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CAMBIASSU – EDIÇÃO ELETRÔNICA Revista Científica do Departamento de Comunicação Social da
Universidade Federal do Maranhão - UFMA - ISSN 2176 - 5111 São Luís - MA, Jan/Jun de 2010 - Ano XIX - Nº 6
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“A Ética e a Ilusão da Cobertura em Tempo Real no Jornalismo Online”
CHRISTYANN LIMA CAMPOS BATISTA – É acadêmico do 8º semestre do Curso de Comunicação Social – Jornalismo da Universidade Federal do
Maranhão IZABEL CAROLINE GOMES DE ALMEIDA –É acadêmica do 7º semestre do
Curso de Comunicação Social – Jornalismo da UFMA FRANCISCA ESTER DE SÁ MARQUES - Orientadora. Mestre em
Comunicação e Cultura pela Universidade de Brasília, Doutoranda em Ciências da Comunicação pela Universidade de Lisboa e Professora Assistente pela
Universidade Federal do Maranhão.
Resumo: O presente trabalho aborda os desafios éticos relativos à cobertura “em tempo real”
realizada por sites de notícias. A valorização do imediatismo, superando em importância a
observação e apuração dos fatos, fatores importantes no estabelecimento do contrato de leitura
entre veículo e leitor, que acaba se enfraquecendo.
Palavras - chave: ética, imediatismo, contrato de leitura, noticias
Abstract: The present work shows the ethic challenges related to the “breaking news”
coverage made by news websites. The valorization of immediatism overcomes observation
and investigation of facts, important factors on the reading agreement between press and
reader, which, as a consequence, has been weakening.
Key-words: ethics, immediatism, reading agreement, news
1 Introdução
Os gêneros jornalísticos sofrem alterações em suas definições, dependendo de sua
localização geográfica, cultural e histórica. O jornalista e pesquisador José Marques de Melo é
uma referência quando tratamos da definição de gêneros jornalísticos no Brasil. Para ele, não
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temos o jornalismo digital como um gênero destacável dentre a sua classificação: jornalismo
informativo e opinativo.
Entretanto, outros autores não compartilham da mesma idéia. Seixas (2003), ao fazer
uma longa discussão sobre a terminologia de jornalismo digital pretende situar este tipo de
transmissão midiática como gênero jornalístico. Segundo a autora, as categorias definidoras
das mídias digitais (interação, recepção, contrato social, linguagem, tempo, formato, suporte e
mídia), indicam relações que poderiam ser feitas entre as características das mídias digitais e
dimensões interdiscursivas, ao mesmo tempo em que mostram os aspectos indicados por
algumas das mais importantes classificações de gêneros jornalísticos.
Barbosa (2003) acredita ser possível a definição de jornalismo digital como uma nova
categoria do jornalismo. Segundo a autora, embora notícias com atualização contínua e em
fluxo estejam presentes nos mais diversos sítios é no portal que esse modelo se consolida,
principalmente em virtude dos investimentos feitos para a construção das redações
específicas.
Os jornalistas que trabalham nesta área diferem de outros seus colegas de profissão no
sentido em que usam as características particulares da Internet no seu trabalho diário:
multimídia, interatividade e hipertexto. O webjornalista tem, consequentemente, de tomar
decisões sobre qual o formato ou formatos de media que melhor se adaptam a uma
determinada estória, de considerar opções que permitam ao público responder, interagir ou
mesmo personalizar certas estórias (interatividade), e pensar nas maneiras de relacionar a
estória com outras estórias, arquivos, e outros recursos através de hiperligações (hipertexto).
Esta é a ‘ideal-típica’ forma de jornalismo online, tal como professada por um número
crescente de profissionais e acadêmicos de todo o mundo. Ao fazê-lo, ambos usam o discurso
das características únicas da Internet de modo a definir o ciberjornalismo como algo de
diferente de outros jornalismos, como um ‘quarto’ gênero de jornalismo, próximo da
imprensa, rádio e televisão (DEUZE, 2003).
Porém, não podemos sobremaneira definir puramente o jornalismo digital como um
gênero novo, definido e claro. Em muitas situações percebemos que o discurso jornalístico
on-line é o mesmo discurso utilizado em versões impressas de veículos que possuem versões
na internet. Não há parâmetros claros de linguagem definida, ou de modos de produção. O
simples fato de o texto on-line ser menor, mais direto e menos cansativo não nos dá condições
de situá-lo como um novo gênero jornalístico. Como afirma Alves (2006) o modelo dos
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jornais diários foi naturalmente adotado como metáfora para a organização e apresentação dos
conteúdos no novo ambiente gráfico da Internet, um meio ainda precário e com
predominância de texto.
