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- 161 - Jorge Manuel Dias Sequeira (*) Tenente-Coronel de Infantaria (Mestre) (*) Professor Regente da Unidade Curricular de Geografia e Teoria Geral de Estratégia na Academia Militar. Co- ordenador do Grupo Disciplinar de Comando e Estratégia Militar. Membro do Conselho Editorial da Revista Proelium. Doutorando em Geografia Humana no Instituto de Geografia e Ordenamento do Território na Uni- versidade de Lisboa. ABSTRACT Geography has always been a central matter to Humanity, the initial reason for this was survival – the search for food, warrior activities and later because of trade. The object of the study of geography is the existing relation between men and their surrounding environment. The purpose of this article is to show how geography has evolved throu- ghout the centuries focusing on epochs and authors we understand have been most important, such as the Greek civilization, the middle ages, the contribute of philosophers like Alexander von Humboldt and Carl Ritter, geographic schools, new geography, radial and humanist geography and other geographical concepts. The concept of geography itself has suffered some frequent metamorphosis over the centuries. However, geography can be understood as the “science that studies the variations of special distributions of phenomena on the surface of the Earth, as well as the relations of the natural environment with Humanity and the individualization and analysis of the regions on the surface of the Earth” (Baud et al, 1999, p.127). Keywords: Geography, Spatial Distribution, Science, Relation between Huma- nity and the Environment. A HISTÓRIA DA GEOGRAFIA

A História Da Geografia

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Geografia

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A históriA dA GeoGrAfiA

Jorge Manuel Dias Sequeira (*)

Tenente-Coronel de Infantaria (Mestre)

(*) Professor Regente da Unidade Curricular de Geografia e Teoria Geral de Estratégia na Academia Militar. Co-ordenador do Grupo Disciplinar de Comando e Estratégia Militar. Membro do Conselho Editorial da Revista Proelium. Doutorando em Geografia Humana no Instituto de Geografia e Ordenamento do Território na Uni-versidade de Lisboa.

ABSTRACT

Geography has always been a central matter to Humanity, the initial reason for this was survival – the search for food, warrior activities and later because of trade. The object of the study of geography is the existing relation between men and their surrounding environment.

The purpose of this article is to show how geography has evolved throu-ghout the centuries focusing on epochs and authors we understand have been most important, such as the Greek civilization, the middle ages, the contribute of philosophers like Alexander von Humboldt and Carl Ritter, geographic schools, new geography, radial and humanist geography and other geographical concepts.

The concept of geography itself has suffered some frequent metamorphosis over the centuries. However, geography can be understood as the “science that studies the variations of special distributions of phenomena on the surface of the Earth, as well as the relations of the natural environment with Humanity and the individualization and analysis of the regions on the surface of the Earth” (Baud et al, 1999, p.127).

Keywords: Geography, Spatial Distribution, Science, Relation between Huma-nity and the Environment.

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RESUMO

O Homem sempre se preocupou com a Geografia, tendo como razão inicial a sua sobrevivência – busca de alimentos, actividade guerreira e posteriormente comercial. O objecto de estudo da Geografia é a relação do homem com o meio.

O objectivo deste artigo é mostrar a evolução da Geografia ao longo dos séculos, destacando as épocas ou autores que, em nosso entender, mais se destacaram nesse percurso – civilização grega, idade média, contributos dos filósofos, Alexander von Humboldt e Carl Ritter, escolas geográficas, nova geografia, geografia radial e humanista e conceitos de geografia.

O conceito de geografia sofreu metamorfoses ao longo dos séculos com alguma frequência, no entanto, pode ser entendida como a “ciência que estuda as variações das distribuições espaciais dos fenómenos da superfície da Terra, assim como as relações do meio natural com o Homem e a individualização e análise das regiões à superfície da Terra” (Baud et al, 1999, p. 127).

Palavras-chave: Geografia, Distribuição Espacial, Ciência, Relação Homem-Meio.

INTRODUÇÃO

O Homem sempre se preocupou com a Geografia, tendo como razão pri-mordial a sua própria subsistência, que passava pela busca de alimento, pela actividade guerreira ou pela actividade comercial, criando-se assim a necessi-dade de recolher, conservar e transmitir informação sobre locais de sustento, caminhos trilhados, entre outros aspectos.

O objecto de estudo da Geografia é a relação do homem com o meio; contudo, esta mantém muitas afinidades com outras ciências, como a Meteoro-logia, a Geologia, a Biologia, a Economia, a Sociologia e a História. Apresenta, além disso, pontos em comum com a Psicologia, a Filosofia e a Teologia, já que tanto as ideias como os factos humanos se manifestam espacialmente. A Ecologia é a ciência mais afim com a geografia, e chegou-se até a definir essa última como ecologia humana. Não obstante, uma grande diferença as separa, já que a primeira se encarrega do estudo do ecossistema, entendido como unidade funcional dos seres vivos e do meio à sua volta, enquanto a segunda estuda e interpreta a distribuição espacial dos ecossistemas (Faria, 2006).

A semelhança com outras ciências levou muitos a considerarem a geografia como uma soma de elementos que individualmente pertenceriam a outras ciências. Contudo, o carácter de síntese e a busca da interacção entre os fenómenos que con-formam a realidade terrestre outorgam a esta disciplina características próprias; ela divide-se em campos sistemáticos e especializações regionais, que podem ser reuni-das em dois grupos principais: geografia Física e geografia Humana (Faria, 2006).

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Com este artigo pretendemos mostrar a evolução da Geografia ao longo dos séculos, destacando as épocas ou autores que, em nosso entender, mais se destacaram nesse percurso. Assim começamos pela civilização grega, passamos pela idade média, referimos os contributos dos filósofos para o desenvolvimento desta disciplina, salientamos o papel de autores como Alexander von Humboldt e Carl Ritter, falámos de escolas geográficas do início do século XX, abordámos a nova geografia, a geografia radial e humanista e terminámos apresentando alguns conceitos de geografia.

a. A Civilização Grega

As primeiras populações que falavam grego ocuparam, por volta do ano 2.000 a.C. várias regiões da península balcânica. Posteriormente, em suces-sivas fases de expansão marítima, os gregos estabeleceram-se noutros locais, nomeadamente nas ilhas do mar Egeu 1, nas margens do mar Mediterrâneo e do mar Negro, na costa ocidental da península da Anatólia, no Sul da península italiana e nas grandes ilhas da Sicília e de Creta (Ribeiro, 2008). A civilização Grega é normalmente dividida em seis períodos: Mínios e Micênios (XX - XI a.C.), Idade das Trevas (XI - VIII a.C.), Período Arcaico (VIII - V a.C.), Período Clássico (V – IV a.C.), Período Helenístico (IV - I a.C.) e Período Greco-romano (I a.C. - VI d.C.) (Ribeiro, 2008).Os gregos tinham grande prática no uso das estrelas e dos acidentes geo-gráficos para orientar a navegação; facto que se evidenciou nos últimos séculos do Período Micênico, quando se desenvolveu intensivo comércio marítimo a Leste e a Oeste da península balcânica. Mas os conhecimentos eram eminentemente práticos, não sistemáticos e utilitários (Ribeiro, 2008).Segundo Tim Unwin (1995, p.77), os mapas mais antigos conhecidos foram esculpidos em rochas e ossos e datam do ano 13.000 a.C..As primeiras concepções geográficas gregas estão nas duas epopeias atribuídas a Homero (750 a.C.), a Ilíada e a Odisseia. Na Ilíada, a Terra é descrita como um disco achatado com o centro no santuário de Delfos. A Grécia Continental e os demais territórios conhecidos eram rodeados na sua totali-dade por um imenso rio, Oceano, de onde provinham as águas dos mares, rios e fontes. A Odisseia é, em grande parte, um pormenorizado diário de viagens do herói Ulisses, que vagueou durante dez anos pelo mediterrâneo e as suas ilhas 2, após a Guerra de Tróia (Ribeiro, 2008).

1 Mar cujo nome se deve ao Rei Egeu que se suicidou, atirando-se de um promontório para as águas do mar, segundo reza a lenda.

2 Na ilha de Gozo (Malta) podemos visitar a gruta, onde supostamente a ninfa Calipso aprisionou Ulisses.

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O mais antigo geógrafo conhecido foi o filósofo Anaximandro (610-540 a.C.), o primeiro a desenhar um mapa do mundo conhecido conforme as crenças da época. A abordagem sistemática do conhecimento da Terra é precisamente o ob-jectivo da geografia, disciplina cujo nascimento pode ser situado na própria origem do homem, embora só tenha alcançado a categoria de ciência com o florescimento da Civilização Grega. A Geografia é o estudo da superfície da Terra e a sua denominação advém dos vocábulos gregos geo “Terra” e graphein “descrever” (Faria, 2006). A civilização grega, através da sua mitologia, considerava os elementos da Natureza 3 como forças autónomas, honrando-os como deuses, elevados pela fantasia a seres activos, móveis, conscientes e dotados de sentimentos, von-tades e desejos. Estes deuses constituíam-se na fonte e na essência de todas as coisas do universo. No século VI a.C. Tales de Mileto 4 (625-547 a.C.) foi um dos primeiros pensadores a discordar dessa religião vigente, cujos princípios eram ditados pela percepção que os homens captavam através dos seus sentidos (FCUL, 2008). Ao visitar o Egipto contactou com uma cultura mais avançada, nomeadamente nos campos da astronomia e da geometria. Aí terá aprendido a teoria dos eclipses do Sol e da Lua, ou pelo menos, que esses fenómenos se repetiam com uma regularidade previsível, tendo transformado os conhecimentos egípcios sobre geometria 5 num sistema lógico, tendo conseguido demons-trar que as estrelas descreviam, no céu, círculos em torno do pólo (Claval, 2006). Em síntese, o que Tales de Mileto trouxe verdadeiramente de novo, terá sido uma nova maneira de encarar a natureza e o saber.N a f i g u r a 1 , o b s e r v a - s e o mapa de GA SUR (3.800 a 2.500 a.C.) e a sua interpretação, é uma pequena placa de argila cozido, que cabe na palma da mão,

3 O Sol, a Terra, o Céu, o Oceano, as Montanhas, entre outros (FCUL, 2008).4 Tales de Mileto foi um filósofo grego da cidade de Mileto, na Jónia (actual Turquia). 5 Noções que se encontravam dispersas.

Figura 1 – Mapa de GA SUR e a sua interpretação

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e que foi descoberto na Mesopotâmia, perto da cidade de Harran, no nordeste do actual Iraque. O mapa contém a representação de duas cadeias de monta-nhas e, no centro delas, um rio, provavelmente o Eufrates (UFRGS, 2008).Os Jónios pensavam que a natureza do universo era geométrica, neste contexto a Terra não escapava à regra, sendo dividida sob a fórmula de um círculo ou um disco plano, com a massa continental a flutuar na água. O céu estava por cima.A título de exemplo apresentamos na figura 2, a forma como Hecateu 6 de Mileto (560-480 a.C.) via a Terra em 557 a.C.. O historiador de Mileto viajou por parte do mundo conhecido e escreveu uma “Descrição da Terra”, onde se pode verificar a representação da Terra, como um disco, rodeado de água (Geocaching, 2008).

6 Historiador e geógrafo grego de Mileto, cidade destruída (494 a. C.) por Dário. Ficou conhecido como o logógrafo (redactor de discursos jurídicos, até criar a sua própria escola) (Fernandes, 2002).

7 Foi um historiador grego, nascido em Halicarnasso (hoje Bodrum, Turquia).

Figura 2 – a) Mapa; b) Esboço do Mapa de Hecateu

Depois disso, mas na mesma senda, outros filósofos e matemáticos gregos cons-truíram um sistema matemático e geométrico que permaneceu como a expressão máxima da Ciência da antiguidade, só superada na época do Renascimento.Heródoto 7 (484 - 425 a.C.) conhecido como o Pai da História foi o autor do primeiro ensaio de geografia descritiva do mundo conhecido pelos gregos. A obra de Heródoto reflecte as informações recolhidas durante as viagens efectuadas à Líbia, Fenícia, Babilónia, Egipto, Pérsia, Macedónia, Trácia e Cítia e teve tradução prática na concepção cartográfica da Terra que se apresenta na figura 3 (Dias, 2005).

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Figura 3 – Mapa de Heródoto

A descrição que Heródoto nos proporciona do mundo habitado, é sem dúvida mais evoluída que a do modelo Jónico, pois apresenta conjuntos territoriais definidos pelos seus limites, tal como aparecem num mapa. A visão sintética apresentada implica que tenha conhecimentos sobre escalas, assim como mudar de uma escala grande para uma pequena e vice-versa (Claval, 2006).A descrição da terra como esférica é preconizada por Platão 8 (427-347 a.C.) nas suas obras a República e o Tempo e teve grande repercussão no estabelecimento da sua forma futura (Unwin, 1995).No século IV a.C., Eudóxio de Cnido 9 (408 - 305 a.C.) sistematiza uma corrente de pensamento que advoga a esfericidade da Terra; esfera esta localizada no centro de outra infinitamente mais vasta. A compreensão do Globo passava pela análise do céu, pelo que a “Geografia grega era inse-parável da hipótese geocêntrica” (Claval, 2006, p.24).Aristóteles (384 - 322 a.C.) discípulo de Platão, demonstrou a esfericidade da Terra, tendo sobrestimado o seu diâmetro em 50%. Fê-lo como “corolá-rio das observações à sombra da Terra na Lua e à variação da altura dos astros em relação ao horizonte verificada a partir de pontos afastados de latitude no deslocamento de Norte para Sul” (Dias, 2005, p.29).

