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A FORMAÇÃO DO PROFESSOR E AS HISTÓRIAS EM
QUADRINHOS NA SALA DE AULA Alberto Ricardo Pessoa1
Luciana Miyuki Sado Utsumi2
RESUMO: As histórias em quadrinhos vêm despertando interesse de professores e pesquisadores devido ao caráter flexível dos seus elementos constituintes. O balão é o ícone de intersecção entre palavra e imagem, que gera a compreensão das histórias em quadrinhos na sua completude, o que possibilita uma infinidade de experiências, técnicas e abordagens metodológicas no processo de ensino e de aprendizagem. Neste artigo, propomos tecer considerações acerca das possibilidades de os quadrinhos se constituírem em ferramentas na/para a prática pedagógica do professor em formação e/ou em atuação na sala de aula.
Palavras- Chave: 1. Ensino – 2. Arte Seqüencial – 3. Interdisciplinaridade – 4. Formação de Professores.
ABSTRACT: The comics have attracted interest from teachers and researchers because of the flexible character of their constituents. The balloon is the icon of the intersection between word and image, which creates an understanding of comics in their completeness, which allows a myriad of experiences, technical and methodological approaches in the teaching and learning. In this paper, we propose to make considerations about the possibilities of the comics’ genre as a tool for teaching in the classroom performance.
1 Formação inicial em Educação Artística (Faculdade de Artes Alcântara Machado), Mestrado em Artes Visuais (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita – UNESP – SP) e Doutorando em Letras – (Análise de Discurso na Universidade Presbiteriana Mackenzie) Atualmente, atuando na docência de cursos de graduação em Publicidade e Propaganda, Desenho Industrial e na Universidade Aberta do Tempo Útil – UATU. CONTATO: [email protected] 2 Formação inicial em Pedagogia (Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo – FEUSP), Especialização lato sensu em Psicopedagogia (Universidade Paulista – UNIP), Mestrado em Educação pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), Especialização lato sensu em Educação a Distância (Serviço Nacional do Comércio – SENAC). Atualmente, atuando na docência de cursos de graduação e pós-graduação em Pedagogia e Psicopedagogia da Universidade Metodista de São Paulo – UMESP e na docência de cursos de graduação da Faculdade Interação Americana – FIA. CONTATO: ([email protected]); ([email protected]).
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Key Words: 1. Education – 2. Sequential Art – 3. Interdisciplinary – 4. Teacher’s Development.
A educação brasileira e mais especificamente o papel do professor
constituem fonte de debate e discussão em diversos estudos de cunho científico em
nossa sociedade, que intentam estabelecer qual é a atuação desse profissional na
formação do cidadão e como eles devem ser capacitados para assumir a função de
formador, de agente pedagógico, ou seja, a função docente na formação das
gerações do presente e das gerações do futuro.
Considerando a escola como locus de formação desse profissional da
educação, podemos considerá-lo como aquele que se encontra em relação direta e
mais próxima do aluno, aquele que orienta e gera conteúdo pedagógico para o
aprendiz, a partir da perspectiva de reflexão e praxis na/para a construção de novos
conceitos para o cotidiano de seus alunos, tornando-os agentes transformadores
na/da sociedade.
Tal responsabilidade de sua função profissional e social exige formação
específica e continuada, exercício da pesquisa, habilidade para a produção de
material pedagógico, bem como o gerenciamento das relações interpessoais na
garantia da parceria com outros professores, coordenadores pedagógicos e os
alunos com os quais construirá o processo de ensino e de aprendizagem em âmbito
escolar.
A realidade de algumas salas de aulas não conta com este perfil de
profissional da educação, uma vez que, ao contrário do que se deseja, muitos
professores não possuem formação profissional específica, fato que contribui para a
consideração da função docente como “segunda” profissão. Nesta perspectiva,
alimenta-se a crença segundo a qual somente a vocação para a docência é
suficiente para a legitimação do trabalho docente. Somente a “vocação” – no caso,
da profissão docente – não garante as competências, as habilidades e os saberes
pedagógicos para ser verdadeiramente professor, na medida em que é preciso
formação inicial e continuada consistente e específica para compreender a
especificidade dessa profissão. Ao limitarmos a profissão docente à dimensão da
vocação, banalizamos o seu status profissional, a sua identidade de trabalhador,
enfim, a sua profissionalização. Em movimento contrário, quando ressaltamos a
3
necessidade de formação específica para ser professor, valorizamos a profissão
docente.
