14
1 A Escola Normal no Continente: modelos de formação de professores no Canadá, Colômbia e Brasil estudos comparados. José Rubens Lima Jardilino PPGE UNINOVE Financiamento: PPGE/Uninove, RUDECOLOMBIA/ Université Laval Introdução A presente pesquisa está sendo realizada num de estágio de pós- doutoramento, na Faculté des Sciences de l´Education, Université Laval, Québec, Canadá, e desenvolvido junto ao Centre Interuniversitaire d´Etudes Quebecoises CIEQ e no Grupo de Estudos sobre Educação na América Latina da Sociedade de Historia da Educação Latinoamericana - SHELA. Portanto as considerações aqui apresentadas são preliminares e provenientes de uma discussão interinstitucional com a linha de investigação do GRUPHIS , grupo de pesquisa associado ao Programa de Pós-Graduação em Educação PPGE/ UNINOVE, que alimentaram a proposta dessa investigação já há alguns anos. O grupo tem uma trajetória de pesquisa sobre Instituições 1 Escolares e Formação de Professores no Brasil e na Colômbia, que indica uma caminhada de cerca de 10 anos, expressa em produção de livros e artigos sobre os resultados das investigações. Grupo de Pesquisa História e Teoria da Profissão Docente. 1 Ester Buffa e Paolo Nosella desenvolveram, no âmbito da UFSCar, apoiados pelo CNPq, pesquisas de três significativas instituições escolares de São Carlos: a Escola Normal (1911-33), a Escola Profissional (1932-71) e a Escola de Engenharia de São Carlos, USP (1948-71) - todos esses estudos foram publicados pela EDUFSCar com apoio financeiro da FAPESP (cf. bibliografia); Jardilino, JRL e Carlos Bauer realizaram pesquisas sobre formação de professores, apresentando relatórios na ANPED. Ação docente e educação não excludente: o discurso de transformação e a prática docente de professores da escola pública municipal da cidade de São Paulo - relatório de pesquisa. (2001-2003); Um olhar sobre os cursos de licenciatura e a sua prática na formação docente(2003-2004); Formação de Professores: Da escola Normal ao Normal Superior (2004-2006)

A Escola Normal No Continente

Embed Size (px)

DESCRIPTION

escola francesa

Citation preview

1

A Escola Normal no Continente: modelos de formação de professores no

Canadá, Colômbia e Brasil – estudos comparados.

José Rubens Lima Jardilino

PPGE – UNINOVE

Financiamento:

PPGE/Uninove, RUDECOLOMBIA/ Université Laval

Introdução

A presente pesquisa está sendo realizada num de estágio de pós-

doutoramento, na Faculté des Sciences de l´Education, Université Laval,

Québec, Canadá, e desenvolvido junto ao Centre Interuniversitaire d´Etudes

Quebecoises – CIEQ e no Grupo de Estudos sobre Educação na América

Latina da Sociedade de Historia da Educação Latinoamericana - SHELA.

Portanto as considerações aqui apresentadas são preliminares e provenientes

de uma discussão interinstitucional com a linha de investigação do GRUPHIS ,

grupo de pesquisa associado ao Programa de Pós-Graduação em Educação –

PPGE/ UNINOVE, que alimentaram a proposta dessa investigação já há alguns

anos. O grupo tem uma trajetória de pesquisa sobre Instituições1 Escolares e

Formação de Professores no Brasil e na Colômbia, que indica uma caminhada

de cerca de 10 anos, expressa em produção de livros e artigos sobre os

resultados das investigações.

Grupo de Pesquisa História e Teoria da Profissão Docente.

