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A Lapidação de Gemas no Panorama Brasileiro

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  • UNIVERSIDADE DE SO PAULO INSTITUTO DE GEOCINCIAS

    A LAPIDAO DE GEMAS NO PANORAMA

    BRASILEIRO

    Angela Vido Nadur

    Orientador: Prof. Dr. Rainer Aloys Schultz Gttler

    DISSERTAO DE MESTRADO

    Programa de Ps-Graduao em Mineralogia e Petrologia

    So Paulo 2009

  • II

    ANGELA VIDO NADUR

    A Lapidao de gemas no panorama brasileiro.

    Autorizo a reproduo e divulgao total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio

    convencional ou eletrnico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada

    fonte.

    Dissertao apresentada ao Instituto de Geocincias da

    Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de

    Mestre em Cincias.

    Programa de Ps-Graduao em Mineralogia e Petrologia

    rea de Concentrao: Mineralogia Experimental e

    Aplicada. Orientador: Prof. Dr. Rainer Aloys Schultz

    Gttler.

    So Paulo

    2009

  • III

    Dedico este trabalho primeiramente a meus pais,

    Elias e Cleide que desde pequena identificaram minha

    competncia e com muita pacincia e dedicao,

    ajudaram-me e encaminharam-me em todas as etapas

    da vida. Ao meu companheiro e amigo, Eder, que

    comigo faz um time, em nossa viso imbatvel e com

    seu carinho observa-me de perto, fazendo parte de

    meus pensamentos; ajuda-me a decidir entre o certo e o

    errado, prevalecendo as minhas qualidades e

    amenizando os meus defeitos. E ao meu orientador,

    Prof. Dr. Rainer que me acolheu e que

    maravilhosamente, me colocou no caminho da

    Gemologia e dos estudos, dando-me condies de

    transformar minha vida, tornar um sonho em realidade;

    esteve sempre disposto a me orientar e quando

    solicitado, atendeu-me prontamente. Agradeo

    imensamente a vocs com todo meu amor.

  • IV

    AGRADECIMENTOS

    Novamente devo agradecer os meus pais, ao meu noivo e ao meu orientador.

    s minhas irms, Soraia e Eliane e cunhados Rodrigo e Lus, amiga

    Fernanda, familiares e amigos prximos que pacientemente me respeitaram com

    momentos de silncio e admirao.

    Ao Prof. Dr. Silvio Vlach, que respondeu a todos meus emails pacientemente,

    com o intuito de me auxiliar.

    Aos professores do Instituto de Geocincias que desde o incio da minha

    busca, como aluna ouvinte das matrias de graduao em Geologia e com as

    matrias da ps-graduao, estiveram dispostos a me ajudar. Prof. Dr. Jos

    Barbosa Madureira Filho, Prof. Dr. Daniel Atencio, Prof. Dr. Fabio Ramos Dias de

    Andrade e Prof. Dr. Gergely S.J. Szab.

    s funcionrias da secretaria de ps-graduao Ana Paula Cabanal e Magali

    Poli Fernandes Rizzo, no qual os agradecimentos so imensos, por prestarem tantos

    favores.

    A CAPES, Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior e

    a USP, por me auxiliarem financeiramente para que pudesse desenvolver os

    estudos.

    Aos amigos e colegas de sala, pela companhia agradvel; Tatiana Ruiz

    Cavallaro, Suan Ethel Lee Chon, Frederico Castro Jobim Vilalva (Ja), Thais

    Hypollito, Monica e outros amigos da graduao que fiz no IGC.

    Aos entrevistados em espcie, Sr. Ferraro, Sr. Afonso e D. Emilia, Sra. Judith

    e Sr. Ivan da ABGM e por comunicao virtual (email) Sr. Ronaldo Barbosa

    (Governador Valadares-MG), ao Sr. Sergio A. Aspahan (Belo Horizonte - Lapidart),

    ao Prof. Adriano A. Mol e a IBGM, onde com todos fiz prevalecer amizade.

    Aos receptores de museus, arquivos histricos e universidades que com

    cuidado e pacincia me ajudaram a coletar e pesquisar materiais.

    Aos autores bibliogrficos que um dia preocuparam-se em deixar assuntos

    registrados e ao le-los obtive inspirao, satisfao e vontade de estudar cada vez

    mais.

  • V

    RESUMO

    Nadur, A. V. A Lapidao de gemas no panorama brasileiro. 2009. 158 f.

    Dissertao (Mestrado) Instituto de Geocincias, Universidade de So Paulo, So

    Paulo.

    A realizao do trabalho efetuado a seguir, consiste na coleta de informaes

    e a montagem da histria da lapidao desde o que o homem primitivo comeou a

    trabalhar os minerais, seu desenvolvimento na Europa at a atual situao da

    lapidao brasileira. No carter cientfico, a identificao e utilizao de

    propriedades fsicas e pticas para determinao do mineral, correlacionando itens

    como seu melhor aproveitamento na lapidao, como a utilizao principalmente do

    ngulo crtico especifico de cada mineral e sua correta utilizao na lapidao de

    gemas coradas e lapidao de diamantes. Pois o significado da lapidao

    transformar o mineral em uma gema aceita pela indstria joalheira, valorizando sua

    cor, brilho, formato e simetria. No panorama tecnolgico a anlise de maquinrios

    antigos e tradicionais, juntamente com a inovao de mquinas CNC. Neste trabalho

    foi presenciado que a fundamentao bibliogrfica restrita para a indstria de

    lapidao no Brasil.

    Palavras-chave: Mineralogia, gemologia, diamantes e gemas coradas, lapidao e

    histria.

  • VI

    ABSTRACT

    Nadur, A. V. The gemstones cutting in the Brazilian scene. 2009. 158p.

    Dissertation (Masters degree) - Institute of Geosciences, University of So Paulo.

    This work started with a compilation of informations, written and of oral means,

    to unravel the history of gem cutting from his earliest time to the present situation in

    Brasil. The scientific part stresses the identification and the use of the physical and

    optical properties to increase the yield by gemstone cutting. It is shown that the

    critical angle is the most important property for each branch, the diamond as well the

    colored gemstone cutting.Gem cutting is the transformation of the rough to a form

    accepted by the jeweler, showing his best in color, brilliance, form and symmetry.

    The development of cutting tools is shown from very early times to the present CNC

    equipment. It could be shown that there exists a quite good data base for an initial

    description of the gem cutting industry in Brazil.

    Keywords: Mineralogy, gemology, diamonds and colored gemstones, lapidary and

    history.

  • VII

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Quatro maiores compradores de gemas brutas e lapidadas brasileiras no

    ano de 2008.

    Figura 2 - Exportaes Brasileiras do Captulo 71 da NCM referentes aos anos de

    2004 a 2009.

    Figura 3 Point Cut (ALLABOUTGEMSTONES, 2009).

    Figura 4 Table Cut (ALLABOUTGEMSTONES, 2009).

    Figura 5 Old Single Cut (ALLABOUTGEMSTONES, 2009).

    Figura 6 esquerda, Lapidao Pendeloque ou Briollet e direita anncio do

    Museu do diamante na Blgica (Bruges) (ALLBOUTGEMSTONES, 2009;

    DIAMANTMUSEUM, 2009).

    Figura 7 - Giovanni delle Corniole (ALLABOUTGEMSTONES, 2009).

    Figura 8 - Giacomo Tagliacarne (ALLABOUTGEMSTONES, 2009).

    Figura 9 Rose-cut e variaes (1- Rose-cut, 2- Doble-rose, 3- Pendeloque ou

    Briollet, 4- Rose Recoupe e 5- Rosette) (ALLBOUTGEMSTONES, 2009; BRUTON,

    1978).

    Figura 10 - Benvenuto Cellini. (CHESTOFBOOKS, 2009)

    Figura 11 - Descries de Tavernier (todas as imagens) no sculo XVII

    (ALLABOUTGEMSTONES, 2009).

    Figura 12 - Great Mogul da ndia, de 787,5ct bruto e 280 ct lapidado (BRUTON,

    1978).

    Figura 13 - Cardinal Jules Mazarin (ALLABOUTGEMSTONES, 2009).

    Figura 14 - Lapidaes Mazarin e Peruzzi (vista superior)

    (ALLABOUTGEMSTONES, 2009).

  • VIII

    Figura 15 Lapidao Old mine cut (vista lateral, superior, inferior e perspectiva)

    (ALLABOUTGEMSTONES, 2009).

    Figura 16 - Lapidao Old European (Vista lateral, superior, inferior e Perspectiva)

    (ALLABOUTGEMSTONES, 2009).

    Figura 17 - Guarnio de corpete. Portugal, 2 metade do sc. XVIII. Prata dourada e

    Topzios imperiais (DOrey, Museu Nacional de Arte antiga de Lisboa, 1995).

    Figura 18 - Camafeu esculpido em cristal, da Joalheria de Pdua

    (ASMINASGERAIS, 2009).

    Figura 19 esquerda, Carlos Rodrigues Dias e direita A Lapidao Santa Rita"

    (O BRASIL INDUSTRIAL, AGRCOLA, COMERCIAL E POLTICO, 1950).

    Figura 20 - Estabelecimentos da Lapidao Araguaia (O BRASIL INDUSTRIAL,

    AGRCOLA, COMERCIAL E POLTICO, 1950).

    Figura 21 esquerda e direita, vistas das lapidaes movidas a fora

    hidrulica(SANTOS, 2006).

    Figura 22 - Anncio na revista Gemologia, de Emilio Schupp, 1960.

    Figura 23. esquerda, Sr. Worms e direita, Casa Michel na Rua 15 de

    novembro, 25 e 27 (A CAPITAL PAULISTA, 1920).

    Figura 24. esquerda, Hans Stern jovem e direita, mais velho (MAGTAZ, 2008).

    Figura 25 esquerda, Jules Roger Sauer jovem e direita, mais velho (MAGTAZ,

    2008; AMSTERDAMSAUER, 2009).

    Figura 26- esquerda e direita, anncios publicitrios da dcada de 70 (MAGTAZ,

    2008).

    Figura 27 - Sala de aula de lapidao, SENAI (GEMOLOGIA, 1957).

  • IX

    Figura 28 - Rplica do diamante de 77ct com marcao onde foi clivado e serrado,

    frente e costas. Com aproximadamente 4cm de comprimento (Acervo Sr. Ferraro)

    Figura 29 - Sr. Ferraro e maquinrios de sua oficina. Lapidao Ferraro. 08/10/09

    Figura 30 - Anncio publicitrio Lapidao Ferraro publicado na Revista

    Gemologia, de 1957 a 1960.

    Figura 31 - Rplicas em resina dos maiores diamantes lapidados por Pedro Zaini.

    Primeira amostra com cerca de 2cm (Acervo Sr. Ferraro)

    Figura 32 Foto de Pedro Zaini com 83 anos (Acervo Sr. Ferraro)

    Figura 33 esquerda escultura angular e direita gemas lapidadas para joalheria

    de Ronaldo Barbosa, 2009.

    Figura 34 - Tabela de pesquisa referente a lapidaes em So Paulo publicados na

    Lista telefnica (Fundao Telefnica, 2009).

    Figura 35 - Anncios das oficinas de lapidao na Revista Gemologia do ano de

    1956 a 1960.

    Figura 36 Polidor de minerais (MONTAGNA, 1497)

    Figura 37 - Lapidao Indiana. Maquinrio acionado com fora manual. Bow driven

    (BRUTON. 1978).

    Figura 38. Primeira lapidao de diamantes segundo H.D. Morse, EUA.

    Figura 39 - Ilustao do livro Naturalis Historiae opus novum (LONITZER, 1551)

    Mostrando no fundo mesa de lapidao acionado com roda.