8 Platão foi um Filósofo grego e um dos maiores escritores da História da Humanidade; discípulo de Sócrates (Pombo, 2008).

9 Eudóxio de Cnido foi um filósofo grego nascido em Cnido, Jónia, o mais célebre matemático, astrónomo e im-portante autor grego da Academia de Platão (Fernandes, 2002).

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Aristóteles começa a integrar a Geografia 10 na reflexão política quando, na sua obra A Política, opina que a «a polis ideal» é aquela cujos limites incluem um grande volume de populações, dispondo de auto-suficiência (Dias, 2005).Por outro lado, também afirmava que a localização da Grécia na zona tem-perada qualificava os gregos para o domínio do mundo, em contraposição com as populações que viviam nas zonas com climas frios dos nórdicos ou quentes do Sul (Dias, 2005). Apesar do referido anteriormente, a geografia ainda não existia na Atenas de Platão e de Aristóteles. Tudo se modifica no século III a.C., quando o centro da vida intelectual passa a localizar-se em Alexandria (Claval, 2006).Eratóstenes 11 de Cirene (275 a.C. - 194 a.C.) foi o 1.º pensador a denominar-se geógrafo e acreditava na esfericidade da Terra (Dias, 2005). Calculou o seu perímetro, no Equador, com extraordinária precisão para o tempo, pois calculou-o em cerca de 46.250Km, da seguinte forma: sabia que no solstício de Verão o Sol atingia seu zénite em Siena 12 (S), figura 4, pois brilhava dentro dos poços sem deixar sombra; finalmente, sabia também que as cidades de Siena e de Alexandria (A), localizavam-se praticamente no mesmo meridiano (Ribeiro, 2008).Através da sombra projectada pelo Sol em Alexandria no mesmo dia e hora em que ele brilhava no fundo dos poços de Siena, Eratóstenes descobriu que naquela ele distava de seu zénite cerca de 7°15’ (x). Concluiu então que a diferença de latitude entre essas duas cidades era também de 7°15’, ou seja, 1/50 da circunferência (que tem 360°).

10 Eratóstenes foi quem criou, por volta do ano 200 a.C. a palavra geografia, que significa «descrição da terra» (Dias, 2005; Ribeiro, 2008).

11 Matemático, astrónomo e filósofo grego, foi o 3º director da Biblioteca de Alexandria.12 Actual Assuão, no Egipto.

Fonte: Ribeiro, 2008

Figura 4 – Esboço do cálculo do perímetro da Terra

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Depois, mandou medir a distância entre Siena e Alexandria, obtendo o valor de 5.000 estádios. Imaginou, assim, que se 1/50 do meridiano media 5.000 estádios 13, o meridiano terrestre inteiro deveria ter 5.000 x 50, que corresponde a 250.000 estádios. Esse valor equivale a cerca de 46.250 km e está bastante próximo do valor actual, cerca de 39.941Km (Ribeiro, 2008). Eratóstenes foi, também, o 1.º a construir uma quadrícula de meridianos e paralelos que, ainda hoje constituem a base da rede por nós utilizada na localização de espaços e de lugares (Dias, 2005). Na figura 5, apresenta-se a primeira quadrícula ilustrada da história da Geografia.

Figura 5 – Mapa do mundo desenhado a partir do relato de Estrabão sobre a obra de Eratóstenes

Fonte: Ribeiro, 2008

Apesar dos avanços obtidos, para os padrões modernos o mapa de Eratóstenes continha ainda muitos erros. A dimensão da maioria das regiões, por exem-plo, estava fora de escala e o conceito de um oceano circular que envolvia toda a massa terrestre não foi abandonado. No entanto, a sua influência na cartografia grega dos séculos posteriores, foi enorme (Ribeiro, 2008).Estrabão de Amaséia 14 (63 ou 64 a.C. – entre 21 e 25 d.C.), na sua obra «Geografia», constituída por 17 livros, escritos nos últimos anos de sua vida, constituem uma verdadeira geografia universal do mundo antigo, descrevendo

13 É bastante controversa a equivalência do estádio ao quilómetro, mesmo porque havia “vários” estádios. Entre os possíveis valores estão: 0,148km, 0,158km e 0,185km. Adoptamos o valor de 0,185km considerado pelos estudiosos como o mais provável (Vieira e Pereira, 2008).

14 Geógrafo e historiador grego, nascido em Amaseia, Pontus (agora Amasya, Turquia).

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a geografia física dos principais territórios do mundo romano e fornecendo em grandes linhas, as características principais de seu desenvolvimento his-tórico e económico, além de mencionar os aspectos notáveis nos costumes dos seus habitantes e/ou da vida animal e vegetal (Ribeiro, 2008). Além de descrições das partes conhecidas da Ásia, da Europa e África, procurou relacionar as condições geográficas com o papel histórico de cada povo. Suas observações são fonte preciosa da história e da cultura de sua época. Como muitos outros escritores greco-romanos, não escondia a admi-ração pelo Império, justificando a sua supremacia política devido à posição central da sua capital – Roma (Ribeiro, 2008).Estrabão dividiu o globo terrestre em quadriláteros, sendo que cada um deles apenas incluía a terra habitável (ecúmena), pois considerava que o território inabitado era desprovido de qualquer interesse (figura 6).

Figura 6 – A ecúmena segundo Estrabão

Neste mapa, observa-se a Terra rodeada de água e dividida em cinco grandes áreas: a Europa, a Líbia, a Arábia, a Ásia e a Scythia. Estas áreas eram apresentadas com grande detalhe porque pertenciam ao Império Romano, pois o que motivava Estrabão era informar os responsáveis pelas províncias romanas, por isso outras regiões conhecidas, mas que não integravam o Im-pério, eram consideradas periféricas, e por isso não mereciam ser estudadas em detalhe, como é o caso da Índia (Claval, 2006).Estrabão definiu a geografia como uma ciência como qualquer outra e interessa sobremaneira ao filósofo. “Ela ocupa-se do estudo ou descrição da Terra. A maior parte da Geografia satisfaz a necessidade dos Estados (...) A Geografia em seu conjunto tem um vínculo com as actividades dos

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dirigentes. Os grandes generais são, sem excepção, homens capazes do governar por terra e por mar, de unir povos sob um governo ou uma admi-nistração pública (...). Até mesmo um caçador terá mais êxito se conhecer a natureza e a extensão do bosque e, além do mais, só aquele que conhece uma região pode escolher o melhor lugar para acampar, para fazer uma emboscada ou para dirigir uma campanha militar.” (Estrabão, século I a.C., Apud Vesentini, 2008).Os Romanos retêm da geografia apenas o seu interesse prático; porém, a reflexão teórica prossegue nos povos gregos que habitavam a metade oriental do império (Claval, 2006).Ptolomeu de Alexandria 15 (cerca de 100 d.C. – cerca de 180 d.C.) foi con-siderado o último geógrafo da antiguidade. O seu grande tratado – Sintaxe Matemática – ficou celebre em virtude de ter sido traduzido pelos Árabes com o nome de Almagesto. A obra “resume os conhecimentos astronómicos da época e aborda o problema da configuração da terra” (Claval, 2006, p.29), em que esta está no centro do universo; a teoria geocêntrica ao ser adoptada pela igreja, durante a Idade Média, levou a que esta tese fosse aceite durante 14 séculos, até ser desmentida pelas teorias de Nicolau Co-pérnico (1473-1543).A sua segunda obra, em quatro volumes, o Tetrabiblos tratam da astrologia, mas fazem o ponto da situação sobre os climas e a sua influência sobre os homens (Claval, 2006). A sua obra Geografia (oito volumes) inclui o pri-meiro atlas mundial e é um “catálogo de nomes de lugares e de países com indicação das latitudes e longitudes” (Clozier, 1988, p. 36), o que permitiu um melhor conhecimento da Europa, embora acreditasse que a Escandinávia era insular (Dias, 2005). Para este autor “o propósito da Geografia é oferecer uma «visão de conjunto» da Terra localizando e cartografando os lugares ou regiões” (Ptolomeu, 150 d.C., Apud Vesentini, 2008).Ptolomeu foi, também, o primeiro a tratar da técnica de projecção de mapas, como por exemplo, a representação de superfícies curvas no plano horizontal. O estudo abrange o mundo conhecido pelos romanos na primeira metade do século II, que se estendia do Oceano Atlântico à China e do Mar Báltico à África Central. Os lugares mais importantes foram definidos em termos de latitude e longitude, o que permitiu a elaboração de mapas do ecúmeno (figura 7).

15 Também conhecido como Cláudio Ptolomeu foi matemático, astrónomo e geógrafo, e escreveu alguns dos mais importantes tratados científicos da Antiguidade (Ribeiro, 2008).

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Figura 7 – a) Mapa de Ptolomeu; b) Inserção deste numa esfera com as dimensões que ele julgava ter a Terra

16 Os mapas de Ptolomeu eram geralmente fiéis à visão do mundo do geógrafo, perpetuando tanto os acertos como os erros. O engano mais significativo foi o cálculo errado do comprimento de um grau de longitude, o que levou Ptolomeu a exagerar a extensão da Eurásia. Essa confusão fez Colombo concluir que a rota mais curta para a China estava a Oeste e pensar que tinha chegado ao Oriente quando, em 1492, aportou na América (Garuti, 2008).

Ptolomeu pode ser considerado o criador do moderno sistema de coordenadas geográficas, pois utilizou latitudes e longitudes em graus e minutos, con-venção usada até hoje. As latitudes (coordenadas Norte-Sul) foram medidas a partir do Equador; as longitudes (coordenadas Este-Oeste) tinham como referência um ponto situado no extremo ocidental dos locais catalogados na Geografia, que ele denominou «leste das Ilhas Afortunadas», perto das Ilhas Canárias (Ribeiro, 2008).Os dados apresentados por Ptolomeu, apesar de algumas vezes errados ou inexactos 16, basearam-se nos conhecimentos então disponíveis, tais como informações de viajantes e mercadores e no material coligido pelos geógrafos anteriores, nomeadamente Marino de Tiro (70-130). Um dos maiores erros de Ptolomeu foi ter adoptado um valor incorrecto para a circunferência da Terra, calculado por Posidónio de Apaméia (135 a.C. – 51 d.C.), ao invés de utilizar a medida de Eratóstenes muito mais aprimorada (Ribeiro, 2008).No início do século VI, na transição da Antiguidade para a Idade Média, o estado dos conhecimentos geográficos era o seguinte: o mundo civilizado estava ainda centrado no Mediterrâneo; conhecia-se a metade inferior da Europa, o terço ocidental da Ásia, e o quarto setentrional da África; a car-tografia das terras conhecidas estava bastante avançada. Assim, com excepção de importantes aspectos da Geografia Física, as de-mais ciências geográficas não haviam ainda ido muito além dos primeiros passos (Ribeiro, 2008).

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b. Práticas Geográficas na Idade Média

(1) Ocidente

O declínio dos conhecimentos geográficos inicia-se antes da queda do Império Romano. O fervor intelectual que havia favorecido a reflexão sobre a forma e configuração da Terra desapareceu, uma vez que os romanos tinham progressivamente deslocado a administração das pro-víncias tornando desnecessária a recolha de informação (Claval, 2006). O seu carácter prático e as suas maiores preocupações com a política e as práticas militares do que com as ciências (incluindo a geográfica), tiveram consequência no desenho dos mapas, regressando-se à configu-ração da Terra como um disco, como se constata na figura 8, em que a Itália aparece sobrevalorizada e as províncias romanas bem visíveis.No Ocidente, durante a Idade Média (VI – XV), os mapas limitam-se a apresentar o mundo habitado, sendo que a Terra volta a ser representada como sendo plana. Neste período, os mapas têm a forma rectangular ou em círculo (o mais comum - figura 9), em que são atravessados por um T aparecendo os mapas com caracteres teológicos e normalmente com Jerusalém ao centro e o paraíso na parte superior, o que sublinha o seu carácter simbólico (Carvalho, 2005).

Fonte: Infilled.Net, 2008

Figura 8 – Mapa Romano – Orbis Terrarum

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Os dignitários da igreja que encomendavam os mapas não tinham a finalidade de os melhorar ou aumentar a sua exactidão, era somente “um documento para exibir” e que glorificasse o seu poder (Claval, 2006, p.32), porque muitos mapas da época tinham o status de obras de arte, e como tal, deixavam o conhecimento científico em segundo plano e valorizavam apenas a sua estética (Carvalho, 2005).

Figura 9 – Mapas da Idade Média

Os mapas eram muito diferentes da malha cartográfica da época, por isso, perderam utilidade e construção científica. Como George H. T. Kimble destaca, qualquer homem poderia ser considerado como tolo, se pensasse que podia determinar a distância entre Londres e Jerusalém apenas com uma régua em cima do mapa (Apud Carvalho, 2005).Neste período, a Igreja era a entidade mais poderosa, por isso, dava-se mais importância ao estudo da relação «Homem-Deus» em detrimento do estudo da relação «Homem-espaço». As questões humanas deveriam submeter-se às divinas e todos os problemas encontravam solução a partir de textos religiosos, em particular de interpretações bíblicas (Dias, 2005), chegando alguns autores 17 a classificarem a ciência como ridícula e falsa (Unwin, 1995).A hegemonia da região cristã teve grande influência na cosmologia me-dieval, essencialmente a crença teleológica da criação do Universo, tal

17 É exemplo Lactancio (Sec. IV) na sua obra Divinarum institutionum (Unwin, 1995)

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como se relata no Génesis. Esta concepção girava em torno de quatro elementos (Unwin, 1995):• Deus criou o mundo do caos e, por isso, necessita de constante

atenção, laboração e cuidado;• a humanidade foi criada à imagem de Deus e é independente da natureza,

existindo assim uma clara separação entre o reino natural e humano;• os produtos da natureza existem para servirem a humanidade e às

pessoas cabe cultivá-los e mantê-los, sendo desta maneira responsa-bilidade do Homem cuidar do meio;

• devido à tentação, quando Adão e Eva desobedeceram a Deus, rompeu-se a relação idílica entre a natureza e o homem e desde então, a humanidade tem que lutar contra o pecado.