1 Ester Buffa e Paolo Nosella desenvolveram, no âmbito da UFSCar, apoiados pelo CNPq, pesquisas de

três significativas instituições escolares de São Carlos: a Escola Normal (1911-33), a Escola Profissional

(1932-71) e a Escola de Engenharia de São Carlos, USP (1948-71) - todos esses estudos foram

publicados pela EDUFSCar com apoio financeiro da FAPESP (cf. bibliografia); Jardilino, JRL e Carlos

Bauer realizaram pesquisas sobre formação de professores, apresentando relatórios na ANPED. Ação

docente e educação não excludente: o discurso de transformação e a prática docente de professores da

escola pública municipal da cidade de São Paulo - relatório de pesquisa. (2001-2003); Um olhar sobre

os cursos de licenciatura e a sua prática na formação docente(2003-2004); Formação de Professores:

Da escola Normal ao Normal Superior (2004-2006)

2

Os interesses de pesquisa do grupo coadunam-se com as recentes

investigações no campo das Ciências da Educação, que têm enfocado, de

maneira geral, a formação do professor e as respectivas instituições

formadoras, e, de maneira específica, as reformas que essas instituições vêm

sofrendo, em vários países, desde o final do século XX (Tardif et. al, 1999).

Dada a relevância do tema julgamos importante alargar sua

abrangência, de modo a inserir, no que diz respeito a esta pesquisa, uma

dimensão de cunho mais continental nas análises, considerando a interface

entre contextos que, em virtude de pautarem-se por uma certa concepção de

formação de professor que culminou com apogeu das Escolas Normais,

ensejam análises comparativas que nos permitirão uma compreensão mais

apurada de nossa experiência americana. Para isso, pretendemos destacar a

vivência de três realidades distintas: Quebec, no Canadá; Tunja, na Colômbia;

e São Paulo, no Brasil, no sentido de investigar os modelos de formação de

professor implantados nas escolas normais dessas regiões e em que medida

eles se assemelham ou se distanciam uma das outras.

Justificativa e objeto da pesquisa

Essas questões referendam a presente iniciativa investigativa,

apresentado como estudos de pós-doutoramento, nos quais pretendemos

lançar um olhar sobre a temática das instituições de formação de professores

numa perspectiva sócio-histórica comparada, mais além daquela realizada num

contexto nacional e local. É com base nessa reflexão que propusemos a

discutir, por meio de um estudo sócio-histórico de viés comparativo, os

diferentes modelos2 de formação de mestres na América, tomando como casos

2 Estou utilizando o termo modelo na concepção explorada por Hamel (1995:36)” Cette configurations

spécifique des différents paramètres de la formación, nous la désigneron fort modestement par le vocable

de modèle qui doit être compris dans le sens de « reagroupament à postèriori de caractéristiques

principales qui illustrent une façon d´entrevoir et de structurer la formation des maîtres » (...) La notion de

modèle doit aussi être comprise de façon dynamique, évoluant continuellement dans le temps... Le

contexte social, le poides realtif des protagonistes donneront un visage changeant à la formation des

enseignants et enseignantes.

3

a Escola Normal do Québec, no Canadá, de Tunja, na Colômbia e de São

Paulo, no Brasil, no período entre 1930-1970.

Sabemos de antemão que a discussão sobre “modelos” de formação de

mestres é complexa, sobretudo levando-se em consideração as diferenciações

culturais, sociais e de formação histórica de cada região proposta nesta

pesquisa. Todavia, no que pese a amplitude espaço-temporal delimitada no

projeto, entendemos que uma reflexão sobre as pesquisas realizadas e a

produção delas decorrentes sobre as três experiências apontadas acima,

permitirá uma síntese que indicará os modelos de formação de mestres

intentados na América, os quais, na atualidade, dão guarida às iniciativas de

universitarização da formação de professores (casos do Canadá e Brasil) e o

quão importante foi a Escola Normal na construção de uma cultura escolar de

cada país.

A Escola Normal de origem francófona e latina foi uma experiência de

formação de professores que, a despeito de sua origem francesa, buscou

diferentes modelos na árdua tarefa de formar os professores para ensino

básico. Na América Latina, em especial no período pós-republicano,

experimentam-se diferentes modelos, que se constituem em importantes

tentativas do Estado de formar o cidadão para as frágeis repúblicas que se

instalaram no final do século XIX. No século XX, essas experiências fundam a

matriz das Faculdades de Educação e dos Institutos de Formação de

Professores.