    Figura 40 - Entalhe de gemas, Ilustrao no livro Staendebuch (SACHS, 1558)

    mostrando maquinrio de entalhe de pedras.

    Figura 41 esquerda, lapidao modelo francs acionado com fora manual e a

    direita peas de sua mquina (COIGNARD. 1690).

  • X

    Figura 42 - Luiken. O texto diz: Lapidrio, Estas so gotas de uma fonte e o poema

    apenas comea. Homens gostam de andar elegantes, com diamantes ou rubis.

    Assim sua fortuna pode ser louvada. Desde que seja iniciado corretamente o

    primeiro brilho do sol, ser feito a beleza. A fora da mulher que gera o movimento

    da roda equivale a 1/4 da fora de um cavalo (LUIKEN. 1694; BRUTON, 1978).

    Figura 43 esquerda, roda movida a fora hidrulica e rebolos de arenito para

    lapidao (Alemanha) e direita, observaes sobre os maquinrios (COLLINI,

    1776).

    Figura 44 esquerda Imagens reproduzindo a lapidao por fora manual, que

    era utilizado em residncias e a direita sua descrio (MAWE, 1826; EMANUEL,

    1867).

    Figura 45 esquerda relato sobre lapidao de diamantes e a direita oficina de

    lapidao da poca (H.D. MORSE, EUA, sem data)

    Figura 46 Patentes de maquinrios dos Estados Unidos da Amrica: esquerda

    autores Wanters, A. 1898 e direita Purper, G. ; Moser, J. e Boeklen, R. 1903

    (FREEPATENTSONLINE).

    Figura 47 - esquerda, lapidao de safira e rubi na Inglaterra (CLAREMONT,

    1906) e direta lapidao de diamantes, Alemanha, 1910.

    Figura 48 Nas trs imagens a demostrao de mquinas Jamb-peg, utilizadas

    antigamente na Inglaterra, primeira e segunda imagem (1906) e a terceira imagem,

    ainda hoje no Brasil (BRUTON, 1978; BAXTER, 1906; SEVERO, 2008).

    Figura 49 Nas trs imagens, maquinrio de lapidao com numerao de ngulos,

    nas duas primeiras imagens seu desenvolvimento, chamada faceting-head e a

    terceira imagem, hoje produzida na Lapidart (BAXTER, 1938; HURLBUT E

    KAMMERLING, 1991; ASPAHAN, 2009).

    Figura 50 - Kit 3 x 1 Lapidart , facetador, calibrador, encanetador / transferidor,

    juntamente com bancada e acessrios. Atualmente possui o valor de R$ 8.500,00

    (ASPAHAN, 2009).

  • XI

    Figura 51 - CNC para lapidao do Centro Universitrio UNIVATES (KLIPPEL,

    2007).

    Figura 52 - CNC - ROBOT GEMS (LAPIDART, 2009).

    Figura 53 esquerda mquina instalada em Idar-Oberstein e direita, encaixe

    virtual (3D) de formato de lapidao em material bruto (GEO, 2009).

    Figura 54 - Formulrio DeBeers com explicativo de marcao, 2008.

    Figura 55 Imagem acima, lapidao completa do pavilho em modelo SRB e

    abaixo, suas etapas de evoluo (STRICKLAND, 2002; MOL, 2004).

    Figura 56 - Diagrama de lapidao do modelo SRB (STRICKLAND, 2002).

    Figura 57 - Primeira fase, de anlise a pedra bruta (SINKANKAS, 1984).

    Figura 58 - Zoneamentos de cor na ametista, safira e turmalina (SINKANKAS, 1984).

    Figura 59 - Orientao de zoneamentos de cor (KUNZ, 2000).

    Figura 60 esquerda, turmalina com cor ao redor do eixo c e direita, turmalina

    bicolor com cores

    ao longo do eixo C (ELAWAR, 1989).

    Figura 61 - Posicionamento da mesa da lapidao em relao ao eixo ptico (KUNZ,

    2000).

    Figura 62 - Posicionamento de fibras do chatoyancy (SINKANKAS, 1984).

    Figura 63 - Localizao de asterismo na safira (HARTIG, 1974).

    Figura 64 - Desenho demonstrativo do caminho da luz atravs de uma gema

    (ALLABOUTGEMOSTONES, 2009).

    Figura 65 - Tabela de angulo crtico para gemas, demonstrados a partir do IR

    (HARTIG, 1974).

    Figura 66 - Grfico de angulo crtico recomendado (KUNZ, 2000).

  • XII

    Figura 67 - Disperso da luz. (ALLABOUTGEMSTONES, 2009)

    Figura 68 - Esquema representativo dos anisotrpicos biaxiais (CHVTAL, 1999).

    Figura 69 - Escala de Comparao entre dureza de minerais (SCHUMANN).

    Figura 70 - Formatos de Cabocho (SINKANKAS, 1984).

    Figura 71 esquerda ato de escolher e riscar onde sero lapidadas as gemas e a

    direita material bruto j escolhido e riscado (SINKANKAS, 1984).

    Figura 72 - Serragem da amostra de caboches. (SINKANKAS, 1984).

    Figura 73 - Formao de Cabocho (SINKANKAS, 1984).

    Figura 74 Modo correta de colagem da gema no dopstick (SINKANKAS, 1984).

    Figura 75 Acima, vista superior de uma roda abrasiva e abaixo, lapidao em

    ngulos do cabocho (SINKANKAS, 1984).

    Figura 76 esquerda, mineral Bruto e direita martelos utilizados para desbaste

    (SEVERO, 2008).

    Figura 77 - Processo de Serragem (SEVERO, 2008).

    Figura 78 - Pr-formao (SEVERO, 2008).

    Figura 79 - Planos de clivagem e pr-forma no topzio (SINKANKAS, 1984).

    Figura 80 - Desenho explicativo do encanetamento e tranferimento de lados da

    gema (SINKANKAS, 1984).

    Figura 81 esquerda roda vista de cima e direita vista lateral (SINKANKAS,

    1984).

    Figura 82 - Etapas do facetamento em ngulos (SINKANKAS, 1984).

    Figura 83 - Etapas do facetamento (SINKANKAS, 1984).

    Figura 84 esquerda processo de vinco e direita ato de bater basto de metal

    sobre a faca, gerando a clivagem no diamante (BRUTON, 1978).

  • XIII

    Figura 85 - Plano de Clivagem e Serragem (SINKANKAS, 1984).

    Figura 86 esquerda e direita, direcionamentos octadricos (BRUTON, 1978).

    Figura 87 esquerda e centro, serragem do diamante e direita mquina de

    serragem (BRUTON, 1978).

    Figura 88 - Torno mecnico de arredondamento (BRUTON, 1978).

    Figura 89 - Etapas da lapidao de diamante brilhante (BRUTON, 1978).

    Figura 90 - Indicao de melhor direo de polimento (BRUTON, 1978).

    Figura 91 - Partes da lapidao: esquerda lapidao brilhante e direta lapidao

    esmeralda ou step-cut (MARTINS; MOL; ROCHA, 2005).

    Figura 92 - Nomenclatura das facetas da lapidao brilhante (GIA, 1992).

    Figura 93 - Estudo de Dr.W.R.Eulitz (BRUTON, 1978).

    Figura 94 - Propores da lapidao brilhante (BRUTON, 1978).

    Figura 95 - Formatos Step-cuts (SINKANKAS, 1984).

    Figura 96 - Formatos brilhante e fantasias (SINKANKAS, 1984).

    Figura 97 esquerda, ferramentas agudas e cortes angulares e direita,

    escultura angular em quartzo fum de Ronaldo Barbosa (Arquivo pessoal; MOL,

    2009).

    Figura 98 esquerda, Bernd Munsteiner e direita, suas lapidaes

    (ALLABOUTGEMSTONES, 2009).

    Figura 99 direita, ferramentas arredondadas e cortes curvilineares e direita

    escultura curvilnea em ametista de Ronaldo Barbosa. (MOL, 2009)

    Figura 100 esquerda facetamento tradicional e concavo (MOL, 2009), no centro

    quartzo imperial de Geraldo Mcio Fernades (IBGM, 2009) e direita citrino de

    Richard Hommer (CONCAVECUT, 2009).

  • XIV

    Figura 101 esquerda, demonstrativo do facetamento da lapidao padro e optix

    e direita comparao de gemas lapidadas, padro e optix (BYREX, 2009).

    Figura 102 - Modelo de facetamento orgnico desenvolvido para Antonio Souza, da

    empresa Gemas da Terra pela equipe do projeto Da Gema (MOL, 2009).

    Figura 103 - Lapidao de diamantes, lapidao Blue Star, ndia (NATIONAL

    GEOGRAPHIC, 2009).

  • XV

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLA

    CNC Controle Numrico Computadorizado

    CAD Computer-Aided Design (Desenho Assistido por Computador)

    CAM Computer-Aided Manufacturing (Fabricao Assistida por Computador)

    PSI Programa Setorial de Apoio s Exportaes

    IBGM Instituto Brasileiro de Gemas e Metais

    ABGM Associao Brasileira de Gemas e Metais

    APL Arranjo Produtivo Local

    AJOLP Associao dos Joalheiros e Lapidrios de Pedro II

    AJOMIG - Associao dos Joalheiros, Empresrios de Pedras Preciosas, Relgios e

    Bijuterias de Minas Gerais

    COOMAR - Cooperativa de Economia e Crdito Mtuo dos Colaboradores da UBEE

    & UNBEC Ltda

    CEFET Centro Federal de educao tecnolgica de Minas Gerais

    UFOP Universidade Federal de Ouro Preto

    INPI Instituto Nacional de Propriedade Intelectual

    SEBRAE Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas

    SENAI Servio Nacional de Aprendizagem Industrial

    FINEP Financiadora de Estudos e Projetos

    IR ndice de refrao

  • XVI

    SUMRIO

    Dedicatria............................................................................................................ III

    Agradecimentos.................................................................................................... IV

    Resumo.................................................................................................................. V

    Abstract.................................................................................................................. VI

    Lista de Figuras..................................................................................................... VII

    Lista de Abreviaturas e Siglas............................................................................... XIV

    Sumrio................................................................................................................. XV

    1 INTRODUO............................................................................................ 1

    1.1 Justificativa.................................................................................................. 3

    1.2 DEFINIO DE LAPIDAO..................................................................... 6

    2 CAPITULO I A HISTRIA DA LAPIDAO........................................... 6

    2.1 O lapidrio e seus ofcios na Europa......................................................... 8

    2.2 O lapidrio e seus ofcios em Portugal....................................................... 20

    2.3 O lapidrio e seus ofcios no Brasil............................................................. 23

    2.3.1 Lapidrios no tempo do descobrimento 1500 a 1807................. 23

    2.3.2 Oficinas de lapidao no tempo colonial 1808 a 1870................ 27

    2.3.3 O incio das lapidaes e das joalherias nas cidades brasileiras. 29

    2.3.4 Oficinas de lapidao no inicio do sculo XX................................... 38

    2.3.5 Evoluo do ofcio de lapidao no sculo XX................................. 41

    2.3.6 Entrevistas........................................................................................ 46

    2.3.7 Lapidaes no Estado de So Paulo................................................ 52

    2.4 Maquinrios tradicionais............................................................................. 55

    2.4.1 Evoluo das mquinas de lapidao.............................................. 55

    2.5 Tecnologia atual e Lapidao 3D................................................................ 62

    2.5.1 Lapidart............................................................................................. 62

    2.5.2 CNC e laser ..................................................................................... 64

    2.5.3 GemCad........................................................................................... 68

    3 CAPITULO II TCNICA DE LAPIDAO................................................ 71

    3.1 Primeiras anlises para lapidao / Material Bruto..................................... 71

    3.2 Propriedades dos Minerais referentes lapidao..................................... 74

    3.2.1 Propriedades pticas........................................................................ 74

    3.2.2 Propriedades fsicas......................................................................... 88

    3.3 Lapidao Cabocho.................................................................................. 90

  • XVII

    3.4 Lapidao facetada de Gemas Coradas................................................... 96

    3.5 Lapidao do Diamante............................................................................ 104

    3.6 Design dos formatos de corte................................................................... 110

    3.6.1 Composio do facetamento......................................................... 111

    3.6.2 Lapidao Brilhante....................................................................... 112

    3.6.3 Lapidao Esmeralda ou Step Cut................................................ 114

    3.6.4 Lapidao Fantasia ....................................................................... 115

    3.6.5 Lapidao Diferenciada................................................................... 117

    3.7 Diamantes Patenteados............................................................................. 121

    4. CONSIDERAES FINAIS........................................................................ 129

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS...................................................................... 131

  • 1

    1. INTRODUO

    O termo gema, derivado do latim gemma, corresponde a toda substncia

    natural ou sinttica, lapidada, rara e que por suas propriedades de transparncia,

    cor, brilho, dureza e efeitos pticos especiais, tais como chatoyance, asterismo,

    labradorescncia e aventurinizao, podem ser utilizadas para fins de adorno

    pessoal e objetos de arte.

