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Daniel Braga Hübner A BIODIVERSIDADE E O TURISMO EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO BRASIL: PARQUE NACIONAL DO ITATIAIA Belo Horizonte Centro Universitário UNA Dezembro / 2007

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Daniel Braga Hübner

A BIODIVERSIDADE E O TURISMO EM

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO BRASIL:

PARQUE NACIONAL DO ITATIAIA

Belo Horizonte Centro Universitário UNA

Dezembro / 2007

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Daniel Braga Hübner

A BIODIVERSIDADE E O TURISMO EM

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO BRASIL:

PARQUE NACIONAL DO ITATIAIA

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Turismo e Meio Ambiente do Centro Universitário UNA, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Turismo e Meio Ambiente. Área de Concentração: Turismo e Meio Ambiente Orientador: Prof. Dr. Eduardo Trindade Bahia

Belo Horizonte Centro Universitário UNA

Dezembro / 2007

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HÜBNER, Daniel Braga H879b A biodiversidade e o turismo em unidades de conservação do Brasil:

Parque Nacional do Itatiaia / Daniel Braga Hübner. – Belo Horizonte. 2007. 107f. Orientador: Dr. Eduardo Trindade Bahia Dissertação (mestrado) – Centro Universitário UNA, Programa de

Mestrado em Turismo e Meio Ambiente.

Bibliografia: f. 99 - 101

1. Turismo 2. Biodiversidade 3. Sustentabilidade Ambiental 4. Parque Nacional do Itatiaia. I. Bahia, Eduardo Trindade II. Centro Universitário UNA. III. Título

CDU : 379.85

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Padre Geraldo Magela – Centro Universitário UNA

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À natureza!

Sempre dinâmica e transformadora, ela nos ensina a respeitá-la, mesmo que seja na marra...

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Agradecimentos

A Deus, pela criação da Natureza e todo seu esplendor como um infinito laboratório de pesquisas, ensinamentos e reflexões, e pela oportunidade e condições para vencer mais essa etapa;

À minha Mãe e meu Pai, que já há algum tempo têm convivido com minhas idas e vindas...;

À Margarida, sempre acolhedora e carinhosa, que em muitos momentos tem me ajudado a entender e dá algum sentido ao cumprimento da missão terrena, e cuja convivência consigo é um privilégio;

À D. Maria, pelo incentivo, pois sem ele, talvez desistisse; A todos os Iluminados que passam pelo meu caminho, e têm me ajudado a

superar os desafios: a conquista é nossa e vencer é o nosso destino; Aos meus alunos, razão de ser da vida de um professor. Aos bons, pela

motivação, gratidão e realizações. Aos ruins, pelo desafio em torná-los bons; Ao meu orientador, Prof. Dr. Eduardo Bahia, um motivador incondicional que

indicou os caminhos e soluções para o tema desafiador e fascinante; À UNA, pela coragem de ofertar um Programa de Mestrado em Turismo e

Meio Ambiente, área tão carente de pesquisas, embora necessárias ao nosso futuro; Ao Prof. Mauri, incansável motivador, cuja percepção está sempre à frente dos

demais; À Profa. Wanyr, que assume a Coordenação desse Programa de Mestrado, cuja

contribuição foi decisiva para a conclusão desse trabalho; Aos demais professores e funcionáios da UNA, sempre participantes; Ao Parque Nacional do Itatiaia e todos os seus incansáveis defensores, dos

vigilantes aos servidores do Ibama, pelo acolhimento, carinho e atenção dispensados ao longo da pesquisa e da permanência em suas dependências. Muito obrigado a toda a equipe, da parte baixa e da parte alta, pela acolhida e pelo apoio. Guiado pelo Levy, as pedras no caminho não evitaram a conquista das prateleiras...;

Ao Prof. Sarahyba, prova de que ainda é possível fazer amigos como antigamente, uma grata surpresa dessas que pouco temos na vida;

Ao Leo Nascimento, sempre atencioso e acolhedor, apaixonado pelo PNI; Ao casal amigo Alessandra e Herbert Ugrinowitsch, que me deram condições

para as descobertas necessárias, e um cantinho mágico para a reflexão e concentração imprescindíveis para o desenvolvimento da pesquisa;

Ao CEFET-MG, pelo apoio financeiro e institucional, necessário à consolidação do curso técnico em turismo e lazer com a conquista desse título;

Aos turistas, que continuem viajando e visitando as unidades de conservação, de forma a propagar cada vez mais as ações de manutenção, conservação e preservação do meio ambiente.

VIVA O TURISMO! VIVA A NATUREZA!

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“(...) Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência,

precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência, e tudo será

perdido (...)” – Charles Chaplin

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Resumo

Esse trabalho aborda a relação existente entre a biodiversidade e o turismo no

mais antigo Parque Nacional do Brasil: o Parque Nacional do Itatiaia. Apresenta uma análise

detalhada sobre quatro importantes aspectos de sustentabilidade ambiental na percepção dos

turistas que visitam o Parque Nacional do Itatiaia: ecológicos, socioculturais, econômicos e

relacionados ao turismo. Utiliza a técnica estatística da análise fatorial para analisar os dados

coletados na pesquisa desenvolvida e compara-os com dados de pesquisas internacionais

realizadas em unidades de conservação estrangeiras. Discorre sobre as principais

características da biodiversidade e as potencialidades turísticas dos biomas brasileiros:

Amazônia, Cerrado, Caatinga, Pantanal, Zona Costeira, Pampa e Mata Atlântica. Como

principais resultados da pesquisa, pode-se citar a avaliação pelos turistas, das condições

ecológicas, sócio-culturais e econômicas. Relaciona os principais desafios e dificuldades da

unidade de conservação estudada e propõe algumas ações e alternativas para a preservação

ambiental no Parque Nacional do Itatiaia, consoante com a prática do turismo nesse espaço,

de maneira equilibrada e sustentada.

Palavras-chave: turismo, biodiversidade, unidades de conservação, sustentabilidade

ambiental, análise fatorial.

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Abstract

This work approaches the existent relationship between the biodiversity and

the tourism in the oldest National Park of Brazil: the National Park of Itatiaia. It presents a

detailed analysis on four important aspects of environmental sustainability in the tourists'

perception that you/they visit the National Park of Itatiaia: ecological, sociocultural,

economical and related to the tourism. It uses the statistical technique of the factorial analysis

to analyze the data collected in the developed research and it compares them with data of

international researches accomplished in foreign units of conservation. Those talks about the

main characteristics of the biodiversity and the tourist potentialities of the Brazilian biomes:

Amazonian, Savannah, “Caatinga”, Pantanal, Coastal Area, South Pampa and Atlantic Forest.

As main results of the research, the evaluation can be mentioned by the tourists, of the

conditions ecological, partner-cultural and economical. It relates the main challenges and

difficulties of the unit of studied conservation and it proposes some actions and alternatives

for the environmental preservation in the National Park of Itatiaia, consonant with the practice

of the tourism in that space, in a balanced way and sustained.

Keywords: tourism, biodiversity, units of conservation, environmental sustainability,

factorial analysis.

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Lista de Quadros e Figuras

Quadro 1 – Países com maiores biodiversidades ..............................................................21

Figura 1 – Biomas brasileiros ...........................................................................................31

Figura 2 – Impactos dos ciclos econômicos nos biomas brasileiros .................................42

Quadro 2 – Estimativa qualitativa dos impactos ambientais nos biomas brasileiros........45

Quadro 3 – Tipologia de valores econômicos da biodiversidade .....................................46

Quadro 4 – Valores atribuídos por bioma e bens e/ou serviços naturais valorados:

preservação e pesca ...........................................................................................................47

Quadro 5 – Princípios regentes de intervenção.................................................................48

Quadro 6 – Valores atribuídos por bioma e bens e/ou serviços naturais valorados:

atividades relacionadas ao turismo....................................................................................49

Quadro 7 – Significância do turismo internacional para países pobres e ricos em

biodiversidade ...................................................................................................................50

Figura 3 – Relação turismo e biodiversidade ....................................................................50

Quadro 8 – Contribuição da utilização sustentável da Amazônia em diferentes setores

econômicos........................................................................................................................52

Quadro 9 – Turismo sustentável e conservação de biodiversidade..................................56

Quadro 10 – Parâmetros de impacto na biodiversidade....................................................60

Figura 4 – Método IBIS-TA da Costa Rica ......................................................................61

Quadro 11 – Princípios comparados do Ecoturismo em vários países .............................62

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Quadro 12 – Ecoturismo: conceitos e princípios comparando organizações ...........63

Quadro 13 – Alvos e indicadores referentes ao objetivo da ONU de garantir a

sustentabilidade ambiental ................................................................................................65

Quadro 14 – Aspectos de sustentabilidade mais citados na literatura ..............................69

Figura 5 – Unidades de conservação por grupo e por bioma. ...........................................71

Figura 6 – Localização do Parque Nacional do Itatiaia. ...................................................72

Figura 7 – Planta e orientação dos atrativos do Parque Nacional do Itatiaia . ..................74

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Lista de Tabelas e Gráficos

Tabela 1 – Número de espécies conhecidas (descritas) no Brasil e no mundo.................29

Tabela 2 – Áreas dos biomas continentais ........................................................................31

Tabela 3 – Exemplos de áreas de tensão de países que possuem crescimento em turismo

de mais que 100 por cento.................................................................................................54

Tabela 4 – Perfis dos turistas de Manuel Antônio/Quepos, Texel e PNI..........................81

Tabela 5 – Médias e desvios-padrão para todos os aspectos avaliados na pesquisa.........83

Gráfico 1 – Importância das dimensões de sustentabilidade no PNI.................................84

Tabela 6 – Comunalidades ................................................................................................85

Tabela 7– Matriz de Correlação........................................................................................86

Tabela 8 – Autovalores e variância para os 13 fatores...............................................86

Gráfico 2 – Autovalores para cada componente ...............................................................87

Tabela 9 – Matriz dos Componentes (sem rotação)..........................................................87

Tabela 10 – Solução com rotação Varimax, com extração de 4 fatores ...........................88

Tabela 11 – Matriz dos componentes com rotação, com 6 fatores ...................................90

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Lista de Abreviaturas

Sigla Significado

CI .............................................................................................................Conservação internacional

CITES .. ........................ Conservação sobre o comércio internacional de espécies da flora e fauna

selvagens em perigo de extinção

FMI ..................................................................................................Fundo monetário internacional

IBAMA...............................................Instituto brasileiro do meio ambiente e recursos renováveis

IBIS-TA...Sistema integral de avaliação de impactos na biodiversidade das atividades de turismo

IUCN...............................................................União internacional para a conservação da natureza

MMA ................................................................................................. Ministério do Meio ambiente

OCDE ............................................Organização para a cooperação e desenvolvimento econômico

ONU................................................................................................ Organização das nações unidas

PNI ......................................................................................................... Parque nacional do Itatiaia

PNT ......................................................................................................... Plano nacional do turismo

SNUC.................................................... Sistema nacional de unidades de conservacao da natureza

TIES ..........................................................................................The international ecoturism society

UC .........................................................................................Unidade de Conservação da Natureza

WCD ......................................................................................................World Conservation Union

WWF..........................................................World Wildlife Fund – Fundo mundial para a natureza

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SUMÁRIO

1 Introdução...............................................................................................................14 2 Objetivos..................................................................................................................19 3 A importância da biodiversidade e sua relação com o turismo ...........20

3.1 Biodiversidade no Brasil e no mundo..............................................................20 3.1.1 Legislação brasileira sobre meio ambiente e conservação da biodiversidade..... 22 3.1.2 Fauna e flora brasileiras e espécies ameaçadas de extinção......................27

3.2 Biomas brasileiros ...........................................................................................30 3.2.1 Amazônia...................................................................................................32 3.2.2 Cerrado ......................................................................................................33 3.2.3 Caatinga.....................................................................................................34 3.2.4 Pantanal .....................................................................................................36 3.2.5 Pampas ou campos sulinos ........................................................................38 3.2.6 Zona costeira .............................................................................................39 3.2.7 Mata atlântica ............................................................................................40

3.3 Impactos e valoração da biodiversidade..........................................................44 3.4 Turismo e biodiversidades...............................................................................47 3.5 Ecoturismo: valorização da natureza com a vivência do turismo ...................55 3.6 Uso turístico da biodiversidade no mundo ......................................................58 3.7 Turismo e sustentabilidade ambiental .............................................................64 3.8 Turismo em unidades de conservação da natureza..........................................69

3.8.1 Unidades de conservação no Brasil ...........................................................70 3.8.2 Parque Nacional do Itatiaia........................................................................71

4 Metodologia ............................................................................................................75 5 Resultados e discussão .......................................................................................80

5.1 Perfil dos turistas .............................................................................................80 5.2 Percepções dos turistas das dimensões de sustentabilidade ............................82 5.3 Interesses dos turistas ......................................................................................84 5.4 Análise das entrevistas e observação participante...........................................90

6 Considerações finais ............................................................................................95 7 Referências..............................................................................................................99 8 Anexos.....................................................................................................................102 9 Apêndice ................................................................................................................105

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1 – Introdução

A atividade turística associada aos ambientes naturais tem colocado em

evidência a importância da preservação, conservação e manutenção das diversas áreas

naturais. Hoje em dia há uma forte consciência dos impactos causados por atividades

turísticas no meio ambiente, sabidamente sensível à presença e ocupação humanas. A

complexidade dos ecossistemas e a dificuldade de avaliação dos impactos, advindos da

exploração turística dos espaços, dificultam a implantação de práticas de conservação. O

planejamento, controle e, principalmente, o monitoramento dos ecossistemas e do meio

ambiente são imprescindíveis à realização das atividades turísticas. Não há, atualmente,

consenso sobre as metodologias a serem utilizadas.

Apesar da importância do tema, não existem muitos trabalhos sobre

sustentabilidade associada ao turismo (DAEMON, 2002; AMEND et al., 2002; COTTRELL

et al., 2004).

Os turistas mostram-se atentos às mudanças ambientais do planeta, mas, como

a maioria da população, por falta de conhecimento ou inércia em relação à mudança requerida

de comportamento, geralmente contribuem pouco para a manutenção dos recursos naturais e o

equilíbrio dos ecossistemas. A biodiversidade associada ao turismo sustentável pode tornar-se

um poderoso instrumento de fomento ao desenvolvimento sócio-econômico de uma região.

Para tal, procura-se ordenar a exploração turística, com a melhoria do relacionamento entre os

turistas e a comunidade receptora com o meio ambiente. Desta forma, os benefícios,

principalmente sócio-culturais, ampliam-se, enquanto minimizam-se os efeitos negativos,

principalmente ambientais, da atividade turística em áreas naturais.

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Todo patrimônio ambiental exige de todos os envolvidos ações concretas para

garantir que sua existência chegue às gerações futuras, garantindo a sobrevivência de

inúmeras espécies animais e vegetais e até mesmo da própria humanidade.

O conceito de sustentabilidade engloba claramente o meio ambiente, as

pessoas das comunidades envolvidas e os sistemas econômicos (UNSD, 2007). Nesta

perspectiva, há que se considerar um horizonte de ação de longo prazo e a necessidade de

intervenção e planejamento.

Duim e Caalders (2002) discutem a relação entre turismo e biodiversidade.

Eles enfatizam que "medir os impactos do turismo sobre a biodiversidade é uma tarefa

extremamente complexa e cara e os chamados estudos sobre a relação dose-efeito apresentam

diversas fragilidades". Na literatura especializada sobre biodiversidade e turismo, um modelo

muito citado como bem sucedido foi desenvolvido na Costa Rica, localizada na América

Central. Neste país, existe um plano denominado “Sistema Integral de Avaliação de Impactos

na Biodiversidade das Atividades de Turismo” conhecido pela sigla em inglês IBIS-TA. Em

termos gerais, trata-se de um sistema para investigar os impactos positivos e negativos

ocasionados pelas atividades de turismo na biodiversidade, em que são avaliadas

conjuntamente as diferentes formas de impacto (RAINFOREST & CREM, 2006).

A Costa Rica é líder mundial em conservação da natureza (MILLER, 2007).

Estima-se que possui cerca de 500 mil espécies de fauna e flora. Somente uma unidade de

conservação da Costa Rica possui mais espécies de pássaros do que há em toda América do

Norte (Idem).

O país possui um sistema de reservas e parques nacionais que, por volta de

2004, totalizava cerca de um quarto de seu território. Ao todo, os parques e reservas estão

consolidados em oito megarreservas, que sustentam aproximadamente 80% da biodiversidade

da Costa Rica. Cada reserva contém um núcleo protegido, circundado por duas zonas de

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amortecimento. O resultado turístico e econômico é um sucesso: a maior fonte de renda do

país são os negócios turísticos, cuja receita supera um bilhão de dólares americanos anuais,

sendo dois terços oriundos do ecoturismo (Ibidem).

O Brasil, por sua vez, sempre foi conhecido pela grandiosidade de sua flora e

riqueza de sua fauna. Esta grandiosidade pode ser compreendida pela expressiva diversidade.

Abriga entre 10 a 20% do número de espécies conhecidas pela ciência, e cerca de 30% das

florestas tropicais no mundo (MMA, 1998). Possui o maior número de espécies conhecidas de

mamíferos, peixes de água doce e plantas superiores; o segundo em riqueza de anfíbios, o

terceiro em aves e o quinto em répteis. Por ser um dos países mais ricos em biodiversidade do

planeta (MMA, 1998), pode e deve utilizar todo seu potencial para o desenvolvimento do

turismo.

O objetivo geral deste trabalho foi estudar a relação existente entre a

biodiversidade, o turismo e a sustentabilidade em uma unidade de conservação da natureza.

Para isso, foi realizada uma pesquisa de campo feita com turistas do Parque Nacional do

Itatiaia visando identificar suas opiniões sobre os vários aspectos que envolvem a questão da

biodiversidade e a sustentabilidade no ambiente natural das unidades de conservação (UC’s).

Analisou-se a biodiversidade no Brasil e como o turismo pode utilizar a

biodiversidade para promover o desenvolvimento das localidades e contribuir com a sua

conservação de maneira sustentada.

Essa análise acontece em uma das principais unidades de conservação do país:

o Parque Nacional do Itatiaia. Avalia a questão da biodiversidade no Brasil e seu

relacionamento com o desenvolvimento do turismo em unidades de conservação do país.

O trabalho também descreve as políticas de conservação da biodiversidade em

áreas de interesses turísticos, estímulos para atividades turísticas em espaços protegidos e

impactos decorrentes do turismo sobre a biodiversidade. Apresenta resultados provenientes de

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pesquisa documental sobre a situação da biodiversidade e sobre a importância dos estudos

ambientais e turísticos já realizados para elaboração do planejamento turístico e que possam

contribuir para a conservação de espécies da fauna e flora brasileira. Discorre sobre algumas

políticas e práticas que contribuem para minimizar os impactos do turismo sobre a

biodiversidade e destaca os principais interessados na conservação da biodiversidade em

outros países. Analisa estratégias e programas oficiais de proteção da biodiversidade

realizados por países e organizações e destaca como o turismo pode contribuir e beneficiar-se

desses programas.

O estudo apresenta também modelos de gestão de unidades de conservação de

outros países e interpreta os resultados da pesquisa realizada no Parque Nacional do Itatiaia.

Compara os resultados com estudos semelhantes desenvolvidos em outras unidades de

conservação pelo mundo e aponta alternativas e propostas para otimizar a utilização turística

dessas áreas, sabidamente sensíveis à presença e ocupação humanas. Fez-se uma análise da

biodiversidade no Brasil e de como o turismo pode utilizar a biodiversidade para promover o

desenvolvimento das localidades e ao mesmo tempo contribuir para sua conservação

(HÜBNER et al., 2007). Em seguida, produziu-se uma pesquisa de campo feita com turistas

do Parque Nacional do Itatiaia visando identificar a sua opinião sobre os vários aspectos que

envolvem a sustentabilidade no ambiente natural das unidades de conservação (UC’s).

Por tudo isso, o estudo proporciona a inserção do turismo nessa prática social e

coletiva: a preservação do meio ambiente. Analisa como ocorre a interação do turismo com o

meio natural e como o comportamento da sociedade interfere na ação turística, por meio do

seu fluxo, impactos e contribuições para uma maior sensibilização e conscientização de

turistas, moradores e empreendedores sobre a importância da preservação. O estudo poderá

contribuir para sistematizar cientificamente ações da atividade turística e tornar-se

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instrumento de educação ambiental, formando cidadãos mais conscientes e responsáveis pelo

patrimônio biótico e ambiental.

