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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA MONOGRAFIA DE BACHARELADO A CONFIGURAÇÃO DA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CAMILA SERRANO DA SILVA [email protected] Matrícula nº: 109152334 ORIENTADORA: Prof.ª Julia Paranhos [email protected] SETEMBRO 2016

A CONFIGURAÇÃO DA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA DO ESTADO DO RIO DE … de... · incentivos, financiamentos e dar suporte as atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), 12 assim

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE ECONOMIA

MONOGRAFIA DE BACHARELADO

A CONFIGURAÇÃO DA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CAMILA SERRANO DA SILVA

[email protected]

Matrícula nº: 109152334

ORIENTADORA: Prof.ª Julia Paranhos

[email protected]

SETEMBRO 2016

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE ECONOMIA

MONOGRAFIA DE BACHARELADO

CONFIGURAÇÃO DA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA DO

ESTADO DO RIO DE JANEIRO

___________________________________

CAMILA SERRANO DA SILVA

Matrícula nº: 109152334

ORIENTADORA: Prof.ª Julia Paranhos

SETEMBRO 2016

As opiniões expressas neste trabalho são da exclusiva responsabilidade da autora

“Bom mesmo é ir à luta com determinação, abraçar

a vida com paixão, perder com classe e vencer com

ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve

e a vida é "muito” para ser insignificante" – Charlie

Chaplin

AGRADECIMENTOS

Agradeço com todo o meu amor e admiração a minha mãe Carmen Lucia e ao meu pai

Aureliano, que sempre acreditaram em mim, me apoiaram, aconselharam e amaram

incondicionalmente. Agradeço pela educação que recebi e pelo exemplo de força e

determinação que sempre me passaram, por nunca me deixarem desistir e vibrarem com todas

as minhas conquistas.

Agradeço a Deus e a fé que tenho por permitir que tivesse saúde e força para superar

todas as diversidades e os obstáculos e se fazer presente como luz nos momentos de solidão e

incertezas. A fé em Deus renovou a minha força e determinação nos momentos mais difíceis e

permitiu acreditar na minha capacidade de vencer.

Agradeço ao meu irmão Guilherme, pelo companheirismo, compreensão e amor. A

minha tia Leia, pelo amor incondicional e por todos os momentos de carinhos, abraços, pela

paciência e por sempre acreditar em mim. As minhas avós Sylvia e Carmem, que tanto admiro

e amo e sempre torceram pelo meu sucesso e aos meus avôs Luiz e Aurelino, que me

protegem do céu e estariam orgulhosos de mim. Aos meus padrinhos Mônica e Paulo, pelo

exemplo, admiração e carinho. E a toda a minha família, meus primos, meu afilhado, que de

alguma forma me enviaram energias positivas e torceram pelo meu sucesso.

Agradeço muito aos meus amigos que me acompanharam em toda a faculdade, Luisy

Trott, Cinthia de Souza, Vitória Miranda, Yasmin Renni, Ana Tavares, Pedro Amparo, Pedro

Bossardi e Osmani Pontes, e que conviveram, torceram e foram fundamentais, na superação

dos desafios, nas rotinas de provas e aulas, na renovação das forças que contribuiu muito na

minha formação e no meu amadurecimento profissional.

Também agradeço aos amigos pelo companheirismo, amor e amizade de tantos anos.

Agradeço também a duas amigas, Mariana Ventura e Daniela Faustini, pelo apoio e força que

foram fundamentais num dos momentos mais difíceis e por me incentivarem nesse processo

final e a minha psicóloga Cristiana Ferreira pela força e suporte em tantos momentos.

Agradeço, especialmente, a minha orientadora Professora Julia Paranhos, pela honra

de ser a sua primeira bolsista de iniciação cientifica, em 2011, e pela sua orientação agora.

Muito obrigada pelo aprendizado, dedicação, paciência e carinho que sempre teve comigo e

que levarei para o resto da vida como exemplo de profissionalismo e dedicação.

Agradeço a todos os meus professores do Instituto de Economia da UFRJ por todo o

aprendizado, por darem as diretrizes e ensinarem as ferramentas que foram fundamentais para

a minha formação como Economista. Agradeço, em especial, a Professora Lia Hasenclever e

a funcionária Letícia Teixeira do Grupo de Economia da Inovação da UFRJ, pelo carinho,

aprendizado e convivência durante a iniciação cientifica.

RESUMO

Este trabalho apresenta a configuração da indústria farmacêutica do Estado do Rio de Janeiro

através da caracterização dos atores envolvidos, como as empresas, as instituições de ciência e

tecnologia e o seu desempenho produtivo, inovativo e a evolução do emprego. São

identificadas as políticas e iniciativas estaduais voltadas para a indústria farmacêutica e os

efeitos da ação governamental sobre o desenvolvimento produtivo e tecnológico do setor no

estado. Para isso, são apresentadas as características das indústrias farmacêuticas brasileiras,

destacando-se a importância da inovação para as empresas do setor e os agentes que atuam no

sistema de inovação nacional. Analogamente, é apresentado um breve histórico do setor no

Estado do Rio de Janeiro, acompanhado de uma caracterização da dinâmica atual,

identificando-se um relativo atraso, a nível nacional, das indústrias fluminenses, sobretudo em

termos de empregos e produção física. O trabalho conclui que a configuração da indústria

farmacêutica fluminense e o esforço subjacente às políticas estaduais ainda é insuficiente para

reverter um quadro desfavorável de inserção da indústria farmacêutica do ERJ no cenário

nacional, que apresenta tendência de elevadas taxas de crescimento.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.....................................................................................................................................................11

CAPÍTULO I – DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL E APOIO GOVERNAMENTAL.........................15

I.1) Conceitos..........................................................................................................................................................15

I.2) Inovação...........................................................................................................................................................18

I.2.1) Conceito de inovação e das diferentes estruturas de mercado....................................................................18

I.2.2) Teorias da concorrência..............................................................................................................................23

I.2.3) Estratégias Inovativas.................................................................................................................................27

I.2.4) Estruturas organizacionais e formas de coordenação das empresas...........................................................29

I.2.5) Sistemas de Inovação..................................................................................................................................33

I.3) Política Industrial.............................................................................................................................................36

I.4) Inovação e atividades de P&D na indústria farmacêutica.................................................................. ............42

CAPÍTULO II – CONFIGURAÇÃO DA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA BRASILEIRA........................45

II.1) Desenvolvimento da Indústria Farmacêutica Brasileira................................................................................45

II.2) Mercado brasileiro de medicamentos genéricos.............................................................................................52

II.3) Evolução das atividades de P&D e inovação da indústria farmacêutica brasileira......................................54

II.4) Apoio Governamental à Indústria Farmacêutica Brasileira..........................................................................59

II.4.1) Políticas e programas públicos de incentivo a indústria farmacêutica brasileira.......................................59

II.4.2) O governo como agente financiador..........................................................................................................64

CAPÍTULO III – INDÚSTRIA FARMACÊUTICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO:

CARACTERÍSTICAS E POLÍTICAS................................................................................................................67

III.1) Industrialização do ERJ.................................................................................................................................67

III.1.1) Evolução da indústria fluminense............................................................................................................67

III.1.2) Estagnação econômica do ERJ................................................................................................................70

III.2) Configuração da indústria farmacêutica fluminense.....................................................................................73

III.2.1) Características de ciência e tecnologia da indústria farmacêutica do ERJ..............................................73

III.2.2) Evolução produtiva da indústria farmacêutica do ERJ............................................................................74

III.3) Políticas estaduais: indústria farmacêutica fluminense................................................................................84

III.3.1) Políticas estaduais de incentivo à produção e à inovação........................................................................84

III.3.2) Incentivos estaduais à ciência e tecnologia..............................................................................................86

III.3.3) Outras iniciativas do governo do ERJ voltadas para a indústria farmacêutica........................................88

III.3.4) Relacionamento universidade-empresa: avaliação do papel do Estado no estímulo ao desenvolvimento

do sistema farmacêutico de inovação do ERJ.........................................................................................................90

CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................................................94

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................................................97

ÍNDICE DE TABELAS E GRÁFICOS

Tabela 1 – Porcentagem de estabelecimentos farmacêuticos.................................................................................50

Tabela 2 – Porcentagem de trabalhadores empregados em estabelecimentos farmacêuticos................................51

Tabela 3 – Porcentagem de estabelecimentos que fabricam medicamentos para uso

humano....................................................................................................................................................................75

Tabela 4 – Porcentagem de estabelecimentos que fabricam produtos

farmoquímicos.........................................................................................................................................................76

Tabela 5 – Porcentagem de trabalhadores empregados em estabelecimentos que fabricam medicamentos para

uso humano............................................................................................................................ .................................78

Tabela 6 – Porcentagem de trabalhadores empregos em estabelecimentos que fabricam produtos

farmoquímicos.........................................................................................................................................................78

Tabela 7 – Pesquisa Industrial Anual – Produção Física do ERJ / Número índice (Base 1996=100)...................81

Tabela 8 – Pesquisa Industrial Anual – Produção Física do Brasil / Número índice (Base 1996=100)................81

Gráfico 1 Produção física da indústria de transformação e farmacêutica no Brasil e no Estado de São

Paulo........................................................................................................................................................................51

Gráfico 2 – Porcentagem de estabelecimentos do setor farmacêutico...................................................................77

Gráfico 3 – Porcentagem de trabalhadores empregados em estabelecimentos do setor

farmacêutico............................................................................................................................................................79

Gráfico 4 – Produção física do setor farmacêutico no Brasil e no Estado do Rio de Janeiro (1996/2010)...........80

Gráfico 5 – Produção física da indústria de transformação e farmacêutica no Brasil e no Estado do Rio de

Janeiro...................................................................................................................... ...............................................82

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária

AgeRio - Agência Estadual de Fomento

BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CEFET - Centro Federal de Educação Tecnológica

CNAE - Classificação Nacional de Atividades Econômicas

CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

CODIN Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio de Janeiro

CPDM - Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos

EADI - Estação Aduaneira do Interior – Porto Seco

ERJ – Estado do Rio de Janeiro

ESP – Estado de São Paulo

EGO – Estado de Goiás

FAPERJ - Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de

Janeiro

FIOCRUZ - Fundação Oswaldo Cruz

FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos

Fundes - Fundo de Desenvolvimento Econômico e Social

GECIS - Grupo Executivo do Complexo Industrial da Saúde

GECIV - Grupo Executivo do Complexo Industrial das Ciências da Vida

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICT - Instituição de Ciência e Tecnologia

IFA - insumos farmacêuticos ativos

IGTF - Instituto de Gestão Tecnológica Farmacêutica

ICMS - Imposto sobre Circulação de Mercadorias

IEDI - Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial

IGTF - Instituto de Gestão Tecnológica Farmacêutica

Interfarma - Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa

MDIC - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio

MS - Ministério da Saúde

MCT - Ministério da Ciência e Tecnologia

MTE – Ministério do Trabalho

NIT - Núcleo de Inovação Tecnológica

OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

OMC - Organização Mundial do Comércio

P&D - Pesquisa e Desenvolvimento

PAC - Programa de Aceleração do Crescimento

PDP - Parceria para o Desenvolvimento Produtivo

PPP - Parceria Público Privada

PDP - Política de Desenvolvimento Produtivo

PIM/PF - Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física

PITCE - Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior

PIA - Pesquisa Industrial Anual

PIB - Produto Interno Bruto

Profarma - Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Cadeia Produtiva Farmacêutica

RAIS - Relação Anual de Informações Sociais

SECTI - Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação

SEDEIS - Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços

SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

Sinfar - Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos do Estado do Rio de Janeiro

SNI - Sistema Nacional de Inovação

SRI - Sistema Regional de Inovação

SSI - Sistema Setorial de Inovação

SUS - Sistema Único de Saúde

TRIPS - Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights

UE - União Européia

UENF - Universidade Estadual do Norte Fluminense

UERJ - Universidade Estadual do Rio de Janeiro

UFF - Universidade Federal Fluminense

UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro

UFRRJ - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

11

INTRODUÇÃO

A indústria farmacêutica é um dos segmentos da indústria química que possui elevado

potencial inovador, que se baseia em conhecimento e inovação. A competitividade e o

crescimento dessa indústria estão diretamente relacionados com a infraestrutura e os

investimentos no tocante à descoberta de novos produtos, além da interação de diversos atores

e da atuação do governo no tocante a incentivar e financiar atividades inovativas, a interação

de empresas-universidades, desenvolvimento e crescimento industrial. Assim, o processo de

inovação é fundamental para o desenvolvimento dessa indústria (GOMES, 2014).

A indústria farmacêutica brasileira passou por diversas transformações ao longo dos

anos que estão relacionadas com o contexto mundial e as mudanças de estratégias dos

governos brasileiros que contribuíram para sua conformação atual, seu desempenho e sua

posição no cenário internacional. Sua composição se caracteriza principalmente por indústrias

multinacionais estrangeiras e é caracterizada por forte dependência da importação de insumos,

evidenciando uma baixa integração na cadeia produtiva farmacêutica brasileira (GOMES,

2014).

É importante identificar que as regiões dentro de um país apresentam diferentes

características e configurações que dependem das suas trajetórias tecnológicas e as bases de

conhecimento adquiridas e desenvolvidas por cada uma. Sendo assim, é importante entender

essas diferenças, para analisar mais profundamente o processo de inovação de um país ou de

uma região especificamente (ASHEIM E GERTLER, 2005 apud PARANHOS, FRANÇA E

MERCADANTE, 2015).

Essas diferenças regionais também geram efeitos na configuração dos atores

envolvidos no sistema de inovação em cada região, como nos aspectos organizacionais das

empresas, as iniciativas de cada governo e as características das instituições de pesquisa.

Dessa forma, ressalta-se a importância da análise dos sistemas regionais de inovação para

identificar as conformações e os atores envolvidos no processo de inovação, e assim,

contribuir na identificação de lacunas e desafios a serem resolvidos pelas instituições de cada

região. Essa análise contribui na tomada de decisões das políticas públicas que irão conceder

incentivos, financiamentos e dar suporte as atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D),

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assim como, na interação entre os atores envolvidos nesse processo em cada região (COOKE,

1998 apud PARANHOS, FRANÇA E MERCADANTE, 2015).

A indústria farmacêutica brasileira tem sido considerada um dos focos das políticas

industriais e programas de incentivo a produção e inovação, desde 2003, pelo seu forte

potencial inovador. Esses esforços são claros numa análise dos dados a nível nacional, porém

apresentam diferenças na conformação e na tendência de desenvolvimento e crescimento do

setor em âmbito regional (PARANHOS, FRANÇA E MERCADANTE, 2015).

A indústria farmacêutica brasileira concentra-se na região sudeste, principalmente no

Estado de São Paulo (ESP) e do Rio de Janeiro (ERJ). O ERJ representa a segunda maior

concentração de empresas farmacêuticas e um número significativo de Instituições de Ciência

e Tecnologia (ICTs), possuindo assim atores relevantes para o desenvolvimento inovativo da

indústria no estado. Porém, o ERJ passou por profundas transformações, a partir da década de

1990, o que acarretou numa estagnação econômica de diversos setores da economia

fluminense em comparação com o desempenho da economia nacional, como é o caso da

indústria farmacêutica, que apresentou queda de participação em diversos aspectos se

comparada com o desempenho da indústria farmacêutica brasileira nos últimos anos

(HASENCLEVER, PARANHOS E TORRES, 2012).

O objetivo desse trabalho é apresentar a configuração da indústria farmacêutica do

ERJ, através da identificação dos principais atores que participam do processo de inovação, da

análise do desempenho do setor no ERJ através de dados de emprego, produção e inovação e

na identificação de políticas estaduais voltadas para o incentivo à produção e inovação dentro

do um panorama da indústria farmacêutica brasileira. Assim, para identificar a conformação

da indústria fluminense foram levantados dados bibliográficos, que contribuíram na

identificação desses atores, e secundários do setor produtivo e de ciência e tecnologia, assim

como a apresentação das políticas estaduais que contribuem para a atração e estímulo da

indústria farmacêutica no ERJ.

Assim, a pergunta de pesquisa a ser respondida é: Por que a indústria farmacêutica do

estado do Rio de Janeiro não segue a mesma tendência de crescimento da indústria

farmacêutica brasileira?

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A hipótese que este trabalho busca confirmar é que a configuração da indústria

farmacêutica do Estado do Rio de Janeiro, nos últimos anos, não permite que esta siga a

mesma tendência de crescimento da indústria farmacêutica brasileira.

O texto está dividido em 3 Capítulos além desta Introdução e das Considerações

Finais. O Capítulo 1 refere-se a abordagem teórica do trabalho e busca apresentar os

principais conceitos que contribuem para um melhor entendimento e análise, através das

teorias econômicas, dos sistemas de inovação e da indústria farmacêutica, como os conceitos

de inovação, das formas de organização das empresas, das estruturas de mercado, da

concorrência schumpeterina e da política industrial. Esse Capítulo também identifica as

atividades de P&D e inovação da indústria farmacêutica.

No Capítulo 2 é apresentada a configuração da indústria farmacêutica brasileira e é

dividido em quatro seções. A primeira seção foca na trajetória histórica da indústria

farmacêutica do país e seus desempenhos, seguida da segunda seção que ressalta a

importância do mercado brasileiro de medicamentos genéricos. A terceira seção aborda a

evolução das atividades de P&D e inovação da indústria farmacêutica do país e a quarta

identifica as políticas e os programas públicos que incentivam a indústria e o papel do

governo com agente financiador.

No Capítulo 3 são identificados os agentes e as principais características que

configuram a indústria farmacêutica fluminense e é dividido em três seções. A primeira seção

aborda o processo evolutivo da indústria farmacêutica no ERJ, com foco na estagnação

econômica de diversos setores industriais, principalmente da indústria farmacêutica do estado

nos anos 1990. A segunda seção identifica as principais características inovativas da indústria

fluminense e a evolução dessa indústria num panorama nacional, através da análise de dados

secundários que contribuem na análise do desempenho produtivo e inovativo da indústria

farmacêutica no estado. A terceira seção apresenta as principais iniciativas do governo

estadual para incentivar a inovação, o desenvolvimento e o crescimento da indústria no ERJ.

A metodologia utilizada foi o levantamento bibliográfico dos principais conceitos da

economia industrial, das principais características que configuram as indústrias farmacêuticas

em âmbito nacional e estadual, com foco no ERJ e das políticas e programas públicos

voltados para a essa indústria. Também foram utilizados no trabalho dados secundários que

14

foram coletados na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS/MTE) e nas pesquisas de

produção física e inovação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PIM-PF/IBGE)

para contribuir na caracterização produtiva da indústria. O levantamento das iniciativas

governamentais foi feito através de pesquisa bibliográfica e informações disponíveis nos sítios

eletrônicos da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTI) e Secretaria

de Estado de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços (SEDEIS). O

levantamento teve como foco a pesquisa de políticas públicas que incentivem à inovação,

ciência e tecnologia e a identificação das principais fontes de financiamento públicas que

beneficiam a indústria farmacêutica brasileira e do ERJ.

15

CAPÍTULO I – DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL E APOIO

GOVERNAMENTAL

Este capítulo consistirá na abordagem teórica do trabalho contribuindo para a

contextualização da pesquisa. Serão apresentados alguns conceitos importantes da economia

industrial, da economia da inovação e do papel do Estado.

I.1) Conceitos

Esta seção tratará dos conceitos de empresa, indústria e mercado.

A caracterização do conceito empresa nas diferentes teorias econômicas varia e está

diretamente relacionada com a visão que as teorias desenvolvem do funcionamento dos

sistemas econômicos e com a evolução histórica da organização produtiva (DANTAS,

KERTSNETZKY E PROCHNIK, 2002).

O conceito de empresa na escola clássica não chega a ser explícito visto que antes da

revolução industrial, as empresas eram identificadas de forma incipiente apenas na esfera

comercial e a produção ainda tinha pequenas dimensões, em geral, na forma doméstica. A

empresa na escola clássica identifica-se com o agente capitalista, que num sistema capitalista

competitivo busca a acumulação de capital (DANTAS, KERTSNETZKY E PROCHNIK,

2002).

Na escola neoclássica, a empresa é considerada um agente num sistema de alocação

que tem duas tomadas de decisões, uma de curto prazo, a escolha da produção, e a outra de

longo prazo, o tamanho da planta. Além disso, a empresa como agente também toma decisões

de entrada ou saída de mercados de acordo com o aumento ou a redução de lucros, buscando a

maximização dos mesmos, através da escolha da planta ótima, no longo prazo, e da

quantidade a produzir que gerará maiores lucros dentro do limite que uma planta permite

produzir no curto prazo (DANTAS, KERTSNETZKY E PROCHNIK, 2002).

“A empresa é, assim, o local onde se combinam os fatores de produção de maneira a gerar os produtos, sendo a produção sujeita às leis dos

16

rendimentos, que são discutidas primordialmente no interior de cada

unidade de produção isolada.” (DANTAS, KERTSNETZKY E

PROCHNIK, 2002: 26).

Para Marshall, as empresas dependem das capacitações organizacionais, ou seja, o

desenvolvimento das empresas tem um ciclo de vida, e a sobrevivência destas depende se o

fundador tiver soluções aos problemas organizacionais e da adoção de técnicas produtivas que

sejam adequadas e seletivas. Além disso, para Marshall, uma empresa cresce numa indústria

através de rendimentos crescentes, ou seja, quanto maior o tamanho da empresa, mais

competitiva ela se torna. Porém, como o ambiente está em mudança constante, o fundador da

empresa tem que estar sempre acompanhando as variações e introduzindo inovações em

várias áreas o que representam vantagens competitivas (DANTAS, KERTSNETZKY E

PROCHNIK, 2002).

Na abordagem institucionalista, Coase conceitua a empresa como um “arranjo

institucional” que é caracterizado pela contratação de fatores de produção de forma

duradoura, que podem ser alocados através do mercado, respondendo às variações e sinais

apresentados pelos preços, e através da hierarquia interna à empresa que direciona os fatores

de produção sua utilidade (DANTAS, KERTSNETZKY E PROCHNIK, 2002).

“Assim, a empresa de Coase é uma hierarquia que economiza custos de transação. Ao manter o problema alocativo como central e ao empregador o

cálculo racional e a análise marginal na formulação do tamanho ótimo da

empresa que maximiza lucros.” (DANTAS, KERTSNETZKY E

PROCHNIK, 2002: 28).

Para a corrente gerencialista, que aborda uma visão alternativa à visão neoclássica, a

busca pela maximização do lucro não é exclusivamente o fator do comportamento de decisão

da empresa. Os autores dessa corrente defendem a presença de um gerente profissional que

tem interesses próprios que não necessariamente são iguais aos interesses do proprietário.

Esses gerentes não teriam como objetivo apenas o lucro máximo, mas também algumas outras

variáveis, como o crescimento das vendas, os riscos, as parcelas de mercado, que estão

associadas ao crescimento da empresa. Edith Penrose destaca-se dessa corrente por defender e

reforçar que as outras variáveis que os gerentes objetivam são englobadas numa visão mais

ampla e são vistas como resultados e fatores do crescimento da empresa numa esfera

dinâmica (DANTAS, KERTSNETZKY E PROCHNIK, 2002).

17

Na visão neoschumpteriana, a empresa é o locus da inovação, por ser a responsável

por gerar e executar os processos inovativos e acumular capacitações organizacionais. O

comportamento das empresas é explicado através de rotinas que são solidificadas pela

experiência, pelo conhecimento tácito e não-formal, e tem o papel de coordenar as atividades

e encerrar o conhecimento da empresa. Porém, essa tese não implica que o comportamento

das empresas é imutável (DANTAS, KERTSNETZKY E PROCHNIK, 2002).

Os conceitos de indústria, mercado, de concorrência perfeita e monopólio que marcam

a visão tradicional neoclássica são alvos de muitas críticas. O mercado é descrito por muitos

autores neoclássicos como um espaço de encontro de oferta e demanda, no qual o produto é

bem definido e reflete o conjunto de empresas que produzem essa mercadoria. Dessa forma,

cada indústria corresponde a um mercado de espaços delimitados (DANTAS,

KERTSNETZKY E PROCHNIK, 2002).

As teorias, alternativas à teoria neoclássica, admitem que o processo de crescimento da

empresa seja marcado pela diferenciação da atividade produtiva e da diversidade dos produtos

na percepção do consumidor. Dessa forma, os produtos são substituíveis, o que aumenta o

cenário competitivo. Assim, o mercado é considerado um ambiente de comercialização de

produtos substitutos próximos e para as empresas diversificadas representa um espaço

concorrencial de atuação. A indústria é considerada um grupo de empresas que produzem

mercadorias substitutas próximas e que são fornecidas num mesmo mercado (DANTAS,

KERTSNETZKY E PROCHNIK, 2002).