    As gemas de origem natural so mais apreciadas e valorizadas que as

    sintticas. Elas compreendem em aproximadamente 200 minerais dotados de

    propriedades fsicas, qumicas e pticas especiais que as tornam atrativas, um

    nmero reduzido de rochas e algumas substncias orgnicas como a prola e o

    mbar (SVISERO; FRANCO, 1991).

    As gemas so minerais formados por processos inorgnicos, de ocorrncia

    natural e so compostos por elementos qumicos, cristalizados com uma

    composio qumica definida (HURLBUT; KAMMERLING, 1991). Suas partculas

    constituintes (ons, tomos e molculas) repetem-se na mesma ordem e a intervalos

    regulares em trs dimenses formando uma estrutura cristalina em um corpo slido.

    Se este arranjo se encontrar em desordem, ou seja, no estar cristalizado, provoca o

    estado amorfo, grupo chamado de mineralides. J as rochas so agregados dos

    vrios minerais que constituem a litosfera. Portanto so heterogneas e esto

    largamente difundidas, geralmente so opacas e translcidas (BROCADO. 1986).

    As rochas e minerais foram formados em processos geolgicos ocorridos a

    milhares de anos podendo ocorrer por basicamente trs situaes: pela solidificao

    do magma, pela sedimentao de depsitos qumicos e clsticos ou pelo

    metamorfismo de rochas preexistentes.

    O Brasil se destaca como um dos nove maiores produtores de gemas naturais

    do mundo, designado como provncia gemolgica. Possui jazidas primrias em

    pegmatitos e depsitos hidrotermais, onde se encontram as gemas coradas e em

    depsitos secundrios, os aluvies, solos residuais e solos coluvionares onde se

    encontram diamantes e tambm gemas coradas.

    O termo gema aplicado a esses materiais depois de cortados e polidos.

    Gemas tambm so denominadas pedras preciosas, termo que algum tempo atrs

    somente designava o diamante, a esmeralda, o rubi e a safira. As demais eram

  • 2

    denominadas pedras semi-preciosas. O termo foi modificado no Brasil aps o

    incentivo de joalheiros, no sculo XX, pela aceitao no mercado exterior de gemas

    coloridas que no as tradicionais (COSTA, 2007).

    Com o descobrimento e colonizao do Brasil, descobriram-se aos poucos

    suas riquezas, principalmente atravs dos bandeirantes. Prximos as estaes de

    maior concentrao de minerais, instalaram-se oficinas de ourivesaria e lapidao,

    formadas por estrangeiros; os ofcios eram ensinados de pai para filho ou a oficiais

    admitidos como ndios e negros escravos. Por muito tempo o oficio era ilegal e

    informal, poucos registros eram anotados e/ou oficializados, portanto no existe a

    possibilidade da certeza dos dados encontrados. Notou-se no decorrer da histria

    que o conhecimento na rea de artesanato, ourivesaria e lapidao, era e ainda

    em maior parte emprico, ou seja, prtico e experimental, no havendo grande

    disponibilidade de publicaes cientficas e legais sobre o assunto.

    Atravs de um relato histrico datativo dos experimentos e evolues na

    lapidao, distingue-se a lapidao europia, com o desenvolvimento da tcnica e

    do comrcio a partir do sculo XIII. A lapidao brasileira teve origem oficial com a

    chegada de lapidrios vindos juntos com a famlia real em 1808, apesar de haver

    conhecimento de registros de naturalistas do incio da profisso a partir de 1500.

    Muitas vezes o oficio de lapidrio foi confundido com o de ourives e, apesar de

    alguns deles conseguirem desenvolver as duas habilidades, h grande diferena

    entre elas. Este aspecto no podia ser desenvolvido neste trabalho de mestrado.

    A evoluo da tecnologia da lapidao no Brasil ocorreu de forma lenta, com

    pouco conhecimento dos lapidrios sobre caractersticas fsicas, qumicas e pticas

    dos minerais que estavam sendo utilizados; maquinrios obsoletos e lapidao

    irregular para ser comercializada no exterior.

    Portanto pretende-se com esse trabalho e outros j existentes no Brasil,

    compor um banco de dados que possa servir como referncia para estudos

    posteriores e que tenha aplicao direta na prtica de lapidao de gemas.

    um trabalho indito no Brasil, por conter compilao de dados histricos,

    atuais e tcnicos. Houve a necessidade, com o seu desenvolvimento, de aprofundar

    alguns captulos que sero tese de doutoramento, pois so complexos e precisam

    de experincia prtica.

  • 3

    1.1 JUSTIFICATIVA

    O Brasil caracterizado como um dos pases que mais exportam produtos

    como commodities, ou seja, matria prima, por exemplo, pedras brutas, in natura,

    para ento serem lapidadas no exterior e, muitas vezes, o material importado para

    utilizao no mercado joalheiro, sendo agregado pouco valor a matria prima.

    Dentro dos maiores compradores de commodities no Brasil est Hong Kong,

    ndia, Estados Unidos, China e Alemanha e entre os maiores compradores de

    pedras lapidadas, como rubis, safiras e esmeraldas esto os trs primeiros; Estados

    Unidos, Tailndia e Alemanha.

    Analisando o mercado interno, foi apontado o desenvolvimento da cadeia

    produtiva de gemas e jias de baixo nvel de eficincia econmica, devido

    utilizao de tcnicas de lapidao rudimentares, no possuindo gemas de

    tamanhos adequados, simetria, acabamento final e calibragem para a joalheria

    exterior, conforme dito por Mol (2004 apud MDIC, 2004).

    Portanto, para o melhor aproveitamento do recurso mineral disponvel, o

    IBGM incentiva concursos de Design de Jias e em 2008 iniciou o desenvolvimento

    do assunto Lapidao Diferenciada, com concursos, palestras e um manual

    desenvolvido principalmente por Adriano Mol, a fim de incentivar a agregao de

    valor aos minerais brasileiros (IBGM. 2009). Com organizao da AJOMIG foi

    desenvolvido um concurso, chamado Brazil Gem Show de Design de Gemas e j

    esta em sua quarta premiao.

    O Ministrio de Desenvolvimento, Indstria e Comrcio com aes de

    fomento pelo governo federal, incentiva o design aplicado ao setor de gemas e jias

    com o programa de implantao do frum de competitividade para a cadeia

    produtiva de gemas e jias, vem contribuindo para que as empresas obtenham

    ganhos de mercado em mbito nacional.

  • 4

    Figura 1 - Quatro maiores compradores de gemas brutas e lapidadas brasileiras no ano de 2008.

    Portanto o design, mais do que criar algo para deixar o visual externo do

    produto atraente, retira o foco usual do produto e engloba seu desenvolvimento

    desde seus estgios iniciais e tem interfaces com a comunicao, marketing e a

    sociologia das comunidades globalmente interligadas atualmente.

    Neste contexto, a competitividade das indstrias est intimamente ligada

    implantao de uma cultura de design, como um dos mais importantes instrumentos

    para o aprimoramento dos bens de consumo aqui produzidos, segundo o programa

    brasileiro de design do Ministrio da Indstria, do Comrcio e do Turismo, como

    descrito por Mol (2004 apud MDIC, 1995).

    Associaes como a AJOLP em Pedro II, Piau, criada em 2004 pela

    necessidade local de organizar o setor de ourivesaria e lapidao, vem

    desenvolvendo o incentivo para a criao do artesanato caracterstico local que

    comeou a mudar em 1980, com o trabalho conjunto do presidente Juscelino de

    Souza, iniciou-se o ensino da lapidao com apenas um professor e atualmente so

    trinta.

    Estados Unidos

    Tailndia Alemanha Hong Kong

    1 - Rubi, Safiras e Esmeraldas 4.285 2.172 935 436

    2 - Outras Pedras Preciosas com lapidao Diferenciada

    21.651 894 6.684 5.849

    3 - Pedras em Bruto 5.127 1.194 2.086 16.369

    0

    5.000

    10.000

    15.000

    20.000

    25.000

    Val

    or

    em

    US$

    mil

    Fonte: MDIC/SECEX/DECEX - Do captulo 71 NCM *** - IBGM(***) No inclui exportaes realizadas atravs do DSE - Declarao Simplificada de Exportao .

    Exportao Brasileira de Pedras Brutas e Lapidadas em 2008

  • 5

    Figura 2 - Exportaes Brasileiras do Captulo 71 da NCM referentes aos anos de 2004 a 2009.

    E com base nestes dados que se conclui que o assunto pouco difundido ou

    est se desenvolvendo lentamente no Brasil e necessita de projetos de pesquisa e

    fundamentao bibliogrfica.

    Diamantes Lapidados

    Diamantes brutos

    Pedras preciosas em

    Bruto

    Rubi, Safira e Esmeralda Lapidada

    Outras Pedras

    Lapidadas

    2004 677 21.849 39.467 6.235 47.391

    2005 1.832 18.587 41.048 5.811 45.264

    2006 738 4.409 44.403 7.984 56.761

    2007 1.557 17.334 37.760 8.810 64.997

    2008 66 8.793 35.575 8.549 45.094

    2009 * 20 1.689 18.870 9.028 45.261

    010.00020.00030.00040.00050.00060.00070.000

    Val

    or

    em

    US$

    mil

    Fonte: MDIC/SECEX/DECEX - Do captulo 71 NCM *** e PSI- IBGM

    (***) No inclui exportaes realizadas atravs do DSE - Declarao Simplificada de Exportao(*) Contagem de meses de janeiro a setembro

    Exportao Brasileira de Pedras Brutas e Lapidadas - 2005 a 2009

  • 6

    1.2 DEFINIO DE LAPIDAO

    Segundo Mol (2009), a lapidao de gemas o conjunto de tcnicas de corte

    e polimento que tem como objetivo ressaltar as caractersticas pticas das gemas e

    permitir sua utilizao em objetos de adorno.

    A palavra lapidrio, em alemo, edelsteinschneider, designa uma pessoa

    que trabalha com minerais, rochas e gemas, formando-as em objetos decorativos ou

    funcionais e o termo lapidao derivado da palavra Lapidaries, que era um

    tratado medieval para se relacionar alquimia, mineralogia, qumica e outras

    cincias (ALLABOUTGEMSTONES, 2009).

    As profisses de lapidrio de gemas coradas e lapidrio de diamantes so

    profisses bastante diferentes, no podendo ser nunca confundidas. Porm neste

    trabalho este aspecto no detalhado.

