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REPRESENTAÇÃO, CATEGORIA COGNITIVA E DESENHO INFANTIL

Um estudo para o ensino de desenho a crianças cegas1

Maria Lúcia Batezat Duarte2

CAPES/UDESC

Nós somos tão habituados a trabalhar com imagens mentais visuais, que

somos capazes de esquecer que estas imagens não são produtos unicamente da

nossa mente. Elas estão lá, na mente, a nossa disposição, porque um dia, ao menos

uma vez, nós as percebemos com o nosso aparelho visual. Mesmo se estivermos

em estado de devaneio imaginativo próprio, ou provocado por um relato que

descreve alguém ou algum lugar que nunca vimos, a imagem que nossa mente

constrói desse personagem ou espaço desconhecidos é produto de uma

combinação de imagens visuais de nosso repertório mental (Vygotsky,1982). São

velhas imagens interagindo para criar uma imagem nova. Construímos a partir da

vida fetal, o imenso arquivo de imagens (sonoras, táteis, visuais,...) com o qual

processamos nossos pensamentos.

O presente estudo reporta-se à pesquisa na qual está sendo construído um

método de ensino de desenho (esquemas gráficos) para crianças cegas (Duarte,

2002-2006). Os resultados positivos de um estudo de caso .(Duarte, 2004-A, 2004-

B; Duarte e Klug, 2005; Duarte e Valente, 2005) e a intenção de estender essa

prática docente a outras crianças com a mesma impossibilidade visual, exige novas

investigações. Trata-se aqui de estabelecer fundamentos teóricos que definam a

importância da construção de imagens táteis bidimensionais como representantes

dos objetos do mundo, preservando suas principais características visuais, isto é, os

componentes formais mais significativos e diferenciadores, e a relação dimensional

entre as partes e o todo.

Duas concepções serão trabalhadas com base especialmente na psicologia

cognitiva: a concepção de representação, e a concepção de categorias e níveis

cognitivos. A concepção de esquemas gráficos infantis será fundamentada a partir

1 Este texto é parte do relatório de Pós-Doutoramento realizado na Université Paris-1, Sorbonne,

junto ao Centre de Recherche Images, Cultures et Cognition (CRICC). Foi publicado em 2007 In: ROCHA, Cleomar (org) Anais do 15° Encontro Nacional da ANPAP Arte: limites e contaminações. Salvador: ANPAP, 2007. p.468-481. 2 Maria Lúcia Batezat Duarte é professora dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade do Estado de Santa Catarina, UDESC.

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da modelização proposta por Bernard Darras (1996, 1998, 2003) tendo como

parâmetros a semiótica cognitiva dialógica, a comunicação visual e a arte.

1. Pressupostos:

Em 1996 Bernard Darras publicou obra capital que proporciona profunda

mudança paradigmática no âmbito do desenho infantil. Quase um século após a

teoria de Georges-Henri Luquet, Darras recolocava a França no centro da discussão

dessa produção gráfica profundamente significativa ao desenvolvimento humano

tanto do ponto de vista filogenético quanto ontogenético. São basicamente duas as

razões para a elaboração desse novo enfoque: a concepção do desenho infantil com

finalidade comunicacional, e não artística como compreenderam os teóricos norte-

americanos durante décadas; e a instauração de uma tópica para o desenho,

enquanto representação imagética, nos complexos processos da mente e da

cognição humana (Darras, 1996).

Estudando desenvolvimento do desenho infantil mas realizando uma

modelização desse desenvolvimento diversa daquelas propostas por Piaget ou

mesmo Luquet (que seguem o modelo da escada, isto é, a superação de cada

etapa implicando o acesso a um novo patamar de conhecimento), Darras propõe um

modelo de simultaneidades no qual as características gráficas não são

simplesmente superadas mas alteradas, revisadas, revisitadas de acordo com as

necessidades comunicacionais e socioculturais das crianças. (Darras e

Kindler,1997). Para além das questões impostas pela abordagem

desenvolvimentista, o trabalho de Darras requer uma re-significação da própria

prática do desenho. À pergunta “Por que as crianças desenham”, a resposta de

Darras é: Desenham para se comunicar com os outros sujeitos na cultura.

