segundo a descrição do narrador, e por conta
também da idade não tinha a capacidade intelectual de refletir sobre a vida, de
comparar, de criticar, pois a falta de contato com o “mundo real” influenciou
significativamente na construção da sua personalidade e identidade individual legítima e
muito teve a ver com o destino da jovem, ao final, seduzida e enganada. Mesmo com as
melhores intenções, Clara não é instruída a perceber de maneira crítica a sua real
situação sendo facilmente manipulada.
A filha do carteiro, sem ser leviana, era, entretanto, de um poder reduzido de pensar, que não lhe permitia meditar um instante sobre o
destino, observar os fatos e tirar ilações e conclusões. A idade, o sexo
e a falsa educação que recebera, tinham muita culpa nisso tudo; mas a sua falta de individualidade não corrigia a sua obliquada visão da vida
(BARRETO, 2005, p. 90).
Devido sociedade preconceituosa do início do século XX`, é possível analisar
porque Dona Engrácia queria proteger a filha da situação de subalternidade que rodeava
as mulheres suburbanas, negras e pobres. A mãe e, consequentemente a filha, são
influenciadas pelo meio, pelo cenário de dominação e descriminação na qual o romance
foi produzido, mas não se trata de um determinismo cientificista, aos moldes
naturalistas, e, sim, de uma questão de poder hegemônico – no caso, do masculino.
Dona Engrácia pensa encontrar na excessiva proteção um caminho para defender a filha
das humilhações, mas fracassa ao descobrir que a Clara havia sido enganada. Neste
momento, ao final do romance, Clara desperta para a realidade e para os estigmas
“absorvidos” por uma mulher negra e pobre, impostas pela sociedade burguesa. “Fora
preciso ser ofendida irremediavelmente nos seus melindres de solteira, ouvir os
desaforos da mãe do seu algoz, para se convencer de que ela não era uma moça como as
outras; era muito menos no conceito de todos” (BARRETO, 2005, p. 132).
Clara tinha uma visão distorcida de sua própria identidade, pois alheia aos
acontecimentos da vida não percebia o preconceito que a rodeava por não se enquadrar
nos padrões da época. Não sabia, portanto, que a sociedade fazia distinção entre
brancas, negras e mulatas.
A discriminação é determinada pela não aceitação das diferenças, seja estas de
ordem sócio-cultural, racial, religiosa, linguística e política. É com base nessas
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diferenças que o ser humano não assimila e respeita a diversidade e exclui o outro, ao
passo que, este outro não participa do seu grupo próximo ou, ainda, não tem com ele
algum vínculo identitário.
No artigo “Mesmices e novidades: Identidade, diversidades”, José Almino de
Alencar salienta que “Poder-se-ia afirmar sem risco que identidade implica, obviamente,
em alteridade, na diversidade. É na interação com o outro que a identidade se constitui e
as marcas advindas desse contato determinam o seu formato e o seu escopo” (2005,
p.11). Entretanto, pode-se dizer que a personagem Clara possui uma identidade frágil,
pois a jovem teve pouco contato com o mundo e com outras culturas, ao passo que, era
protegida pelos pais e a falta compreensão do mundo externo terminou por prejudicá-la
ao longo da sua vida.
Neste romance, o narrador apresenta as duas faces de Clara dos Anjos, no
primeiro momento, a jovem por receber uma educação dentro dos padrões burgueses
não percebeu sua diferença sociocultural e étnica dentro da sociedade, tornando-a ainda
mais vulnerável. Somente a partir de sua desilusão amorosa com Cassi Jones, um
homem branco, é que a mesma se encontra com sua real identidade e pertencimento
cultural, após sentir-se enganada.
2. FUNDAMENTAÇÂO TEÓRICA
Esta pesquisa está fundamentada nos estudos sobre o preconceito, identidade e
linguagem e tem como base teórica autores de áreas como a Literatura e a História. São
eles: BARRETO (2005); FREIRE (2005); HOLANDA (1956); HOUAISS (1956);
SPIVAK (2010); SANTOS (2004); CÂNDIDO (1987) e OAKLEY (2011).
3. CONCLUSÕES
Lima Barreto foi um escritor à frente de seu tempo, que sofreu muitos
preconceitos ao longo de sua vida pessoal, devido à sua condição social, racial e
profissional por provocar a elite com as temáticas realistas e a linguagem utilizada em
sua obra. O grande escritor Lima Barreto com seu modo crítico de escrever deu voz a
atores sociais excluídos e suas angústias com o propósito de buscar relações de
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igualdade e de ética para uma sociedade com muitos preconceitos, que exclui e
desprestigia o outro.
Lima Barreto se diferencia e se destaca através da sua ironia e crítica por mostrar
o pensamento preconceituoso da sociedade brasileira do final do século XIX e início do
século XX e por mostrar questões até então camufladas em uma linguagem mais
próxima dos moradores da periferia.
A tentativa de aprofundamento da reflexão sobre alguns tipos de preconceitos,
realizados ao longo deste artigo serviram como base para o melhor entendimento do
romance Clara dos Anjos, e, por extensão, da trajetória biográfica de Lima. A
personagem Clara representa as mulheres que, por serem negras, pobres e moradoras do
subúrbio, pertencentes à periferia, são tratadas como inferiores e subalternas pelo
próprio narrador. A personagem possuía uma identidade frágil e não tinha conhecimento
de sua situação perante a sociedade da época. A questão da subalternidade da mulher
ainda é mais complexa, como diz Spivak, por conta da sociedade machista do século
XX, porém, Lima através da personagem, mostrava, também, a condição do negro, em
geral.
O escritor se sentia inferior por não ser reconhecido no campo literário por conta
da sua condição de pobre, negro e morador do subúrbio e por enfrentar a elite com sua
literatura militante e sua linguagem simples e irônica, denunciando os problemas do
subúrbio e de seus moradores e a segregação social que vivia aquela população. Sua
maneira de escrever só foi aceita depois de sua morte.
REFERÊNCIAS
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FREIRE, Zélia Nolasco. (2005), Lima Barreto: Imagem e linguagem. São Paulo:
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Civilização Brasileira.
SPIVAK, Gayatri Chakravorty. (2010), Pode o subalterno falar? Tradutor Sandra
Regina Goulart Almeida; Marcos Pereira Feitosa; André Pereira. Belo Horizonte:
Editora da UFMG.