Por outro lado, a América do Norte também veio experimentando

modelos de formação de mestres. No caso desta pesquisa, interessa-nos

aqueles implantados em Québec, uma região de orientação francófona de

diferente contexto social e histórico em relação à América Latina, desde sua

formação. É possível, com base na leitura preliminar (Dufour, 2006; Hamel,

1995; Lessard, 1998), que encontremos também aí uma multiplicidade de

modelos, implantados ao longo do século XX, em sua trajetória de formação de

mestres.

4

Por conseguinte, pode-se considerar como hipótese de trabalho que a

América no século XX, nos diferentes modelos de formação de mestres

experimentados, ora buscando alternativas aos modelos europeus, ora re-

elaborando, a Escola Nacional, como matriz da formação de mestres no

continente, guarda elementos convergentes quanto as seguintes questões:

religião/laicização; rural/urbano; formação cultural/formação técnica.

Partimos da hipótese acima, para considerar até que ponto na América a

implantação desta instituição sofreu as influências e o desejo de imitação da

Escola Normal Superior de “modelo3” francês, para formar uma intelligentia4,

nacional. Por outro lado como a Instituição foi a adequando o modelo para

formar o mestre e educar o cidadão, nos moldes republicanos.

É importante salientar que a formação de professores em qualquer

contexto é sempre modelada por interesses sociais e por ordem do estado que

a implanta através da criação de instituições escolares. Nessa perspectiva,

devemos acompanhar Petitat (1982,65), quando afirma que a escola é sempre

uma construção social, dinâmica e que responde a interesses por parte dos

diversos atores sociais que vivenciam a ação educativa num determinado

contexto social:

“Elle procede de l´ensemble dês rapports entre

l´institution, les groupes sociaux et les conditions

générales ambiantes. Ce n´est poit une donné fixe, mais

une mouvence, des déplacements imperceptibles aus

3 Para utilizar a expressão « modelo », Rolland (2005) apresenta uma distinção entre modelo de

identificação (mais próprio da moda) e modelo paradigmático (visão de mundo e de valores copiados). O

autor, ao trabalhar com a idéia de “Modelo Francês”, utiliza uma categoria da área da história das

mentalidades, sem, contudo, deixar de perceber as imprecisões que o termo carrega. Conforme o autor, “a

temática do ´modelo´, na história da América Latina, surge na área política por meio das constituições,

das idéias políticas, da pedagogia do cidadão, de todos os fenômenos de legislação na educação, na

política e na ordem pública, na legislação religiosa para a separação da Igreja e do estado, na organização

do Estado, portanto na administração pública e no exército” Rolland, 2005, p.34). Além das Instituições

nos campos cultural e científico, são muitos os modelos transplantados e transferidos da Europa como

identificação e imitação.

4 Sobre a história da Escola Normal Superior na França, ver. LUC, Jean-Noël e BARBÉ, Alain. Des

Normaliens: Histoire de l´École Normal Supérieure de Sanit-Cloud. Paris: Presses de la Fondation

Nationale des Sciences Politiques, 1982.

5

grandes révolutions pédagogiques, c´est un precessus où

transparaissent aisément les désaccords, les conflits, les

laborieux compromis, du moins au niveau qui m´intéresse

ici, celui de l´ecole »

No que se refere ao Québec, com a leitura ainda preliminar da

bibliografia sobre o objeto, interessa-nos perceber a relação entre o rural e

urbano na formação dos professores, os modelos de Escola Normal

implantados, e, sobretudo, a formação cultural daqueles que exerceriam a

função de formador e formulador da cultura. As perguntas motivadoras que

orientam a análise desses modelos, considerando os fatores históricos próprios

dessa região do Canadá francófano e guardando seus devidos limites

comparativos com a América Latina, são: o modelo de Escola Normal

implantado no Quebec foi o mesmo implantado para a América Latina? Quais

as características que os tornam semelhantes e/ou diferentes no projeto de

expansão da cultura francófona para a América?