As cadeias produtivas e os complexos industriais são extensões da ideia de setores

econômicos em que ocorre o crescente aumento da interdependência econômica e social entre

os agentes que privilegiam os movimentos concorrenciais. As cadeias produtivas são

resultantes da maior reciprocidade entre os agentes econômicos e do aumento da divisão do

trabalho e são criadas através do aperfeiçoamento técnico e social e do processo de

desagregação vertical. Ao mesmo tempo, ocorrem pressões competitivas para coordenar e

integrar as atividades, o que amplia a conexão entre os agentes (DANTAS, KERTSNETZKY

E PROCHNIK, 2002).

“Cadeia produtiva é um conjunto de etapas consecutivas pelas quais passam e vão sendo transformados e transferidos os diversos insumos”

(DANTAS, KERTSNETZKY E PROCHNIK, 2002: 37).

18

De acordo com as teorias, existem dois tipos de cadeias produtivas: a cadeia produtiva

empresarial, na qual cada etapa representa um conjunto de empresas que participam de uma

decisão de produção; e a cadeia produtiva setorial, “na qual as etapas são setores econômicos

e os intervalos são mercados entres setores consecutivos”. (DANTAS, KERTSNETZKY E

PROCHNIK, 2002: 37). As cadeias podem se misturar entre si, se dividir ou se agregar, neste

último caso, uma cadeia produtiva nacional pode se agregar e formar blocos que são

chamados de complexos industriais (DANTAS, KERTSNETZKY E PROCHNIK, 2002).

I.2) Inovação

I.2.1) Conceito de inovação e as diferentes estruturas de mercado

Joseph Schumpeter foi um dos primeiros autores que apresentou ideias sobre o

conceito de inovação, com o lançamento do livro Teoria do Desenvolvimento Econômico,

publicado em 1911, que contribuíram para a formação do conceito da Economia da Inovação,

um dos ramos da Economia Industrial. O autor observa que a inovação abala os sistemas

econômicos, a partir do momento em que permite a alteração das estruturas produtivas com a

criação de fontes de diferenciações para as empresas. Dessa forma, as empresas, para superar

a concorrência e acumular riquezas, buscam cada vez mais introduzir inovações tecnológicas

e organizacionais (HASENCLEVER E FERREIRA, 2002).

O conceito de inovação está relacionado, por exemplo, às atividades de P&D1 que

quando incorporadas na elaboração de novos produtos, processos produtivos e/ou formas

organizacionais podem gerar inovações nas empresas. Um sistema de inovação nacional

compreende diversas instituições que contribuem de alguma forma para o desenvolvimento de

P&D e para a geração de inovação, como universidades, centros de pesquisa, sistema

educacional, agências públicas e privadas de fomento ao investimento em inovação

(HASENCLEVER E FERREIRA, 2002).

“As atividades de P&D são como um sistema organizado e rotineiro que transforma recursos (entradas ou meios de pesquisa) em novos

1 A relevância das atividades de P&D para a inovação varia entre os setores. Para o setor farmacêutico, em especial, a P&D é uma fonte de inovação muito importante (Paranhos, 2010).

19

conhecimentos (saídas ou resultados de pesquisa) que, por sua vez, serão

incorporados em novos produtos, processos e formas de organizações,

impactando a atividade econômica (resultados ou impactos positivos sobre o sistema produtivo)” (HASENCLEVER E FERREIRA, 2002: 141).

Para uma atividade ser classificada como P&D é preciso estar dentro das normas e

regras do Manual Frascati elaborado e publicado pela Organização de Cooperação e

Desenvolvimento Econômico (OCDE). As atividades de P&D são aquelas relacionadas com a

pesquisa básica, pesquisa aplicada e desenvolvimento experimental. A pesquisa básica é o

estudo teórico e no âmbito experimental de qualquer fenômeno da natureza, mas que não tem

como objetivo a aplicação especifica. A pesquisa aplicada tem como fundamento criar novos

conhecimentos através de investigações originais que tragam algum tipo de retorno prático. Já

o desenvolvimento experimental está relacionado com o aperfeiçoamento de alguma técnica

já existente, ou a comprovação técnica da viabilidade de novos produtos, processos, sistemas

e serviço (HASENCLEVER E FERREIRA, 2002).

Existem três estágios que dividem o ciclo da inovação: a invenção, processo que cria

novas coisas, que ainda não existem, através de novas pesquisas ou de conhecimentos

existentes em novas combinações, e essas invenções, por gerarem algo novo, podem ser

patenteadas pelo criador, ou seja, este tem o direito de propriedade para comercializar a

invenção; a inovação ocorre quando as invenções são lançadas no mercado e são bem aceitas

comercialmente, o que não necessariamente ocorre com toda invenção, pois mesmo

patenteada, pode não se tornar uma inovação; a imitação, que é o terceiro estágio do ciclo da

inovação, ocorre quando há o surgimento e a introdução de variações na inovação

introduzidas comercialmente com o intuito de trazer melhorias para esses bens e serviços

inovados e que atenda as necessidades dos usuários, porém nem toda imitação

necessariamente introduz melhorias. Se a imitação trouxer melhorias, esse processo é

denominado de introdução de inovações incrementais ou secundárias. A inovação associada a

um processo de invenção é denominada inovação radical (HASENCLEVER E FERREIRA,

2002).

Autores de escolas econômicas diferentes, neoclássica e evolucionista, definiram dois

modelos opostos que abordam o processo econômico da inovação, o modelo de incitação e o

modelo de seleção, respectivamente (HASENCLEVER E FERREIRA, 2002).

20

O modelo neoclássico de Kenneth Arrow, o modelo de incitação, considera como

premissa que só existem duas situações de mercado, a concorrência e o monopólio, e que,

além disso, todo conhecimento é um bem de informação e que todo agente tem acesso de

forma igual e sem custos. Segundo Arrow, o processo de invenção possui rendimentos

crescentes, mas tem riscos e está sujeito a incertezas, pois podem ser apropriados por qualquer

agente. O foco do modelo de Arrow consiste nas vantagens e nas desvantagens de investir em

P&D nas duas estruturas de concorrência, a concorrência pura ou o monopólio. No

monopólio, a empresa que tem poder de mercado já garante um sobrelucro e, portanto, para

que esta empresa tome a decisão de investir em P&D é necessário que a inovação permita

uma redução substancial nos custos.

Na concorrência pura, as empresas não possuem poder de mercado, ou seja, não

podem fixar preços, desta forma, a introdução de uma inovação permanente por parte de uma

empresa representa um diferencial num mercado concorrencial, pois é a forma desta conseguir

aumentar as margens de lucros. Neste cenário de concorrência pura, é vantajoso investir em

P&D, mesmo que as margens de lucro sejam rapidamente reduzidas com a introdução de

invenções por novas empresas (HASENCLEVER E FERREIRA, 2002).

O modelo evolucionista formulado por vários autores durante as décadas de 1950 a

1980, o modelo de seleção, considera a premissa de que para as empresas se desenvolverem,

estas devem buscar novas técnicas de produção com o intuito de aumentar a rentabilidade,

caso contrário, o risco de entrarem em processo de falência é alto. Esse modelo supõe que se

as empresas de uma indústria não investem em P&D e tem a mesma produtividade do capital,

essas empresas dividirão igualmente o mercado. Por outro lado, quando as empresas não

possuem as mesmas rentabilidades do capital e apresentam níveis de custos distintos, as

empresas que possuem os níveis de custos mais baixos eliminam do mercado as que possuem

níveis de custos mais altos e dividem entre elas as partes de mercado (HASENCLEVER E

FERREIRA, 2002).

Numa outra hipótese onde só ocorre o processo de imitação, supõe-se que algumas

empresas não podem inovar, mas investem o mesmo volume de P&D. As empresas que

sobrevivem terão utilizado a melhor técnica conhecida previamente e apresentarão a mesma

produtividade, a máxima, porém algumas empresas serão expulsas do mercado através do

processo de difusão. As empresas que sobreviveram farão um novo e distinto processo de

21

seleção e difusão. Dessa forma, este modelo entende que num cenário que não ocorre

inovação, o comportamento imitativo das empresas e o processo de difusão desses

conhecimentos determina a estrutura do mercado que irá se estabilizar no final desse processo

(HASENCLEVER E FERREIRA, 2002).

Outra conclusão deste modelo é que as empresas que participam de um mercado mais

competitivo têm um desempenho produtivo médio inferior se comparadas com as empresas

que estão inseridas numa estrutura de mercado mais concentrada, que apresentam níveis de

produtividades mais elevadas. Neste caso, é possível concluir que as técnicas que apresentam

melhores desempenhos levam mais tempo para se difundir em estruturas de mercado mais

competitivas que as empresas interagem (HASENCLEVER E FERREIRA, 2002).

Assim, a hipótese schumpeteriana defende que as grandes empresas e aglomerados

possuem maior capacidade de inovação, o que gerou a criação de duas proposições: “a

inovação cresce com a concentração de mercado e a inovação cresce mais que

proporcionalmente com o tamanho da empresa” (HASENCLEVER E FERREIRA, 2002:

140). Existem argumentos a favor e contra essas duas proposições. As principais hipóteses

que contribuem para justificar que o tamanho da empresa e a concentração de mercado geram

um efeito positivo no nível de inovação são:

“As imperfeições do mercado de capitais, que conferem vantagens para as grandes empresas por permitirem acesso mais fácil a financiamentos para

os projetos de P&D, ou o fato de que as grandes empresas dispõem de recursos próprios; a existência de economias de escala na tecnologia,

decorrentes da indivisibilidade de alguns equipamentos de P&D, os

elevados custos fixos da inovação que podem ser compensados quando o

inovador pode dividir por um maior volume de vendas; a complementariedade com outros ativos nas grandes empresas que permite

aumentar a produtividade das atividades de P&D; e, finalmente, as

empresas maiores e mais diversificadas estão mais bem posicionadas para explorar os resultados incertos das atividades de P&D pelo fato de atuarem

em um escopo mais amplo de mercado.” (HASENCLEVER E FERREIRA,

2002: 140).

Já os principais argumentos que contrapõem a hipótese schumpeteriana estão

relacionados principalmente com as deseconomias de escalas, como a perda do espírito

empreendedor e do incentivo a criatividade decorrente do elevado nível de burocratização, a

redução do controle gerencial devido ao tamanho das empresas, o que reduziria a eficiência

das atividades de P&D.

22

Essa observação de Schumpeter contrasta com a hipótese neoclássica do modelo de

incitação, que defende que numa cenário de concorrência, as indústrias com empresas de

médio e pequeno porte difunde mais adequadamente a inovação tecnológica, pois para essas

empresas, a inovação representa um diferencial num cenário competitivo e uma forma de

aumentar as margens de lucros, além de apresentarem algumas vantagens se compradas com

as grandes empresas, como menor grau de burocracia, maior motivação para buscar novas

ideias e conhecimentos e ampliar a criatividade e uma maior disposição para dividir o

mercado (HASENCLEVER E FERREIRA, 2002).

Ao analisar diversos estudos empíricos sobre a relação entre o tamanho da empresa

com o nível de inovação, Hasenclever e Ferreira (2002) identificaram alguns resultados: em

alguns estudos, o resultado evidenciou que o nível da inovação cresce de forma fraca com o

tamanho da empresa; outros estudos apresentaram como resultado que as atividades de P&D

crescem mais do que proporcional ao tamanho da empresa, porém até certo limite, a partir do

qual a intensidade da relação começa a reduzir e pode tornar-se negativa ou nem existir;

também foram encontrados estudos que apresentaram resultados positivos entre a relação das

variáveis, mas na maioria dos estudos, esta relação positiva ficou restrita para alguns setores

da indústria, como por exemplo, a indústria química; outro estudo empírico identificou que as

empresas que apresentam maior intensidade de P&D são as empresas muito pequenas ou

muito grandes; e por último, também foram analisados alguns estudos que apresentaram uma

relação negativa entre as variáveis.

É importante ressaltar as dificuldades apresentadas nos testes empíricos das hipóteses

schumpeterianas. Na análise da relação entre inovação e tamanho da empresa e/ou estruturas

de mercado devem ser consideradas outras variáveis como as oportunidades específicas de

cada setor industrial ou cada negócio, o que afetaria a intensidade e os resultados. Assim, para

uma análise mais completas dessas hipóteses é importante considerar “um modelo mais

completo de determinação do progresso tecnológico” (HASENCLEVER E FERREIRA,

2002: 146).

Outro aspecto importante é a percepção e identificação de outras variáveis que

representam o esforço tecnológico das empresas e contribuem na intensidade do processo

inovativo, como “atividades de aprendizado que se dão no processo produtivo e não nas

23

atividades de P&D, e também o entorno institucional em que a empresa está situada e que

também contribui para a inovação”. (HASENCLEVER E FERREIRA, 2002: 146).

I.2.2) Teorias da concorrência

Joseph Schumpeter foi o autor pioneiro a esboçar em sua obra, no século XX, uma

“teoria da concorrência”. Apesar disso, outras escolas, ainda que não tivessem

fundamentado uma teoria sistemática sobre concorrência, tiveram um papel importante ao

conceituar a concorrência como um termo acessório às teorias econômicas (POSSAS, 2002).

Na escola clássica, o processo de concorrência em si não é o foco de análise das

teorias e é associado à livre mobilidade de capitais entre as indústrias que ocorre no longo

prazo e permite que as indústrias de maior rentabilidade atraiam os investimentos, gerando

um fluxo contínuo de capitais entre os diferentes setores. Essa concorrência entre capitais é

responsável por fortes efeitos tendenciais que levam à taxa de lucro de equilíbrio e aos preços

naturais ou de equilíbrio intersetorial, principais focos de análise das teorias clássicas

(POSSAS, 2002).

O autor Karl Marx, também não criou uma teoria da concorrência e a considerava

como um processo auxiliar, mas necessário e importante na execução das leis de movimento

da Economia e um pressuposto para as teorias de Marx do valor e do capital. Cabe ressaltar,

que apesar da concorrência ser um processo auxiliar para Marx, é possível identificar que este

tinha a percepção da importância da concorrência como um mecanismo de introdução de

progresso técnico que é responsável por tornar a economia capitalista endógena à capacidade

de mudança estrutural através das inovações. Essa percepção de Marx foi importante para a

teoria de Schumpeter (POSSAS, 2002).

A escola neoclássica contribuiu, através de Marshall, com a noção de uma

concorrência perfeita, que associada ao dinamismo de mercado no qual o equilíbrio entre

oferta e demanda determina que o preço de mercado seja igual ao custo marginal, e as

empresas individualmente não são capazes de afetar o preço do mercado (POSSAS, 2002).

A teoria de concorrência Schumpeteriana apresenta como um diferencial a introdução

da visão da economia capitalista como um processo dinâmico que evolui ao longo do tempo

24

através da introdução contínua de inovações com o objetivo de obter constantemente lucros

extraordinários. De acordo com Schumpeter, esse processo é possível através da diferenciação

tecnológica e produtiva dos agentes para obter vantagens competitivas na busca pelos lucros

(POSSAS, 2002).

“A concorrência schumpeteriana caracteriza-se pela busca permanente de

diferenciação por parte dos agentes, por meio de estratégias deliberadas, tendo em vista a obtenção de vantagens competitivas que proporcionem

lucros de monopólios, ainda que temporários” (POSSAS, 2002: 419).

Schumpeter ressalta que a concorrência não é um processo contrário a formação de

monopólios, pelo contrário, a busca constante de diferenciação por parte dos agentes, tendem

a formar monopólios de graus diferenciados. Quando as inovações bem-sucedidas propiciam

a formação de monopólios, criam situações que não podem ser consideradas anti-

competitivas, pelo contrário, essas situações apresentam o mesmo objetivo que um processo

competitivo, mesmo que de forma restrita e temporária (POSSAS, 2002).

A teoria schumepteriana diferencia-se das teorias clássicas e neoclássicas ao

considerar que a concorrência não é um processo que leva a economia a um equilíbrio

hipotético, mas um “processo (ativo) de criação de espaços e oportunidades econômicas”

(POSSAS, 2002: 419). Dessa forma, a concorrência gera permanentemente o surgimento de

diversidades no sistema econômico (POSSAS, 2002).

Para Schumpeter, a configuração da dinâmica industrial é resultado da dinâmica entre

as empresas num processo competitivo ao longo do tempo, ou seja, as estratégias competitivas

das empresas, e as estruturas de mercados preexistentes, que são importantes e endógenas ao

processo competitivo, mas não são imutáveis e podem ser modificadas, por exemplo, por

inovações radicais (POSSAS, 2002).

A corrente neo-shumpeteriana do século XXI retoma a análise de Schumpeter da

teoria da concorrência e inovação, e seguem as principais ideias desta, considerando um

cenário evolutivo e uma análise microeconômica. O principal foco dessa corrente é a quebra

dos principais pressupostos da teoria neoclássica, como os conceitos de equilíbrio e da

racionalidade maximizadora (POSSAS, 2002).

25

Esses economistas neo-shumpeterianos inserem alguns conceitos, como: a busca de

inovações que são realizadas pelas empresas através da criação de estratégias e a seleção dos

resultados gerados por essas inovações que é feita pelo mercado. Assim, as teorias neo-

shumpeterianas baseiam-se na relação entre a busca de inovações pelas empresas, as

estratégias competitivas, e a tomada de decisões por parte das empresas, as estratégias

empresariais, com o processo de seleção dessas inovações realizadas pelo mercado. O

principal foco da análise neo-schumpeteriana é que através dessa interação de busca de

inovações e seleção destas pelo mercado, surge uma trajetória dinâmica e temporal que

modifica endogenamente a configuração e a estrutura industrial (POSSAS, 2002).

Na análise normativa considerada universalmente na teoria econômica, os monopólios

são identificados como uma forma de mercado que tem o poder de fixar preços acima do nível

competitivo, ou seja, dos custos marginais e unitários, o que acarreta numa maximização dos

lucros no curto prazo. Neste cenário, os monopolistas ficam com parte do excedente do

consumidor e provoca perda de bem-estar social para o conjunto da sociedade. Os oligopólios,

que são representados por agentes oligopolistas que operam um monopólio com maximização

conjunta de lucros e com distribuição de quotas, geram o mesmo prejuízo alocativo dos

monopólios para a sociedade (POSSAS, 2002).

Ressalta-se que os monopólios naturais e oligopólios naturais são considerados uma

exceção, pois apresentam economias de escala e/ou escopo com proporções mínimas e

“tendem a ser aceitas como um custo social em perda de bem-estar a ser concedido em troca

do benefício social de maior eficiência estática (custos unitários mais baixos), desde que o

monopólio seja submetido à regulação pública para assegurar que os preços de fato

socializem tal benefício”. (POSSAS, 2002: 425).

Schumpeter e os economistas neo-shumpeterianos criticam a análise normativa

convencional, principalmente o foco no preço e no viés estático para expressar o poder de

mercado. Em relação aos preços, Schumpeter explicita em sua análise que a concorrência e o

poder de mercado são muito mais amplos e diversificados nas formas de manifestações e

controles e, portanto, não se expressam apenas pelo mecanismo de preços. A concorrência em

monopólio e oligopólios se expressa de forma mais complexa através de instrumentos fortes

que contribuem para gerar diferenciações de vários tipos que os distingam dos concorrentes e

assim, seja possível aumentar os ganhos diferenciais, chamado por Schumpeter de inovações

26

lato sensu. Já em relação ao viés estático, Schumpeter argumenta que as ações restritivas de

monopólios e oligopólios são apenas movimentos que compõem o processo concorrencial,

chamado de “destruição criativa das estruturas econômicas preexistentes” (POSSAS, 2002:

426).

Os instrumentos de proteção temporária associados à propriedade intelectual, como

patentes, por exemplo, utilizados pelos monopólios não se distinguem economicamente dos

movimentos de defesas das vantagens competitivas obtidas através de inovações, e que, num

processo dinâmico, geram com frequência um aumento do bem estar social. Uma das

condições indispensáveis para garantir o retorno dos investimentos realizados pelos

monopolistas advindos de inovações que tiveram sucesso é tomar medidas que evitem que as

inovações sejam rapidamente imitadas ou difundidas e permitam a viabilização dos efeitos

dinâmicos de bem-estar decorrentes desse processo. É extremamente necessária a criação de

uma política de concorrência para evitar alguns casos de abuso de poder no mercado

(POSSAS, 2002).

A política de concorrência tem como objetivos principais a defesa e o estimulo à

concorrência nos mercados em que estiver ameaçada e pode ser feita através de medidas

antitruste ou pela intervenção no mercado de órgãos responsáveis pelo cumprimento das

legislações. Dentro desta definição teórica de Schumpeter, a política de concorrência não é

considerada necessariamente contra a existência de monopólios e oligopólios (POSSAS,

2002).

Desta forma, é possível concluir que concorrência e competitividade não ocorrem

espontaneamente e devem ser estimuladas através de políticas econômicas, leis antitrustes e

regulatórias e inciativas empresariais estratégicas e inovativas, como a criação de critérios de

eficiência produtiva diante da ameaça de entrada de outros concorrentes (POSSAS, 2002).

“No enfoque schumpeteriano, a concorrência fortalecida requer um ambiente intensamente competitivo, o qual, por sua vez, supõe empresas

competidoras fortes, isto é, empresas competitivas, por sua capacitação e

por sua eficiência técnica, produtiva e organizacional” (POSSAS, 2002:

428).

27

I.2.3) Estratégias Inovativas

A principal corrente teórica que se dedicou ao estudo das estratégias de inovação,

estudo recente na Economia Industrial, é a institucionalista-schumpeteriana. A análise dessa

corrente é voltada para a empresa, para os setores industriais e para as relações em rede com

outros agentes econômicos. A empresa é considerada um agente que muda constantemente e é

influenciada pelo seu mercado, mas também pode modifica-lo ou criar novos mercados

através da introdução de inovações tecnológicas. Estas estão associadas com a organização

interna e as relações externas da empresa com o sistema de inovação mais amplo a qual está

inserida (HASENCLEVER E TIGRE, 2002).

Em 1991, Paul Geroski, realizou uma pesquisa com 79 indústrias inglesas através do

banco de dados do Science Policy Research Unit da Universidade de Sussex, para tentar,

através uma análise econométrica, relacionar a taxa de entradas de empresas em cada

indústria com as inovações comercialmente bem-sucedidas. Através deste estudo, Geroski

tentou relacionar a entrada de novas empresas com a propensão a inovar através do foco nas

estruturas de mercado e nas características técnico-econômicas das indústrias

(HASENCLEVER E TIGRE, 2002).

Através da pesquisa, encontraram-se alguns pontos relevantes: (i) É difícil prever a

taxa de entrada de novas empresas numa indústria devido aos diversos fatores interligados e

que são intrínsecos a cada mercado; (ii) As barreiras à entrada de novas empresas numa

indústria se mostraram menos eficiente para este propósito e observou-se que funcionam mais

eficientemente como um mecanismo de regulação do mercado; (iii) Identificou-se que a

relação entre propensão a inovar e a entrada de novas empresas numa indústria existe e é

positiva, porém além de ser modesta, não é possível identificar qual é o sentido da

causalidade. Coincidentemente, nos casos que observaram essa relação positiva, as indústrias

possuíam fracas barreiras à entrada de novas empresas e ricas oportunidades tecnológicas

(HASENCLEVER E TIGRE, 2002).

Dessa forma, a análise econométrica não é capaz de relacionar significativamente

essas duas variáveis e de encontrar qual é o sentido de causalidade, ou seja, se é realmente a

introdução de inovações que estimulam a entrada de novas empresas em uma indústria

(HASENCLEVER E TIGRE, 2002).

28

A análise institucionalista-schumpeteriana busca relacionar essas duas variáveis

através do foco nas características do ambiente econômico ou do regime das empresas. Essa

abordagem baseia-se no conceito de Schumpeter sobre a empresa inovadora, que são: a

empresa inovadora de pequeno porte emergente que tem como característica o intelecto e a

disposição do empreendedor; e a empresa de grande porte que organiza o modelo de gestão da

inovação e cria rotinas no processo de criação tecnológica a partir das atividades em P&D

(HASENCLEVER E TIGRE, 2002).

S.G.Winter, economista da escola institucionalista-schumpeteriana, contribuiu com a

sua análise em 1986 identificando dois regimes econômicos que englobam as características

do ambiente econômico das empresas: o regime empreendedor que é caracterizado por

favorecer a entrada de pequenas empresas inovadoras na indústria e não tão receptivo às

atividades inovadoras das grandes empresas que já atuam na indústria; e o regime tradicional

ou rotineiro que é predominantemente caracterizado pela introdução das inovações por parte

das grandes empresas que já atuam na indústria (HASENCLEVER E TIGRE, 2002).

Diante da análise de Winter, outros autores da mesma escola, como G. Dosi

considerou, em seu trabalho de 1988, que os dois regimes fazem parte de fases evolutivas de

uma indústria. A primeira fase, a fase de emergência da indústria, aproxima-se das

características do regime empreendedor, pois representa uma fase inicial na introdução de

novas tecnologias e inovações, o que representa uma alta taxa de risco para o empreendedor,

que arrisca com novas técnicas, podendo não ter sucesso. Desta forma, nessa fase as

inovações frequentemente são frutos da relação entre as empresas e as instituições técnicas, as

universidades e os centros de pesquisa. Nessa fase também é comum o aparecimento de novas

empesas pequenas que achem brechas para entrar na indústria com o progresso técnico

(HASENCLEVER E TIGRE, 2002).