    2. CAPTULO I A HISTRIA DA LAPIDAO

    O ser humano vem mostrando o seu interesse por gemas h milhares de

    anos. Atividades joalheiras intensas foram identificadas por pesquisadores no Homo

    Sapiens, Cro-Magnons, h 40 mil anos, quando eles comearam a migrar do Oriente

    Mdio para a Europa, aps terem substitudo os Neandertais, no qual guerrearam

    por dez mil anos. Moravam em cavernas e utilizavam como adorno colares e

    braceletes feitos de ossos, dentes de animais (marfim), conchas, prolas e pedras

    unidas por fios de origem animal (ASPAHAN, 2008).

    No perodo Paleoltico Mdio a Superior e Neoltico (40.000 a.C at 5.000

    a.C.), correspondente a idade da Pedra Lascada e Polida, os homens utilizavam

    como adorno, simples colares de conchas, ossos, dentes e pedras trabalhadas. Na

    poca friccionavam uma pedra bruta em outra para desenvolver armas e

    ferramentas. Com este trabalho tambm transformavam o brilho de suas superfcies

    e comearam a utiliz-las como ornamento (WEBSTER, 2002).

    Desde a antiguidade, quando os homens tinham menos conhecimento

    cientfico, as gemas eram consideradas algo misterioso e relacionado ao

    espiritualismo, por isso, eram usadas como amuletos e talisms. Existiam muitos

    mitos e lendas associadas a elas, como pedras amaldioadas ou curativas, outras

  • 7

    utilizadas como smbolo de posio social, decorando vestimentas de rainhas,

    sacerdotes, palcios, templos e utenslios (SEVERO, 2008).

    Diversas sociedades tiveram exmios joalheiros, como os Egpcios (3000 a.C

    a 1000 a.C) que trabalhavam turquesa, lpis-lazuli, esmeralda, crisocola, amazonita,

    olivina, fluorita, malaquita, gata, ametista e quartzo hialino, como sinetes, amuletos

    e escaravelhos; Os Chineses a 1500 a.C. esculpiam jade e enterravam-a consigo

    quando morriam; os Mesopotmicos (sumrios, babilnicos e assrios com data de

    1950 a.C. onde hoje atual Iraque), cortavam e entalhavam lpis-lazuli, calcednia,

    amazonita e jasper, fazendo cilindros com smbolos gravados os quais eram usados

    como assinatura, para gravar em cera ou argila; os Etruscos com tcnicas de

    filigranas e granulao do ouro; os Gregos poliam os seis lados do berilo e os

    Romanos com a profuso do ouro, utilizavam esmeraldas, safiras e prolas brancas

    em jias que tinham como tema central o Cristianismo.

    Os primeiros lapidrios criaram o corte cabocho, palavra derivada do

    francs cabochon, a partir do polimento de gemas encontradas roladas pela ao

    de cursos dgua, apresentando o lado superior arredondado e o inferior reto, sem

    facetamento, o que normalmente utilizado em minerais translcidos e opacos

    (MOL, 2002).

    A primeira tcnica reconhecida de lapidao a glptica, que consiste em

    esculpir por abraso com um material de maior dureza, criando-se figuras, smbolos,

    ou desenhos na superfcie da gema (SCHUMANN, 1997). Esses grafismos podem

    ser feitos no lado superior (aparente) de uma gema opaca ou no lado inferior de uma

    gema transparente, para serem visualizados atravs da mesma. Os exemplares

    mais antigos dessa tcnica foram encontrados pelos arquelogos nas runas das

    primeiras civilizaes do Egito e Mesopotmia (MOL, 2004).

    A lapidao de facetas teve inicio na ndia por volta de 400 a.C, tcnica que

    no teve grandes evolues at o sculo XIII quando os mercadores venezianos que

    por l passaram, trouxeram estes modelos para a Europa.

    Um livro indiano do sculo XIV, Agastimata, a primeira recordao que os

    diamantes eram trabalhados utilizando outro diamante como ferramenta e que

    depois de modelado ou polido perderiam seus poderes mgicos. A lenda foi

    propagada pela Europa e a dificuldade que tinham em trabalhar o diamante devido

    sua dureza, s fortalecia a lenda e prejudicava o incio do seu comrcio (BRUTON,

    1978).

  • 8

    Como objeto decorativo os diamantes eram usados em sua forma natural,

    octadrica, somente com o polimento das faces (ALLABOUTGEMSTONES, 2009).

    2.1 O LAPIDRIO E SEUS OFICIOS NA EUROPA

    Durante a Idade Mdia, comeando com a desintegrao do Imprio Romano

    do Ocidente, no sculo V (em 476 d. C.) e terminando com o fim do Imprio Romano

    do Oriente e com a queda de Constantinopla, no sculo XV (em 1453 d.C.), os

    diamantes no eram usados em joalheria, isto , seu valor esttico ou como

    revelador de status era muito pequeno. Assim, o seu valor era essencialmente

    mgico, sendo utilizados apenas por homens (ao contrrio do que se sucede hoje).

    Os diamantes eram incrustados em armaduras (estando apenas ao alcance dos

    muito ricos e poderosos), na esperana de que as propriedades mgicas, ao

    exemplo da invencibilidade associada sua dureza, se estendessem aos seus

    portadores (CHAVES, 2003).

    Diamantes e algumas gemas coradas foram citados na Bblia, associados a

    signos do zodaco e no judasmo, representando as doze tribos de Israel.

    Um monge alemo beneditino, Theophilus Presbyter (1070-1125), tinha

    fascnio pelas artes aplicadas e escreveu um livro no sculo X, chamado De

    Diversus Artibus (As Diversas Artes), onde relatava o polimento de pedras e outras

    tcnicas. Dizia ser necessrio para o polimento das pedras, um esmeril com fino p

    de quartzo molhado com saliva. Descreveu tambm o uso de um dopstick, que

    eram longos pedaos de madeira com espessura comparvel a gema, presa na

    ponta, friccionada sobre um pedao duro de areia; a pedra iria se desgastando e

    tornando-se brilhante. O uso de p de azulejo ou tijolo molhado sobre pele de cabra,

    friccionado sobre esta, j facetada, proporcionava completa transparncia

    (ALLABOUTGEMSTONES, 2009).

    Nos sculos XII e XIII, houve na Europa uma gradual transio entre

    gravao e lapidao cabocho para o facetamento. Em 1290, um grupo de

    lapidrios e polidores se formou em Paris. E em 1375 o primeiro grupo de lapidrios

    foi formado em Nuremberg, Alemanha.

    No comeo do sculo XIV, a lapidao cabocho foi a principal caracterstica

    de decorao na Alemanha, ustria e coroa da Rssia (KRAUS, 1987).

  • 9

    Em Paris foi criada no sculo XIII a Irmandade dos Cristaleiros e Polidores de

    Pedras e, a partir desta associao, a lapidao facetada passou a ser divulgada

    com a fundao de centros de lapidao em Metz, Reims, Saint Denis e Praga. A

    tcnica se estendeu at Idar-Oberstein, na Alemanha (METAIS DE MINAS GERAIS,

    1981).

    A lapidao de diamantes chamada Point-cut foi desenvolvida em 1375,

    sendo o maior avano da poca. Durante este perodo, os lapidrios descobriram

    que o diamante possua planos de clivagem, seu corte natural. A clivagem era um

    mtodo muito mais rpido que outros mtodos de formao, mas

    excepcionalmente limitada porque s se formam facetas octadricas. Entretanto, o

    Point-cut consistia no polimento das facetas naturais com um ligeiro ngulo.

    Aparece na joalheria da Idade Mdia e torna-se popular no perodo Renascentista

    (BRUTON. 1978).

    Figura 3 Point Cut (ALLABOUTGEMSTONES, 2009).

    Nesta poca, melhorias eram tentadas no Point-cut, sendo uma das pontas

    do octadro desgastadas a ponto de formar uma faceta quadrada, chamada de

    mesa e a lapidao de Table-cut. A culaa foi mais adiante inserida, sendo que no

    incio, possua o comprimento da metade do tamanho da mesa e era conhecida

    como Indian-cut. Muitas eram relapidadas quando chegavam na Europa e depois

    correspondia a 1/4 do dimetro da cintura. A altura da cintura at a mesa era a

    metade do dimetro da cintura (BRUTON, 1978; ALLABOUTGEMSTONES, 2009).

  • 10

    Figura 4 Table Cut (ALLABOUTGEMSTONES, 2009).

    No final do sculo XIV foram adicionados quatro cantos de facetas criando a

    lapidao Old Single Cut. Possua no total oito lados, uma mesa octogonal e podia

    ou no possuir culaa. Nenhuma dessas lapidaes possua brilhncia, eram

    escuras a olho nu e as gemas coradas possuam maior popularidade que diamante

    (ALLABOUTGEMSTONES. 2009).

    Figura 5 Old Single Cut (ALLABOUTGEMSTONES, 2009).

    Existem registros de notcias de lapidrios de diamantes estabelecidos em

    Veneza, desde o ano de 1330, que durante certo tempo manteve o monoplio das

    mercadorias procedentes da ndia.

    A arte de lapidar difundiu-se para Bruges, na Blgica, por onde passava cerca

    de 40% do comrcio mundial do sculo XVI, Paris na Frana e Nuremberg na

    Alemanha. Com a descoberta da nova rota para as ndias, pelo Cabo da Boa

    Esperana em 1497, a mercadoria chegava a Lisboa e da seguia para a Anturpia

    na Blgica (DEL REY, 2002).

    Um lapidrio, chamado Herman, em 1407, teria deixado uma recordao de

    seus trabalhos artsticos com diamantes em Paris. Nesta poca o numero dos

    lapidrios da regio estava aumentando e eles viviam em um distrito chamado La

  • 11

    Courarie, onde residiam trabalhadores de diamantes e outras pedras

    (TOLKOWSKY. 1919).

    Johannes Guttenberg, conhecido como grande contribuinte para a tecnologia

    de impresses e tipografia, tambm dominou a arte de confeccionar moldes para

    fundio de ouro e prata. Em 1434, mudou-se para Estraburgo e l aprendeu com

    Andrea Drytzehen a lapidar e polir gemas (DIAMONDSAREFOREVER, 2009).

    Desde o sculo XV, as cidades prximas ao rio Nahe, Idar e Oberstein,

    tornaram-se importante plo lapidrio de pedras preciosas, objetos esculpidos em

    gata e camafeus trabalhados em pedras e conchas. No sofreram grande

    devastao com a guerra, porm, foram prejudicadas no sentido econmico

    (WELLS. 1960).

    Em 1458, em Bruges, Blgica, um judeu Lodewyk van Berquem, residente em

    Paris, por longo tempo, anunciou que havia descoberto o mtodo de cortar

    diamantes. Inventou a scaif, que era uma roda de rotao de polimento

    impregnada com uma mistura de leo de oliva e p de diamante, onde seu prprio

    polimento era feito durante o facetamento e revolucionou a arte de cortar diamantes.

    O diamante era fixo em um dop e pressionado contra o disco em movimento,

    introduzindo assim o conceito de absoluta simetria para colocao das facetas no

    diamante. Dez anos depois, seus contemporneos o nomearam pai do corte de

    diamantes, pois utilizavam as leis da ptica relacionadas aos ngulos preferenciais

    e criaram gemas para prncipes e aristocratas da Europa (KRAUS, 1987).

    Em 1669, Robert de Berquem escreveu um livro que registrou a descoberta

    em fazer p de diamante para ser usado na Scaif, como corte e desgaste de outro

    diamante, em homenagem a seu antecessor Lodewyk van Berquem. Possua o

    nome de Les merveilles des Indes: Traits des pierres prcieuses (BRUTON,

    1978).