Estes quatro elementos desempenharam um papel fundamental no pos-terior desenvolvimento das ideias geográficas sobre a relação entre o ser humano e o meio, sendo que ainda hoje, ouvimos algumas destas passagens quando assistimos ou lemos as escrituras (Unwin, 1995).Contudo é necessário, também, perceber a conjuntura em que se vivia, uma vez que os mapas, tal como os concebemos actualmente, têm a função de trazer para o papel as informações sobre o mundo real, mas o conhecimento cartográfico da Idade Média, nem sempre era usado com essa função. Às vezes, traduziam ideias comuns da época, como as ideologias religiosas, o sistema de cosmografia cristã e as mitologias pagãs. Tal prática tinha a pretensão de difundir a informação de maneira errada para confundir outros povos (Carvalho, 2005). Segundo George H. T. Kimble, os governantes portugueses na época dos descobrimentos, por exemplo, suprimiam toda a informação que pudesse estimular a curiosidade de outros governantes. A finalidade era manter o monopólio do comércio com os países da costa Oeste africana, como se constata da seguinte afirmação “João II (reinado de 1481 – 1495) foi o primeiro a implantar essa política, usando as suas energias para evitar o vazamento das novas descobertas na época em que os estrangeiros estavam procurando obtê-las de todas as maneiras. No reinado de seu sucessor, Manuel I, a vigilância do governo foi intensificada, especialmente depois da volta de Cabral das Índias. «É impossível ter uma carta da viagem», escreveu um agente italiano em relação à expedição de Cabral «porque o rei havia decretado a pena de morte para qualquer um que mandasse uma delas ao estrangeiro»” (Apud Carvalho, 2005).

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Todavia, durante este período existiram grandes metamorfoses no espaço europeu, provocadas pelos povos bárbaros que, absorvendo a cultura latina do Império Romano em decadência, vão gerar novas nações e novas línguas constituindo assim o mundo ocidental. O mundo cristão 18 emergiu ignorando a existência, do outro lado do mediterrâneo, de um mundo africano e asiático, demonstrando, na prática, que os europeus se referiam ao mundo apenas considerando a Europa, figura 10.

Fonte: Apud Carvalho, 2005

Figura 10 – A concepção de Mundo de Macróbio 19

18 Por volta do ano mil.19 Ambrósio Teodósio Macróbio (cerca de 340 – 415 d.C.) “exerceu considerável influência na Idade Média pela

transmissão e elaboração de uma parte da tradição filosófica grega” (Mercaba, 2007).

Com o passar dos séculos, as viagens, as descrições dos lugares e a curiosidade da descoberta vão fornecendo dados importantes para o conhecimento do mundo, destacando-se o papel dos Árabes, como veremos mais à frente (Carvalho, 2005).O mapa da figura 10 mostra um mundo plano e redondo, cercado por água. A Norte aparece a África e a Europa à esquerda e a Índia surge à direita. A Sul, o desconhecimento atribuía o status de terra incógnita. Nos dois extremos do mapa (Norte e Sul) está presente o conceito de regiões frias (frígidas).

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No final do século XIII, a bússola passa a ser utilizada pelos povos do Mediterrâneo; tal veio permitir a construção, essencialmente por italianos e catalães, de mapas para a navegação designados de por-tulanos 20, baseados em cálculos da posição do navio e da distância entre os portos; sobre esta matriz eram desenhados os acidentes costeiros e outros dados náuticos (IAEM, 1996), como se observa na figura 11.

20 Do italiano potulano – mapa de piloto (IAEM, 1996, p. 6).

Fonte: Dom, 2007

Figura 11 – Portulano atribuído a Pietro Vesconte, Itália, 1325

Como facilmente se conclui, durante a Idade Média o declínio do saber geográfico foi profundo, mas a “recordação de algumas das aquisições antigas não se apaga completamente. O desenvolvimento da activi-dade mercantil e uma maior mobilidade testemunham a emergência de novas práticas que transformam lentamente a obtenção de dados geográficos” (Claval, 2006, p.30). Os ensinamentos da geografia grega, revistos e ampliados pelos Árabes, contribuíram para o renascimento do pensamento geográfico.

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A históriA dA GeoGrAfiA

(2) Oriente

Durante a Idade Média, o desenvolvimento científico no Oriente, espe-cialmente na China, foi uma constante, de tal forma que por volta de 1400, a civilização chinesa era considerada a “tecnologicamente mais avançada do mundo” (Castells, 2002, p.9).Os chineses efectuavam a travessia dos oceanos de forma fácil devido à invenção da bússola 21 por volta de 960 d.C. e os seus “juncos eram os navios mais avançados do mundo no final do século XIV, permitindo longas viagens marítimas” (Castells, 2002, p.9). Inventaram o papel (100 d.C.), muito antes que os ocidentais e a imprensa passou a ser utilizada por volta do século VII (Castells, 2002).Dado o desenvolvimento atingi-do, a Geografia e a Cartografia também eram consideradas essenciais para a conquista ou manutenção do Poder. Phei Hsui (224-271 d.C.) “coordenou muitos mapas locais e lançou as bases da cartografia científica chinesa, com a utilização de um reticulado” (Ferreira e Simões, 1986, p.50 e 51).Quando os Jesuítas chegaram à China (século XVI), puderam observar um grande número de mapas de boa qualidade e que lhes serviram de base para elaborar um atlas do Império chinês (Ferreira e Simões, 1986), como é exemplo o mapa de Zheng He, que se mostra na figura 12.

Figura 12 – Mapa de Zheng He

21 “Embora a bússola tenha aparecido primeiro na China e só depois na Europa, a transferência desta tecnologia da China para a Europa não tem sido comprovada. O primeiro registo escrito da bússola na Europa data de 1187 d.C. e precede os primeiros registos muçulmanos em mais que 100 anos. Este dado, e o facto que a bússola europeia aponta para o pólo norte enquanto que a bússola Chinesa aponta para o pólo sul, dão força à opinião que o desenvolvimento da bússola na Europa não foi por transferência de tecnologia da China mas, sim, um desenvolvimento próprio, e paralelo, efectuado na Europa. Independentemente de qual foi a origem da bússola europeia, a sua importância nas mãos dos navegadores é inquestionável. Sem a bússola, a descoberta do Brasil e as viagens de Vasco da Gama e de Fernão Magalhães não teriam sido possíveis” (Gasche, 2008, p. 131).

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Este mapa constitui, além de um guia de navegação, o relato da última viagem de Zheng He, almirante da frota imperial em meados do século XV. Em cima, à esquerda, aparecem as costas da Índia, à direita o Sri Lanka e o litoral africano em baixo (UFRGS, 2008).

(3) Árabes

Os Árabes 22 dispunham, como todos os povos nómadas, de conhecimento dos lugares e de orientação, mas era exclusivamente oral, pois ignora-vam a ciência e a filosofia. Após as conquistas, o seu poder estende-se ao Próximo e Médio Oriente, e aí descobrem a riqueza do pensamento grego, traduzindo muitas das suas obras (Claval, 2006). Associado às trocas comerciais com o Oriente, os islâmicos foram influenciados pela cultura e desenvolvimento científico da China, abrindo centros académi-cos nas cidades do Cairo, Damasco, Bagdad e Granada (Unwin, 1995). A necessidade religiosa de todos os muçulmanos 23 visitarem Meca, pelo menos uma vez na vida, levou à elaboração de «guias de viagem» que ofereciam aos peregrinos a descrição da viagem e os lugares santos da Arábia, mas mais relevante terá sido a possibilidade dos árabes eruditos terem a oportunidade de contactarem entre si, criando-se um fórum de discussão importante (Unwin, 1995).A obra de Muhammad Al-Idrisi 24 (1099-1180) teve muita influência, inclusive na Europa cristã, em virtude da sua ligação à corte de Rogério II da Sicília. O seu tratado designado de «Geografia 25», ficou completo em 1154 e nele consta muita informação inacessível aos Árabes sobre a Europa, até então, dada a sua ligação ao rei cristão, um dos mais importantes, à época. A obra descreve “cidades e territórios represen-tados no planisfério, o tipo de agricultura e populações, e a extensão dos mares, montanhas, rios e vales” (Unwin, 1995, p.91). Nesta obra Al-Idrisi apresenta um grande mapa-múndi orientado em sentido inverso ao utilizado actualmente, ou seja, o Sul está na parte de cima, conhecido como a Tabula Rogeriana, figura 13 (Unwin, 1995).

22 O Império Muçulmano (Sec. XI) abrangia o Médio Oriente e estendia-se do Afeganistão ao Oceano Atlântico (com excepção da Turquia, Balcãs, Itália e França).

23 Relembrando que nem todos os povos muçulmanos são Árabes, como é o caso actual da Indonésia.24 Foi um cartógrafo árabe da Idade Média, nascido provavelmente em Ceuta, descendente de uma família nobre

do Marrocos, famoso pela qualidade de seus mapas, tanto no desenho, quanto na precisão (Unwin, 1995).25 O rei Rogério II da Sicília deu a estas obras o nome conjunto de Nuzhat al-Mushtak, ainda que Al-Idrisi as tenha

baptizado como Kitab Rudjar (“O Livro de Rogério”).

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A históriA dA GeoGrAfiA

Outro geógrafo Árabe que teve um papel importante foi Ibn Khaldun (1332-1406), nascido em Espanha, mas tendo passado a maioria da sua vida na Tunísia. Na sua obra propõe uma “interpretação já moderna da geohistória do Norte de África e inicia a reflexão geopolítica” (Claval, 2006, p.34).A principal obra de Ibn Khaldun – Mukaddimab – preocupa-se com a formação e decadência dos estados, valorizando o meio físico, pois este obrigaria as pessoas a viver em grupos sociais e políticos. Para este autor, os estados desenvolviam-se segundo uma sequência natural de crescimento, maturação, decadência e morte, uma vez que a erosão da solidariedade colectiva era inevitável, mediante o processo de civi-lização (Unwin, 1995).Outro aspecto fundamental da sua obra é a influência do clima no ca-rácter das pessoas, referindo que as pessoas que habitam as regiões mais quentes e costeiras são mais alegres, ao invés das pessoas que vivem em regiões mais frias e montanhosas são mais tristes e melancólicas. Estas ideias perduram no pensamento geográfico, até serem incorporadas no determinismo ambiental, já durante o século XX (Unwin, 1995).Os monarcas Árabes favoreceram a ciência, as artes, o comércio e as viagens, pese embora a separação do trabalho entre cartógrafos (elabora-vam os mapas) e os astrónomos (estudavam os astros usando a latitude e a longitude), em virtude das exigências religiosas, tenha impedido a obtenção de precisão das localizações e das representações geográficas (Urwin, 1995 e IAEM, 1996).

Figura 13 – Mapa de Al-Idrisi

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É a base clássica da geografia grega, enriquecida pelos Árabes, que seduz os espíritos do Ocidente, os contactos entre povos cristãos, mu-çulmanos e judeus eram muitos, e desde o século XII que estas trocas culturais alimentavam os debates no Ocidente (Claval, 2006).

c. O Ressurgir da Geografia na Europa

No início do século XV, com o estabelecimento da «casa de Avis» como dinastia reinante em Portugal, o horizonte europeu modificou-se profunda-mente em consequência dos Descobrimentos. Com efeito, após a conquista de Ceuta em 1415, os portugueses aprofundaram a sua epopeia ao longo da costa africana; em 1418 descobrem-se as primeiras ilhas no Oceano Atlântico (Porto Santo) e em 1488, Bartolomeu Dias chega ao Cabo da Boa Esperança (Unwin, 1995).Muitos destes primeiros viajantes foram patrocinados pelo Infante D. Henrique (1394-1460), que estabeleceu uma escola de navegação e de cartografia na Península de Sagres, tendo a expansão portuguesa sido impulsionada pelo culminar da experiência da navegação, como resultado de viagens comerciais e de pesca no Atlântico Norte e da aquisição dos conhecimentos geográficos dos Árabes (Unwin, 1995).Também neste período, dá-se a redescoberta de Ptolomeu com a tradução da sua obra «Geografia» para o latim, por Jacobo d´Angelo em 1406, o que permite compreender o que é um sistema de projecção. As tabelas ptolo-maicas de coordenadas passaram a ser utilizadas para construir mapas, aos quais a imprensa rapidamente assegura difusão (Claval, 2006).No final do século XV e início do século XVI, com as descobertas, da América (1492), da Índia (1497), do Brasil (1500) e com a viagem à volta do mundo (1519-1522) de Fernão de Magalhães, as “visões da ecúmena elaboradas ao longo de dois milénios são desfeitas, mas os quadros mentais antigos agora redescobertos permitem integrar os novos conhecimentos num esquema coerente” (Claval, 2006, p. 36).O conhecimento de uma parte do património antigo e as grandes descobertas estimulam a reflexão geográfica, contudo a questão estava na sistematização de um saber tão rapidamente renovado. O movimento começa, no século XV, quando os editores de Ptolomeu anexam a Europa do Norte ao universo que este conhecia. Torna-se moda a construção de globos, como o de Martin

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Behaim 26 (1459- 1507) que data de 1492, pela necessidade de representar as novas descobertas (Claval, 2006).Durante os séculos XV e XVI, apesar do ressurgimento das tradições astro-nómicas, cartográficas, cosmológicas e topográficas da geográfica clássica e romana, não existia nenhuma definição de Geografia e a palavra mais utilizada neste período era a de cosmografia (Unwin, 1995).No início do século XVI deu-se uma separação fundamental na compre-ensão clássica da cosmologia e astronomia. Com efeito, em 1530, Nicolau Copérnico 27 (1473-1543), publica a sua obra «De revolutionibus», na qual apresentava uma teoria completamente nova do movimento planetário, que contradizia os argumentos, há muito tempo aceites, de Aristóteles e Ptolo-meu, demonstrando que a Terra não era o centro do universo e que girava em volta do Sol como os restantes planetas (Unwin, 1995). Esta teoria teve consequências importantes na relação entre a geografia e a astronomia, uma vez que até então se considerava que a astronomia era uma extensão da geografia. Com a teoria heliocêntrica, a astronomia tornou-se numa ciência autónoma (Unwin, 1995).A evolução das ideias, em especial com o renascentismo 28, o iluminismo 29 séculos XVII e XVIII), a independência dos EUA (1776), a revolução indus-trial (finais séc. XVIII) e a revolução francesa (1789), passou a exigir novas respostas. A Geografia na renascença dedicava-se mais às representações e símbolos do que às forças que modelam o mundo (Dias, 2005).

