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ÁGORA Revista Eletrônica Ano VII nº 14 Junho de 2012. P. 84 – 94
www.agora.ceedo.com.br [email protected] Cerro Grande – RS F,: 55 3756 1133 84
A FORMAÇÃO MATEMÁTICA DE PROFESSORES DA ESCOLA PRIMÁRIA NUM
PROGRAMA DE COOPERAÇÃO BILATERAL ENTRE O BRASIL E O TIMOR-LESTE: UM RELATO
DE EXPERIÊNCIA
Camila Nicola Boeri1
Resumo
Este artigo apresenta um relato de experiência sobre o trabalho desenvolv ido no Programa de Formação de Professores em Exercício na Escola Primária em Timor-Leste. Esse é um programa de cooperação bilateral, firmado entre os governos bras ileiro e timorense, de forma a desenvolver o ens ino da língua portuguesa em Timor-Leste, buscando a formação dos docentes que exercem suas ativ idades nas escolas primárias do país. Aqui serão apresentadas as ativ idades desenvolv idas pela área temática de Matemática e Lógica, dentro desse projeto, bem como os resultados que foram alcançados ao término do programa.
Palavras-chave: Matemática; formação; cooperação internacional; Timor-Leste; professores
1. Introdução
Segundo a proposta pedagógica do Programa de Formação de Professores em Exercício na
Escola Primária em Timor-Leste, uma das questões que o país enfrenta para alcançar educação de
qualidade para todos, é a falta de professores habil itados para o exercício do magis tério na Educação
Básica. Uma das soluções encontradas foi oferecer um programa de formação em exercício, para os
professores que atuam nas classes do Ensino Primário e que não tinham uma habili tação mínima.
O Ministério da Educação e da Cultura de Timor-Leste conheceu a experiência brasileira do
Programa de Formação de Professores em Exercício, para professores que atuam nos anos iniciais do
Ensino Fundamental (PROFORMAÇÃO) e solicitou ao Ministério da Educação do Brasil que fossem
realizadas ações de cooperação técnica para implantação e implementação de programa semelhante 1 Doutoranda em Engenharia Mecânica. Professora do Curso de Licenciatura em Matemática da AJES – Faculdades do
Vale do Juruena- MT. E-mail: [email protected]
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em Timor-Leste.
Assim, em 2005, foi assinado um documento entre o governo brasileiro e timorense para
implementar o PROFEP-Timor.
O PROFEP-Timor é um curso de formação em exercício, em nível secundário (habili tação em
magis tério) que prepara o professor para ensinar na Escola Primária e confere diploma em nível
secundário, com habilitação para o magistério, aos professores cursis tas que alcançam os objetivos
propostos do Curso e que poderão atuar nas classes da Escola Primária.
Figura 1: Cursistas e tutores de Dili
O programa foi desenvolv ido por meio da modalidade de Educação à Dis tância e utilizou um
sistema que envolve Ativ idades Indiv iduais à Dis tância (orientadas por material auto-instrucional
impresso), Ativ idades Coletivas Presenciais e o Serv iço de Apoio à Aprendizagem (orientadas pelos
Tutores e /ou Agência Formadora).
A escolha pela modalidade a distânc ia deu-se porque ela permite que o aluno continue
trabalhando e morando em sua localidade e também possibili tando a participação daqueles professores
que moram em locais de difícil acesso.
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2. PROFEP-Timor
É o Programa de Formação de Professores em Exercício na Escola Primária em Timor-Leste
(Projeto Piloto). É um curso de Formação para Professores, que estão ensinando na Escola Primária
em Timor-Leste e não têm uma habil itação específica para docência. Tem como base a experiência
brasileira com o PROFORMAÇÃO.
2.1. Objetivos do Curso
• Diplomar em Nível Secundário, professores que estão ensinando na Escola Primária em Timor-
Leste e não têm a formação para ser docente;
• Formar no Centro Nacional de Formação Profissional uma equipe de Professores e Tutores
timorenses, para continuar com o Curso após a saída da equipe brasileira.
• Elevar o nível de conhecimento e de competência profissional dos docentes e assim contribuir
para a melhoria da qualidade da educação e do desempenho escolar dos alunos da escola
primária pública de Timor-Leste.
2.2. Modalidade do Curso
O curso é desenvolv ido na modalidade de Educação a Distância:
• Por meio de materiais auto-instrucionais (Guias de Estudo adaptados à realidade timorense)
• Serv iço de apoio à aprendizagem;
• Ativ idades coletivas presenciais (férias escolares e sábados quinzenais);
• Ativ idades indiv iduais (estudos dos Guias).
Ele totaliza 3.200 horas, div idido em quatro Módulos (seis meses de estudo para cada
Módulo, dois anos de duração), enfatizando seis áreas temáticas: Linguagens e Códigos (Língua
Portuguesa), Identidade, Sociedade e Cultura (Sociologia, Filosofia, História e Geografia), Matemática
e Lógica (Matemática), Vida e Natureza (Biologia, Física e Química), Fundamentos da Educação
(Sociologia e Filosofia da Educação e Psicologia) e Organização do Trabalho Pedagógico (Currículos e
Programas, Estrutura e Didática).