Deste modo, o ato de desenhar deixa de ser visto à margem da socialização e

educação do sujeito, na sua primeira idade, para encontrar um lugar bem no centro

do seu desenvolvimento social. Um lugar igual, paralelo, e tão importante quanto

aquele do desenvolvimento da fala ou da escrita. O sujeito que se constitui e se

desenvolve com e na linguagem ganha, na teoria de Darras, um outro instrumento

comunicacional: a representação gráfica. Requer considerar que a importância do

desenho infantil já havia sido historicamente reconhecida por Luquet, Piaget, Wallon,

Vygotski no âmbito da psicologia, mas também por Arnheim, surpreendentemente,

no campo das artes plásticas. Entretanto, a partir das pesquisas de Darras a função

do desenho infantil pôde ser completamente delineada.

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Trabalhando à luz da semiótica cognitiva dialógica e suas ligações com as

ciências cognitivas e a neurologia, Darras reencontra o desenho infantil em sua força

comunicativa, mas também como elemento cognitivo capaz de produzir sentidos,

generalizações, compreensões dos objetos do mundo. A partir deste referencial é

possível asseverar que a criança ao desenhar um gato, por exemplo, não realiza

apenas um desenho “bonitinho” do gatinho com o qual ela brincou na casa de sua

tia. Para além do desenho, ela realiza uma compreensão de uma categoria

semântica que, por generalização, esquematização e neutralização, abarca todos os

gatos do reino animal. Ela apreende e passa a distinguir um gato de um cão ou de

uma outra classe de animais quadrúpedes. Desenhando e vendo imagens visuais

veiculadas por todas as mídias, a criança se prepara para as generalizações e

abstrações exigidas pela fala e pela escrita.

2. A representação e a imagem

A primeira concepção que este estudo requer é aquela de representação. A

partir dessa concepção acredita-se ser possível reencontrar a prática do desenho

infantil e, nesse reencontro, o imperativo de torná-la acessível às crianças que não

vêem a fim de que, por meio de imagens táteis possam iniciar, desenhando, um

contato com imagens bidimensionais e com códigos cognitivos comunicacionais

próprios da visualidade.

A atividade representativa, isto é, a construção de representações mentais, se

aplica à pluralidade de entidades do mundo cuja unidade é o objeto e é construída

como instância teórica (processo mental, episteme) pelos sujeitos, eles mesmos

objeto dessa atividade em suas facetas intra e interpessoais. “...toda a experiência

possível e imaginável, todo o conhecimento, empírico ou racional, é sustentado pela

representação.” (Doron, Parot, 1991, 2005, p. 625). Enquanto processo, a

“representação” é definida, de modo geral, como o ato pelo qual um material

concreto (uma entidade) é organizado em categorias ou “objetos do pensamento”.

Enquanto produto, a representação é o próprio conteúdo do ato de pensamento,

quer ele seja consciente ou não. O termo representação e sua concepção

constituem assim um ponto nodal para todos os estudos sobre mente,

conhecimento, cognição e linguagem.

O neurologista Antônio Damásio usa o termo representação como sinônimo

para imagem mental, padrão mental ou padrão neural. Ele denomina imagem e/ou

representação todo o padrão neural configurado seja qual for sua fonte perceptiva:

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visual, olfativa, gustativa, tátil ou somatossensorial. Para esse pesquisador

representação é todo “padrão que é consistentemente relacionado a algo” (Damásio,

1999, p. 404). Damásio relativiza completamente a relação de correspondência que

estamos habituados a estabelecer entre representação e imagem visual. Ele

esclarece que uma representação não é produto direto de uma analogia ou uma

reprodução mais ou menos fiel da imagem do objeto no cérebro. Ela é o resultado

de toda uma interação do organismo com o objeto representado. Nessa interação

atuam todos os sistemas perceptivos, incluindo igualmente, por exemplo, a retina, os

músculos ou as vísceras. Deste modo, aquela sensação de frio na barriga que eu ou

você sentimos quando vemos uma cobra é, provavelmente, parte integrante de

nossa representação mental para o objeto cobra. A representação mental é uma

ausência da materialidade do objeto ao mesmo tempo em que é sua presença na

consciência. É uma imagem desmaterializada, fluída, um conjunto de sinais

elétricos, de energia, formando redes neurais no cérebro. Nesse sentido também é

pertinente dizer que a representação é uma “codificação das significações e dos

conhecimentos” (Bideau, Houdé, Pedinielli, 1993, 2004, p.315).