Relativamente a Colômbia, já com uma leitura bastante apurada e, em

especial, com uma compreensão maior da realidade educacional daquele país

e do seu modelo de Escola Normal, optamos por estudar esse campo levando

em consideração, que, embora tenha sido orientada pedagogicamente por três

missões pedagógicas alemãs, a construção da Escola Normal desse país

seguiu, em muita medida, o modelo francês, chegando a constituir-se no século

XX numa ESCOLA NORMAL SUPERIOR. Essa experiência originou as

Faculdades de Educação do país e, mais especificamente, a Universidade

Pedagógica da Colômbia. Um elemento que nos chama a atenção no campo é

o predomínio, até os dias atuais, da direção por grupos religiosos, naturalmente

com outorga do próprio Estado. Parece-nos que a questão central na Colômbia

é a laicização da Escola Normal, o que se diferencia em muito dos outros dois

campos (Brasil e Canadá).

Nesse particular, na Colômbia, como no Brasil, a questão central é

discutir se a Escola Normal constituiu-se, de fato, como uma ferramenta da

6

república, orientando a cultura, com a formação dos intelectuais nos moldes

republicanos; ou se, por outro lado, formou o mestre-escola de que a república

precisava para expandir suas fronteiras. As análises preliminares têm nos

apontado que na América do Sul a Escola Normal tem sido uma instituição

ambígua nos seus objetivos, ora pendendo para uma instituição formadora de

cultura, ora para uma instituição formadora de mestres.

Aspectos metodológicos e aportes teóricos

A pesquisa está sendo realizada como base bibliográfica (produção

escrita e relatórios de investigação) sobre a Instituição Escolar de formação de

professores chamada Escola Normal, no período indicado.

Por meio dessas fontes documentais5 publicados, realizamos uma

análise de viés comparativo dos modelos implantados em cada país, seguindo

dois caminhos metodológicos que têm norteado a pesquisa no Brasil, em

especial nos trabalhos de Ester Buffa6 e Paolo Nosella, quais sejam: 1.

construir visões gerais das Escolas Normais na América e descrições

singulares de cada contexto (países) dessa experiência educativa; 2.

considerar o fenômeno social não meramente factual e descritivo, mas, acima

de tudo, dar-lhe um conteúdo interpretativo a partir das compreensões

construídas em cada país e, no caso desta pesquisa, das categorias

religião/laicidade, rural/urbano, formação cultural/formação técnica.. Dessa forma,

optamos metodologicamente por considerar o particular como expressão do

desenvolvimento geral em cada contexto a ser estudado e por procurar nessas

experiências os “modelos” de formação, bem como as opções sociais e políticas

neles implicadas, em cada lugar e época. Em suma, propomo-nos a uma mirada

5 Estou usando o termo “documento” de maneira ampla, ou seja, quaisquer materiais escritos que possam

ser usados como fontes de informação. Cf. Phillips, B.S. A pesquisa Social. Rio de Janeiro, Ed. Agir,

1974. 6 O que estamos a considerar foi relatado por Ester Buffa, num artigo que demonstra o caminho

metodológico e teórico da trajetória das pesquisas realizadas desde 1990, juntamente com Paolo Nosella

na Universidade Federal de São Carlos, UFSCar, que antecede a participação de ambos no GRUPHIS-

Uninove. Cf. BUFFA, E. História e Filosofia das instituições escolares. In., GATTI Jr, Décio et.al. Novos

Temas em História da Educação Brasileira. Instituições Escolares e Educação na Imprensa. Campinas,

SP: Editores Associados, 2002. p.25-38.

7

sócio-histórica das instituições de formação de professor, conforme a concepção de

Hamel (1995) e Petitat (1994).