A segunda fase, de acordo com G. Dosi, a “fase de maturidade”, tem identificação

com o “regime tradicional”, pois é a fase da formação de oligopólios na indústria com a

consolidação das empresas. Nessa fase, a introdução de inovações na indústria representa uma

grande vantagem num cenário competitivo e são feitas endogenamente por essas grandes

empresas que atuam predominantemente na indústria, e que tem como principais objetivos:

criar novas barreiras ou destruir as barreiras à entrada de novas empresas já existentes, alterar

as regras do jogo concorrencial, provocar a falência de algumas empresas concorrentes, criar

29

novos produtos e técnicas complementares à indústria, dentre outros (HASENCLEVER E

TIGRE, 2002).

Nesta fase, o autor considerou duas questões relacionadas com as barreiras à entrada.

Se a indústria tiver altas barreiras à entrada de novas empresas, as grandes empresas

consolidadas serão as responsáveis pela inovação, pois estão protegidas. Entretanto, se as

barreiras à entrada forem baixas ou ausentes, observa-se o surgimento de novas empresas que

atuarão na indústria (HASENCLEVER E TIGRE, 2002).

Assim, os autores determinam algumas conclusões sobre esses dois regimes. O

“regime empreendedor”, apesar de gerar um menor grau de concentração e ter um maior

potencial de risco para inovar, apresenta, geralmente, taxas de crescimento e produtividade

mais baixas se comparadas com o “regime tradicional”. Este regime também apresenta como

vantagens ao “regime empreendedor”: maior velocidade na difusão das inovações entre as

grandes empresas, pois apresentam um elevado grau de concentração, e produção do número

de inovações mais elevada. Porém, as inovações no regime empreendedor apresentam

potenciais mais elevados de impactos sistêmicos da inovação do que o “regime tradicional”,

pois este produz principalmente inovações incrementais, que possuem potencial de impacto

sistêmico mais baixo (HASENCLEVER E TIGRE, 2002).

Entretanto, ambos os regimes apresentam os mesmos potenciais e condições de

crescimento dos conhecimentos e da ocorrência de imitação das inovações introduzidas na

indústria (HASENCLEVER E TIGRE, 2002).

I.2.4) Estruturas organizacionais e formas de coordenação das empresas

Em 1986, S. J. Kline e N. Rosenberg, autores shcumpeterianos-institucionalistas,

criaram um modelo, modelo de Kline-Rosenberg, que reforça que a motivação de uma

empresa a inovar não é apenas para gerar novos produtos e processos, como defendido no

modelo linear clássico, é um modelo mais complexo e que envolve a organização das

empresas e a interação entre as diversas áreas. O processo de inovação surge com as

interações entre as diversas atividades de pesquisa, divididas em básica, aplicada e

30

experimental, com as diversas atividades da empresa, como a produção, o marketing, a

comercial (HASENCLEVER E TIGRE, 2002).

Os autores deste modelo identificaram alguns pontos nos processos de inovação, em

geral, que deveriam ser melhorados: (i) ter, durante o processo, fluxos de informações longos

e curtos que permitam uma troca mais eficiente entre as diversas áreas, o que contribui para a

identificação de novas oportunidades; (ii) estender a interatividade entre ciência e inovação

para toda a cadeia central de inovação; (iii) acúmulo de conhecimento no interior das

empresas, o que permite um aproveitamento mais adequado e uma interpretação mais

eficiente das oportunidades tecnológicas que surgem (HASENCLEVER E TIGRE, 2002).

Além disso, os autores reforçam que o modelo pode ser identificado em qualquer

processo de inovação, independendo do tamanho da indústria e do volume e complexidade

das relações existentes. Ou seja, pode ser identificado no seu nível mais básico, em apenas

uma empresa que tem processos de interação desde a etapa de pesquisa básica até a fase de

comercialização do produto e suas áreas, ou também em níveis mais complexo de

relacionamentos, que evolvam várias empresas interligadas no processo de inovação de uma

indústria, ou ainda, no estabelecimento de relações entre um grupo de empresas

especializadas, universidades e centros de pesquisas com o propósito de produzir inovações

(HASENCLEVER E TIGRE, 2002).

M. Aoki criou um modelo em seus trabalhos de 1986 e 1988, com o objetivo de

compreender as estruturas organizacionais das empresas e determinar o nível de importância

de alguns fatores essenciais para a eficácia das organizações industriais. O autor identificou

que esses principais determinantes da eficiência nas empresas são “a capacidade de

aprendizagem, as formas de coordenação internas às organizações e as estruturas

informacionais” (HASENCLEVER E TIGRE, 2002: 440).

Para reforçar seu modelo, Aoki criou dois tipos de empresa, a empresa A, que

representa as empresas americanas e a empresa J, que representa as empresas japonesas. A

empresa A tem uma estrutura vertical na circulação das informações, o que significa que as

inovações e aprendizados concentram-se no controle das hierarquias, o que gera desequilíbrio

de distribuição, e causa algumas consequências, como, por exemplo: ineficiência das

gerências na captação e condução correta das informações, fraco ou nulo estímulo dos

31

funcionários assalariados técnicos a compartilharem informações. Num cenário de constante

mudança e evolução, a empresa A tende a apresentar maiores dificuldades na adaptação

devido ao elevado nível de inflexibilidade e a dificuldade em interpretar as ações necessárias

diante das mudanças (HASENCLEVER E TIGRE, 2002).

A empresa J, de acordo com Aoki, apresenta uma estrutura horizontal na circulação

das informações que interliga diversas áreas da empresa, ou seja, apresentam coordenação de

diversos setores e organização do trabalho em torno de um sistema que permita uma maior

flexibilidade e facilidade na comunicação e na coordenação dos diversos funcionários. Em

contraste com a empresa A, a empresa J apresenta uma estrutura mais descentraliza que

permite a rapidez nas comunicações internas de diversos setores e atividades da empresa, o

que é fundamental para a adaptação rápida da empresa às evoluções repentinas que ocorrem

constantemente no ambiente econômico e tecnológico (HASENCLEVER E TIGRE, 2002).

“M. Aoki, em seu trabalho de 1988, enfatiza como ponto central de sua análise o sistema de incitação que permite manter as competências no

interior da empresa ou desenvolvê-las através do mecanismo horizontal de

transmissão da informação” (HASENCLEVER E TIGRE, 2002: 441).

Uma empresa que realiza uma inovação tecnológica bem-sucedida tem como

prerrogativa a apropriação dos benefícios econômicos que esta proporciona. Estes benefícios

aparecem sob a forma de quase-renda. Um dos grandes problemas é que as empresas

fornecedoras e as empresas que comercializam o produto inovador podem beneficiar-se

através da absorção das quase-rendas. Isto é possível, pois a venda de um novo produto, por

exemplo, revela uma informação nova a outros agentes que podem utilizá-la através dos

processos licenciamento, imitação, cópias, e assim, fazer concorrência a empresa que

introduziu a inovação (HASENCLEVER E TIGRE, 2002).

Desta forma, as empresas inovadoras identificam como um dos grandes desafios à

retenção das quase-rendas em benefícios próprios, mesmo com o sistema de propriedade

intelectual, que não asseguram totalmente e apresentam limites. Estes estão relacionados

principalmente como “o grau de conhecimento tácito embutido em cada tecnologia e com a

velocidade de difusão do conhecimento” (HASENCLEVER E TIGRE, 2002: 443). Assim,

quanto maior o grau de conhecimento que uma tecnologia possuir, maior será a proteção

intelectual desta informação, por outro lado, quanto maior for a velocidade de difusão da

32

informação inovadora, menos eficiente será o sistema de propriedade intelectual na proteção

da difusão do conhecimento (HASENCLEVER E TIGRE, 2002).

O autor D.J. Teece identificou, em seu trabalho de 1986, que as empresas inovadoras

deveriam concentrar os seus esforços e energia para os conhecimentos e atividades

complementares que são necessárias para a fabricação e comercialização do produto, para

cada vez tornar-se menos dependente e reduzir o risco, já que na maioria das vezes, essas

atividades são realizadas por empresas fornecedoras (HASENCLEVER E TIGRE, 2002).

Hasenclever e Tigre identificaram dois pontos importantes sobre a relação entre a

coordenação vertical das inovações e a apropriação das quase-rendas: (i) a necessidade que a

gestão dos ativos complementares seja feita de forma adequada e organizada pela empresa

inovadora, para que esta consiga usufruir completamente os benefícios dos investimentos

realizados; (ii) a identificação da forma de propriedade mais adequada que a empresa

inovadora deve estabelecer com os ativos complementares é crucial para uma boa gestão e

relação entre as partes (HASENCLEVER E TIGRE, 2002).

Outro aspecto relevante destacado por outros autores, como Michael Porter e Erick

Von Hippel, é a importância da mudança do foco das empresas na busca pela fonte das

inovações como prerrogativa para o sucesso. O foco das empresas inovadoras deve ser mais

direcionado no estreitamento das relações com as empresas usuárias das inovações e as

empresas que comercializam as mesmas e na busca de aprimorar tecnicamente o produto

inovador de acordo com as necessidades do usuário. Isso contrasta com o foco que muitas

empresas direcionam na busca da fonte das inovações no interior das empresas, nos processos

de produção, o que torna menos eficiente. As inovações devem estar alinhadas com as

necessidades do usuário, no meio externo da empresa (HASENCLEVER E TIGRE, 2002).

Assim, esses autores ressaltam a importância da coordenação vertical das empresas da

cadeia produtiva no estímulo a inovação. Além disso, as estratégias verticais contribuem para

reduzir os efeitos negativos de duas falhas de mercado, a dificuldade de se apropriar das

inovações e ações oportunistas tomadas pelas empresas fornecedoras e pelos clientes.

Também destacam que a estratégia vertical estabelecida nas relações produtivas dos diferentes

agentes pode ocorrer de diferentes formas. A coordenação vertical pura ocorre quando a

empresa inovadora tende a concentrar em uma única empresa todas as atividades

33

complementares, ou seja, a mesma empresa é a fornecedora e a cliente. Esse tipo de

coordenação implica algumas consequências como a redução da riqueza e da diversidade na

troca de informações entre os agentes e a impossibilidade de estabelecer uma concorrência

saudável na relação entre fornecedores e clientes. Dessa forma, torna-se mais saudável

economicamente adotar outras formas de coordenação vertical, tais como, o estabelecimento

de franquias, de parcerias, de quase-integração, de ligação em rede, de joint-venture, entre

outras (HASENCLEVER E TIGRE, 2002).

Outro aspecto relevante na difusão das inovações tecnológicas é o estabelecimento de

padrões de produção e de consumo, regras que permitam a utilização e a comercialização,

mas que também estabeleçam restrições ao uso. Nem sempre esses padrões são estabelecidos

pelo mercado, que pode não ser o agente que garanta o equilíbrio entre as relações. Nesses

casos, muitas normas técnicas utilizadas foram impostas pela regulamentação

(HASENCLEVER E TIGRE, 2002).

De acordo com Hasenclever e Tigre (2002), alguns autores, como por exemplo, C.

Shapiro e H. Varian, a padronização das relações produtivas e de consumo é vantajosa para

duas empresas concorrentes, a compatibilidade nas técnicas utilizadas, o que não ocorre

quando uma empresa tem domínio sobre a outra.

Já outros autores, como os institucionalistas-neo-schumpeterianos, defendem que

processo de padronização e mais complexo e os avanços tecnológicos intervém através de um

processo de mutua retroalimentação, ou seja, uma tecnologia de baixa qualidade e

desemprenho pode se impor como a norma, e como adquire aprendizagem ao longo do

processo, pode tornar-se eficiente: “a racionalidade do sistema é mais importante que a

racionalidade individual” (HASENCLEVER E TIGRE, 2002: 446).

I.2.5) Sistemas de Inovação

Segundo SOETE, (2010) apud Gomes (2014), o conceito de sistemas de inovação (SI)

foi estabelecido por Freeman (1987), Lundvall (1992) e Nelson (1993). Esses sistemas

envolvem a interação entre diversos elementos numa cadeia como as relações estabelecidas

34

pelas empresas, a organização interna das firmas, a atuação do setor público, o grau de

intensidade de P&D, a configuração das instituições financeiras, dentre outros (PETERS,

2006 apud GOMES, 2014).

Freeman (1987) apud Gomes (2014: 147) definiu os sistemas de inovação como uma

“rede de instituições dos setores público e privado, cujas atividades e interações iniciam,

importam, modificam e difundem novas tecnologias”.

Lundvall (1992) apud Gomes (2014) define os sistemas de inovação como uma rede

dinâmica de interações entre firmas e com toda a infraestrutura do conhecimento:

“...todas as partes e aspectos do sistema econômico e da estrutura

institucional que afetam a aprendizagem, incluindo-se aí a oriunda de

rotinas organizacionais (interno às organizações) e aquela oriunda da pesquisa realizada em organizações acadêmicas e orientadas para a

ciência” (LUNDVALL, 1992 apud GOMES, 2014: 147).

Já Nelson (1993) apud Gomes (2014: 147) define os sistemas de inovação como “um

conjunto de instituições cujas interações determinam o desempenho inovador”

Como as regiões de um país apresentam características e potencialidades distintas que

levam em conta experiências históricas, políticas, culturais, dentre outras, a partir da década

de 1990, elaborou-se o conceito de sistema regional de inovação (SRI), que aborda as

condições específicas de aprendizado local. Este conceito é utilizado no estudo do

desenvolvimento regional e estabelecimento de políticas (ASHEIM & GERTLER, 2005,

CASALI, et al, 2010 apud GOMES, 2014).

O estudo dos SRI é relevante, pois permite conhecer os processos de inovação em uma

região, através da identificação dos principais atores que estão envolvidos no processo de

geração de inovação e os entraves que surgem nesse processo e que as instituições locais

devem resolvê-los para melhorar a interação dos atores envolvidos. De acordo com Lundvall

et al. (2002) apud Paranhos e Hasenclever (2013: 2), “a abordagem regional é complementar

à abordagem dos sistemas nacionais de inovação”

Paranhos, França e Mercadante (2015: 2) apresentam uma citação que Cooke (1998)

faz de Ohmae (1995) sobre a definição das regiões:

35

“As regiões representam comunidades de interesse autênticas,

definem fluxos significativos de atividades econômicas e são

beneficiadas por verdadeiras sinergias e conexões entre atores

econômicos”.

Assim, a análise regional é importante para um estudo e compreensão mais profunda

do processo de inovação, pois dentro de um país as regiões podem apresentar diferentes

características, que dependem, principalmente, das estruturas tecnológicas e bases de

conhecimento (ASHEIM E GERTLER, 2005 apud PARANHOS, FRANÇA e

MERCADANTE, 2015).

As diferenças regionais também impactam na configuração dos diversos atores do

sistema de inovação, como nas formas de organizações das empresas, dos governos e das

ICTs. Cooke et all (1997) apud Paranhos e Hasenclever (2013) avalia os SRI através de dois

pontos de vista:

“...uma enfatizando a importância das políticas regionais para

garantir a autonomia das regiões e a outra do ponto de vista do

potencial sistêmico tal como o fortalecimento das interações entre as

empresas e as universidades” (COOKE et al., 1997 apud

PARANHOS E HASENCLEVER, 2013: 2).

Assim, a partir dessas perspectivas, é importante a definição de políticas e programas

públicos específicos para cada região que tenham como objetivo estimular e financiar às

atividades inovativas e à interação entre os agentes envolvidos no processo de inovação em

cada uma dessas regiões (COOKE, 1998 apud PARANHOS, FRANÇA e MERCADANTE,

2015).

Já Breschi e Malerba (1997) apud Paranhos, França e Mercadante (2015) destaca a

importância das diferenças setoriais na análise do processo de inovação, pois estas apresentam

diferenças nos diversos setores da economia em suas configurações, nos agentes que atuam no

processo, nas fontes, nas características, nos processos e na organização das atividades.

Assim, o conceito de sistema setorial de inovação (SSI) leva em conta a diferenciação

da inovação entre setores que envolvem diferentes atores, características, estrutura

organizacional, políticas, dentre outros aspectos:

36

“O SSI é um conjunto de atividades unificadas por ligações de grupos de produtos para uma demanda dada ou emergente e que compartilham o

mesmo conhecimento” (MALERBA, 2005 apud GOMES, 2014: 133).

A análise dos SSI leva em consideração as diferenças relevantes no conhecimento e

nas tecnologias dos diversos setores, além das diferenças institucionais de cada setor e

permite a criação de políticas específicas para cada setor que tenham como objetivo incentivar

à inovação. Cabe ressaltar que a criação dessas políticas setoriais específicas não exclui a

necessidade da criação de outras políticas complementares mais amplas. Apesar disso, “deve

considerar também as diferenças de dimensões geográficas do sistema setorial – local,

nacional, regional e global” (MALERBA, 2005 apud PARANHOS, FRANÇA e

MERCADANTE, 2015: 3).

I.3) Política Industrial

Diversas escolas teóricas divergem acerca da importância do papel do Estado como

propulsor das atividades produtivas. Os autores ortodoxos estabelecem os limites de atuação

do Estado e do mercado no incentivo as atividades produtivas, os desenvolvimentistas

destacam a capacidade produtiva e o poder econômico de cada país no contexto internacional,

já os evolucionistas defendem que o desenvolvimento do sistema produtivo e suas

transformações estão diretamente relacionados com a capacidade dos agentes econômicos em

promover inovações (FERRAZ, DE PAULA E KUPFER, 2002).

Ferraz, De Paula e Kupfer descrevem, em seu texto “Política Industrial” de 2002, o

conceito de política industrial como sendo: “o conjunto de incentivos e regulações associadas

a ações públicas, que podem afetar a alocação inter e inta-industrial de recursos,

influenciando a estrutura produtiva e patrimonial, a conduta e o desempenho dos agentes

econômicos em determinado espaço nacional” (FERRAZ, DE PAULA E KUPFER, 2002:

545).

Existem várias interpretações a partir de diferentes óticas que descrevem o papel da

política industrial e seus mecanismos de atuação no mercado. Para os neoclássicos, a

intervenção do Estado só ocorre quando o nível de preços não for o de equilíbrio e, portanto, o

37

mecanismo de demanda e oferta que determina o nível ótimo de preço não capturar todos os

benefícios e custos de oportunidade associados à produção e ao consumo de bens, este cenário

ocorre devido a falhas de mercado, que justificariam as intervenções governamentais para

ajustar as condições de alocação subótima dos recursos no mercado competitivo (FERRAZ,

DE PAULA E KUPFER, 2002).

Segundo Ferraz, De Paula e Kupfer (2002) os “oligopólios e monopólios,

fornecimento de bens públicos, externalidades, direitos de propriedade comuns e diferenças

entre as taxas de preferências intertemporais sociais e privadas” (FERRAZ, DE PAULA E

KUPFER, 2002: 550) são alguns exemplos de falhas de mercado. Os oligopólios e

monopólios representam estruturas de mercados não competitivas que predominam

atualmente os mercados, e por isso, é cada vez mais importante a adoção de política

industrial, nesse cenário, políticas que regulem a concorrência, para tentar equilibrar o poder

de mercado dessas grandes empresas, reduzir medidas anticompeititvas e impedir o aumento

da concentração com a realização de fusões e aquisições.

As externalidades acontecem quando as tomadas de decisões de um agente econômico

prejudicam ou contribuem outro agente econômico. A política industrial torna-se importante e

eficiente para corrigir as falhas de mercado provocadas pelas externalidades, e se expressa

através de algumas medidas que devem ser aplicadas com cautela para não gerar outras

distorções, corrigir um problema e gera outro (FERRAZ, DE PAULA E KUPFER, 2002).

São exemplos dessas medidas corretivas:

“(1) fusão entre as empresas envolvidas, porque, nesse caso, a externalidade positiva ou negativa passaria a ser contabilizada,

respectivamente, como uma receita ou um custo, pelo tomador de decisão;

(2) criação de um imposto ou subsídio para corrigir os preços dos produtos

e aproximá-los de seus custos de oportunidades ou (3) atribuição de direitos de propriedade de forma a criar um mercado para externalidade.”

(FERRAZ, DE PAULA E KUPFER, 2002: 551).

Outra falha de mercado é o fornecimento de bens públicos, que não devem privilegiar

nenhum grupo econômico em detrimento do outro, não-exclusividade, e não tem aumento dos

custos dos bens consumidos com o aumento do consumo, não-rivalidade. A falha ocorre

quando o fornecimento destes bens leva a ações oportunistas de agentes (free rider) que

consomem e não pagam. Devido a esta falha e do fato que o incentivo de oferta é baixo para

38

atrair o fornecimento privado, do mercado, esses bens devem ser fornecidos pelo Estado

(FERRAZ, DE PAULA E KUPFER, 2002).

Os bens de propriedade comum geram falhas de mercado, pois como não podem ser

apropriados pelo agente individual, pode gerar baixos incentivos de conservação ou inovação

desses, tornando assim, necessário que o Estado crie políticas que controlem as taxas de

exploração desses bens. As falhas de mercado também ocorrem quando existem diferenças de

preferências do consumo corrente e futuro entre os agentes privados e a sociedade, e o papel

do Estado torna-se relevantes já que essas divergências intertemporais podem acarretar num

deslocamento do investimento privado (FERRAZ, DE PAULA E KUPFER, 2002).

Assim, segundo Ferraz, De Paula e Kupfer (2002), na visão ortodoxa, a intervenção do

Estado na forma de criação de políticas industriais tem como principal finalidade a correção

das falhas do mercado. Entretanto, os neoclássicos pressupõem poucas falhas de mercado,

pois tomam como premissas a racionalidade e a troca de informações perfeitas. Ao contrário

da teoria neoclássica, a ocorrência de imperfeições ou limitações dessas premissas gera

incertezas e, portanto, desequilíbrios e falhas de mercado, que demandam a atuação do

Estado.

A teoria desenvolvimentista, diferente dos neoclássicos, defende uma atuação do

Estado mais ativa e capaz de promover o desenvolvimento e sustentá-lo com altas taxas de

crescimento econômico, e não apenas com uma atuação corretiva. Os desenvolvimentistas

apoiam a intervenção estatal com o objetivo de proteger a indústria nascente, principalmente

nos países em desenvolvimento, baseados no argumento que “a ótica desenvolvimentista

guarda estreita relação com o estágio de desenvolvimento das forças produtivas de um

determinado país e é mais “intervencionista”, quanto mais tardio for o processo de

industrialização” (FERRAZ, DE PAULA E KUPFER, 2002: 553).

Os desenvolvimentistas partem de duas premissas para argumentar a proteção à

indústria nascente: os custos de produção, que inicialmente são altos, com o tempo, tendem a

reduzir devido ao acúmulo de experiência industrial, escalas de aprendizagem, o que contribui

para reduzir as diferenças industriais entre as nações; com a redução dos custos e, portanto, da

desvantagem inicial, a intervenção protecionista deve ser temporária para não gerar

incapacidade produtiva e redução do bem-estar (FERRAZ, DE PAULA E KUPFER, 2002).

39

De acordo com Ferraz, De Paula, Kupfer (2002), o Estado possui legitimidade política

e utiliza diversos instrumentos de política econômica que são usados como forma de incentivo

e/ou proteção das indústrias que precisam ser encorajadas. É importante ressaltar que as

políticas no Estado desenvolvimentista devem beneficiar a empresa nacional e incentivar o

crescimento e a produtividade, baseados em práticas internacionais bem-sucedidas. Dessa

forma, é importante que o Estado desenvolvimentista crie políticas e estratégias que estejam

de acordo com o nível de desenvolvimento de cada país, a atuação do Estado varia com o

contexto específico e interacional e o tempo histórico.

Um desafio, apontado pelos atores, do Estado desenvolvimentista, é a adaptação da

atuação deste de acordo com as mudanças industriais. A intervenção do Estado irá variar de

acordo com a maturidade industrial de cada país (FERRAZ, DE PAULA E KUPFER, 2002).

Inspirados em Schumpeter, outros economistas defendem que a inovação ocorre no

próprio processo dinâmico do desenvolvimento capitalista e rejeitam os pressupostos

neoclássicos. Essa corrente defende uma economia com informação limitada, na qual ocorrem

externalidades e divergências na transmissão das informações, que não é perfeita, e por isso,

levam a um processo de acumulação do capital e crescimento. A competitividade entre as

empresas é um processo dinâmico e natural que é realizado no mercado, essas buscam

diferenciar seus produtos e competências, de uma forma que as tornem competitivamente

mais atraentes que seus concorrentes e permitam ganhar uma posição melhor no mercado

competitivo (FERRAZ, DE PAULA E KUPFER, 2002).

