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A Gestão de Risco como Novo Conceito de Controlo de Qualidade da Água para Consumo Humano José Manuel Pereira Vieira 35ª Assembleia Nacional Belo Horizonte, 24-29 Julho 2005 UNIVERSIDADE DO MINHO

A Gestão de Risco como Novo Conceito de Controlo de ... · Pesticidas (DDT, vinclozolin, linuron, ... Surto de Millwaukee, USA (1993) demonstrou a vulnerabilidade do tratamento “adequado”

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A Gestão de Risco como Novo Conceito de Controlo de Qualidade da Água para Consumo Humano

José Manuel Pereira Vieira

35ª Assembleia NacionalBelo Horizonte, 24-29 Julho 2005

UNIVERSIDADE DO MINHO

2José M. P. Vieira

SUMÁRIO

● Água para consumo humano: uma questão de

saúde pública

● Limitações do tradicional método de controlo do

produto final

● A nova abordagem: Planos de Segurança da Água

● Conclusão

3José M. P. Vieira

SUMÁRIO

● Água para consumo humano: uma questão de

saúde pública

● Limitações do tradicional método de controlo do

produto final

● A nova abordagem: Planos de Segurança da Água

● Conclusão

4José M. P. Vieira

Água: via de transmissão de doenças

● Hipócrates (~300 B.C.)

Ferver a água

●John Snow (1854)

Encerramento da bomba de Broad Street

●Louis Pasteur (1863)

Descoberta da existência de microrganismos

●Robert Cock (1883)

Isolamento de Vibrio cholerae

5José M. P. Vieira

Ver o futuro, aprendendo com o passado

6José M. P. Vieira

Ameaças biológicas emergentes

● Doenças bem conhecidas que podem reemergir

● Doenças “novas” devido a novos métodos laboratoriais

● Novas doenças

● Mudanças em comportamento de doenças

● Mudanças em condições ambientais

● Doenças que surgem em ambientes inesperados

● Outros microrganismos aquáticos que podem emergir

7José M. P. Vieira

Doenças que podem reemergir

● Cólera

● Febre tifóide e paratifóide

● Shigelose

8José M. P. Vieira

Doenças “novas” que podem emergir

● Campilobacteriose

● Giardiase

● Cryptosporidiose

● Norovirus

● EHEC (Enterohemorrhagic Echerichia coli)

9José M. P. Vieira

Novas doenças

● SARS

● AIDS

● EHEC O 157 ?

10José M. P. Vieira

Mudanças em comportamento de doenças

● Vibrio cholera O139

● Tuberculose multi-resistente

● Enterococcus faecalis

11José M. P. Vieira

Mudanças em condições ambientais

● Pseudomonas aeruginosa

● Legionella pneumophila

12José M. P. Vieira

●● AeromonasAeromonas hydrophilahydrophila

●● ETEC ETEC (Enterotoxin prod. E. coli)

●● EPEC EPEC (Enteropathogenic E. coli)

●● Yersinia enterocoliticaYersinia enterocolitica

●● CianobactériasCianobactérias

●● VibrioVibrio sppspp..

●● PleisiomonasPleisiomonas

●● Helicobacter pyloriHelicobacter pylori

●● RotavirusRotavirus

●● AdenovirusAdenovirus

●● Entamoeba histolyticaEntamoeba histolytica

●● CyclosporaCyclospora cayetanensiscayetanensis

Outros microrganismos

13José M. P. Vieira

Ameaças químicas emergentes

● Resíduos farmacêuticos

● Compostos disruptores endócrinos (EDC)

● MTBE (methyl-tert.-butyl ether)

● Nitrosaminas

● Pesticidas

● Biocidas

● Toxinas algais / cianobactérias

● Produtos de higiene pessoal

● Fragrâncias

● …

14José M. P. Vieira

sem dados de sem dados de efeitos no homem efeitos no homem

nem de nem de ecotoxicologiaecotoxicologia; ;

sem informação no sem informação no comportamento comportamento

durante o durante o tratamento da tratamento da

águaágua

não incluídas em não incluídas em listas oficiais e listas oficiais e programas de programas de monitorizamonitorizaççãoão; ; sem valores de sem valores de

regulaçãoregulação

??