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2 – Objetivos

O objetivo geral deste trabalho foi estudar a relação existente entre a

biodiversidade e o turismo em uma unidade de conservação da natureza, tendo como objeto

de estudo o Parque Nacional do Itatiaia.

Os objetivos específicos foram:

• Identificar como a biodiversidade constitui-se como motivação da

visita ao Parque Nacional do Itatiaia;

• Analisar como se desenvolve o turismo nesta unidade de conservação a

partir da percepção do turista sobre a biodiversidade e a sustentabilidade

ambiental;

• Estudar a sustentabilidade e a atividade turística no ambiente natural da

Unidade de conservação.

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3 – A importância da biodiversidade e sua relação com o turismo

A biodiversidade representa, devido aos seus múltiplos aspectos científicos e

curiosos, um extenso campo de utilização turística. Locais preparados para receber visitação

turística com o objetivo de apreciar a biodiversidade ocorrem em espaços públicos e privados,

como parques, reservas, florestas, estações ecológicas, etc. A presença humana nestes espaços

deve ser contínuo objeto de estudo e pesquisa, devido à necessidade de manejo destes

ambientes, muitos deles sensíveis e com espécies endêmicas ou ameaçadas de extinção.

O turismo, em alguns casos, é uma atividade que coloca em risco a

sobrevivência de espécies da flora e da fauna. Dessa forma, nota-se a obrigação de planejar e

organizar a atividade turística e suas implicações, positivas e negativas, nos espaços

protegidos, nas unidades de conservação da natureza e áreas naturais diversas.

3.1 – Biodiversidade no Brasil e no mundo

A importância do Brasil na biodiversidade pode ser notada devido às cerca de

200.000 espécies que já foram descritas no país. Estima-se, entretanto, que a biodiversidade

brasileira seja composta por um número 6 a 10 vezes maior (THIELEN, 2001). Com a

participação do Brasil, a América Latina é a maior contribuinte para a biodiversidade

mundial, tanto em cultivos alimentares como em cultivos industriais. Os países sul-

americanos ordenam-se primeiro em angiospermas (Brasil), mamíferos (Brasil), anfíbios

(Colômbia), aves (Colômbia), peixes dulcícolas (Brasil) e borboletas (Peru). O QUADRO 1

mostra os países com maiores biodiversidades no mundo. Brasil, Colômbia, Equador, Peru e

Venezuela possuem mega-diversidade biológica. A América Latina é a região com maior

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número de espécies endêmicas. O endemismo – que torna as espécies mais vulneráveis à

extinção – é uma grande responsabilidade desses países (THIELEN, 2001).

Se não houver critérios científicos e eficazes para intervenção no meio natural,

muito desta biodiversidade pode ser comprometida, como já é o caso do grande número de

espécies ameaçadas de extinção no país. Assim, ocorre o comprometimento também dos

vários segmentos do turismo que têm a biodiversidade como fator de sustentação.

QUADRO 1 – Países com maiores biodiversidades

Classi-ficação

Plantas superiors *

Mamíferos Aves Répteis Anfíbios Peixes de água doce

Borboletas

1 Brasil Brasil Colômbia Austrália Colômbia Brasil Peru

53.000 524 1.815 755 583 >3.000 3.532

2 Colômbia Indonésia Peru México Brasil Colômbia Brasil

47.000 515 1.703 717 517 >1.500 3.132

3 Indonésia China Brasil Colômbia Equador Indonésia Colômbia

37.000 499 1.622 520 402 1.400 3.100

4 China Colômbia Equador Indonésia México Venezuela Bolívia

28.000 456 1.559 511 284 1.250 3.000

5 México México Indonésia Brasil China China Venezuela

24.000 450 1.531 468 274 1.010 2.316

6 África do Sul EUA Venezuela Índia Indonésia R.D. Congo México

23.000 428 1.360 408 270 962 2.237

7 Equador R.D. Congo

Índia China Peru Peru Equador

19.000 415 1.258 387 241 855 2.200

8 Peru Índia Bolívia Equador Índia Tanzânia Indonésia

19.000 350 1.257 374 206 800 1.900

9 P.N. Guiné Peru China P.N. Guiné Venezuela EUA R.D. Congo

18.000 344 1.244 305 204 790 1.650

10 Venezuela Uganda R.D. Congo

Madagascar P.N. Guiné Índia Camarões

18.000 315 1.094 300 200 750 1.550

* Angiospermas, Gimnospermas e Pteridófitas

Fonte: Mittermeier et al., 1997.

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3.1.1 – Legislação brasileira sobre meio ambiente e conservação da biodiversidade

A Constituição da República Federativa do Brasil refere-se ao meio ambiente

em diversos momentos. A primeira referência está no art. 23: “É competência da União, dos

Estados, do Distrito Federal e dos municípios: (...) III: proteger os documentos, as obras e

outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais

notáveis e os sítios arqueológicos”. Continua no Inciso VI: “proteger o meio ambiente e

combater a poluição em qualquer de suas formas”; e VII: “preservar as florestas, a fauna e a

flora”.

No artigo 24, “Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar

concorrentemente sobre: [...] VI – florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza,

defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição”;

VII – “proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico”, e VII –

“responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor

artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico”.

A alusão ao meio ambiente volta a aparecer no artigo 170: “A ordem

econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim

assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os

seguintes princípios: [...] VI – defesa do meio ambiente”.

Outra menção do texto constitucional ao meio ambiente aparece no artigo 216:

“Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados

individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos

diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: (...) V – os

conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,

paleontológico, ecológico e científico”.

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Certamente, o mais expressivo é o artigo 225: “Todos têm direito ao meio

ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia

qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e

preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. O artigo 225 prossegue, listando as

incumbências do poder público para assegurar a efetividade desse direito.

Alguns autores – Thielen (2001), Rocha (2002), Costa (2002), Pires (2005) –

afirmam ser o Brasil destaque entre os países detentores das melhores legislações sobre meio

ambiente do mundo. Mas ainda há muito por se fazer. É preciso fazer cumprir a legislação e

ser bastante eficiente em sua formulação.

No âmbito internacional, em 1992, 175 países reuniram-se no Rio de Janeiro

para ratificar o Fórum Nacional de Biodiversidade, ocorrido em Washington em 1988,

incluindo a Convenção de Diversidade Biológica.

A Convenção de Diversidade Biológica nasceu da necessidade de analisar a

deterioração da natureza, mais especificamente a extinção e o declínio de espécies. Assim, os

estados iniciaram as ações para promover a conservação da biodiversidade.

Na convenção, biodiversidade é conceituada como

a variabilidade entre organismos vivos de todos os tipos inclui, inter alia, ecossistemas aquáticos, terrestres, marinhos e outros e os complexos ecológicos de transição que os separam; isto inclui diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas.

Em 2000, o Brasil instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação

da Natureza, o SNUC – LEI 9.985, de 18 de julho de 2000. O SNUC regulamenta as unidades

de conservação e cria duas categorias: as unidades de proteção integral e as unidades de uso

sustentável1.

1 A LEI 9.985, de 18 de julho de 2000, apresenta todas as características, categorias e classificações das unidades de conservação do Brasil.

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As unidades de conservação da natureza de proteção integral possuem grandes

restrições de uso, tendo como objetivo básico a preservação ambiental. Os recursos naturais

são usados apenas indiretamente, sem causar alterações significativas em seus componentes

naturais, como as pesquisas científicas e a visitação pública educativa, controlada com rigor.

As categorias de manejo que compõem o grupo das unidades de conservação de proteção

integral são:

• Estação ecológica;

• Reserva biológica;

• Parque Nacional;

• Monumento Natural;

• Refugio de vida silvestre.

As unidades de conservação de uso sustentável possuem restrições mais

flexíveis de utilização, aliando a conservação ambiental com o uso sustentável de parte de

seus recursos naturais. As unidades de uso sustentável são:

• Área de proteção ambiental;

• Área de relevante interesse ecológico;

• Floresta nacional;

• Reserva extrativista;

• Reserva de fauna;

• Reserva de desenvolvimento sustentável;

• Reserva particular do patrimônio natural.

Não se pode pensar na relação única e exclusiva da biodiversidade enquanto

recurso natural sem relacionar o seu uso, desde que de maneira sustentada, ao

desenvolvimento social e econômico. A preservação e conservação da biodiversidade

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constitui-se como um grande valor econômico e social e seu uso, de forma sustentada, deve

atender aos interesses políticos coletivos.

A World Conservation Union (WCD, 1987) reconhece a necessidade de

conservar-se a biodiversidade em três níveis: 1 - a diversidade genética; 2 - a diversidade de

espécies; 3 - a diversidade de ecossistemas. A diversidade genética é essencial para a

existência das espécies, pois permite as adaptações às mudanças ambientais. Por sua vez, a

diversidade das espécies é estratégica para a humanidade, seja na medicina ou na produção de

alimentos. A manutenção de diversidade genética é fundamental para a conservação de

comunidades ecológicas em longo prazo. Os mais diversos processos ecológicos, desde a

extinção de uma espécie até a existência de grupos taxonômicos altamente diversificados,

dependem intimamente da diversificação genética dentro e entre espécies, sendo o

sustentáculo da diversidade biológica nos diferentes ecossistemas. A diversidade de

ecossistemas garante a sobrevivência de espécies endêmicas e a manutenção da diversidade

genética e da diversidade de espécies.

Para a proteção da biodiversidade nos três níveis citados acima, algumas

estratégias foram adotadas pelo Brasil. Entre elas são apresentados os avanços na legislação,

no planejamento e nos programas de manejo de espécies e recomposição da vegetação nativa

(GEO BRASIL, 2002). Há também a ratificação da Convenção sobre Diversidade Biológica

(1992), onde a assinatura do Brasil reassume e reforça o compromisso constitucional de

proteger a biodiversidade e o patrimônio genético do país, dando um novo impulso na história

das unidades de conservação do país (BIODIVERSITAS, 2005).

A elaboração e posterior efetivação de uma lista contendo as espécies

consideradas sob ameaça de extinção (lista vermelha), realizada por meio do estabelecimento

de critérios científicos e consulta a especialistas, constitui-se uma ferramenta legal básica para

a preservação dessas espécies (BIODIVERSITAS, 2005).

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O principal papel das listas vermelhas é informar e alertar os tomadores de

decisão, profissionais da área de meio ambiente, conservacionistas e a opinião pública em

geral sobre a crescente dilapidação do patrimônio genético que se observa hoje em todo o

planeta. Se bem entendidas, as listas podem e devem influenciar o desenho das políticas

públicas e privadas de ocupação e uso do solo, a definição e priorização de estratégias de

conservação, o estabelecimento de medidas que visem reverter o quadro de ameaça às

espécies, além de direcionar a criação de programas de pesquisa e formação de profissionais

especializados.

As listas vermelhas são um mecanismo utilizado internacionalmente, por

exemplo, como maneira de conter o tráfico e o comércio ilegal de espécies, conforme disposto

nos anexos da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora e Fauna

Selvagens em Perigo de Extinção (CITES), da qual o Brasil é signatário desde 1975.

Para classificar as espécies foram propostas categorias de ameaças baseadas

em critérios adotados pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN),

referência mundial na elaboração das Listas Vermelhas. Os critérios da IUCN buscam

evidências relacionadas ao tamanho, isolamento ou declínio populacional das espécies e

extensão de suas áreas de distribuição. A partir desses dados, as espécies são agrupadas

conforme as categorias: extinta, extinta na natureza, criticamente em perigo, em perigo,

vulnerável, quase ameaçada e deficiente em dados.

As informações contidas nestes documentos fornecem subsídios para a

formulação de políticas de fiscalização, criação de unidades de conservação e definição sobre

a aplicação de recursos técnicos, científicos, humanos e financeiros em estratégias de

recuperação da fauna e flora ameaçadas.

A Fundação Biodiversitas, o Ministério do Meio Ambiente, o Instituto

Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis – Ibama, a Sociedade Brasileira de

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Botânica, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, a Rede Brasileira de Jardins Botânicos e a a

Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte são os organismos responsáveis pela elaboração das

listas vermelhas no Brasil. Nesse processo, a coordenação dos trabalhos conta com o apoio da

comunidade científica brasileira: especialistas, pesquisadores e interessados que contribuem

com seus conhecimentos nessa avaliação. A lista oficial traz um anexo: as espécies antes

classificadas como vulneráveis passam a ameaçadas de sobreexplotação, ou seja, a espécies

com captura tão elevada que supera os níveis de segurança para a sua continuidade.

São duas as listas vermelhas: uma sobre as espécies ameaçadas da fauna

brasileira, e outra dobre a flora brasileira.

3.1.2 – Fauna e flora brasileiras e espécies ameaçadas de extinção

A Fundação Biodiversitas, em parceria com a Conservação Internacional do

Brasil, publicou o livro da Lista da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. A publicação

contém a Lista Oficial homologada pelas Instruções Normativas 03/2003 e 05/2004 do

Ministério do Meio Ambiente (BIODIVERSITAS, 2006).

A Lista Brasileira da Fauna Ameaçada possui 395 espécies terrestres e 239

espécies aquáticas (79 espécies de invertebrados aquáticos e 160 peixes), elaborada através do

conhecimento científico de especialistas, subsídio básico para a definição das políticas de

conservação do nosso país, em dados divulgados pela Fundação Biodiversitas. Encontram-se

aí o Guaiamum, o Caranguejo-uça, além de seis peixes, entre eles o tubarão-azul. A inclusão

desses animais na nova categoria foi aprovada pelos pesquisadores que coordenam a

elaboração da lista. A instrução normativa que norteia as ações define também o

desenvolvimento de planos de manejo que assegurem níveis populacionais viáveis às espécies

sobreexplotadas (BIODIVERSITAS, 2006).

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Para se ter uma idéia da atual situação da fauna brasileira, do total de 633

táxons apontados na Lista, 624 estão classificados em uma das três categorias de ameaça

(criticamente em perigo, em perigo e vulnerável) adotadas para a avaliação e 09 em uma das

duas categorias de extinção. Os vertebrados somam 67% do total de espécies indicadas sendo

que, entre estes, estão cerca de 13% das espécies brasileiras de mamíferos. O bioma Mata

Atlântica, que é predominante no Parque Nacional do Itatiaia, é o que apresenta maior número

de espécies ameaçadas ou extintas, com 383 táxons, seguido pelo Cerrado (112), Zona

Costeira (92), Campos Sulinos – Pampas (60), Amazônia (58), Caatinga (43) e Pantanal (30).

Isso significa que, em conjunto, Mata Atlântica e Cerrado respondem por mais de 78% das

espécies da lista, ou seja, 495 táxons.

A adoção de estratégias para reverter o processo de espécies ameaçadas

constitui-se num grande desafio para os governantes atuais.

A TABELA 1 apresenta a expressiva biodiversidade brasileira, relacionando os

números do Brasil ao número de espécies conhecidas no mundo.

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TABELA 1 – Número de espécies conhecidas (descritas) no Brasil e no mundo

REINO / Filo ou Subdivisão Brasil Mundo VÍRUS 250 – 400 3.600 MONERA – bactérias e algas verde-azuladas 1.100 - 1.350 4.760 FUNGOS 12.500 - 13.500 70.500 – 72.000 PROTISTAS 7.000 - 9.900 75.300 Protozoários 2.600 - 3.900 36.000 Algas 4.100 - 5.700 37.700 PLANTAS 45.300 - 49.500 264.000 – 279.400 Musgos (Briófitas) 3.1 14.000 – 16.600 Samambaias (Pteridófitas) 1.200 - 1.400 9.600 – 12.000 Coníferas – pinheiros (Gimnospermas) 15 806 Plantas de flor com ovário (Angiospermas) 40.000 - 45.000 240.000 – 250.000 ANIMAIS 113.000 - 151.000 1.287.000 - 1.330.000 Invertebrados 107.000 - 145.000 1.236.000 - 1.287.000 Esponjas (Poríferos) 300 - 400 6.000 – 7.000 Corais e águas-vivas (Cnidários) 470 11.000 Vermes achatados (Platelmintos) 900 - 1300 12.200 Vermes redondos (Nematódeos) 1.000 - 2.200 15.000 – 25.000 Minhocas e poliquetas (Anelídeos) 1.000 - 1.100 70.000 – 100.000 Moluscos 2.6 7.000 Estrelas-do-mar, ouriços (Equinodermas) 329 "Artrópodes" Insetos 91.000 - 126.000 950.000 Centopéias e gongolos (Miriápodes) 400 - 500 11.000 – 15.100 Aranhas e ácaros (Aracnídeos) 5.600 - 6.500 92.500 Crustáceos 2.04 36.200 – 39.300 Cordados (Vertebrados e outros) 6.2 41.400 – 42.200 Tubarões e raias (Condrictes) 150 960 Peixes (com ossos – Osteíctes) 2.66 13.070 Anfíbios 600 4.220 Répteis 468 6.460 Aves 1.677 9.700 Mamíferos 524 4.650 TOTAL 179.000 - 226.000 1.706.000 - 1.766.000

Fonte: GEO BRASIL, 2002 (modificado de Lewinsohn & Prado, 2000).

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3.2 – Biomas brasileiros

Bioma é conceituado como um conjunto de vida (vegetal e animal) constituído

pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, com

condições geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças, o que resulta em

uma diversidade biológica própria (MMA, 2007). Em outras palavras, um bioma é formado

por todos os seres vivos de uma determinada região, cuja vegetação tem bastante similaridade

e continuidade, com um clima mais ou menos uniforme, tendo uma história comum em sua

formação. Por isso tudo, sua diversidade biológica também é muito parecida.

O Brasil possui sete biomas diferentes, com características e biodiversidade

distintas: Amazônia, Cerrado, Caatinga, Pantanal, Pampas – também chamado de Campos

Sulinos – Zona Costeira e a Mata Atlântica. Há também as áreas de transição entre os biomas.

A Mata Atlântica abriga 27% das espécies de plantas conhecidas no planeta. O

cerrado é a savana mais rica entre todas as existentes e cerca de 40% de suas plantas são

endêmicas. Na Caatinga este número chega a 30% das espécies arbóreas e arbustivas

descritas. O Pantanal é a maior planície inundável do planeta e a Floresta Amazônica é a

maior floresta tropical remanescente em todo o globo, detentora de 10% da água doce

disponível no mundo. A proteção e o uso sustentável dos recursos naturais oferecidos por

esses ecossistemas vai garantir a qualidade de vida futura, cabendo à sociedade atual a

consciência da necessidade de uma ação efetiva tanto individualmente como por meio de

políticas públicas que garantam a preservação, tanto das espécies como dos ecossistemas

(MMA, 1998).

A FIGURA 1 mostra os biomas do Brasil e suas áreas de transição, onde são

encontradas espécies de fauna e flora comuns aos biomas originários, desde a época do

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descobrimento do país. Os biomas continentais brasileiros têm as áreas mostradas na

TABELA 2:

FIGURA 1 – Biomas brasileiros

Fonte: WWF, 2007.

TABELA 2 – Áreas dos biomas continentais

BIOMAS ÁREA (Km2) % TERRITORIAL Amazônia 4.196.943 49,29% Cerrado 2.036.448 23,92%

Mata Atlântica 1.110.182 13,04% Caatinga 844.453 9,92% Pampa 176.496 2,07%

Pantanal 150.355 1,76% Total 8.514.877 100%

Fonte: adaptado de IBGE(2000).

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3.2.1 – Amazônia

A floresta amazônica abriga 2.500 espécies de árvores (um terço da madeira

tropical do planeta) e 30 mil das 100 mil espécies de plantas que existem em toda a América

Latina. Dessa forma, o uso dos recursos florestais pode ser estratégico para o

desenvolvimento da região. As estimativas de estoque indicam um valor não inferior a 60

bilhões de metros cúbicos de madeira em tora de valor comercial, o que coloca a região como

detentora da maior reserva de madeira tropical do mundo. A Amazônia é, também, a principal

fonte de madeira de florestas nativas do Brasil. O setor florestal contribuiu com 15% a 20%

do Produto Interno Bruto (PIB) dos estados do Pará, Mato Grosso e Rondônia (GEO

BRASIL, 2002).

Aproximadamente 15% da floresta amazônica original já foi destruída e o

governo federal estima que esse percentual chegue a 25% até 2020. Para inibir o

desmatamento e ampliar os programas de conservação, são utilizadas políticas de estado que

já estão em vigor no país, como a criação de parques e florestas nacionais, os planos de

manejo e o controle do desmatamento via satélite. Um exemplo disso é o Parque Nacional do

Jaú, criado em 1986, o terceiro maior parque de floresta tropical do mundo, com área total

superior à do estado de Sergipe, 22.720 km2 (THIELEN, 2001).