A formação de professores e/ou de arte-educadores em cursos de
licenciaturas encontra no estágio curricular supervisionado um momento propício de
formação e de configuração do seu campo de atuação profissional3. Não obstante a
importância desse espaço, muitos graduandos, lamentavelmente, relegam o estágio
para segundo plano em sua formação, cumprindo as horas de estágio apenas para
efeitos de conclusão de curso.
No Estágio Supervisionado, o aluno estagiário toma contato efetivo com os
procedimentos e práticas vinculadas ao exercício da docência, vivencia as
exigências do projeto pedagógico da escola e as necessidades próprias do ambiente
institucional escolar, pondo em prática seus conhecimentos, suas competências e
suas habilidades por um determinado período, sob responsabilidade de um
profissional já habilitado. Neste sentido, no decorrer do estágio, o graduando tem a
oportunidade de ser um agente criador de soluções a partir das dificuldades nas
práticas escolares, por meio do desenvolvimento de projetos interdisciplinares e de
trabalhos pontuais, como, por exemplo, oficinas e cursos para os alunos das escolas
de educação básica, bem como propostas de intervenções interessantes para serem
desenvolvidas nos estágios curriculares, junto aos docentes responsáveis pelas
turmas.
As histórias em quadrinhos4 vão ao encontro de tais propostas de atividade, já
que o graduando pode desenvolver projetos envolvendo a construção de gibiteca ou
de uma sessão de leitura na biblioteca da instituição escolar, além das oficinas de
prática de roteiro, desenho, colorização e produção de revistas. Atualmente,
diversas escolas possuem máquinas de fotocópias ou scaners, situação que
viabiliza a diagramação, a produção, a impressão e a distribuição de revistas
realizadas juntamente com os alunos, bem como a valorização das práticas sociais
de autoria!
3 O Parecer CNE/CP 21/2001 aprovado em 06/08/2001, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica em nível superior – Cursos de Licenciatura Plena – considera o Estágio Supervisionado de Ensino como componente curricular obrigatório integrado à proposta pedagógica, devendo ser uma atribuição intrinsecamente articulada com a Prática de Ensino e com as atividades de trabalho acadêmico. 4 Surgida há cerca de cem anos, a história em quadrinhos (HQ), assim como o cinema, é uma forma de expressão tecnológica típica da indústria cultural (CALAZANS, 2004, p.7).
4
O acesso à informática propicia ao graduando propor a produção de blogs,
fotologs ou páginas pessoais em sítios na Internet, para a divulgação do material
produzido pelos alunos. Essa prática, na sua maioria publicada em espaços
gratuitos, propicia a possibilidade de divulgar, para qualquer parte do mundo, o
trabalho realizado nessas oficinas. É uma possibilidade inovadora e muitas vezes
inédita para os alunos, uma vez que o aprendizado é hermético nas escolas de
educação básica, sem a divulgação de seus aprendizados para outras comunidades.
Neste contexto, no decorrer da realização do estágio curricular, o graduando
acaba por adquirir um material rico para suas futuras pesquisas. No caso dos
quadrinhos, são inúmeros os campos de análise, tais como: expressão artística,
análise de discurso, construção de personagens e sua ideologia, interações entre a
linguagem verbal e não-verbal e a própria mídia como recurso pedagógico, os quais
podem se configurar em temas de estudos futuros na formação continuada do
professor.
Parte da construção da identidade docente é decorrente de seu repertório de
representações do que é ser um bom ou mau professor, perfil este que vai se
construindo ao longo de suas experiências e superações de concepções acerca do
conhecimento, do ensino, do aluno, da função da escola, da função do professor,
enfim, do que é ser professor nos dias atuais.
Essa busca constante pelo conhecimento – a curiosidade epistemológica,
como defende Paulo Freire – e como o professor possibilita a construção dos
conhecimentos são condições fundamentais as quais definem o que concebemos
como a imagem de um bom professor, que inspira a reflexão acerca da obra/do
projeto que o educando quer construir na vida. Segundo Freire (1996, p. 39), “por
isso é que, na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o
da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de
ontem que se pode melhorar a próxima prática”.
Evidenciam-se discursos nos quais se defende que o professor deve formar
profissionais, como se a formação do profissional fosse dissociável da formação
pessoal. Tal crença desconsidera que a vida pessoal e profissional são instâncias
complementares e direcionam todo o percurso de um sujeito que se constrói nas
relações humanas.