    Charles the Bold (1433 1477), duque de Borgonha, tornou-se o patrono de

    Van Berquem e comissionou a ele um diamante de 137ct, que lapidado foi chamado

    de Florentine, presenteado a famlia Valois; e um de 55ct que tornou-se o Sancy

    (Maharaja of Guttiola).

    A partir destes diamantes, ele inventou o formato Pendeloque ou Briollet.

    Sendo depois encomendada uma nova lapidao para lapidar trs diamantes,

    desenvolvendo-se a Perfect-cut. Na Blgica, em uma rua chamada Pelikenstrasse,

  • 12

    h uma esttua de bronze com sua figura (TOLKOWSKY. 1919). Nasce nessa

    poca o nome da profisso de lapidrio de diamantes, a chamada Brillianteer.

    Figura 6 esquerda, Lapidao Pendeloque ou Briollet e direita anncio do Museu do diamante

    na Blgica (Bruges) (ALLBOUTGEMSTONES, 2009; DIAMANTMUSEUM, 2009).

    Na Renascena, durante o sculo XV, houve um grande lapidrio que

    estudou em Florena e imitou detalhes de gravaes da famlia Medici, da coleo

    Grand Ducal, foi ele Giovanni delle Corniole (1470-1516).

    Figura 7 - Giovanni delle Corniole (ALLABOUTGEMSTONES, 2009).

    O gravador genovs, Giacomo Tagliacarne foi um dos precursores da

    lapidao. Foi tutor de Pier (Pietro) Maria Serbaldi da Pescia (1455-1522) que se

    tornou grande joalheiro e gravador. Giacomo foi para Roma em 1499, sob

    patronagem de Papa Leo X e teve companhia de Michelangelo di Ludovico

    Buonarroti Simoni.

  • 13

    Como discpulos de Serbaldi, foram Domenino di Polo de Vetri e Michelino di

    Paolo Poggini. Domenico (1480-1547) foi grande lapidrio e passou a maior parte de

    sua vida como medalheiro da corte de Alessandro de Medici, de 1510 a 1537

    (ALLABOUTGEMSTONES, 2009).

    Figura 8 - Giacomo Tagliacarne (ALLABOUTGEMSTONES, 2009).

    Em 1520 foi desenvolvida a lapidao Rose-cut e os lapidrios mais antigos

    referiam-se a ela como diamante taille facettes, pois eram os primeiros diamantes

    com facetas, propriamente ditas.

    A Rose-cut poderia ter um nico hemisfrio com 24 facetas e base reta, ou a

    chamada Double-rose onde possuam os dois lados idnticos, unidos base com

    base, com 48 facetas. Seu nome derivado da semelhana a uma rosa aberta onde

    as facetas so as ptalas. Sua lapidao desperdia pouco material, possui faceta

    com trs lados e angulao pouco ngreme. As seis facetas do centro so chamadas

    de coroa ou estrela e as facetas das laterais so chamadas coroa ou dentes.

    Permite pouca clivagem e podem ser utilizados diamantes assimtricos chamados

    de maclas. Foram largamente utilizadas na joalheria Vitoriana, em granadas da

    Bohemia (WEBSTER, 2002).

    A lapidao Rose-cut se tornou muito popular e ocorreram variaes como a

    Crowned Rose cut e Dutch-rose, onde sua altura era igual a metade do seu

    dimetro e a distncia da base ao incio da primeira coroa era 3/5 da altura total, o

    dimetro da coroa central 3/4 do dimetro da base e poderia ser redondo ou oval;

    a Antwerp ou Brabant similar ao Dutch-rose, exceto que a inclinao mais

    baixa e a distribuio das facetas a mesma nos trs tipos; outras variaes so a

    Rose Recoupe e a Rosette.

  • 14

    Uma modificao da Double-rose consiste no alongamento de um dos

    hemisfrios seguindo o formato gota ou pera, chamado novamente de Pendeloque

    ou Briollet. As facetas que anteriormente tinham trs lados ou tinham formato

    losangulares, com a modificao chamada por Checkerboard, s facetas seriam

    aplicadas de forma diagonal, ou seja, as facetas tornaram-se quadradas

    (ALLABOUTGEMSTONES, 2009).

    Figura 9 Rose-cut e variaes (1- Rose-cut, 2- Doble-rose, 3- Pendeloque ou Briollet, 4- Rose Recoupe

    e 5- Rosette) (ALLBOUTGEMSTONES, 2009; BRUTON, 1978).

    Acredita-se ter visto lapidao semelhante a Rose-cut em gemas anteriores

    a 1520, por causa do diamante Koh-i-Noor e o Great Mogul (BRUTON, 1978).

    Um ourives italiano, de Florena, Benvenuto Cellini (1500-1571), de

    personalidade aguada e aventureira, tinha como protetor, Papa Paulo III. Em 1568

    faz descries sobre o corte e polimento de diamantes, ensina a combinao de

    cores de maior agrado a viso do ser humano. Teve como mestre Michelangelo di

    Ludovico Buonarroti Simoni. Segundo ele, Um diamante que friccionado contra o

    outro em mtua abraso, tomam a forma que a capacidade do polidor quer que

    chegue. Com o p de diamante que restou da ltima operao, a concluso ou

    polimento deste feito. Para este propsito, a pedra fixada em um pequeno guia,

    ou tubo de metal, preso em um dispositivo e colocado contra a roda de ao em

    movimento, provida de leo e p de diamante. A roda deve ter a grossura de um

    dedo e a largura de uma mo, esta composta de ao fixada a um moinho que

    atravs da rotao gera um rpido movimento, podendo ser facetados quatro ou seis

    diamantes na mesma roda. O peso colocado no dispositivo em relao frico da

    gema contra a roda em movimento pode aumentar. Desta forma o polimento est

    completo (BRUTON. 1978).

  • 15

    Figura 10 - Benvenuto Cellini. (CHESTOFBOOKS, 2009)

    O desenvolvimento do desenho utilizado nos cortes de gemas para muitos

    seguia semelhana entre o princpio matemtico de geometria Euclidiana e a

    arquitetura da poca que usavam o crculo enquadrado. Euclides vivido em

    Alexandria (330 a.C-275 a.C) desenvolveu no texto Os Elementos a teoria dos

    nmeros e onde axiomas intuitivos eram provados com teoremas, em que reunidos

    poderiam abranger um sistema dedutivo e clculos que j haviam sido afirmados por

    matemticos gregos anteriores.

    O corte da mesa foi esclarecido no sculo XVI e no incio do sculo XVII,

    devido a influncias clssicas e proporo urea de Pitgoras, que misturou

    geometria com magia utilizada nos cortes. A proporo urea possua a razo

    1/1,618 e era baseada no quadrado, e a mesa representava um quadrado dentro de

    outro. Gemas coloridas tambm eram cortadas na mesma proporo e, com o

    passar do tempo, se tornou mais complexo devido a repetio de formas

    geomtricas (BRUTON, 1978).

    Jean-Baptiste Tavernier (1605-1689), um joalheiro Francs, fazia viagens

    para a ndia em busca de conhecimento sobre a lapidao de diamantes no sculo

    XVII. Sua primeira visita foi em 1665, onde os indianos poliam as facetas pr-

    existentes no cristal e possuam o conhecimento de desgastar o diamante retirando

    deles sua superfcie defeituosa. Se o defeito estivesse muito profundo, eles

    tentavam esconder, fazendo pequenas facetas por debaixo. Nas escritas de

  • 16

    Tavernier, encontravam-se lapidrios Europeus na ndia e os diamantes maiores

    eram determinados a eles para o corte. O diamante de maior tamanho era o Great

    Mogul, possuindo 280 ct, que foi lapidado pelo veneziano, Hortensio Borgis e foi

    presenteado ao Grande Mogol Aurung Zeb, de Delhi (TOLKOWSKY, 1919).

    Figura 11 - Descries de Tavernier (todas as imagens) no sculo XVII (ALLABOUTGEMSTONES, 2009).

    Figura 12 - Great Mogul da ndia, de 787,5ct bruto

    e 280 ct lapidado (BRUTON, 1978).

    O processo de serrar diamante foi tambm descrito por Johannes de Laet da

    Anturpia, em seu livro Digemmis et Lapidibus, em 1647 e trs anos antes, em

    1644 foi editada a obra de Anselmus Boetius (de Boot) em Lion, com o nome de Le

    Parfeit Jaeallier, que descrevia a tcnica para pedras preciosas menos duras, sem

    referncias ao diamante (PORMIN,2009).

    Com a inteno de obter um corte em que houvesse menor perda de luz,

    conduziu o Cardinal Jules Mazarin (Giulio Raimondo Mazzarino) (1602-1661) em

    1650 inveno do corte Mazarin ou Mazarins Double-cut-brilliants, com 17

    facetas na coroa incluindo a mesa e 17 abaixo incluindo a culaa, indica suas

    origens na Frana e cita a produo em larga escala na Anturpia a partir de 1717

    (MOL. 2004). Pode-se dizer que este foi a primeira lapidao da classe dos

    Brilhantes.

  • 17

    Figura 13 - Cardinal Jules Mazarin (ALLABOUTGEMSTONES, 2009).

    Em 1681, um polidor veneziano chamado Vicenzio Peruzzi, introduziu o

    Peruzzi Cut ou Triple-cut-brilliant que dobrou o nmero de facetas de 17 para 33,

    na coroa e as mesmas no pavilho. Com o crescimento da popularidade do corte,

    grandes quantidades de cortes antigos foram relapidados. Isto se deu devido ao

    interesse na inovao tecnolgica e parcialmente devido ao interesse decrescente

    na invarivel forma clssica da mesa utilizada (BRUTON, 1978).

    Figura 14 - Lapidaes Mazarin e Peruzzi (vista superior) (ALLABOUTGEMSTONES, 2009).

    Semelhante a Tripe-cut-brilliant surgiu a lapidao Old mine cut, tambm

    chamada de Cushion ou Antique, com a evoluo da cintura arredondada, coroa

    alta resultando em uma mesa pequena e uma culaa grande que poderia ser vista

    pela mesa quando olhada a 90, com 33 facetas na coroa e 25 no pavilho (READ,

    1991).

    Nesta poca foram encontrados diamantes no Brasil e frequentemente eram

    enviados Europa para serem lapidados, sendo assim a Old mine cut teve grande

    difuso (BRUTON, 1978).

  • 18

    Figura 15 Lapidao Old mine cut (vista lateral, superior, inferior e perspectiva)

    (ALLABOUTGEMSTONES, 2009).

    J por volta de 1800, foi desenvolvida a lapidao Old European, que

    possua uma pequena mesa, uma grande coroa, cintura circular, grande culaa e no

    total grande profundidade. Os lapidrios ingleses, nesta poca, tiveram como

    caracterstica deixar a cintura mais fina que a dos holandeses, tornando-se

    quebradia, esta moderna padronizao recebeu tambm o nome de England cut

    ou Victorian cut (BRUTON, 1978).

    Figura 16 - Lapidao Old European (Vista lateral, superior, inferior e Perspectiva)

    (ALLABOUTGEMSTONES, 2009).