Antes mesmo de discutir gêneros jornalísticos, ainda é muito difícil encontrar
definições claras de jornalismo digital e suas variadas vertentes. Adotamos o conceito de Pena
(2005), quando aponta que o “jornalismo digital, pode ser precariamente definido como a
disponibilização de informações jornalísticas em ambiente virtual, o ciberespaço, organizadas
de forma hipertextual com potencial multimidiático e interativo”.
No Brasil, é comum utilizar-se duas terminologias para definir este campo:
“jornalismo on-line” ou “jornalismo digital”. Mielniczuk (2003) mostra em quadro-resumo as
principais definições de nomenclaturas sobre práticas de produção e disseminação de
informação no jornalismo contemporâneo:
• Jornalismo eletrônico: utiliza equipamentos e recursos eletrônicos;
• Jornalismo digital ou jornalismo multimídia: emprega tecnologia digital, todo e
qualquer procedimento jornalístico que implica no tratamento de dados na forma de
bits;
• Ciberjornalismo: envolve tecnologias que utilizam o ciberespaço;
• Jornalismo on-line: é desenvolvido utilizando tecnologias de transmissão de dados em
rede e em tempo real;
• Webjornalismo: diz respeito à utilização de uma parte específica da Internet, que é a
web.
Percebemos nestas definições que existe certa hierarquia na abrangência dessas
práticas. Temos o jornalismo digital como a maior esfera, um grande grupo que engloba os
demais. É também perceptível que as rotinas de produção da informação estão se tornando
calibradamente guiadas por valores notícia ligados ao imediatismo.
Atualmente, percebemos como tendência crescente a especialização do jornalismo em
ambientes virtuais. Blogs, site, portais, relacionamento pessoal... Existe uma gama de suportes
on-line que se diferenciam em linguagem, modos e meios de produção e utilização.
Tanto, que é crescente e popular a idéia de um jornalismo em tempo real na internet.
Com o intuito de ter ou pertencer o título de “primeiro a dar a notícia” os sites de jornalismo
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tem dedicado extensa parte de sua produção para critérios de noticiabilidade que se
relacionam com a brevidade e a novidade.
Portanto, levantamos como tese principal deste artigo, não só a descrição da ilusão da
transmissão de notícias em tempo real, como também uma pesquisa que pretende delimitar se
há detrimento da ética da informação por conta de rotinas de produção que podem levam o
profissional ao ritmo de trabalho desgastante e imediato.
2 Jornalismo digital no Brasil: a ilusão do tempo real.
A história dos media sempre propôs a cada novo veículo que se inventava, uma série
de novas significações: será que o antigo veículo desaparecerá? Será este o mais rápido? Será
este capaz de suprir de maneira significativa a “necessidade” do público pela brevidade?
Assim foi com rádio, que em sua origem se propôs a ser o veículo mais imediato que
até então surgira. Logo veio a TV e em seguida a internet que também se propôs a realizar
esta tarefa. Popularizaram-se os portais que tem áreas destacadas apenas para a atualização
em “tempo real”. Podemos destacar neste seguimento os populares “Em cima da hora” da
Folha Online (Folha de São Paulo) e o “Ultimo Segundo” do Portal Ig. Este formato é
resultado de um processo histórico que forneceu o suporte tecnológico para tal realização.
Destacado ou não como uma categoria ou gênero jornalístico temos 3 formas
principais de delimitar o jornalismo digital: (1) divisão por editorias ou canais – categoria
com mais recursos agregados como áudio e vídeos, a construção dos textos é mais elaborada;
(2) alteração no conceito e formato da notícia e o (3) hard news, ou seja, notícias em tempo
real que mudam a rotina das redação (BARBOSA, 2003). Esta ultima forma é similar ao
formato breaking news das emissoras de TV que transmitem notícias 24 horas (CNN, Globo
News, Record News e Band News, como exemplo).
Para Mielniczuc (2003), o formato últimas notícias, também chamado de breaking
news sempre é anunciado na primeira tela. É composto de informações em formato de notas
que são disponibilizados de maneira imediata, explorando a possibilidade de atualização
contínua. Geralmente, o índice é composto pelo título da notícia e pela hora de postagem das
mesmas. Quando se clica, lê a notícia em formato de “pílula”, em poucas linhas. Este formato
que vemos hoje é o resultado da própria possibilidade aberta pela tecnologia e pelo formato
que esse suporte alcançou.