De acordo com Ferraz, De Paula e Kupfer (2002), essa corrente ressalta quatros

características principais do processo de inovação: (i) a concorrência é determinada pelo

estimulo á inovação, capacitação tecnológica e os resultados dinâmicos desse processo; (ii) o

processo de inovação e aprendizado ocorre, na maioria das vezes, através da interação entre

empresas, universidades e centros de pesquisa; (iii) as empresas seguem uma ordem natural

no processo de inovação, estas definem suas estratégias inovativas com base na avaliação do

ambiente competitivo. Essas estratégias são voltadas para a capacitação tecnológica das

empresas que buscam um desempenho diferenciado dos produtos e eficiência produtiva; (iv) o

ambiente competitivo permite, através de processos seletivos, que as tecnologias e práticas

mais eficientes se tornem, ao longo do tempo, através da repetição e eficiência, exemplos e

padrões que passarão a ser seguidos por outros agentes econômicos.

40

A corrente shcumpeteriana não considera que as externalidades são falhas de mercado,

como os ortodoxos, mas pontos chaves para o crescimento da economia e podem ser

estimuladas pelos governos através de medidas regulatórios e incentivos. O processo de

concorrência é via inovação que é um processo incerto, por isso papel do Estado é relevante.

Este deve e pode atuar através da intervenção em mercados que necessitem de estímulos, no

intuito de incentivar as empresas a investirem em novas capacitações, diferenciações de

produtos e serviços, que gerem processos diferentes aos que já existem no mercado. Este é

responsável pela seleção dos agentes econômicos num ambiente competitivo (FERRAZ, DE

PAULA E KUPFER, 2002).

“Embora o protagonista seja a empresa e o espaço de atuação o mercado, o

Estado tem um papel relevante a desempenhar, seja ampliando a intensidade do processo seletivo, seja criando instituições facilitadoras do

processo de geração e difusão de novas tecnologias” (FERRAZ, DE

PAULA E KUPFER, 2002: 557).

Assim, nessa abordagem, através da política industrial, chamada de política da

inovação, o Estado deve estimular as empresas a desenvolverem novas capacitações e

incentivar o aumento das interações e articulações entre os agentes permitindo o aumento das

capacitações empresariais (FERRAZ, DE PAULA E KUPFER, 2002).

Ferraz, De Paula e Kupfer (2002) citam alguns instrumentos utilizados pelo Estado

como forma de intervenção:

“...subvenção a projetos de alta densidade tecnológica, incentivos fiscais à pesquisa e desenvolvimento, financiamento em condições preferenciais para

a inovação, compras do setor público, e a disponibilidade de capital de

risco para novos empreendimentos, além de medidas orientadas a garantir a apropriabilidade privada do investimento tecnológico (patentes) e manter

padrões técnicos (metrologia, padronização e qualidade). Adicionalmente,

são extremamente importantes os investimentos e ações orientadas ao fortalecimento das instituições que compõem um sistema de inovação local

ou nacional, especialmente institutos dedicados à investigação científica e

tecnológica e à formação de recursos humanos de alto nível” (FERRAZ, DE PAULA E KUPFER, 2002: 558).

De acordo com Ferraz, De Paula e Kuper (2002), a política macroeconômica pode

impactar positivamente ou negativamente a política industrial de um país através de alguns

mecanismos, como por exemplo: alteração de preços relativos de produtos via taxa de câmbio,

41

aumento ou redução da taxa de juros o que impacta o nível de investimento, possibilitar

através da estabilidade econômica e fiscal a criação de políticas de incentivo à inovação e de

investimento em infraestrutura, educação, ciência e tecnologia.

A política industrial pode ser implícita ou explícita. É possível observar a política

explícita em diversos instrumentos que podem ser utilizados como, por exemplo, medidas

regulatórias, leis, planos de desenvolvimento, órgãos e declarações públicas do governo. Já a

política implícita não é fácil de ser identificada e na maioria das vezes não é anunciada ou

implementada (FERRAZ, DE PAULA E KUPFER, 2002).

Ferraz, De Paula e Kupfer (2002) também classificam as políticas industriais em

horizontais ou verticais. As políticas horizontais têm como objetivo um alcance global,

adotando medidas que impactem a economia como um todo e não apenas um setor específico,

ou seja, “esse tipo de política busca alterar o mecanismo geral de alocação de recursos na

produção” (FERRAZ, DE PAULA E KUPFER, 2002: 559).

Os autores descrevem alguns instrumentos que podem ser utilizados como

mecanismos regulatórios do Estado na política industrial horizontal, com destaque para os

seguintes instrumentos: medidas de controle da concorrência como a repreensão de ações

anticompetitivas e de controle da ocorrência de fusões, aquisições e joint-ventures; medidas

voltadas para a infraestrutura como as concessões e privatizações, além de políticas de

reajuste de preços, através do controle dos preços pelo aumento ou redução de tarifas

cobradas em serviços; medidas voltadas para o comércio exterior como impedir ações

concorrenciais desleais que ocorrem em anti-dumpings, direitos compensatórios e

salvaguardas e adotar políticas tarifárias ou não tarifárias que estimulem o comércio; e

medidas voltadas para incentivar a proteger a propriedade intelectual como as patentes,

marcas e transferência de tecnologia (FERRAZ, DE PAULA E KUPFER, 2002).

O Estado também pode utilizar instrumentos de incentivos como forma de política

industrial horizontal, os quais se destacam: instrumentos de incentivo à inovação como

investimento público em P&D e fomento à difusão de tecnologias e informações; concessão

de créditos de financiamento de longo prazo que permitam que as empresas tenham capital,

medidas de estímulo ás exportações, através de créditos, financiamento às importações;

medidas de incentivos fiscais para promover a atividade industrial nos três níveis de governo;

42

e medidas que incentivem o produtor local através do mecanismo de compras do governo

desses produtos (FERRAZ, DE PAULA E KUPFER, 2002).

As políticas industriais verticais são adotadas com o objetivo de atingir uma indústria

específica, modificando as regras de alocação de recursos entre setores. Ou seja, o Estado

adota um conjunto de medidas, descritas acima, para privilegiar um setor industrial específico,

e utiliza as seguintes premissas na escolha do setor industrial privilegiado: indústrias que

possuam maior valor agregado; indústrias com alto potencial de encadeamento ao longo da

cadeia produtiva; indústrias que possuam um potencial dinâmico elevado; novas indústrias e

indústrias que apresentem retornos crescentes de escala (FERRAZ, DE PAULA E KUPFER,

2002).

A OCDE, composta por 34 países, apresenta quatro principais características em

comum das políticas industriais adotadas pelos países, que são: apoio à capacidade de

concorrência externa através de medidas de incentivo à exportação, apoio às empresas que

apresentem dificuldades, medidas de reestruturação setorial e redução de setores em baixa;

apoio às atividades de P&D e à difusão tecnológica; adoção de políticas industriais regionais e

de apoio a pequenas e médias empresas que protegem o tecido industrial; apoio ao

investimento fixo (FERRAZ, DE PAULA E KUPFER, 2002).

I.4) Inovação e atividades de P&D na indústria farmacêutica

A inovação é tema fundamental na agenda de desenvolvimento econômico de

qualquer país industrializado ou economia emergente como um dos pontos prioritários.

Medidas que incentivem a inovação, como políticas industriais ou até ações de alcance mais

amplo, contribuem na promoção do crescimento das economias no longo prazo, apoia a

competitividade econômica de qualquer setor a nível internacional e contribui na geração de

empregos (PACHECO, 2010).

De acordo com Pavitt (1984), a indústria farmacêutica é baseda em ciência, ou seja,

apresenta contínua necessidade de investir em inovações, com a criação de novos produtos, a

busca por melhorias nas moléculas já existentes ou a realização de novas combinações entre

43

elas, pois neste setor ocorre a recorrente expiração das patentes que pode acarretar em perda

de receita com o aumento da concorrência (GOMES, 2014).

A inovação na indústria farmacêutica é considerada como um “processo sistêmico”,

que envolve a concorrência de diversas iniciativas multidisciplinares e específicas que

interagem entre si e são desenvolvidas em momentos simultâneos, portanto, a inovação não

pode ser considerada apenas como atividades relacionadas com a P&D de um princípio ativo

novo (PINTO E PEREZ, 2014).

A inovação mais relevante que ocorre no setor farmacêutico, de acordo com Palmeira

(2003) apud Gomes (2014), são as inovações incrementais que representam as adaptações

e/ou melhorias de produtos e serviços e/ou modos de produção e de entrega já existentes.

Essas estão diretamente relacionadas à fase do desenvolvimento do produto na qual é

estritamente importante a busca por melhorias do produto, ou seja, aumento da eficácia no

resultado final, redução de efeitos colaterais e garantias na segurança do consumo do produto.

Também é importante destacar outro tipo de inovação, as inovações radicais que estão

relacionadas com a criação de novos produtos e serviços e/ou modos de produção e entrega.

Neste caso, pode ocorrer a descoberta de novos princípios ativos.

Segundo Tidd et al (2008) apud Gomes (2014), as inovações também são

diferenciadas por produto, ou seja, mudança nos produtos que uma empresa oferece, e por

serviços, que representa as mudanças na forma que as empresas oferecem os produtos e

serviços. Tanto a inovação por produto quanto a inovação por serviços podem ser inovações

incrementais ou radicais.

É importante destacar que a descoberta e o desenvolvimento de novos medicamentos

farmacêuticos costumam ser divididos em duas fases: a fase pré-clínica e a clínica. A fase pré-

clínica está relacionada ao isolamento da molécula química ou biológica com ação

terapêutica, e em seguida, a ocorrência de vários testes dessa molécula em uma escala

evolucionária de espécies animais. Se os testes forem positivos, ou seja, os resultados não

forem tóxicos, é necessário formular a molécula de forma apropriada para que seja possível

apresentar para os órgãos reguladores, responsáveis por autorizar a passagem para a próxima

fase de desenvolvimento, a fase clínica (SCHERER, 2010 apud GOMES, 2014).

44

A fase clínica é dividida em quatro subfases: a Fase I é a realização de um teste em um

pequeno número de pessoas, que possuam ou não a doença a qual se objetiva tratar, e a

observação da eficácia do medicamento e do nível de segurança da dosagem. Já na Fase II são

realizados testes mais cuidadosos com uma amostra maior. Se os testes da Fase II forem

positivos, no próximo passo, a Fase III, são realizados testes com pelo menos dois grupos de

pessoas, que variam de acordo com o tipo de doença alvo. Se o medicamento for destinado a

uma doença que já tenha cura, os testes são realizados com uma média de 500 pessoas. Se o

medicamento testado é destinado para o tratamento de terapias de longo prazo, o número de

pessoas que os testes são realizados podem exceder 10.000 pacientes. Além disso, são

realizados testes simultâneos com o medicamento testado e com um medicamento já utilizado

e comprovada a eficácia no combate à doença alvo, e nenhum dos pacientes sabem quais dos

dois medicamentos estão recebendo (SCHERER, 2010 apud GOMES, 2014).

Obtendo resultados positivos nos testes da Fase III, o próximo passo é preparar um

dossiê com todos os resultados e apresentar para o órgão regulador do país, no Brasil é a

Anvisa, para obter a autorização para lançar no mercado. Após o lançamento, inicia-se a Fase

IV, que tem como objetivo desenvolver o marketing do novo produto e resolver as

observações que os órgãos reguladores sinalizarem (SCHERER, 2010 apud GOMES, 2014).

45

Capítulo II: Configuração da Indústria Farmacêutica Brasileira e Políticas

de apoio

II.1) Desenvolvimento da Indústria Farmacêutica Brasileira

A indústria farmacêutica brasileira consolidou-se em 1930 com a formação das

primeiras empresas bóticas que eram dependentes da importação de insumos e voltadas para a

produção local. A Segunda Guerra Mundial representou um estímulo à produção industrial de

medicamentos, com a produção dos primeiros produtos por síntese química, e contribuiu de

certa forma para uma atuação global das principais empresas farmacêuticas, que a partir de

1950, passaram a buscar novos mercados, como o mercado brasileiro (BERMUDEZ et al.,

2000; GADELHA e MALDONADO, 2008 apud PARANHOS, 2010).

Assim a partir do final da década de 1940, a maioria das empresas farmacêuticas

localizadas no Brasil eram estrangeiras, ou seja, empresas multinacionais que instalaram suas

filais no país para ter mais acesso ao mercado brasileiro. Esse cenário foi constituído,

principalmente, devido à política de substituição de importações, que determinava barreiras às

importações de vários produtos. É importante ressaltar que as empresas multinacionais

trouxeram para o Brasil, através das filiais, as etapas de produção e comercialização, porém

não trouxeram a produção do fármaco e as atividades de P&D (BERMUDEZ et al., 2000;

GADELHA E MALDONADO, 2008 apud PARANHOS, 2010).

Nesse período, também é possível identificar um processo de fusões e aquisições de

empresas brasileiras pelas multinacionais. Essas eram atraídas para abrir filiais no país,

principalmente, devido à implementação de políticas de atração ao capital estrangeiro.

Entretanto o país era carente de políticas setoriais que incentivassem um crescimento da

atuação das empresas nacionais no mercado farmacêutico de uma maior verticalização da

produção (BERMUDEZ et al., 2000; GADELHA E MALDONADO, 2008 apud

PARANHOS, 2010).

Outro ponto relevante é que o aumento da produção de medicamentos domésticos

pelas multinacionais, nesse período, acarretou na redução da importação destes, porém os

46

insumos necessários para a produção interna eram em sua maioria importados em grandes

quantidades (PALMEIRA FILHO E PAN, 2003).

A indústria farmacêutica brasileira é caracterizada pela sua forte dependência em

relação às empresas multinacionais, que atendia 75% da demanda do mercado farmacêutico

brasileiro, e em relação à importação de insumos, fármacos e intermediários. Em 1970, o

mercado farmacêutico brasileiro ocupava a 7 ª posição no ranking mundial de vendas e a 1 ª

posição no ranking da América Latina (PARANHOS, 2010)

As empresas nacionais, segundo Paranhos (2010), atuavam no mercado farmacêutico

através da representação de marcas das multinacionais. A partir da década de 1970, é possível

identificar uma expansão da atuação das empresas nacionais através do aumento dos registros

de medicamentos similares que foi possível com a suspensão pela legislação brasileira de

propriedade intelectual, da patente de produtos, em 1945, e da patente de processos

farmacêuticos, em 1969, o que permitia a produção de medicamentos similares aos originais,

já que estes não contavam com a proteção.

Destaca-se que o governo tinha como objetivo reduzir os custos e incentivar os

investimentos em P&D com o não reconhecimento de patentes e permitindo a produção de

medicamentos similares. Porém, apesar dos custos serem menores para licenciar uma

tecnologia, os investimentos em P&D realizados pelas empresas nacionais não apresentaram

um aumento significativo, pois estas se especializaram na produção de medicamentos de

marcas estrangeiras (URIAS, 2006 apud SANTOS E PINHO, 2012).

Cabe ressaltar algumas inciativas do governo, nesse período, com o intuito de

estimular o desenvolvimento das empresas nacionais: a criação da Companhia de

Desenvolvimento Tecnológico (Codetec), criada em 1976, e representava uma empresa

privada de P&D que tinha ligação com a Universidade de Campinas e tinha como o objetivo

de identificar formar que acelerassem a criação de novos empreendimentos tecnológicos no

setor privado como forma de promover o desenvolvimento tecnológico do Brasil; e a outra

iniciativa foi a implantação da Central de Medicamentos (CEME) 2, em 1971. (PARANHOS,

2010).

2 A CEME tinha como principais objetivos a regulação e a distribuição dos laboratórios farmacêuticos que eram subordinados ou tinham algum vínculo com os ministérios, através do incentivo das linhas de produção dos

47

A Codetec e a CEME estabeleceram uma parceria, em 1986, com o intuito de

incentivar o desenvolvimento industrial do setor farmacêutico nacional através de um

programa que tinha como objetivo a concessão de financiamento para empresas nacionais que

desenvolvessem processos de produção de fármacos utilizando engenharia reversa na

Codetec. Por outro lado, o governo se comprometia a comprar estes medicamentos para a

farmácia brasileira em parceria com a CEME, o que estimularia o desenvolvimento da

indústria nacional. Alguns projetos foram comercializados através desse programa, porém, em

1995, a Codetec também foi extinta por motivos de corrupção, o que interrompeu o programa

e a base de dados acumulada nesse período foi perdida (BERMUDEZ et al., 2000; LEITE,

2008 apud PARANHOS, 2010).

Cabe destacar ainda a criação do Grupo de Estudos Setoriais (GS-III) que tinha como

objetivo a aprovação de projetos de investimento focados na área química. Esse Grupo era

formado pela participação acionária da Petrobrás, pelo Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico e Social (BNDES) através de financiamentos e com a parceria de empresas

estrangeiras e nacionais que estabeleciam acordos de transferência de tecnologia (OLIVEIRA,

2005 apud PARANHOS, 2010).

Na década de 1980, tiveram outras iniciativas que visavam aumentar o

desenvolvimento das empresas nacionais e fortalecer as iniciativas locais. Dessas destacam-

se: o financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e

da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) para projetos industriais e para P&D,

respectivamente; os programas plurianuais da CEME que eram financiados pela contratação

de compras futuras do Estado; e os incentivos da Codetec no desenvolvimento tecnológico de

síntese química de fármacos. Entretanto, apesar dessas iniciativas, nessa década, a

participação das empresas multinacionais aumentou para 85% do mercado brasileiro

(OLIVEIRA, 2005; GADELHA E MALDONADO, 2008 apud PARANHOS, 2010).

Algumas medidas adotadas pelo Estado, na década de 1990, como a abertura

comercial e redução das barreiras tarifárias para produtos acabados e intermediários, o que

aumentou consideravelmente as importações não contribuíram para o desenvolvimento do

setor e até afetaram alguns avanços atingidos nas décadas anteriores. Além disso, a criação do

laboratórios nacionais que tinham como prioridade o abastecimento governamental. A CEME foi desarticulada em 1997 devido a denúncias de corrupção e não cumprimentos dos objetivos.

48

Plano Real levou a uma valorização da moeda brasileira frente ao dólar o que acarretou num

aumento ainda mais relevante das importações e a desestruturação de vários setores da

economia, com destaque para o setor farmoquímico. Essas medidas levaram muitas

multinacionais do setor farmoquímico a desinstalarem suas filiais do Brasil ou a importarem o

produto final de outras unidades no exterior e apenas venderem no país (OLIVEIRA, 2005;

GADELHA E MALDONADO, 2008 apud PARANHOS, 2010).

“No entanto, o mercado farmacêutico brasileiro cresceu significativamente com o fortalecimento das empresas multinacionais, figurando em quinto

lugar entre os maiores do mundo em 1998, com um mercado de 10,3 bilhões” (HASENCLEVER, 2002 apud PARANHOS, 2010: 67).

Outro ponto que marcou a década de 1990 foi o estabelecimento na Organização

Mundial do Comércio do Acordo TRIPS (Trade Related Aspects of Intellectual Property

Rights Agreement), em português, Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual

Relacionados ao Comércio, que determinavam regras que regulavam qualquer tema que tem

relação com a propriedade intelectual (PARANHOS, 2010).

O Brasil era um dos países signatários e implementou, em 1996, a Lei de Propriedade

Industrial, que determinava, novamente, a proteção do conhecimento de produtos químicos e

farmacêuticos. Porém, diferente do Acordo TRIPS, que determinou um período de transição

de 10 anos para que os países se adequassem as regras, o Brasil reduziu esse tempo para dois

anos, o que resultou numa nova modalidade para obter uma patente chamada pipeline, que

permitia a concessão de patentes retroativas (HASENCLEVER et al, 2008b apud

PARANHOS, 2010).

“Durante esses dois anos, todo depositante que tivesse obtido uma patente

em qualquer outro país poderia requerê-la no Brasil para o período de patente ainda vigente, desde que não tivesse havido comercialização do

produto em qualquer mercado e não estivessem sendo feitos efetivos

esforços para a exploração do objeto da patente no país”

(HASENCLEVER et al, 2008b apud PARANHOS, 2010: 69).

Dessa forma, o mecanismo pipeline de concessão de patente para empresas

estrangeiras e a falta de investimento contribuíram para dificultar o desenvolvimento

industrial das empresas farmacêuticas nacionais. Essas voltavam sua produção principalmente

para produtos similares, produção de medicamentos com patentes vencidas e participando

através das vendas ou representação de produtos das empresas multinacionais. Além disso,

49

esse método prejudica o investimento em P&D, pois concede patentes sem a necessidade de

investir em novas P&D (BERMUDEZ et al, 2000 apud PARANHOS, 2010).

Na década de 2000, o mercado farmacêutico brasileiro passou por algumas mudanças

em sua configuração impulsionadas pela criação da Lei dos Genéricos (Lei 9.787/1999)3

(PARANHOS, 2010). O mercado de medicamentos genéricos e suas características serão

abordados na próxima seção.

“A aprovação da Lei de Propriedade Intelectual, em 1996, e da Lei dos

Genéricos, em 1999, teria dificultado as estratégias anteriores das empresas farmacêuticas nacionais, fortemente assentadas em fixação de marcas,

controle de canais de distribuição e amplas equipes de promotores de

vendas. A estratégia que dera a essas empresas certo posicionamento de

mercado era insuficiente para garantir competitividade no mercado de genéricos. No novo contexto institucional, de um lado, tornou-se impossível

simplesmente copiar produtos com patentes vigentes e, de outro, a

fabricação de produtos genéricos passou a sujeitar-se a uma regulamentação rigorosa. Tendo dificultado a estratégia anterior, o novo

marco regulatório teria induzido as empresas locais a reforçarem suas

capacidades tecnológicas e intensificarem o esforço de P&D no país” (URIAS E FURTADO, 2007 apud SANTOS E PINHO, 2012: 409).

Assim, a forte dependência das empresas multinacionais que configura o setor

farmacêutico brasileiro evidencia uma baixa integração vertical na cadeia produtiva da

indústria farmacêutica brasileira. Cabe destacar que a indústria farmacêutica brasileira,

mesmo com as alterações na estrutura do setor devido ao contexto econômico e as iniciativas

dos governos brasileiros, manteve algumas características como a baixa intensidade do fator

trabalho, as grandes barreiras à entrada, derivadas aos altos dispêndios com P&D e com

marketing, o alto valor adicionado da indústria e a concentração do setor na região sudeste do

Brasil (SELAN, KANNEBLEY E PORTO, 2007).

Através dos dados da IMS Health de 2015 compilados pela Interfarma (2015), o

mercado farmacêutico brasileiro ocupava, em 2013, a 6 ª posição no ranking mundial. A

previsão era que em 2017, o mercado farmacêutico brasileiro conseguiria atingir a 4ª posição

do ranking, porém identificou-se uma queda no faturamento do setor farmacêutico brasileiro,

o que levou a 7ª posição no ranking mundial em 2015. Assim, diante desse cenário, de acordo

3 A Lei dos Genéricos criada em 1999 estabeleceu a necessidade de testes de bioequivalência e

biodisponibilidade a serem utilizados na Rede Brasileira de Laboratórios Analíticos em Saúde para registro de

medicamentos cópia de medicamentos sem patente, instituindo no Brasil o segmento de medicamentos genéricos.

50

com os dados da IMS Health e Interfarma (2015), a meta prevista é a de que o mercado

farmacêutico brasileiro permaneça na mesma posição no ranking mundial, sem crescimento

(FRIAS, 2015).

A indústria farmacêutica brasileira, além de apresentar elevada rentabilidade,

apresenta, em média, valores mais altos do que a indústria de transformação e a indústria

geral. De acordo com a Pesquisa Industrial Anual (PIA) (2005) realizada pelo IBGE, é

possível identificar que a indústria farmacêutica brasileira apresenta, em média, porte das

empresas e salários mensais de seus trabalhadores superiores aos valores apresentados pela

indústria de transformação e geral (SELAN, KANNEBLEY E PORTO, 2007).

É importante ressaltar que os resultados positivos que impulsionam o crescimento da

indústria farmacêutica brasileira são provenientes das vendas de produtos para uso humano ou

veterinários (64% de concentração das empresas dessa Indústria). A distribuição espacial

relativa às unidades locais e também ao número de empregos concentra-se no Sudeste,

principalmente, nos ESP e ERJ (SELAN, KANNEBLEY E PORTO, 2007).

Através da RAIS/MTE foi possível analisar a quantidade de estabelecimentos e

trabalhadores formais que estão inseridos no sistema farmacêutico de produção e inovação

brasileiro e ESP no período de 1995 a 2013.

Na Tabela 1 abaixo, é possível observar que a quantidade de estabelecimentos do setor

farmacêutico brasileiro, considerando os estabelecimentos de fabricação de medicamentos

para uso humano e de produtos farmoquímicos, obteve uma queda relativamente baixa, assim

como apresentado pelo ESP. Em termos absolutos, o país apresentou uma queda total do

número de estabelecimentos de 28,60%, no período de 1995 a 2013 e o ESP apresentou queda

no número de estabelecimentos de 33,7%.