    Com o passar dos anos, houve graduais transformaes e no ano de 1919,

    Marcel Tolkowsky (1899-1991), membro de famlia belga de lapidrios de diamante,

    ficou conhecido como pai da moderna lapidao brilhante, publicando em sua tese

    de doutoramento e em seu livro Diamond Design a tcnica American Standart, que

    demonstra o uso de certos ngulos e propores que maximizavam a brilhncia do

    diamante. Tambm era chamado pelo nome de American Ideal cut, Ideal cut,

    Tolkowsky cut e Tolkowsky brilliant. Sua frmula matemtica de ideal proporo para

    cortar diamantes, revolucionou a poca e tornava-se possvel o uso de mquinas

    semi-automticas para polir diamantes. O desenvolvimento fez parte de sua tese de

    doutoramento na Universidade de Londres e a lapidao era composta por 58

    facetas, sendo 33 na cora e 25 no pavilho, o que produz grande brilho, disperso e

    cintilao. Seu corte reduzia 50% do peso total, porm era melhor aproveitado o

    reflexo e refrao da luz. (BRUTON, 1978)

  • 19

    Depois emigrou para os Estados Unidos em 1940, no qual trabalhou com

    diamantes at 1975. Foi membro do Diamonds Dealer Club que participou por 50

    anos e foi presidente. Foi membro por longo tempo do Diamond Trading and

    Precious Stones Association. Teve duas filhas; Eileen Berets e Nicole Kopf (THE

    NEW YORK TIMES, 15/02/91).

    Na Frana, a profisso desenvolveu-se at a revoluo Francesa (1789-

    1799), onde muitos deles fugiram para Anturpia, Amsterdam e Lisboa. Os

    lapidrios eram normalmente conhecidos tambm por serem comerciantes, pois

    trabalhavam em suas prprias oficinas e precisavam comercializar o produto

    desenvolvido (KRAUS, 1987).

    Nos Estados Unidos, foi pouco desenvolvido o campo da lapidao at 1930,

    poca quando os ourives europeus emigraram para Nova York para servir a

    indstria joalheira (KRAUS, 1987).

    Na Anturpia formou-se o maior centro de lapidao de diamantes no sculo

    XVIII, devido aos diamantes vindos de Portugal pela rota ao mar da ndia e Brasil.

    Amsterdam, um segundo centro, comprava diretamente da ndia, desde o sc. XVI e

    gradativamente foi perdendo seus lapidrios com os Sculos devido s condies

    rigorosas do sindicato no momento pr-guerra. Apesar do esforo da DeBeers, a

    Anturpia no conseguiu manter o monoplio. Diamantes maiores eram enviados a

    Nova York, a fim de evitar impostos sobre as jias prontas, enquanto os menores

    eram enviados a ndia para serem lapidados por mo de obra barata e diamantes de

    quilatagem mediana, cerca de 1ct, eram enviados a Israel. Porm a Anturpia

    continuou a receber a maior parte dos diamantes valiosos em formatos complexos.

    Lisboa foi um centro de lapidao a partir da data que os portugueses

    comearam o comrcio com a ndia e ao mesmo tempo em que outros centros de

    lapidao se estabeleceram na Espanha (Valncia, Barcelona e Madri). Depois do

    sculo XVIII, Londres emergiu como um importante centro de lapidao, alcanando

    a terceira posio, depois de Amsterdam e Anturpia.

    Os ingleses estavam ganhando interesse na ndia, porem com a descoberta

    de diamantes no Brasil, no sculo XVIII, o quadro mudou. Como Portugal no

    mantinha controle dos impostos e quantidade de diamantes regulamentados vindos

    do Brasil, Londres estabeleceu relaes com Portugal, comprando grande parte

    destes diamantes.

  • 20

    No sculo XVIII o comrcio de diamantes brutos tornava-se separado do

    comrcio de lapidao e no sculo XIX com a descoberta de diamantes no sul da

    frica, acelerou a separao das duas atividades e houve influncia de Londres,

    com a DeBeers no seu mercado de pedras brutas (BRUTON, 1978). No incio de

    1960, a De Beers subsidiou a introduo da mquina Pieromatic de lapidar

    diamantes na Anturpia. Em poucos meses homens treinados estavam lapidando

    diamantes e o negcio se estendeu da Anturpia para Londres.

    Em Idar-Oberstein, na Alemanha, a Gewerbehalle, centro comercial, havia

    em 1960, grande coleo de gemas e pedras brutas. Na poca existiam grandes

    oficinas de lapidao com o nome da empresa Gebruder Leyser, que possuam

    trabalhadores divididos por setor: os serradores, os cortadores, os polidores e ainda

    a dama de prova. Leyser possua outra lapidao na parte meridional da povoao

    de Idar, onde existia uma lapidao movida a gua em funcionamento a 300 anos

    atrs, pertencentes aos irmos Heinz, de valor histrico. Destacados os nomes,

    Leyser, Klein, Wild, Becker e Heinz possuam mais de 30% da populao dedicada a

    gemas e jias em geral. Cerca de 20% dos estabelecimentos mantinham

    compradores de pedras brutas no Brasil (WELLS, 1960).

    2.2 O LAPIDRIO E SEUS OFCIOS EM PORTUGAL

    Desde a rota de comrcio de diamantes brutos entre ndia e Portugal, este era

    centro de lapidao e venda de bruto para outros pases da Europa. Porm, apenas

    no sculo XVIII e XIX, que se tm relatos de desenvolvimento de oficinas e

    indstrias no setor. Pessoas nobres tinham pouco interesse pelas artes e ofcios e

    perfeio na arte de ourivesaria (ouro e prata), lapidao, cravadores e douradores

    (OLIVEIRA, 2009).

    A ourivesaria portuguesa, possuindo lugar significativo na arte religiosa,

    buscou seus modelos na arquitetura gtica e influenciou um estilo chamado

    Manuelino, com inspiraes em vegetais exticos e elementos nuticos. Inclusive

    havia um regimento de Ourives e Lapidrios para que se trajassem corretamente em

    procisses e se organizassem na mesma de forma hierrquica. Os lapidrios de

    diamante iriam frente e os de rubi atrs (VALLADARES, 1952, pag 75 e 76).

  • 21

    O ofcio em Portugal e depois no Brasil era organizado de maneira

    hierrquica, onde os mais importantes eram os mestres, depois os oficiais e os

    aprendizes. Aps o ensino do mestre ao aprendiz, este deveria fazer um exame para

    especializao artesanal para virar oficial, que era feito de 4 a 5 anos de

    aprendizagem. O lapidrio tanto podia ser examinado como oficial de diamantes,

    como de rubis, sendo as provas diferentes. No se revelando devidamente

    preparado, s podia obter outro exame passado seis meses; em caso de nova

    reprovao, mais seis meses e assim repetidamente, at que fosse considerado

    apto (VALLADARES, 1952).

    A partir de 1572, havia O Regimento dos Ourives de ouro e Lapidrios que

    prescreviam toda a funo do ofcio e nenhum oficial mecnico podia colocar tenda

    do seu oficio sem possuir a carta de examinao. O mestre examinador em

    hiptese alguma podia examinar filho, cunhado ou quaisquer parentes. A

    examinao era obrigatria para aqueles que desejavam vender suas horas de

    trabalho por melhores remuneraes e/ou serem donos das tendas, posteriormente

    chamadas de oficinas (REIS, 2005).

    Em Lisboa, foram os ofcios autorizados a se organizarem em corporaes,

    constituindo-se uma representao poltica, chamada a Casa dos Vinte e Quatro. A

    tradio continuava com a reunio de artistas de uma mesma profisso, porm era

    eleito um representante para cada uma delas formando um total de 24 juzes, para

    tratar de interesses de cada uma das corporaes. Estes em si, tambm elegiam um

    presidente chamado Juiz do Povo. Em 1539, D. Joo III, reorganizava as

    corporaes elegendo deputados para cuidar de outros ofcios, como os de ourives

    e lapidrios que ainda no haviam politicamente formado sua corporao. Por volta

    de 1834, a casa foi extinta depois de 450 anos de existncia. (MARTINS. 2007)

    Nos finais dos sculos XVI e princpio do XVII os Vinte e Quatro ofcios, se

    congregaram em irmandades e confrarias, tomando cada um deles um Santo do

    calendrio, formando uma bandeira, com as imagens dos seus padroeiros

    estampadas, indicando o agrupamento do ofcio. Alm dos santos continuavam a ter

    um juiz do ofcio.

    O santo escolhido pelos ourives de Portugal foi Santo Eloi (588-659), que em

    vida era talentoso ourives, inclusive algumas de suas peas ainda podem ser

    encontradas na Frana.

  • 22

    Por volta de 1729, aps muitos anos de seu descobrimento, ocorreu o oficial

    achado de diamantes no Brasil, estes eram levados a Portugal, sendo temido pelos

    hebreus monopolistas na Europa, em defesa do prprio comrcio. Os hebreus

    afirmavam que eles eram manchados e que perdiam o brilho no fim de pouco tempo

    exposto a luz. Porm compravam grandes quantidades e recambiavam na ndia

    como se fosse de Visapor e Bornu (LIMA, 1945). Portanto a imensa dificuldade dos

    portugueses em comercializar os diamantes encontrados no Brasil foi pelo fato de

    no ter tido um grupo mercantil especializado no setor de pedras finas e seus

    lapidrios no possuam tal habilidade para dispendioso trabalho (RABELLO, 1997)

    Alm dos diamantes, as esmeraldas, os rubis, as prolas e as safiras foram

    largamente utilizadas na joalheria portuguesa barroca. Mas tambm grandes

    quantidades de jias foram feitas com gemas de baixo valor financeiro na poca,

    como os topzios, citrinos, quartzo hialino, estes ltimos lapidados em formato

    brilhante. Utilizados na poca eram forrados com folhas de prata, uma tcnica em

    Portugal que ficou conhecida como Mina-nova, como substitutos do diamante,

    eram encontrados tambm no Brasil (MAGTAZ, 2008).

    Figura 17 - Guarnio de corpete. Portugal, 2 metade do sc. XVIII. Prata dourada e Topzios imperiais

    (DOREY, Museu Nacional de Arte antiga de Lisboa, 1995).

  • 23

    - Cristos-Novos

    Durante o sculo XVII, a igreja catlica criou inquisio, julgando todos

    aqueles que praticavam heresias. Judeus e muulmanos, que encontravam

    resistncia de aceitao na sociedade devido a sua religio de nascena,

    convertiam-se ao cristianismo, chamados posteriormente de cristos-novos.

    Dentro deles tinham muitas pessoas ligadas ao comercio de pedras preciosas.

    Um lapidrio fugido de Lisboa, em meados do sculo XVII, por causa da

    inquisio, fixou residncia em Luanda de onde tambm acabou por fugir devido a

    denuncia recebida pelo Bispado de Angola e Congo. Na sua trajetria de fuga viveu

    entre os portos de Lisboa, Flanders, Frana, Salvador, Rio de Janeiro e Luanda

    (REVISTA LUSFANA DE CINCIAS E RELIGIO, 2004).

    - Maons

    Em Portugal, na poca de 1744, pedreiros (lapidrios) protestantes,

    contestadores da f, pertencentes a sociedade secreta eram perseguidos e punidos,

    pela inquisio, utilizando os mesmos tipos de pena aplicados aos cristos-novos.

    Trs lapidrios contestadores foram punidos, dentre eles: Joo Couston (ou

    Coustos), que praticava a seita dos pedreiros livres, teve punio de 4 anos em

    Gales; Alexandre Jacques Mottom, pelas mesmas culpas, teve 5 anos de pena fora

    do patriarcado, pois era estrangeiro e Joo Thoms Brusl, pelas mesmas culpas,

    teve 5 anos de pena tambm fora do patriarcado por ser estrangeiro. Joo Couston

    foi perseguido na Inglaterra pelo Luis XIV, foi para Paris para trabalhar no Louvre,

    pensou em ir para o Brasil, mais o rei de Lisboa no permitiu tal ato.

