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A Bíblia Sagrada - Do Papiro ao Byte
Dízimos e Ofertas – Da Ovelha ao Cartão
Carlos Alberto da Silva1
“Vamos abrir as nossas bíblias”.
Talvez essa frase centenária esteja com seus dias contados já que a
Bíblia Sagrada, cada vez mais, tem sido apresentada na sua forma eletrônica.
Quando Johannes Gensfleisch Zur Laden Zum Gutenberg ou apenas
João Gutenberg por volta de 1493 inventou a prensa móvel, o que possibilitou
a impressão mais rápida e de mais cópias de jornais e livros, trouxe luz a uma
discussão: os Livros Sagrados (rolos) sairiam do papiro ou pergaminho e
assumiram defititivamente o papel com a primeira Bíblia impressa conhecida
como a Bíblia de Gutenberg de 42 linhas?
Atualmente a Bíblia Sagrada tem sido uma das personagens principais
na discussão da migração do papel para o digital. Não são raras as vezes em
que encontramos pessoas portando uma Bíblia eletrônica nas reuniões de
cunho litúrgico ou até mesmo “netbooks”, “notebooks” ou celulares com acesso
à Rede Mundial de Computadores (internet) conectados aos sites que
disponibilizam a Bíblia on-line. Muitos, ainda, realizam pesquisas simultâneas
do assunto ministrado, ou seja, o responsável pela ministração da palavra é,
muitas vezes, confrontado com pesquisas na internet enquanto transmite sua
mensagem.
1 Aluno regularmente matriculado no Curso de Bacharel em Teologia pela Universidade Metodista de São Paulo. 3º
ano – 6º semestre. Período Noturno - 2012.
Para Wagner Bandeira da Silva2, conforme sua Dissertação de
Mestrado sob o título: “E-bible; características de hipertexto na Bíblia impressa
e digital” a Bíblia tem a seguinte simbologia:
“Mais do que um livro, a Bíblia passou a fazer parte do imaginário
popular. Imutável, sua configuração se tornou símbolo da religião que
representa. Não é surpresa que ao perguntarmos a um cidadão
brasileiro qual imagem lhe vem à mente quando falamos em Bíblia
Sagrada, a resposta seja a de um livro volumoso, capa preta, bordas
douradas e uma fita de marcação. De fato, tornou-se uma figura do
nosso folclore o indivíduo trajado formalmente portando um livro nesse
formato como a imagem representativa do típico cristão. Ainda que
essa imagem esteja mais especificamente associada ao cristão do
segmento protestante.”
A pergunta é: o que é profano? A Bíblia de Gutenberg em relação aos
pergaminhos ou papiros (Rolos da Lei) existentes nas sinagogas antes ou
durante a vida de Jesus Cristo e nas igrejas no período da patrística3 ou a “e-
bible”4 em relação à Bíblia impressa?
A Bíblia impressa tem tanta influência no mundo que deu origem até
uma tipificação ou denominação ao papel que era ou ainda é usado para sua
impressão.
O Dicionário Eletrônico Aulete (http:educação.uol.com.br/dicionários)
apresenta o seguinte verbete:
Papel-bíblia: Tipo de papel opaco, muito fino, mas resistente que
anteriormente era produzido a partir de fibras naturais, sendo depois
composto com pastas de sulfito e de sulfato, usado na produção de
bíblias e de obras extensas com o fito de diminuir a espessura do
volume.
Protestantes de algumas décadas atrás eram conhecidos como “o
povo do livro da capa preta” numa clara alusão à Bíblia Sagrada que
carregavam sob os braços rumo à igreja. Hoje em dia isso já não é tão verdade
2 Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Design do Departamento de Artes & Design do Centro de Tecnologia e
Ciências Humanas na Pontifície Universidade Católica do Rio de Janeiro.3 Período de atuação dos padres da Igreja que se estende até o século VII ou VIII segundo alguns historiadores.4 Assim como o e-book é a versão eletrônica de um livro e-bible é a versão eletrônica da Bíblia Sagrada que se apresenta em vários idiomas inclusive nos idiomas originais em que foram escritos assim como em várias versões isso tudo podendo ser acessado de um único equipamento eletrônico.
uma vez que as editoras deram às bíblias novas “caras” e novas “roupagens”
coloridas e com design moderno.
Esses cristãos perderam ou perderão a santidade ao carregarem para
o culto uma Bíblia Sagrada colorida ou eletrônica? Profanarão o nome de Deus
ao projetarem trechos do texto sagrado durante o culto? Como o mundo
enxergará o cristão que irá para o culto sem “o livro da capa preta” carregando,
apenas, um equipamento eletrônico do tamanho de um “palm-top” que ele
próprio (o cristão) chamará de Bíblia?
Caberá aos líderes religiosos das mais diversas denominações que
utilizam a Bíblia Sagrada como manual de fé trabalhar essas questões na sua
comunidade tendo a certeza de que essa transformação é um processo
irreversível assim como foi e ainda é a forma como os cristãos apresentavam
suas ofertas: da ovelha ainda viva ou parte da colheita, passando pelo dinheiro
depois pelo cheque e hoje com o cartão de crédito ou de débito.
Os versículos 22 e 23 do livro de Deuteronômio traz um texto sobre o
dízimo:
²²Certamente darás os dízimos de todo o fruto da tua semente, que
cada ano se recolher do campo.
²³E, perante o SENHOR teu Deus, no lugar que escolher para ali fazer
habitar o seu nome, comerás os dízimos do teu grão, do teu mosto e
do teu azeite, e os primogênitos das tuas vacas e das tuas ovelhas;
para que aprendas a temer ao SENHOR teu Deus todos os dias.
Esse texto bíblico foi escrito em uma época em que os principais meios
de produção eram a pecuária e a agricultura, ou seja, não se poderia pedir
dízimo em forma de roupas, calçados, produtos manufaturados ou
industrializados até porque a Revolução Industrial teve início no século XVIII.
Obviamente que esses meios de produção estão muito longe da
realidade dos grandes centros em pleno século XXI. Imaginem alguém indo à
igreja levando consigo, no seu carro, uma ovelha viva para entregá-la como
dízimo? Essa prática foi substituída, gradativamente, pelo dinheiro.
O cheque foi implantado no Brasil por volta de 1845 porém ainda é
recente em nossa memória o fato de que os trabalhadores (operários)
recebiam seus pagamentos em dinheiro dentro de envelopes, ou seja, o
cheque era apenas para os mais abastados e exatamente por esse motivo
demorou para chegar nas igrejas na forma de dízimo. Para se conseguir talão
de cheques os bancos exigiam depósitos de grandes quantias e
movimentações financeiras constantes o que estava totalmente fora da
realidade da classe trabalhadora que representava e ainda representa grande
parte da membresia das igrejas.
Nessa mesma seara o cartão de crédito e débito substituíram,
paulatinamente, o uso dos cheques até por conta de questões ecológicas
portanto, o uso do dinheiro e do cheque foi e ainda está perdendo espaço para
o (como dizem os americanos) dinheiro de plástico, ou seja, a modalidade
cartão.
Essa mudança de comportamento tanto no uso dos textos bíblicos seja
no papel ou na forma eletrônica e a forma de “dizimar” acompanha as
mudanças da sociedade sem, contudo, configurar pecado ou heresia
significando apenas uma mudança e nunca uma violação dos preceitos de
Deus.
Assembleia de Deus – Ministério de Santo André
São Bernardo do Campo - Demarchi
agosto de 2012