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É possível identificar-se três fases distintas na ultima década de desenvolvimento da
internet: (1) modelo transpositivo, ou seja, os produtos oferecidos, em sua maioria, eram
reproduções de partes dos grandes jornais impressos, que passavam a ocupar o espaço na
Internet; (2) modelo da metáfora (perceptivo)
- quando, mesmo ‘atrelado’ ao modelo do jornal
impresso, os produtos começam a apresentar experiências na tentativa de explorar as
características oferecidas pela rede e (3) modelo hipermidiático - surgimento de iniciativas
tanto empresariais quanto editoriais destinadas exclusivamente à Internet. São sites
jornalísticos que extrapolam a idéia de uma versão para a Web de um jornal impresso,
constituindo, assim, o webjornalismo (PALACIOS et. al., S/D).
Foi, entretanto, na segunda fase onde existem as transposições de conteúdos impressos
para a web, que surgiu o formato para preencher o espaço entre as edições (chamadas de
"Plantão" ou "Últimas Notícias"). Aqui, vemos a utilização de ferramentas pelos jornalistas,
como o e-mail, para que essa atualização fosse a mais contínua e breve possível.
Neste contexto, desprezou-se nesta construção histórica a própria percepção de tempo,
que não permite em momento algum a afirmação de “jornalismo em tempo real”. Existe um
processo, uma rotina, um procedimento que não pode ser mais imediato que a notícia.
Ao apurar um fato, o profissional se depara com a situação que expressamente é
inerente ao seu trabalho. A observação do fato, a consulta das diversas fontes, a coleta de
informação, a preparação da notícia... Enfim, uma série de procedimentos que precisam ser
minimamente superados para que a notícia possa integrar o plantão de notícias.
Portanto, é errônea a assertiva que temos um literal jornalismo em tempo real.
Tomamos para tal justificativa, a afirmação de Pena (2005) quando não só comenta a
infestação de sites imediatos como o anonimato dos diversos produtores que não nos levam a
uma identidade na informação:
“Uma das conseqüências dessas fantasias de produção da identidade é a crença de que qualquer um pode ser mediador com a mesma eficiência e preparo. Nesse caso, não haverá, por exemplo, a necessidade de jornalistas, idéia abordada por alguns teóricos, entre eles Pierre Lévy, que, no livro Cibercultura, pergunta: seria ainda necessário, para se manter atualizado, recorrer a esses especialistas da redução ao menor denominador comum que são os jornalistas clássicos?” (PENA, 2008, p.181).
Ao estudar as características do jornalismo desenvolvido para a Web, Bardoel e Deuze
(2000), apontam os elementos: interatividade, customização de conteúdo, hipertextualidade e
multimidialidade, como parte deste processo. De forma semelhante, Palacios (1999)
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estabelece cinco características que são a multimidialidade/convergência, a interatividade, a
hipertextualidade, a personalização e memória.
Nem todas essas características estão presentes no dito jornalismo em tempo real.
Temos um quadro de combinações e reorganizações que permitem a visualização de forma
resumida. Em termos gerais, a notícia é resumida num texto curto que raramente possui outros
suportes (vídeos, imagens, áudio).
Silva Junior (2003) ao trabalhar com a temática de repetição dos conteúdos no
jornalismo transposto à internet se deparou com uma realidade interessante. O autor relata que
a prática jornalística não é muito heterogênea. Há uma repetição dos conteúdos, isto
constatado no estudo de três grandes sites de notícias no Brasil. Desta forma, segundo o autor,
ocorre uma repetição dos conteúdos de forma sistemática, o que leva à uma pobreza no
discurso jornalístico.
Afirmativas como esta, do autor supracitado, nos levam a questionar certos problemas
que podem afligir o jornalismo de internet no formato que é praticado no Brasil. Um desses
problemas, que por vezes foi inserido nesta discussão, é sobre a ética neste tipo de formato.
Tendo como referencial a realidade de que o “jornalismo em tempo real” inexiste numa
perspectiva conceitual e prática, como então analisar do ponto de vista ético, os conteúdos que
tais veículos nos transmitem em função de um imediatismo extremo.