Deve-se, todavia, esclarecer, que embora tenha uma perspectiva

histórica7, o acento não está posto na análise pura e simples do fenômeno

como fato histórico, mas, sim, na dinâmica social da Instituição em cada

contexto específico. Esse aporte histórico permitirá perceber, por meio dos

“modelos”, a dinâmica que enfrentaram essas instituições formadoras no jogo

dos interesses da sociedade e lançar luzes para compreender os problemas

atuais que cada contexto enfrenta na tarefa de formação de seus professores.

Convém também esclarecer que o termo “comparativo” na pesquisa, de

certa maneira, será utilizado como parâmetro para a análise dos documentos.

Na verdade, mais próximo do que Marc Bloch definiu como explicação das

semelhanças e diferenças que oferecem duas séries de natureza análoga,

tomadas de meios sociais distintos e que pela sua própria natureza conduz à

ruptura da singularidade dos casos e processos. Por outro lado, a comparação

histórica permite uma volta ao caso singular ou específico, pois possibilita

situá-lo numa ampla totalidade e assim demonstrar o que comunga com os

demais e o que apresenta de único.

Segundo os historiadores, é possível comparar seqüência e estrutura do

mesmo tipo em sociedades heterogêneas na sua estruturação sócio-histórica,

sem, contudo, interpretar como análogas estruturas formais que podem

guardar diferenças de fundo. Enfim, esta pesquisa tem como preocupação

mais hermenêutica acerca da dinâmica sócio-histórica pela qual passou a

Escola Normal como formadora de mestres na América.

Dessa maneira, chegamos mais próximo daquilo que no Brasil estamos

denominando de História das Instituições Escolares e/ou educativas, deixando

7 Como sabemos, na segunda metade do século XX, a pesquisa histórica passou por um grande processo

de renovação do método que orienta um processo de interpretação do passado, estabelecendo um diálogo

com as idéias e concepções da atualidade, no dizer de Burke (1992), as mutiplicidades de fontes, novas

concepções do método e de explicação do fenômeno sócio-histórico permitem na atualidade uma

inevitável proliferação de subdisciplinas. A sociologia, a antropologia e a linguística têm contribuído

muitíssimo para a produção historigráfica.

8

de largo o campo restrito da Pedagogia8, da qual tem origem a História da

Educação. Esse movimento de re-elaboração do campo da História da

Educação numa perspectiva pluridisciplinar, iniciada em solo europeu, atingiu

pesquisadores da área da educação no Brasil, possibilitando a construção de

um campo estruturado de pesquisa que já dita algumas décadas. Como

informa Décio Gatti (2002, p.21):

No Brasil, ainda que com diversas dificuldades, em virtude da

inexistência de repertórios de fontes organizadas, alguns historiadores e

educadores têm-se laçado à tarefa de historiar a educação escolar

brasileira através da construção de interpretações acerca das principais

instituições educativas espalhadas pelas diversas regiões brasileiras.

Assim, sem querer apreender o objeto com um acento eminentemente

no campo da história e do historiador de ofício, este projeto opta por um recorte

sócio-histórico comparativo das Instituições Escolares de formação de mestres

no campo mencionado. Apenas se insere na perspectiva historiográfica

embalado pelo viés de renovação interdisciplinar que o campo atualmente

permite, procurando compreender a existência histórica de uma Instituição

Escolar de Formação de Mestres, sem, contudo, deixar de integrá-la na

complexa realidade sócio-cultural mais ampla do continente americano. Na

expressão de Justino Magalhães: “Compreender e explicar a existência

histórica de uma instituição educativa é, sem deixar de integrá-la na realidade

mais ampla que é o sistema educativo, contextualizá-la, implicando-a no

quadro de evolução de uma comunidade e de uma região, é por fim

sistematizar e (re)escrever-lhe o itinerário de vida na sua

multidimensionalidade, conferindo um sentido histórico” (Magalhães, 1996,

p.2).

8 Embora saibamos que essa vem sendo incluída no metier do historiador. Na França, dentre muitos

encontramos André Cherval e Anne Marie Chartier que têm se oculpado de pesquisar no campo

historiográfico da história das disciplinas escolares.