A regeneração da floresta é mais rápida nas áreas manejadas; há evidências de

que o manejo reduz pela metade o tempo necessário para uma segunda extração em florestas

já exploradas. Sendo assim, o manejo florestal é incentivado, especialmente em unidades de

conservação da natureza.

Em comparação com os demais biomas brasileiros, a Amazônia é o que detém

o maior número de áreas de proteção integral (26) e também o maior percentual de florestas

oficialmente protegidas (3,2% da área total do bioma). No entanto, apenas 0,38% da área dos

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parques e reservas hoje existentes na Amazônia está minimamente protegida de fato, pois os

restantes ainda não foram implementados ou encontram-se muito próximos a cidades (Funbio,

2004).

3.2.2 – Cerrado

A principal característica do Cerrado são as estações climáticas divididas em

duas estações muito bem diferenciadas: a estação da seca e a estação das chuvas. Essa

característica, que ocorre há milhões de anos, consolidou as formas de vida e a geologia do

local.

O Cerrado é uma savana tropical. A vegetação herbácea coexiste com mais de

420 espécies de árvores e arbustos esparsos. O solo, antigo e profundo, ácido e de baixa

fertilidade, tem altos níveis de ferro e alumínio (MMA, 2007).

Esse bioma também se caracteriza por suas diferentes paisagens, que vão desde

o cerradão (com árvores altas, densidade maior e composição distinta), passando pelo cerrado

mais comum no Brasil central (com árvores baixas e esparsas), até o campo cerrado, campo

sujo e campo limpo (com progressiva redução da densidade arbórea). Ao longo dos rios há

fisionomias florestais, conhecidas como florestas de galeria ou matas ciliares. Essa

heterogeneidade abrange muitas comunidades de mamíferos e de invertebrados, além de uma

importante diversidade de microorganismos, tais como fungos associados às plantas da região

(MMA, 2007).

O Cerrado tem a seu favor o fato de ser cortado por três das maiores bacias

hidrográficas da América do Sul (Tocantins, São Francisco e Prata), favorecendo a

manutenção de uma biodiversidade surpreendente. Estima-se que a flora da região possua 10

mil espécies de plantas diferentes (muitas usadas na produção de cortiça, fibras, óleos,

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artesanato, além do uso medicinal e alimentício). 759 espécies de aves se reproduzem na

região, 180 espécies de répteis, 195 de mamíferos, sendo 30 tipos de morcegos catalogados na

área. O número de insetos é surpreendente: apenas na área do Distrito Federal há 90 espécies

de cupins, mil espécies de borboletas e 500 tipos diferentes de abelhas e vespas (GEO

BRASIL, 2002).

O Cerrado tem um clima tropical com uma estação seca pronunciada. A

topografia da região varia entre plana e suavemente ondulada, favorecendo a agricultura

mecanizada e a irrigação. Estudos recentes indicam que apenas cerca de 20% do Cerrado

ainda possui a vegetação nativa em estado relativamente intacto (GEO BRASIL, 2002).

Depois da Mata Atlântica, o Cerrado é o ecossistema brasileiro que mais

alterações sofreu com a ocupação humana. Um dos impactos ambientais mais graves na

região foi causado por garimpos, que contaminaram os rios com mercúrio e provocaram o

assoreamento dos cursos de água (bloqueio por terra). A erosão causada pela atividade

mineradora tem sido tão intensa que, em alguns casos, chegou até mesmo a impossibilitar a

própria extração do ouro rio abaixo. Nos últimos anos, contudo, a expansão da agricultura e

da pecuária representa o maior fator de risco para o Cerrado.

3.2.3 – Caatinga

No idioma tupi, Caatinga quer dizer Mata Branca, referência à vegetação sem

folhas que predomina durante a época de seca. A perda das folhas da vegetação da Caatinga é

estratégica. Sem folhas, as plantas reduzem a superfície de evaporação quando falta água.

Estudos recentes mostram que cerca de 327 espécies animais são endêmicas

(exclusivas) da Caatinga. São típicas da área 13 espécies de mamíferos, 23 de lagartos, 20 de

peixes e 15 de aves. Entre as plantas há 323 espécies endêmicas (BIODIVERSITAS, 2006).

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É da Caatinga a ave com maior risco de extinção no Brasil, a ararinha-azul

(Anodorhynchus spix), da qual só se encontrou um único macho na natureza. Também vive ali

a segunda mais ameaçada do país, a arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari). Habitam os

arredores de Canudos (BA), e há menos de 150 exemplares, um décimo da população ideal no

caso de aves, que demoram a se reproduzir (Idem).

Cerca de metade da paisagem da Caatinga já foi deteriorada pela ação do

homem. De 15% a 20% do bioma estão em alto grau de degradação e risco de desertificação

(GEO BRASIL, 2002).

Uma área de Caatinga mais conservada pode abrigar cerca de 200 espécies de

formigas, enquanto nas mais degradadas há de 30 a 40. Na estação seca a temperatura do solo

pode chegar a 60ºC. Comparada a outras regiões brasileiras, a Caatinga apresenta muitas

características meteorológicas extremas: a mais alta radiação solar, baixa nebulosidade, alta

temperatura média anual, baixas taxas de umidade relativa, e, sobretudo, precipitações baixas

e irregulares, limitadas, na maior parte da área, a um período muito curto no ano. Fenômenos

catastróficos são muito freqüentes, tais como secas e cheias, que, sem dúvida alguma, têm

modelado a vida animal e vegetal particular da Caatinga. (GEO BRASIL, 2002).

Assim, as espécies que habitam o bioma tiveram que encontrar maneiras de se

adaptar ao ambiente semi-árido. As mais típicas dentre as 932 espécies de plantas existentes

na Caatinga são prova dessa adaptação. A suculência é uma das principais características

fisiológicas observadas nas plantas da Caatinga, o que lhes permite suportar o período das

secas. Órgãos de armazenamento de água são típicos em alguns casos como o do umbuzeiro

(Spondias tuberos), das barrigudas (Cavanillesia arborea), das maniçobas (Manihot spp.), do

pau-mocó (Luetzelburgia auriculata), do xique-xique (Pilosocereus gounellei), do mandacarú

(Cereus jamacaru), dentre outras. (BIODIVERSITAS, 2006).

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Estima-se que a vegetação da Caatinga não tenha se alterado por um período

muito longo, como indicam as evidências geológicas. Dessa forma, um acentuado grau de

endemismo, ou seja, de espécies que só existem lá e em nenhum outro lugar, pode ser

observado na flora e em alguns grupos da fauna, como as aves. Em levantamento recente, da

Conservação Internacional do Brasil, CI-Brasil, existem 516 espécies de aves na Caatinga, das

quais 469 se reproduzem na região. Entre estas, 284 (60,5%) dependem de florestas para

sobreviver. De forma mais específica, a conservação da Caatinga é importante para a

manutenção dos padrões regionais e globais do clima, da disponibilidade de água potável, de

solos agricultáveis e de parte importante da biodiversidade do planeta (CONSERVAÇÃO

INTERNACIONAL, 2003).

3.2.4 – Pantanal

O bioma do Pantanal foi reconhecido em 2000 como Reserva da Biosfera.

Essas reservas, declaradas pela Unesco, são instrumentos de gestão e manejo sustentável

integrados que permanecem sob a jurisdição dos países nos quais estão localizadas. O

equilíbrio desse bioma depende, basicamente, do fluxo de entrada e saída de enchentes que,

por sua vez, está diretamente ligado à pluviosidade regional. (MMA, 2007).

Apresenta grande diversidade de espécies de plantas superiores, como árvores

e arbustos (1.647 espécies) e alta diversidade de fauna: 263 espécies de peixes, 122 espécies

de mamíferos, 93 espécies de répteis, 1.132 espécies de borboletas e 656 espécies de aves

(BIODIVERSITAS, 2006). Existem mais espécies de aves no Pantanal (656 espécies) do que

na América do Norte (cerca de 500) e mais espécies de peixes de água doce do que na Europa

(263 no Pantanal contra aproximadamente 200 em rios europeus).

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As cheias anuais dos rios da região atingem cerca de 80% do Pantanal e

transformam a região em um impressionante lençol d'água, afastando parte da população rural

que migra temporariamente para as cidades ou vilas. O reduzido desnível da região produz a

inundação periódica do Pantanal. Além disso, o relevo faz com que o Rio Paraguai ande bem

devagar. (GEO BRASIL, 2002).

A cada 24 horas, cerca de 178 bilhões de litros de água entram na planície

pantaneira. Todos os anos os rios carregam para o Pantanal cerca de 50 milhões de toneladas

de terra e areia. Somente um terço dos sedimentos deixa a região, fazendo com que o acúmulo

de resíduos altere o leito dos rios e aumente a área alagada. (GEO BRASIL, 2002).

As chuvas fortes são comuns nesse bioma. Os terrenos, quase sempre planos,

são alagados periodicamente por inúmeros corixos e vazantes entremeados de lagoas e leques

aluviais. Na época das cheias estes corpos comunicam-se e mesclam-se com as águas do Rio

Paraguai, renovando e fertilizando a região.

De forma geral, as chuvas ocorrem com maior freqüência nas cabeceiras dos

rios que deságuam na planície. Com o início do trimestre chuvoso nas regiões altas, a partir de

novembro, sobe o nível de água dos rios, provocando as enchentes. Em maio inicia-se a

"vazante" e as águas começam a baixar lentamente. Quando o terreno volta a secar,

permanece sobre a superfície uma fina mistura de areia, restos de animais e vegetais,

sementes e húmus, propiciando grande fertilidade ao solo.

A natureza repete anualmente o ciclo das cheias, proporcionando ao Pantanal a

renovação da fauna e flora local. Esse enorme volume de água, que praticamente cobre a

região pantaneira, forma um verdadeiro mar de água doce onde milhares de peixes proliferam.

Peixes pequenos servem de alimento a espécies maiores ou a aves e animais.

Quando o período da vazante começa, uma grande quantidade de peixes fica

retida em lagoas ou baías, não conseguindo retornar aos rios. Durante meses, aves e animais

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carnívoros (jacarés, ariranhas e outros) têm à sua disposição alimentação garantida. Aves

grandes e pequenas são vistas planando sobre as águas, formando um espetáculo de grande

beleza, o que favorece o fluxo turístico (GEO-BRASIL, 2002). A pesca representa

aproximadamente 65% do fluxo turístico do Pantanal, que recebe cerca de 700 mil

turistas/ano (MMA, 2007).

3.2.5 – Pampas ou campos sulinos

O Pampa gaúcho é bastante diferente dos demais biomas brasileiros.

Dominado por gramíneas, com poucas árvores, sempre foi considerado mais apropriado para

a criação do gado. Foi a porta de entrada para o gado através da região sul. A outra foi pelo

vale do São Francisco, através dos currais de gado. Em 2004 foi reconhecido pelo Ministério

do Meio Ambiente como um bioma. Na verdade, sua biodiversidade havia sido ignorada por

quase trezentos anos (MMA, 2007).

O único estado brasileiro com esse bioma é o Rio Grande do Sul. Ocupa 63%

do território do estado. Ele também se estende pelo Uruguai e Argentina. Agora o Pampa

sofre uma ameaça muito mais grave: a introdução do monocultivo, do pinus e do eucalipto.

A região coberta pelos campos sulinos apresenta clima subtropical, com

temperaturas amenas e chuvas regulares, sem grande alteração durante o ano. A vegetação

herbácea dos campos varia entre 10 e 50 cm de altura. A mata das araucárias ou pinheiros-do-

paraná, de porte alto e copa em forma de prato, estendia-se do sul de Minas Gerais e São

Paulo até o Rio Grande do Sul, formando cerca de 100.000 km2 de matas de pinhais.

Devido à riqueza do solo, as áreas cultivadas do Sul se expandiram

rapidamente sem um sistema adequado de preparo, resultando em erosão e outros problemas

que se agravam progressivamente. Atualmente os campos, que já representaram 2,4% da

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cobertura vegetal do país, são amplamente utilizados para a produção de arroz, milho, trigo e

soja, às vezes em associação com a criação de gado. A desatenção com o solo, entretanto, leva

à desertificação, registrada em diferentes áreas do Rio Grande do Sul (GEO BRASIL, 2002).

3.2.6 - Zona costeira

Grande parte da zona costeira brasileira está ameaçada pela superpopulação e

por atividades agrícolas e industriais. É aí, seguindo essa imensa faixa litorânea, que vive

mais da metade da população humana brasileira, com impacto significativo no bioma. A

densidade demográfica média da Zona Costeira é de 87 hab/km², cinco vezes superior à média

nacional, de 17 hab/km². (MMA, 2007).

A Zona Costeira brasileira é extensa e variada, uma das maiores do mundo. Ao

longo dessa faixa litorânea é possível identificar uma grande diversidade de paisagens como

dunas, ilhas, recifes, costões rochosos, baías, estuários, brejos e falésias. Dependendo da

região, o aspecto é totalmente diferente do encontrado a poucos quilômetros de distância.

Mesmo os ecossistemas que se repetem ao longo do litoral - como praias, restingas, lagunas e

manguezais - apresentam diferentes espécies animais e vegetais. Isso se deve, basicamente, às

diferenças climáticas e geológicas. (GEO BRASIL, 2002).

O Brasil possui 7.367 km de linha costeira, sem levar em conta os recortes

litorâneos (baías, reentrâncias, golfões etc.), que ampliam significativamente essa extensão,

elevando-a para mais de 8,5 mil km. (MMA, 2007).

O litoral está quase todo voltado para o Atlântico Sul. Porém, uma pequena

parcela (no extremo norte do país) debruça-se sobre o Mar do Caribe. O Amapá conta com

uma das maiores áreas costeiras do país (12,3% do total) e o Piauí detém a menor área (0,2%

do total). (MMA, 2007).

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O fato de a grande maioria dos principais rios nacionais convergir para a Zona

Costeira, alguns carregados de resíduos de agrotóxicos e adubos e efluentes das indústrias, faz

dela uma região muito vulnerável aos impactos ambientais.

É composta por águas frias na costa sul e sudeste e águas quentes nas costas

leste, nordeste e norte, dando suporte a uma grande variedade de ecossistemas que incluem

recifes de corais, dunas, áreas úmidas; lagoas e estuários. As principais ameaças estão na

especulação imobiliária, sobrepesca (industrial e artesanal); na poluição dos estuários e no

turismo desordenado (I Relatório para a Convenção sobre Diversidade Biológica do Brasil -

1998) apud (GEO BRASIL, 2002).

É na zona costeira que se localizam as maiores presenças residuais de Mata

Atlântica. Ali a vegetação possui uma biodiversidade superior no que diz respeito à variedade

de espécies vegetais. Os manguezais, de expressiva ocorrência na zona costeira, cumprem

funções essenciais na reprodução biótica da vida marinha. Enfim, os espaços litorâneos

possuem riquezas significativas de recursos naturais e ambientais, mas a intensidade de um

processo de ocupação desordenado vem colocando em risco todos os ecossistemas presentes

na costa litorânea do Brasil. (MMA, 2007).

3.2.7 - Mata Atlântica

A Mata Atlântica é considerada uma das grandes prioridades para a

conservação de biodiversidade em todo o continente americano. No Brasil, perfazia uma

extensão de aproximadamente 1.306.421 km2.

A natureza exuberante marcou profundamente a imaginação dos europeus. A

exploração predatória a que fomos submetidos destruiu mais de 93% deste bioma. Uma

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extraordinária biodiversidade, em boa parte peculiar somente a essa região, está seriamente

ameaçada (THIELEN, 2001).

A Mata Atlântica abrange as bacias dos rios Paraná, Uruguai, Paraíba do Sul,

Doce, Jequitinhonha e São Francisco. Originalmente estendia-se por toda a costa nordeste,

sudeste e sul do país, com faixa de largura variável, que atravessava as regiões onde hoje

estão as fronteiras com Argentina e Paraguai. (GEO BRASIL, 2002).

Espécies imponentes de árvores são encontradas no que ainda resta deste

bioma, como o jequitibá-rosa, que pode chegar a 40 metros de altura e 4 metros de diâmetro.

Também destacam-se nesse cenário várias outras espécies: o pinheiro-do-paraná, o cedro, as

figueiras, os ipês, a braúna e o pau-brasil, entre muitas outras. Na diversidade da Mata

Atlântica são encontradas matas de altitude, como a Serra do Mar (1.100 metros) e Itatiaia

(1.600 metros), onde a neblina é constante. (GEO BRASIL, 2002).

Distribuído por mais de 17 estados brasileiros, esse bioma é composto de uma

série de fitofisionomias bastante diversificadas, determinadas pela proximidade da costa,

relevo, tipos de solo e regimes pluviométricos. Essas características foram responsáveis pela

evolução de um rico complexo biótico de natureza florestal. Apesar da devastação acentuada,

a Mata Atlântica ainda contém uma parcela significativa da diversidade biológica do Brasil,

com altos níveis de endemismo. (GEO BRASIL, 2002).

A Mata Atlântica também é abrigo para várias populações tradicionais e

garantia de abastecimento de água para mais de 120 milhões de brasileiros, equivalente a 2/3

da população do país. Seus remanescentes regulam o fluxo dos mananciais hídricos,

asseguram a fertilidade do solo, controlam o clima, protegem escarpas e encostas das serras,

além de preservar um patrimônio histórico e cultural imenso. Essa região possui, ainda,

belíssimas paisagens, verdadeiros paraísos tropicais, cuja proteção é essencial ao

desenvolvimento do ecoturismo. (FUNBIO, 2004).

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Paralelamente à riqueza vegetal, a fauna é o que mais impressiona na região. A

maior parte das espécies de animais brasileiros ameaçados de extinção são originárias da Mata

Atlântica, como os micos-leões, a lontra, a onça-pintada, o tatu-canastra e a arara-azul-

pequena. Além desta lista, também vivem na região gambás, tamanduás, preguiças, antas,

veados, cotias, quatis etc (FUNBIO, 2004).

Apesar da devastação sofrida, a riqueza das espécies animais e vegetais que

ainda se abrigam na Mata Atlântica é espantosa. Em alguns trechos remanescentes de floresta

os níveis de biodiversidade são considerados os maiores do planeta. (THIELEN, 2001).

A Mata Atlântica é uma das florestas tropicais mais ameaçadas do mundo. De

fato, é o bioma brasileiro que mais sofreu os impactos ambientais dos ciclos econômicos da

história do país. Para se ter uma idéia da situação de risco em que se encontra, basta saber que

à época do descobrimento do Brasil ela tinha uma área equivalente a um terço da Amazônia,

ou 12% do território nacional, estendendo-se do Ceará ao Rio Grande do Sul. Hoje, está

reduzida a apenas 7% de sua área original. Áreas específicas, como as florestas de Araucária,

permanecem com apenas 1% da cobertura original. A FIGURA 2 mostra os impactos dos

ciclos econômicos nos biomas brasileiros.

FIGURA 2: Impactos dos ciclos econômicos nos biomas brasileiros

Fonte: Araújo, 2007.

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Além de abrigar a maioria das cidades e regiões metropolitanas do país, a área

original da floresta também concentra os grandes pólos industriais, petroleiros e portuários do

Brasil, respondendo por nada menos de 80% do PIB nacional.

Durante 500 anos, a Mata Atlântica foi explorada e propiciou lucro ao homem.

Ainda no século XVI, houve a extração predatória do pau-brasil, utilizado para tintura de

tecidos e construção. A segunda grande investida foi o ciclo da cana-de-açúcar. Grandes áreas

de Mata Atlântica foram destruídas, não apenas para abrir espaço para os canaviais, mas

também para alimentar as construções dos engenhos e as fornalhas da indústria do açúcar. O

descaso ambiental era tão grande que, até o final do século XIX, ao invés de alimentar as

caldeiras dos engenhos com o próprio bagaço da cana, prática rotineira no Caribe, optava-se

por queimar árvores para servir de lenha. (THIELEN, 2001).

No século XVIII, foram as jazidas de ouro que atraíram para o interior um

grande número de portugueses. A imigração levou a novos desmatamentos, que se estenderam

até os limites com o Cerrado, para a implantação de agricultura e pecuária. No século seguinte

foi a vez do café, que exerceu um grande impacto sobre a Mata Atlântica. As florestas que

cobriam o Vale do Paraíba, centro da produção cafeeira, foram destruídas com total falta de

cuidado. O café, espécie de origem africana acostumado a crescer em áreas sombreadas, foi

cultivado no Brasil em espaços abertos e desflorestados. As queimadas, feitas de forma

descuidada, espalhavam-se pelas fazendas (IDEM), (Ver figura 2).