4 Universo de pesquisa: Metodologia
Para tentar responder as questões que aqui foram elencadas, decidimos analisar,
durante uma semana, os conteúdos de dois portais de grande acesso quando tratamos de
cobertura em tempo real. A coluna/editoria “Em cima da hora” do jornal Folha de S. Paulo
(Folha Online) e o “Ultimo Segundo” do portal Ig.
Nesta análise, pontuamos de forma sistemática, alguns conceitos que foram abordados
por alguns estudiosos da área de jornalismo digital e de ética da informação. Pretendemos,
destarte, destacar rotinas de constrangimento do jornalista que podem levar à ausência do
aspecto ético da informação.
5 A ética da informação nas rotinas de produção do jornalismo digital
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O discurso jornalístico surge como uma forma de transformação das ocorrências
cotidianas em notícias. Necessita e percorre um caminho que pauta a sua organização em
rotinas que são inerentes ao próprio processo de produção da notícia. “Os jornalistas
produzem discursos, como o pintor pinta telas, o músico compõe músicas e o arquiteto projeta
edifícios” (RODRIGUES, 1997, p.217).
Transformar esses acontecimentos exige certo padrão processual de trabalho e
fundamentação técnica. Seja na referencialidade, onde o discurso se baseia numa realidade
pautada concretamente, seja na opinião onde o mesmo se distancia desse universo, o discurso
jornalístico permeia campos de produção que o torna um elemento fundamentador das
discussões na esfera pública dos diversos campos sociais.
A internet, assim como as novas mídias, pretende ser uma nova esfera pública, mais
democrática e mais participativa. Neste novo processo de ressignificação, esta ferramenta nos
dá a impressão de que pode ser completa. Pode ser um campo onde o universo de hipertextos
é infinito, onde o discurso encontra sua forma plural e participativa. Mais do que isso, a
internet se propõe a ser mais “enxuta”, mais limpa e adaptada às necessidades dos
‘ciberconsumidores’.
Nessa perspectiva, os grandes sites de notícias ou até mesmo os portais de
entretenimento apostaram em propostas que destacaram a simplicidade narrativa como um
atrativo para o público. Usam o estereótipo “tempo real” como se a brevidade iminente de
produção jornalística fosse possível em tal precisão temporal a que se propõem. Esta busca,
como já exposto, se torna inacessível, visto que o processo de produção da notícia necessita
de um tempo de elaboração mínima, tal qual o é em qualquer jornal impresso ou televisivo.
A Internet, espaço privilegiado para a afirmação do ciberjornalismo, não abarca
apenas todas as capacidades dos media tradicionais (texto, imagens, gráficos, animação,
áudio, vídeo, distribuição em tempo real), como oferece novas capacidades, incluindo
interatividade, acesso on-demand, controle por parte do utilizador e personalização.
Utilizando estas potencialidades, os ciberjornalistas podem construir narrativas utilizando as
modalidades e formas de comunicação que mais se adequarem a cada estória em particular
(PAVLIK, 2001).
Sob esta ótica primária, observou-se a dinâmica dos sites de notícias mais visitados
aos quais propomos análise. Tentaremos, todavia, elencar as características relevantes, a
forma e o conteúdo dos (hiper)textos que tais sites contém.
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Na primeira página dos portais (www.folha.uol.com.br e www.ig.com.br), já é
possível observar a chamada dos sites. O “Em cima da hora”, localizado logo acima das
principais manchetes, apresenta um resumo das notícias mais recentes em forma dinâmica,
renovando os títulos num tempo de aproximadamente quatro segundos. Aqui, este espaço
também é usado para publicidade; No segundo portal, os links para a coluna tempo real
aparecem nos menus laterais (como primeira opção na área de notícias) e abaixo das
manchetes principais.
Acessando estas áreas podemos observar as transformações profundas de formato e
conteúdo: na coluna da Folha, logo abaixo das notícias mais acessadas que tem destaque,
aparecem as tradicionais chamadas das matérias (nome da editoria, hora exata da postagem da
matéria e título resumido); o formato segue até o fim da página e não há uma periodicidade
temporal (em minutos) das postagens, porém observamos que os intervalos não superam os 10
minutos. No “Ultimo Segundo” há uma diferenciação dos conceitos usuais de tempo real: o
seguimento já se transforma em portal independente, com diversas áreas temáticas e colunas
próprias. Diferentemente do site anterior, aqui há espaço para diversos outros suportes além
da inserção de blogs, outros sites, procura, vídeos, entre outros.