Gadotti (2003) igualmente defende que “o novo profissional da educação
precisa perguntar-se: por que aprender, para quê, contra quê, contra quem, uma vez
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que o processo de aprendizagem não é neutro”. Em outras palavras, para o referido
autor, “o importante é aprender a pensar, a pensar a realidade e não pensar
pensamentos já pensados. Mas a função do educador não acaba aí: é preciso
pronunciar-se sobre essa realidade que deve ser não apenas pensada, mas
transformada.” Para este perfil de docente, os quadrinhos 5 tornam-se uma
ferramenta eficaz no processo de ensino e de aprendizagem em termos
diferenciados e qualitativos.
Na busca constante de desafio no trabalho com histórias em quadrinhos,
torna-se necessário que o professor tenha a competência de orientar acerca dos
elementos constitutivos dessa mídia, como o desenho, o acabamento com tintas
nanquim, acrílica, pincéis, bico de pena, grafite, papéis coloridos, perspectiva,
anatomia e estilização do traçado, entre outros aspectos, bem como saber promover
suspense no roteiro de uma HQ, que, segundo Calazans (2004, p. 18), “faz com que
o leitor queira continuar a leitura”.
Além dessas competências e habilidades, é necessário, ainda, o domínio da
narrativa gráfica, a inserção do balão como elemento de intersecção entre palavra e
imagem e dos quadros que se estabelecem como divisores temporais dentro da
história. Cabe, também, ao professor, orientar o sentido da leitura de uma página de
história em quadrinhos, propor ao aluno relacionar sons e efeitos por meio das
onomatopéias, bem como fazer com que o aprendiz entenda o design de uma
revista de história em quadrinhos nos seguintes aspectos: logotipo, tipografia,
dimensões de uma revista, montagem de uma edição e como ela pode ser
disponibilizada na Internet. São competências que podem ser aprendidas na
produção de histórias em quadrinhos, em cursos de especialização ou em contato
com profissionais da área, na medida em que as HQs podem ser utilizadas em todos
os níveis de aprendizado, desde a alfabetização até o ensino universitário
(CALAZANS, 2004), proposição esta que nos dá subsídios para a reflexão lançada
no título do presente artigo.
Outras competências e saberes profissionais se expressam em duas
situações: na produção de histórias ou no processo de criação de linguagem não-
verbal. Os quadrinhos, como fonte de pesquisa histórica, podem ser considerados
5 Embora seja subestimada devido a preconceitos academicistas, “ela [a HQ] permite que seus autores expressem questões científicas, filosóficas e artísticas sem patrulhamentos e, por ser também uma forma de entretenimento e lazer, não encontra resistência por parte de alunos; é uma linguagem de fácil compreensão pelos leitores” (CALAZANS, 2004, p. 7).
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ferramentas de pouca confiabilidade, na medida em que a história em quadrinhos
ganha forma em sua ficção, na criação de traços e desenhos e na caracterização de
personagens. Nesses casos, podem-se relacionar os quadrinhos com outras fontes
que isentam a criação, como as enciclopédias. Por outro lado, considerando-se o
fato de os quadrinhos pertencerem à categoria da mídia impressa, sendo similares
aos livros, Calazans (2004, p. 10) defende que “o manuseio e o contato constante
com esse tipo de suporte cria um hábito e uma intimidade que podem ser
gradualmente transferidos para os livros.” De acordo com o mesmo autor
(CALAZANS, 2004, p. 11), “as HQs unem artes plásticas e literatura; aquelas cuja
produção, roteiro e desenho tiveram uma pesquisa bem detalhada e séria podem ser
tão ou mais úteis que um filme ou documentário”.
Neste aspecto, outro cuidado que o docente precisa ter é com os quadrinhos
literários, ou adaptações literárias em quadrinhos. Muitos editores trabalham com a
possibilidade de os quadrinhos facilitarem a leitura do aluno em detrimento da leitura
da obra original, com texto em linguagem verbal. Tal situação é discutível, pois a
produção de uma adaptação literária para quadrinhos envolve um estudo de época
por parte do autor de quadrinhos, além da necessidade do roteirista saber adaptar o
texto integral da obra, assim como o exercício da sensibilidade no momento de
resumir a obra para a adaptação. O docente precisa ter o conhecimento prévio em
relação aos signos e ícones que o quadrinista utiliza para interpretar determinados
personagens ou elementos históricos. O trabalho de diálogos, a anatomia expressiva,
o uso dos balões e requadros e a colorização são itens que facilitarão a leitura dessa
adaptação em algo irreconhecível, sem remeter a obra original. Nesses casos, é
preciso considerar que os quadrinhos não têm como função facilitar a leitura, mas
oferecer um novo processo de leitura, no qual apresenta um equilíbrio entre suas
linguagens, proporcionando sentido e significado ao leitor por meio de sua leitura
integral. Assim, os quadrinhos devem ser considerados como uma releitura de uma
obra literária consagrada em outra linguagem e não como guia ilustrado de
conteúdos dos clássicos da literatura.