Tabela 1: Número de estabelecimentos farmacêuticos

País/Estado 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

São Paulo 356 341 347 333 339 320 328 321 331 315 308 315 309 286 270 256 246 228 236

Brasil 916 923 952 942 940 894 887 880 911 878 844 873 851 782 750 720 695 654 654

Fonte: Elaborado pelo Grupo de Economia da Inovação/ Instituto de Economia/ Universidade Federal do Rio de Janeiro com base na RAIS/MTE

51

Através da RAIS/MTE também foi possível obter a quantidade de trabalhadores

formais que estão empregados em estabelecimentos que fabricam medicamentos para uso

humano e farmoquímicos. Na Tabela 2 abaixo, é possível identificar que o número de

trabalhadores formais empregados em estabelecimentos farmacêuticos do país e no ESP

aumentou consideravelmente no período de 1995 a 2013, apresentando crescimento em

termos absolutos de 59,13% e 43,24%, respectivamente.

Tabela 2: Número de trabalhadores empregados em estabelecimentos farmacêuticos

Com base na PIM-PF/IBGE, foi possível obter os índices referentes à produção física

da indústria de transformação e farmacêutica. O Gráfico 1 abaixo mostra, no período de 1996

a 2012, a tendência de crescimento das indústrias de transformação e farmacêutica brasileira.

O ESP segue a tendência de crescimento da produção física do país nessas indústrias, com

destaque para o grande crescimento apresentado nesse período da indústria farmacêutica

paulista.

País/Estado 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

São Paulo 33.330 34.552 33.796 29.751 30.053 32.577 32.061 32.230 34.464 35.619 36.350 41.744 43.967 46.823 45.783 45.490 45.571 46.864 47.742

Brasil 55.990 58.295 56.429 52.357 54.249 56.713 57.551 58.763 61.395 64.022 64.708 73.604 76.231 79.561 80.440 81.397 82.081 84.806 89.096

Fonte: Elaborado pelo Grupo de Economia da Inovação/ IE/ UFRJ com base na RAIS/MTE

268,64

191,60

137,55

132,52

0

50

100

150

200

250

300

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Índic

e

Gráfico 1: Produção física da Indústria de transformação e farmacêutica no Brasil e ESP

Farmacêutica SP Farmacêutica BR Indústria de Transformação SP Indústria de Transformação BR

Fonte: Elaborado pelo Grupo de Economia da Inovação com base PIM-PF/IBGE.

52

Assim, é importante destacar que o ESP possui a maior concentração de empresas do

setor farmacêutico brasileiro e emprega a maior quantidade de trabalhadores formais no setor

no país. Isto está diretamente relacionado ao mercado consumidor do estado, a presença de

altos investimentos, de infraestrutura logística, de serviços, de mão-de-obra qualificada, de

importantes ICTs de formação e pesquisa, o que faz com que o SRI do estado tenha diversos

atores relevantes do sistema de inovação do setor farmacêutico. Como resultado, o ESP

também apresenta o maior percentual de produção física da indústria farmacêutica brasileira,

o que é muito significativo, pois é o ESP um dos responsáveis por impulsionar o grande

crescimento da indústria farmacêutica nacional.

II.2) Mercado brasileiro de medicamentos genéricos

Na década de 1990, observou-se o acirramento da concorrência entre os principais

laboratórios multinacionais devido a alguns fatores, dos quais se destacam, principalmente, os

gastos crescentes em P&D de novos medicamentos, os avanços dos medicamentos genéricos

nos principais mercados mundiais e a ampliação dos mecanismos públicos e privados de

regulação da indústria farmacêutica com o intuito de reduzir os custos com a aquisição de

medicamentos (PARANHOS, 2010).

Segundo Paranhos (2010), a abertura econômica, em 1990, ocorreu de forma repentina

e sem nenhuma medida que compensasse os efeitos de uma abertura comercial e preparasse as

empresas de diversos setores para enfrentar as consequências, como por exemplo, o aumento

significativo das importações com a valorização cambial e a elevada concorrência externa,

que provocaram uma desestruturação de diversos setores, inclusive o farmacêutico.

Com a abertura comercial, diversas empresas multinacionais farmacêuticas, que

anteriormente, abriam unidades industriais no Brasil para realizarem as fases finais de

produção de farmoquímicos ou utilizavam os produtos produzidos pelas empresas

farmoquímicas brasileiras, fecharam suas unidades instaladas no país, o que também

prejudicou diversas empresas brasileiras do setor que acabaram desativando suas unidades.

Outro fator que contribuiu para inviabilizar o setor farmoqúimico brasileiro, devido à

53

concorrência desproporcional, foi a produção de farmoquímicos de baixo custo da China e da

Índia (PARANHOS, 2010)

Como citado na seção anterior, em 1999, foi criada a Lei nº 9.787, Lei dos Genéricos,

que define a regulamentação da criação de medicamentos genéricos no Brasil, com a adoção

de novas políticas e novos programas. Esta Lei estabeleceu a necessidade da realização de

testes de bioequivalência e biodisponibilidade que devem ser realizados na Rede Brasileira de

Laboratórios Analíticos em Saúde para que assim a empresa possa registrar medicamentos

cópia de medicamentos sem patente (PARANHOS E HASENCLEVER, 2015).

A criação dessa Lei também contribuiu na promoção de alterações relevantes na

estrutura de mercado do setor farmacêutico, tais como: o crescimento das empresas nacionais

a partir da produção de medicamentos genéricos e assim permitindo uma maior participação

destas no mercado interno, o estímulo ao relacionamento empresa-ICT e o financiamento para

P&D nas empresas (PARANHOS, 2010).

Assim, a partir do ano 2000, pode-se identificar que o desenvolvimento recente da

indústria farmacêutica brasileira é marcado pelo aumento da participação nas vendas das

empresas de capital nacional devido principalmente às mudanças regulatórias, com a

introdução dos medicamentos genéricos. Entretanto, o setor produtivo farmacêutico nacional

ainda é relativamente dependente das importações de insumos e medicamentos (MARTINS,

2008).

A criação da Lei de regulamentação dos genéricos e criação de uma estrutura

institucional, com destaque para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, contribuiu para o

crescimento relevante do setor farmacêutico brasileiro, com destaque para o crescimento de

quatro empresas de capital nacional, que em 2011, ocuparam o ranking das dez maiores

empresas farmacêuticas brasileiras. Essa mudança recente é observada a partir do elevado

crescimento da participação das vendas de medicamentos genéricos no total de vendas do

mercado farmacêutico brasileiro (GOMES, 2014).

O crescimento da relevância dos medicamentos genéricos no mercado brasileiro foi

determinante para o aumento da participação das empresas nacionais. Através dos dados da

54

IMS Health, as vendas de medicamentos genéricos no Brasil movimentaram em torno de R$ 2

bilhões em 2008 (MAIA, 2009 apud SANTOS E PINHO, 2012).

“A venda de genéricos permitiu a empresas como Aché, EMS, Eurofarma e Medley fazerem caixa para avançar na inovação de produtos mais

sofisticados, tanto genéricos como drogas de marca, caminho semelhante ao trilhado pelos laboratórios indianos” (CAPANEMA E PALMEIRA

FILHO, 2007 apud SANTOS E PINHO, 2012: 409).

Assim, o mercado farmacêutico brasileiro continuou a crescer significativamente, nos

anos seguintes a abertura. Paranhos (2010) ressalta que apesar do crescimento substancial do

mercado de medicamentos genéricos, a maioria das empresas produtoras de genéricos e as

multinacionais farmacêuticas restringem suas atuações apenas na comercialização e na

fabricação de genéricos, e costumam importar grande parte dos fármacos e dos insumos

utilizados na produção. No caso das multinacionais, é comum ocorrer a importação do

medicamento já pronto, o que, portanto, não incentiva a capacidade inovadora das empresas

nacionais nem estimula à inovação no setor nacional.

Gomes (2014) também destaca alguns fatores internos que explicam o crescimento do

setor farmacêutico no Brasil, nos últimos anos:

“Por outro lado, internamente, fatores complexos como o envelhecimento da população com consequente mudança do perfil epidemiológico, a elevação

da renda nos últimos anos, a incorporação de novos medicamentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) por força da garantia constitucional de

universalidade, o sucesso e a experiência alcançados pela indústria de

genéricos com ampliação de acesso amadureceram as condições para a

emergência de uma política industrial voltada para a área de medicamentos” (GOMES, 2014: 39).

II.3) Evolução das atividades de P&D e inovação da indústria farmacêutica

brasileira

As atividades de P&D são importantes para qualquer indústria, principalmente para a

indústria farmacêutica e farmoquímica, pois contribuem na melhor absorção pelas empresas

do conhecimento externo além da criação de um novo conhecimento. Quanto mais as

empresas realizam atividades de P&D internamente, maiores serão seus potenciais

competitivos e suas capacidades de absorverem, assimilarem e identificarem um

55

conhecimento já existente no mercado que estão inseridas. Além disso, esse processo é

contínuo, pois a empresa deve manter o investimento em P&D de forma contínua e

permanecer acompanhando a evolução e a criação dos conhecimentos do mercado que estão

inseridas (COHEN E LEVINTHAL,1989 apud PARANHOS E HASENCLVER, 2015).

Outro ponto que é importante ressaltar é a diferença histórica da evolução e criação

das empresas do setor farmacêutico e farmoquímico nos países desenvolvidos e em

desenvolvimento. Do ponto de vista das atividades de P&D, nos países desenvolvidos essas

atividades foram verticalizadas nas empresas desde o início, o que contribuía para que as

empresas multinacionais não descentralizassem dessas atividades (CARLSSON, 2006 apud

PARANHOS E HASENCLEVER, 2015).

Alguns fatores contribuíram para a desverticalização das atividades de P&D realizadas

pelas empresas multinacionais em países desenvolvidos, como o surgimento da biotecnologia,

o aumento das exigências regulatórias dessas atividades e o desenvolvimento de capacidades

biotecnológicas realizadas fora da indústria. Esses fatores levaram a uma mudança de cenário

intensificando o estabelecimento de parcerias entre as multinacionais e atores externos como

as ICTs, que são especializadas em competências biotecnologias, e as empresas especializadas

em prestar serviços tecnológicos ou contract research organisations (CROs) (RADAELLI,

2008 apud PARANHOS E HASENCLEVER, 2015).

Em relação aos países em desenvolvimento, inclusive o Brasil, historicamente, as

atividades em P&D não eram realizadas nem desenvolvidas pelas empresas nacionais, pois

eram realizadas por empresas multinacionais que não descentralizavam as atividades ou

porque as empresas nacionais importavam a tecnologia das empresas multinacionais

(PARANHOS E HASENCLEVER, 2015).

Entretanto, a indústria farmacêutica brasileira, desde a década de 1990, tem sofrido

algumas transformações de acordo com alguns fatores externos como a abertura do mercado

que impactou diversas empresas, principalmente as que fabricavam produtos farmoquímicos,

que como consequência, fecharam as portas e passaram a importar os insumos (PARANHOS

E HASENCLEVER, 2015).

56

Além disso, a assinatura do TRIPS, em 1994, que instituiu a não discriminação de

patentes por setores, dificultou a capacitação das empresas através da engenharia reversa a

partir do momento que reconheceu patentes de forma precoce na área farmacêutica. A

assinatura do TRIPS ampliou a concentração dos mercados mundiais e reduziu as formas de

concorrência por cópias dos medicamentos e capacitação local (PARANHOS E

HASENCLEVER, 2015).

Segundo Paranhos e Hasenclever (2015), o impacto no Brasil foi intenso, pois o país

não concedia patentes até 1996, quando foi criada a Lei de Propriedade Industrial (Lei 9.279)

e o mecanismo pipeline, descritos anteriormente. A abertura comercial em conjunto com esse

processo intensificou o cenário brasileiro de dependência externa das indústrias farmacêuticas

e farmoquímicas, com a ampliação da participação das empresas multinacionais no mercado

brasileiro.

Outro ponto relevante, como descrito na seção anterior, foi a criação do mercado de

genéricos, que contribuiu para o crescimento da participação das empresas nacionais no

mercado farmacêutico brasileiro e foi um estímulo ao desenvolvimento das empresas

nacionais. O crescimento desse mercado permitiu que as empresas aumentassem de porte e

ganhassem novos recursos para investirem em atividades de P&D (PARANHOS E

HASENCLEVER, 2015).

“Desde então, a participação destas empresas e o crescimento do mercado é constante. Em abril de 2014, o mercado de genéricos alcançou 28% em

volume do mercado farmacêutico nacional, sendo que as empresas

brasileiras são tradicionalmente responsáveis por cerca de 90% dos medicamentos genéricos consumidos no país” (PRÓGENÉRICOS, 2015

apud PARANHOS E HASENCLEVER, 2015: 9).

Através da Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec) realizada pelo IBGE é possível

obter dados relacionados à inovação tecnológica no setor. Essas informações compreendem a

divisão entre inovação em produto e inovação em processo e os valores gastos em insumo e a

receita líquida de vendas (SELAN KANNEBLEY E PORTO, 2007).

Ao analisar os dados de 2001 e 2005, estes demonstram que os esforços das empresas

farmacêuticas a inovar são baixíssimos, pois os percentuais de gastos em P&D da indústria

farmacêutica brasileira quase não se alteraram no período de 2001 e 2005, que foram 0,53% e

57

0,55%, respectivamente (PARANHOS, 2012; RADAELLI, 2012 apud PARANHOS E

HASENCLEVER, 2015).

Porém, Paranhos e Hasenclever (2015) identificam que, a partir de 2008, o cenário de

tendência de baixo investimento em P&D na indústria farmacêutica brasileira começa a se

alterar a partir dos esforços de inovação das grandes empresas farmacêuticas com a redução

da compra de conhecimento, aumento das atividades para a criação de conhecimento e

melhorias das capacidades internas de P&D.

Através dos dados da Pintec, Paranhos e Hasenclever (2015) utilizaram uma tabulação

que continha os esforços e os resultados inovativos das empresas de fabricação de produtos

farmoquímicos e farmacêuticos nos anos de 2008 e 2011, na qual faziam parte da pesquisa

especial 44 e 54 grandes empresas industriais, respectivamente.

Através dessa pesquisa foi possível comparar os dados dos anos de 2008 e 2011, e

observar a evolução dos esforços inovativos das grandes empresas em análise, o que confirma

um crescimento nos esforços em P&D realizados internamente com um aumento de 20% no

número de empresas que realizam atividades inovativas continuamente e de 15% no valor

dispendido por essas empresas para essas atividades. Também é importante destacar o

aumento de 82,3% nos gastos em P&D interna em valor corrente, o crescimento de 26% das

pessoas que trabalham nas grandes empresas da pesquisa e estavam dedicadas exclusivamente

para as atividades internas de P&D e o aumento de 18% no número de pessoas pós-graduadas

envolvidas com essas atividades (PARANHOS E HASENCLEVER, 2015).

Paranhos e Hasenclever (2015) também destacam, com base nessa pesquisa, o

aumento de 61,5% das grandes empresas em análise que realizam atividades de P&D externas

e 11,5% dos gastos dessas empresas com essas atividades externas. Assim, é possível

identificar um aumento em valor corrente de 59,2% dos gastos com atividades inovativas

internas e externas, porém não apresentou evolução em relação à receita líquida de vendas

(RLV). Esse aumento foi acompanhado por uma redução nos gastos em conhecimento

incorporado em máquinas e equipamentos, que é comum em empresas que transferem

tecnologia, ou seja, “isso demonstra uma significativa mudança de comportamento das

empresas do setor nos seus esforços inovativos: de transferidoras de tecnologia através da

58

simples adaptação para uma maior capacitação interna em P&D” (PARANHOS E

HASENCLEVER, 2015: 5).

Em relação aos resultados que foram obtidos com o aumento das iniciativas a inovar

das empresas, os dados da pesquisa mostram que foram realizadas, 37 e 35 empresas que

inovaram em produto e processo, respectivamente, entre os anos de 2006 e 2008, e 37 e 31

empresas que inovaram em produto e processo, respectivamente, entre os anos de 2009 e

2011. Além disso, destaca-se, no período de análise, o crescimento das inovações

direcionadas para o mercado nacional, que dobrou, e não apenas inovações para a empresa.

Esse dado caracteriza uma preocupação das empresas no aumento de suas capacidades

competitivas com a realização de inovações com maior potencial significativo e que

produzam maiores efeitos na dinâmica competitiva do setor, ou seja, “os maiores esforços em

capacitação interna em P&D realmente reforçaram a posição competitiva das grandes

empresas” (PARANHOS E HASENCLEVER, 2015: 5).

Paranhos e Hasenclever (2015) destacam o aumento de 45,5% das empresas que

utilizaram como forma de financiamento dos gastos com as atividades inovativas o apoio

governamental, entre o período de 2008 e 2011. Em 2011, as formas de financiamento público

que apresentaram taxas de crescimento mais significativas foram os incentivos fiscais e as

subvenções econômicas, com um crescimento de 100% e 150%, respectivamente.

As autoras também destacam que “outro aspecto interessante e que reflete as

mudanças do marco regulatório do sistema nacional de inovação são os projetos de P&D e

inovação tecnológica, financiados pelo governo em parceria com universidades que

cresceram 60%” (PARANHOS E HASENCLEVER, 2015: 6).

Também é possível identificar a relevância dos esforços inovativos realizados pelas

empresas do setor farmoquímico e farmacêutico comparando com a evolução dos gastos em

atividades de P&D da indústria brasileira, entre 2008 e 2011, com o crescimento dos gastos da

indústria farmoquímica e farmacêutica. Essa última apresentou um crescimento nos gastos em

atividades de P&D externas e internas de 2,10% para 2,96%, já a indústria brasileira, como

um todo, apresentou um crescimento de 0,90% para 0,96%, no período entre 2008 e 2011, o

que comprova a importância dos esforços inovativos das grandes empresas do setor

farmacêutico e farmoquímico (PARANHOS E HASENCLEVER, 2015).

59

Dessa forma, é possível identificar que um crescimento do número de grandes

empresas farmacêuticas brasileiras que realizam atividades inovativas e um aumento contínuo

e crescente dos gastos voltados para P&D interna e do número de empresas que realizam esta

atividade continuamente, o que representou uma estratégia relevante para o setor, entre 2008 e

2011. Além disso, observou-se um aumento no número de pessoas voltadas diretamente para

essas atividades, assim como, o aumento de pessoas com pós-graduação envolvidas nessas

atividades (PARANHOS E HASENCLEVER, 2015).

De acordo com Paranhos e Hasenclever (2015), o ano de 2008 representa um desvio

em relação à tendência dos esforços inovativos das empresas nacionais do setor farmoquímico

e farmacêutico. Ou seja, é possível identificar uma alteração no padrão das atividades

inovativas realizadas pelas grandes empresas desse setor, que reduziram a compra de compra

de conhecimento, sendo ele incorporado ou não, e aumentaram internamente as atividades

para criação de conhecimento e de capacidade internas de criação de P&D e treinamento

pessoal. De acordo com as autoras:

“as empresas estão mais preparadas para ter uma posição competitiva

melhor no sentido de introduzir inovações com um maior grau de sustentabilidade competitiva do que a simples transferência de tecnologia

que as coloca somente no patamar da concorrência” (PARANHOS E

HASENCLEVER, 2015: 11).

II.4) Apoio Governamental à Indústria Farmacêutica Brasileira

II.4.1) Políticas e programas públicos de incentivo a indústria farmacêutica brasileira

O governo é um dos atores mais importantes no sistema de inovação do setor

farmacêutico brasileiro, pois pode influenciar diretamente a dinâmica de produção e de

inovação do setor. O governo pode atuar como agente regulador, através do Ministério da

Saúde, como órgão financiador, através do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e do

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), e como legislador,

formulando políticas de incentivo ao setor. Além disso, o governo também pode atuar no

desenvolvimento e incentivo à pesquisa, através das ICTs e no incentivo à produção, através

dos laboratórios públicos (PARANHOS, 2010).

60

O Brasil apresentou um considerável progresso, nas duas últimas décadas, no apoio à

inovação e nos incentivos públicos aos gastos com P&D com o aprimoramento da legislação

brasileira de incentivos ao setor privado. A inovação, a partir de 2000, foi considerada na

agenda de Ciência e Tecnologia um tema prioritário no escopo das políticas públicas

(PACHECO, 2010).

A existência de políticas de incentivo à inovação e ao desenvolvimento tecnológico

para a indústria farmacêutica brasileira é fundamental para o crescimento e a competitividade

do setor, principalmente as inciativas dos governos. Um exemplo deste cenário é a

porcentagem das empresas brasileiras, que em 2011, representaram 78% do total de empresas

que utilizaram fundos públicos como forma de financiamento (GOMES, 2014).

Com o cenário de abertura econômica e política liberal, que marcou a década de 1990,

e seus efeitos negativos para o setor farmacêutico, cabe destacar que a partir da década de

2000, o governo retomou sua agenda de política industrial com a criação da Política

Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (Pitce), em 2003, que teve como principal

objetivo a criação de “instrumentos horizontais e verticais” para diversos setores. Paranhos

(2010) destaca alguns objetivos da Pitce:

“Induzir a mudança do patamar competitivo da indústria brasileira,

buscando uma maior inovação e diferenciação de produtos e serviços, para se ter como resultado final a ampliação da competitividade dos produtos

brasileiros no mercado internacional. A Pitce continha uma visão sistêmica

da inovação e tinha o relacionamento universidade-empresa como um dos

principais meios de promover a inovação no país. Quatro setores foram estabelecidos como estratégicos, entre eles, fármacos e medicamentos”

(PARANHOS, 2010: 85).

Neste cenário, destaca-se a criação da Lei da Inovação nº 10.973, em 2004, que

representou um marco no sistema de inovação, contribuindo para o incentivo da inovação

através da cooperação e do estabelecimento de relações entre o sistema público de Ciência e

Tecnologia e o setor empresarial (ANDRADE E ÁVILA, 2003 apud ANTUNES, 2004).

A Lei de Inovação contribuiu na criação de novos mecanismos que incentivassem o

relacionamento universidade-empresa além de incentivar a transferência dos conhecimentos

das ICTs para as empresas o que contribuiu para fortalecer a inovação nas empresas privadas.

Paranhos (2010) destaca outros pontos importantes estabelecidos pela Lei da Inovação:

61

“Estabelece a necessidade de ICTs públicas criarem estruturas específicas para gerenciar a propriedade intelectual e intermediar contratos com

empresas, os NITs que serão apresentados em mais detalhes adiante. Além disso, permite o compartilhamento de laboratórios e equipamentos entre

ICTs e empresas e a destinação de recursos públicos não-reembolsáveis às

empresas para compartilhamento dos custos e riscos das atividades inovativas pela primeira vez no país” (PARANHOS, 2010: 85).

Outra iniciativa do governo relevante é a Lei de Incentivos Fiscais para P&D, Lei n°

10.637 (MP 66 de 29/08/02), criada em 2002, que foi revogada pela Lei nº 11.196/05, a Lei

do Bem, que concede isenção fiscal para empresas do setor privado que invistam em

atividades de P&D. A Lei do Bem (convertida da MP 255/05 e alterada pela Lei nº 11.487, de

15.06.2007), representa um grande aprimoramento dos incentivos fiscais e, que entre vários

benefícios, prevê a dedução em dobro dos gastos privados em P&D dos impostos incidentes

sobre o lucro real (GOMES, 2014).

A Lei do Bem permite que as empresas se beneficiem de incentivos fiscais de forma

automática, se tiverem atendendo às exigências previstas, sem a necessidade da realização de

um procedimento formal. Além disso, a Lei prevê um regime diferenciado de tributação e de

incentivos fiscais às empresas que invistam em atividades de P&D e atendam às exigências.

São exemplos desse regime especial:

“A dedução de imposto de renda e contribuição social sobre o lucro líquido

(CSLL), entre 60% e 100%, de dispêndios com P&D; redução de 50% do imposto sobre produtos importados (IPI) na compra de máquina e

equipamentos para P&D, subvenção econômica através de bolsas para

pesquisadores nas empresas e isenção da contribuição de intervenção no

direito econômico (Cide) para pagamento de depósito de patentes.” (PARANHOS, 2010: 85).

Entretanto, apesar do avanço no incentivo à inovação do setor farmacêutico brasileiro

com a criação da Lei da Inovação e da Lei do Bem, apenas um número reduzido de empresas

que utilizam esse apoio do governo. Um dos principais motivos desse número de empresas

ainda permanecer pequeno é a elevada burocracia enfrentada pelas empresas no processo de

inovação (PINTO E PEREZ, 2014).

De acordo com Paranhos (2010), existe pouca flexibilização em relação às

interpretações ortodoxas do direito administrativo tradicional e uma fraca disseminação da

cultura da inovação, o que gera insegurança jurídica na utilização dos mecanismos propostos

62

por essas duas leis, ou seja, “ocorre uma espécie de defasagem entre o novo marco legal e os

organismos responsáveis por sua execução. Estes mantêm a sua estrutura burocrática

enquanto a lei estimula a simplificação dos processos” (PARANHOS, 2010: 86).