E, então, já na metade do século XX, chegou a vez da extração da madeira. No

Espírito Santo, as matas passaram a ser derrubadas para fornecer matéria-prima para a

indústria de papel e celulose. Em São Paulo, a implantação do Pólo Petroquímico de Cubatão

tornou-se conhecido internacionalmente como exemplo de poluição urbana. Esse processo

desorientado de desenvolvimento ameaça inúmeras espécies, algumas quase extintas como o

mico-leão-da-cara-dourada, a onça pintada e a jaguatirica.

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Em 1993, um estudo realizado por técnicos do Jardim Botânico de Nova

Iorque identificou, na região da Reserva Biológica de Una, no sul da Bahia, a maior

diversidade de árvores do mundo, com 450 espécies diferentes num só hectare de floresta.

O primeiro parque nacional brasileiro foi criado em uma área de Mata

Atlântica, em 14 de junho de 1937. O Parque Nacional do Itatiaia fica entre os estados do Rio

de Janeiro e Minas Gerais e abriga 360 espécies de aves (incluindo gaviões, codornas e

tucanos) e 67 espécies de mamíferos (como a paca, macacos e preguiças). (ANDRADE

FILHO, 2005).

Parte da Mata Atlântica foi reconhecida pela Unesco como Reserva da

Biosfera no começo da década de 90. A Reserva estende-se por cerca de 5 mil quilômetros ao

longo da costa brasileira, com área total de 290 mil quilômetros quadrados. (GEO BRASIL,

2002).

A queima de florestas, ainda comum nos dias de hoje, era a prática mais

empregada na preparação da terra para o plantio. Em 1711, o jesuíta André Antonil

estabeleceu regras para orientar o plantio da cana-de-açúcar: “roça-se, queima-se e alimpa-se,

tirando-lhe tudo o que pode servir de embaraço” (THIELEN, 2001). Neste caso, o

“embaraço” era a própria Mata Atlântica, cujas árvores serviam também como lenha para

alimentar fornalhas da indústria do açúcar.

3.3 – Impactos e valoração da biodiversidade

As pressões antrópicas sobre os biomas brasileiros causaram e causam os mais

diferentes impactos. O QUADRO 2 mostra uma estimativa qualitativa da situação atual dos

biomas nacionais. Todos os impactos apresentados podem trazer danos irreparáveis para

futuras atividades econômicas e de desenvolvimento social, dentre elas o turismo.

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QUADRO 2 – Estimativa qualitativa dos impactos ambientais nos biomas brasileiros

Biomas

Pressões

Impactos

AmazôniaCerradoCaatingaPantanal Mata

Atlântica Campos Sulinos

Zona Costeira

Extinção de espécies

Perda do patrimônio Natural

Expansão da agropecuária,

Caça e coleta predatórias;

Extrativismo vegetal

Fragmentação do Habitat

Legenda: █ - Muito alto █ - Alto █ - Médio █ - Baixo

Fonte: adaptado de Câmara e Santos (2002).

A América Latina possui a maior biodiversidade do planeta. Brasil, Colômbia,

Equador, Peru, Venezuela e México possuem megadiversidade biológica. É também a região

com maior número de espécies endêmicas. O endemismo – que torna as espécies mais

vulneráveis à extinção – é uma grande responsabilidade desses países (THIELEN, 2001).

A biodiversidade de um bioma é formada por espécies nativas, espécies

endêmicas, e espécies exóticas. O endemismo agrava consideravelmente o risco de extinção,

pois uma catástrofe ambiental na área onde sobrevive espécie endêmica pode provocar seu

desaparecimento por completo do planeta, empobrecendo-o em sua riqueza natural e

biológica. A Mata Atlântica, bioma objeto de estudo deste trabalho, possui mais de seis mil

espécies endêmicas de plantas e mais de quinhentos animais vertebrados (exceto os peixes).

(CONSERVAÇÃO INTERNACIONAL, 2003).

A espécie é nativa quando é originária daquele ambiente onde se encontra. Já a

espécie exótica é introduzida em determinado ambiente diferente do seu ambiente de origem.

A introdução de espécies exóticas em uma área diferente do seu ambiente original constitui-se

em alto risco ambiental, pois, em muitos casos, as espécies exóticas estão livres de seus

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predadores naturais, que limitam o crescimento da população dessa espécie exótica. Seu

crescimento torna-se incontrolado e sua sobrevivência afeta toda a cadeia ambiental que

poderia estar em equilíbrio antes da introdução dessa espécie, atrapalhando o meio ambiente,

a economia, a saúde e até a cultura da população humana residente naquele espaço.

As implicações da distinção para a valoração econômica dos recursos

associados à biodiversidade, conforme May et al. (1999) se manifestam na tipologia

que discrimina entre os benefícios gerados em nível local, internacional e global, assim como aqueles que são captados por atores econômicos privados e aqueles que representam bens públicos, que precisam de ação governamental para garantir a sua conservação.

O QUADRO 3 apresenta esta tipologia e o QUADRO 4 mostra os

valores atribuídos a bens e/ou serviços naturais de biomas brasileiros onde se

destacam as atividades relacionadas à preservação e à pesca.

QUADRO 3 – Tipologia de valores econômicos da biodiversidade

Benefício Bens privados Bens públicos

Local Produtos ecossistêmicos (p.e. caça, madeira, medicinas tradicionais, forragens nativas)

Valores culturais e religiosos atribuídos à vida selvagem e aos ecossistemas naturais

Internacional Eco-turismo

Algumas medicinas e fontes de germoplasma agrícola

Global Valores derivados da existência ou uso passivo da natureza

Valores de informação e segurança

Fonte: Baseado em PEARCE et al., 1999 (citado por MAY et al., 1999)

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QUADRO 4 – Valores atribuídos por bioma e bens e/ou serviços naturais valorados: preservação e pesca

BENS E SERVIÇOS

BIOMA VALORES ATRIBUÍDOS / AUTORES

OBSERVAÇÕES Pr

eser

vaçã

o de

rec

urso

s na

tura

is

Noroeste da Amazônia Mata Atlântica Manguezal-SP

US$ 13,34 / mês / pessoa (Pessoa & Ramos) US$ 9,08 por pessoa (Holmes et alii) US$ 5 / ha / ano (Santos et alii) US$ 230 – $710 / ha / ano (Grasso & Shaeffer-Novelli)

DAP, ampla gama de bens naturais RR DAP, para proteger 7.000 km2 no sul BA DAP, existência + opção, Est. Ecol.-SP DAP, existência, Cananéia-SP

Pesc

a ar

tesa

nal o

u co

mm

erci

al

Amazônia Oriental Manguezal-SP Manguezal-PA Várzea amazônica Litoral Sul

US$30 - $36 / família / ano (Muchagata) US$ 228 / ha / ano US$ 470 / ha / ano (Grasso & Shaeffer-Novelli) 66% a 84% da renda monetária familiar (Glaser & Grasso) US$ 909 / família / ano (Câmara) US$ 559 / ano / pescador 68% da renda (Denardin)

Agricultores de Marabá-PA Pesca artesanal Pesca comercial – Cananéia, SP Agricultores, leste do PA Pescadores de lago, Santarém-PA Perdas à poluição e sobrepesca-RS

Fonte May et al (1999).

3.4 – Turismo e biodiversidades

O turismo tem na biodiversidade uma das possibilidades de atrativo natural,

podendo utilizar-se dela de diversas formas. Atualmente, com a valorização dos cenários

naturais e busca por lazer junto à natureza, fenômeno observado na sociedade contemporânea,

exemplares da fauna e flora muito têm a contribuir com o desenvolvimento da atividade

turística.

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O QUADRO 5 apresenta questões norteadoras da biodiversidade para fins

turísticos, que devem ser respondidas para elaborar um plano de utilização turística em uma

área natural.

QUADRO 5 – Princípios regentes de intervenção

Impacto: que atividades são (supostamente) as principais causadoras da perda de biodiversidade?

Legitimidade: quem beneficiam e a interesse de quem são realizadas as intervenções?

Viabilidade: até que ponto as partes interessadas mais influentes apoiarão a intervenção? Eficácia: que tipos de instrumentos são os mais efetivos para alcançar os objetivos desejados?

Fonte: DUIM E CAALDERS, 2002.

O QUADRO 6 mostra os valores atribuídos a bens e/ou serviços naturais de

biomas brasileiros onde se destacam as atividades relacionadas ao turismo.

Christ et al. (2003) destaca que “o turismo é claramente de grande

significância econômica para países em desenvolvimento” e cita Meyer et al. (2000)2 que

define “hotspots” como “regiões com grande diversidade biológica de espécies endêmicas e

ao mesmo tempo tenham sofrido significativos impactos e alterações decorrentes da das

atividades humanas”.

2 Meyer apud Christ et al., 2003.

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QUADRO 6 – Valores atribuídos por bioma e bens e/ou serviços naturais valorados: atividades relacionadas ao turismo

BENS E SERVIÇOS

BIOMA VALORES ATRIBUÍDOS / AUTORES

OBSERVAÇÕES E

co-t

uris

mo

e Pe

sca

espo

rtiv

a

Floresta Amazônica Mata Atlântica Manguezal Pantanal

US$ 26 / ha (Andersen) US$ 22,08 – US$ 86,21 p/ pessoa (Holmes et al) US$ 2,10 / ha / ano (Santos et al) US$3.583 / ha / ano (Grasso & Shaeffer-Novelli) US$ 970 despesas / pessoa / visita (Seidl/Moraes)

Amazônia Legal, VPL a 6% desconto DAP, Reserva de Una, sul da BA DAP, Estação Ecológica Jataí-SP DAP, Pesca esport., Cananéia-SP Pesca esportiva, 46 mil visitas (1994-95)

Ben

efíc

io tu

ríst

ico

da

recu

pera

ção

ambi

enta

l Estuário Sul Litoral Sudeste Pantanal

US$ 30,24 / pessoa / ano (May, Pró-Guaíba) US$ 7,82 / pessoa / mês US$ 3,31 / pessoa / dia (Faria) US$ 52,75 - $ 137,51 / licença / ano (Moran, Moran & Moraes)

DAP, visitantes a dois parques–RS DAP, residentes–ES DAP, turistas DAP, pescadores esportivos

Fonte May et al (1999)

A biodiversidade em hotspots varia em países de diferentes tamanhos,

economias, recursos e contextos sociais. O turismo de massa, assim como o de base natural e

de aventura, é um significativo gerador de renda de alguns desses países. O QUADRO 7

mostra como a biodiversidade pode contribuir para a significância do turismo internacional

para países pobres e ricos em biodiversidade.

A FIGURA 3 apresenta a relação entre turismo e biodiversidade proposta por

Duim e Caalders (2002). Observa-se que as atividades relacionadas ao turismo, como

transporte, hospedagem e outras, provocam impactos nos atrativos relacionados à

biodiversidade. É, também, uma tarefa complexa identificar os impactos do turismo no meio

natural e mais difícil, ainda, seria a quantificação destes impactos. Geralmente os planejadores

e gestores turísticos preocupam-se principalmente com a primeira questão e buscam monitorar

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e quantificar os impactos por meio de métodos de causa e efeito de resultados imprecisos

(DUIM e CAALDERS, 2002).

QUADRO 7 – Significância do turismo internacional para paises pobres e ricos em

biodiversidade (citado por CHRIST et al,2003).

País Área de tensão “hotspot”

Percentual da população com renda abaixo de U$1 por diaa

Percentual de contribuição da

indústria do turismob

Nigéria Floresta Guinean 70 0.5 Madagascar Madagascar e ilhas

do oceano índico 63 3.8

Índia Ghats oeste e Sri Lanka

44 2.5

Honduras Mesoamérica 41 4.4 Gana Floresta Guinean 39 5.5 Nepal Indo-Burma 38 4.5

a Banco Mundial, 2001. Indicadores de desenvolvimento mundial. b WTTC, 2001. Tabela da Liga dos Países. Fonte: Conservação Internacional, 1999.

FIGURA 3 – Relação turismo e biodiversidade

Fonte: DUIM e CAALDERS, 2002.

B I O D I V E R S I D A D E

Impactos positivos e negativos Impactos diretos e indiretos Dimensão espacial Dimensão temporal

Transporte

Hospedagem

Outras Atividades

Uso e ocupação do solo

Contato físico

Adição de matéria

Retirada de matéria

Adição de biota

Retirada de biota

Perturbação

Gens

Espécies

Ecossistemas

T U R I S M O

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Modalidades do turismo como observação de pássaros, pesca amadora, turismo

científico, dentre outras, dependem substancialmente da biodiversidade do local visitado.

Outras formas em que a biodiversidade destaca-se como atrativo turístico são:

• Trilhas interpretativas nas quais são destacados aspectos importantes da

fauna e flora;

• Plantas medicinais e seus processamentos;

• Plantas que são utilizadas como matéria-prima para elaboração de

artesanato;

• Localização no habitat natural de plantas comestíveis por seres

humanos e animais;

• Contemplação da flora;

• Pesquisa da fauna e flora em ambientes naturais;

• Relações ecológicas existentes em habitats diversos;

• Observações da fauna e da flora;

• Fotografias específicas da fauna e flora;

• Exploração das múltiplas espécies de flores e época de floração de

determinado ecossistema;

• Mergulho com o objetivo de conhecer a fauna e flora aquática;

• Turismo pedagógico;

• Exploração de aspectos históricos e folclóricos de espécies de vegetais

e animais como, por exemplo, o pau-brasil;

• Caminhadas por trilhas em ambientes naturais.

O QUADRO 8 avalia a contribuição da utilização sustentável da Amazônia em

diferentes setores econômicos. O valor de 13 bilhões de dólares devido ao turismo na

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Amazônia corresponde a mais que o triplo da receita cambial turística de todo o Brasil em

2006, que foi de 4,32 bilhões de dólares (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2007). Somente para

efeito comparativo a expectativa do Plano Nacional era gerar 7,13 bilhões em 2007, com a

vinda de nove milhões de estrangeiros ao Brasil (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2003).

O novo Plano Nacional do Turismo – PNT 2007/2010 apresenta, em seu

conjunto de metas, “gerar 5,1 bilhões de dólares em divisas para o ano de 2007; 5,8 bilhões

em 2008; 6,7 bilhões em 2009 e 7,7 bilhões em 2010” (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2007).

QUADRO 8 – Contribuição da utilização sustentável da Amazônia em diferentes

setores econômicos.

Recurso natural da Amazônia Valor anual (em dólares) possível de ser obtido com a exploração sustentável do recurso

Petróleo 650 bilhões Medicamento e cosmético 500 bilhões Agricultura e extrativismo 50 bilhões Minérios 50 bilhões Carbono 19 bilhões Turismo 13 bilhões Madeira 3 bilhões Total 1,28 trilhões

Fonte: Revista Veja (2001)3

O estudo trata, de forma específica, da Amazônia, mas pode-se afirmar que as

contribuições de outros biomas brasileiros são de importância significativa. Embora a

biodiversidade seja relacionada de forma mais intensa com o segmento do ecoturismo, outros

segmentos e atividades do turismo se beneficiam dela. Deve-se salientar que muitas das

atividades de preservação ou recuperação de biomas associam-se à melhoria da qualidade de

3 “A floresta dá dinheiro”. Publicado na Revista VEJA, 22 de agosto de 2001, p. 76-81.

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vida local e regional. Considerações sobre ética ambiental e educação ambiental

complementam a visão necessária da sustentabilidade do turismo ecológico.

Para explorar a relação entre desenvolvimento do turismo, conservação da

biodiversidade e redução da pobreza em nível global, foi produzida e plotada uma série de

mapas de turismo e dados socioeconômicos das áreas prioritárias de biodiversidade definidas

pela estratégia de "área de tensão" da Conservação Internacional (CI). O alvo deste exercício

de cartografia foi explorar se o turismo está aumentando em áreas de alta-biodiversidade e,

dado que a maioria das áreas de tensão localizam-se no hemisfério Sul, cabe verificar se o

turismo é uma ferramenta potencial para redução de pobreza (Ver Anexo1). Para este

exercício, se agregaram somente informações de turismo e dados socioeconômicos em nível

nacional. Os mapas provêem assim um nível amplo de análise e servem apenas para ilustrar

tendências globais e regionais. Não se pretende que eles analisem as ligações entre turismo,

biodiversidade, e sustentos locais dentro de qualquer país específico ou prover conclusões

definitivas sobre a natureza e balança de interações. Espera-se que os mapas4 elevem a

consciência fundamental de decisores e planejadores sobre as oportunidades e ameaças do

turismo como uma máquina para conservação de biodiversidade e desenvolvimento

econômico.

As tendências refletem aspectos sobre futuros investimentos e áreas onde se

espera um expressivo crescimento do fluxo turístico. A responsabilidade de explorar a

atividade turística com equilíbrio e sustentabilidade exige acompanhamento permanente, para

garantir a conservação da biodiversidade nos futuros destinos turísticos.

A TABELA 3 apresenta dados sobre a relação entre as áreas de tensão em

crescimento do turismo em países diversos.

4 Ver anexo 1: mapa das áreas de tensão.

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TABELA 3 – Exemplos de áreas de tensão de países que possuem crescimento em turismo de mais que 100 por cento

Chegadas Internacionais (em milhares)

Área de tensão / País

1990 1995 2000 Crescimento 1990-2000

(em milhares)

Crescimento Percentual 1990-2000

Indo – Birmânia Laos 14 60 300 286 2.043 Myanmar 21 117 208 187 890 Vietnã 250 1.351 2140 1890 756 Macau 2.513 4.202 6.682 4.169 166 Floresta de transição África do Sul 1.029 4.684 6.001 4.972 483 Caribe Cuba 327 742 1.7 1.373 420 Ilhas de Caicos 49 79 156 107 218 República Dominicana 1.305 1.776 2.977 1.672 128 Cerrado brasileiro / mata atlântica Brasil 1.091 1.991 5.313 4.222 387 Mesoamérica Nicarágua 106 281 486 380 358 El Salvador 194 235 795 601 310 Costa Rica 435 785 1.106 671 154 Panamá 214 345 479 265 124 Florestas arbóreas Nigéria 190 656 813 623 328 Andes Tropical Peru 317 541 1.027 710 224 Madagascar e Ilhas do Oceano Índico Madagascar 53 75 160 107 202 Montanhas Arco Orient. e florestas Litorais Tanzânia 153 285 459 306 200 Montanhas do sudoeste da China China 10.484 20.034 31.229 20.745 198 Verão sazonal Indonésia 2.178 4.324 5.064 2.886 133 Mediterrâneo Israel 1.063 2.215 2.400 1.337 126 Sudoeste da Austrália Austrália 2.215 3.726 4.946 2.731 123 Micronésia/Polinésia Ilhas Cook 34 48 73 39 115

Fonte: Conservação Internacional (CI), 2003.

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3.5 – Ecoturismo: valorização da natureza com a vivência do turismo

Pires (2005) adota o conceito de Ecoturismo utilizado pelo Programa de

Ecoturismo da União Mundial para a Conservação, assim definido:

Ecoturismo ou turismo ecológico consiste em viagens ambientalmente responsáveis com visitas a áreas naturais relativamente sem distúrbios, para desfrutar e apreciar a natureza – juntamente com as manifestações do passado ou do presente que possam existir – e que, ao mesmo tempo, promove a conservação, proporciona baixo impacto pelos visitantes e contribui positivamente para o envolvimento socioeconômico ativo das populações locais.

No Brasil, por sua vez, há uma definição nacional do conceito, elaborado em

1995 pelo Grupo Interministerial em Ecoturismo5, que se sustenta em consonância com a

mesma base conceitual que era construída mundialmente:

Ecoturismo é um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva a sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do meio ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas.

Segundo Pires (2005), o ecoturismo emerge no período pós-Eco-92, devido

“ao reconhecimento pelo ambientalismo como alternativa para a viabilização de propostas,

projetos e ações de caráter ambiental, sobretudo conservacionista, desenvolvidas ou

defendidas pelos seus protagonistas mais representativos”. Dessa forma, o ecoturismo passa à

condição de linha de frente do turismo idealizado como sustentável. O QUADRO 9 apresenta

as ações do turismo sustentável (ecoturismo) que podem beneficiar a conservação da

biodiversidade.

Pires (2005) defende que o ecoturismo colabora com a conservação da

biodiversidade nas seguintes maneiras:

5 Grupo formado por membros da Embratur, do Ibama, empresários, consultores e representantes dos Ministérios do Meio Ambiente e da Indústria, Comércio e Turismo.