Relevância das substâncias emergentes

15José M. P. Vieira

Principais fontes e vias de propagação de fármacos no ambiente aPrincipais fontes e vias de propagação de fármacos no ambiente aquático:quático:

Exemplo: resíduos farmacêuticos

Drogas humanasDrogas veterinárias

produção disposição

excreção

Águas residuais

excreção

Resíduos domésticos

ETAR Aterro sanitário

Solo

Água superficial Água subterrânea

Água potável

Lamas Estrume

16José M. P. Vieira

●● Hormonas naturais (Hormonas naturais (estradiolestradiol, , estroneestrone))

●● Hormonas sintéticas (etinilestradiol)Hormonas sintéticas (etinilestradiol)

●● FitoFito--hormonashormonas ((ßß--sitosterolsitosterol))

●● Químicos industriais (Químicos industriais (bisfenolbisfenol A, A, nonilfenolnonilfenol, , ftalatosftalatos,...),...)

●● Pesticidas (DDT, Pesticidas (DDT, vinclozolinvinclozolin, , linuronlinuron,...),...)

●● Metais (chumbo, cádmio, mercúrio)Metais (chumbo, cádmio, mercúrio)

Centenas de substâncias químicas classificadas de EDC ou potenciais EDC:

Exemplo: EDC

17José M. P. Vieira

http://sd.water.usgs.gov/nawqa/pubs/factsheet/fs114.95/fact.html

Exemplo: MTBE (methyl-tert.-butyl ether)

18José M. P. Vieira

O que há de novo com substâncias emergentes?

● Muitas delas estão presentes no ambiente há muitos anos, mas só

recentemente foram identificadas

● Muitas são compostos persistentes

● O registo de ocorrências, os efeitos na saúde e o comportamento no

ambiente e durante o tratamento da água são insuficientes

● Fontes: poluição difusa em vez de poluição pontual

● Muitas são produzidas e aplicadas em grandes quantidades

● Poluidor: NÓS (para além das indústrias químicas)

19José M. P. Vieira

● Mais informação (sistemática) sobre fontes, ocorrência e comportamento de microrganismos e substâncias químicas emergentes

● Dados de toxicologia

● Metodologias de avaliação e gestão de risco

● Estratégias/medidas para redução de níveis de concentração no ambiente

● Estratégias de remoção

● Novos conceitos a incluir em legislação para fazer face a microrganismos e substâncias químicas emergentese substâncias químicas emergentes

O que é necessário?

20José M. P. Vieira

● A água deve ser segura: isenta de microrganismos (bactérias, vírus, protozoários) e de substâncias químicas que possam constituir potencial perigo para a saúde humana

● Sabor, odor e aparência agradáveis

● Disponível de forma contínua a pressão adequada

● Adequada para necessidades domésticas

● A água não deve ser agressiva para materiais de construção

● Preço socialmente aceitável

Quais as exigências do consumidor?

21José M. P. Vieira

SUMÁRIO

● Água para consumo humano: uma questão de

saúde pública

● Limitações do tradicional método de controlo do

produto final

● A nova abordagem: Planos de Segurança da Água

● Conclusão

22José M. P. Vieira

● Focagem em teste do produto final:

Monitorização de conformidade, relativamente a normas paramétricas de qualidade da água, baseada em amostras tomadas a frequências mínimas especificadas

Normas de qualidade

23José M. P. Vieira

●● Correlação limitada entre patogénicos e organismos Correlação limitada entre patogénicos e organismos indicadores (e.g. indicadores (e.g. E. E. colicoli))

Surto de Millwaukee, USA (1993) demonstrou a vulnerabilidade do tratamento “adequado”

• 403 000 casos de cryptosporidiose• Água tratada com ausência de E. coli

Resultados negativos para organismos indicadores não significa, necessariamente, ausência de perigos

Fiabilidade de organismos indicadores

24José M. P. Vieira

●● Métodos demorados e de capacidade limitada para alerta Métodos demorados e de capacidade limitada para alerta rápidorápido

Mínimo de 24 horas mais tarde

Muito pouco, muito tarde

25José M. P. Vieira

● Volumes de água analisada insignificantemente pequenos e pouco representativos estatisticamente

Regular Aleatório Aleatório agrupado

Hot SpotsHot Spots

Qualidade da água pode variar rapida e extensivamente

Baixa proporção de água amostrada

Pouca representatividade da amostragem

26José M. P. Vieira

●● Capacidade limitada na detecção de flutuações de curta Capacidade limitada na detecção de flutuações de curta duração da qualidade da águaduração da qualidade da água

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

3,50

4,00

4,50

1-Ju

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2-Ju

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3-Ju

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4-Ju

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6-Ju

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26-J

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27-J

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28-J

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29-J

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30-J

ul

31-J

ul

Turb

idity

(NTU

)