Objeto de estudo nos vastos campos das ciências humanas e biológicas, a

concepção de representação ganha, especialmente na psicologia, relevância

definitiva. Neste âmbito são várias as teorias e abordagens que lhe conferem uma

ou outra precisão terminológica em função de um enfoque mais ou menos

específico. É no quadro dos “modelos de representação elaborada” e em uma de

suas quatro grandes categorias, aquela dos “modelos de conhecimento distribuído”

que se encontra a base teórica ao trabalho de Darras sobre a cognição relativa ao

desenhar infantil (Ver para isso: Doron, Parot, 1991, 2005, p. 736). Esse modelo

concebido por Eleanor Rosch, psicóloga norte-americana, aborda a natureza

categorial das representações constituindo uma teoria dos tipos e dos protótipos

representacionais.

Eleanor Rosch (1978) utilizou o termo “tipicalidade” para significar que entre

as entidades de uma mesma categoria natural existem aquelas que a representam

melhor, são mais típicas. Por exemplo: um pardal representa melhor a categoria

pássaros do que um pelicano ou uma coruja. A este exemplar “melhor” de sua

categoria, Rosch denominou “protótipo”. Essa pesquisa pioneira é fundamento para

infinitas pesquisas até os dias de hoje, especialmente aquelas que utilizam como

referentes imagens visuais de categorias de objetos. “A tipicalidade constitui uma

variável que exerce influência sobre a quase totalidade das variáveis dependentes

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concernentes à linguagem e aos processos simbólicos (facilidade de aquisição de

conceitos, tempos de reação, transferência de aprendizagem, etc)” (Doron, Parot,

1991, 2005, p. 736). Numerosos estudos têm demonstrado que os “protótipos” são

utilizados como padrões (standards) na seleção e identificação dos elementos

desconhecidos durante os processos mentais de percepção, memória e linguagem.

A intenção de ensinar desenho às crianças cegas tem como um dos objetivos

fornecer-lhes esses protótipos bidimensionais e táteis de reconhecimento e

identificação de categorias de objetos, considerando-os um elemento a mais, uma

possibilidade de novas informações, atuando em seus processos cognitivos.

No âmbito das imagens visuais comunicacionais, Darras denomina

“iconotipos” os protótipos com os quais Eleanor Rosch constitui o nível de base das

categorias cognitivas. Nesse estudo, que se refere exclusivamente ao desenho

infantil, estaremos mantendo o termo “esquemas gráficos” (Duarte, 1995, 2004).

Estabelece-se assim uma hierarquia de domínios: Rosch denomina “protótipos” as

entidades componentes do nível de base cognitivo; Darras denomina “iconotipos” os

protótipos específicos à produção imagética visual; e, ao subconjunto da imageria

visual composto pelos desenhos esquemáticos infantis denomina-se “esquemas

gráficos”, seguindo a nomenclatura já utilizada também por Arnheim e outros.

3. A imagem e a mente

A imagem visual é, primeiro, um produto do aparelho visual reagindo sobre

um objeto dado à sensação perceptiva visual. É necessário possuir um aparelho

visual padrão e ir construindo a experiência da visualidade nos primeiros meses de

vida, para que os sujeitos sejam capazes de formar imagens visuais mentais dos

objetos durante o ato perceptivo e, depois, como memória. Os sujeitos que nascem

cegos, mas adquirem a visualidade após vários anos de vida, enfrentam inúmeras

dificuldades e um longo aprendizado para passarem a estabelecer uma relação

correta entre um olho que vê e um cérebro que configura com adequação essa

visualidade (Sacks, 1995).