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• DIRETAMENTE por meio da geração de receitas advindas da sua

operação e da oferta de outros serviços aos visitantes, a serem utilizadas

diretamente na proteção, pesquisa e manutenção dessas áreas.

• INDIRETAMENTE proporcionando à população local alternativas de

renda em relação à exploração predatória e ilegal dos recursos naturais

dessas áreas, com sua inserção nos serviços requeridos pela atividade

ecoturística.

• PERMANENTEMENTE servindo como meio estratégico de

disseminação da consciência ecológica e ambiental, ampliando a base social

de apoio à conservação da biodiversidade e da natureza.

QUADRO 9 – Turismo sustentável e conservação de biodiversidade

Turismo sustentável (que utiliza os princípios de ecoturismo) pode contribuir diretamente a conservação

de biodiversidade:

• Oferecendo alternativas de sustento menos destrutivas às comunidades locais e proprietários de terras em zonas de transição e corredores de conservação, distanciando-se da regulação de gado intensivo, monocultura, caça e turismo insustentável;

• Provendo um incentivo para o público e proprietários de terras em ecossistemas críticos conservando propriedades de rica biodiversidade permanentemente, oferecendo renda ao produtor, baixo impacto ambiental e uso econômico;

• Proporcionando para os gestores de áreas protegidas recursos financeiros adicionais de visitações e doações; e

• Elevando a consciência da visita, promovendo o envolvimento da comunidade e dos interessados por conservação, e gerando apoio político para a conservação e educação ambiental durante a viagem.

Fonte: Conservação Internacional (CI), 2003.

O turismo, como toda atividade humana, produz impactos sobre o ambiente

onde é realizado e desenvolvido. Mas, comparado a outras atividades, é bem menos agressivo,

além de ter uma significativa capacidade de educar seus participantes para a prática da

conservação e preservação do meio ambiente. Pode constituir-se como um poderoso fator de

desenvolvimento para determinadas regiões. Quando praticado com a preocupação da

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sustentabilidade, o turismo gera impactos mínimos e efeitos negativos reduzidos, tanto no

ambiente natural como nos valores culturais das comunidades envolvidas, representados pelos

patrimônios material e imaterial presentes nas localidades e regiões onde se realiza o eco-

turismo. Cabe ressaltar que a prática da Educação Ambiental atua na formação cultural dos

participantes, para que se possa assumir uma nova postura diante da preservação, conservação

e melhoramentos do meio ambiente, especialmente natural (GEO BRASIL-IBAMA, 2002).

Em 2002, as Nações Unidas e a Organização Mundial do Turismo declararam

como sendo o Ano Internacional do Ecoturismo, com a realização do evento denominado

Cúpula Mundial do Ecoturismo, em Quebec/Canadá. Em seu documento final 6, além de

reconhecer que o ecoturismo incorpora os princípios do turismo sustentável sejam em suas

variáveis econômicas, sociais e ambientais, sua prática possui especificidades além do

conceito de turismo sustentável:

• Contribui ativamente para a conservação do patrimônio natural e

cultural.

• Inclui as comunidades locais e indígenas em seu planejamento,

desenvolvimento e exploração, contribuindo para o seu bem-estar.

• Interpreta o patrimônio natural e cultural do destino para os visitantes.

• Presta-se melhor aos viajantes independentes, assim como aos circuitos

organizados para grupos de tamanho reduzido.

Devido ao seu caráter especifico e diferenciado, o ecoturismo possui

enfoques próprios, dependendo do objetivo de sua realização, sempre preocupado com a

preservação e conservação do ambiente onde é desenvolvido. Sendo assim, Pires (2005) o

classifica como:

6 Declaração de Quebec sobre o Ecoturismo. Quebec/Canadá, maio de 2002. Extraído de PIRES, 2005.

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• Enfoque educativo e interpretativo

• Enfoque lúdico e recreativo

• Enfoque científico e especialista

• Enfoque esportivo e de aventura

• Enfoque místico e esotérico

Em se tratando de um segmento tão abrangente, e cuja prática é extremamente

relevante e atual, devido principalmente ao desenvolvimento que em muitos momentos ocorre

em áreas naturais, de preservação ambiental e unidades de conservação, o ecoturismo

interessa a todos. Alguns setores da sociedade, porém, devido à sua atuação e realização da

atividade ecoturística, destacam-se: os agentes de fomento, as empresas de turismo e outros

setores que atuam na área, governos em todos os seus níveis, organizações públicas e privadas

nacionais e internacionais, instituições de ensino e pesquisa, comunidades envolvidas,

imprensa e finalmente o público participante que realiza a atividade.

3.6 – Uso turístico da biodiversidade no mundo

A preocupação em utilizar o turismo como um instrumento de educação para a

conservação da biodiversidade e a preservação da natureza é tema comum na literatura

internacional.

COCHRANE (2006) desenvolveu um estudo em parques nacionais da

Indonésia, país que se destaca pela riqueza de sua biodiversidade, e afirma, sobre a Unidade

de Conservação de Bromo, que:

Considerando que Bromo é um dos parques mais populares na Indonésia, um contexto ideal se apresenta a gerar mais consciência entre os formadores de opinião: a habitação urbana, e a população crescentemente educada para o valor de conservar a biodiversidade e da função e utilidade de parques nacionais (COCHRANE, 2006)

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Na literatura especializada que relaciona biodiversidade e turismo, um modelo

muito citado como bem sucedido é o caso da Costa Rica, localizada na América Central.

Nesse país existe um plano denominado “Sistema integral de avaliação de impactos na

biodiversidade das atividades de turismo”, conhecido como IBIS-TA. Em termos gerais, trata-

se de um sistema para investigar os impactos positivos e negativos ocasionados pelas

atividades de turismo na biodiversidade, em que são avaliadas conjuntamente às diferentes

formas de impacto (Rainforest Alliance & CREM BV, 2006).

O impacto ambiental provocado pelo turismo na biodiversidade quase sempre

não é perceptível imediatamente, mas ao longo do tempo. No caso da fauna, o barulho e a

presença permanente de turistas em determinado habitat de alguma espécie pode ocasionar

sua migração para outra área. No caso da flora, plantas e gramíneas podem desaparecer, sendo

pisoteadas freqüentemente com a abertura de trilhas. Há de se considerar o combatido hábito

ainda existente de deixar lixo ao longo do percurso natural percorrido. São materiais diversos

como plásticos, cigarros, latas, etc., que precisam, em alguns casos, de centenas de anos para

serem completamente absorvidos pela natureza.

Por isso, o IBIS-TA determina o impacto potencial máximo, através da análise

de diversas variáveis que influenciam o turismo. Mensurar os efeitos reais das atividades

turísticas em determinada área é muito difícil e custoso. Assim, o IBIS-TA mede o impacto

teórico potencial de uma atividade turística específica.

O impacto na biodiversidade é representado por treze tipos de impactos

potenciais, os chamados parâmetros de impacto na biodiversidade, através de quatro passos

que formam a estrutura principal do sistema.

Dos treze parâmetros, oito são parâmetros negativos, e cinco positivos,

conforme demonstrado no QUADRO 10.

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Os quatro passos do método costa-riquenho são:

1. Um exame rápido, que determina se é necessário uma advertência de

“alerta vermelho” para a atividade turística que está sendo analisada.

2. Uma avaliação do impacto potencial, com relação aos parâmetros de

impacto positivo e negativo na biodiversidade.

3. Uma avaliação do impacto potencial total dos parâmetros de impacto

negativo na biodiversidade e uma avaliação do impacto potencial total dos

parâmetros de impacto positivo na biodiversidade.

4. Uma avaliação final que combina os totais dos parâmetros de impactos

negativos e positivos na biodiversidade: o impacto final na biodiversidade.

QUADRO 10 – Parâmetros de impacto na biodiversidade Parâmetros de impacto na biodiversidade considerados como impacto negativo potencial:

1 Conversão negativa da terra; 2 Erosão mecânica (zonas terrestres e marinhas); 3 Contaminação e eutroficação; 4 Dano e destruição de árvores, plantas ou corais; 5 Perturbação de animais; 6 Uso da terra, ocupação de espaço; 7 Sobreexplotação1; 8 Outros parâmetros negativos;

Parâmetros de impacto na biodiversidade considerados como impacto positivo potencial:

9 Educação sobre conservação da natureza;

10 Conversão positiva da terra; 11 Conservação da natureza mediante valor econômico agregado2; 12 Contribuição direta à conservação da natureza; 13 Outros parâmetros positivos.

1 O qual leva a reduzir as populações ou indivíduos de flora e fauna silvestres e diminui a variedade genética.

2 O turismo contribui em preservar a área.

Fonte: Rainforest Alliance & CREM BV, 2006.

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Os quatro passos principais que compõem o sistema, juntamente com os treze

parâmetros da biodiversidade são representados esquematicamente na FIGURA 4:

Ecossistemas

Passo 2: avaliação de pontuação por parâmetro de impacto Passo 1:

FIGURA 4: Método IBIS-TA da Costa Rica Fonte: Rainforest Alliance & CREM BV, 2006.

Além da Costa Rica, Austrália e África do Sul também se destacam no uso da

biodiversidade para a exploração turística. O QUADRO 11 compara as questões norteadoras

que orientam a prática do ecoturismo em áreas naturais no Brasil, Austrália e África do Sul.

Algumas instituições e organismos internacionais também desenvolvem ações

e projetos de turismo em áreas naturais, assim como os paises. Esses organismos dispõem

também de modelos de orientação para desenvolvimento do turismo de forma equilibrada.

Analisam aspectos culturais, sociais e políticos juntamente com as questões ambientais e a

Avaliação de alerta vermelho

8 parâmetros 5 parâmetros

Impacto negativo Impacto positivo

Passo 3: avaliação do impacto negativo total e avaliação do impacto positivo total

Passo 4: avaliação do impacto global

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preocupação com a conservação e a preservação da natureza. Por medidas jurídicas ou

educativas, atuam com a conscientização dos agentes envolvidos, capacitação e a orientação

aos turistas sobre a maneira correta de se comportar em um ambiente natural, conforme

demonstra o QUADRO 12. As organizações apresentadas são a Sociedade Internacional de

Ecoturismo (TIES na sigla em inglês, The International Ecoturism Society7), a União

Internacional de Conservação da Natureza (IUCN) e o Sierra Club, uma operadora

internacional de serviços turísticos com destacada preocupação socioambiental.

QUADRO 11 – Princípios comparados do Ecoturismo em vários países Brasil

Ecoturismo deve: o Utilizar de forma sustentável o patrimônio natural e incentivar a sua conservação; o Utilizar de forma sustentável o patrimônio cultural e incentivar a sua conservação; o Buscar a formação de uma consciência ambientalista pela interpretação do (meio) ambiente; o Promover o bem-estar das populações envolvidas (visitantes e visitados).

Austrália Ecoturismo deve:

o Ser promovido de forma honesta e realista; o Contribuir para a permanente conservação de áreas naturais; o Atender e satisfazer, solidamente, às expectativas dos clientes; o Contribuir para o desenvolvimento e bem-estar de comunidades locais; o Envolver e estimular a interpretação cultural, sobretudo as tradicionais; o Incorporar melhores práticas para o turismo ambientalmente sustentável; o Integrar atividades que criem oportunidades para a interpretação de áreas naturais onde ocorre a

visitação; o Fomentar a experiência pessoal em áreas naturais de forma a conduzir ao desfrute e ao

aprendizado. África do Sul

Ecoturismo deve: o Ter por objetivo a valorização e melhoria da qualidade de vida; o Ser uma experiência ampla, combinando atrativos culturais e naturais; o Exigir profissionalismo de fornecedores e operadores; o Oferecer os recursos e a hospitalidade das comunidades locais; o Promover o comportamento responsável dos visitantes; o Encorajar e promover a participação de comunidades locais nos empreendimentos o como atores e gestores atuantes; o Ser planejado de forma participativa com os grupos de interesse locais (autoridades,

administradores, operadores, comunidades tradicionais, etc.), compartilhando responsabilidades e benefícios;

o Considerar o meio ambiente como “produto ecoturístico”, devendo ser manejado de forma eficiente e eficaz, assegurando sustentabilidade e máximo benefício para as comunidades locais;

o O manejo das áreas abertas à visitação deve ser responsabilidade de todos (autoridades, visitantes, comunidades locais e operadores).

Fonte: FUNBIO, 2004.

7 A TIES, fundada em 1991, é a primeira ONG de ecoturismo mundial. Ver <www.ecoturism.org>

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QUADRO 12 – Ecoturismo: conceitos e princípios comparando organizações

TIES Ecoturismo deve:

o Preparar visitantes, de forma a minimizar impactos negativos em áreas ambiental e culturalmente sensíveis;

o Preparar visitantes para o contato com as comunidades locais; o Preparar visitantes para o adequado comportamento, na adequação da flora e da fauna nativas; o Prevenir impactos nas culturas tradicionais e no meio ambiente com utilização de guias e condutores

capacitados, mesmo com posturas mitigatórias ou corretivas; o Evitar atividades em áreas subadministradas ou supervisitadas; o Assegurar que operadores tenham equipes clientes e que participem de todas as políticas

empresariais, de forma a prevenir impactos culturais e ambientais, assim como orientar adequadamente a clientela;

o Contribuir para a orientação das áreas visitadas; o Prover oportunidades de trabalho e pequenos negócios para a comunidade local; o Oferecer alojamento em meios de hospedagem que não causem impacto negativo ao meio ambiente.

IUCN

Ecoturismo deve: o Proteger recursos naturais e culturais; o Promover o comportamento adequado de participantes; o Envolver comunidades locais, trazendo-lhes benefícios; o Trazer benefícios para o meio ambiente e para a vida silvestre; o Fomentar éticas e práticas ambientais conservacionistas e basear-se nelas; o Concentrar-se nos valores intrínsecos dos recursos disponíveis, sem modificá-los, para que se tornem

atrações; o Ser orientado para a conservação do meio ambiente, e não para o exclusivo uso humano,

transformando-o para sua conveniência; o Promover experiências em contato com o meio ambiente natural e as eventuais manifestações

culturais locais; o Atender às expectativas dos visitantes em termos de apreciação, informação e/ou educação

ambientais; o Envolver planejamento participativo, utilizando para tanto subsídios obtidos de operadores,

comunidade local e usuários. SIERRA CLUB

Ecoturismo deve: o Proteger recursos naturais e culturais; o Ter seu planejamento de forma a respeitar os direitos, as expectativas e as necessidades de

populações tradicionais; o Ter seu planejamento de forma a respeitar a capacidade de carga e a biodiversidade; o Ter seu desenvolvimento integrado a planos biorregionais de uso do solo, não comprometendo

hábitats e biomas; o Ter seu desenvolvimento evitando áreas frágeis, que contenham espécies animais e vegetais ou

ameaçadas; o Ter infra-estruturas em áreas protegidas e em seu entorno limitadas àquelas necessárias para a

manutenção básica e para serviços de apoio; o Respeitar rotas migratórias de vida silvestre e os corredores que interligam hábitats e ecossistemas; o Considerar a visitação a partir da distribuição eqüitativa e racional dos visitantes de forma a não

comprometer áreas sensíveis e frágeis; o Ter seu planejamento considerando o manejo de resíduos, o uso de alternativas limpas de energia e a

recuperação de áreas degradadas; o Quando envolver embarcações, considerar o armazenamento, transporte e adequada disposição de

lixo e efluentes produzidos na viagem; o Proibir ou ter o uso estritamente controlado ou limitado de veículos impróprios para áreas sensíveis,

em recuperação ou com espécies ameaçadas (helicópteros, jet-skis, ultraleves, etc.); o Apoiar e encorajar esforços de conservação de áreas nacionais e internacionais com ações e

contribuições efetivas. Fonte: FUNBIO, 2004.

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3.7 – Turismo e sustentabilidade ambiental

A idealizadora do conceito de desenvolvimento sustentável, Gro Harlem

Brundtland, presidiu a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU

e foi primeira-ministra da Noruega por duas vezes. Definiu no relatório Nosso Futuro

Comum, também conhecido como Relatório Brundtland, o conceito de desenvolvimento

sustentável em 1987 :

Desenvolvimento sustentável: aquele que é capaz de suprir as necessidades da geração atual sem comprometer a capacidade de atender às necessidades das gerações futuras. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro.

Os preceitos deste relatório orientaram a realização da 2ª. Conferência das

Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – a ECO 92 – que ocorreu em

1992 no Rio de Janeiro. O relatório também serviu de base para a criação da Agenda 21, o

principal plano de ação adotado nessa ocasião que objetivava garantir a sustentabilidade das

atividades humanas e a melhoria da qualidade de vida das atuais e futuras gerações.

A ONU criou uma base de dados de indicadores para atingir objetivos de

desenvolvimento no milênio (UNSD, 2006). Assim, ela estabeleceu uma estrutura com 8

objetivos, 18 alvos e 48 indicadores para medir o progresso, tendo por base um consenso de

especialistas do Secretariado das Nações Unidas, FMI, OCDE e Banco Mundial. Os oitos

objetivos são:

1. Erradicar a pobreza extrema e a fome.

2. Alcançar a educação primária universal.

3. Promover a igualdade de gêneros e a capacitação profissional de

mulheres.

4. Reduzir a mortalidade infantil.

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5. Melhorar a saúde maternal.

6. Combater o HIV/AIDS, malária e outras doenças.

7. Garantir a sustentabilidade ambiental.

8. Desenvolver uma parceria global para o desenvolvimento.

No que concerne à sustentabilidade ambiental, há três alvos, com respectivos

indicadores, conforme o QUADRO 13.

QUADRO 13 – Alvos e indicadores referentes ao objetivo da ONU de garantir a sustentabilidade ambiental Alvo

Indicadores

Proporção de terra coberta por florestas (FAO). Relação entre a área protegida para manter a diversidade biológica e a área superficial total (UNEP-WCMC). Uso de energia (kg de equivalente em petróleo) por US$1000 de PIB (PPP) (IEA, WORLD BANK). Emissões de dióxido de carbono per capita (UNFCCC, UNSD) e consumo de CFCs que reduzem o ozônio (UNEP -Ozone Secretariat).

1. Integrar os princípios do desenvolvimento sustentável em políticas e programas dos países e reverter a perda dos recursos ambientais

Proporção da população que usa combustíveis sólidos (WHO). Proporção da população com acesso sustentável a uma fonte de água adequada urbana e rural (UNICEF-WHO).

2. Até 2015, reduzir à metade a proporção de pessoas sem acesso sustentável e seguro a água potável e condições sanitárias.

Proporção da população com acesso a serviço sanitário adequado, urbano e rural (UNICEF-WHO).

3. Alcançar, até 2020, uma melhoria significativa do padrão de vida de, pelo menos, 100 milhões de favelados.

Proporção de famílias com acesso a posses habitacionais seguras (UN-HABITAT)

Fonte: UNSD, 2006.

Esse quadro define, por meio de seus alvos e indicadores, as características

mais importantes da sustentabilidade ambiental. Deve-se notar que (FORTES, 2006):

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• O alvo 1 aponta para o capitalismo natural; entretanto, seus indicadores

não apontam para resultados de metodologias ou tecnologias para atingir, de

forma eficiente (radical) o alvo.

• Os únicos indicadores de poluição são a emissão de CO2 e o consumo

de CFCs.

• Não há um indicador (alvo 2) associado a qualquer tecnologia eficiente

referente a recursos hídricos.

O turismo bem planejado, sustentável, pode ser um suporte para os três alvos

citados.

As áreas fundamentais do desenvolvimento sustentável aplicadas ao turismo

envolvem definição da população/comunidade relevante (sob uma perspectiva global,

nacional, regional) condescendente para o caso abordado. Assim, busca o horizonte de tempo

de longo prazo, ou seja, através do desenvolvimento contínuo. As dimensões de

sustentabilidade referem-se: ao meio ambiente, à identidade cultural, ao bem-estar econômico,

e à estabilidade social (GOELDNER et al., 2002)

Entretanto, apesar de grande discussão acadêmica, uma análise crítica da

sustentabilidade associada ao turismo não é otimista:

1. Há um descompasso entre entidades de nível internacional (IUCN,

UNEP, WWF ou WTO) e agências não governamentais (WTTC, Tour

Operators Initiative for Sustainable Tourism Development, dentre outras) e a

prática diária do turismo em várias escalas (COTTRELL et al., 2004). Estes

autores são francamente pessimistas quanto à implementação de políticas de

desenvolvimento sustentável do turismo por governos e empresas particulares.