26 Também conhecido por Martinho da Boémia, por ter vivido alguns anos em Lisboa, onde veio a falecer.27 Astrónomo polaco. Estuda Medicina na Universidade de Cracóvia em 1491 e, também, Filosofia, Matemática e

Astronomia. Viaja para a Itália em 1497, para aprender os clássicos gregos e o Direito Canónico, em Bolonha. Volta à Polónia em 1501 e ordena-se padre, mas permanece pouco tempo no país, como cónego da Catedral de Frauenburg. Retorna à Itália, onde frequenta as universidades de Pádua e Ferrara. Em Bolonha, aprofunda suas observações astronómicas. De volta a Frauenburg, em 1506, constrói um pequeno observatório e começa a estudar o movimento dos corpos celestes. A partir dessas observações, escreve Pequeno Comentário sobre as Hipóteses de Constituição do Movimento Celeste, obra que só vem a público em 1530, apesar de ter sido escrita muito antes, por volta de 1507. Copérnico demora a divulgá-la por receio da reacção da Igreja Católica. Em 1543, apresenta o sistema cosmológico com os princípios do heliocentrismo na obra Das Revoluções dos Corpos Celestes (E-Biografias, 2008).

28 Teve a sua origem em Itália com a redescoberta da antiguidade grega e romana provocando uma onda de entu-siasmo por toda a Europa, afectando profundamente o seu panorama cultural. Os Homens das letras dos séculos XIV, XV e XVI, consideravam que a literatura, a escultura e a arquitectura tinham tido o seu apogeu na Roma antiga e tinha declinado nos séculos seguintes (SRD, 1999).

29 Foi um movimento intelectual inspirado no ressurgimento das ciências na Europa do século XVII. Procurou aplicar os métodos das ciências naturais às questões sociais e políticas (SRD, 1999).

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Neste período Francis Bacon (1561-1626), René Descartes (1596-1650), Galileu Galilei 30 (1564-1642) e Isaac Newton 31 (1642-1727) lançam as bases da filosofia e física modernas – a ciência desenvolve-se nos moldes que são ainda os actuais (Unwin, 1995 e Claval, 2006); a obra «Geographia Generalis» publicada em 1650, pelo alemão Bernhard Varenius (1622-1650), foi o primeiro esforço real para relacionar a geografia com os avanços científicos da época, tendo permanecido como principal obra de referência durante mais de um século (Unwin, 1995). Para Varenius, “A Geografia é uma descrição geral do mundo. Ela divide-se em duas partes: uma geral e outra especial. A primeira estuda a Terra no seu conjunto, explicando as suas diversas partes e características. A segunda, ou seja, a geografia especial [regional], respeitando os conceitos gerais, estuda as regiões concretas: suas localizações, divisões, limites e outros aspectos dignos de serem conhecidos” (Apud Vesentini, 2008).Realce também para o Cardeal Richelieu 32 (1585-1642), que burilou o con-ceito de fronteira natural, sustentado em três factores base: o factor físico-geográfico, o factor humano e o factor razão de Estado 33, em que o segundo assumia alguma preponderância sobre o primeiro (Dias, 2005).A obra de Thomas Hobbes 34 (1588-1679), o «Leviathan» 35 (1651) é um estudo filosófico sobre o absolutismo político que sucedeu à supremacia da Igreja medieval e em que o seu totalitarismo submete, apesar de prudentes reservas, o poder religioso ao poder político (Madjarof, 2008). O manuscrito irritou os monárquicos, porque falava num contrato social e, os parlamentaristas, porque pregava o absolutismo. No final do livro, verteu a ideia de que os súbditos tinham o direito de abandonar o soberano que não mais os podia proteger, em favor de um novo soberano que pudesse fazê-lo, o que implicou o seu exílio em França (Madjarof, 2008).O Estado moderno 36 pouco a pouco consolida-se, mas para que funcione bem, precisa da recolha de dados demográficos, pois a força dos exércitos

30 Físico, matemático e astrónomo italiano. É o responsável pela fundamentação científica da Teoria Heliocêntrica de Copérnico (E-Biografias, 2008).

31 Sistematizou os conhecimentos físicos e astronómicos de sua época, tendo realizado uma síntese sobre o Universo e suas leis. Criou a teoria da gravitação universal (Vesentini, 2008).

32 Cardeal francês que desempenhou as funções de ministro do rei Luís XIII, desde 1629, tendo contribuído de forma decisiva para o fortalecimento do poder da monarquia. No âmbito externo, levou a França a participar na Guerra dos Trinta Anos (Dias, 2005).

33 Podemos associar este conceito com o que hoje designamos de interesse nacional (Correia, 2002).34 Filósofo e cientista político inglês (Madjarof, 2008).35 Designação em lembrança de uma passagem Bíblica em que tal palavra designa um animal monstruoso, cruel e

invencível que é o rei dos orgulhosos (Madjarof, 2008).36 Surge com a Paz de Westfália (fim da Guerra dos Trinta Anos, iniciada em 1618 e fim em 1648) em que o Estado

moderno aparece como unidade territorial dotada de poder soberano.

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A históriA dA GeoGrAfiA

depende do número de pessoas e, económicos, para assegurar a cobrança de impostos de forma equilibrada e justa. Estes dados, por um lado dão aos geógrafos uma grande quantidade de informação, que até então não dispu-nham; por outro lado, leva-os a utilizarem informação em «segunda mão» e os seus trabalhos resumem-se a monótonas enumerações de lugares e de actividades (Claval, 2006). As características da guerra modificam-se pois a utilização de exércitos nu-merosos, com mais de 400.000 homens, em França, levou à necessidade de criar os Estados-maiores para apoiar a tomada de decisão do Comandante; o maior alcance dos arcabuzes e da artilharia, assim como a necessidade de calcular a duração dos movimentos de centenas de milhar de Homens, levaram a uma maior utilização da geografia e tornou fundamental a uti-lização de mapas (Dias, 2005 e Claval, 2006). A importância da geografia é tal que Napoleão a classifica como a «essência da política do Estado» (Dias, 2005) e Clausewitz refere que “… o chefe de um exército tem de familiarizar-se com as características geográficas gerais de uma província e de um país” (1976, p. 77).A cartografia com o Rei Luís XIV (1638-1715) torna-se uma questão de Estado; contudo ainda não estava resolvida a questão da mudança de esca-la, ou seja como passar das representações em pequena escala dos mapas mundiais, às plantas em grande escala e vice-versa (Claval, 2006).Surgem entretanto novas técnicas (Mercator 37 o primeiro cartógrafo a cor-rigir o mapa de Ptolomeu, em 1569) e inventos (relógio e cronómetro, em 1658, e o sextante, em 1672, que possibilitam o cálculo exacto da longitude e da latitude), que permitem aos países europeus efectuar o levantamento topográfico dos seus territórios, a partir de 1750 (Dias, 2005). No século XVIII, devido ao tecnicismo dos levantamentos topográficos, a cartografia separa-se da geografia, pese embora esta nunca tenha deixado de usar o mapa, sendo de salientar que em 1800, as áreas em branco nos mapas estavam circunscritas às zonas polares e ao interior dos continentes, pois África era um continente misterioso, a Austrália era totalmente desco-nhecida e a Ásia Central e o interior do continente americano mal tinham começado a ser penetrados. A Geografia passou de ciência de localização e da cartografia, para a ciência da distribuição espacial e das relações homem--meio (Dias, 2005).

37 Considerado o pai da cartografia holandesa, criou o sistema de projecção e referenciação Universal Transversa de Mercator (UTM) (Ferreira e Simões, 1986).

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Apesar de todos os acontecimentos e desenvolvimentos científicos, somente no século XIX, com John Playfair 38 (1748-1819) é que se dá seguimento ao trabalho de James Hutton (1726-1796) sobre a evolução da morfologia do solo, e assim, a geografia física separa-se das descrições Bíblicas e da sua narrativa da Génesis. Também a Geografia Humana se expande com o hábito de definir as raças humanas de maneira rigorosa (Claval, 2006). Foi neste século que a Geografia deixou de lado uma série de conhecimentos especulativos – como, por exemplo, a crença em continentes nunca vistos ou em lugares onde existiriam as guerreiras amazonas ou gente sem cabeça, que até ao século XVIII ainda persistia em alguns livros da disciplina – e passou a ocupar-se somente dos lugares e factos comprováveis, que pudessem ser observados e cartografados com precisão ou concluídos pelo raciocínio lógico (Vesentini, 2008).

d. Os filósofos e a Geografia

O progresso das ciências naturais alimenta a descrição do globo com dados cada vez mais ricos, pelo que a geografia deveria modernizar-se; contudo os geógrafos continuam homens de gabinete (Claval, 2006).É a Jean-Jacques Rousseau 39 (1712-1778) que se deve a reabilitação do trabalho de campo por parte dos geógrafos, pois afirma que o olhar geo-gráfico, isto é, a aptidão para detectar configurações que só surgem quando se muda de escala, só faz sentido quando se apoia na experiência directa no campo. A Geografia só é útil aos homens se abordar os seus problemas (Claval, 2006).A obra de Rousseau é desenvolvida por Johann Heinrich Pestalozzi 40 (1746-1827) que cria escolas, onde aplica o pensamento do seu mestre, dando uma visão mais moderna da geografia, do que noutros estabelecimentos de ensino. De tal forma, que o método Pestalozzi difundiu-se por toda a Europa, particularmente na geografia alemã. Este autor preocupou-se em relacionar conhecimentos e actividades práticas, ou seja, aprendia-se trabalhando e fazendo e por isso, foi a primeira tentativa de estabelecer o ensino da geo-grafia com base na intuição. Foi nestas escolas que foram formados dois dos maiores mestres da geografia do século XIX, o alemão Carl Ritter e o francês Elisée Reclus (Capel, 1988 e Claval, 2006).

38 Foi um matemático e geólogo escocês.39 Filósofo, escritor, teórico político e compositor musical. Foi uma das figuras marcantes do iluminismo francês.40 Educador Suíço foi influenciado pelo pensamento de Rousseau e por alguns aspectos do movimento romântico,

como por exemplo o amor pela natureza e a concepção organicista (Zanatta, 2005).

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Na 1ª metade do século XVIII, os filósofos renovaram uma das mais an-tigas ideias gregas, a das idades da humanidade 41, então a Geografia teria um papel menor, pois bastava saber qual a posição na escala universal das civilizações para saber o caminho que já percorreram e o que lhes falta percorrer (Claval, 2006). Anne Robert Jacques Turgot 42 (1727-1781) defende, na sua obra «Primier Discours», publicada em 1750, a ideia do progresso, defendendo que o destino dos homens, no futuro, seria melhor e que a felicidade seria atin-gida sem tantas dificuldades, não concordando com a ideia «das idades da humanidade», uma vez que se preocupou em estabelecer o diagnóstico das forças que moldam as regiões e de estabelecer linhas de acção para as fazer evoluir, podendo desta forma «saltar» alguma fase de desenvolvimento das civilizações, temos aqui um esboço do que mais tarde viria a ser a Geografia Política (Claval, 2006). Turgot considerou a Geografia uma disciplina prospectiva, cujos ensinamen-tos tornariam mais fácil a aplicação de políticas que visavam o progresso. Quando foi Ministro, procurou colocar em prática estas ideias, que tinham sido expostas num documento de cerca de 20 páginas intitulado «Geografia Política», onde esboçou o esquema do que deveria ser um estudo da relação entre Geografia física e a distribuição dos povos, tendo em consideração certos factores como: a perspectiva histórica e a formação dos Estados, as razões da diferença de riqueza e de comércio entre alguns espaços, a im-portância das comunicações e os seus efeitos nas conquistas efectuadas por alguns povos, entre outros (Font e Rufi, 2001).Durante o século XVIII, a geografia atravessa uma crise de identidade, uma vez que a vertente cartográfica da profissão, das carreiras de engenheiro geógrafo ou de engenheiro hidrógrafo, entre outras, leva a que estes pro-fissionais estejam divididos entre o trabalho de pesquisa documental, até então indispensável à profissão, e o trabalho de campo, cujos resultados eram melhores (Claval, 2006). A perspectiva naturalista permitiu aos Geógrafos descobrir a diversidade de fisionomias da Terra e das paisagens que o Homem organizou, a ligação desta ciência com a cartografia, possibilitou a utilização das cartas que permitiram a análise de diferentes lugares, invocando que a geografia se transformasse numa disciplina explicativa (Claval, 2006).