9

Conclusão

Ainda não podemos falar de resultados, mas de elementos que indicam

que embora os modelos se aproximam em basicamente três pontos: 1. A

formação profissional do mestre-escola. Isso é perceptível nos três contextos

com ampla discussão sobre o projeto do estado na formação do mestre para

atender a universalização da saberes básicos a todos aqueles a quem a

república fez cidadãos; 2. A ambivalência entre a formação estritamente

técnica para o exercício da profissão e a formação cultural de modelo clássico

francês da ENS. Essa nos parece ser o dilema da EN, em especial na América

do Sul, Brasil e Colômbia, apesar deste último ter sido orientada

pedagogicamente por três “missões alemãs”. O modelo perseguido foi o

sistema francês, que por sua vez foi se constituindo diferentemente no século

XIX e XX. A crise do “modelo” francês não afetou o desejo de ora formar o

mestre, ora formar o intelectual da cultura que poderia servir aos desígnios da

República sul-americana, 3.O embate sempre presente entre a escola rural e a

escola urbana num momento em que as sociedades latino-americanas

estavam passando por um acelerado processo de urbanização, efeito do

processo de industrialização. Esse fenômeno determina em cada país

posicionamentos diferenciados sobre a formação de professores para o campo,

a chamada Escola Normal Rural.

Por fim, o cronograma da pesquisa ainda nos permitirá ampliar e checar

essas primeiras aproximações, considerando que até o final de junho serão

debatidas nos grupos de investigação do Quebec e o Brasil e no segundo

semestre com o grupo do SHELA e RUDECOLOMBIA na Colômbia.

Esperamos que essas considerações preliminares sejam debatidas no relatório

final da investigação a ser apresentado no próximo ano.

10

Levantamento bibliográfico inicial da pesquisa.

1. Bibliografia do Canadá

BECKER, H. S. «Inventer chemin faisant: comment j’ai écrit Les mondes de l’art»

dans Mercure, Daniel, Dir (2005). L’analyse du social. Les modes d’explication,

Québec, Presses de l’Université Laval. p. 57-75

DUFOUR, Andrée. Les premières enseignantes laïques au Québec: le cas de

Montréal, 1825-1835. Histoire de l´Education, n,109 (p.3-32), janvier, 2006

HAMEL, Thérèse (À paraître). «Teacher Training in Turmoil: The Experience of

Professors in Normal Schools and Faculties of Education during the 'Quiet

Revolution' in Quebec», Chapitre dans le livre: History of the professiorate in

Canada (titre provisoire). sous la direction de Paul Stoetz, University of Calgary.

HAMEL, Thérèse et Brigitte CAULIER (2005). «Ways of looking at history of

education. From reinterpreting education history to opening new areas of

reserach: The Historical Atlas of Quebec education», Communication au

congrès de EERA/ECER, Dublin, septembre 2005,

HAMEL, Thérèse et Marie-Josée LAROCQUE (2004). «Legitimacão e

«universitarização» da formação de professores en Quebeque: surgimento de

uma cultura de pesquisa», Estudos em Avaliação Educacional, v. 15, n. 30, jul-

dez 2004, p. 107-130.

HAMEL, Thérèse (2000). De la terre à l'école : Histoire de l'enseignement

agricole au Québec, 1926-1969, (en collaboration avec Messieurs Jacques

Tondreau et Michel Morisset) Montréal, Hurtubise-HMH, 2000, 366 pages.

HAMEL, Thérèse (1995). Un siècle de formation des maîtres au Québec 1836-

1939, Hurtubise-HMH, 1995, 374 pages.

HAMEL, Thérèse (1991). Le déracinement des écoles normales: Le transfert de

la formation des maîtres à l'université, Institut Québécois de recherche sur la

culture (IQRC). automne 1991, 231 pages.