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2. As propostas para melhoria do turismo europeu, de forma sustentável

(COMM/ENTR/I1, 2007), compreendem uma série de recomendações

difíceis de serem implementadas, em curto ou médio prazo, numa sociedade

tal como a nossa:

• Reduzir os efeitos sazonais de demanda;

• Analisar o impacto do transporte;

• Melhorar a qualidade dos empregos associados ao turismo;

• Manter e melhorar a prosperidade da comunidade e sua qualidade de

vida, dadas as mudança em ordem;

• Minimizar o uso de recursos naturais e a produção de lixos ou

desperdícios;

• Conservar e dar valor à herança cultural e natural;

• Garantir descanso e férias para todos os envolvidos;

• Usar o turismo como um instrumento no processo de Desenvolvimento

sustentável global.

De acordo com Li et al. (2006), apesar de o desenvolvimento do turismo poder

resultar em impactos negativos sobre os recursos naturais pelo seu mau uso e má gestão, há

aspectos positivos a se considerar. Assim, o turismo pode ajudar a melhorar a conservação de

recursos naturais, como demonstrado em seu estudo na reserva de biosfera de Jiuzhaigou,

China. O estudo mostrou que os residentes participaram do turismo e até mesmo desistiram de

plantações e da caça. Concluíram que é possível balancear a conservação de recursos naturais

com o desenvolvimento econômico.

Entretanto, há que se apresentar os efeitos da inércia da administração

governamental e da perda de oportunidades para o setor privado, no que concerne ao turismo,

ou seja, há que se conscientizar governo, empresas particulares, mídia, os usuários do turismo

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e a população, para os efeitos do turismo sobre o meio ambiente, e, mais particularmente

nesse trabalho, sobre a biodiversidade. Em outras palavras, há necessidade de pesquisas e

exposição pública dos mecanismos de sustentabilidade do turismo e sua importância.

Para Goeldner et al. (2002), as dimensões de sustentabilidade referem-se ao

meio ambiente, à identidade cultural, ao bem-estar econômico e à estabilidade social. Assim,

cabe aos gestores do destino turístico definir o que deve ser sustentado.

O QUADRO 14 apresenta os itens mais mencionados na literatura sobre

aspectos da sustentabilidade conforme Ankersmid e Kelder, citados por Cottrell et al. (2004).

Para medir a percepção de turistas no que se refere à sustentabilidade em suas

dimensões ecológica, econômica e sócio-cultural de dois destinos turísticos (Manuel Antônio,

na Costa Rica, e Texel, na Alemanha) Cottrell et al. (2004) utilizaram 20 itens e uma escala

Likert de 5 pontos. Estes itens são os 15 listados no QUADRO 14 adicionado de itens que se

referiam a: segurança, hospitalidade local, proteção insuficiente da natureza, poluição e

número excessivo de turistas na natureza.

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QUADRO 14 – Aspectos de sustentabilidade mais citados na literatura

Aspectos ecológicos 1 Poluição do ambiente, da água e do ar. 2 Perturbação de plantas e animais. 3 Perda de variedade de plantas e animais. 4 Perda de plantas e animais raros. 5 Exaustão de água e recursos energéticos.

Aspectos sócio-culturais 1 Aglomeração, muitos turistas ao redor. 2 Problemas sociais tais como criminalidade, alcoolismo, vandalismo e drogas. 3 Perda do estilo de vida e dos costumes tradicionais locais. 4 Urbanização, muitas construções (hotéis, restaurantes, etc.) efetuadas com prejuízo de

áreas verdes. 5 Intolerância dos habitantes locais com o turismo.

Aspectos econômicos 1 Aumento de preços de serviços e produtos turísticos. 2 Distribuição desigual das receitas do turismo. 3 Distribuição desigual de pagamentos mais altos e mais baixos no mercado de trabalho do

setor turístico. 4 Uso de produtos locais típicos dos quais não só o turista, mas também a comunidade local

se beneficiam. 5 Chances iguais para homens e mulheres no mercado de trabalho do setor turístico. Fonte: Cottrell et al. (2004).

3.8 – Turismo em Unidades de Conservação da natureza

ROCHA (2002) e DIEGUES (2002) relatam que historicamente a primeira

Unidade de Conservação da Natureza foi o Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados

Unidos em 1872, sendo os motivos para sua criação a preservação dos atributos cênicos, a

importância histórico-cultural e o potencial para atividades de lazer.

No Brasil, muitos autores afirmam ser o Parque Nacional do Itatiaia (PNI) a

primeira Unidade implantada de Conservação da Natureza, criado pelo Decreto Federal no.

1.713 de 14 de junho de 1937 (ANDRADE FILHO, 2005). Este autor cita o Decreto Federal

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no. 8.843 de 26 de julho de 1911, assinado pelo então Presidente da República Hermes da

Fonseca, criando uma Unidade de Conservação, no atual Estado do Acre, embora a unidade

de conservação da natureza jamais tenha sido implementada. Sendo assim, pode-se concluir

que o Parque Nacional do Itatiaia é, de fato, a primeira unidade de conservação brasileira.

3.8.1 – Unidades de Conservação no Brasil

Atualmente o Brasil possui mais de mil Unidades de Conservação da Natureza,

incluindo UCs federais, estaduais, municipais e privadas, distribuídas em mais de 75 milhões

de hectares. Esta área representa aproximadamente 8% do território nacional. As áreas de

proteção integral correspondem a aproximadamente 3% do território nacional. A

recomendação do IV Congresso Internacional de Áreas Protegidas, ocorrido em Caracas, em

1992, é que a área total de UCs seja de 10% do território, considerando o mínimo de proteção

integral por bioma. Conclui-se, portanto, que o Brasil está vulnerável nos aspectos de

proteção da sua biodiversidade (MMA, 2007).

A FIGURA 5 demonstra o percentual de unidades de conservação da natureza

no Brasil, por grupo e por bioma.

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FIGURA 5: Unidades de conservação por grupo e por bioma.

Fonte: – Geo Brasil, 2002.

As unidades de conservação da natureza, administradas pelo governo federal,

são divididas entre parques nacionais e florestas nacionais, muitas vezes denominados

“parna” e “flona”, respectivamente. No Anexo 2, a relação destas unidades de conservação é

dividida por estado e região.

3.8.2 – Parque Nacional do Itatiaia

O Parque Nacional do Itatiaia localiza-se na divisa dos Estados do Rio de

Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, na Serra da Mantiqueira. Situa-se geograficamente entre

os paralelos 22º19’ e 22º45’ latitude sul e os meridianos 44º15’ e 44º50’ de longitude oeste.

Fica ao sudoeste do Estado do Rio de Janeiro, no município de Itatiaia, e a sudeste do Estado

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de Minas Gerais. A FIGURA 6 mostra a facilidade de acesso ao parque a partir de três dos

maiores centros emissores de turistas do Brasil: São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

FIGURA 6 – Localização do Parque Nacional do Itatiaia. – (PNI, 2007).

O PNI possui dois planos muito distintos, denominados parte alta e parte baixa.

A parte baixa, toda localizada em Itatiaia, município do Rio de Janeiro, é a área originária do

Parque, desde sua fundação em 1937, com 10 mil hectares. A expansão do Parque Nacional

do Itatiaia ocorreu em 1982, através do decreto No. 87.586, de 20 de setembro de 1982,

assinado pelo então Presidente Figueiredo, ampliando sua área para quase 30 mil hectares.

A parte baixa, onde se localiza a sede administrativa do PNI/IBAMA, compõe-

se de atrativos diferentes dos das montanhas. Além da forte presença de macacos, esquilos,

quatis, jacus, aves variadas e inúmeras plantas, com destaque para as bromélias, na parte

baixa encontram-se o centro de visitantes, um museu, as cachoeiras do Maromba e do

Poranga, o lago azul e o mirante do Último Adeus, um excelente ponto de observação da

paisagem de todo o PNI.

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O acesso à parte baixa, saindo do Rio de Janeiro ou São Paulo, é pela Rodovia

Presidente Dutra (BR 116) até a cidade de Itatiaia, na altura do km 316. A viagem dura

aproximadamente 2h h 30min vindo do Rio de Janeiro e 3 horas saindo de São Paulo.

A parte alta, também conhecida como Planalto, é composta por montanhas e

espécies típicas de ambientes frios. Nota-se com freqüência a presença de araucárias e outras

espécies encontradas somente em campos de altitude, onde a alteração na paisagem é

facilmente percebida durante o percurso que dá acesso à região. O montanhismo é prática

freqüente entre os visitantes da parte alta, devido à presença de uma belíssima cadeia de

montanhas, onde estão o pico das Agulhas Negras, o Morro do Couto, o Cume das Prateleiras,

a Pedra do Altar e outros. No acesso à parte alta, localiza-se a pousada em maior altitude do

Brasil, a Pousada Alsene, que está a 2400 m de altitude. Conforme a legislação ambiental

brasileira, toda construção acima de 1.800 m de altitude encontra-se em APP – Área de

Proteção Permanente, definida pelo SNUC.

A parte alta do PNI está na divisa dos Estados do Rio de Janeiro e Minas

Gerais sendo os seus limites inseridos nos territórios dos municípios de Itatiaia, no estado do

Rio de Janeiro, e Itamonte, Alagoa e Bocaina de Minas, em Minas Gerais.

A FIGURA 7 mostra a localização da parte alta, da parte baixa e dos principais

atrativos existentes no parque.

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FIGURA 7: Planta e orientação dos atrativos do Parque Nacional do Itatiaia Fonte: PNI, 2007.

A cobertura vegetal do parque é predominantemente de palmito Jussara,

eotherpes edulis, que corresponde a cerca de 40% da área total do parque nacional do Itatiaia.

Esta árvore precisa de aproximadamente 170 anos para atingir seu tamanho adulto como as

existentes no PNI, de acordo com afirmações dos servidores do Ibama.

Em seu território, o PNI possui 12 nascentes de Rios e Córregos: Campo Belo,

Taquaral, Tapera, Alambari, Aiuruoca, Maromba, Itaporani, Rebouças, Bonito, Água Branca,

Preto e Agulhas Negras (PNI, 2007).

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4 – Metodologia

O estudo iniciou-se com pesquisa de gabinete compreendendo pesquisa

bibliográfica e exploratória sobre as questões relacionadas à biodiversidade e ao turismo.

Nessa fase, foram elaborados os instrumentos de pesquisa e coleta de dados necessários à

pesquisa de campo. Optou-se pela utilização de questionários e entrevistas. Definiu-se pela

utilização de questionários de pesquisa, para aplicação junto aos turistas que visitavam a

unidade de conservação e entrevistas com os gestores da mesma unidade.

O questionário foi composto por três partes e teve por objetivo avaliar, as

dimensões de sustentabilidade (primeira parte), a importância dada pelos turistas aos atrativos

relacionados à biodiversidade (segunda parte) e aspectos tipológicos dos turistas (terceira

parte). (Apêndice 2).

A primeira parte avaliou os aspectos relacionados ao parque e seu entorno. A

elaboração dessa etapa baseou-se no método desenvolvido pelo estudo Measuring the

Sustainability of Tourism in Manuel Antonio/ Quepos end Texel: a tourist perspective,

desenvolvido em 2004 pelos pesquisadores da Universidade Wageningen – Holanda – Stuart

Cotrell, René van der Duim, Patrícia Ankersmid e Liesbeth Kelder, conforme artigo publicado

no Journal of Sustainable Tourism, 2004. O artigo aponta, em sua descrição metodológica,

uma tabela com a definição de três aspectos de sustentabilidade: ecológico, sócio-cultural e

econômico. Acrescentou-se um quarto aspecto: aspectos relacionados ao turismo, ou seja,

ofertas de programas de educação ambiental e políticas de divulgação do parque. Para avaliar

cada aspecto selecionou-se de cinco a sete itens. O entrevistado pontuou cada item de 1 a 5,

sendo 1 = péssimo, 2 = ruim, 3 = regular, 4 =bom e 5 = ótimo.

A segunda parte avaliou o interesse dos turistas em relação aos atrativos

relacionados à biodiversidade e à prática da atividade turística na unidade de conservação.

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Essa parte era composta de 13 itens, podendo cada item ser avaliado em uma escala de zero a

quatro pontos, onde quatro representava o máximo interesse.

A terceira parte teve por objetivo a caracterização dos turistas. O modelo do

questionário aplicado encontra-se no apêndice 2.

Elaborado o questionário de pesquisa, foi realizada a aplicação dos

questionários de pré-teste. Essa fase da pesquisa ocorreu de 4 a 9 de abril de 2007, aplicados

na parte baixa do PNI. Identificada a necessidade de ajustes, foram realizados tão logo no

retorno a Belo Horizonte para continuidade e reaplicação para a coleta de dados definitiva.

Os questionários, já ajustados, foram aplicados aos turistas presentes no Parque

Nacional do Itatiaia em abril e maio de 2007.

A abordagem aos turistas ocorreu no Posto 3 do Ibama, que funciona como

sede dos atrativos da parte alta, e na ponte do Maromba e Lago Azul, locais de grande

concentração de visitantes na parte baixa.

O tamanho da amostra foi calculado pela fórmula a seguir (SILVA, 2004):

2

2

eqpzn ⋅⋅

=

em que: n = tamanho da amostra; z = margem de confiança na distribuição normal; p =

probabilidade de sucesso; q = complemento da probabilidade; e = margem de erro.

Considerou-se a situação menos favorável que é p=0,5 (q=0,5). Para um nível de confiança de

95% (z=1,96) e uma margem de erro é de 9,5%, o valor de n=107.

Do total de 107 questionários de pesquisa aplicados junto aos turistas, não

houve a presença de estrangeiros, sendo a origem dos turistas os diversos estados da

federação. De acordo com as informações dos servidores do Ibama, a presença de estrangeiros

concentra-se mais nos meses de outubro a dezembro, na primavera, sendo a observação de

pássaros uma motivação de viagem que merece ser destacada, apesar de haver outros

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interesses por parte desses turistas. Suas origens são variadas, segundo os servidores, sendo

notada grande presença de ingleses, alemães, australianos, japoneses, norte-americanos e

canadenses. O período de coleta de dados foi de 19 de abril a 2 de maio de 2007,

compreendendo um período de alta demanda devido ao feriado de 1º. de maio, Dia do

Trabalho.

Encerrada a aplicação dos questionários, esses dados foram tabulados e

analisados em seguida à aplicação, em Belo Horizonte, com a utilização da informática

através do software Microsoft Excel e SPSS. O tratamento dos dados coletados baseou-se em

interpretações empíricas e estatísticas, utilizando a técnica da análise fatorial para validar os

aspectos quantitativos.

As respostas às questões relativas aos principais interesses do turista durante

sua visita ao parque foram analisadas por meio da técnica estatística de análise fatorial. Teve-

se em mente reduzir o número de variáveis independentes por meio de fatores, que são

combinações lineares dos 13 itens do questionário, não correlacionados entre si.

Amend (2001) explicitando a metodologia utilizada para analisar as

características do mercado ecoturístico da região do Parque Nacional da Barra do Superagüi,

esclarece que “(...) o questionário deve ser construído de tal forma que o objetivo da pesquisa

esteja claro ao entrevistado (não disfarçado)”. Este autor fez uso da análise fatorial para a

realização de sua pesquisa, e afirma que esta técnica “(...) pode ser utilizada como apoio na

determinação das características do mercado ecoturístico. Não dispensa, no entanto, uma

análise empírica da situação local, que depende em última instância do conhecimento da

localidade de análise”.

O questionário de pesquisa foi o principal instrumento de coleta de dados, mas

não o único. Além dos 107 questionários aplicados junto aos turistas, foram entrevistados os

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principais servidores do Ibama, que forneceram importantes informações acerca do uso

turístico da unidade de conservação.

A observação participante também foi significativa, dada a presença constante

no PNI, a convivência diária com os agentes envolvidos com a administração, presença e

ocupação do espaço da primeira unidade de conservação do país. Foram informações

necessárias à interpretação do contexto, que forneceram subsídios fundamentais para a

explicação e entendimento dos dados coletados, sustentando a análise e as conclusões dessa

pesquisa.

A observação participante é uma técnica de pesquisa qualitativa, onde o

pesquisador convive com os envolvidos no estudo durante o tempo de realização da pesquisa,

de forma a obter dados confiáveis, que auxiliam na interpretação e análise dos resultados.

Essa técnica proporcionou informações que muito auxiliaram na coleta de dados e outras

decisões relacionadas à pesquisa. Permitiu conhecer muitos dos problemas e desafios da

unidade de conservação, os empreendimentos existentes nas dependências do parque, a

relação entre o Ibama e os moradores, o acervo a ser explorado, a existência de

aproximadamente 180 sítios de segunda residência existentes na parte baixa do parque e

detalhes sobre flora, fauna, cobertura vegetal e singularidades do PNI não seriam possíveis

sem a convivência com a equipe do Ibama.

As informações sobre o PNI foram obtidas através de pesquisas em

documentos do acervo da própria unidade de conservação (fontes primárias), documentos do

governo federal, como leis, decretos, portarias, instruções normativas, entre outros; e em

entrevistas junto aos servidores do Ibama. Foram entrevistados o Chefe do Parque, maior

responsável hierárquico pela unidade de conservação, o chefe de pesquisa, que apontou

caminhos e disponibilizou a consulta ao acervo do parque, além do Coordenador do Programa

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de Uso Público e Ecoturismo, que forneceu as mais precisas informações sobre a prática do

turismo, do ecoturismo e muitos outros dados cruciais para a realização desse estudo.

Para a realização dessas entrevistas, foi elaborado um questionário semi-

estruturado (apêndice 1). Este serviu para orientar a condução da entrevista e permitir a

captação qualitativa das informações necessárias à realização dessa pesquisa.

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5 – Resultados e discussão

O capítulo 5 é dedicado à apresentação dos dados coletados na pesquisa. A

seguir, serão discutidos os resultados obtidos com a análise dos dados coletados, tanto no

questionário como nas entrevistas e observação participante.

5.1 – Perfil dos turistas

A TABELA 4 mostra os perfis dos turistas que visitavam o Parque Nacional do

Itatiaia, no período da pesquisa e os de turistas do Parque Nacional de Manuel Antônio, em

Quepos, e a ilha Texel, na Holanda. Conforme Duim (2005), no Parque Nacional Manuel

Antonio, situado na Costa Rica, suas praias são muito bonitas, mas a infra-estrutura é muito

falha. Há pouca informação sobre atividades turísticas, dependência de guias locais, um

centro de visitantes deficiente e administradores do parque sem treinamento. Apesar destes

problemas, o Parque Manuel Antônio exerce uma forte atração sobre os turistas. Por outro

lado, Texel, uma ilha da Holanda, apresenta atrações costeiras, que, tal como Manuel

Antônio, podem se transformar em atrações fatais, pela agressão ao meio ambiente e à

sustentabilidade, de forma geral. Embora estes dois exemplos, da Costa Rica e da Holanda, se

refiram a atividades de praia, optou-se por mostrar uma comparação de perfis de turista, pois

os três requerem medidas de sustentabilidade.

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TABELA 4 - Perfis dos turistas de Manuel Antônio/Quepos, Texel e PNI.

Variáveis de perfil Manuel Antônio N=300

Texel n=299

Parque Nacional do Itatiaia n=107

Gênero Masculino 48% 47% 48,5% Feminino 52% 53% 51,4%

Média de idade (anos) 35 42 35,8 Nível educacional

Baixo* 5 15 0 Médio** 18 31 8% Superior*** 78 54 92%

Tempo de permanência (noites) 7,5 12,4 1,8 Visitação repetida Visitas prévias 19% 68% 76,6% Primeira vez que visita 81% 32% 23,4%

* Nível educacional baixo: até o 1º. Grau // ** Nível educacional médio: 2º. Grau // *** Nível educacional superior: superior em diante. Fonte: Cotrell et al., 2004 e esse trabalho.

Assim, da Tabela 4 pode-se concluir que:

• Não há diferença significativa entre o número de turistas de sexo

feminino e masculino, no PNI e em Manuel Antônio e Texel.

• A grande maioria dos visitantes (92%) do PNI tem nível superior de

escolaridade superior à de Manuel Antônio e Texel.

• O PNI tem 76,6% de turistas que retornam, percentagem próxima à de

Texel; talvez devido à deficiência de infra-estrutura, Manuel Antônio recebe

uma grande percentagem de turistas de primeira visita, que não retornam em

sua grande maioria.