“As principais críticas dos empresários são direcionadas à ambiguidade da legislação em relação à Lei de Compras Públicas, ao desconhecimento da

nova legislação pelos órgãos e controle e ao receio dos agentes públicos de

adotarem normas inovadoras ainda sem jurisprudência firmada. É necessária a remoção dos obstáculos ligados à rigidez burocrática e a

harmonização dos regulamentos vigentes através da consolidação de um

marco regulatório que regulamente os dispositivos recentes que suscitam

conflitos de interpretação e a atualização dos órgãos de controle e fiscalização quanto à aplicação dos novos instrumentos” (FACTO

ABIFINA, 2007 apud PARANHOS, 2010: 86).

Vale destacar também a criação, no ano 2000, da Câmara de Medicamentos

(CAMED), que em 2003, foi substituída pela Câmara de Regulação do Mercado de

Medicamentos (CMED), e atua no controle de preços e reajustes do setor farmacêutico

brasileiro (INTERFARMA, 2010 apud GOMES, 2014).

Também é importante ressaltar a criação pelo governo federal, em 2007, do Plano de

Aceleração do Crescimento (PAC), que entre os diversos planos, vale destacar o PAC da

Saúde (Programa Mais Saúde) e o PAC de Ciência, Tecnologia e Inovação (PAC de C,T&I),

que estabeleciam metas para o governo voltadas para o setor farmacêutico no período de 2007

a 2010 (PARANHOS, 2010).

O PAC de C,T&I tinha como objetivos principais aumentar os investimentos em P&D,

“1,02% do PIB em 2006 para 1,5% do PIB em 2010 e ampliação dos gastos privados para

0,65%” (MCT, 2007a apud PARANHOS, 2010). Vale ressaltar que esse Plano possuía quatro

estratégias principais: expansão e consolidação do Sistema Nacional de C,T&I; promoção da

inovação tecnológica nas empresas; pesquisa, desenvolvimento e inovação (P,D&I) em áreas

estratégicas que receberão “grande estímulo para pesquisa, incluindo biotecnologia e insumos

para a saúde; e C,T&I para o desenvolvimento social” (MCT, 2007ª apud PARANHOS,

2010: 87).

O Programa mais Saúde estabeleceu diversos eixos de atuação do governo federal,

com destaque para o fortalecimento do Complexo Industrial da Saúde (CIS) cujo objetivo era

a criação de metas que contribuíssem para o fortalecimento do setor, o que inclui,

63

principalmente, “o aumento de produção e inovação, fortalecimento dos laboratórios

públicos e da competitividade das empresas nacionais” (INTERFARMA, 2010 apud

GOMES, 2014: 50).

“O Programa mais Saúde visa alcançar tal objetivo por meio do fortalecimento da capacidade de inovar, aumentar a competitividade das

empresas públicas e privadas do CIS, tornando-as capazes de enfrentar a

concorrência global, promovendo um processo de substituição de importações de produtos e insumos em saúde de maior densidade de

conhecimento e que sejam prioritários às necessidades de saúde da

população brasileira” (MS, 2008 apud PARANHOS, 2010: 87).

Em 2008, a Pitce foi substituída pela Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP)

que priorizava fortalecer o relacionamento entre o governo e o setor privado de diversos

setores, e atingir a sustentabilidade no crescimento econômico, através do aumento das taxas

de crescimento e dos investimentos produtivos. Foram escolhidos 25 setores e o governo iria

atuar através de três programas diferentes: “programas para fortalecer a competitividade,

programas mobilizadores em áreas estratégicas, entre elas, nanotecnologia, biotecnologia e

CIS, e programas para consolidar e expandir a liderança” (PARANHOS, 2010: 88).

Cabe destacar especialmente que a estratégia do governo para desenvolver o CIS é

voltada para a consolidação de uma indústria brasileira especializada na produção de diversos

equipamentos, materiais, reagentes e dispositivos que sejam essenciais para o CIS e o

aperfeiçoamento de conhecimentos científicos e tecnológicos em área carentes e que sejam

estratégicas para a redução da fragilidade do Sistema Nacional de Saúde. De acordo com

Paranhos (2010) “as metas para 2013 são de redução do déficit comercial do CIS para US$

4,4 bilhões e desenvolvimento de tecnologia para produção local de 20 produtos estratégicos

para o SUS” (PARANHOS, 2010: 89).

Existem alguns desafios, de longo prazo, a serem enfrentados para atingir os objetivos

da PDP, como: o aumento dos investimentos em inovação, a redução das instabilidades

existentes da Política Nacional de Saúde, o aumento e diversificação das exportações, o

fortalecimento das empresas nacionais e dos laboratórios públicos, dentre outros (MDIC,

2008 apud PARANHOS, 2010)

64

Neste cenário, o Ministério da Saúde criou o Grupo Executivo do Complexo Industrial

da Saúde (GECIS) que tem como principal papel a articulação da política nacional da saúde,

com o objetivo de fortalecer o complexo produtivo e de inovação em saúde (GOMES, 2014).

“O Gecis tem como medidas identificadas: definição de produtos estratégicos para o SUS; garantia de mercado para empresas nacionais;

uso do poder de compra para o desenvolvimento do CIS; desoneração

tributária; contratação de serviços; regulação sanitária; pré-qualificação de empresas e a política de propriedade industrial. As discussões são

realizadas através da formação de grupos de trabalho que contém

representantes dos atores envolvidos em cada tema abordado” (Guimarães,

2008 apud PARANHOS, 2010: 89).

Além disso, o BNDES, a partir de 2008, começa a integrar o GECIS, e assim,

contribuir mais intensamente na criação de incentivos públicos para o setor farmacêutico

brasileiro (GOMES, 2014).

II.4.2) O governo como agente financiador

É importante destacar algumas iniciativas do governo como agente financiador do

sistema nacional de inovação do setor farmacêutico. Em 2001, foi criado os Fundos Setoriais

de Biotecnologia e Saúde e foram aprovadas leis de incentivos fiscais que tinham como

objetivo estimular a inovação no setor. Cabe destacar que os incentivos que as empresas mais

utilizaram, de acordo com a Pesquisa de Inovação (Pintec) de 2005 (IBGE, 2007b), foram

aqueles voltados para a aquisição de máquinas e equipamentos, seguidos dos Fundos Setoriais

de financiamento de atividades que estimulassem a parceria entre as empresas e as ICTs e dos

incentivos fiscais às atividades de P&D, através das Leis 10.332/2001 e 11.196/2005

(PARANHOS, 2010).

O CT-Saúde destaca-se entre os Fundos Setoriais, pois os recursos são direcionados

para a capacitação tecnológica de áreas importantes do SUS, no incentivo ao aumento de

investimentos privados em P&D, dentre outros. O CT-Biotecnologia também se destaca como

importante para o setor farmacêutico, fortalecendo o setor de biotecnologia no país

(PARANHOS, 2010).

65

Em 2006, foi criado o Programa de Subvenção Econômica, que era coordenado pela

Finep, que tem como objetivo disponibilizar recursos não-reembolsáveis para financiar

atividades de P&D e foi viabilizado pela Lei de Inovação (PARANHOS, 2010).

“Através da criação e implementação destes novos mecanismos, o governo brasileiro disponibilizou, entre 2003 e 2007, R$ 598,9 milhões para

investimentos no setor de saúde através dos Fundos Setoriais e do Programa

de Subvenção, com significativo crescimento dos recursos aplicados nos dois últimos anos em relação aos três primeiros” (Elias, 2008 apud

PARANHOS, 2010: 91).

Em 2004, foi criado, pelo BNDES, o Programa de Apoio ao Desenvolvimento da

Cadeia Produtiva Farmacêutica (Profarma) cujo principal objetivo é o financiamento de

projetos de empresas farmacêuticas e farmoquimicas visando estimular o aumento da

capacidade produtiva das empresas, o incentivo ao desenvolvimento de P&D e à inovação e a

reestruturação das empresas do setor através de fusões e aquisições de empresas que

mantiverem o controle nacional (GOMES, 2014).

Em 2007, esse Programa é ampliado, com a criação do Profarma-Exportação e o

Profarma-Produtores Públicos, para obter uma visão mais sistêmica do setor, que é expandido

a todo o Complexo Industrial da Saúde, buscando convergências entre a política industrial e a

política de saúde através da aproximação com o Ministério da Saúde (GOMES, 2014).

O BNDES também criou, em 2010, o Fundo Tecnológico (BNDES Funtec) que tem

como objetivo disponibilizar recursos não reembolsáveis para instituições tecnológicas e

instituições de apoio, tendo a empresa o papel de interveniente, que apresentem projetos de

inovação tecnológica, de pesquisa aplicada, desenvolvimento tecnológico, direcionados para

os seguintes focos: Bioenergia, Meio ambiente, Saúde, Eletrônica, Novos materiais, Química,

Transportes e Petróleo e Gás (PARANHOS, 2010).

Os instrumentos públicos de financiamento incentivam a modernização e o

estreitamento da relação ente universidade-empresa, porém não são tão eficientes no sentido

de incentivar o investimento privado em atividades de P&D e inovativas no Brasil

(PARANHOS, 2010).

Na maioria dos países da OCDE, os instrumentos públicos de incentivos aos gastos

com P&D que mais beneficiam as pequenas e médias empresas brasileiras são os incentivos

66

fiscais e não as subvenções. Através de dados publicados pela OECD, em 2005, é possível

analisar o percentual dos incentivos governamentais aos gastos privados em P&D sobre o PIB

num grupo de 14 países membros da OECD e comparar com o percentual do apoio

governamental aos gastos privados em P&D sobre o PIB brasileiro, no ano de 2008. Ao fazer

essa comparação, é possível identificar que o percentual desses incentivos sobre o PIB do

Brasil (0,18%) só é inferior a apenas dois países analisados, Canadá e Estados Unidos

(PACHECO, 2010).

O instrumento governamental de apoio aos gastos privados em P&D mais utilizado no

Brasil é o incentivo fiscal. É possível verificar, no período de 2006 a 2008, um aumento

considerável das empresas que se beneficiam dos incentivos fiscais da Lei do Bem e das

empresas que têm se submetido projetos aos editais de subvenção da Finep, que se amparam

na Lei da Inovação (PACHECO, 2010).

Entretanto, Pacheco (2010) destaca que os instrumentos governamentais utilizados

para incentivar os gastos com P&D não têm sido eficientes para alterar radicalmente o quadro

de inovação do Brasil. Este cenário deve-se principalmente ao regime fiscal definido pela Lei

do Bem, que só se aplicam para empresas tributadas no regime de lucro real. Além, disso, os

benefícios só atingem um número limitado de empresas, comparado com o total de empresas

no país que declaram realizar atividades de inovação.

Identifica-se a necessidade de ampliar o alcance dos instrumentos de incentivo aos

gastos privados em P&D, para que aumente o número de empresas beneficiárias desses

incentivos, consequentemente, amplie significativamente os investimentos privados em P&D

e inovação (PACHECO, 2010).

67

CAPÍTULO III – INDÚSTRIA FARMACÊUTICA DO ESTADO DO RIO

DE JANEIRO: CARACTERÍSTICAS E POLÍTICAS

III.1) Industrialização do ERJ

A seguir será apresentado um breve histórico da evolução da indústria fluminense,

desde o pioneirismo do ERJ no processo de industrialização brasileiro até o período de

decadência da indústria do estado e estagnação econômica.

III.1.1) Evolução da indústria fluminense

O ERJ foi o pioneiro no processo de industrialização brasileira, a partir de 1846,

através da fundação por Irineu Evangelista de Souza, conhecido como Barão de Mauá, de um

Estabelecimento de Fundição e Estaleiros Ponta da Areia, que se tornou em um ano a maior

experiência industrial do país no século XIX. Ainda no século XIX, também ocorreu no ERJ o

estabelecimento de outros empreendimentos que tinham como foco a produção de bens não-

duráveis e semiduráveis (AZEVEDO, 2010).

O ERJ perde sua posição de liderança no processo de industrialização brasileira para o

ESP, a partir do início do século XX. Este processo de inversão ocorreu devido a diversos

fatores, mas principalmente por causa dos altos lucros gerados pela produção de café no Oeste

Paulista. A participação da indústria do ERJ no cenário nacional vem reduzindo desde 1970,

ano que representava 15,6% da indústria nacional. Já em 1997, a participação da indústria

fluminense caiu para 7,8% (AZEVEDO, 2010).

Durante o século XX, é possível destacar alguns eventos que marcaram o processo de

industrialização fluminense. Em 1930, observa-se um processo de migração de diversas

fábricas que se localizavam anteriormente nas zonas indústrias da capital para outras zonas do

ERJ em busca de novos mercados consumidores, expansão das estruturas internas das

fábricas, crescimento das cidades, terrenos mais baratos, dentre outros (AZEVEDO, 2010).

68

De acordo com Azevedo (2010), a década de 1970 foi determinante para o ERJ, que

iniciou um processo de decadência econômica. Esse processo teve como marco inicial a

transferência da capital federal para Brasília, da qual derivava o dinamismo da cidade do Rio

de Janeiro. Além disso, o ERJ esperava a realização de altos investimentos do governo federal

para fortalecer o desenvolvimento econômico do estado, o que não ocorreu principalmente

após a determinação da transferência da capital, e consequentemente, a mudança de vários

órgãos federais, que também deixaram o ERJ rumo a Brasília. Além disso, de acordo com

Osório (2015), o golpe militar de 1964, e as consequentes, cassações, atingiram

principalmente o ERJ, o que contribuiu para a desestruturação da máquina pública do estado.

Outros fatores também contribuíram para o declínio econômico e industrial do ERJ,

como a crise da indústria naval, a crise econômica internacional, as gestões pouco eficientes

do governo do ERJ; o endividamento externo do país e em alguns estados com mais

intensidade como o ERJ devido ao aumento dos juros internacionais; o alto desemprego e o

arrocho salarial da classe média, dentre outros. É possível identificar as consequências desta

decadência econômica do ERJ com o encolhimento do Produto Interno Bruto (PIB) estadual

ao longo dos anos e a ocorrência de falências de empresas de vários setores da indústria

estadual, com destaque para o setor de logística (AZEVEDO, 2010).

Vale destaca que a transferência da capital para Brasília representou principalmente a

perda de centralidade, ou seja, a transferência de toda a composição central em torno das

decisões do país, como os ministérios e centros de negociação e decisão (HASENCLEVER,

FAURÉ E CARVALHO, 2005).

“Em 1997, 22% das indústrias existentes na região metropolitana do Rio de Janeiro em 1989 “haviam sido transferidas ou extintas”. Dos 50 maiores

bancos brasileiros, nove tinham sede no Rio de Janeiro em 1970, em 1991, só havia cinco. Igualmente, registra-se o fechamento da Bolsa de Valores do

Rio, a mais antiga do país, em favor da Bovespa, e a transferência das

companhias de aviação do Aeroporto do Galeão (RJ) para o de Guarulhos

(SP).” (HASENCLEVER, FAURÉ E CARVALHO, 2005: 45).

Outro ponto relevante foi a fusão do Estado da Guanabara com o ERJ, que representou

um atraso no processo político interno, que era controlado pelo governo federal e, portanto,

prejudicou a percepção da nova unidade estadual e das reais necessidades do ERJ para

incentivar o desenvolvimento industrial e a retomada do crescimento econômico do ERJ

(HASENCLEVER, FAURÉ E CARVALHO, 2005).

69

De acordo com a dinâmica econômica brasileira, a partir de 1996, alguns setores da

indústria do ERJ se beneficiaram do crescimento do Brasil e dos novos investimentos atraídos

principalmente pela abertura comercial, desregulamentação e privatizações. Estes

investimentos foram cruciais para o crescimento da indústria extrativa de gás e petróleo no

ERJ. Outras indústrias que também receberam investimentos no ERJ foram indústrias como a

siderúrgica, energia, indústria naval e petroquímica, todas têm em comum os encadeamentos

com a indústria petrolífera (HASENCLEVER, PARANHOS E TORRES, 2012).

Apenas em meados da década de 1990, foi possível identificar uma reação ao processo

de decadência econômica do ERJ. Nesse período, diversas empresas de vários setores

industriais vieram para o ERJ. A partir de 2003, é possível identificar algumas iniciativas do

governo federal para estimular a revitalização do parque industrial do ERJ com o objetivo de

incentivar, em médio prazo, o crescimento industrial do país (AZEVEDO, 2010).

De acordo com Azevedo (2010) também foi relevante nesse processo a entrada de

novos investimentos, a partir do planejamento e da abertura de filiais de algumas empresas

multinacionais de diversos setores no ERJ, como por exemplo, os setores automobilístico,

farmacêutico, cimenteiro, cervejeiro, entre outros.

É relevante destacar a grande importância nacional do ERJ, pois representa o segundo

polo industrial do país e está estrategicamente localizado com boa infraestrutura, além de

possuir a maior parte das reservas de petróleo do Brasil e, portanto, ser o maior produtor de

petróleo do país. O setor com maior destaque e que representa um grande diferencial no ERJ é

o petrolífero, pelo seu grande potencial de geração de receitas através de impostos e royalties,

ou através das exportações. Outros setores que se destacam é o siderúrgico e o metalúrgico,

além disso, é no ERJ que se situam as duas únicas usinas nucleares do país. Portanto, pode-se

considerar que atualmente o ERJ é o principal polo energético do país, pois produz em

abundância energia nuclear, petróleo e gás (AZEVEDO, 2010).

A tendência nacional de desconcentração industrial das metrópoles para interior é

identificada no ERJ pelo crescimento da indústria do petróleo e gás em cidades, como Macaé

e Campos, que possuem características econômicas distintas e se localizam distantes da

capital do estado o que dificulta a dinamização do crescimento (HASENCLEVER,

PARANHOS E TORRES, 2012).

70

De acordo com Hasenclever, Paranhos e Torres (2012), o maior desafio da economia

do ERJ atualmente é lidar com a diferença entre as economias das cidades do ERJ e o porte

dos investimentos. As economias locais não possuem a capacidade tecnológica e industrial,

nem a logística suficiente para estabelecer uma relação de complementaridade com esses

investimentos.

Cabe destacar que uma das transformações da economia brasileira nesse período foi o

crescimento do setor de serviços dinâmicos que apoiam diretamente à produção. O

crescimento deste setor está totalmente relacionado a mudança organizacional da produção

que foi possível através dos avanços na microeletrônica e informática. Entretanto, o ERJ não

conseguiu definir uma estratégia organizacional que permitisse a retomada do crescimento, o

que acarretou na perda de espaço no crescimento dos setores de serviços produtivos e na

concentração na prestação de serviços para as famílias (HASENCLEVER, PARANHOS E

TORRES, 2012).

III.1.2) Estagnação econômica do ERJ

No período de 1996 a 2009, o ERJ apresentou uma trajetória de estagnação

econômica. Para avaliar este período de baixo crescimento econômico da economia

fluminenses, é importante comparar a evolução do Produto Interno Bruto (PIB) da economia

fluminense com o PIB das economias brasileira e a paulista no período entre 1996 e 2008. A

economia brasileira apresentou oscilação no crescimento econômico do período, que vai

aumentando as taxas médias de crescimento. Comparando a trajetória do PIB nacional nesse

período com a do PIB do ERJ, este apresentou taxas de crescimento inferiores às nacionais

(HASENCLEVER, PARANHOS E TORRES, 2012).

Analisando a participação dos três setores de atividade econômica no ERJ –

agropecuária, indústria e serviços - no período de 1996 a 2008, constata-se que o setor

agropecuário fluminense que representava 1,4% do PIB agropecuário brasileiro diminuiu

cerca de 40%, passando a representar 0,8% em 2008. A indústria fluminense que em 1996

representava 8,6% do PIB industrial brasileiro aumentou para 12,7% como reflexo do

crescimento da indústria extrativa. Já a atividade de serviços reduziu de 13% para 11,6%,

71

reflexo principalmente da queda no subsetor financeiro e na atividade de administração em

saúde e educação pública e seguridade social (HASENCLEVER, PARANHOS E TORRES,

2012).

Nesse mesmo período, a análise da participação desses setores no ESP reflete o peso

do setor agropecuário no PIB brasileiro que se mantém estável, a perda de participação

relativa da indústria paulista que passa de 42,9% do PIB brasileiro para 33,9% e a perda de

participação da atividade de serviços, que reflete a perda relativa do comércio brasileiro

(HASENCLEVER, PARANHOS E TORRES, 2012).

O Brasil manteve uma estabilidade em relação à participação nos setores entre o

período de 1996 e 2008. Já no ERJ, é possível observar mudanças estruturais a partir da

análise da participação relativa do estado em cada setor nesse período. Verifica-se uma queda

da participação dos setores agropecuária e serviços no PIB do ERJ e um aumento

considerável da participação relativa da indústria nesse período (HASENCLEVER,

PARANHOS E TORRES, 2012).

Segundo Hasenclever, Paranhos e Torres (2012), a importância dos setores da

indústria e de serviços no ERJ é explicada por dois fatores principais: o pioneirismo do

sudeste no processo de desindustrialização nas décadas de 1950 a 1970, a importância para o

ERJ de ser a capital do Brasil até 1960 e da maioria das empresas públicas até 1990.

Sendo assim, apesar das mudanças estruturais presentes no ERJ, ao comparar com o

Brasil e o ESP, não se identifica o mesmo dinamismo. O ERJ teve que se reestruturar com a

perda da capital do país, pois deixou de ser uma metrópole especializada em serviços para o

governo. Além disso, os investimentos recebidos pelo ERJ concentram-se principalmente nas

indústrias extrativas e produtoras de bens intermediários, que representam menor participação

no PIB por apresentar um baixo grau de agregação do valor. Outro fator relevante é a grande

concentração dos setores industriais no ERJ, que diferentemente do Brasil e ESP, os dois

maiores setores do estado fluminense eram o petróleo e os serviços relacionados ao refino do

petróleo. O predomínio do ERJ na indústria extrativa e de bens intermediários, além de

resultar em menor dinamismo para a economia do estado, reflete no aumento da dependência

de outras economias (HASENCLEVER, PARANHOS E TORRES, 2012).

72

A crise financeira internacional a partir de 2008 impactou negativamente as taxas de

crescimento da indústria no Brasil, ESP e ERJ. Porém, a queda foi menor no ERJ devido ao

atraso nas decisões de investimento terem afetado menos a indústria fluminense do que a

brasileira e paulista. Mesmo com a crise, os investimentos contratados no ERJ foram

mantidos o que explica o desempenho conjuntural da economia fluminense nesse período

(HASENCLEVER, PARANHOS E TORRES, 2012).

Ao comparar as taxas médias de crescimento das economias brasileiras, paulistas e

fluminense no ano de 2008, com o período ente 2003 e 2007, é possível identificar uma

desaceleração do crescimento nas três economias, porém no ERJ acontece com menor

intensidade (HASENCLEVER, PARANHOS E TORRES, 2012).

Os principais fatores que acarretaram em mudanças para a economia fluminense

foram: a não atração de novos investimentos pelas indústrias tradicionais do estado que

permitissem uma dinamização destas, a descentralização da indústria da metrópole fluminense

para as cidades no interior do ERJ e a perda da importância do setor de serviços. O

crescimento da indústria extrativa de petróleo e gás na bacia de Campos é um exemplo forte

de deslocamento da descentralização para o interior (HASENCLEVER, PARANHOS E

TORRES, 2012).

Esses fatores acarretam numa reestruturação das atividades econômicas do ERJ no

período entre 1996 e 2007, com o crescimento do setor de serviços dedicados à família em

detrimento dos serviços prestados às empresas, com o crescimento da indústria extrativa a

expensas da indústria de transformação e com o aumento da importância do comércio

varejista. Essas mudanças contribuem para que o ERJ tenha taxas de crescimentos menores e

a economia fluminense torne-se menos dinâmica se comparada com a economia brasileira e a

do ESP no mesmo período (HASENCLEVER, PARANHOS E TORRES, 2012).

73

III.2) Configuração da indústria farmacêutica fluminense

III.2.1) Características de ciência e tecnologia da indústria farmacêutica do ERJ

O ERJ representa a segunda maior concentração de indústrias, laboratórios e empregos

do setor farmacêutico brasileiro, atrás somente do Estado de São Paulo. Através dos dados

encontrados na RAIS/MTE é possível identificar que os estabelecimentos produtores que

configuram o setor farmacêutico do ERJ concentram-se na capital do estado (AZEVEDO,

2010).

O sistema farmacêutico de inovação do ERJ é composto por diversos atores, mas os

principais são: as empresas nacionais privadas, as empresas nacionais públicas, as empresas

multinacionais, as Instituições de Ciência e Tecnologia (Universidades e os Institutos de

Pesquisa), o Polo de Biotecnologia (Bio-Rio) e o Governo Estadual. Este último tem papel

fundamental como formulador de políticas e financiador (MARTINS, 2008).

O ERJ possui relevante especialização na área de conhecimento voltada para o setor

farmacêutico, o que mostra a grande capacidade cientifica e de formação de recursos humanos

no estado (HASENCLEVER, 2012).