    2.3 O LAPIDRIO E SEUS OFCIOS NO BRASIL

    2.3.1 Lapidrios no tempo do descobrimento 1500 a 1807

    Na chegada dos Portugueses no Brasil, eles receberam nativos em seu

    barco. Os nativos demonstravam alguma riqueza aos navegantes, apesar de no se

    adornarem com ouro e pedras como os Astecas, explorados por Espanhis. Os

    ndios usavam somente penas (arte plumria) e pinturas corporais, porm os

  • 24

    portugueses interessaram-se em explorar as riquezas do pas. Despertou

    curiosidade e empenho de muitos em Portugal e aventureiros por toda a Europa.

    Para a explorao eram enviadas as Bandeiras ou Entradas de Portugal. Eram

    compostos por homens que acompanhados pelos filhos maiores de 14 anos, por

    escravos e alguns homens do povoado, que tambm ambicionavam riquezas, saiam

    de So Vicente (1534) e So Paulo (1554, chamada de So Paulo de Piratininga) e

    dirigiam-se para o interior do Brasil caminhando atravs de florestas e rios, como o

    rio Tiet. As Entradas eram expedies oficiais organizadas pelo governo, enquanto

    as Bandeiras eram financiadas por particulares (senhores de engenho, donos de

    minas e comerciantes). Apesar destas expedies terem como objetivo procurar por

    pedras e metais e capturar ndios, estes homens ficaram historicamente

    responsveis pela conquista de grande parte do territrio brasileiro. Os mais

    importantes foram, Antonio Raposo Tavares, que foi at o Amazonas; Ferno Dias

    Pais Leme e seu genro Borba Gato, que exploraram a regio de Minas Gerais e

    Bartolomeu Bueno Silva, o Anhanguera, apelido dado pelos ndios que significava

    diabo velho ou esprito mau, encontrou ouro perto de Gois (MAGTAZ, 2008) .

    A primeira evidncia de ouro no Brasil foi em 1590, na regio do Pico do

    Jaragu, na ento capitania de So Vicente. S ento em 1695 foi encontrado ouro

    no futuro estado chamado de Minas Gerais. Aps algum tempo, em 1714, diamantes

    foram encontrados nas lavras de ouro da regio do Serro Frio (parte da Serra do

    Espinhao ao norte de Minas Gerais) e arraial do Tijuco, atualmente Diamantina. O

    povo no tinha conhecimento de tal importncia e usavam-nos como fichas em jogos

    de carta, porm apenas em 1729, Bernardo da Fonseca Logo, presenteou ao Rei de

    Portugal com diamantes e tornou-se descobridor oficial. A partir de ento, Lisboa

    cedeu concesses aos favoritos do rei e expulsou os garimpeiros das reas

    aurferas e diamantferas, porm foi impossvel mant-los afastados e a minerao

    ilcita continuou crescendo. Aps a oficializao dos achados, no perodo de 1745-

    1772, funcionou o perodo dos Contratos, sendo o contratador de diamantes, em

    geral uma pessoa de grandes posses em Portugal, tinha o privilgio e monoplio da

    lavra, pagando por nmero de escravos que trabalhavam em suas jazidas, dentre

    eles Joo Fernandes de Oliveira e sua amante ex-escrava, Chica da Silva. O Brasil

    chegou a ser o maior produtor mundial entre os anos 1725 at 1866 com a

    descoberta na frica (MAGTAZ, 2008).

  • 25

    As remessas de ouro e diamantes, enviados a Portugal, fizeram com que os

    portugueses reacendessem a cultura e o mecenato de D. Joo V e o Brasil

    construa-se assim, sobre a prospeco e comrcio do ouro e das pedras preciosas

    (MAGTAZ, 2008).

    Juntamente com o descobrimento surgiu a escravido de negros trazidos em

    bandos da frica. Realizavam todo o trabalho braal; trabalhavam na lavra de

    minerais, na pecuria, na vida domstica sem direito algum e aos poucos aprendiam

    rapidamente outros ofcios, como ourivesaria e lapidao. Com os poucos mestres

    na poca (MAGTAZ, 2008). Havia no Brasil grande preconceito com os

    trabalhadores do ofcio de sangue impuro, dentre eles escravos negros, ndios e

    cristos-novos (VALLADARES, 1952).

    O primeiro lapidrio chegou ao Brasil em 1592, com o nome de Cristovam, no

    governo de Dom Francisco de Sousa, poca em que o descobrimento das minas era

    grande preocupao. Este possua facilidade no corte de esmeraldas (SANTOS,

    1940). O governador Dom Francisco de Sousa dedicou-se a descoberta de minas e

    capturavam ndios como escravos. Trouxe para o Brasil um provedor de minas e um

    lapidrio de esmeraldas.

    No Brasil no sculo XVI tinha a maior parte das jias e alfaias importadas,

    para abastecer as pessoas de grandes posses. No havia ento ourives e lapidrios

    com qualidade suficiente para receber tantas encomendas, enquanto Lisboa, Porto,

    Sevilha e outras cidades de Portugal e da Espanha passavam por um grande surto

    artesanal, com a chegada dos metais e pedras do Novo Mundo (VALLADARES,

    1952, pag. 25 e 26).

    Felisberto Caldeira Brant, contratador de diamantes, substituiu Joo

    Fernandes de Oliveira (amante de Chica da Silva). Mandava os diamantes pequenos

    para Lisboa e ficava com os grandes. Sendo assim trouxe da Holanda um lapidrio

    para formar seus diamantes no Brasil sem que fosse percebido, mas foi descoberto

    e 1753, preso e levado para Lisboa.

    Em 1722 foi descoberto o topzio imperial na regio de Vila Rica, hoje Ouro

    Preto o que se chamou na poca de rubi brasileiro. Mais tarde identificado como

    topzio, passou a ser chamado de Topzio Brasileiro e depois devido ao encanto do

    Rei pela sua gama de cores foi chamado de Topzio Imperial. (MOL, 2002)

    Grandes quantidades de topzio, ametistas, turmalinas (vendidas como

    esmeraldas), berilos, crisoberilos, pedras comuns de vidro (vendidas como

  • 26

    diamantes) eram comercializados no Brasil e tambm enviados para Portugal

    (MAWE, 1978).

    - Casa da Moeda, Quinto real e a proibio do oficio

    A Casa da Moeda foi fundada em 1694 na Bahia e mais tarde no Rio de

    Janeiro e Minas Gerais. Em 1711, foi dada uma ordem para que fosse entregue a

    Casa da Moeda todo o ouro em p encontrado. Acredita-se que o recolhimento de

    pedras tambm era feito. Um quinto era reservado para o rei; os outros quatro

    quintos purificados e reduzidos a barras, prpria custa do governo; eram

    estampados e marcados e entregues aos proprietrios com um certificado que lhes

    permitia entrar em circulao. Havia postos com soldados para inspecionar os

    viajantes e patrulhavam estradas conferindo o tal certificado. Quem era encontrado

    com o metal ou pedras preciosas ser ter o quinto cobrado eram condenados a perda

    de seus bens e a deportao para a frica. Na poca era comum evitar a tributao

    com imagens de santos esculpidas em madeira com abertura nas costas para

    esconder ouro em p e diamantes brutos e passar sem ser visto, o famoso santo do

    pau oco (MAGTAZ, 2008; VALLADARES, 1952; SALES, 1955).

    No decorrer da explorao das minas de ouro e diamantes, em controle da

    coroa portuguesa, a corrupo e o contrabando corriam quase que livremente,

    fazendo com que fossem proibidas oficinas de ourivesaria e lapidao nas

    proximidades de lavras, com o intuito de salvaguardar os interesses da coroa, o

    quinto real que estava sendo burlado.

    Muitas oficinas foram destrudas e extintas, porm algum tempo depois os

    artistas novamente se instalaram. Em 1766 j com novas instalaes, existiam 375

    mestres ourives e 1500 oficiais (VALLADARES, 1952). Os ourives que

    permaneceram s poderiam comprar ouro na Casa da Moeda e no poderiam de

    maneira alguma utilizar o ouro das moedas em suas obras (MAWE. 1978;

    VALLADARES, 1952, pag. 34).

    Houve uma Carta Rgia de 30 de julho de 1766 que proibia oficialmente o

    exerccio destas oficinas na Bahia, Pernambuco e no Rio de Janeiro, fechando todas

    as lojas, as Casas de Moeda e fundio e recolhendo todos os equipamentos. Os

    mestres deveriam assinar termo judicial comprometendo-se a no exercer mais o

    ofcio, a no ser com ordem especial do governo. Seus aprendizes ou escravos

    deveriam ser remetidos aos seus senhores outra funo. No Rio de Janeiro e

  • 27

    Pernambuco o conde Cunha, no aceitou as determinaes reais, apoiando

    trabalhadores da poca, que eram pais de famlia e at mesmo idosos. Mesmo

    assim a Carta Rgia vigorou at o alvar de 1815 (VALLADARES, 1952).

    Para o controle dos diamantes, criou-se em 1772 a Real extrao, sob

    administrao da Real Fazenda, onde os escravos disponveis na regio foram

    alugados e eram contratados por essa administrao. Mais tarde, pessoas influentes

    da regio passaram a tomar conta novamente das exploraes (CHAVES, 2003).

    A progressiva restrio das atividades artesanais no Brasil colnia atingiu o

    auge em janeiro de 1785, por ocasio do alvar de D. Maria I (1777-1816) que

    determinou a extino das manufaturas de ouro, prata, seda, algodo, linha e l,

    excetuando-se as de panos grosseiros. Essa medida cuja eficcia discutvel e foi

    abolida em 1808, aps a transferncia da corte para o Rio de Janeiro (VAINFAS,

    2000). A coroa portuguesa decidiu sua transferncia para o Brasil devido a tentativa

    da Frana em dominar toda a Europa e a ameaa iminente da invaso de Napoleo

    (MAGTAZ, 2008).

    2.3.2 Lapidrios no tempo colonial 1808 a 1870

    A vinda da corte para o Brasil, mais precisamente ao Rio de Janeiro, no

    modificou, em sua essncia, o sistema de explorao, nem contribuiu para uma

    elevao da tcnica da minerao. L centralizaram a administrao e as principais

    manufaturas de materiais. O alvar joaninho de 1 de Abril de 1808, permitiu livre

    estabelecimento de fbricas de manufaturas no Brasil. As medidas repressivas

    tomadas em relao aos ourives e lapidrios foram eliminadas abrindo caminho ao

    desenvolvimento da confeco e do comrcio de jias no Brasil, pois era necessrio

    atender aos novos e ricos habitantes da colnia portuguesa, que traziam os hbitos

    luxuosos adquiridos em sua terra natal. A fbrica de lapidar diamantes foi transferida

    de Lisboa para o Rio de Janeiro (ASPAHAN, 2008).

    Cria-se em 1809 o Colgio das Fbricas, primeiro estabelecimento do poder

    pblico no Brasil voltado educao dos artistas e aprendizes. Tendo como

    finalidade explicita socorrer a subsistncia e educao de alguns artistas e

    aprendizes vindos de Portugal. A Carta Rgia de 1812 que manda formar uma

    escola onde era ensinada a lapidao de diamantes (CASTANHO, sem data).

  • 28

    Em 1811, vieram dois mestres e dois oficiais, com suas respectivas famlias

    totalizando 15 pessoas e mais 43 volumes de lapidao (RABELLO, 1997;

    MAGTAZ, 2008).

    O nvel tcnico dos lapidrios que estavam se formando no Brasil, no era

    dos mais apurados, pois aqui sua oficializao era anteriormente proibida e no se

    podia desenvolver a profisso. Em Portugal no havia tradio da manufatura,

    devido aos cristos-novos que eram donos do comrcio de diamantes, estavam

    sempre em fuga devido a perseguio da inquisio e no formaram profissionais.

    (RABELLO, 1997).