LAROCQUE, Marie-Josée, Thérèse Hamel (2001). L'école dans la Cité, dans

Serge Courville et Robert Garon (dir.). Québec, Ville et Capitale, Ste-Foy, Les

11

Presses de l'Université Laval, Collection Atlas historique du Québec, 2001,

p.292-311

HAMEL, Thérèse, (2000a). «Les réformes de la formation des enseignantes au

Québec: à la recherche de la formule idéale», dans Lucien Criblez et Rita

Hofstetter avec la collaboration de Danièle Périsset Bagnoud, La formation des

enseignantes primaires. Histoire et réformes actuelles, Berne, Peter Lang,

2000, p. 503-589.

HAMEL, Thérèse, (1996). “Les recherches en éducation au Québec entre

histoire et sociologie”, dans Bernard Lefebvre et Normand Baillargeon (dir.).

Histoire et sociologie. Position épistémologique et proposition didactique,

Montréal, Éditions Logiques, 1996, p. 187-208.

HAMEL, Thérèse, (2000). “Les recherches en éducation au Québec entre

histoire et sociologie”, dans, Paidéia, Cadernos de Psicologia e Educação,

FFCLRP-USP, Publicação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de

Ribeirão Preto-USP, Volume 10, Número 18, Jan/Julho 2000, Brésil, pp. 81-92,

(Réédition du chapitre dans Bernard Lefebvre et Normand Baillargeon (dir.).

Histoire et sociologie. Position épistémologique et proposition didactique.)

HAMEL, Thérèse, Michel MORISSET et Jacques TONDREAU (1999). «Les

agriculteurs à l'école: les savoirs enseignés dans les écoles moyennes et

régionales d'agriculture au Québec», Revue canadienne de

l'éducation/Canadian Journal of Education , Volume 24, Numéro 4, Automne

1999, pp. 398-425.

HAMEL, Thérèse, (1999). Les écoles normales au Québec: Institutions d'église

ou d'État? Paedagogica Historica, International Journal of the History of

Education, Supplementaty Series, Volume V, Gent C.S.H.P., 1999, p. 193-205.

HAMEL, Thérèse, Michel MORISSET (1997). «Agricultores e freqüência escolar

obrigatória: uma relação contraditória?», Revista Veritas, Revista trimestral de

filosofia e ciências humanas da PUCRS, Porto Alegre, Volume 42, n° 2, Junho

1997, p. 365-384.

12

HAMEL, Thérèse, Michel MORISSET, Jacques TONDREAU et Yves HEBERT (1994).

«Stratégies des Clercs de St-Viateur dans la création d'écoles d'agriculture au

Québec: 1932-1940», Études d'histoire religieuse, Volume 60, 1994, p. 85-105.

HAMEL, Thérèse, Michel MORISSET, Jacques TONDREAU et Yves HEBERT (1994).

«Evolution et typologie des écoles d'agriculture au Québec 1926-1969», Revue

d'histoire de l'éducation/ Historical Studies in Education, Volume 6, no 1,

Printemps/Spring 94, p. 45-71.

HAMEL, Thérèse (1991). «Enseignants laïques et religieux, formation des

maîtres et métier enseignant à la veille de la Révolution tranquille», Revue des

sciences de l'éducation, Vol. XVIII, no 2, 1991, p. 245 à 265.

HAMEL, Thérèse (1986). «L'obligation scolaire au Québec, enjeu pour le

mouvement syndical et agricole», Labour/Le Travail, no 17, printemps 1986, p.

83-102.

HAMEL, Thérèse (1985). «L'enseignement d'hier à aujourd'hui: les

transformations d'un métier "féminin" au Québec», Questions de culture, no 9,

1er trimestre 1985, p. 51-71.

MELLOUKI, M. Hammed; MELANÇON, François: Les corps enseignantes du

Québec de 1845 à 1992 – Formation et développement. Montréal, les edtions

logiques, 1995, 342p.

PETITAT, André (1999). Production de l’école. Production de la société. Analyse

socio-historique des quelques moments décisifs de l’évolution scolaire en

occident, Genève, Paris, Librairie Droz, 532 pages.