R aw water

W ater after sedim entation

F iltered water

T reated water

Flutuações na qualidade da água

27José M. P. Vieira

SUMÁRIO

● Água para consumo humano: uma questão de

saúde pública

● Limitações do tradicional método de controlo do

produto final

● A nova abordagem: Planos de Segurança da Água

● Conclusão

28José M. P. Vieira

Avaliação / Gestão de risco em água para consumo

●● Objectivos baseados em saúde públicaObjectivos baseados em saúde pública

●● Planos de Segurança da ÁguaPlanos de Segurança da Água

–– Avaliação do sistema:Avaliação do sistema: da captação ao consumidorda captação ao consumidor

–– Monitorização operacional:Monitorização operacional: garantir a segurança da águagarantir a segurança da água

–– Planos de gestão:Planos de gestão: para condições de rotina e excepcionaispara condições de rotina e excepcionais

●● Sistema de vigilância independenteSistema de vigilância independente

A nova abordagem (1/3)

29José M. P. Vieira

O princípio das barreiras múltiplas

Controlo de qualidade

Normas & tratamento

Sistema de distribuição

Consumidor

A nova abordagem (2/3)

Sistema operacional de gestão de qualidade

30José M. P. Vieira

Drenagem urbana

Animais selvagens

Poluição humana

BACIA HIDROGRÁFICA

Fossas sépticas

Tratamento de águas residuais a montante

Criação de animais domésticos

RIO ALBUFEIRA

Algas

Sedimentos

Curto circuito

TRATAMENTOTRATAMENTO

Eficiência no tratamento

Ineficiência no tratamento

REDE DE DISTRIBUIÇÃO

Reservatórios abertos

Formação de biofilmes

Contaminação por manutenção

Contaminação cruzada

TORNEIRA DO CONSUMIDOR

Contaminação por manutenção

Consumo

EXPOSIÇÃOEXPOSIÇÃO

Outros riscos

RISCO

Viabilidade

de infecção

A nova abordagem (3/3)Avaliação/Gestão de riscos da fonte ao consumidor

31José M. P. Vieira

Exigências do abastecimento público de água

FIABILIDADE QUANTIDADE

QUALIDADE

CONSUMIDOR

32José M. P. Vieira

Objectivos de qualidade

AVALIAÇÃO DO ESTADO DA SAÚDE PÚBLICA

OBJECTIVOS DE SAÚDE PÚBLICA

AVALIAÇÃO DE RISCOS

GESTÃO DE RISCOS

RISCOS ACEITÁVEIS

AVALIAÇÃO DA

EXPOSIÇÃO AMBIENTAL

33José M. P. Vieira

Perigo e risco

● Perigo

Microrganismos, substâncias químicas ou radioactivas que podem causar doença ou tornar a água inaceitável para os consumidores

Agente também com impacto na quantidade

Capacidade para causar violação de Normas

● Risco

Probabilidade de um perigo causar danos na saúde ou condições inaceitáveis para uma certa população

Probabilidade de exposição

Severidade das consequências

Impacto na confiança pública

34José M. P. Vieira

Objectivos de saúde pública (1/2)

● Microbiológicos

Quantificação de riscos relativos a microrganismos patogénicos define objectivos que a água para consumo deve satisfazer, de modo a proteger a saúde pública

● Químicos

Normas baseadas em ingestão diária aceitável (IDA) ou em modelos teóricos de risco

Risco “aceitável”

35José M. P. Vieira

Objectivos de saúde pública (2/2)

● Químicos

Valores mínimos frequentemente determinados em ensaios com animais

Aplicação de factores de incerteza deve ser transparente e justificada cientificamente

Definição de proporção de IDA em água de consumo, reflectindo outras fontes de ingestão, pode reflectir menor fiabilidade científica

36José M. P. Vieira

Avaliação / Gestão de riscos

● Avaliação de riscos

Processo de base científica, consistindo em quatro etapas: identificação de perigos; caracterização de perigos; avaliação da exposição ambiental; e caracterização de riscos

● Gestão de riscos

Processo de análise de políticas de gestão alternativas, em consulta com as entidades interessadas, tendo em conta a avaliação de riscos e outros factores, seleccionando opções apropriadas para controlo e prevenção

37José M. P. Vieira

WHO Guidelines (3rd Edition)

● Dr Kerstin Leitner, WHO Assistant Director-General“uma mudança de orientação extremamente importante sob o ponto de vista de saúde pública”“permitirá que a gestão da saúde pública se focalize na prevenção da contaminação microbiológica e química da água de abastecimento”“uma mudança de paradigma na abordagem da gestão dos sistemas de abastecimento de água para consumo humano, tanto em países desenvolvidos como em países em desenvolvimento”

Recomendações internacionais (1/3)

38José M. P. Vieira

The Bonn Charter Framework

Recursos hídricos &

Fontes

Verificação da qualidade da água

Plano de Segurança da Água

Atr

ibui

ções

e

resp

onsa

bilid

adesP

artilha de conhecim

ento

Objectivo:Água para consumo humano que tenha

a confiança dos consumidores

Tratamento Sistema de Distribuição

Sistema Consumidor

Recomendações internacionais (2/3)

39José M. P. Vieira

The Drinking-Water Directive

Recomendações internacionais (3/3)

Método

Parâmetros

Item

E sobre:Avaliação de risco?