41 A qual defende que a civilização nasceu com a invenção da agricultura e os seus progressos inscrevem-se, desde a Grécia, numa sequência contínua, passando pelas revoluções industriais e assim sucessivamente (Claval, 2006).

42 Político liberal e nobre francês (Font e Rufi, 2001).

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Immanuel Kant 43 (1740-1804) além da sua grandiosa obra filosófica ministrou mais de 50 cursos de Geografia física. Este autor parte da ideia de que o conhecimento se baseia na percepção que temos dos fenómenos; desta forma, a ciência visa estabelecer uma classificação temática para eles; estabelece as leis às quais estão submetidos e testa as hipóteses que os podem justificar. Mas os fenómenos são-nos dados sob a forma de sequências temporais e justaposições espaciais, ou seja o Tempo e o Espaço (Claval, 2006).Kant, na sua obra «Physische Geographie» publicada em 1802, aborda as relações entre a Geografia física e os outros tipos de geografia, afirmando que esta era a base da História e de todas as outras geografias, categorizando-as da seguinte forma (Unwin, 1995, p. 108):

• geografia matemática, onde se estuda a forma, tamanho e movimento da Terra, assim como as suas relações com o sistema solar a que pertence;

• geografia moral, onde se explicam os diversos costumes e características das gentes das diferentes regiões;

• geografia política, em que se contempla a organização política do estado totalmente dependente da sua geografia física;

• geografia comercial, ocupa-se dos intercâmbios mercantis e estabelece vínculos entre as áreas excedentárias e as deficitárias;

• geografia teológica, estuda como se transformam os princípios teológicos devido às diferenças do terreno.

Kant atribuiu à “História e à Geografia finalidades diferentes das outras disciplinas: o seu papel é perceber as estruturas temporais e espaciais que a nossa experiência revela” (Apud Claval, 2006, p. 55). A geografia tem como principal missão compreender a diferenciação regional da Terra, de-vendo explicar a especificidade de cada uma das suas partes (Claval, 2006).Johann Gottfried von Herder 44 (1744-1803) não duvida de que a humanidade evolui; contudo propõe uma interpretação do progresso radicalmente diferente da aceite até então. Para Herder, cada povo tem um génio próprio, pois vive num meio, particular, em que a sua personalidade se afirmou. A história dos povos está ligada à sua geografia; para a “compreender é conveniente debruçar-se sobre o meio em que vivem e ver como este dá ao grupo as suas especificidades”. A geografia a que apela não é a simples descrição do mundo, mas antes aquela que deve explicar a “história de cada povo e a evolução geral para o progresso” (Claval, 2006, p. 57).

43 Professor de Geografia na Universidade de Konisberg (Prússia) e Filósofo.44 Clérigo, poeta, crítico literário, teólogo, escritor e filosofo germânico. Foi aluno de Kant.

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e. A Geografia como disciplina Científica

A preocupação de encontrar uma explicação científica para os “factos ob-servados não estava ausente na geografia tradicional, mas tinha um lugar modesto nas preocupações dos autores, que se contentavam em sublinhar a sua distribuição zonal. O século XIX dá um impulso decisivo à pesquisa das causas e dos mecanismos” (Claval, 2006, p. 62). Se é verdade que Kant proporcionou uma justificação teórica da geografia, o seu maior interesse pela Filosofia levou a que não colocasse em prática as suas ideias. Essa tarefa coube aos alemães Alexander von Humboldt e Carl Ritter.Alexander von Humboldt (1769-1859) recebeu uma sólida formação cientí-fica que, de acordo com a época, teve um carácter enciclopédico. De ideias liberais e progressistas, com um espírito curioso e empreendedor, organizou e levou a cabo uma grande expedição científica pela América (Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, México, Cuba e Estados Unidos da América), que durou quatro anos (Infopedia, 2008). Durante as suas viagens recolheu grande volume de informação, que mais tarde utilizou para escrever várias obras, sendo a mais importante e a me-lhor concebida, «Cosmos», em cinco volumes, escrita já nos últimos anos da sua vida (Claval, 2006). A sua obra «Cosmos» constitui uma autêntica cosmologia, onde aborda a descrição física do Universo e sistematiza os conhecimentos de ciências muito diversas. Humboldt interessou-se pelo estudo dos seres vivos e do meio, nas suas relações recíprocas, explicando a sua distribuição no espaço e transmitindo o choque que sentiu face a certas paisagens ou determinados documentos, dando à Geografia um novo significado: não é apenas um dis-curso sobre as realidades de pequena escala que se lêem nos mapas; estes revelam a diversidade da Terra, que considerava como um todo orgânico, em que os diferentes fenómenos se apresentavam interdependentes, rom-pendo, assim, com uma linha tradicional de pensamento, que considerava a Natureza como algo estático e inamovível. O seu trabalho deu à geografia descritiva um carácter sistemático e uma metodologia própria tal como ela se descobre no campo (Claval, 2006 e Infopedia, 2008). As investigações que realizou partiram, geralmente, de observações meticu-losas sobre o terreno, tendo utilizado o método comparativo para identificar regularidades existentes na distribuição das paisagens de diferentes áreas geográficas. Os seus conhecimentos permitem-lhe desvendar muitos traços interessantes nas paisagens e relacioná-los, procurando compreender como os fenómenos se condicionam. Por exemplo, nos Andes, a altitude introduz

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um escalonamento nas formas de vegetação e tipos de agricultura, o vento é importante na formação das correntes que afectam as bacias oceânicas, tendo explicado os mecanismos que as regem 45 (Claval, 2006 e Infopedia, 2008).Foi também Alexander von Humboldt, como naturalista, que introduziu um conceito base na geografia moderna: o de meio (Claval, 2006).Carl Ritter 46 (1779-1859) na sua obra «Geografia geral comparada» (1817-1859), num total de 19 volumes, efectua uma “descrição regional da Terra, que utiliza a comparação para fazer compreender as especificidades de cada país e as orientações da sua história” (Claval, 2006, p. 67).Ritter na sua obra advoga que se devia estudar “todas as relações essen-ciais que se estabelecem entre os povos do globo terrestre: estas relações levar-nos-ão a identificar as direcções que prosseguem para o seu desen-volvimento, sob a influência decisiva da natureza” (Claval, 2006, p. 67), indo ao encontro do defendido por Herder que afirmava que a geografia deve explicar a história de cada povo e a evolução geral para o progresso.Para o geógrafo alemão, o objectivo da Geografia não era o de simplesmente reunir e elaborar uma massa de informações (sobre a Terra ou as regiões), como faziam os seus predecessores, mas antes assinalar as «leis gerais» que explicavam a diversidade natural, mostrar a sua conexão com qualquer facto singular e indicar numa perspectiva histórica, a perfeita unidade e harmonia que existe, por trás da aparente diversidade e capricho que prevalece no planeta, entre a natureza e o Homem (Vesentini, 1988a).Com Ritter, a geografia deixa de ser uma descrição da Terra, tornando-se indispensável para quem quer compreender o Sistema Político Internacional, a dinâmica das civilizações e a maneira através da qual os povos exploram o seu ambiente. Está, também, atento ao impacto das novas técnicas e da revolução industrial e é dos primeiros a assinalar a diminuição das distâncias relativas que a navegação a vapor provoca e a interrogar-se sobre o seu significado. Reflecte, ainda, sobre as grandes produções, rompendo com o quadro tradicional da estatística e constituindo-se como um dos iniciadores da geografia económica moderna (Claval, 2006).

45 Ainda hoje dá o nome a uma corrente fria que desce ao longo da costa Sul-americana (Claval, 2006).46 Geógrafo alemão, o seu primeiro trabalho sobre geografia foi uma série de seis mapas sobre a Europa, talvez

o primeiro atlas físico da história (1806), que seria actualizado (1811). A sua obra mais importante e extensa Geografia geral comparada (1817-1859), transmite-nos valiosos ensinamentos, foi planeada para abordar a geografia de todo o planeta, porém o autor morreu quando completou o 19° volume, em Berlim. Foi o fundador da Sociedade de Geografia de Berlim. Foi pioneiro da geografia moderna e do seu ensino nas universidades, concebendo a geografia como ciência empírica e sustentando que a sua metodologia deveria basear-se na obser-vação directa, ao invés de partir de hipóteses teóricas (Fernandes, 2002).

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São as obras de von Humboldt e Carl Ritter que tornam a geografia uma disciplina científica, que afirma a sua ambição explicativa: deixa de ser a descrição da diversidade terrestre, para permitir compreender o progresso humano. É, também, devido a estes autores alemães, que os geógrafos aprendem, nas suas explicações, a trabalhar de forma sistemática com a dialéctica das escalas, que descobrem como as forças gerais ou locais se combinam para explicar as distribuições que analisam. A geografia que pra-ticaram sistematizou o “estudo das relações que os homens tecem com o seu ambiente: nesta perspectiva é uma ciência natural” (Claval, 2006, p. 68).

f. O pensamento de Friedrich Ratzel

A publicação em 1859, da «Origem das Espécies» de Charles Darwin, tem um significado particular para a geografia e influenciou Friedrich Ratzel 47 (1844-1904) devido à sua formação académica; este autor é considerado o criador da Geografia Humana e da Geografia Política. É por causa da perspectiva darwinista que assumiu, que Ratzel cria um novo capítulo da disciplina que baptiza de Geografia Humana, em que procura estabelecer as leis gerais que regem a influência do meio sobre as sociedades; valoriza, também, a ideia do movimento como sendo uma das características fundamentais do homem, o que o levou a interessar-se pelos fenómenos da circulação (Claval, 2006).A expressão «geografia política» já existia há muito, pois nos séculos XVII, XVIII e XIX foram publicados diversos livros com esse título. Mas considera-se que a geografia política moderna, pelo menos tal como a entendemos hoje – isto é, como um estudo geográfico da política, ou como o estudo das relações entre espaço e poder – nasceu com a obra «Politische Geographie», de Friedrich Ratzel, publicada em 1897. Assim sendo, Ratzel não criou a expressão «geografia política»; ele apenas redefiniu o seu conteúdo, apontando para o que seria um verdadeiro estudo sistemático da dimensão geográfica da política, no qual a espacialidade ou a territorialidade do Estado era o principal objecto de preocupações, apresentando uma concepção de política que muito deve à leitura de Maquiavel (Vesentini, 2009). Nesta obra Ratzel disserta sobre o poder dos Estados 48 salientando que o poder é igual ao somatório do Espaço com a Posição. Contudo verifica que

47 Geógrafo Alemão formado em farmácia e zoologia, Professor de Geografia nas universidades Munique e Leipzig, autor de elevado número de obras e de artigos foi defensor do colonialismo (Dias, 2005, p. 67 e 68).

48 Ratzel definiu Estado “como um organismo que reúne uma fracção da humanidade numa fracção de solo, donde as suas propriedades decorrem das do povo e das do solo” (Chauprade e Thual, 1998, p. 604 e 605).

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o Homem e o Solo não são suficientes para justificar o diferente poder dos Estados. Por isso, cria um terceiro elemento que designou por «sentido de espaço» (Raumsinn), referindo que os povos possuíam-no em maior ou menor grau, o que lhes conferia maior ou menor aptidão natural para a organização e dinamização do meio por eles habitado, conduzindo, assim, ao também natural, predomínio de alguns sobre outros (Dias, 2005).A Geografia Política surge então, em Ratzel, como a parte mais original da Geografia Humana das sociedades evoluídas (Claval, 2006). Na sua obra «Geografia Política» estabelece as sete Leis Geográficas do crescimento dos Estados, que se apresentam (IAEM, 1982, p. 24 e 25):

(1) o primeiro impulso para o desenvolvimento territorial de um Estado vem do exterior, duma civilização mais adiantada. Em tese, uma comunidade vive em equilíbrio, até que é rompido com o aparecimento ou contacto com outra civilização;

(2) o aumento do espaço acompanha a expansão da cultura;(3) a expansão de um Estado segue-se a outros sintomas de desenvolvimento:

ideias, produção industrial, actividade missionária e outras;(4) a expansão de um Estado inicia-se com a fusão e absorção de unidades

menores. Como foi o caso da Alemanha, na II Guerra Mundial começou por absorver entidades politicamente mais fracas, para testar a reacção da comunidade internacional;

(5) a fronteira, como órgão periférico de um Estado, evidencia a sua vita-lidade ou dinamismo; as fronteiras são, portanto, variáveis e dinâmicas, reflectindo a força expansiva dos Estados. Esta lei compara a fronteira do Estado à pele de um ser vivo; aceita-a como instrumento maleável, que reflecte o seu Poder e a direcção do seu crescimento;

(6) um Estado, à medida que cresce, tende a anexar regiões valiosas sob o ponto de vista político ou económico. As Regiões Valiosas podem sê-lo por serem ricas em recursos naturais, ou pelas vantagens que propiciam do ponto de vista da posição;

(7) a absorção reforça a tendência para a expansão o que confere maiores possibilidades para a subsequente conquista de mais espaço. À medida que vai havendo absorção de unidades políticas menores, aumenta o Estado e o seu Poder, logo o seu “apetite” é também maior.