Cabe destacar que o ERJ também possui um total de 43 ICTs públicas e privadas, das

quais, dez são universidades estaduais e sete são universidades federais. A maioria das ICTs

estão localizadas na cidade do ERJ e apresentam um total de 147 cursos de graduação que

estão relacionados com o setor farmacêutico, com destaque para os cursos mais procurados

que são: Ciências Biológicas, Farmácia e Química (PARANHOS E HASENCLEVER, 2013).

“Britto et al. (2011) também considera esse cenário muito

significativo para o desenvolvimento do estado, devido à importância

que as universidades e institutos de pesquisa têm para o

desenvolvimento das inovações no setor farmacêutico, conforme

Klevorick et al (1995,) Mansfield (1998) e Orsenigo (2001)”

(PARANHOS, FRANÇA E MERCADANTE, 2015: 8).

Paranhos, França e Mercadante (2015), com base nos dados do MEC (2015),

identificaram que o ERJ apresentou 147 cursos de graduação voltados para o setor

farmacêutico no ano de 2015 e ocupou o terceiro lugar nacional, em termos de quantidade de

cursos, atrás do ESP e do estado de Minas Gerais (EMG).

74

As ICTs que oferecem cursos de pós-graduação voltados para o setor farmacêutico

também se concentram na cidade do Rio de Janeiro, o que evidencia uma forte capacitação do

ERJ. Atualmente existem 21 ICTs, sendo três universidades estaduais, quatro universidades

federais, dez institutos federais de pesquisa e quatro universidades privadas. Estas instituições

oferecem um total de 94 mestrados, 27 mestrados profissionais e 79 doutorados nas áreas de

conhecimento relacionadas ao setor farmacêutico. Com base nos dados divulgados pela Capes

(2015), no ano de 2013, o ERJ foi o segundo estado que mais apresentou cursos de pós-

graduação voltados para o setor farmacêutico, ficando atrás apenas do ESP (PARANHOS,

FRANÇA E MERCADANTE, 2015).

Cabe destacar que o ERJ também é rico em pesquisa, e através dos dados divulgados

pelo CNPq, em 2010, é possível identificar um total de 1080 grupos de pesquisa em áreas de

conhecimento relacionadas ao setor farmacêutico no ERJ, sendo o segundo estado com maior

participação de grupos de pesquisa, ficando atrás apenas do ESP (PARANHOS E

HASENCLEVER, 2013).

Assim, é possível identificar que o ERJ possui um número relevante de atores e

capacitações de ciência e tecnologia voltadas para o setor farmacêutico para ser base de um

desenvolvimento do setor e da indústria no estado mais dinâmico e inovativo (PARANHOS,

FRANÇA E MERCADANTE, 2015).

Assim, o ERJ apresenta atrativos propícios ao desenvolvimento da indústria

farmacêutica, como: a concentração de universidades, centros de pesquisas, facilidades

logísticas e de infraestrutura, entre outros, ou seja, apresenta uma importante infraestrutura e

vantagens locacionais positivas que deveriam contribuir para alavancar o desenvolvimento da

indústria farmacêutica e da dinâmica inovativa do setor no ERJ (MARTINS, 2008).

III.2.2) Evolução produtiva da indústria farmacêutica do ERJ

Através dos dados da RAIS/MTE e da PIM/PF, que serão apresentados a seguir, é

possível identificar que o setor farmacêutico do ERJ apresenta forte queda, no âmbito

75

País/Estado 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Outros 39,9 38,5 39,1 41,2 40,9 43,2 41,4 42,0 42,8 43,8 42,5 41,5 42,6 42,1 42,0 41,6 41,6 42,0 39,7

SP 38,6 38,8 39,1 37,0 37,4 37,6 39,6 39,3 38,5 37,7 39,6 38,5 38,0 37,9 37,3 37,3 37,2 36,1 38,1

RJ 19,6 19,7 18,9 18,4 18,3 15,7 15,1 14,9 14,6 14,0 12,5 14,3 12,6 13,4 13,1 13,6 13,7 14,4 12,2

GO 1,9 3,0 2,9 3,3 3,5 3,5 3,9 3,8 4,1 4,5 5,4 5,7 6,8 6,6 7,6 7,5 7,4 7,5 10,0

produtivo, de localização e quantidade de empresas e empregos formais, durante o período de

18 anos, que compreende os anos de 1995-2013.

Através da RAIS/MTE foi possível analisar a quantidade de estabelecimentos e

trabalhadores formais que estão inseridos no sistema farmacêutico de produção e inovação do

ERJ no período de 1995 a 2013. Para contribuir na análise do desempenho do ERJ, também

foram coletados os dados, através da RAIS/MTE, dos ESP e EGO.

A escolha do ESP para a análise comparativa dos dados está relacionada com o ótimo

desempenho da indústria farmacêutica do estado, que representa a maior concentração de

empresas, emprego, produção física do setor farmacêutico brasileiro, além de apresentar

importantes atores do sistema de inovação farmacêutico nacional, conforme descrito na seção

II.1 deste trabalho. Já o EGO foi escolhido por apresentar um crescimento significativo no

setor farmacêutico nacional, com grande crescimento do número de empresas farmacêuticas e

empregos formais do setor no estado e de produção física da indústria farmacêutica do EGO

entre os anos de 1995 e 2013.

Com base nestes dados, é possível verificar que o sistema produtivo e inovativo

farmacêutico fluminense, caracterizado por indústrias de produtos farmoquímicos e indústrias

de medicamentos para uso humano, é considerado relevante para o setor farmacêutico

nacional devido a sua participação na produção, na mão-de-obra e de números de

estabelecimentos.

Comparando-se com os dados agregados do Brasil de 1995, observa-se no ERJ a

presença de 19,6% de estabelecimentos que fabricam medicamentos para uso humano.

Entretanto, ao fazer a mesma comparação, mas com os dados agregados do Brasil de 2013,

constata-se a presença no ERJ de apenas 12,2% de estabelecimentos no total do país (Ver

Tabela 3).

Tabela 3: Porcentagem de estabelecimentos que fabricam medicamentos para uso humano

Fonte: Elaborado pelo Grupo de Economia da Inovação/ IE/ UFRJ com base na RAIS/MTE

76

País/Estado 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Outros 36,0 40,3 39,8 44,6 45,4 43,2 46,4 47,2 46,2 48,9 47,2 48,7 47,6 45,3 46,2 45,9 48,0 46,3 44,5

SP 39,7 31,9 27,6 29,9 31,7 30,0 29,1 27,8 28,6 29,0 26,4 27,3 30,3 32,0 31,6 30,0 29,8 30,6 29,7

RJ 20,2 23,0 27,1 21,4 21,1 24,4 19,5 20,8 20,1 17,2 18,8 16,6 13,0 13,4 13,5 13,5 13,5 13,6 14,8

GO 4,1 4,8 5,4 4,0 1,8 2,3 5,0 4,2 5,0 4,8 7,6 7,5 9,2 9,3 8,8 10,6 8,8 9,5 11,0

Através da Tabela 3, é possível verificar que ocorreu uma queda gradual da

participação do número de estabelecimentos que fabricam medicamentos para uso humano no

ERJ no total do país, durante o período em questão.

Seguindo a mesma tendência, obteve-se também o percentual de estabelecimentos que

fabricam produtos farmoquímicos e localizam-se no ERJ no mesmo período. A Tabela 4

abaixo mostra os resultados obtidos e o percentual de concentração dos estabelecimentos que

fabricam produtos farmoquímicos e se localizam nos ERJ, ESP e no EGO e nos demais

estados do Brasil.

Tabela 4: Porcentagem de estabelecimentos que fabricam produtos farmoquímicos

É possível observar que em 1995 localizavam-se no ERJ 20,2% dos estabelecimentos

que fabricam produtos farmoquímicos. Em 2013, este percentual caiu para 14,8%. Porém,

diferentemente do que ocorre com a concentração de estabelecimentos que produzem

medicamentos para uso humano no qual se observa uma queda gradual no período analisado,

na fabricação de produtos farmoquímicos constata-se quedas e aumentos em intervalos de

tempo, até o ano de 2005, quando o número de estabelecimentos começa a reduzir

significativamente e a participação chega a atingir 18,8% no total do país. A partir de 2005, a

queda foi consecutiva e gradual chegando a obter em 2007, o percentual mais baixo, 13%, de

todo o período.

Portanto, observa-se uma redução significativa dos números de estabelecimentos,

compreendendo medicamentos para uso humano e produtos farmoquímicos, que compõem o

setor farmacêutico do ERJ. Através do Gráfico 2 abaixo, é possível identificar que no ano de

1995, 19,8% dos estabelecimentos dos estabelecimentos do setor farmacêutico do país

localizavam-se no ERJ, porém em 2013 esse percentual chega a atingir apenas 12,8%.

Essa queda de aproximadamente 7% é relevante ao ser comparada com os percentuais

apresentados por outros estados brasileiros, como por exemplo, o ESP que apresentou uma

Fonte: Elaborado pelo Grupo de Economia da Inovação/ IE/ UFRJ com base na RAIS/MTE

77

queda de menos de 3% no número de estabelecimentos, e o EGO que apresentou um

crescimento significativo, de aproximadamente, 8 p.p no número de estabelecimentos do setor

farmacêutico (PARANHOS, FRANÇA E MERCADANTE, 2015).

Cabe ressaltar que a tendência de queda do número de estabelecimentos também

ocorre em números absolutos, com uma queda no número de estabelecimentos de 53,6% no

ERJ, ou seja, uma queda de 181 estabelecimentos em 1995 para 84 em 2013, e de 33,7% no

ESP, com queda de 356 em 1995 para 236 estabelecimentos em 2013, num período de 18

anos. Em contrapartida, é possível observar, por exemplo, um crescimento de 191,3% no

número de estabelecimentos no EGO (PARANHOS, FRANÇA E MERCADANTE, 2015)

Através da RAIS/MTE também foi possível obter a quantidade de trabalhadores

formais que estão empregados em estabelecimentos que fabricam medicamentos para uso

humano e farmoquímicos. A partir da Tabela 5, é possível identificar que a porcentagem dos

trabalhadores empregados em estabelecimentos que fabricam medicamentos para uso humano

do ERJ segue a mesma tendência da quantidade de estabelecimentos com queda gradual.

52,8 54,6

38,9 36,1

19,8

12,8

2,510,2

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Gráfico 2: Porcentagem de estabelecimentos do setor farmacêutico

Goiás

Rio de Janeiro

São Paulo

Outros

Fonte: Elaborado pelo Grupo de Economia da Inovação com base na RAIS/MTE.

78

País/Estado 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Outros 15,3 15,3 15,3 17,1 17,0 17,8 18,4 18,5 21,5 21,0 21,8 22,1 20,9 21,9 23,5 23,4 23,3 24,2 24,9

SP 62,0 62,8 64,1 59,7 57,3 60,3 58,6 57,2 57,7 57,6 58,1 57,2 57,7 59,2 57,0 56,1 55,4 55,3 54,1

RJ 20,4 19,7 17,0 19,1 18,8 13,2 13,3 14,9 11,6 10,7 9,9 9,9 10,1 8,9 8,8 8,9 8,8 8,7 8,5

GO 2,3 2,2 3,6 4,1 6,8 8,7 9,6 9,4 9,2 10,7 10,1 10,8 11,3 10,1 10,7 11,7 12,5 11,8 12,5

País/Estado 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Outros 15,9 17,7 13,4 14,1 25,1 24,2 27,9 32,2 30,9 38,5 32,3 22,5 19,8 17,2 19,4 20,3 18,4 19,7 18,1

SP 52,2 46,7 40,1 43,3 39,7 37,0 34,6 33,9 40,2 35,9 37,1 51,5 57,1 54,2 55,9 53,7 56,5 55,1 46,3

RJ 26,5 28,8 39,7 35,2 34,0 34,7 32,6 28,3 26,3 23,6 26,8 18,4 17,7 18,4 18,6 18,5 18,2 20,0 25,3

GO 5,4 6,8 6,9 7,4 1,3 4,1 4,9 5,5 2,6 2,0 3,9 7,6 5,4 10,2 6,0 7,4 6,9 5,3 10,4

Tabela 5: Porcentagem de trabalhadores empregados em estabelecimentos que fabricam

medicamentos para uso humano

Ao verificar os dados de 1995, é possível observar que no ERJ a presença de 20,4%

dos trabalhadores empregados em estabelecimentos que fabricam medicamentos para uso

humano. Entretanto, os dados de 2013, mostram a presença no ERJ de 8,5% de trabalhadores

empregados formalmente nestes estabelecimentos.

Também através da RAIS/MTE, foram obtidos os dados referentes à porcentagem de

trabalhadores que são empregados nos estabelecimentos que fabricam produtos

farmoquímicos localizados no ERJ. Através da Tabela 6, identifica-se que como o percentual

de estabelecimentos, a porcentagem de trabalhadores empregados nestes estabelecimentos no

ERJ também oscilou consideravelmente.

Tabela 6: Porcentagem de trabalhadores empregos em estabelecimentos que fabricam produtos

farmoquímicos

Em 1995, 26,5% dos trabalhadores, do total nacional, estavam empregados nestes

estabelecimentos do ERJ. Esse percentual foi crescendo durantes os anos seguintes, chegando

a alcançar o percentual de 34,7% de trabalhadores no ERJ, em 2000. Porém, a partir de 2001

esse resultado foi se modificando e durante os anos seguintes ocorreram quedas cada vez

maiores, chegando a atingir, no ano de 2011, o percentual de 18,2% dos trabalhadores formais

Fonte: Elaborado pelo Grupo de Economia da Inovação/ IE/ UFRJ com base na RAIS/MTE

Fonte: Elaborado pelo Grupo de Economia da Inovação/ IE/ UFRJ com base na RAIS/MTE

79

empregados neste setor e localizados no ERJ. Em 2013, percebe-se uma melhora neste quadro

com um aumento do percentual para 25,3%.

Portanto, ao analisar a quantidade de trabalhadores formais que compõem o setor

farmacêutico, através do Gráfico 3, observa-se uma queda ainda mais expressiva da que

ocorre com os estabelecimentos, pois em 1995, 21,9% de trabalhadores estavam empregados

no setor farmacêutico do ERJ, mas em 2013 este percentual diminui para 9,5%, acarretando

numa alta queda de emprego formal no setor de mais de 12 p.p (PARANHOS, FRANÇA E

MERCADANTE, 2015).

A partir da análise da Tabela 6 acima, verifica-se que o ESP também apresentou

queda, porém foi inferior a queda apresentada pelo ERJ no mesmo período, de apenas 5,9%.

Já o EGO, por exemplo, apresentou crescimento elevado de, aproximadamente, 9% na

participação do emprego formal do setor farmacêutico do país, passando assim de quarto para

o segundo estado que mais emprega trabalhadores formais no setor farmacêutico brasileiro e,

portanto, superando o ERJ (PARANHOS, FRANÇA E MERCADANTE, 2015).

21,624,5

59,553,6

21,9

9,5

3,1

12,4

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Gráfico 3: Porcentagem de trabalhadores empregados

em estabelecimentos do setor farmacêutico

Goiás

Rio de Janeiro

São Paulo

Outros

Fonte: Elaborado pelo Grupo de Economia da Inovação com base na RAIS/MTE.

80

A análise do Gráfico 3 acima demonstra a tendência de desconcentração do emprego

no setor farmacêutico nacional, com ênfase na perda significativa do ERJ (PARANHOS E

HASENCLEVER, 2013).

Através da análise dos números absolutos, observa-se que o ESP perdeu participação

no emprego formal do setor farmacêutico nacional, porém não reduziu o número de

empregados, apresentando crescimento de 43,2%. O EGO cresceu 540%, em números

absolutos, entre 1995 e 2013, já o ERJ, que apresentou queda, neste período, de 31% em

números absolutos, além de ter perdido participação relativa na composição do emprego

formal do setor farmacêutico, também apresentou queda em números absolutos de

funcionários empregados no setor (PARANHOS, FRANÇA E MERCADANTE, 2015).

Vale ressaltar que a queda no número de trabalhadores foi acompanhada não

somente pela redução no número de estabelecimentos, mas também pela queda significativa

na produção física do setor farmacêutico no ERJ. Com base na PIM-PF/IBGE, foi possível

obter os índices referentes à produção física do setor farmacêutico do ERJ e do Brasil no

período de 1996 a 2010 e com base média no ano de 1996. O Gráfico 4 abaixo evidencia a

tendência contrária do ERJ a do país, que tem crescimento de sua produção física.

Foram obtidos também da PIM-PF/IBGE, os números da produção física da indústria

de transformação do ERJ e do Brasil. O intuito é observar se a tendência de queda da

produção física do setor farmacêutico no ERJ também se aplica a indústria de transformação

(Ver Tabelas 7 e 8).

184,03

100

48,86

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Índi

ce

Gráfico 3: Produção física do setor farmacêutico no Brasil e no Estado do Rio de Janeiro (1996/2010)

Brasil Estado do Rio de Janeiro

Fonte: Elaborado pelo Grupo de Economia da Inovação com base PIM-PF/IBGE.

Gráfico 4:

81

Tabela 7: Pesquisa Industrial Anual – Produção Física do ERJ / Número índice (Base 1996=100)

Tabela 8: Pesquisa Industrial Anual – Produção Física Brasil / Número índice (Base 1996=100)

É possível observar, através do Gráfico 5 abaixo, baseado nas Tabelas 7 e 8, que a

indústria de transformação do ERJ não acompanha a tendência de queda da indústria

farmacêutica fluminense, tendo pequenas alterações durante o período, e recentemente, vem

apresentando taxas de crescimento, com destaque para o ano de 2011, que atingiu o índice de

104. Portanto, a indústria de transformação do ERJ vem crescendo e acompanhando a

tendência de crescimento da indústria de transformação do país, ao contrário do que ocorre

com a indústria farmacêutica do estado.

Vale ressaltar que o crescimento da produção física da indústria farmacêutica do Brasil

é superior a produção física da indústria de transformação no país durante todo o período

analisado, com destaque para o ano de 2012 no qual os índices foram, respectivamente, 191,6

e 132,5. O que revela a grande importância que a indústria farmacêutica tem para o país,

como um setor dinâmico, que vem crescendo a cada ano.

Interessante constatar que o comportamento da produção física das indústrias

farmacêuticas e de transformações no ERJ, durante o período em questão, é inverso ao

comportamento das mesmas em âmbito nacional. No ERJ, a indústria farmacêutica apresenta

queda na produção física, chegando a apresentar 43% em 2008, o índice mais baixo no

período analisado, contrastando com o ano de 1997 no qual apresentou um índice de 92,0,

mais do que o dobro do índice apresentado em 2008.

No ERJ os índices da produção física da indústria de transformação são superiores aos

da indústria farmacêutica, e mantém-se constante, durante o período analisado, apresentando

quedas e crescimentos pequenos da produção física de um ano para outro, o que evidencia que

Fonte: Elaborado pelo Grupo de Economia da Inovação/ IE/ UFRJ com base PIM-PF/IBGE.

Fonte: Elaborado pelo Grupo de Economia da Inovação/ IE/ UFRJ com base PIM-PF/IBGE.

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Indústria de Transformação RJ 100,0 97,0 96,4 93,9 92,3 89,6 91,3 90,1 93,5 93,0 94,0 97,1 97,7 90,6 101,3 104,0 98,1

Farmacêutica RJ 100,0 92,0 84,5 70,4 57,7 61,4 56,6 55,1 55,1 53,0 55,7 47,2 43,0 45,5 48,9 47,5 51,6

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Indústria de Transformação BR 100,0 103,6 100,2 98,6 104,6 106,0 106,6 106,4 115,4 118,6 121,6 129,0 132,9 123,2 135,9 136,2 132,5

Farmacêutica BR 100,0 111,4 115,8 115,4 113,1 112,0 130,2 120,3 121,4 139,0 145,0 147,8 166,6 179,8 184,0 190,5 191,6

82

a indústria de transformação fluminense apesar de também não ter apresentado uma evolução

muito positiva, manteve-se estável. Já na indústria farmacêutica observamos um declínio

bastante acentuado durante todo o período em questão, como pode ser observado no Gráfico

5.

A produção física da indústria farmacêutica nacional vem apresentando índices

maiores de crescimento que a indústria de transformação, mas as duas estão em crescimento.

Portanto, é importante ressaltar que não houve dinamismo da indústria de transformação no

ERJ ao contrário da tendência de crescimento no Brasil.

A PINTEC realizada pelo IBGE elabora indicadores setoriais regionais das atividades

de inovação das empresas brasileiras que permite avaliar o comportamento inovador das

empresas. Ao comparar as edições de 2008 e 2011 da PINTEC da classe de fabricação de

produtos farmoquímicos e farmacêuticos, é possível identificar que aumentou em 54% o

número de empresas do setor farmacêutico brasileiro que realizaram inovações para o

mercado nacional. Por outro lado, reduziu em 27% o número de empresas do setor que

realizaram inovações para a empresa. O que demostra que um avanço nas inovações do setor,

que deixam de ser novas somente para a empresa, mas também para o mercado nacional.

98,1

100,0

51,639

132,5

191,6

0

50

100

150

200

250

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Índic

e

Gráfico 5: Produção física da Indústria de transformação e farmacêutica no Brasil e no ERJ

Indústria de Transformação RJ Farmacêutica RJ Indústria de Transformação BR Farmacêutica BR

Fonte: Elaborado pelo Grupo de Economia da Inovação com base PIM-PF/IBGE.

83

Também se destaca que houve aumento de 132% das empresas que inovaram em processo

para o mercado nacional e redução de 16% das empresas que inovaram em processo para si

próprias (PARANHOS E MERCADANTE, S.D.)

Estes dados sinalizam que em 2008, as empresas nacionais faziam esforços para

promover capacitações internas para permitir a concorrência no setor farmacêutico que

depende do desempenho inovativo. Já em 2011, observa-se um aumento do desenvolvimento

de inovações para o mercado, o que representa um aumento da competitividade das empresas

nacionais, mesmo que em âmbito de mercado interno (PARANHOS E MERCADANTE, S.D)

A PINTEC só apresenta dados para o ERJ até a edição de 2005, pois o setor

farmacêutico perde relevância no estado, o que fez com que fosse tirado da amostra estadual.

O que representa uma limitação para a análise do cenário da inovação do setor farmacêutico

no ERJ. Na edição da PINTEC de 2005 (IBGE, 2007b), que avalia o período de 2003 a 2005,

apenas 21 empresas do ERJ que fabricam produtos farmoquímicos e farmacêuticos

implementaram inovações de produtos, 15 empresas implementaram inovações de processo e

6 empresas implementaram inovações em produto e processo.

Portanto, através de todos os dados apresentados é possível verificar que a

configuração do setor farmacêutico fluminense vem se alterando com a perda de muitos

estabelecimentos e trabalhadores que antes faziam parte do conjunto farmacêutico atuante no

estado. É possível identificar um encolhimento da indústria farmacêutica fluminense, o que

representa um ponto negativo para o desenvolvimento das inovações, pois, normalmente,

quando os desempenhos de uma indústria não estão favoráveis, a tendência é que ocorra uma

redução nos custos e, portanto, cortes de investimentos em P&D (PARANHOS, FRANÇA E

MERCADANTE, 2015).

84

III.3) Políticas estaduais: indústria farmacêutica fluminense

III.3.1) Políticas estaduais de incentivo à produção e à inovação

Uma das principais iniciativas do governo do ERJ foi a implantação de incentivos

fiscais às atividades de produção e comercialização do setor farmacêutico para atrair novos

investimentos e manter as empresas instaladas no estado. Assim, o governo instituiu o

programa Rio Fármacos pelo Decreto n° 24.857/98 – um programa setorial de

desenvolvimento da indústria química fina de aplicações biotecnológica, farmacêutica, de

fármacos e de cosméticos no estado do Rio de Janeiro. Este é um programa de fomento à

cadeia farmacêutica, que concede tratamento tributário especial para os estabelecimentos

industriais, atacadistas e distribuidores integrantes da cadeia farmacêutica, oferece uma linha

de crédito de até 200% do valor do investimento fixo a ser liberada em parcelas mensais

durante os cinco anos de operação das novas instalações. São também considerados

investimentos fixos as despesas incorridas pelas empresas em testes de bioequivalência e

biodisponibilidade, necessários para a produção de medicamentos genéricos (MARTINS,

2008).

Outro aspecto importante da estratégia conduzida pelo ERJ a fim de estimular o setor

farmacêutico é a concessão de incentivos fiscais, envolvendo, particularmente, o imposto

sobre a circulação de mercadorias e serviços (ICMS) (MARTINS, 2008).

