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Psicologa Reflexo e Crtica
Universidad Federal do Rio Grande do Sul
ISSN: 0102-7972
BRASIL
2000
Marina Rezende Bazon / Zlia Maria Mendes Biasoli-Alves
TRANSFORMING YOUTH CARE WORKERS INTO EDUCATORS: A
DEVELOPMENTAL PERSPECTIVE
Psicologa Reflexao e Crtica, ao/vol. 13, nmero 001
Universidad Federal do Rio Grande do Sul
Puerto Alegre, Brasil
pp. 0
PSICOLOGA REFLEXAO E CRTICA
REVISTA DE LA UNIVERSIDAD FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL / PUERTO ALEGRE,
BRASIL
/ ISSN 0102-7972
A transformao de monitores em
educadores: uma questo de
desenvolvimento Marina Rezende Bazon
1
Zlia Maria Mendes Biasoli-Alves
Universidade de So Paulo/Ribeiro Preto
Resumo
O presente estudo tem por objetivo apresentar e discutir modelos de desenvolvimento
profissional, na rea da interveno psicossocial, que analisam o processo de aquisio de
competncia, bem como as necessidades, do trabalhador que atua e compartilha a rotina
institucional com jovens considerados em situao de risco. As autoras contestam a eficincia do
modelo de desenvolvimento linear idealizado teoricamente, baseado unicamente no tempo de
experincia prtica e ressaltam o vnculo existente entre a formao em servio e a progresso
na direo de estgios de desenvolvimento mais eficientes.
Palavras-chave: monitor-educador; desenvolvimento profissional; formao em servio;
qualidade de interveno.
Transforming youth care workers into educators: a developmental perspective
Abstract
This study presents professional development models, in the psychosocial area, which analyse
the process of competences acquisition, the needs of child and youth care workers who share
the everyday tasks of institutional routine with persons considered at risk. The authors dispute
the linear development model efficiency, which is based just on the length of practice, and stress
aspects of professional development in psychosocial intervention showing the link between
ongoing education and progression to more efficient developmental stages.
Keywords: child and youth care workers; professional development; continuum education;
practice quality.
Independente da origem scio-econmica, o cuidado despendido s crianas tem sido cada vez
mais compartilhado entre famlias e instituies. Por outro lado, as marcantes diferenas scio-
econmicas, inerentes diviso de classes sociais, parece determinar o tipo e a qualidade dos
servios oferecidos, por intermdio de prticas diversas que podem incorrer na produo e
reproduo de determinados riscos, orientando sua clientela, desde muito cedo, para trajetrias
educacionais enriquecedoras ou empobrecedoras (Rosemberg, 1995). Em se tratando de uma
clientela considerada em risco crianas abandonadas, em situao de rua, vtimas ou autores
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de violncias a questo da qualidade do atendimento despendido ainda mais preocupante se
consideradas as suas necessidades, muitas vezes, especiais e pungentes.
Retomando rapidamente a histria desse atendimento no Brasil, cumpre destacar que o
gerenciamento e implementao dos servios saiu, gradativamente, do completo domnio da
igreja, passando pelo dos profissionais filantropos, at chegar s mos do Estado. Esse tornar-
se-ia o grande interventor e o principal responsvel pela assistncia e proteo infncia pobre
e desviante (Marclio, 1998), sem, contudo, eliminar a influncia e interferncia do pensamento
e aes defendidos pelos dois grupos que o antecederam uma vez que os trs tinham mais
pontos em comum, do que discordantes, concernindo os projetos na rea.
Gomes da Costa (1994) e Vasconcelos (1997) afirmam que possvel perceber que a ateno
despendida a essa clientela sempre esteve marcada por objetivos de controle social, atualizados
nas prticas de carter correcional-repressivo e assitencialista, que se alternaram e se
mesclaram ao longo de diferentes fases da assistncia social. Rizzini (1990) e Marclio (1998)
colocam que, quando muito, aventava-se o emprego de uma abordagem do tipo educativa,
calcada, entretanto, na noo de disciplina e na orientao de "crianas e adolescentes
desvalidos" para o trabalho, a fim de torn-los produtivos aos olhos do sistema
Como pano de fundo, importante lembrar que as polticas pblicas estabeleciam e orientavam-
se por um ntida separao da categoria crianas e adolescentes daquela que passou a ser
denominada menor. primeira cabiam aes no mbito da sade e da educao; Aos menores,
aes de guarda, conteno e correo (Garcia Mendez, 1994). Somente em 1990, com o
Estatuto da Criana e do Adolescente (1990), rompe-se com esse panorama de distino na
concepo scio-jurdica de infncia e juventude. Apesar de essencial, essa transformao no
teria sido suficiente para alterar a realidade dos atendimentos, no cotidiano dos servios de
ateno direta, a ponto de redefinir as relaes com essa parcela da populao, tratando-a como
sujeito de Direito (Sda, 1993).