Ratzel criou, também, um novo conceito, o de o «Espaço Vital» (Lebensraum), definindo-o como o “território necessário à completa e perfeita realização de um «ser político», forte e respeitado” (IAEM, 1982, 25).

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Tendo em consideração o conceito de «Espaço Vital» e considerando que os vários organismos (Estados) se digladiavam em permanência, buscando mais espaço, e procurando a sua realização e desenvolvimento, tudo isto, numa lógica de aplicação das leis de selecção natural, em que os mais for-tes resistiam e sobreviviam, os outros definhavam e morriam (Dias, 2005).O Conceito de Espaço Vital apresenta-se, assim, coerente com o raciocínio que se pode encontrar nas leis de crescimento territorial dos Estados, desig-nadamente no que respeita à absorção de «unidades» menores, na procura de regiões valiosas e na noção de fronteira, como espelho dos resultados da busca de espaço (Dias, 2005).

g. As Escolas Nacionais: 1890-1950

No período de 1890 a 1950 a geografia assume a sua forma clássica, ciência das paisagens e das sociedades, ocupando um lugar importante no estudo dos fenómenos físicos e no tratamento das sociedades tradicionais, apresentando dificuldades no estudo do “mundo urbano e industrializado cuja difusão acelera” (Claval, 2006, p. 79). Este período foi rico em actividades intelectuais, dando origem às socieda-des de geografia, destacando-se as de Berlim, Paris e Londres; a geografia enquanto disciplina, passa a ser leccionada nas universidades, tendo estes aspectos desempenhado um papel fundamental para a institucionalizar, tal como aconteceu com a função dos geógrafos na sociedade (Unwin, 1995).Neste período a pesquisa sobre o ambiente (geografia física) é tão importante como a investigação sobre a geografia humana. Contudo, o desenvolvimen-to de áreas muito especializadas como, por exemplo, a geomorfologia ou a climatologia, contribuem para que a geografia tenha muitos campos de actuação, sendo por isso difícil seguir os mesmos métodos científicos, o que é criticado por investigadores de outras disciplinas (Claval, 2006).No seguimento da geografia científica (ou moderna) surgem quatro escolas geográficas 49, na Alemanha com Friederick Ratzel, na França com Vidal de Blache e Elisée Reclus, na Grã-Bretanha com Halford Mackinder e nos Estados Unidos da América, com William Davis (Dias, 2005).

(1) A Escola Alemã

A história da geografia alemã é mais que as grandes personalidades que contribuíram para modelar a geografia moderna, Humboldt, Ritter

49 “Procurando tudo explicar, através da descrição e tudo classificar através da comparação” (IAEM, 1982, p. 21).

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ou Ratzel. Na formação da escola alemã, Wilhelm Riehl (1823-1897) desempenhou um papel chave, após as suas reflexões sobre a juventude alemã, em que propunha que os adolescentes deveriam percorrer o país de mochila às costas e recomenda que lhes seja ensinado geografia dando ênfase “ao que os enraíza num território ou país”; por isso às vezes considera-se a geografia a “disciplina do conhecimento do próprio país” (Claval, 2006, p. 85).No período em análise, na Alemanha, a questão nacional continuava a dar à geografia particularidades muito especiais: saber quais eram as suas fronteiras. Os alemães têm um sentimento profundo da sua identi-dade, mas para eles, coloca-se a questão de saber a que território deve corresponder o seu país (Claval, 2006). Os geógrafos alemães não se interessavam pelo indivíduo, para eles o dado de base é o Povo. Num país cuja unidade é tardia, a questão que se lhes colocava, era saber onde terminava o território alemão. Para dar uma resposta credível, era importante apoiarem-se em métodos que escapavam a toda a crítica, “os geógrafos assumem-se naturalistas para parecerem mais sérios” (Claval, 2006, p. 85).A geografia alemã está largamente associada à revolução conservadora, cujo embrião já estava presente antes do primeiro conflito mundial, e foi acelerada pela derrota, explicando também o triunfo do nazismo em 1932. Rudolf Kjellen 50 (1846-1922) utiliza o neologismo «geopolítica» e esta torna-se uma forma de análise e de desenvolvimento sistemático de ideologias territoriais adequadas para assegurar o triunfo das visões alemãs sobre a organização da Europa e do Mundo (Claval, 2006).

(2) A escola Francesa

Um dos geógrafos da escola francesa foi Elisée Reclus 51 (1830-1905), este dá às cidades um lugar importante na sua análise e mostra-se muito sensível à diversidade do seu povoamento. A sua principal obra foi «O Homem e a Terra», editada em 1905, já depois da sua morte, na qual

50 Jurista sueco e professor de Ciência Política e de História nas Universidades de Gotemburgo e de Upsala; no ano de 1900 inventa o neologismo «geopolítica» (Dias, 2005).

51 Geógrafo francês, autor de vasta obra em Geografia, foi forçado várias vezes a deixar a França por causa das posições políticas. Publicou La Terre, description des phénomènes de la vie du globe (1867-1868). Lutou como soldado contra a Prússia (1870) e, no ano seguinte, participou na Comuna de Paris, pelo que foi deportado para a Suíça onde estabeleceu contacto com Peter Kropotkin. Em 1874 como cientista, começou a publicar a sua principal obra: Nouvelle Géographie universelle (1875-1894), em 19 volumes. Em 1879, tornou-se catedrático de geografia na Universidade de Bruxelas, tendo leccionado a cátedra de geografia comparativa (Fernandes, 2002).

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explicita as suas concepções de geografia, de sociedade e do mundo político 52 (Claval, 2006). Um dos mais importantes investigadores da escola francesa foi Vidal de la Blache 53 (1845-1918), o seu valor deve-se sobretudo à obra escrita e ao impulso que soube dar aos jovens geógrafos, antigos alunos da Escola Normal, que constituem o ponto de partida da escola francesa (Claval, 2006). Para este autor, um indivíduo geográfico não resulta somente das con-dições geológicas e climáticas. Não é completamente livre das mãos da natureza, mas é um homem que revela a sua individualidade moldando um território para o seu próprio uso. A geografia tem como missão in-vestigar como as leis físicas ou biológicas que regem o globo se com-binam e se modificam, ao aplicarem-se às diversas partes da superfície terrestre (Vesentini, 1988a). A geografia tem como missão especial estudar as diferentes expressões que existem nos diversos lugares. O geógrafo deve buscar o encadeamento e a unidade dos elementos que agem sobre a superfície terrestre. A Terra é o domínio do Homem. Mas é preciso que a humanidade conheça o seu domínio para dele desfrutar e para fazer-se valer. A geografia tem como função ensinar isso (Vesentini, 1988a).Para la Blache, a Geografia tinha, também como finalidade, explicar a desigual repartição dos homens à superfície da terra, ou seja a formação de densidades. Estas exprimem as relações que os homens estabelecem com o seu ambiente, valorizando o aspecto da circulação, como o fize-ram Carl Ritter e Ratzel. Contudo, ao contrário de Ratzel, que era um determinista, la Blache era um possibilista (Claval, 2006).O problema que se punha aos intelectuais franceses era diferente ao dos alemães; a questão não estava no delimitar do território, mas sim compreender como a unidade podia surgir da diversidade de meios

52 Algumas das suas posições surpreendem hoje em dia – não condena a colonização mas manifesta-se contra os seus excessos (Claval, 2006)

53 Geógrafo francês, considerado o fundador da geografia francesa moderna e da corrente francesa de geografia humana. Estudou história e geografia, em Paris, e ensinou por três anos na Grécia. Após várias viagens pelo mundo retornou a França, para ser professor da École Normale (1877-1898). Fundou e editou a revista Annales de Géographie (1891), ainda hoje o mais importante periódico de geografia da França. Assumiu o cargo de professor de geografia na Sorbonne (1898-1918), onde trabalhou até ao fim da vida. Defendia uma geografia regional baseada no intensivo estudo de regiões fisicamente pequenas definidas como os cantões da França, e do interrelacionamento das pessoas com o seu ambiente. Advogava que estudos de partes isoladas da Terra não tinham importância, e que existiria um contínuo jogo de acção, reacção e interacção entre grupos humanos e seus ambientes naturais. Considerado o expoente máximo da geografia francesa, autor de um Atlas générale, do primeiro volume da Histoire de France (1903), de Ernest Lavisse, do póstumo Tableau de géographie humaine (1921), além de criador do Possibilismo Geográfico (Fernandes, 2002).

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naturais e do povoamento original. Concluindo que a unidade surgiu devido à complementaridade dos recursos oferecidos pelas diversas províncias, como pelo parentesco que existe entre os diferentes géneros de vida tanto a Norte como a Sul do território, sendo que é esta com-binação que dá à França a sua personalidade, utilizando a expressão de la Blache (Claval, 2006).

(3) A escola Britânica

A geografia na Grã-Bretanha preocupava-se em identificar um objecto de estudo, combinando elementos humanos e físicos, que se considerassem exclusivamente geográficos. A contribuição britânica para a geografia estava relacionada com um trabalho em dois planos, o global e o local. Nos finais do século XIX (1895), Halford Jonh Mackinder 54 (1861-1947) defendeu que o desenvolvimento da geografia física havia superado a geografia humana, pelo que só era possível examinar a geografia humana no contexto da geomorfologia e da biogeografia. Para alcançar este objectivo, sugeria o uso da geografia regional, alegando que o estudo das regiões era uma prova mais minuciosa da lógica do argumento geográfico que o estudo dos diversos tipos de fenómenos (Unwin, 1995).Por outro lado, Mackinder considerava que a geografia devia ser útil para o sistema, para o «comércio» como dizia, isto é, os interesses imperialistas britânicos da época; desta forma a geografia deveria contribuir para o conhecimento e a cartografia dos territórios a serem colonizados, para a identificação dos recursos naturais e dos povos, localizando potenciais trabalhadores e/ou mercados (Vesentini, 2008b). Esta visão da geografia foi contraposta por Piotr Alekseievitch Kropotkin 55 (1842-1921) que considerava que ela deveria servir basicamente os ideais

54 Inglês, professor de geografia em Oxford (1887-1905), director do colégio universitário de Reading (1892-1903) e director da London School of Economics and Political Sciences (1903-1908). Foi também biólogo, historiador, político e geopolítico (Dias, 2005).

55 Revolucionário e geógrafo russo, que renunciou à sua herança aristocrática para fundar os movimentos anarquistas russo e inglês. Estudou em São Petersburgo onde se interessou pela geografia e, cujas pesquisas e explorações abriram-lhe caminho para uma destacada carreira científica. Porém, recusou o cargo de secretário da Sociedade Geográfica da Rússia para se dedicar à causa do anarquismo, doutrina que defendia a abolição de todas as formas de governo. Preso por envolvimento em actividades revolucionárias (1874), conseguiu escapar dois anos depois e foi para a Europa ocidental onde escreveu vários livros, nos quais sistematizou a sua filosofia libertária. Ao retornar à Rússia (1917), entusiasmou-se com o surgimento espontâneo das comunas e sovietes; porém a tomada do poder pelos bolcheviques, trouxe-lhe completa frustração em relação às suas ideias. Seu principal livro foi Mutual Aid (1902), onde defendeu que o factor principal de evolução das espécies seria a cooperação, e não o conflito, conceito darwinista da sobrevivência e evolução das espécies (Fernandes, 2002).

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humanísticos de combate aos preconceitos, de crítica ao imperialismo, às injustiças e às desigualdades, (Vesentini, 2008b). Mackinder foi um pensador político realista, entendia a ordem interna-cional como uma espécie de «lei da selva», na qual o poderio militar e as guerras seriam não apenas inevitáveis, como até mesmo uma con-dição indispensável para a existência de um sistema internacional, com o exercício da hegemonia por uma grande potência mundial (Vesentini, 2008b). As suas ideias direccionavam-se para a manutenção e o forta-lecimento do império britânico (potência marítima), tendo apresentado a sua teoria geopolítica, onde materializou a relação entre o espaço e o poder político, construindo à escala do planeta modelos de dinâmica do Poder, que o tornaram mundialmente conhecido (Dias, 2005).

(4) A Escola Americana

A geografia americana sofreu altos e baixos em virtude de esta não constar do ensino primário e secundário, como acontecia na Europa. William Morris Davis 56 (1850 - 1934) foi um dos seus expoentes, tendo contribuído para separar o âmbito abrangido pela geografia, geologia e meteorologia. O conceito mais importante que introduziu foi o de «ciclo de erosão», através de estudos baseados na erosão provocada pelos rios da Pensilvânia (Claval, 2006). Na Universidade de Harvard onde leccionava, sistematizou o estudo da Geografia e revolucionou o seu ensino nos Estados Unidos. Em virtude do aparato metodológico mais eficiente das ciências físicas e da esplên-dida conexão teórica por ele elaborada, a Geografia Física rapidamente ganhou a imagem de ser a parte cientificamente melhor consolidada e executada, onde praticamente não havia necessidade de preocupações metodológicas e conceituais a seu propósito (Fernandes, 2002).