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5.2 – Percepções dos turistas das dimensões de sustentabilidade

Analisaram-se as dimensões de sustentabilidade, ou seja, os aspectos

ecológicos, sócio-culturais e econômicos, conforme sugerido por Cottrell et al. (2004) aos

quais foram adicionados sete itens específicos ao turismo no PNI. As pontuações médias para

cada item estão mostradas na TABELA 5.

Não se observaram, em média, pontuações abaixo de regular. Observa-se uma

boa homogeneidade das pontuações de cada item das 3 dimensões de sustentabilidade. A

maioria dos itens teve pontuação acima de 4 (entre bom e ótimo), com exceção dos aspectos

econômicos que tiveram a maioria de respostas abaixo de 4 (entre regular e bom).

Para a dimensão ecológica, o uso racional de água e fontes energéticas foi o

que teve a maior nota mostrando ser o item que mais preocupa os turistas. Este resultado

difere do resultado encontrado na pesquisa de Manuel Antônio/Quepos e Texel que tiveram

como prioridade a preocupação com preservação de plantas e animais e poluição ambiental

(citados em ambos os locais), autenticidade cultural e exaustão de recursos naturais.

Na dimensão sócio-cultural observa-se que o item segurança recebeu a maior

pontuação média, e os outros itens tiveram pontuações muito próximas sendo que a menor

pontuação recaiu sobre o item contribuição do turismo para a melhoria da infra-estrutura

local.

Para a dimensão econômica, a maior pontuação foi para o item Preço para o

turista de serviços, produtos e taxas do parque, sendo que a menor pontuação foi dada ao

item Oferta de produtos e souvenires para o turista.

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TABELA 5: Médias e desvios-padrão para todos os aspectos avaliados na pesquisa Aspectos ecológicos

média Desvio-padrão

coeficiente de variação

1- Ausência de poluição do meio ambiente, água, ar e solo 4,2 0,6 15,4% 2- Ausência de distúrbio e perda de variedade de plantas e animais 4,1 0,8 19,0% 3- Preservação de atrativos naturais 4,2 0,7 15,9% 4- Uso racional de água e fontes energéticas 4,3 0,7 15,3% 5- Medidas de proteção de plantas e animais 4,2 0,9 21,8%

Aspectos sócio-culturais média Desvio-padrão

coeficiente de variação

1- Preservação do estilo de vida local e hábitos tradicionais dos habitantes 4,0 0,8 20,9% 2- Segurança na area 4,5 0,9 19,2% 3- Arquitetura e urbanização na área 4,2 0,9 22,5% 4- Quantidade adequada de turistas ao redor dos atrativos naturais 4,1 0,8 18,8%

- Ausência de aversão e hostilidade dos habitantes em relação aos turistas 4,2 0,8 19,5% 6- Contribuição do turismo para a melhoria da infra-estrutura local 3,9 1,0 26,0%

Aspectos econômicos média Desvio-padrão

coeficiente de variação

1- Preço para o turista de serviços, produtos e taxas do parque 4,1 0,8 20,5% 2- Remuneração e oportunidades de trabalho para pessoas da região 3,9 0,9 24,0% 3- Oferta de produtos e souvenires para o turista, no parque 3,2 1,2 38,6% 4- Oportunidades iguais para homens e mulheres no mercado de trabalho da região 3,8 1,0 25,1% 5- Influência de investimentos de pessoas de outras regiões na economia local 3,8 1,0 27,3%

Aspectos relacionados ao turismo média Desvio-padrão

coeficiente de variação

1- Ofertas de programas de educação ambiental 3,9 0,9 23,5% 2- Disponibilidade de guias e condutores especializados 3,9 1,0 26,0% 3- Políticas externas de divulgação do parque e seus atrativos (publicidade) 3,9 1,0 25,8% 4- Disponibilidade de informações turísticas 3,9 1,0 26,7%

- Qualidade do centro de visitantes e infra-estrutura de atendimento aos turistas 3,7 0,9 25,6% 6- Opções de atividades turísticas em áreas naturais 4,6 0,7 15,5% 7- Destaques dados aos aspectos da biodiversidade do parque 4,2 0,9 22,5%

O GRÁFICO 1 apresenta as médias globais para cada aspecto, separadamente.

Observa-se que os aspectos ecológicos são os mais valorizados. Por outro lado, os aspectos

econômicos receberam a menor nota das quatro dimensões, mostrando que este aspecto

necessita de um olhar mais cuidadoso por parte dos planejadores.

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GRÁFICO 1 – Importância das dimensões de sustentabilidade no PNI.

3,43,63,84,04,24,4

Aspectosecológicos

Aspectossócio-

culturais

Aspectoseconômicos

Aspectosrelacionadosao turismo

Pont

uaçã

o po

r dim

ensã

o

5.3 – Interesses dos turistas

As respostas às questões relativas aos principais interesses dos turistas durante

a visita ao parque, foram analisadas por meio da técnica estatística de análise fatorial. Teve-se

em mente reduzir o número de variáveis independentes por meio de fatores, que são

combinações lineares dos 13 itens do questionário, não correlacionados entre si.

Os resultados da análise fatorial, utilizando a matriz de covariância, pelo

método de componentes principais são apresentados a seguir.

A análise fatorial inicia-se com a avaliação da comunalidade de cada item. Ela

pode ser interpretada como a proporção da variância do item que é explicada pelos fatores.

Portanto, quanto maiores as comunalidades, maior a informação sobre os 13 itens contida nos

fatores selecionados (TABELA 6).

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TABELA 6 – Comunalidades Inicial Extração

Quantidade de espécies de animais e plantas (M1) 1,000 ,888Diversidade de espécies de animais e plantas (M2) 1,000 ,799Roteiros interpretativos em áreas naturais (M3) 1,000 ,539Fotografia da natureza (M4) 1,000 ,443Caminhadas (M5) 1,000 ,684Observação de pássaros e animais de uma forma geral (M6) 1,000 ,751Observação de plantas (M7) 1,000 ,841Observação da paisagem (M8) 1,000 ,664Participação em pesquisa e estudo sobre biodiversidade (M9) 1,000 ,563Gastronomia baseada em produtos da região (M10) 1,000 ,747Plantas medicinais (M11) 1,000 ,664Atividades relacionadas à fauna e flora aquática (M12) 1,000 ,686Lazer com a família e/ou amigos (M13) 1,000 ,658

Método de extração: Análise dos componentes principais.

A TABELA 7 apresenta a matriz de correlação dos fatores analisados. A

notação M1, M2, etc, refere-se a cada item avaliado, de acordo com a TABELA 6.

Na TABELA 8 apresentam-se os autovalores que permitem que se decida o

número de fatores a serem extraídos. O primeiro fator explica 36 % da variância dos 13 itens;

esse valor é obtido dividindo-se o autovalor pela soma dos autovalores. O segundo fator

explica aproximadamente 15 % e, portanto o primeiro e segundo fatores juntos explicam 51%

da variância, e assim por diante. Um critério usual para seleção de fatores é selecionar apenas

aqueles cujos autovalores são maiores que 1. Dessa forma, da TABELA 5, são selecionados 4

fatores que juntos explicam 69% da variância dos itens.

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TABELA 7 - Matriz de Correlação

M1 M2 M3 M4 M5 M6 M7 M8 M9 M10 M11 M12 M13Correlação M1 1,000 ,749 ,498 ,117 ,125 ,556 ,326 ,351 ,169 ,169 ,153 ,341 ,076

M2 ,749 1,000 ,330 ,225 -,031 ,555 ,414 ,391 ,173 ,163 ,243 ,354 ,054M3 ,498 ,330 1,000 ,299 ,355 ,329 ,340 ,314 ,266 ,321 ,453 ,421 ,180M4 ,117 ,225 ,299 1,000 ,157 ,219 ,384 ,162 ,145 ,258 ,435 ,155 ,208M5 ,125 -,031 ,355 ,157 1,000 ,048 ,062 ,114 ,216 ,274 ,119 ,342 ,153M6 ,556 ,555 ,329 ,219 ,048 1,000 ,750 ,567 ,259 ,269 ,450 ,414 ,095M7 ,326 ,414 ,340 ,384 ,062 ,750 1,000 ,685 ,399 ,245 ,415 ,365 ,044M8 ,351 ,391 ,314 ,162 ,114 ,567 ,685 1,000 ,272 ,087 ,225 ,181 -,041M9 ,169 ,173 ,266 ,145 ,216 ,259 ,399 ,272 1,000 ,269 ,316 ,481 ,049

M10 ,169 ,163 ,321 ,258 ,274 ,269 ,245 ,087 ,269 1,000 ,549 ,597 ,560M11 ,153 ,243 ,453 ,435 ,119 ,450 ,415 ,225 ,316 ,549 1,000 ,518 ,214M12 ,341 ,354 ,421 ,155 ,342 ,414 ,365 ,181 ,481 ,597 ,518 1,000 ,374M13 ,076 ,054 ,180 ,208 ,153 ,095 ,044 -,041 ,049 ,560 ,214 ,374 1,000

Sig.(1-tailed) M1 ,000 ,000 ,117 ,103 ,000 ,000 ,000 ,043 ,043 ,061 ,000 ,221M2 ,000 ,000 ,011 ,376 ,000 ,000 ,000 ,039 ,049 ,006 ,000 ,295M3 ,000 ,000 ,001 ,000 ,000 ,000 ,001 ,003 ,000 ,000 ,000 ,034M4 ,117 ,011 ,001 ,056 ,013 ,000 ,050 ,071 ,004 ,000 ,058 ,017M5 ,103 ,376 ,000 ,056 ,315 ,266 ,125 ,014 ,002 ,115 ,000 ,061M6 ,000 ,000 ,000 ,013 ,315 ,000 ,000 ,004 ,003 ,000 ,000 ,168M7 ,000 ,000 ,000 ,000 ,266 ,000 ,000 ,000 ,006 ,000 ,000 ,329M8 ,000 ,000 ,001 ,050 ,125 ,000 ,000 ,003 ,189 ,011 ,033 ,341M9 ,043 ,039 ,003 ,071 ,014 ,004 ,000 ,003 ,003 ,001 ,000 ,309

M10 ,043 ,049 ,000 ,004 ,002 ,003 ,006 ,189 ,003 ,000 ,000 ,000M11 ,061 ,006 ,000 ,000 ,115 ,000 ,000 ,011 ,001 ,000 ,000 ,015M12 ,000 ,000 ,000 ,058 ,000 ,000 ,000 ,033 ,000 ,000 ,000 ,000M13 ,221 ,295 ,034 ,017 ,061 ,168 ,329 ,341 ,309 ,000 ,015 ,000

TABELA 8 – Autovalores e variância para os 13 fatores. Variância total explicada

Autovalores Soma da extração das cargas ao quadrado

Somas da rotação das cargas ao quadrado

Compo-nente

Total % da variância

% acumulada

Total % da Variância

% acumulada

Total % da Variância

% acumulada

1 4,715 36,273 36,273 4,715 36,273 36,273 2,592 19,942 19,942 2 1,943 14,946 51,218 1,943 14,946 51,218 2,308 17,752 37,693 3 1,179 9,069 60,288 1,179 9,069 60,288 2,303 17,717 55,411 4 1,090 8,382 68,670 1,090 8,382 68,670 1,724 13,259 68,670 5 ,950 7,309 75,979 6 ,762 5,862 81,841 7 ,620 4,769 86,610 8 ,512 3,938 90,548 9 ,360 2,765 93,314

10 ,303 2,331 95,645 11 ,268 2,058 97,703 12 ,181 1,391 99,093 13 ,118 ,907 100,000

Método de extração: Análise dos principais componentes

O GRÁFICO 2 comprova o resultado apresentado na TABELA 8. Observa-se

que a partir do componente 5 os autovalores caem abaixo de 1.

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GRÁFICO 2 – Autovalores para cada componente

Aut

oval

ores

13121110987654321

g

5

4

3

2

1

0

Número do Componente

A TABELA 9 apresenta a matriz fatorial que contém os coeficientes atribuídos

a cada item da escala nos 4 fatores extraídos. A interpretação dos fatores depende da

magnitude desses coeficientes, ou pesos, atribuídos a cada item.

TABELA 9 – Matriz dos Componentes (sem rotação) Componentes 1 2 3 4

M1 ,628 -,371 ,597 1,789E-02 M2 ,637 -,428 ,417 -,192 M3 ,660 9,783E-02 ,206 ,227 M4 ,460 ,153 -,335 -,310 M5 ,312 ,396 ,115 ,645 M6 ,767 -,370 -6,146E-02 -,146 M7 ,746 -,333 -,414 -4,069E-02 M8 ,590 -,474 -,262 ,149 M9 ,515 ,105 -,288 ,451

M10 ,587 ,603 4,695E-02 -,189 M11 ,673 ,286 -,290 -,212 M12 ,716 ,369 ,135 ,137 M13 ,321 ,605 ,223 -,373

Método de extração: Análise dos principais componentes (4 componentes extraídos)

Em geral, em uma solução inicial, todos os itens apresentam coeficientes altos

no primeiro fator e, assim, este fica sendo uma “média” de todas as informações sem

nenhuma interpretação própria. Para contornar esse problema, sugere-se sempre analisar uma

solução com rotação, que resulta num conjunto de fatores distintos, cada um representando

uma característica comum aos itens presentes no fator.

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Essa solução com rotação é apresentada na TABELA 10. Foi utilizada a

rotação Varimax, que é a mais comumente utilizada. A rotação Varimax é um método de

rotação ortogonal, cujo objetivo é minimizar o número de itens que têm altos coeficientes em

cada fator, simplificando a interpretação dos mesmos. Pode-se observar que, extraindo-se

quatro fatores, o percentual da variabilidade explicada não é alterado pela rotação, sendo igual

a 69%. Na TABELA 10 são apresentados os coeficientes associados a cada variável em cada

um dos 4 fatores selecionados. Para facilitar a interpretação dos resultados, os coeficientes são

apresentados em cores de acordo com a sua magnitude. Os 4 maiores coeficientes para cada

fator foram destacados em azul e os 4 menores coeficientes foram destacados em vermelho.

Os itens “Roteiros interpretativos em áreas naturais” e “Fotografia da natureza” ficaram

marcados em 2 fatores pela pequena diferença entre os números, tornando difícil a opção de

cada um deles por um ou por outro fator. Estes itens não têm uma parte significativa de sua

variância explicada por um único fator.

TABELA 10 – Solução com rotação Varimax, com extração de 4 fatores.

Componentes 1 2 3 4

Quantidade de espécies de animais e plantas ,111 4,04E-02 ,922 ,153Diversidade de espécies de animais e plantas ,276 ,103 ,842 -5,205E-02Roteiros interpretativos em áreas naturais ,205 ,268 ,430 ,490Fotografia da natureza ,470 ,466 -3,90E-02 -5,20E-02Caminhadas -8,54E-02 ,105 1,03E-02 ,816Observação de pássaros e animais de uma forma geral ,661 ,159 ,537 3,12E-02Observação de plantas ,871 ,105 ,246 ,107Observação da paisagem ,713 -,159 ,319 ,168Participação em pesquisa e estudo sobre biodiversidade ,442 6,89E-02 -2,53E-02 ,602Gastronomia baseada em produtos da região ,101 ,806 8,99E-02 ,281Plantas medicinais ,510 ,613 3,59E-02 ,162Atividades relacionadas à fauna e flora aquática ,188 ,533 ,296 ,528Lazer com a família e/ou amigos -,171 ,787 9,30E-02 3,28E-02

Método de extração: Análise dos principais componentes (4 componentes extraídos) Método de rotação: Varimax com normalização Kaiser (a rotação convergiu em 7 iterações).

Da TABELA 10 pode-se concluir que os quatro fatores se referem aos aspectos

ligados a:

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• Fator 1 – contemplação da natureza;

• Fator 2 – lazer com a família;

• Fator 3 - quantidade e diversidade de animais e plantas e

• Fator 4 - estudos e pesquisas.

A solução com 4 fatores foi selecionada de forma técnica, a partir do critério

de selecionar os fatores com autovalor maior que 1. Como houve uma dificuldade de

interpretação dos resultados com 4 fatores, pelo fato apontado acima, tentou-se a solução com

6 fatores de forma a elevar o percentual de explicação de 69% para 82% na solução.

A TABELA 11 apresenta os resultados para 6 fatores. Observa-se, nesse caso,

que o fator 1 concentra os fatores que se relacionam com a observação da natureza, o fator 2

com quantidade e diversidade de animais e plantas, o fator 3 com comida e lazer, o fator 4

com atividades relacionadas à pesquisa e estudos, o fator 6 parece estar ligado aos esportes ao

ar livre, ficando o fator 5 mais ligado à fotografia da natureza. Aqui, também, há dificuldade

de interpretação, já que o item “Roteiros interpretativos em áreas naturais” não se encaixa

claramente em um fator e o item “Plantas medicinais” apresenta altos valores em 2 fatores.

Os resultados com 6 fatores não permitem uma melhor interpretação dos

fenômenos em relação aos resultados de 4 fatores, o que sugere que os 4 fatores apresentados

acima, na tabela 8 explicam satisfatoriamente os 13 itens relacionados com o interesse dos

turistas que visitam o parque.

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TABELA 11 - Matriz dos componentes com rotação, com 6 fatores

Componentes 1 2 3 4 5 6

Quantidade de animais e plantas

,204 ,913 5,01E-02 4,24E-02 -1,07E-02 ,143

Diversidade de espécies de animais e plantas

,276 ,846 4,88E-02 7,748E-02 ,108 -,119

Roteiros interpretativos em áreas naturais

9,45E-02 ,486 9,02E-02 ,222 ,393 ,500

Fotografia da natureza

,172 4,18E-02 ,102 -5,85E-02 ,884 ,107

Caminhadas

3,90E-02 -2,18E-02 ,154 ,133 2,93E-02 ,914

Observação de pássaros e animais de uma forma geral

,707 ,451 ,172 ,192 ,128 -,100

Observação de plantas

,844 ,159 5,91E-02 ,250 ,276 -1,88E-02

Observação da paisagem

,873 ,177 -6,26E-02 4,98E-02 2,60E-02 ,165

Participação em pesquisa e estudo sobre biodiversidade

,232 1,76E-02 -2,45E-02 ,839 2,71E-02 ,149

Gastronomia baseada em produtos da região

5,63E-02 7,91E-02 ,774 ,343 ,224 ,106

Plantas medicinais

,161 ,126 ,307 ,487 ,629 -6,52E-02

Atividades relacionadas à fauna e flora aquática

,112 ,308 ,506 ,636 5,34E-02 ,184

Lazer com a família e/ou amigos -3,41E-03 1,36E-02 ,902 -,101 6,62E-02 8,82E-02 Método de extração: Análise dos principais componentes 6 componentes extraídos) Método de rotação: Varimax com normalização Kaiser (a rotação convergiu em 7 iterações).

5.4 – Análises das entrevistas e observação participante

Nas entrevistas junto aos servidores do Ibama, surgiram informações acerca de

pesquisas desenvolvidas, espécies de fauna e flora, especialmente as nativas, as endêmicas e

as ameaçadas de extinção. Os servidores informaram também sobre os principais problemas e

os grandes desafios e dificuldades enfrentadas no PNI, como os incêndios florestais e a

necessidade de treinamento permanente das brigadas anti-fogo, a conflitante convivência com

moradores, especialmente na parte baixa, onde existem residentes e empreendimentos

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hoteleiros, e na parte alta, com comunidades tradicionais. Relataram os problemas da

ocupação humana, como lixo, esgoto e veículos, que provocam atropelamentos de animais.

As entrevistas junto aos servidores do Ibama – Instituto Brasileiro do Meio

Ambiente e Recursos Renováveis – foram imprescindíveis para decidir qual o caminho a

seguir. Poucos são os estudos sobre turismo no PNI. A biodiversidade possui maior produção

de trabalhos, mas a integração dessas duas temáticas até então não havia se realizado, visto

que os estudos sobre biodiversidade já desenvolvidos foram realizados, majoritariamente, sob

a perspectiva da botânica e da biologia em geral. Em consulta ao acervo de trabalhos de

pesquisa de mestrado e doutorado realizados no PNI, foram encontrados títulos da área de

Biologia, Botânica, Engenharia Florestal, Medicina Veterinária, Ecologia e ciências afins,

com diversos aprofundamentos e diversidade de análise. Alguns desses estudos abordam a

questão da prática do turismo dentro da Unidade de Conservação, sem, contudo, aprofundar

essa perspectiva, tratando o turismo de maneira superficial apenas para afirmar seu

acontecimento na unidade de conservação. Essa constatação motivou a continuação da

pesquisa, com todas as dificuldades e contratempos encontrados, e ofereceu a energia

necessária à sua conclusão.