Embora parte do problema ainda possa ser vinculado insuficincia ou inexistncia de oferta de
servios especializados (Mendez, 1994), a dificuldade maior parece residir no grau de qualidade,
em termos de organizao e funcionamento, dessas instituies. Servindo-se de alguns critrios
sugeridos por Rosemberg (1995), no mbito de suas reflexes sobre creches, as instituies de
assistncia social podem ser avaliadas atravs de alguns indicadores, dentre os quais so
destacados: a) A razo adulto-criana; b) O tempo de permanncia diria e/ou total na
instituio; c) As relaes de gnero que ocorrem no espao pblico; d) O ndice de turnover do
quadro funcional; e, e) O nvel de formao dos funcionrios que atuam diretamente junto
clientela. Evidentemente, os equipamentos de menor qualidade seriam aqueles avaliados
negativamente em todos esses indicadores.
Mesmo compreendendo o forte entrelaamento entre todas essas variveis, no presente artigo
aborda-se de forma especfica o item relativo competncia do pessoal envolvido na prtica
cotidiana destas instituies, cuja funo, em nosso contexto cultural, define-se pelo ttulo de
"monitor", e que na prtica encarrega-se dos cuidados e da educao cotidiana de crianas e
adolescentes vivendo em situao de risco para o prprio desenvolvimento pessoal e social. O
interesse por esse item concerne formao recebida e aos treinamentos em servio, supondo
que esse aspecto seja aquele que, na atual conjuntura, demande mais esforos para sua
implementao uma vez que esses trabalhadores de linha de frente cultivaram ou foram
cultivados em meio a hbitos propensos a desservir essa clientela.
Vale lembrar que o termo monitor empregado, neste trabalho, enquanto sinnimo de
educador, e eqivale denominao child and youth care worker, utilizado pela literatura
especializada americana, quando refere-se ao profissional de nvel tcnico que trabalha nessa
rea da interveno psicossocial, bem como ao ducateur spcialis referido na literatura de
lngua francesa (europia e canadense), quando trata do trabalhador de nvel tcnico e
universitrio, atuando na mesma rea.
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O Trabalho Educativo no Cotidiano das Instituies do Bem-Estar Social
Embora seja atribudo o carter de insignificante s tarefas realizadas pelo profissional que
implementa o dia a dia das instituies, o compartilhar de experincias de vida com crianas e
adolescentes reveste-se de uma carga cuja orientao e intensidade pode tanto promover o
desenvolvimento psicossocial de sua clientela, como curto-circuit-lo (Justo, 1997). O monitor
que, pela prpria natureza do seu trabalho, um educador, e atua diretamente junto aos
jovens, vivencia a escassez de oportunidades para se formar e, at mesmo, para se reciclar.
Mais do que grandes explicaes tericas, o educador necessitaria sentir-se guiado em suas
aes cotidianas de modo a compreender o impacto que seus gestos podem ter, e dar um
sentido s suas aes rotineiras. Contudo, quando o treinamento proposto, este nem sempre
decorre do levantamento das necessidades sentidas por esse profissional da rotina institucional
(Boisvert, 1990). Embora no haja abundncia de estudos nesta rea, a preocupao com a
prtica deste profissional, em determinadas culturas, data de muito tempo. Lebon (1996) cita
uma srie de estudos pertinentes, que vm de 1746, 1850, 1951, 1970 a 1978, destacando os
respectivos nomes: Henri Pestalozzi, Edouard Sguin, Redl e Wineman, Jeninne Guindon e Gilles
Gendreau.
Alguns pases, como por exemplo o Canad e a Frana, empenham-se h anos na elaborao de
um modelo de formao especfica para educadores, seja de um nvel tcnico ou universitrio,
sustentando a hiptese de que a qualidade dos servios destinados infncia e adolescncia em
situao de risco correlaciona-se de maneira estreita ao valor de seu quadro funcional
(Gendreau, 1978). Paralelamente, alguns estudos no Brasil (Bandeira, Koller, Hutz & Forster,
1995; Bierrenbach, 1987; Fauser, Gerolamo & Marazina, 1989; Figueiredo, 1987) comeam a
apontar nesta mesma direo, ressaltando que a figura do monitor um elemento central para o
sucesso do trabalho com essas crianas e adolescentes e que, para tanto, os programas devem
prever um espao de compartilhamento de dvidas e experincias, e recebimento de
acompanhamento.