Quando se entra na notícia específica do “Em cima da hora”, o internauta é
direcionado para a própria matéria que foi lançada na editoria do site principal. Observamos
que os textos desta coluna não são independentes do site, sendo que é colocado no seguimento
tempo real apenas o link da matéria que é postada nas diversas editorias da Folha Online
(Mundo, Brasil, Ilustrada, Ambiente, Cotidiano e etc.). Ao se debruçar apenas no ramo
‘últimas notícias’ do “Ultimo Segundo”, temos uma lista composta por título da matéria, hora
exata da postagem e subtítulo. O portal se utiliza apenas de uma seleção das principais
agencias de notícias (AFP, Reuters, EFE e etc).
Os textos também se diferenciam. Enquanto o “Em cima da hora” ou a própria Folha
Online constrói as notícias em textos que tem entre cinco a dez parágrafos (de média de cinco
linhas) o “Ultimo Segundo” apenas se utiliza de trechos muito reduzidos da notícia, chegando
a poucas linhas, ou até mesmo nenhuma, resumindo-se apenas ao título e ao subtítulo
linkando-se apenas a um texto de uma ou duas linhas.
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Imagem do site “Último Segundo” no seguimento Ultimas Noticias do dia 29/06/2009, demonstrando o formato do site.
Imagem do site “Folha Online” no seguimento Em cima da hora do dia 29/06/2009, demonstrando o formato do site.
A observação dos sites nos deu subsídios para algumas prerrogativas que nos levam a
afirmar que, mesmo em não havendo ausência da ética, por conta do imediatismo, os
conteúdos não são completos e não se formatam como independentes. Vejamos como
exemplo, o Ultimo Segundo, que não formata sua própria notícia, se dá apenas ao trabalho de
resumir o resumido proposto pelas agências de notícias, e a Folha Online que utiliza do
artifício do “Em cima da hora” reportando-se a notícias que são colocadas nas próprias
colunas dos sites, servindo apenas como um chamamento à brevidade, sendo indicativo ao
horários das postagens e não a conteúdos específicos.
A internet, mesmo com sua grande popularidade, tem perdido confiabilidade e
credibilidade por diversos motivos, dentre os quais podemos destacar o livre acesso, a
possibilidade plural da construção dos conteúdos, a própria falta de controle e o excesso de
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“CTRL+C CTRL+V”, o famoso copiar e colar. Muitas vezes, precisamos esperar e ver o
discurso sendo repetido para confirmar tal notícia.
Diretamente, por se constituir em uma esfera pública renovada e ampla, que dá voz ao
diversos participantes, observamos que não há faltas graves de ética no período de
observação. Mas pela própria forma como os sites se reportam ao leitor, numa espécie de
‘ludibrialização’ ou maquiagem do conteúdo, podemos observar que não há um respeito total
a qualquer tipo de regra ética ou deontológica do exercício jornalístico.
6 Os constrangimentos profissionais nas rotinas de produção do jornalismo digital
Na perspectiva de Daniel Cornu (1996) observamos que são eleitas como categorias da
ética que foram transpostas para o jornalismo digital, sendo a principal delas a “ética
descritiva”. Outra ética citada pelo autor que pode ser englobada nesta discussão é a ética
reflexiva, ou seja, pensar no próprio processo de produção no jornalismo digital. O acesso
plural destituiu o antes concreto contrato de leitura, ou seja, o compromisso firmado entre o
jornalista e o leitor que garante confiabilidade e credibilidade à informação transmitida.
Enxergar a quebra do contrato de leitura no jornalismo online é uma atividade
complexa. Nessa categoria, vemos mais imperiosa a ação das pressões e dos constrangimentos
de produção. Isso não serve como justificativa para falhas éticas no jornalismo digital, caso
ocorram. Cabe mais pensar e estudar mais esse meio de difusão. Como pautá-lo mais na
realidade e como dosar exatamente velocidade e ética. Afinal, a apreciação pública dos média
não é passiva.
O jornalista, então, deve ser visto também como um ser dotado de subjetividade, um
produtor plural, pois a “responsabilidade gera conflitos internos e múltiplos: entre os diversos
poderes implicados pelo conteúdo, entre as diferentes obrigações para com terceiros e entre os
deveres e obrigações” do próprio jornalista (CORNU, 1996, p.11). Esta obrigação de
“produzir verdade” não pode ser quebrada, tanto do ponto de vista ética como do ponto de
vista deontológico. A informação, independente de forças internas e externas tem que ser um
produto ético, situação esta que fica cada vez mais difícil sob o imperativo da velocidade.