Gestão de risco?

Abordagem multi-barreiras?

Valores Máximos+ aceitabilidade

+ sem alterações anormais

Menos parâmetros, novos parâmetros?

E sobre:disruptores endócrinos,

protozoários, legionella,

nova geração de pesticidas,

materiais de construção, etc., etc.

48 parâmetros

2 microbiológicos

26 químicos

20 indicadores

> 62 parâmetros

Legislação FuturaDirectiva 98/83/ECAntiga Legislação

40José M. P. Vieira

Plano de Segurança da Água

Avaliação do Sistema

Monitorização Operacional

Planos de Gestão

Objectivos de Saúde

Vigilância Independente

O PSA nas recomendações da OMS

41José M. P. Vieira

Boa gestão baseada em conhecimento

O que é um PSA?

●● Identifica e avalia riscos desde a fonte até ao consumidorIdentifica e avalia riscos desde a fonte até ao consumidor

●● Estabelece mecanismos de controloEstabelece mecanismos de controlo

●● Verifica a sua eficáciaVerifica a sua eficácia

Um Documento que

42José M. P. Vieira

● Identificação de perigos e ameaças desde a fonte até ao consumidor

● Prevenção e redução de contaminação

● Preocupações com melhorias de desempenho do sistema

“com vista a determinar se o sistema global de abastecimento de água (até ao ponto de consumo) pode fornecer água que obedece aos requisitos de qualidade estabelecidos por imperativo legal”

PSA – Avaliação do sistema (1/3)

43José M. P. Vieira

● Monitorização de medidas de controlo

● Assegurar que as barreiras estão a funcionar

● Diferentes abordagens

– Inspecção visual

– Testes de qualidade

– Procedimentos operacionais padronizados

“monitorização de medidas de controlo da cadeia de abastecimento com relevância especial para assegurar a qualidade da água”

PSA – Monitorização operacional (2/3)

44José M. P. Vieira

● Avaliação do sistema

● Medidas de controlo

● Procedimentos de gestão (situações de rotina e excepcionais)

● Protocolos de comunicação– Interna– Autoridades responsáveis pela vigilância– Media

“planos de gestão que contemplem: a documentação da avaliação e monitorização do sistema; a descrição de medidas a tomar durante a operação em condições normais ou em caso de situações excepcionais; a documentação e acomunicação”

PSA – Planos de gestão (3/3)

45José M. P. Vieira

Aplicabilidade dos PSA

● Sistemas grandes/complexosAbordagem adequada ao sistema mas baseada em esquemas estruturados comuns

● Sistemas pequenosAbordagem genérica simplificada

Países desenvolvidos

Países em desenvolvimento

Diferentes abordagens

os mesmos princípios

46José M. P. Vieira

SUMÁRIO

● Água para consumo humano: uma questão de

saúde pública

● Limitações do tradicional método de controlo do

produto final

● A nova abordagem: Planos de Segurança da Água

● Conclusão

47José M. P. Vieira

CONCLUSÃO (1/2)

● Grande debate a nível internacional sobre a nova abordagem para a gestão da qualidade da água para consumo humano

● O conceito de PSA promove um quadro de actuação referenciado a nível internacional com metodologias bem estabelecidas

● Liderança e implementação de planos específicos sópodem resultar ao nível local, atendendo às particularidades de cada sistema de abastecimento

48José M. P. Vieira

CONCLUSÃO (2/2)

● O sector da água de consumo enfrentará uma alteração fundamental se os consumidores não confiarem na qualidade da água que lhes éfornecida

● Na Europa, a mudança para o consumo de água engarrafada pode significar um acréscimo de despesa social de, pelo menos, € 20 biliões.

O longo caminho a percorrer deve basear-se em cooperação técnica e científica dos vários actores

49José M. P. Vieira

Obrigado pela atenção

Quando beberes água, lembra-te da fonteProvérbio Chinês

35ª Assembleia NacionalBelo Horizonte24-29 Julho 2005

José Manuel Pereira Vieira

[email protected]