Apesar destes indcios, as aplicaes em pesquisa e em formao tm negligenciado
sistematicamente a figura deste profissional, acentuando o investimento no trabalho de
interveno psicossocial desenvolvido, unicamente, poir especialistas: psiclogos, pedagogos,
assistenses sociais, terapeutas ocupacionais, etc.. Em funo disto, o objetivo deste artigo est
em apresentar modelos de desenvolvimento profissional para pessoas que atuam na rea da
interveno psicossocial, contrapondo-os e visando a discutir as contribuies que eles trazem e
as conseqncias na adoo de um ou de outro modelo.
O Desenvolvimento Profissional de Monitores-Educadores
Os estudos sobre o desenvolvimento profissional tendem a descrever as caractersticas de certas
etapas existentes ao longo da carreira, e buscam apreender o papel desempenhado pela
experincia na aquisio de competncia. preciso considerar que a experincia, aqui, no um
termo que se refere somente ao exerccio temporal da profisso mas, principalmente, maneira
como as expectativas e imagens preconcebidas so contrariadas, refinadas e/ou confirmadas em
funo das vivncias do trabalhador (Benner, 1984; Hills, 1989).
No que tange interveno psicossocial, grande parte dos estudos j realizados visaram
apreender as necessidades vividas em momentos particulares da trajetria profissional (Hills,
1989; Moscrip & Brown, 1989; Sarata, 1979; Sheahan, Garber, Graf, Hoffman, Mitchell &
Stingley, 1987; Vander Ven, 1979), e os trabalhos afirmam que retraar as etapas do
desenvolvimento profissional permite antecipar certas reaes que os educadores teriam face
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aos desafios cognitivos e afetivos impostos pela profisso, podendo servir de guia para a
implementao de discusses e supervises, cujo intuito seja o de engendrar maior
competncia.
Um Modelo Linear de Desenvolvimento Profissional
Uma anlise dos trabalhos produzidos nos Estados Unidos sobre o desenvolvimento profissional
do educador de nvel tcnico (Bazon, 1995) mostra a existncia subjacente de um modelo linear
crescente, em que cada estgio da vida profissional qualitativamente superior ao anterior em
termos de maturidade e competncia. De modo sucinto, eles poderiam ser descritos da seguinte
maneira:
- Um primeiro estgio de desenvolvimento profissional, caracterizado por um comportamento
que pareceria manifestar uma falta de maturidade, traduzindo uma percepo bastante
subjetiva da realidade, uma dificuldade notria de analisar as situaes complexas em todas as
suas nuances e a incapacidade de se relacionar com a clientela sem o risco de fundir-se a ela,
superestimando os poderes da afetividade e definindo centralizaes de interveno com base
em suas prprias necessidades.
- Em seguida, por conta do tempo e da experincia, a prtica profissional do educador reflete
um ganho em matria de maturidade: ele adquiriria uma viso mais objetiva de si mesmo e do
outro sendo, ento, capaz de distinguir melhor suas necessidades das de sua clientela. Neste
momento, o educador tambm comea a ser capaz de trabalhar em equipe, buscando a
coerncia das suas aes e das de seus colegas.
- No estgio seguinte, observa-se um educador bastante maduro, demonstrando muita
confiana em suas habilidades para trabalhar na rea. Esse profissional teria feito, por assim
dizer, uma sntese da experincia prtica com as teorias e conceitos com os quais tenha,
eventualmente, entrado em contato. Neste sentido, notar-se-ia o anseio de consolidar seus
conhecimentos e o saber-fazer (know how) inerentes profisso.
- Por fim, o educador, neste quarto estgio de desenvolvimento, torna-se "um especialista" das
intervenes psicossociais no cotidiano, com uma conscincia clara de seu papel profissional e
com desejos de expandir sua rea de atuao.
Assim descritos os estgios de desenvolvimento profissional propostos pela literatura americana,
importante dizer que a maior parte dos estudos privilegiam a caracterizao das primeiras
fases nesta profisso, tendendo a negligenciar as etapas mais avanadas ao propor
caracterizaes menos aprofundadas (Bazon, 1995; Mtayer, 1988).