A história em quadrinhos pode se relacionar com conteúdos curriculares, não
sendo uma fonte autônoma. A natureza desta mídia possibilita uma abordagem
interdisciplinar, cuja ferramenta da história em quadrinhos pode ser utilizada, por
exemplo, em aulas de Matemática, como se propõe (SMOLE, 2001, p.63):
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Outro tipo de texto que podemos propor para os alunos em aulas de matemática é a história em quadrinhos. Seja porque constitui uma das variedades mais difundidas de texto entre crianças, ou por mesclar harmonicamente recursos lingüísticos e pictóricos, buscando a participação ativa do leitor por via assistemática, anedótica, emocional, a história em quadrinhos exerce um fascínio sobre os alunos e costuma ser um dos recursos de escrita nas aulas de matemática pelo qual eles podem expressar-se com bastante interesse e certa facilidade.
Calazans (2004, p. 10) reforça a pertinência do uso da HQ na sala de aula
quando nos apresenta os resultados de uma pesquisa, nos termos que se seguem:
“segundo um artigo de Serpa e Alencar sobre HQ em sala de aula, publicado em
1988 na revista Nova Escola, ficou confirmado, após uma pesquisa sobre hábitos de
leitura dos alunos, que 100% deles (ou seja, todos os alunos) gostavam mais de ler
quadrinhos do que qualquer outro tipo de publicação”. Neste contexto, o autor afirma
que tal pesquisa endossa o que os professores conhecem na prática em sala de
aula: “as HQs seduzem os leitores, proporcionando uma leitura prazerosa e
espontânea.”
Podemos igualmente constatar a abordagem interdisciplinar dos conteúdos se
considerarmos o grupo de fatores necessários para a realização de uma história em
quadrinhos, sem falar que em muitos momentos os quadrinhos lidam com o humor,
a fantasia, a criação e a ficção, elementos que nos remetem ao espaço lúdico e
interativo do processo de ensino e de aprendizagem em sala de aula. Quando
tratamos da produção de material, o aprendizado acerca das histórias em
quadrinhos torna-se relevante, uma vez que o aluno é chamado a exercitar a sua
capacidade de criação, de desenvolvimento de idéias e de representação gráfica,
momento em que se expressa e se revela no seu saber-fazer autônomo e singular.
Em síntese, vale ressaltar que na utilização das histórias em quadrinhos como
recurso didático-pedagógico em sala de aula, “cabe ao professor estudar
atentamente o material quadrinizado disponível e improvisar [intencionalmente!] o
emprego das revistas em seus objetivos didáticos e na proposta pedagógica da
escola” (CALAZANS, 2004, p.19). Conforme Calazans (2004, p.21), os critérios para
a utilização intencional das HQs em sala de aula devem ser definidos e planejados
pelo próprio professor, a fim de que este possa avaliar qual tipo de HQ será mais útil
para o ensino, com base nos conteúdos e objetivos de ensino e de aprendizagem a
serem perseguidos por cada professor, em seu contexto de atuação.
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Enquanto educadores e arte-educadores urge que atentemos para a não
banalização do uso das HQs, que superemos eventuais lacunas por meio de uma
formação consistente de atuação profissional, bem como persigamos objetivos
coerentes de ensino e de aprendizagem, considerando as histórias em quadrinhos
como recursos didático-pedagógicos em suas aulas e não um fim em si mesmas. Na
medida em que o professor tomar conhecimento dessa ferramenta pedagógica como
possibilidade educativa, a sua compreensão sobre a importância das HQs no
processo educativo e na formação de seres humanos será progressivamente
configurada em termos ético-epistemológicos.
Considerações finais
Não há formação específica em quadrinhos, se analisarmos que são poucas
as instituições de ensino reconhecidas pelo Ministério da Educação (MEC) a
oferecer disciplinas específicas acerca dessa mídia. Não obstante esse quadro há
professores que têm utilizado as histórias em quadrinhos em suas aulas como
ferramenta pedagógica, em cursos de formação de professores. Tal abordagem
pode ser trabalhada em áreas de conhecimento que tratem de diferentes linguagens,
tais como os projetos didáticos, o trabalho com os temas transversais, a arte-
educação, entre outros enfoques e abordagens metodológicas possíveis. Este
cenário nos estimula, enquanto docentes e formadores, a participar do desafio de
criar técnicas ou estratégias em arte seqüencial que possam ser aplicadas em
cursos de formação de professores.