Possui ainda um Núcleo Integrador, composto por Eixos Integradores e Projeto de Pesquisa
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2.3 Responsabilidade dos Parceiros
Ao governo brasileiro, por meio do Ministério da Educação do Brasil (SEED/ CAPES) e
Agência Brasileira de Cooperação (ABC), compete:
• Realizar o acompanhamento semestral do PROFEP-Timor por técnicos brasileiros;
• Disponibilizar uma equipe de doze Professores Formadores e uma Coordenadora Local;
• Fornecer materiais permanentes da Agência Formadora;
• Disponibilizar materiais didáticos (Guias de Estudo do Brasil).
Ao governo timorense, através de seu Minis tério da Educação e da Cultura, cabe
disponibilizar:
• Professores Formadores (equipe de seis);
• Tutores (grupo de quatorze);
• Impressão de material adaptados (Guias de Estudo, Cadernos, Provas etc);
• Deslocamento, hospedagem e alimentação para os Professores Formadores, Tutores e
Cursistas nas Capacitações, Fase Presencial e Encontros Quinzenais.
2.4 Experiência Piloto nos Distritos
Esse projeto-piloto foi desenvolv ido em dois dis tri tos do país, Baucau e Dili, com os seguintes
números de participantes:
Baucau:
• 07 Tutores;
• 41 Professores Cursis tas.
Dili:
• 07 Tutores;
• 57 Professores Cursis tas.
3. Matemática e Lógica no Profep-Timor
Dentro do programa, várias foram as ativ idades desenvolv idas pela área temática de
Matemática e Lógica. Dentre elas, destacam-se a adaptação do material didático, formações para
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cursistas e tutores e projeto de xadrez.
3.1 Materiais Adaptados à realidade timorense, Módulo I, II e III
A área temática de Matemática e Lógica esteve presente em três dos quatro módulos do
programa: I, II e III. Nesses semestres, foram produzidos os seguintes materiais, voltados à realidade
timorense:
• 18 Guias de Estudo (média de 170 páginas cada Guia);
• 16 Cadernos de Ativ idades de Verificação da Aprendizagem;
• 16 Recuperações dos Cadernos de Ativ idades;
• 16 Chaves de Correção dos Cadernos de Ativ idades;
• 16 Chaves de Correção das Recuperações dos Cadernos de Ativ idades;
• 04 Exercícios de Preparação para as Provas 1 e 2;
• 04 Exames Nacional: Prova 1 e Prova 2;
• 04 Recuperações das Provas 1 e 2;
• 04 Chaves de Correção das Provas 1 e 2.
3.2 Formações de Matemática
No iníc io de nossa participação no programa (terceiro semestre), os cursis tas apresentavam
muita dificuldade na área temática de Matemática e Lógica, principalmente pelos conteúdos que
estavam sendo trabalhados no Módulo III, que não fazem parte do cotidiano de trabalho deles e com os
quais eles nunca haviam tido contato. Apesar de toda a dificuldade, os cursis tas demonstravam grande
interesse em estudar Matemática, sempre solicitando que o maior tempo de formação fosse destinado
a esta área temática.
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Figura 2: Professores trabalhando na construção do conceito do Teorema de Pitágoras
Na primeira prova bimestral, a maior parte dos cursistas ficou em recuperação. Em Dili,
apenas oito cursis tas atingiram a nota necessária para aprovação na prova, de um total de quarenta e
três alunos. Já em Baucau, quinze foram aprovados entre trinta e nove cursis tas, sendo que dois não
realizaram a prova por motivo de doença.
Para a recuperação da prova, foram proporcionados estudos de rev isão com os cursis tas, de
forma a poder esc larecer suas dúv idas e possibil itar um melhor aproveitamento na prova.
Figura 3: Cursistas em estudos de rev isão
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No segundo bimestre desse semestre, foi possível observar um significativo crescimento dos
cursistas na área temática de Matemática e Lógica, principalmente em decorrência das aulas de
reforço que foram oferecidas a eles. Eles continuaram demonstrando grande interesse pela
Matemática, o que pôde ser observado na grande freqüência a esses encontros que realizamos, às
terças-feiras e quintas-feiras.
O resultado desse reforço foi v isto na segunda prova bimestral, onde houve uma queda no
número de cursistas que ficaram em recuperação. Em Dili, v inte e um cursis tas ficaram em
recuperação, enquanto que em Baucau foram quatorze. Para termos uma idéia desse crescimento, na
prova bimestral um a maior parte dos cursis tas ficou em recuperação. Em Dili, apenas oito cursis tas
atingiram a nota necessária para aprovação na prova, de um total de quarenta e três alunos. Já em
Baucau, quinze foram aprovados entre trinta e nove cursis tas, sendo que dois não realizaram a prova
por motivo de doença.