Assim, governo estadual criou um mecanismo, por meio do Decreto n° 36.450/04, que

oferece incentivos fiscais para a cadeia farmacêutica, determinando a redução de 4% de

crédito presumido sobre o valor da nota fiscal nas saídas internas da indústria que compõem a

cadeia farmacêutica, a redução da base de cálculo do ICMS de 19% para 12% para operações

de saída interna promovida entre contribuintes da cadeia farmacêutica e a redução de 13% nas

operações de saída para hospitais, clínicas e congêneres não contribuintes do ICMS. No caso

da importação:

“se o desembaraço aduaneiro ocorrer nos portos ou aeroportos

fluminenses, o Decreto também dispõe sobre o diferimento do ICMS

referente a esta ou à aquisição interna de insumos e bens para o ativo fixo, ou ainda, para saída interna, promovida por fornecedor de mercadoria

destinada à utilização como insumo na fabricação por estabelecimento

industrial localizado no ERJ integrante da cadeia farmacêutica.”

(PARANHOS, FRANÇA E MERCADANTE, 2015, 12).

85

Hasenclever e Paranhos (2013) identificaram que o objetivo dos incentivos fiscais que

beneficiam o setor do ERJ não é o estímulo à inovação industrial. O foco destas está

direcionado para o estímulo ao desenvolvimento produtivo da indústria farmacêutica.

Cabe destacar também a Lei de Inovação Estadual nº 5.361/2008 e o Decreto

43.302/10 que a regulamenta, e têm como objetivo incentivar a inovação, a interação entre

empresa-ICT e a pesquisa científica e tecnológica nos setores produtivos do Estado do Rio de

Janeiro, através de incentivos financeiros e da criação de Núcleos de Inovações Tecnológicas

(NITs), sistemas locais de inovação e parques tecnológicos (PARANHOS, FRANÇA E

MERCADANTE, 2015).

Apesar de não ser específica para medicamentos, a Lei Estadual da Inovação nº

5.361/2008 tem como objetivo incentivar a inovação em todos os setores, inclusive o setor

farmacêutico. Também é importante destacar que essa Lei prevê que os produtos

desenvolvidos com base nesta tenham preferência na composição das compras dos órgãos

estaduais (PARANHOS, FRANÇA E MERCADANTE, 2015).

A Lei de Inovação Estadual prevê a criação de fundos, os Fundos de Apoio ao

Desenvolvimento Tecnológico (Fatec-RJ), que financiem projetos de empresas que tenham

como objetivo à inovação e o desenvolvimento tecnológico. Esses fundos são administrados

pelas Fundações de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ)

(PARANHOS, FRANÇA E MERCADANTE, 2015).

Assim, outra forma que pode ser considerada uma iniciativa do governo é o

financiamento de projetos através da FAPERJ e Fundação de Apoio à Escola Técnica

(FAETEC). É importante ressaltar que o regulamento do Fatec-RJ prevê algumas

modalidades de cessão de valores através de instrumentos de incentivo direto, subvenções.

Além disso, a FAPERJ pode investir em fundos de investimento, públicos ou privados, que

tenham como direcionamento o financiamento de empresas inovadoras (PARANHOS,

FRANÇA E MERCADANTE, 2015).

A FAPERJ, o Governo do ERJ e a Secretária de Estado de Ciência e Tecnologia

(SECTI) através do lançamento de editais, incentivam atividades científicas, tecnológicas e de

inovação, apoiando as instituições de ensino e/ou pesquisa sediadas no ERJ. Assim como,

86

também apresentam Editais com o intuito de apoiar projetos de desenvolvimento científico

e/ou tecnológicos de empresas sediadas no ERJ (PARANHOS, FRANÇA E

MERCADANTE, 2015).

É importante destacar a criação da Agência Estadual de Fomento (AgeRio), que tem

como objetivo o financiamento direto a empreendimentos inovadores, a implantação da

infraestrutura laboratorial e de pesquisa, dentre outras atividades. Além disso, a AgeRio

também investe no fundo privado BBI Financial, antigo Burril Brasil 1, o qual é destinado ao

apoio a empresas no setor de Ciências da Vida, que inclui terapias e outras áreas afins

(PARANHOS, FRANÇA E MERCADANTE, 2015).

Paranhos (2015) ressalta ainda um segundo fundo de apoio ao desenvolvimento

industrial e tecnológico, que consolida o ambiente de incentivo à inovação e desenvolvimento

industrial do ERJ, o Fundo de Desenvolvimento Econômico e Social (Fundes), instituído pelo

art. 6º do Decreto-lei n.° 08/75 e gerenciado pela Secretaria Estadual de Desenvolvimento

Econômico, Energia, Indústria e Serviços (SEDEIS). A criação do programa Rio Fármacos,

citado anteriormente, em 1998, regulamenta o uso dos recursos do Fundes para subsidiar o

desenvolvimento e a expansão do setor farmacêutico do ERJ (PARANHOS, FRANÇA E

MERCADANTE, 2015).

III.3.2) Incentivos estaduais à ciência e tecnologia

Torna-se cada vez mais importante o papel do governo como financiador de projetos

voltados para o setor farmacêutico num cenário de crescimento da relevância do

desenvolvimento de atividades de ciência, tecnologia e inovação. O papel do governo como

financiador do setor farmacêutico é muito importante, principalmente, nas fases iniciais de um

novo projeto e no desenvolvimento de um novo medicamento, pois contribui na redução dos

riscos iniciais e incentiva a realização de projetos inovadores nas empresas do setor

(MARTIN E SCOTT, 2000; MUNOS E CHIN, 2011 apud PARANHOS, 2012).

A atuação do governo federal no sentido de incentivar à inovação e a ciência e

tecnologia no setor farmacêutico é complementada pela atuação na esfera estadual das FAPs,

que além de atuarem no apoio à ciência e tecnologia, também incentivam à inovação e o

87

fortalecimento da interação empresa-ICT (TOOLE, 2012 apud PARANHOS, FRANÇA E

MERCADANTE, 2015).

A atuação da FAPERJ no ERJ tem como fonte de receita principal as transferências

realizadas pelo estado que correspondem “a 2% da arrecadação tributária líquida, além de

outras fontes secundárias” (PARANHOS, FRANÇA E MERCADANTE, 2015: 15). É

possível verificar que em termos absolutos, os valores dispendidos pela FAPERJ foram

crescentes, apresentando R$ 354 milhões em 2010 e R$ 398 milhões em 2013 (PARANHOS,

FRANÇA E MERCADANTE, 2015).

Através de uma coleta de dados foram identificadas 14 linhas de apoio da FAPERJ,

entre o período de 2010 e 2013, que estão relacionadas ao suporte público ao

desenvolvimento de ciência e tecnologia em diversas áreas que são de importância para o

setor farmacêutico. Dessas 14 linhas, 11 estão relacionadas a “editais de suporte à ciência e à

formação de recursos humanos em ICTs” do estado, e as outras 3 estão voltadas para o

financiamento do processo de inovação em empresas, e não necessariamente envolvem a

participação de um ator acadêmico (PARANHOS, FRANÇA E MERCADANTE, 2015: 15).

Ainda no período de 2010 a 2013, a FAPERJ abriu 25 editais que disponibilizava em

torno de R$ 220 milhões, dos quais R$ 49 milhões foram direcionados para empresas

inovadoras, e em torno de R$ 173 milhões para projetos de ICTs. De acordo com Paranhos,

França e Mercadante (2015):

“as propostas apresentadas pelas empresas farmacêuticas corresponderam

a 5,8% dos editais pertinentes (4), ao passo que projetos acadêmicos associados ao setor representaram 13,43% (21) do universo de

contemplação dos editais de apoio ao desenvolvimento científico no ERJ. Ao

todo, os 25 projetos observados selecionaram 1.650 projetos, dos quais, aproximadamente, 12,7% (210) estão relacionados ao setor farmacêutico,

de maneira direta ou indireta” (PARANHOS, FRANÇA E

MERCADANTE, 2015: 15).

Um ponto importante a destacar é que apenas a FAPERJ, dentre os levantamentos

realizados e contextos avaliados, dedica recursos através dos editais para incentivar a

qualificação e capacitação de pessoal técnico. Um exemplo é a “participação média de

projetos de áreas conhecimento” voltadas para o setor farmacêutico, que foi superior 10%, no

período de 2010 a 2013, entre as propostas aprovadas no edital de “Treinamento e

Capacitação Técnica”. Outra linha que a FAPERJ atua como pioneira é no apoio à

88

“realização de ensaios clínicos em instituições sediadas no RJ, iniciado em 2013”

(PARANHOS, FRANÇA E MERCADANTE, 2015: 15).

“A estruturação de instituições de saúde, ensino e pesquisa para

viabilizar a realização de testes clínicos é imprescindível à dinâmica

de inovação na indústria farmacêutica e pode representar um

diferencial ao ambiente do RJ” (PARANHOS, FRANÇA E

MERCADANTE, 2015: 15).

Também é importante destacar algumas linhas que são comuns entre as FAPs de

diversos estados, em especial, as linhas de fomento que são realizadas em parceria com o

governo federal, como por exemplo, a “Tecnova”, que através de subvenções econômicas,

encaminha os recursos repassados pela Finep às empresas inovadoras, os editais de “Pesquisa

para o SUS” que intermedia os recursos garantidos pelo Ministério da Saúde e direciona ás

ICTs de cada estado (PARANHOS, FRANÇA E MERCADANTE, 2015).

“A atuação da FAPERJ no sistema de inovação fluminense vem

evoluindo de maneira sustentada. Tal progresso se reflete no volume

crescente de recursos disponibilizados por ano e a criação de novos

editais, especialmente contemplando as ciências da vida”

(PARANHOS, FRANÇA E MERCADANTE, 2015: 16).

Ao comparar o total de projetos voltados para o setor farmacêutico com o total dos

projetos aprovados pela FAPERJ constata-se que o percentual apresentado é baixo, porém se

comparado com o resultado apresentado por outros estados, o resultado é superior. Assim, se

considerar os dados dos projetos em termos de execução e formação de recursos humanos

especializados e comparar com os projetos dos demais estados, “o panorama do ERJ parece

favorável ao estabelecimento e a manutenção da indústria farmacêutica no estado”

(PARANHOS, FRANÇA E MERCADANTE, 2015: 16).

III.3.3) Outras iniciativas do governo do ERJ voltadas para a indústria farmacêutica

Também é relevante destacar outras iniciativas do governo, a partir de 2010,

principalmente através da SEDEIS que tem como foco a mudança do cenário de queda do

setor farmacêutico no ERJ:

89

“Em 2011, após uma série de seminários e debates, um conjunto de

importantes atores do setor farmacêutico no ERJ com o apoio da Sedeis cria o Grupo Executivo do Complexo Industrial em Ciências da Vida do Rio de

Janeiro (GECIV-RJ) com a finalidade de elaborar e desenvolver as

diretrizes das políticas estaduais de fortalecimento do complexo produtivo e

de inovação em ciências da vida (Decreto estadual nº 43.315/2011)” (PARANHOS E HASENCLEVER, 2013: 92).

De acordo com Paranhos e Hasenclever (2013), a partir de 2011, todas as iniciativas

descritas acima e a criação do GECIV-RJ indicava um período maior foco das inciativas do

governo para o setor farmacêutico do ERJ, principalmente na produção de produtos

biotecnológicos.

“Em 2013, sai pela Faperj o primeiro edital pensado, discutido e elaborado no âmbito do GECIV-RJ para apoio aos projetos de

pesquisa, desenvolvimento e inovação biotecnológica em saúde humana no Estado do Rio de Janeiro, voltado para financiar a

execução de projetos que objetivem a realização de testes pré-clínicos

ou clínicos, nas fases I, II e III” (PARANHOS E HASENCLEVER, 2013: 94).

Cabe ressaltar ainda algumas iniciativas que podem contribuir para incentivar o

desenvolvimento produtivo e tecnológico do setor farmacêutico fluminense, assim como uma

agenda de políticas bem estruturadas que incentivem o relacionamento universidade-empresa

e o investimento público em P&D e estejam voltadas para o setor. De acordo Mauro Osório

(2015), o complexo da saúde representa uma cadeia produtiva promissora para o ERJ.

Paranhos e Hasenclever (2015) destacam que o Complexo da Economia da Saúde do

Estado do Rio de Janeiro (CES/RJ) é um importante subespaço de inovação e acumulação de

capital que pode atrair investimentos, gerar empregos e renda para o ERJ. As ações do

governo estadual são essenciais para equilibrar as desigualdades do próprio complexo de

saúde que são geradas pelas assimetrias de informações que impactam os compradores e pelo

mercado oligopolizado que impacta a oferta.

O governo estadual deve atuar em conjunto com o governo federal para o

estabelecimento de uma agenda de políticas de saúde, industrial e tecnológica voltada para o

CES e que priorize o desenvolvimento e a melhoria dos indicadores do ERJ através de uma

gestão mais eficiente das compras pública. Dois exemplos dessa parceria entre diferentes

90

níveis de governos são os incentivos à Parceria de Desenvolvimento Produtivo (PDPs) do ERJ

e a criação do Parque Tecnológico da Vida (PTV) (PARANHOS E HASENCLEVER, 2015).

Além disso, é importante destacar que o ERJ possui a maior participação nas PDPs,

com cinco laboratórios públicos, Instituto Vital Brasil, Biomanguinhos, Farmanguinhos,

Laboratório Farmacêutico da Marinha e Laboratório Químico Farmacêutico do Exército

participantes das PDPs. Além disso, 20% das empresas privadas que participam das PDPs se

localizam no ERJ (PARANHOS E HASENCLEVER, 2015).

“O PTV, por sua vez, irá sediar empreendimentos de P&D de micro e pequenas empresas de base tecnológica, unidades de pesquisa,

desenvolvimento e inovação de empresas, unidades de produção, facilidades compartilhadas e centros de capacitação de pessoas. O PTV é dividido entre

o campus de Vital Brasil, em Niterói, e o campus Resende, na região sul

fluminense” (PARANHOS E HASENCLEVER, 2015: 9).

Paranhos e Hasenclever (2015) também sinalizam que a agenda do CES/RJ deve

priorizar duas atuações principais do governo estadual: a eficiência na gestão de compras

públicas e o incentivo aos produtores do ERJ, o que reduzirá as desigualdades dos sistemas de

saúde e de produção e inovação de insumos.

III.3.4) Relacionamento universidade-empresa: avaliação do papel do Estado no

estímulo ao desenvolvimento do sistema farmacêutico de inovação do ERJ

Paranhos e Hasenclever (2013) apresentam uma pesquisa de campo realizada no

período entre 2008 e 2012 através de entrevistas com vinte e três agentes do setor

farmacêutico do ERJ, que compreende empresas públicas e nacionais, multinacionais e

instituições do governo estadual e federal, agências de inovação de universidades e institutos

de pesquisa, dentre outros.

As autoras identificaram através da pesquisa algumas características entre a relação

universidade-empresa e os incentivos públicos para estas interações assim como o grau de

inovação e o incentivo a inovar presentes nos agentes entrevistados. Há um padrão nacional

entre as empresas relacionadas ao setor farmacêutico que possuem em comum o foco na

produção de medicamentos genéricos e a baixa estruturação das atividades inovativas. Já as

91

universidades e centros de pesquisa apresentaram um despreparo para incentivar a interação

com as empresas do setor, pois apresentam forte rigidez na estrutura interna, além de

apresentarem certa dificuldade no funcionamento dos núcleos de inovação tecnológica (NITs)

(PARANHOS E HASENCLEVER, 2013).

“Tais características, tanto das empresas farmacêuticas quanto das

universidades, parecem indicar que elas não estão preparadas do ponto de vista de seu posicionamento estratégico e de sua missão para inovarem e

contribuírem para o desenvolvimento local” (PARANHOS E

HASENCLEVER, 2013: 93).

As relações universidade-empresa foram consideradas em sua maioria como parcerias

experimentais, ou seja, ocorrem através de atividades de desenvolvimento de testes e/ou

consultorias que dependem de um conhecimento prévio e de equipamentos da universidade.

Essas relações não necessariamente geram novos conhecimentos e teorias e costumam ter

curta duração. Já em relação ao estimulo das universidades na parceria com as empresas

farmacêuticas, identifica-se a possibilidade das pesquisas chegarem à sociedade e de obter

recursos para financiar as pesquisas (PARANHOS E HASENCLEVER, 2013).

Por outro lado, o principal problema identificado nas relações entre universidade-

empresa é a burocracia presente na maioria das universidades públicas. O governo não

apresenta uma estrutura organizada e a falta de planejamento gera mais obstáculos dos já

encontrados normalmente nas interações entre universidades-empresas. Outros problemas

identificados são intrínsecos ao estabelecimento de relações entre universidades e empresas

que atuam em cenários completamente diferentes, como a desconfiança, o distanciamento e a

falta de dialogo entre os dois atores (PARANHOS E HASENCLEVER, 2013).

Outros entraves que foram identificados são: a expectativa por parte das universidades

em obter financiamentos extras para as pesquisas; a falta de calibragem dos equipamentos das

universidades; a gestão familiar comum nas empresas brasileiras e que não gera incentivos à

inovação, dente outros (PARANHOS E HASENCLEVER, 2013).

“Independentemente do maior ou menor número de obstáculos, os

entrevistados declararam que a principal forma de resolvê-los é ser

persistente, flexível, buscar compreender o ponto de vista do parceiro e

negociar caso a caso” (PARANHOS E HASENCLEVER, 2013: 95).

92

Um dos pontos fundamentais identificados na pesquisa de campo é a necessidade de

mudança na postura do governo no sentido de reconhecer cada vez mais a grande importância

das atividades inovativas e dos frutos benéficos da relação universidade-empresa, e a partir

disso, criar um marco regulatório e programas de fomento que incentivem cada vez mais o

fortalecimento e o aumento das interações entre universidades e empresas farmacêuticas e

estimule a inovação (PARANHOS E HASENCLEVER, 2013).

Apesar da estrutura e da iniciativa incipiente, o governo tem atuado como catalisador

da aproximação entre as universidades e as empresas através do financiamento de pesquisas

acadêmicas. Porém, identificou-se algumas críticas desses agentes aos programas e editais

lançados pelo governo para incentivar essa parceria, tais como os problemas de burocracia na

execução dos projetos, prazos de curta duração para o desenvolvimento da pesquisa, a falta de

focos específicos nos temas dos editais, dentre outras (PARANHOS E HASENCLEVER,

2013).

Um aspecto relevante e que se mostra fundamental para o relacionamento entre

universidade-empresas e a geração de inovação é o estabelecimento de um marco regulatório

que torne mais eficiente e ágil o funcionamento e as ações das instituições públicas,

universidades e agências regulatórias (PARANHOS E HASENCLEVER, 2013).

“No ERJ, em particular, alguns obstáculos foram listados como

significativos no impedimento do desenvolvimento do sistema farmacêutico

de inovação; entre os mais comentados estão a alta tributação, principalmente do ICMS, a ausência de políticas de apoio do governo

estadual e o forte desenvolvimento do setor no ESP.” (PARANHOS E

HASENCLEVER, 2013: 97).

Também foram identificadas no estudo de casos algumas vantagens que o ERJ oferece

que estão relacionadas principalmente com a presença de grande quantidade de pesquisadores

e ICTs, de mão-de-obra qualificada, e o porto e o aeroporto que facilitam o transporte de

mercadorias. Entretanto, essas vantagens não estão sendo suficientes para incentivar a

inversão do cenário crítico de queda do setor farmacêutico fluminense e promover ações

concretas que estimulem o desenvolvimento produtivo e inovativo das empresas

farmacêuticas, assim como a interação entre empresa-universidade. A alta tributação do ERJ,

ações concretas do governo estadual e o baixo dinamismo econômico são os principais fatores

93

que geram impactos negativos no desenvolvimento do setor do estado (PARANHOS E

HASENCLEVER, 2013).

“É patente a necessidade de políticas industriais e de inovação no ERJ para

o apoio ao desenvolvimento do setor e o estímulo às parcerias entre

empresas e ICTs” (PARANHOS E HASENCLEVER, 2013: 99).

94

Considerações Finais

A indústria farmacêutica brasileira tem sido um dos focos da agenda do governo

federal no tocante a elaboração de políticas que contribuam para incentivar o

desenvolvimento produtivo e inovativo dessa indústria, com mais intensidade a partir dos

anos 2000. Os resultados identificados através da análise dos dados apresentados é que as

políticas estão sendo positivas e contribuindo para o crescimento da indústria farmacêutica do

país e para a elevação do setor a níveis de desenvolvimentos superiores. Foi identificado

através dos dados apresentados que a indústria do país apresenta desempenhos positivos, num

período de análise de 18 anos, com taxas de crescimento tanto na produção física quanto no

número empregos formais que a configuram, mas apresentou queda no número de

estabelecimentos que compõem o setor.

As políticas nacionais apresentadas e que são voltadas para a indústria farmacêutica

tem como objetivo incentivar todas as empresas dessa indústria sem fazer distinção à

concentração regional ou beneficiar uma região em detrimento da outra. Nesse sentido, cabe

ressaltar a importância do papel das políticas estaduais no sentido de atuar em conjunto com o

governo nacional e incentivar o desenvolvimento e a configuração dessa indústria,

principalmente nos ESP e ERJ, que apresentam as maiores concentrações das empresas,

produção e ICTs.

Através da análise dos resultados obtidos, foi possível observar que no período de

1995-2013, o ERJ apresentou perdas relevantes em termos produtivos, com queda relativa e

absoluta nos números de estabelecimento, emprego formal e produção física do setor

farmacêutico do estado. Entretanto, em termos de potencial inovativo e capacitação científica

e tecnológica voltados para o setor farmacêutico, o ERJ permanece apresentando resultados

positivos e relevantes, ficando atrás apenas do ESP.

Identificou-se, a despeito da configuração da indústria farmacêutica fluminense, do

potencial inovador e da infraestrutura que o ERJ possui para alavancar o desenvolvimento

produtivo do setor farmacêutico fluminense com base em ciência e inovação, ou pelo menos

manter a estrutura e os avanços já alcançados em termos de produção, verifica-se uma

redução dos investimentos no setor se comparado à dinâmica da indústria farmacêutica

nacional.

95

Foi identificado um conjunto de políticas e programas do ERJ de incentivo ao

desenvolvimento do setor farmacêutico, além de iniciativas voltadas para a geração de

inovação, como a promulgação da Lei de Inovação, alinhada com o padrão nacional, e

programas de apoio que incentivem o fortalecimento e crescimento de parcerias entre

universidade-empresa, assim como através de instrumentos de política, como os incentivos

fiscais e as subvenções econômicas a empresas para projetos de inovação.

Através da análise da bibliografia apresentada é possível verificar que o objetivo dos

incentivos fiscais que beneficiam o setor do ERJ não está direcionado para o estímulo à

inovação industrial. O foco destas está direcionado para o estímulo ao desenvolvimento

produtivo da indústria farmacêutica.

Cabe destacar o fato que o ERJ possui a maior alíquota de ICMS (19%) comparando

com outros estados produtores, e mesmo com a criação do Decreto n° 36.450/04, que

estabelece incentivos fiscais para a cadeia farmacêutica, reduzindo a alíquota de ICMS para

12%, o ERJ continua possuindo a maior alíquota de ICMS se comparado com as medidas de

incentivos fiscais, voltadas para o setor farmacêutico de outros estados.

Também verificou que o ERJ oferece vantagens como a presença de quantidade

significativa de pesquisadores e ICTs, de mão-de-obra qualificada, além do porto e do

aeroporto que facilitam o transporte de mercadorias. Porém, essas vantagens não estão sendo

suficientes para incentivar a inversão do cenário de queda da indústria farmacêutica do ERJ e

promover ações concretas que estimulem o desenvolvimento produtivo e inovativo das

empresas farmacêuticas.

Portanto, através dos resultados obtidos e da análise das pesquisas realizadas é

possível especular que o ERJ possui potencial para gerar capacitação para inovar no setor

farmacêutico, porém as medidas de incentivos fiscais do ERJ e iniciativas dos governos não

foram tão profundas a ponto de gerar difusão tecnológica e afetar a dinâmica de investimentos

privados, sendo incapaz de estimular progresso tecnológico que revertesse o ciclo

desfavorável.

Assim, os dados apresentados mostram que a configuração e o desempenho da

indústria farmacêutica do ERJ, nos últimos anos, não contribuíram para que este seguisse a

96

mesma tendência de elevado crescimento e desenvolvimento da indústria farmacêutica

brasileira, o que confirma a hipótese apresentada de que a configuração da indústria

farmacêutica do Estado do Rio de Janeiro não permite que esta siga a mesma tendência de

crescimento da indústria farmacêutica brasileira.

De acordo com o levantamento de dados e da literatura, para estimular o

desenvolvimento do sistema farmacêutico de inovação do ERJ é importante a tomada de duas

principais ações: a revisão da altíssima carga tributária do ERJ sobre a produção e distribuição

de produtos farmacêuticos; e iniciativas mais concretas do governo do ERJ no tocante a

criação de políticas industriais e de inovação que fortaleça a infraestrutura tecnológica,

incentive a interação empresa-universidade e contribuam para reverter o baixo dinamismo do

setor no ERJ.

Ao final deste trabalho, destaca-se para estudos futuros, o desempenho da indústria

farmacêutica do EGO, que apresentou forte crescimento no número de empresas e emprego

formal do setor do governo estadual na implementação de políticas e programas que

incentivem o setor farmacêutico do estado.

97

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