56 Geólogo e geógrafo norte-americano, criador da moderna Geografia Física, cujas ideias cíclicas influenciaram decisivamente a Geomorfologia, durante pelo menos a primeira metade do século XX. Graduado na Universi-dade de Harvard, trabalhou no Observatório Nacional Argentino (1870-1873) e voltou para a Universidade de Harvard. Aposentou-se de Harvard e tornou-se professor emérito (1912). Ainda leccionou em Berlim e Paris e fundou e presidiu (1904 / 1905 / 1909) à Association of American Geographers e também presidiu (1906-1911) a Geological Society of American. Escreveu Physical Geography (1898) e de Geographical Essays (1906). A sua concepção teórica predominou de modo incontestável por quase meio século. Apesar das muitas críticas que lhe eram endereçadas, não surgia outra proposição coerente e global capaz de a substituir. Só no fim dos anos cinquenta e na década seguinte começaram a aparecer indícios de nova estrutura teórica para a Geomorfologia, que ganhou corpo com a teoria do equilíbrio dinâmico (1960), de John T. Hack, revivendo e ampliando antigas concepções expostas por Grove Karl Gilbert (Fernandes, 2002).

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Outro importante geógrafo foi Carl Sauer 57 (1889-1975), de origem ale-mã, tendo trabalhado muito em estudos de antropologia cultural. O que para ele conta é compreender como os grupos tiram partido da paisagem (ambiente), a exploram e a modificam. Na sua obra «The Morfology of Landscape», publicada em 1925, valoriza a relação do homem com o meio, que ele modifica e transforma no seu habitat, a análise desta re-lação permitiu-lhe ter uma visão integral do ambiente que individualiza a geografia enquanto disciplina (Claval, 2006).As suas ideias nunca dominaram a geografia americana, mas alimentaram, desde o final da década de 20, uma corrente de investigação fecunda e original. Esta centra-se nas relações entre os grupos humanos e o seu ambiente, ainda hoje bastante actual, como por exemplo, o aquecimento global (Claval, 2006).

(5) O Estado da Geografia no início do século XX

No início do século XX, a geografia é uma disciplina forte e bem re-presentada na maioria dos países industrializados. Foi na Alemanha que foi formulada a maioria dos temas, onde todos os ramos da geografia estavam representados; porém a Segunda Guerra Mundial reduziu a projecção da escola alemã (Claval, 2006).A situação da geografia em França, apresenta alguns traços comuns com a situação na Alemanha, ou seja, existe uma longa tradição de estudos geográficos, uma grande especificidade (geografia regional), interesse por todos os ramos, mas as estruturas não se souberam renovar a partir da década de 30 (Claval, 2006).A geografia na Grã-Bretanha dá ênfase aos trabalhos de campo e às monografias minuciosas, dando-lhe uma originalidade crescente. A asso-ciação da geografia à ideia do ordenamento do território desenvolve-se rapidamente, assim como, a geografia histórica, com destaque para o período entre as duas Guerras Mundiais (Claval, 2006).Nos Estados Unidos da América a situação é diferenciada. A escola de Berkeley 58 está no apogeu, enquanto que os trabalhos metódicos efec-

57 Geógrafo norte-americano, professor universitário, destacou-se pelos estudos sobre os desertos, regiões tropicais, geografia humana dos índios americanos, agricultura e produtos nativos do Novo Mundo. Para Sauer, a geografia era inseparável da História da humanidade, considerando a antropologia, arqueologia e sociologia como extensões dos seus estudos geográficos (Infopedia, 2008).

58 A Universidade de Berkeley, foi fundada em 1868, é uma extensão da Universidade da Califórnia em Berkeley, situada no estado da Califórnia.

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tuados no Middle West 59 abrem caminho para a renovação da geografia económica e política (Claval, 2006).Este período é marcado pela dicotomia entre Geografia Física e a Geografia Humana. Representando os conjuntos: «meio geográfico» e «actividades humanas», a Geografia Física destinava-se ao estudo do quadro natural, enquanto a Geografia Humana preocupava-se com a distribuição dos aspectos originados pelas actividades humanas (Christofoletti, 1985). Como vimos com os trabalhos de William Davis, a Geografia Física não tinha de preocupações metodológicas e conceituais, ao invés, a Geografia Humana destituída do aparato teórico e explicativo para as actividades humanas, assim como da imprecisão dos procedimentos metodológicos, debatia-se na procura de justificar o seu gabarito científico, e em es-tabelecer a sua definição e finalidades como ciência. A esta dicotomia juntava-se o conflito conceptual da Geografia se consubstanciar como «ciência única» ou como um conjunto de ciências. Os debates relativos a esta temática são contínuos e sempre reabertos, sem se chegar a uma conclusão definitiva (Christofoletti, 1985).Para os geógrafos preocupados com a afirmação científica da Geografia e com os perigos da ruptura entre os seus Ramos, a paisagem 60 aparecia como um conceito integrador, pois traduzia as interacções entre os elementos do mundo físico e entre estes e os grupos humanos, numa dada área. Diferen-tes combinações de fenómenos da superfície terrestre traduzir-se-iam em diferentes morfologias do território e, portanto, em diferentes paisagens, e cada região era caracterizada por uma paisagem própria (Salgueiro, 2001).Em resumo, podemos afirmar que a geografia tinha efectuado grandes progressos, mas os seus maiores sucessos estavam associados às paisagens e às sociedades tradicionais. Com o fim da 2ª Guerra Mundial, dá-se um desenvolvimento acelerado o que obrigou a geografia a renovar-se; se tal não tivesse acontecido, tinha desaparecido.

h. A Nova Geografia: 1950-1970

A renovação da geografia levou a que a designassem por «Nova Geografia» 61, com a qual a pergunta central deixou de ser qual a influência do meio sobre o

59 A escola de Middle West surge na sequência dos métodos utilizados pelo botânico Clemments na “cartografia detalhada das formações vegetais”, que foram amplamente imitados por outras disciplinas (incluindo os geógra-fos), na Universidade de Chicago (Claval, 2006, p. 95).

60 Que Carl Sauer desenvolveu com a sua Morfologia e Biogeografia.61 Foi inicialmente proposta por Manley (1966), considerando o conjunto de ideias e de abordagens que começaram

a difundir-se e a ganhar desenvolvimento durante a década de cinquenta (Christofoletti, 1985).

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Homem, para se ocupar da localização das actividades humanas e a interrogar-se sobre a sua desigual distribuição: porquê aqui e não noutro sítio? (Claval, 2006).Para tentar responder a esta questão, a Nova Geografia procurou estimular o desenvolvimento de teorias relacionadas com as características da distri-buição e arranjo espaciais dos fenómenos; para tal, os geógrafos recorre-ram às teorias disponíveis noutras ciências, como as teorias económicas, nomeadamente as relacionadas com a distribuição, localização e hierarquia de eventos, entre outras. Procurando verificar a sua aplicabilidade, alguns geógrafos passaram a estudar os padrões de distribuição espacial dos fenó-menos (estudo de distribuições pontuais, de redes ou de áreas), mas sem efectuarem um estudo crítico, nem proporem modificações ou substituições àquelas teorias (Christofoletti, 1985). Não houve uma contribuição realmente significativa para a teoria geográfica das organizações espaciais. Por outro lado, com o estudo dos padrões espa-ciais aceitava-se implicitamente o espaço como a dimensão característica da análise geográfica e a superfície terrestre como o seu objecto de estudo. Ao deslocar o foco de análise para as organizações espaciais, estava a propor-se uma modificação substancial, que só foi alcançada no fim dos anos cinquenta e na década seguinte, quando começaram a aparecer indícios de uma nova estrutura teórica, que ganhou corpo com a «teoria do equilíbrio dinâmico» 62, de John T. Hack, em 1960 e a «teoria probabilística» 63 da evolução da modelação terrestre, de Leopold e Langbein em 1962 (Christofoletti, 1985).O desenvolvimento destas teorias tinha subjacente a utilização da metodolo-gia científica pela Geografia e, a utilização por todos os ramos dos mesmos procedimentos, em virtude de não existir uma metodologia específica para uma ciência, mas para o conjunto das ciências. Havia métodos científicos para a pesquisa geográfica, mas não métodos geográficos de pesquisa (Christofoletti, 1985). Considerando a metodologia científica como o paradigma para a pesquisa geográfica, a Nova Geografia salienta a necessidade de maior rigor no enunciado e na verificação de hipóteses, assim como na formulação das explicações para os fenómenos geográficos (Christofoletti, 1985). A utilização

62 Baseia-se na teoria geral dos sistemas, em que o princípio básico da teoria é o de que o relevo é um sistema aberto, mantendo constante troca de energia e matéria com os demais sistemas terrestres, estando vinculado à resistência litológica (Casseti, 2008).

63 Considera que o sistema geomorfológico é um sistema aberto, o que acarreta duas generalizações mais prováveis sobre a distribuição de energia: um estado em que a taxa de dispersão de energia é uniformemente distribuída, e um estado onde o sistema executa um trabalho mínimo (Moreira, 2003).

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desta metodologia pela Geografia permitiu completar a análise das relações do homem com o ambiente, tendo a nova geografia recorrido às simulações de laboratório, à experimentação e aos métodos matemáticos, originando ramos especializados, como a geomorfologia, a climatologia dinâmica e a biogeografia (geografia botânica), entre outros (Claval, 2006).Por outro lado, o aumento da urbanização e dos problemas ecológicos e sociais que lhe estão associados, como por exemplo, a multiplicidade de resíduos, a utilização intensiva de produtos químicos que provocam dese-quilíbrios ambientais e zonas residenciais sem condições, levaram ao au-mento da criminalidade, de tal forma que começaram a inquietar a opinião pública. Estas situações favoreceram o aparecimento de vários autores que contestavam a evolução seguida pela geografia (Claval, 2006).

i. A contestação dos anos 70: geografia radical e geografia humanista

No fim da década de 60, início da de 70, a ênfase no crescimento económico desaparece rapidamente. Em virtude do ambiente contestatário nos Estados Unidos da América (EUA), nos anos sessenta, em função da guerra do Vietname, da luta pelos direitos civis, dos problemas advindos da poluição e da urbanização, surgiu uma corrente geográfica preocupada em ser crítica e actuante (Christofoletti, 1985). Vários adjectivos são mencionados para a caracterizar, tais como geografia crítica, de relevância social, marxista e radical. Adoptamos a denominação de Geografia Radical por a considerarmos mais abrangente e significativa, designando tudo o que seja de tendência esquerdista e a postura contestatária dos seus praticantes (Christofoletti, 1985). Surgem várias publicações em apoio a esta corrente, das quais destacamos a de David Harvey, «Social Justice and the city», em 1972, onde se estuda a pobreza, recorrendo aos modelos clássicos e aos modelos marxistas (Claval, 2006). Foi a primeira tentativa de apresentar uma síntese e um marco teórico para a análise marxista do espaço urbano, outra obra que merece referência foi a de David M. Smith, «Human Geography: a welfare approach», em 1977, que propunha a reformulação da Geografia Humana (Christofoletti, 1985). Nos EUA, desde 1969 que é publicada a revista «Antipode: a radical journal of Geography», que representa o veículo mais constante deste movimento geográfico. Na França, o movimento da Geografia Radical é liderado por Yves Lacoste, cujo grupo se tornou responsável pela revista «Hérodote», que é editada desde 1976. Na Inglaterra, diversos trabalhos significativos foram

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publicados nas revistas de geografia. Richard Peet, um dos mais eminentes geógrafos radicais, organizou uma colectânea a propósito da «Radical Geo-graphy», em 1978, exemplificando os vários temas analisados pelos geógrafos radicais (Christofoletti, 1985).A Geografia Radical também visava ultrapassar e substituir a Nova Geografia. Os seus defensores consideram a Nova Geografia como sendo pragmática, alienada, objectiva no estudo dos padrões espaciais e não nos processos e pro-blemas socio-económicos e com grande função ideológica. Desta maneira, ela procurava analisar em primeiro lugar os processos sociais, e não os espaciais, ao inverso do que se costumava praticar na geografia (Christofoletti, 1985). Neste sentido, encontra-se implícito o esforço na tentativa de integrar os processos sociais e os espaciais no estudo da realidade. A Geografia Radical interessava-se pela análise dos modos de produção e das formações socio-económicas. Isto porque o marxismo considera como fundamental os modos de produção, enquan-to as formações socio-económicas espaciais são as resultantes. As actividades dos modos de produção constroem e geram formações diferentes. Cada modo de produção, capitalista ou socialista, por exemplo, reflecte-se em formações socio-económicas espaciais distintas, cujas características da paisagem geográfica devem ser analisadas e compreendidas (Christofoletti, 1985).Esta corrente analisava o processo de acumulação concebido por Marx; contudo este modelo não contemplava uma dimensão espacial no processo de desenvolvimento do capitalismo, sendo uma falha que contribuiu para o fim da geografia radical, cuja ambição era formular uma teoria capaz de explicar a evolução do mundo e de prevê-la, mas a teoria que reclama não levava ao resultado antecipadamente previsto. A geografia radical fica posta em causa nos seus pressupostos metodológicos (Claval, 2006).Rapidamente são denunciadas outras fraquezas daquela geografia. O Homem não toma as suas decisões em função do que é o mundo, mas em função da imagem que tem dele. Estudos sobre a percepção do espaço abundam; são exemplos a obra de Kenneth Boulding, em «The Image» (1956) e de Kenin Lynch, «The Image of the City» (1959). Neste período surge, também, o francês Eric Dardel (1900-1968) para quem a geografia não tem por finalidade descrever a terra, mas mostrar como o homem nela inscreve a sua existência e lhe dá sentido, modelando territórios a que atribui valores (Claval, 2006).Outro autor importante foi Yi-fu Tuan 64, que num artigo de 1976 fala em Geo-grafia Humanista, sendo este o termo que vingou (anteriormente falava-se em

64 Geógrafo americano, nascido na China em 1930, é professor de Geografia em várias Universidades ocidentais. Autor de diversas obras das quais destacamos: «Space and Place, Landscapes of Fear» e «Topofilia». Em 1976 faz uma importante análise quanto ao papel da «Geografia Humanista».