Em relação à recuperação final, apenas um cursista de Dili não conseguiu atingir a nota
necessária e quatro de Baucau, mas buscamos oferecer, após isso, e prev istos no plano de ação de
Matemática e Lógica, momentos de estudo com eles, a fim de que eles pudessem recuperar-se.
Esses resultados mostraram que o desempenho dos cursis tas em Matemática e Lógica
melhorou s ignificativamente, principalmente pelo es forço e vontade que eles demonstraram em
aprender. A prova disso é que no módulo seguinte, IV, apesar de não entrar Matemática e Lógica
como área temática nos guias de estudo, houve a solicitação por parte dos cursis tas para que
continuasse havendo aulas de reforço, para rever os conteúdos trabalhados desde o Módulo I,
ativ idade que desenvolvemos todas as terças e quintas-feiras, em Dili.
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Figura 4: Professores timorenses em aula de reforço
3.3 Projeto de Xadrez
Outra ativ idade desenvolv ida dentro da área temática de Matemática e Lógica foi o projeto
de xadrez.
O objetivo com esse projeto foi fornecer para os professores, estratégias e metodologias
alternativas que facili tassem o processo de ensino e aprendizagem da Matemática. Para tal,
adotamos o jogo de Xadrez, que, ao nosso ver, é uma maneira lúdica, prazerosa e desafiadora que o
professor pode utilizar em sala de aula, para ensinar Matemática, e promover a contextualização e a
interdisciplinaridade. Através deste jogo, podemos proporcionar aos alunos o desenvolv imento de
maior concentração, o desenvolv imento do raciocínio lógico e a capacidade de abstração dos
conteúdos, além disso, podemos explorar diferentes conteúdos matemáticos como: relação, par
ordenado, função, equivalência, dentre outros. De maneira análoga, o participante do curso pôde
usufruir de tais benefícios em seu curso do PROFEP-Timor.
O curso proposto teve uma carga horária de 65 horas, com participação apenas dos
professores do PROFEP-Timor. Cada participante teve uma apostila contendo os seguintes tópicos:
história do Xadrez, introdução ao tabuleiro e as peças, algumas jogadas e as regras.
As aulas tiveram seu início focado no aspecto teórico do Xadrez seguido pela prática, ou
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seja, os participantes mostraram a aprendizagem em jogo. Ao final do curso, foi realizado um mini
campeonato com o intuito de incentivar o jogo de Xadrez por parte do professores do PROFEP-
Timor.
Figura 5: Professores participando do projeto de xadrez
Tivemos ainda como objetivo ensinar os professores do PROFEP-Timor a jogarem xadrez,
e através do jogo desenvolver o raciocínio, a concentração; o equilíbrio emocional, organizar
estratégias e respeitar regras, ensinar uma metodologia alternativa para o ensino da Matemática,
aux iliar os professores no desempenho de suas ativ idades, utilizando o xadrez como uma estratégia
de ensino-aprendizagem.
Acreditamos que a importância de realizarmos este curso esteve centrada no fato de
querermos propiciar aos professores do PROFEP-Timor uma ferramenta alternativa e que, utilizasse
estratégias e metodologias diferenciadas, buscando a melhora do processo de ens ino e
aprendizagem, de forma a ter uma educação mais consistente e qualitativa.
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Figura 6: Formatura da primeira turma do Profep-Timor
4. Considerações finais
Ao término de onze meses de participação no programa PROFEP-Timor, pode-se dizer que
este foi um trabalho muito gratificante, não apenas por ser de formação de professores, mas acima de
tudo, pela convivência e troca de experiênc ias com os timorenses, que possibili tou uma nova v isão de
mundo e fez refletir sobre nossos valores e princípios.
Em relação à Matemática e Lógica, verificou-se um avanço significativo no aprendizado da
Matemática em comparação ao início do ano, quando havia muitas dificuldades.
O trabalho entre brasileiros e timorenses ocorreu de forma satis fatória. Toda a adaptação de
material passou pela rev isão do formador timorense da área temática para que ele pudesse verificar se
estava adequado ou não, além é claro, de todas as sugestões dadas por eles em relação à questão da
linguagem.
Também houve uma boa participação dos professores timorenses nas formações realizadas
pelos brasileiros. Mesmo não sendo da área temática com a qual trabalham, eles procuraram assis tir
as aulas e participaram das ativ idades propostas, havendo uma boa interação entre todos.
O formador timorense de Matemática e Lógica teve participação mais ativa das aulas de
reforço, já que foi propiciado momentos para que ele desenvolvesse a aula com os cursistas.
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Enfim, pode-se afirmar que conseguimos atingir nosso objetivo, que foi fazer com que os
cursistas melhorassem seu aprendizado em Matemática, de forma prazerosa, de maneira a
desenvolver sua prática educativa em sala de aula de forma mais atrativa e consis tente.