As disciplinas optativas ou eletivas, bem como a oferta de cursos de extensão
ou de pós-graduação lato sensu, são alternativas e espaços fecundos para a
utilização dos quadrinhos por parte dos professores em formação inicial ou
continuada. Há, ainda, cursos de formação de professores em que a estrutura
curricular permite flexibilidade na definição do tema, como em disciplinas como
“tópicos avançados em educação”; “educação e tecnologia”; “múltiplas linguagens
em educação”, dentre outras disciplinas que possibilitam uma formação de
professores sob enfoques e abordagens diferenciados.
Além de formar o professor no conhecimento das histórias em quadrinhos e
na sua correta utilização em sala de aula, o material da gibiteca pode se constituir
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em acervo para pesquisa acadêmica em trabalhos de conclusão de curso (TCC).
Como suporte para tal proposta, é necessário que o acervo bibliográfico da
biblioteca da instituição de ensino superior seja complementado com livros
acadêmicos acerca das pesquisas em histórias em quadrinhos, de modo que o
professor em formação tenha acesso ao aporte teórico-metodológico necessário em
sua formação.
A construção de gibitecas é outro fator que pode ajudar na divulgação e no
desenvolvimento de propostas com as histórias em quadrinhos em sala de aula.
Sabemos que a existência de gibitecas em escolas está mais comumente associada
à educação básica, o que aumenta a resistência desse gênero de leitura em
bibliotecas de instituições de ensino superior, criando-se uma lacuna no repertório
teórico do aluno universitário que se propõe a pesquisar as histórias em quadrinhos.
Neste contexto, se a instituição de ensino superior não possui subsídios de pesquisa,
acaba por limitar a produção de artigos, de trabalhos de conclusão de curso, de
cursos de extensão, entre outras oportunidades de pesquisa acerca das histórias em
quadrinhos. A formação de gibitecas em instituições de ensino superior seria uma
forma de minimizar o estranhamento das histórias em quadrinhos como recurso
didático-pedagógico no universo acadêmico, além de possibilitar espaços de
aprendizagem efetiva por parte de inúmeras crianças que fracassam pela
incompreensão da linguagem verbal e formal de nossos currículos escolares oficiais.
Há um estereótipo de que o universo lúdico – associado ao brincar, ao afetivo,
ao prazer – seja associado apenas ao universo infantil. A sociedade espera que os
adultos tratem de questões objetivas, racionais, desprovidas de alegria. Em outras
palavras, o desafio que se projeta consiste no aprender a ser um professor que
humaniza os processos educativos por meio de sua docência humana, conforme
anuncia Miguel Arroyo.
Finalizamos nossa reflexão ressaltando a importância do estímulo à produção
e à reflexão sobre a utilização das histórias em quadrinhos em sala de aula, por
parte de todos os agentes envolvidos nos processos educativos, nos diferentes
níveis e contextos de atuação. A nosso ver, tal mobilização estará contribuindo para
a formação de novos artistas, novos designers, novos publicitários, novos
quadrinistas e, por que não, novos professores?
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REFERÊNCIAS ARROYO, Miguel G. “A humana docência”. In: ARROYO, Miguel G. Ofício de Mestre : imagens e auto-imagens. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000, pp.50-67. MANUAL DE ESTÁGIOS DAS LICENCIATURAS. São Bernardo do Campo: Faculdade Interação Americana, 2008. FREIRE, Paulo. “Não há docência sem discência”. In: FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996, pp.21-45. – (Coleção Leitura).
GADOTTI, Moacir. Boniteza de um sonho: Ensinar-e-aprender com sentid o. São Paulo, SP: Grubhas, 2003, pp.1-52. Disponível em: http://www.google.com.br/ Acesso em: 17 out. 2003.
HARGREAVES, Andy. “O mal-estar da Modernidade – o pretexto para a mudança”. In: HARGREAVES, Andy. Os professores em tempo de mudança – o trabalho e a cultura dos professores na idade pós-moderna. Portugal: Editora McGraw-Hill, 1994, pp.25-42.
CALAZANS, Flávio Mário de Alcântara. História em quadrinhos na escola . São Paulo: Paulus, 2004. SMOLE, Kátia Stocco. “Textos em Matemática: por que não?”. In: SMOLE, Kátia Stocco; DINIZ, Maria Ignez (orgs.). Ler, escrever e resolver problemas : habilidades básicas para aprender matemática. Porto Alegre: Artmed, 2001, pp.29-68.
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