Histoire de L´Educación. – Les enseignantes XIXe – XXe Siècles. Paris, INRP,

maio, 2003, n.98.

TARDIF, Maurice(dirc). Continuités et ruptures dans la formation des maîtres

au Québec. Quebéc : Presses de l´Université Laval, 1997

______ et.al., Formation des maîtres et contextes sociaux. Paris: PUF, 1998.

13

Bibliografia da Colômbia e do Brasil

ALMEIDA, J.S. Escola Normal Paulista: Estudo dos currículos 1846-1990 –

destaque para a prática de ensino. Araraquara, S.P. UNESP, 1993.

BAÉZ, Miryam la educación en los orígens republicanos de Colombia. Tunja,

Colombia : UPTC, 2006.

BAÉZ, Miryam. Las escuelas normales y el cambio educativo en los Estados

Unidos de Colombia en el periódo radical – 1870- 1886. Tunja, Colombia:

UPTC, 2004.

BUFFA, E, e PINTO, Gelson de Almeida. Arquitetura e Educação: organização

do espaço e propostas pedagógicas dos grupos escolares paulistas, 1893-

1971. São Carlos, SP INEP/Edufscar, 2002.

Cadernos de História da Educação. Dossiê História das instituições escolares.

Uberlândia, EDUFU, n 2., 2003.

DÍAZ, Mario y CHÁVEZ, Ceneyra. Lãs reformas de las escuelas normales: uma

área em conflito. In. Educación y Cultura, n.20, Bogotá, FECODE, 1990.

GATTI, Jr, Décio. Novos temas em História da Educação Brasileira –

instituições escolares e educação na imprensa. Campinas, SP: Editores

Associados.

ESCOBAR, Baena, G. et.al., El destina de las Escuelas Normales. In.

Educación y Cultura, n.20, Bogotá, FECODE, 1990

HERRERA, M. C; LOW, Carlos. Historia de lãs Escuelas Normales em

Colômbia. In. Educación y Cultura, n.20, Bogotá, FECODE, 1990.

HERRERA, M. C; LOW, Carlos. Los intelectuales y el despertar cultural del

siglo – El Caso de la Escuela Normal Superior. Bogotá, Colombia, 1994.

JARDILINO, J.Rubens L & NOSELLA, Paolo. Os professores não erram:

ensaios sobre história e teoria da profissão de mestre. São Paulo:

Pulsar/Xamã, 2005.

MARTÍNEZ Alberto y ALVAREZ, A. La formación del maestro. La historia de

una paradoja. In. Educación y Cultura, n.20, Bogotá, FECODE, 1990.

MONARCHA, Carlos. A Escola Normal da Praça: o lado noturno da luzes.

Campinas, Unicamp, 1999.

14

NOSELLA, Paolo, BUFFA, Ester, Universidade de São Paulo – Escola de

Engenharia de São Carlos: os primeiros tempos 1948-1971. FAPESP, 2000

NOSELLA, Paolo, BUFFA, Ester. Escola Profissional de São Carlos. Fapesp,

1998

NOSELLA, Paolo, BUFFA, Ester. Schola Mater: a antiga escola normal de São

Carlos – 1911 a 1933. FAPESP, 2002.

NÓVOA, António, (1995). «O passado e o presente dos professores», in Nóvoa,

António, org, (1995). Profissão professor, Porto, Porto Editora, p. 13-34.

RESTREPO, Bernardo. Formación y capacitación del magistério en Colombia.

Ed. Voluntad. s/d.

ROLLAND, Denis. A crise do modelo francês: a França e a América Latina.

Cultura, política e identidade. Brasília, Editora UNB, 2005.

TEZANOS, Aracely de. Maestros: artesanos intelectuales – estúdio crítico

sobre su formación. Bogotá, UPN, CIUP, 1985.

VALENCIA, Carlos H. Calvo. Las Escuelas Normales y la formación del

magistério: primera mitad del siglo XX. Manizales, Colombia, 2006.