Na análise proposta, a própria rotina e a forma de produção do conteúdo na web se
justificam em práticas que são inerentes à produção jornalística. A pressa, a correria, a falta de
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tempo, os múltiplos conteúdos se fundem numa concepção dialética que funda uma cultura
dos jornalistas, onde certas práticas são comuns e rotineiras.
Além da própria construção midiática a notícia também é muito volátil. Segundo Park
(1940), as notícias são dotadas de um caráter efêmero e de qualidade transitória. Este fato é
citado como o “presente ilusório”, ou seja, de tão rápidas e instantâneas, as notícias estão se
tornando perecíveis que o mundo moderno parece ter perdido sua perspectiva histórica.
O jornalismo online está promovendo mudanças nos hábitos da população brasileira.
Ele é uma das fontes primárias e mais baratas de acesso às informações pelo cidadão. Os
números comprovam a mudança no comportamento dos receptores no trato com a nova mídia.
Um dos mais acessados portais informativos no Brasil atinge diariamente cerca de 2 milhões
de pessoas, número elevado, se comparado à tiragem dos principais jornais do país (LIMA,
2005).
Ao constatar essa realidade, é que nos deparamos com constrangimentos aos quais os
profissionais são cada vez mais e mais fortemente submetidos. Se com a tiragem diária dos
jornais, os jornalistas já se deparavam com rotinas limitadoras do ponto de vista ético, com a
brevidade ‘minuto-a-minuto’ essas rotinas se tornam mais evidentes. Segundo Cornu (1996),
o enquadramento jurídico da empresa, a prática jornalística como uma profissão liberal, as
forças múltiplas de pressão, jornalistas como integrante de redes sociais, o jornalista como
ser subjetivo e as condições imperiosas da velocidade tornam e vão tornar mais ainda o
discurso jornalístico dotado cada vez mais de perigos para as faltas éticas. Com isso, o freio
das regras profissionais parece inoperante, sob efeito acelerador da concorrência.
Com o advento das redes telemáticas e o desenvolvimento do jornalismo em outras
plataformas, mudanças drásticas afetaram as rotinas produtivas, alterando sensivelmente o
perfil dos profissionais envolvidos e gerando novos desafios para a prática diária de produzir
e distribuir notícias. A descentralização dos bancos de dados, a predominância da velocidade
sobre a correção e a precisão, a disseminação dos mecanismos para interatividade e a
convergência das mídias, tudo isso (e mais) trouxe à tona novas e velhas preocupações com a
ética. Como lidar com as fontes de informação em situações não-presenciais, quase sempre
mediadas ou assistidas por computador? Como desviar-se do anonimato e da falsa identidade
de algumas fontes? De que forma devem ser compreendidas e encaradas a privacidade, a
verificação das informações e a confiabilidade dos dados obtidos? Existe uma ética específica
para jornalistas que trabalham em blogs e portais? (CHRISTOFOLETTI, 2008).
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Todas estas questões podem estar longe de um seguimento final de observação, porque
afinal, a construção deste espaço como um novo campo de difusão do campo midiático não é
novo, mas está em uma construção e transformação diária, o que nos leva a um quadro
indefinido em uma realidade espaço-temporal. Tanto que na construção desta análise,
deixamos claro o lapso temporal de análise a que se propôs este artigo.
Os meios tecnológicos digitais representam uma nova etapa do jornalismo, um novo
meio, um novo suporte, mas não uma ruptura na maneira de criar e comunicar os conteúdos
do pensamento. A possibilidade de acesso aos jornais recentes e antigos, bem como a
arquivos primários de informação, modifica o patamar da comunicação cuja característica
passa a ser a acessibilidade aos conhecimentos e aponta para o potencial de informação sobre
sociedade (ARNT, 2002).
É plausível a afirmativa de que esse meio nos trouxe inúmeras vantagens, abriu novas
possibilidades de comunicação. Mas não é coerente que apenas as vontades e o poder do
empresariado prevaleçam fortalecidos pelo interesse público (ou este usado como justificativa
de práticas midiáticas indefinidas do ponto de vista ético). É necessário construir um veículo
democrático e verdadeiro, para exaurir dele toda a possibilidade de deturpação ética que possa
vir acometê-lo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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