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geografia fenomenológica). Esta Geografia é crítica e reflectiva, porque o mundo dos factos geográficos não inclui somente o clima, as propriedades agrícolas, as povoações e os Estados, mas também os sentimentos, os conceitos e as teorias geográficas. Os temas abordados por esta corrente eram variados, entre os quais salientamos os esforços para compreender a diversidade das experiências que se pode ter sobre o espaço, surgindo noções como os de “espaço vivido”, de “representação cultural”, de “lugar” e de “território” (Claval, 2006). As noções de espaço e lugar surgem como importantes para esta tendência geográfica. O lugar é aquele em que o indivíduo se encontra ambientado no qual está integrado. Ele faz parte do seu mundo, dos seus sentimentos e afeições; é o “centro de significância ou um foco de acção emocional do homem”. O lugar não é toda e qualquer localidade, mas aquela que tem sig-nificado afectivo para uma pessoa ou grupo de pessoas (Christofoletti, 1985). A Geografia Humanista procura entender qual é a imagem que os indivíduos têm do mundo, procurando perceber como sentem os lugares e se identificam com eles. O mundo é um «produto dos actores» e estes «experimentam-no» de diferentes formas.Em 1974, ao tentar estruturar o sector de estudos relacionados com a percep-ção, atitudes e valores ambientais, Yi-Fu Tuan propôs o termo «Topofilia» definindo-o como “o elo afectivo entre a pessoa e o lugar ou quadro físico” (Christofoletti, 1985). Após este per-curso e procu-rando sistematizar a evolução da geografia, pode-mos afirmar que até à década de 80 as anál ises realizadas pelos Geógrafos eram dicotómicas entre a objectividade e a subjectividade, o indivíduo e os grupos sociais , como se observa nas figuras 14 e 15. Em que o Território para a Etno-Geografia representa um “sistema de lugares tecido pelo entrelaçado das relações sociais e espaciais

Fonte: Cachino e Malheiros, 2009

Figura 14 – Dicotomia entre os vários Tipos de Geografia

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características dos grupos humanos, que os ocupam, os produzem ou simples-mente os cobiçam, e por outro lado, as relações existenciais, necessariamente subjectivas, que os indivíduos socializados necessariamente estabelecem com os diferentes lugares do sistema” (Cachino e Malheiros, 2009).

65 O conceito de território está associado ao sentimento de pertença dado às sepulturas dos antepassados, aos lugares sagrados, entre outros, que está muito para além da satisfação das necessidades naturais do Homem (Claval, 2006).

Fonte: Cachino e Malheiros, 2009

Figura 15 – Enquadramento da Geografia consoante a sua maior preocupação

j. A Geografia depois da queda do Muro de Berlim

Depois da queda do muro de Berlim e do fim das correntes ideológicas asso-ciadas a cada bloco, os geógrafos consciencializaram-se da ambição exagerada que tinham em querer explicar o mundo e de desenhar o futuro (Claval, 2006).O geógrafo passou a explorar o domínio das ciências da natureza e o das ciências sociais, com o objectivo de desmontar o sistema complexo das relações e das influências responsáveis pelas realidades observadas. O meio natural oferece recursos e possibilidades mais ou menos favoráveis, consoante a sua localização, o clima existente e outras, mas o mais importante são as técnicas de produção e de organização de que dispõem os grupos sociais que habitam cada território 65 (Claval, 2006), no racional referido por Ratzel, da

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maior ou menor aptidão que os Estados possuem para organizar o espaço, ou seja o seu conceito, anteriormente apresentado, de «sentido de espaço».As questões relacionadas com o uso do tempo são fundamentais para a Geografia, tendo em vista a organização de espaços, tanto em relação ao indivíduo, como em relação aos grupos, pois as actividades desenvolvidas por eles, na família, nos locais de trabalho e nas horas de lazer exigem cons-truções adequadas, meios de transporte e organização dos horários. Para que os membros da sociedade possam usufruir dos divertimentos e lazeres, por exemplo, é necessário que essas actividades sejam oferecidas fora dos seus horários de trabalho e num local próximo da sua residência, que permitam um deslocamento conveniente e acessível (Christofoletti, 1985). A evolução técnica conduz à uniformização rápida das ferramentas e das condi-ções de vida e à difusão universal das mesmas modas, como foram por exem-plo, os «blue jeans» ou a música «rock». Mas a cultura não assenta somente em bens materiais, ela assenta, também, em hábitos, preferências e valores. A universalização foi tão rápida que pareceu que o Homem perdeu uma parte da sua identidade, as principais diferenças já não são as casas ou a forma de vestir, mas sim a religião, a etnia ou as tradições que praticam (Claval, 2006).As actividades produtivas e as características das classes socio-económicas são importantes nesta análise, porque as diferenças no uso do tempo entre as populações urbanas e as rurais são significativas. Outro aspecto relaciona-se com o valor do tempo gasto. As pessoas de baixo nível social e cultural executam tarefas de baixo rendimento, pois o seu tempo é barato. As pessoas de alto nível social e cultural apresentam um valor do tempo muito mais elevado, cujo gasto não é destinado à execução de tarefas simples e rotineiras. Delegar as tarefas domésticas e de limpeza às empregadas é procedimento usual nas famílias abastadas, assim como os subalternos executam muitas tarefas delegadas pelos patrões e dirigentes (Christofoletti, 1985).As questões e os problemas que podem ser evidenciados na perspectiva da organização do tempo e do espaço são muito diversos, envolvendo aspectos da localização espacial dos artefactos humanos e da distribuição do uso do tempo. Valorizando os cruzamentos das variáveis tempo e espaço, pode ser englobada e administrada pelos adeptos da Nova Geografia, da Geografia Humanista, da Geografia Radical (Marxista) e da Etno-Geografia sendo possível aplicar-lhe os procedimentos metodológicos e os posicionamentos explicativos que se queiram atribuir aos fenómenos organizacionais das sociedades humanas (Christofoletti, 1985). Nesta perspectiva, a partir de meados dos anos 80 as análises dicotómicas entre a objectividade e a subjectividade, o indivíduo e as estruturas, não

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se adaptavam a um entendimento satisfatório dos fenómenos, e a geografia humana passou a procurar novos caminhos interpretativos. No centro da mudança encontra-se a difusão das correntes de pensamento estruturacionistas e pós-modernistas 66, integradas na geografia, nomeadamente, por M. Dear (1988), E. Soja (1989; 1996) e D. Harvey (1989; 1996). As teorias pós-modernas caracterizam-se por uma deslocação generalizada do interesse da produção para o do consumo e por uma profunda reconce-ptualização desta categoria social. Até então abordado em termos materiais, realçando a produção de objectos, passa agora a ser avaliado pela sua di-mensão simbólica, figura 16.

66 Os pós-modernistas argumentam que as metanarrativas modernistas que procuram verdades universais mediante o exame das associações e das relações entre as pessoas e os lugares têm sido incapazes de dar conta de forma adequada das diferenças na sociedade.

Fonte: Cachino e Malheiros, 2009

Figura 16 – Novos elementos do pensamento geográfico, a partir dos anos 80

A conversão dos objectos num sistema de signos implica também uma trans-formação das relações do sujeito com os objectos e, uma mudança da sua identidade na teoria social. Este perde a racionalidade e unidade que lhe foi concedida pela teoria moderna e torna-se num ser descentrado, fragmentado,

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ecléctico, transitório, emocional e de múltiplas identidades, por vezes para-doxais. Por sua vez, a espacialidade adquire também um novo sentido. Cons-truído socialmente a diferentes escalas, o espaço torna-se multi-dimensional e pluri-significativo. A sua produção envolve sempre uma relação dialéctica de contingência entre as pessoas, os lugares, as comunidades territoriais e os sistemas locais e globais. Este processo aplica-se tanto ao espaço real, territorializado, feito de «lugares reais», isto é, que são significativos para o(s) indivíduo(s), como ao «hiper-espaço topológico», organizado em torno de «não lugares»; um produto da tecnologia e da sociedade de consumo global, que embora não passando de simulacros de lugares reais ou imagi-nados, são tidos como autênticos, ou pelo menos vividos e sentidos pelas pessoas enquanto tal, figura 17 (Cachino e Malheiros, 2009).

Fonte: Cachino e Malheiros, 2009

Figura 17 – Os espaços (realismo crítico)

No mundo de hoje, esta etapa deve ser precedida de uma investigação sobre a maneira de como os homens concebem a vida, a natureza, a sociedade e as suas finalidades. A abordagem humanista é indispensável para perceber as diferentes dinâmicas em curso nas sociedades que partilham a Terra (Claval, 2006).A geografia preocupa-se com os contornos do real, como por exemplo, a infância e as suas maneiras de descobrir o espaço, o destino das mulheres, a velhice, isto é, esta ciência é inseparável da vida e da morte e da forma como cada um concebe o desaparecimento da sua existência. Como tal, procura compreender como o Homem estrutura o espaço, para permitir às sociedades funcionar eficazmente. Ela fornece elementos indispensáveis ao

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Homem de negócios ou ao estadista que devem ter uma visão alargada da Terra, das suas realidades, dos seus problemas e dos riscos existentes, assim como, a novas profissões como as do turismo, do urbanismo e da conservação do património e da natureza. “A geografia é um convite a compreender e respeitar a diversidade dos meios naturais e das civilizações” (Claval, 2006, p. 138).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pelo que foi referido, verificámos que o conceito de geografia sofreu metamorfoses com certa frequência e, por isso, não é imprescindível uma definição, sendo preferível perceber as suas preocupações e o âmbito do seu estudo; mesmo assim, apresentámos algumas definições de geografia, dos seus ramos e ciências cujas referências estão «ligadas» ao conhecimento geográfico.

A Geografia pode ser definida como a “ciência que estuda as variações das distribuições espaciais dos fenómenos da superfície da Terra, assim como as relações do meio natural com o Homem e a individualização e análise das regiões à superfície da Terra” (Baud et al, 1999, p. 127).

A grande maioria dos autores, assim como as universidades nacionais que ministram esta disciplina consideram a existência de dois ramos: Geografia Física e Humana. A Geografia Física “ocupa-se a explicar as mudanças nas condições do mundo objectivo de feitos. Isto consegue-se através de experimentações rigo-rosas, construção de modelos e verificação de hipóteses, e o êxito depende da exactidão entre as previsões expressas, por exemplo, em fórmulas matemáticas, e as observações empíricas da realidade” (Unwin, 1992, p. 236 e 264).

Para outros autores, as principais actividades do geógrafo físico – observa-ção, medição e descrição da superfície da Terra – são os aspectos da geografia geral mais perceptíveis para quem não é especialista. A crescente complexidade das questões geográficas exigiu uma progressiva especialização, o que deu mar-gem para a criação de novas disciplinas, como ocorreu com a geomorfologia, a climatologia, a biogeografia, a pedologia, entre outras. Com o aumento da capacidade humana para alterar as paisagens e o clima mundial, novas áreas de estudo surgiram, como por exemplo a gestão de recursos e os estudos ambientais.

A Geografia Humana pode ser definida do seguinte modo “a actividade humana muda a forma da natureza, mas ao mesmo tempo, esta actividade ne-cessariamente molda o carácter humano e as relações sociais entre as pessoas; no processo histórico há uma interacção constante do sujeito humano com o objecto natural” (Unwin, 1992, p. 266) ou como o “estudo dos fenómenos relacionados com as populações, incluindo as suas actividades e a relação que têm com a superfície da Terra” (Ferreira, 2006). Podendo, à semelhança

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da Geografia Física, ser subdividida em diferentes disciplinas, ou áreas mais especializadas do conhecimento, como: Demografia, Geografia Económica, Geografia dos Transportes, Geografia, Geografia Política, entre outras.

Tendo em consideração o autor e onde será publicado este artigo será importante referir, que a geografia (ou alguns dos seus aspectos) sempre foram importantes, ao longo da história, para o planeamento e a conduta de operações militares, uma vez que os comandantes delinearam as suas batalhas com base em informações, sobre as características do terreno (montanhoso ou plano; tipo de vegetação; hidrologia – vertentes dos rios, largura, correntes; entre outras) e as condições meteorológicas (chuva? nevoeiro? fases da lua; entre outras), de tal forma que alguns autores falam em Geografia Militar, definindo-a como a vertente da geografia “que tendo por objecto a guerra e o meio onde se desenvolve, estuda a localização e a distribui-ção dos fenómenos militares e procura dar respostas aos problemas geográficos colocados pela ciência militar” (IAEM, 1996, p. 31).

Apesar das definições apresentadas, não devemos ignorar que, a geografia além de uma disciplina académica, é cada vez mais uma disciplina ligada às práticas profissionais, como o ordenamento e planeamento do território, a or-ganização e gestão dos sistemas de informação geográfica, o desenvolvimento urbano e regional, o ambiente e os projectos sociais e urbanos.

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