De qualquer forma, os dados da literatura deixam transparecer uma concepo um tanto
idealizada do desenvolvimento profissional, hipotetizando um educador desejoso e capaz de uma
evoluo profissional, sem nunca colocar em questo os contextos em que se pratica, ou as
eventuais crises face s dificuldades encontradas na rea. Autores como Sutton (1977) e Sarata
(1979), apesar de abordarem o tema das dificuldades, das insatisfaes e das dvidas relativas
ao trabalho, parecem considerar a existncia de tais fatores somente para os primeiros
momentos dentro da carreira. preciso ressaltar que a literatura sugere um modelo baseado em
dados fornecidos essencialmente por supervisores e coordenadores dos servios, ou ainda, na
prpria experincia refletida.
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Um Modelo de Desenvolvimento Profissional no to Linear
Contrariando esse modelo linear, uma pesquisa (Bazon, 1995) realizada junto a educadores na
ativa, com nvel de formao tcnica e universitria, tomando por base o contexto do Canada
Francs, revela um desenvolvimento profissional menos linear e progressivo que o descrito
anteriormente, que poderia ser caracterizado como mais terico. A sntese e organizao dos
dados colhidos por meio de entrevistas e questionrios, junto a 56 educadores trabalhando na
rea por um tempo que variava do mnimo de um a quinze anos de experincia, atuando
prioritariamente em casas abrigo, internatos para adolescentes em conflito com a Lei e centros
comunitrios de lazer e educao, apontam para aspectos da vida profissional que parecem
impregnar as diferentes fases do desenvolvimento:
- Ao longo dos primeiros anos de experincia profissional, os educadores denotam caractersticas
de funcionamento semelhantes ao sugerido pela literatura: Falam de sua insegurana frente
clientela e, sobretudo, frente aos colegas mais experientes. Tambm demonstram que a
maturidade no parece, ainda, suficiente para vislumbrar objetivamente as situaes e centrar
as intervenes sobre as necessidades do outro.
- Nos anos subseqentes, apesar da aquisio de um know how e de maior autoconfiana, os
educadores investigados demonstram certa rigidez na aplicao de normas e tcnicas
aprendidas, sem fazer muita distino entre os vrios tipos de demanda, de acordo com as
situaes. Paralelamente, eles continuam se pronunciando sobre certo sentimento de desnimo,
de insatisfao e de impotncia, colocando em questo a prpria escolha profissional. Tambm
relatam dificuldades de trabalho em equipe, e falam da distncia entre a teoria e a prtica,
dizendo pautar-se muito mais pela intuio do que por um referencial terico.
- Numa etapa seguinte, aparece um educador ansioso por desenvolver uma prtica coerente,
efetivamente fundamentada em referenciais tericos que lhe permitam uma compreenso mais
aprofundada das necessidades do outro. A anlise sugere que este dado estaria correlacionado
ausncia de um acompanhamento ou de uma superviso regular, cujo apoio constantemente
reclamado pelos profissionais, independentemente do nmero de anos na profisso. Nessa fase
tambm se destaca uma reflexo sobre o (des)equilbrio entre as exigncias profissionais,
consideradas inmeras, e as necessidades pessoais, queixando-se sempre do cansao e
desnimo que esse tipo de trabalho produz.
- Por fim, o educador apesar de demonstrar flexibilidade e competncia nas intervenes, revela
certo desalento por considerar que pouco pode fazer face s problemticas com as quais se
depara, uma vez que parece compreender que as causas ali subjacentes escapam ao por ele
empreendida. Assim, persistem as sensaes de fadiga e o sentimento de impotncia relativo ao
trabalho, bem como de existncia de um desequilbrio entre as demandas profissionais e as
necessidades pessoais. Denota-se um desejo de avanar na carreira, porm questiona-se as
possibilidades.
Comparando os dois modelos, obviamente que eles tm semelhanas e diferenas. Contudo
possvel afirmar que o segundo traz um avano em relao ao primeiro, principalmente, no que
diz respeito aquisio de maturidade que permite perceber melhor a clientela em suas
necessidades. Entretanto, a trajetria sugerida por aqueles que esto efetivamente na prtica
cotidiana, implementando a rotina dos servios de ateno direta, aponta para aspectos
negativos e dificuldades/necessidades que permanecem vivas ao longo de todas as etapas
profissionais, e que nem mesmo so listadas pelos tericos.