    Eschwege, gelogo vindo ao Brasil, para prospectar estudos sobre minerais

    no pas, comentou que o desabono da administrao pblica aos trabalhadores de

    ofcios era elevado e tal despesa era somada ao preo final da lapidao e esta

    compensava ser feita no exterior. Inclusive as pedras da coroa eram lapidadas em

    Amsterdam (RABELLO, 1997).

    No ano de 1821, a corte portuguesa retorna a Portugal, ou seja, D.Joo VI

    deixa o trono como vice-rei para seu filho D. Pedro I. Este novo ciclo real marca

    tambm mudanas na economia, com o comeo da industrializao do pas, com a

    chegada de imigrantes europeus e mudanas nos costumes familiares: as mulheres

    passam a frequentar ruas, teatros e praas, exigindo ainda mais os servios dos

    ourives. Em 1831, D. Pedro I retorna a Portugal, abdicando do trono em favor de seu

    filho, D. Pedro II (ASPAHAN, 2008).

    Nesta poca, muitos imigrantes europeus, dentre eles os alemes, chegaram

    ao Brasil. Grande parte de lapidrios residentes no Brasil, eram alemes, sendo

    eles: Carl Hoffman, nascido em Idar no ano de 1821, trabalhou como lapidrio no

    principado de Birkenfeld e chegou em 1861 na colnia de Santo ngelo no Rio

    Grande do Sul e foi instalado na linha Nery, lote nmero 16 de 48,4 hectares. Julius

    Becker Snior, natural de Idar, principado de Birkenfeld, no qual sua famlia era

    lapidria, nascido em 1818, trabalhou como lapidrio em Idar e no final de 1857

    embarcou no porto de Hamburgo acompanhado de esposa e filhos para o sul do

    Brasil, na esperana de encontrar gatas; desembarcou em Santo ngelo, no

    encontrou as gatas e trabalhou na lavoura e linha Teotnia. Joo Frederico Bohrer,

    Joo Carlos Veeck e Joo Jacob Purper de Idar-Oberstein, onde eram lapidrios

    vieram para o Brasil na mesma poca em que comeou a faltar gatas na

    Alemanha. Joo Frederico Bohrer, nascido em 1788, foi casado com Ana Maria

  • 29

    Trein e ficou vivo em 15 de janeiro de 1826 quando chegou ao Brasil, com seus

    amigos e filhos Maria Elizabeta, Joo Felipe e Joo Carlos, em Porto Alegre; fixou

    indstria e comrcio de pedras preciosas e morreu dia 21 de julho de 1862 (UFRGS,

    WERLANG, 2009). Da famlia dos Bohrer, Rudolph, tambm foi um precursor

    (HORTA, 1981).

    As oficinas de ourivesaria e lapidao eram ao mesmo tempo lojas, onde era

    comum receber clientes e ter contato direto com o produto que estava sendo

    desenvolvido. O viajante Walsh comentou com escndalo, com o que se deparou no

    Rio de Janeiro: a casa de lapidao do Rio de Janeiro, no tinha qualquer

    policiamento; era um edifcio grande e desguarnecido, como um estbulo, to

    pblico quanto a rua, onde qualquer pessoa podia entrar sem indagao... e se

    fosse convidado, poderia manusear e examinar os diamantes; o governo vendia-os

    no bruto, mas todos preferiam compr-los lapidados. As outras pedras ningum se

    preocupava em lapidar, eram geralmente enviadas a Europa e as que eram

    lapidadas no Brasil, ficavam mal lapidadas (WLASH, 1830;VALLADARES, 1952).

    As joalherias e as chamadas Casas comeavam a surgir neste mesmo

    sculo e as mais antigas eram a Casa Masson de 1871, em Porto Alegre e a

    Joalheria Pdua fundada em 1888 em Diamantina (MAGTAZ, 2008).

    2.3.3 O incio das lapidaes e joalherias nas cidades brasileiras

    Com a chegada da Segunda Guerra Mundial, poca do auge da lapidao no

    Brasil, houve grande emigrao de estrangeiros, principalmente no Rio de Janeiro e

    interior (Petrpolis). Em Tefilo Otoni havia cerca de 150 lapidrios e no Rio de

    Janeiro cerca de 50 ou 60, e mais lapidrios espalhados em Minas Gerais. A gata

    era embarcada das proximidades de Soledade para Minas Gerais em vez de se

    guiar para Idar-Oberstein. Logo aps a entrada dos Estados Unidos na Segunda

    Guerra Mundial, o Brasil manteve intensa procura de minerais estratgicos e

    essenciais, como diamantes indstriais, quartzo hialino, mica, cassiterita (estanho),

    scheelita (tungstnio), tantalita e columbita (metais de terras raras) e berilo industrial

    para a produo de berilo metlico. Em 1958 o Brasil, exportava mais gemas

    lapidadas do que bruta, contando a gata, com qualidade boa, porm no igual aos

    padres de Idar-Oberstein, anteriores a guerra. A qualidade nesta poca era julgada

  • 30

    quase que exclusivamente pela cor, difuso do brilho e peso, sendo desconsiderado

    o corte, pois a lapidao brasileira possua simetria e calibragem ruins. Os cortes

    eram feitos com discos de liga de estanho (75%) e chumbo (25%) e carbeto de

    silcio (carborundum) como abrasivo. O polimento era feito com trpoli (slica em p,

    granulao fina) sobre disco de ferro fundido coberto de chumbo. A eletricidade j

    era universalmente usada para seu funcionamento, inclusive para mquinas com

    mancais de madeira, utilizada com fora manual, como antigamente. A superfcie do

    disco era ligeiramente cncava, resultando faces polidas com alguma convexidade e

    poderia ser percebida em quase todos os cortes brasileiros (SLAWSON; BASTOS,

    1958).

    - So Paulo

    Em So Paulo encontrou-se registros da Casa Hanau, que foi fundada em

    1862 por imigrantes alemes de origem judaica. Edmond Hanau foi seu fundador e

    tinha sede em Paris, Rio de Janeiro e So Paulo. Depois de algum tempo firmou-se

    exclusivamente em So Paulo e permaneceu por mais de um sculo. Edmond

    Hanau foi sucedido pelo sobrinho Rodolpho Raphael Weil e primo deste, Jos Levy.

    Aps Rodolpho seus filhos o sucederam: Edgard Benzin Weil (que possua

    conhecimento de ourives e se interessava pelo comrcio de jias e gemas) e

    Arnaldo Leopold Weil (gostava mais do comrcio de gemas e foi membro da

    Associao Brasileira de Gemologia).

    O tio de Jos Levy possua uma Joalheria em So Carlos, chamada por

    Joalheria Parisiense onde trabalhou e tornou-se proprietrio. Teve um nico filho,

    Alfredo Levy, doutor em qumica.

    Tiveram endereos na Rua So Bento, 55 e depois 355; em 1954 na Galeria

    Califrnia, com frente para Rua Dom Jos de Barros, com entrada pelo trreo e loja

    no primeiro andar. Em 1966, Edgard montou escritrio de compra e venda de pedras

    preciosas, na Al. Santos, 2395 e ali permaneceu at 1980, data de extino da

    empresa.

    Rodolpho e Levy morreram no mesmo dia com a mesma idade, dia 3 de

    maro de 1954. Edgard B. Weil, dia 8 de novembro de 1978, faleceu em Paris e foi

    enterrado em So Paulo (LUCHIN, sem data).

  • 31

    Franca

    No comeo do sculo XX, Franca chegou a concentrar mais de 100

    lapidrios, com salrio em mdia de cada lapidrio, US$ 1 mil por ms. H cerca de

    cinco anos, os rgos ambientais apertaram a fiscalizao e os negcios

    comearam a ruir. No sculo XXI o nmero de lapidrios no chega a vinte e os

    ganhos despencaram pela metade. A operao quilate prendeu comerciantes, com a

    pretenso de desvincular o comrcio ilcito, no Brasil e suas vendas no exterior, de

    diamante e gemas, brutas e lapidadas, sem procedncia legal (JORNAL

    GAZETILHA, 16/08/09).

    - Minas Gerais

    Diamantina

    As terras diamantinenses tiveram povoamento rpido e intenso em funo,

    primeiramente, da descoberta de ouro e, posteriormente, dos diamantes ali

    encontrados. De incio, foram para l pessoas da regio paulista e baiana, seguidas

    por grandes grupos de portugueses. O maior nmero de brancos era composto por

    portugueses de origem judaica e cristos-novos. De 1870 a 1890 ocorreu uma crise

    em Diamantina devido aos achados de diamantes na frica. Comerciantes tiveram

    em media 80 % de prejuzo e dois deles se suicidaram (Jacinto Leite de Faria e

    Paulo Dias de Oliveira). A compra de diamantes at o ano de 1912 era quase que

    exclusivo da conhecida casa dos Srs. Luiz de Rezende & Cia do Rio de Janeiro

    representando os ingleses, franceses e holandeses. (MARTINS, 2007; NEVES)

    Mineradores da regio partiram para o Rio de Janeira, Lisboa, Londres e

    Amsterdam para visitar casas compradoras de diamantes, lapidaes, joalherias e

    empresas mineradoras a fim de pesquisar o que seria melhor para Diamantina e

    voltaram convencidos que o diamante deveria ser lapidado. Foi da que surgiu o

    impulso para a abertura da primeira lapidao em Diamantina. (MARTINS, 2008)

    Em 1873, o jornal O Jequitinhonha saudava o nascimento do setor de

    lapidao em Diamantina pela iniciativa individual (O JEQUITINHONHA, 2/09/1873).

    As principais lapidaes foram instaladas entre os anos de 1873 e 1875, no

    distrito de Gouveia. Sendo eles o comendador Serafim Moreira da Silva e seu

    melhor lapidrio Sr. Jos Pereira da Silva, da Fbrica da Palha (1873 - 1897); o

    Baro de So Roberto, da Fabrica Vitria Augusta (1874 - 1895); o conselheiro

    Joo da Mata Machado, Fbrica da Formao (1875 - 1930) dirigida por Luis

  • 32

    Paulino de Oliveira Miranda e vendida em 1915 para o Coronel Jos Neves

    Sobrinho, e os irmos Felcio dos Santos, da Lapidao Biribiri (1878 1911) que

    funcionou dentro das instalaes da fbrica de tecidos da firma Santos & Cia. Todos

    eles mineradores e negociantes de diamantes.

    Os lapidrios responsveis eram de origem portuguesa. As lapidaes

    empregavam fora hidrulica e os aprendizes eram jovens da regio. No ano de

    1890, 146 pessoas trabalhavam na profisso. Outras oficinas menores instalaram-se

    em diversos municpios ao redor, de 1875 a 1882. Os Mata Machado fundaram em

    1891, a Unio Operria Beneficente de Diamantina, destinada a agregar oficiais

    lapidrios, ourives entre outros, proporcionando material de socorro aos enfermos,

    aos filhos e vivas deixados pelos membros falecidos e educao profissional

    (MARTINS, 2007).

    - Joalheria de Pdua

    Uma das joalherias mais antigas do Brasil, fundada em 1888, e que funciona

    at hoje em Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, gerenciada

    hoje por Antnio de Pdua, neto do fundador. Esta foi responsvel por criar e

    produzir jias para a corte e a fidalguia, alm de camafeus esculpidos em cristais.

    Porm o grande destaque da joalheria foi desenvolver a confeco de jias em ouro

    e coco, criada pelo joalheiro Ezequias Lopes, provavelmente por volta de 1870, que

    afirmou a um jornal do final do sculo XIX ser o inventor da tcnica. Ele teve como

    aprendiz Antnio de Pdua de Oliveira, que fundou a Joalheria de Pdua e

    disseminou a tcnica do coco e ouro (ASPAHAN,