Há um programa de uso público e ecoturismo, responsável por toda utilização

turística do Parque Nacional do Itatiaia. Este programa, em acordo com a portaria No. 19 de

21 de janeiro de 2005, que cria o Programa Nacional de Voluntariado em Unidades de

Conservação, qualifica guias e condutores locais para acompanhamento dos turistas nas

dependências internas do parque, tanto na parte alta como na parte baixa. Embora não seja

obrigatório o acompanhamento de guias credenciados, os trabalhos dos condutores são

recomendados pelo parque, que disponibiliza, inclusive, uma lista de contatos dos condutores

credenciados no próprio sítio do parque nacional na internet. Desse modo, os turistas se

responsabilizam pelo pagamento e controle dos serviços contratados; o parque se isenta de

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responsabilidades diversas, até mesmo de segurança e integridade dos turistas. O Ibama é

responsável pela coordenação desse programa. A coordenação também se responsabiliza pelo

controle do acesso de turistas às dependências do parque, tanto a entrada de pessoas como de

veículos, na parte alta e baixa do PNI.

O PNI recebe aproximadamente 70 mil visitantes por ano, sendo 80% na parte

baixa. Além dos visitantes de turismo, o parque é freqüentado pelos moradores e servidores

do Ibama e instituições de pesquisa, escolas e grupos de treinamento militar. (PNI, 2007).

No Parque Nacional do Itatiaia, observa-se grande demanda de visitantes

interessados em sua enorme riqueza de bromélias, observação de pássaros e seus respectivos

cantos, paisagens montanhosas, macacos e o sapo vermelho e preto conhecido como

flamenguinho, melanoprhyniscus moreirae, responsável pela interdição de uma estrada de

acesso a atrativos no planalto entre os meses de setembro a dezembro, época de sua

reprodução, principalmente por tratar-se de uma espécie endêmica. A riqueza da sua

biodiversidade conta também com aproximadamente 365 espécies de aves, mais de 50

espécies de mamíferos e mais de 5.000 espécies de insetos (Idem).

Nas entrevistas, esses servidores relataram que o PNI possui dois importantes

documentos de gestão da unidade: o Plano de Manejo, elaborado em 1982; e o Plano de Ação

Emergencial, de 1994. Os servidores foram enfáticos em afirmar que ambos encontram-se

desatualizados, mas consideram muito importante a existência desses instrumentos.

Os principais problemas e ameaças à biodiversidade do PNI são muitos. Nas

entrevistas junto aos servidores do Ibama, foram listados os que são considerados mais

graves:

• Questão fundiária: devido principalmente à falta de indenização por

parte do poder público, todos que possuem propriedades em áreas do parque

não foram retirados. Somente na parte baixa existem aproximadamente 180

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sítios ocupados, além de empreendimentos de hospedagem, com prédios que

chegam a 4 andares;

• Incêndios: embora exista um trabalho preventivo e a formação de

brigadas, os incêndios constituem ameaça grave. Há também a colocação de

fogo pelos próprios moradores para preparação e demarcação de solo para

agricultura e pecuária, além de alguns moradores insistirem em colocar fogo

no lixo doméstico;

• Atropelamentos e animais eletrocutados: muitos animais são

atropelados ou eletrocutados na área do parque. Uma rodovia federal, a BR-

485, corta seu território. Embora seja de velocidade controlada a até 40 km/h,

muitos ultrapassam o limite recomendado. A estrada é passagem de inúmeros

animais, freqüentemente observados na rodovia. Outros são eletrocutados na

estrutura de distribuição de energia elétrica existente no PNI, tanto na parte

baixa quanto na parte alta;

• Caçadores e coletores de palmito: embora cause indignação, observa-se

a presença de caçadores em alguns momentos e trilhas do parque, bem como

os coletores de palmito, espécie que corresponde a 40% da cobertura vegetal

do parque. Atualmente a coleta de espécies de animais e plantas é controlada, e

somente autorizada para a realização de estudos e pesquisas. Mesmo assim, a

coleta de mamíferos está suspensa para garantir a sobrevivência das espécies.

Os macacos são exemplos dessa postura adotada pelo PNI;

• Esgoto, lixo: a questão do esgoto, devido à presença e ocupação

humana, e o lixo produzido por moradores e até mesmo turistas são também

problemas de impacto ambiental observados no PNI.

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Atualmente, há coleta regular do lixo doméstico dos habitantes do PNI,

realizado pela Prefeitura Municipal de Itatiaia. Observa-se a existência de fossas em

residências do PNI, um alto risco de contaminação do meio ambiente, especialmente do solo e

da água.

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6 – Considerações finais

Esse estudo descreve a relação da biodiversidade com o turismo em uma

unidade de conservação da natureza do Brasil e destaca formas de aproveitamento dessa

biodiversidade para fins turísticos. O desenvolvimento de estudos envolvendo turismo e

biodiversidade em UC’s exige por parte dos pesquisadores superar esforços como:

complexidade da pesquisa, distância da unidade de conservação, sazonalidade da demanda

turística, dentre outros. Assim sendo, essa análise constitui-se como uma possibilidade de

trazer ao ambiente acadêmico a tênue relação entre turismo e biodiversidade que ocorre no

Brasil, sendo um importante instrumento para análise e reflexão para estudos futuros.

A análise dos dados obtidos possibilitou informações sobre a opinião dos

turistas sobre a biodiversidade do PNI. A biodiversidade constitui um importante atrativo

turístico, e o Brasil, sendo detentor de megabiodiversidade, descrita anteriormente, deve

beneficiar-se disso. Novas pesquisas deverão ser realizadas com o objetivo de conhecer as

opiniões de turistas nacionais e estrangeiros sobre o tema, colaborando para a elaboração de

produtos turísticos que tenham a biodiversidade como fator motivador. Como se sabe, os

segmentos do turismo de natureza vêm crescendo em todo mundo, destacando-se em muitos

países, como a Costa Rica.

O parque enfrenta inúmeros problemas, descritos no capítulo 5.4, que

necessitam de soluções para não colocar em risco a própria biodiversidade. Recomenda-se a

realização de novos estudos sobre o turismo tanto no Parque Nacional do Itatiaia como nas

demais unidades de conservação da natureza do Brasil. Estes estudos certamente apontarão

inúmeras possibilidades de desenvolvimento turístico relacionado ao meio ambiente, que

possibilitarão absorver potenciais demandas turísticas deste segmento.

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A realização de diversas obras no PNI durante a coleta de dados dificultou em

parte a realização da pesquisa. Isto pode ter contribuído para afastar muitos turistas (tanto

brasileiros como estrangeiros), que, sabendo da realização das obras, prefeririam outro destino

turístico naquele momento, desejando visitar o PNI após o encerramento das melhorias em

suas edificações.

O estudo permitiu fazer uma análise crítica da sustentabilidade associada ao

turismo em UC’s e aponta as dificuldades de se conseguir o desenvolvimento sustentável

desta atividade conforme analisado no capítulo 3.7. Entretanto, pode-se afirmar que a

atividade turística contribui como instrumento de educação ambiental para a conservação da

natureza. A prática do turismo controlado e equilibrado em uma unidade de conservação

permite o aprendizado e o desenvolvimento da consciência ambiental, de forma educativa,

visando a preservação e a conservação do meio ambiente, tão almejada e cada vez mais

necessária à sobrevivência de inúmeras espécies, até mesmo a humanidade.

Diante disso apresenta-se a seguir, outras conclusões importantes desse estudo:

• O Parque Nacional do Itatiaia é freqüentado por turistas maduros (idade

média de 36 anos), de ambos os sexos, com nível de formação superior, que

retornam ao Parque em outras oportunidades (77%).

• De forma geral, os turistas avaliaram como adequadas as condições

ecológicas, sócio-culturais, econômicas e do turismo oferecido. Entretanto,

dadas as diferentes conceituações associadas a estes tópicos, diferenciam-se,

abaixo, as avaliações.

• Os turistas avaliaram como adequadas as condições ecológicas

percebidas de ausência de poluição, preservação do ambiente, uso racional de

água e energia e a proteção dispensada a plantas e animais.

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• No que concerne aos aspectos sócio-culturais, os turistas avaliaram

mais positivamente o aspecto de segurança do PNI, e consideraram como

adequada a interação com os habitantes locais (pela ausência de aversão aos

turistas e pela melhoria de qualidade de vida). Os turistas não se manifestaram

de forma entusiasmada sobre a arquitetura, urbanização e atrativos turísticos.

• As condições econômicas do PNI foram as que receberam a pior

avaliação, principalmente no que concerne à disponibilidade de souvenires. Os

aspectos de oportunidades de trabalho e condições econômicas dos nativos de

sexos diferentes também sofreram restrições na avaliação.

• A qualidade de informações e infra-estrutura de apoio ao turismo

sofreu restrições. Entretanto, as opções de atividades turísticas nas áreas

naturais foram consideradas excelentes.

• Pode-se afirmar que os turistas do PN do Itatiaia apreciam as

características ecológicas do parque, mas não se sentem tão bem com relação à

comodidade e aspectos sociais, culturais, econômicos e turísticos de

sustentabilidade.

A atividade turística pode favorecer o aspecto essencial para a proteção da

biodiversidade: a educação. Mas, também é uma atividade impactante, embora menor se

comparada a outras atividades econômicas como a mineração, a siderurgia, indústria

extrativa, energética e muitas outras. Os efeitos negativos do turismo e os impactos no meio

ambiente decorrente devem ser analisados para que sua prática ocorra de forma sustentada e

equilibrada.

Trata-se de um estudo abrangente e muito significativo, visto que a

biodiversidade apresenta-se como um autêntico insumo para o desenvolvimento do turismo

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sustentado em áreas naturais e unidades de conservação no Brasil. A análise fatorial utilizada

permite destacar os itens de maior relevância para o desenvolvimento do turismo nas UC’s. O

turismo pode ser um eficaz instrumento de conscientização sobre a preservação da natureza.

A preservação em si não é um ato turístico, decorrente de uma viagem, passeio ou fim de

semana, mas pode ser ensinada e aprendida em uma vivência turística, e perpetuar-se. Assim

o turismo passa a ser um instrumento de preservação e educação sendo legítimo desejar que a

atividade continue e prospere cada vez mais.

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7 – Referências

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8 – Anexos Anexo 1:

Fonte: Conservação Internacional, 2003.

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Anexo 2:

Parques e Florestas Nacionais no Brasil, agrupados por região:

Região Estado Unidades de Conservação Acre Parque Nacional da Serra do Divisor

Floresta Nacional do Amapá Parque Nacional do Cabo Orange Amapá Parque Nacional das Montanhas do Tumucumaque Floresta Nacional do Amazonas Floresta Nacional de Cubaté Floresta Nacional de Cuairi Parque Nacional do Jaú

Amazonas

Parque Nacional Pico da Neblina Floresta Nacional de Cuxianã Floresta Nacional Saracá-Taquera Floresta Nacional Tapajós

Pará

Parque Nacional da Amazônia Parque Nacional de Pacaás Novos Parque Nacional da Serra da Cutia Rondônia Floresta Nacional do Bom Futuro Parque Nacional do Monte Roraima Parque Nacional da Serra da Mocidade Roraima Parque Nacional de Viruá

Região Norte

Tocantins Parque Nacional do Araguaia Fonte: MMA

Região Estado Unidades de Conservação Parque Nacional da Chapada Diamantina Parque Nacional de Monte Pascoal Parque Nacional do Descobrimento

Bahia

Parque Nacional Marinho de Abrolhos Parque Nacional de Ubajara Floresta Nacional do Araripe Ceará Parque Nacional de Jericoacoara

Maranhão Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses Parque Nacional do Catimbau Pernambuco Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha Parque Nacional de Sete Cidades Parque Nacional da Serra das Confusões Parque Nacional da Serra da Capivara

Região Nordeste

Piauí

Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba Fonte: MMA

Região Estado Unidades de Conservação Distrito Federal Parque Nacional de Brasília

Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros Goiás Parque Nacional das Emas

Mato Grosso do Sul

Parque Nacional da Serra da Bodoquena

Parque Nacional da Chapada dos Guimarães

Região Centro-oeste

Mato Grosso Parque Nacional do Pantanal Mato-Grossense

Fonte: MMA

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Região Estado Unidades de Conservação Floresta Nacional Rio Preto Parque Nacional do Caparaó Espírito Santo Parque Nacional dos Pontões Capixabas Floresta Nacional Passa Quatro Parque Nacional Grande Sertão Veredas Parque Nacional da Serra da Canastra Parque Nacional da Serra do Cipó Parque Nacional Cavernas do Peruaçu

Minas Gerais

Parque Nacional das Sempre-Vivas Parque Nacional do Itatiaia Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba Parque Nacional da Tijuca Parque Nacional da Serra da Bocaina

Rio de Janeiro

Parque Nacional da Serra dos Órgãos Floresta Nacional Capão Bonito

Região Sudeste

São Paulo Floresta Nacional de Ipanema

Fonte: MMA

Região Estado Unidades de Conservação Floresta Nacional Açungui Floresta Nacional de Irati Parque Nacional do Iguaçu Parque Nacional de Superagüi

Paraná

Parque Nacional da Ilha Grande Floresta Nacional São Francisco de Paula Floresta Nacional de Passo Fundo Parque Nacional dos Aparados da Serra Parque Nacional da Serra Geral

Rio Grande do Sul

Parque Nacional da Lagoa do Peixe Floresta Nacional do Caçador Floresta Nacional Três Barras

Região Sul

Santa Catarina Parque Nacional de São Joaquim

Fonte: MMA

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9 – Apêndice Apêndice 1 Entrevista semi-estruturada com os servidores do Ibama/PNI.

Questões 1 – Quais as principais áreas de pesquisa no PNI? 2 – Já foi feito algum estudo turístico ou junto aos turistas? Se sim, esse estudo provocou alguma modificação na gestão do turismo e da biodiversidade no PNI? 3 – Como é feita a gestão do turismo e da biodiversidade no PNI? 4 – Quais os principais impactos causados no parque, provocados tanto pelo turismo quanto por outros fatores? 5 – O Parque possui Plano de Manejo? 6 – Há algum profissional do Turismo no quadro de servidores do Parque? 7 – Como ocorre o fluxo turístico no PNI? 9 – Dentro das ações desenvolvidas no PNI, qual a importância do turismo? 10 – O parque do qual V. Sa. gerencia, possui estatísticas de visitação? 11 – Em caso afirmativo, seria possível disponibilizar as informações principais, como:

• Quais são as principais origens dos visitantes do parque? • Qual o número total de visitantes? • Qual a escolaridade dos visitantes?

12 – Foi realizado no parque algum estudo/levantamento de capacidade de carga? 13 – O parque possui infra-estrutura para visitação? 14 – O parque possui guias ou condutores locais? Em caso afirmativo, o acompanhamento durante a visitação é obrigatória? 15 – O parque possui roteiros e/ou trilhas interpretativas? 16 – Existe alguma atividade de interpretação ambiental relacionada à biodiversidade?

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Apêndice 2: Questionário de pesquisa – Coleta de dados junto aos turistas.

QUESTIONÁRIO DE PESQUISA IDENTIFICAÇÃO N0: _________ Data: _____/_____/_____ Hora: _________Pesquisador: _____________________ INSTRUÇÕES: Este instrumento de coleta de dados objetiva o levantamento de informações relacionadas à percepção do turista sobre Parque Nacional e interesse a biodiversidade neste. Não há resposta certa ou errada e sim a sua percepção sobre a biodiversidade. É importante ressaltar que os dados coletados serão instrumentos de pesquisa e mantidos sem a identificação do respondente. Certo da sua colaboração, antecipo meus sinceros agradecimentos. Atenciosamente, Daniel Braga Hübner – Pesquisador Mestrando em Turismo e Meio Ambiente – UNA-MG Professor do Curso Técnico em Turismo e Lazer do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais – CEFET-MG Avalie os aspectos relacionados ao parque e seu entorno, considerando sua percepção sobre os itens: 1- Péssimo 2- Ruim 3- Regular 4 - Bom 5- Ótimo Não respondeu – NR

Aspectos ecológicos 1 2 3 4 5 NR 1- Poluição do meio ambiente, água, ar e solo 2- Distúrbio e perda de variedade de plantas e animais 3- Destruição de atrativos naturais 4- Diminuição de água e fontes energéticas 5- Medidas de proteção de plantas e animais Aspectos sócio-culturais 1- Perda do estilo de vida local e hábitos tradicionais dos habitantes 2- Segurança na área 3- Arquitetura e urbanização na área 4- Quantidade de turistas ao redor dos atrativos naturais 5- Aversão e hostilidade dos habitantes em relação ao turista na região 6- Contribuição do turismo para a infra-estrutura local Aspectos econômicos 1- Preço para o turista de serviços, produtos e taxas do parque 2- Remuneração e oportunidades de trabalho de pessoas da região 3- Oferta de produtos e souvenirs para o turista comprar no parque 4- Oportunidades iguais para homens e mulheres no mercado de trabalho 5- Influência de investimentos de pessoas de outras regiões na economia local Aspectos relacionados ao turismo 1- Programas de educação ambiental 2- Guias e condutores especializados 3- Políticas de divulgação do parque e seus atrativos 4- Informações turísticas 5- Centro de visitantes e infra-estrutura de atendimento aos turistas 6- Opções de atividades turísticas em áreas naturais 7- Destaque dado aos aspectos da biodiversidade do parque

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Qual seu interesse em relação aos itens abaixo: Escala crescente sendo que 0 representa nenhum interesse e 4 o máximo de interesse. 1 Quantidade de espécies de animais e plantas 0 1 2 3 42 Diversidade de espécies de animais e plantas 0 1 2 3 43 Roteiros interpretativos em áreas naturais 0 1 2 3 44 Fotografia da natureza 0 1 2 3 45 Caminhadas 0 1 2 3 46 Observação de pássaros e animais de uma forma geral 0 1 2 3 47 Observação de plantas 0 1 2 3 48 Observação da paisagem 0 1 2 3 49 Participação em pesquisa e estudo sobre biodiversidade 0 1 2 3 4

10 Gastronomia baseada em produtos da região 0 1 2 3 411 Plantas medicinais 0 1 2 3 412 Atividades relacionadas à fauna e flora aquática 0 1 2 3 413 Lazer com a família e/ou amigos 0 1 2 3 4 PERFIL TURISTA

1.1) Origem: _________________________UF: _________ 1.2) Idade: ___________ 1.3) Sexo: ( ) M ( ) F 1.4) Grau de escolaridade: ( ) Sem escolaridade ( ) Até 1º grau comp. ( ) Até 2º grau comp. ( ) Superior ( ) Pós-grad.MBA ( ) Mestr./Dout. 1.5) Profissão: ( ) Estudante ( ) Empresário ( ) Profissional liberal ( ) Militar ( ) Aposentado ( ) Func. público ( ) Funcionário de empresa privada ( ) Outros 1.6) Faixa de renda mensal (SM = salário mínimo). Se estrangeiro, responder em dólares. ( ) Até 2 SM ( ) Mais de 2 até 5 SM ( ) Mais de 5 até 10 SM ( ) Acima de 10 SM 1.7) Motivo da viagem: ( ) Lazer ( ) Negócios ( ) Estudo/Pesq ( ) Outros 1.8) Visitou este parque anteriormente? ( ) Não ( ) Sim, uma vez ( ) Sim, de 2 a 5 vezes ( ) Sim, mais de 5 vezes 1.9) Tempo médio de permanência na região (ou neste tipo de viagem): ( ) um dia ( ) De dois a três dias ( ) Quatro ou mais dias 1.10) Com quem está visitando o parque? ( ) Sozinho ( ) Cônjuge ( ) Com a família ( ) Grupo de amigos ( ) Grupo de Turismo ( ) Grupo de estudo ( ) Outros: ___________________ 1.11) Onde está hospedado ( ) Hotel/pousada no parque ( )Camping ( ) Casa de parente/amigo ( ) Não está hospedado ( ) Hotel/pousada na região ( ) Outros: 1.12) Como ficou sabendo deste parque: ( ) Vídeo ( ) TV e Rádio ( ) Parentes ou amigos ( ) Jornal, Revista ou Folhetos ( ) Internet ( ) Agência de Viagem ( ) Outros 1.13) Durante sua estada em quais atividades pretende se envolver: (sem limite de respostas) ( ) Caminhar ( ) Relaxar/descansar ( ) Estudar ( ) Banho em ambiente natural ( ) Visitar caverna ( ) Aprender sobre a região ( ) Pescar ( ) Apreciar a natureza/ ( ) Fotografia ( ) Outra atividade

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