Um fator ligado s dificuldades, claramente mencionado pelos educadores, independente do seu
nvel inicial de instruo tcnico ou universitrio - consiste na ausncia de um
acompanhamento ou de uma superviso regular, ao longo da carreira, que lhes permita
estabelecer uma espcie de distncia emocional que ajude a evitar o desgaste e o sentimento de
impotncia, aos quais se referem, em todos os momentos investigados.
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Outros fatores correlacionados, de acordo com os relatos, seriam: A degradao do contexto
social em que as problemticas so engendradas, confrontando os educadores com questes
cada vez mais complexas; as intercorrncias polticas, lembradas enquanto aspectos que
dificultam a estabilidade necessria para a implementao e manuteno de um dado programa,
respaldado num modelo de interveno especfico; a flutuao de pessoal no interior dos
servios, citada como obstculo para o trabalho em equipe.
Um estudo ainda mais recente (Bazon & Biasoli-Alves, 1998) aponta nesta mesma direo.
Coordenadoras (educadoras-monitoras) de servios destinados proteo de crianas e
adolescentes considerados em situao de risco, apesar dos vrios anos de trabalho no dia a dia
dessas instituies (todas com mais de doze anos de prtica), revelam, majoritariamente,
elementos de funcionamento tpicos dos primeiros estgios de desenvolvimento profissional, e
falam das dificuldades e crises que permeiam periodicamente suas prticas. Por outro lado, aps
um dado perodo recebendo acompanhamento e superviso, de forma contnua, as mesmas
demonstram progresso na linha dos estgios mais avanados, embora ainda se queixem das
dificuldades inerentes ao trabalho e impostas pelo contexto que o circunda. Esses dados vm,
ento, corroboram a idia de que de fundamental importncia a formao e o apoio oferecidos
em servio, nos moldes de um acompanhamento ou superviso continuados, vinculado as suas
dificuldades/necessidades mais especficas, em detrimento do puro e simples exerccio temporal
da profisso.
Consideraes Finais
Considerando a importncia atual de qualificar os servios de ateno direta, parece
imprescindvel colocar na pauta de discusses a figura do monitor (educador). impossvel
negar o papel que ele desempenha em termos da qualidade do atendimento oferecido, da
influncia que ele exerce na vida de crianas e adolescentes, na construo que estes ltimos
faro em termos de idias, de ideais, de auto-imagem.
Os estudos sobre o desenvolvimento profissional na rea da interveno psicossocial indicam
que a qualidade da prtica depende, em parte, do apoio que os profissionais recebem a fim de
poderem refletir sobre as experincias e ajustar-se adequadamente s necessidades da clientela.
Mais que os anos de experincia, a existncia de brechas que possibilitem uma elaborao
cognitiva e afetiva da prpria prtica, no interior do contexto de trabalho, parece ser condio
mnima necessria para o desenvolvimento profissional.
Ao contrrio, longos anos vividos no seio de instituies, sendo constantemente confrontado
com problemas e dificuldades de naturezas diversas e impedidos de se apoiarem em uma
formao que venha de encontro s suas necessidades, tende a consolidar as prticas desses
profissionais em nveis bastante insatisfatrios.
No somente por conta da clientela que se beneficia do atendimento, preocupaes dessa ordem
so vlidas quando se pensa no potencial de desenvolvimento profissional que pode no vir a se
atualizar para muitos desses trabalhadores, na restrio imposta pela dinmica do trabalho s
possibilidades de crescimento e expanso almejadas por esses agentes da educao.
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Sobre as autoras:
Marina Rezende Bazon Psicloga, Mestre em Psicoeducao pela Universidade de Montreal,
Canad, Doutora em Psicologia pela Universidade de So Paulo e Docente do Departamento de
Psicologia da Educao da FFCLRP - USP.
Zlia Maria Mendes Biasoli Alves Psicloga, Doutora em Cincias pela Universidade de So
Paulo, Professora Titular do Departamento de Psicologia e Educao da FFCLRP - USP,
credenciada junto ao Programa de Ps-Graduao em Psicologia - Coordenadora dos binios
maro de 1997 a abril de 1999 e maio de 1999 a abril de 2000, Coordenadora do Grupo de
Pesquisa CNPq "Famlia e Socializao: Processos, modelos e momnetos no contato entre
geraes."
1
Endereo para correspondncia: Departamento de Psicologia e Educao, Faculdade de
Filosofia, Cincias e Letras de Ribeiro Preto, USP, Av. Bandeirantes, 3900, Ribeiro Preto, SP,
14040-901. E-mail:
Universidad Autnoma del Estado de Mxico
meiros