A aprendizagem para a visualidade ocorre simultaneamente com o

amadurecimento da aparelhagem visual cerebral. Quando nasce a criança vê

apenas contornos, sombras dos objetos. Passo a passo, durante os primeiros meses

de vida, aprimoram-se simultaneamente o funcionamento da aparelhagem visual e a

capacidade humana de reconhecer e decodificar imagens no cérebro. No primeiro

ano a visualidade do bebê é próxima a cinqüenta por cento em relação à capacidade

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visual plena e, apenas entre os quatro e seis anos de vida, a criança atinge a sua

capacidade visual total (Guidetti, Tourrette, 1999, 2004, p.85).

As manchas e sombras que a criança vê no primeiro mês de vida são,

poderíamos dizer, similares aos quali-signos que na teoria semiótica de Peirce

nomeiam metaforicamente os objetos que os sujeitos concebem ou visualizam ao

longe, sem definição, apenas como manchas de cor. As figuras surgem, recortadas

pela sua linha de contorno, em um fundo múltiplo e difuso. Na ontogênese humana é

assim, meio planificada, diluída e simplificada, a primeira experiência com a

visualidade.

Testes com IMRf (Imagens por ressonância magnética funcional) e TEP

(Tomografia por emissão de posítrons) têm comprovado que o ato de ver, de tornar

presente na mente (representar) uma imagem visual produzida na retina, mobiliza

áreas cerebrais muito semelhantes àquelas requisitadas no ato de atualizar imagens

mentais conhecidas e memorizadas, mas ausentes à percepção. Deste modo, é

possível considerar que a configuração mental visual dos objetos exigiria o trabalho

de redes neurais equivalentes, seja esta configuração realizada na presença do

objeto (sensação perceptiva visual) ou na sua ausência rememorada (imagem

mental visual). Com base em imagens de ressonância magnética funcional (IMRf) E.

Mellet indica evidências de imbricamentos entre informações visuo-espaciais e

imagens mentais visuais:

“A via ventral occipto-temporal responsável pela identificação dos objetos ou dos rostos [acuidade visual], é igualmente implicada quando os objetos são evocados sob a forma de uma imagem mental. (...) Esta observação parece poder ser generalizada pois Ishai et all demonstraram, por sua vez, que a geração de imagens mentais de cadeiras, casas e rostos implica as áreas específicas ativadas durante a percepção dessas mesmas categorias de objetos.” (Mellet, 2002, p.423 e em Darras, 2003, p.189)

A esse respeito, E. Mellet narra uma interessante experiência realizada por

Charles Perky. Ele posicionou os sujeitos de sua pesquisa em frente a uma placa de

vidro. A orientação fornecida requeria que eles projetassem mentalmente uma

imagem de um tomate sobre o vidro. Sem que o participante da experimentação

percebesse, o pesquisador projetava realmente a imagem de um tomate por trás do

vidro. No começo a imagem era projetada de maneira que não fosse perceptível

pelo sujeito participante da investigação, mas depois sua intensidade era

progressivamente aumentada até atingir e ultrapassar o limite normal de percepção.

Perky relata que mesmo a uma intensidade que o sujeito deveria se dar conta que

uma imagem estava realmente sendo projetada no vidro, ele continuava persuadido

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de estar observando a sua imagem mental. (Mellet, 2002, p.420-1) Essa experiência

ilustra bem a proximidade (e semelhança no âmbito mental) entre uma imagem

mental memorizada e a sensação perceptiva de uma imagem real exterior ao sujeito.

Talvez fosse possível compreender que é em meio a essa dificuldade de

discernimento entre informação visual e imagem visual mental que a criança começa

a desenhar, contando com uma aparelhagem físico-visual ainda em formação.

4. A representação e o desenho infantil

Em L’homme en développement os autores (Bideaud, Houdé, Pedinielli, 1993,

2004 p.289) apresentam uma definição de representação baseada em Piaget.

Explicitam que em senso estrito “a representação se reduz à imagem mental ou à

lembrança imaginada, quer dizer, à evocação simbólica de um objeto ou de um

acontecimento em sua ausência.” Em sentido amplo, a representação estaria

intimamente atrelada à função semiótica e a capacidade de “evocar os objetos ou

situações não percebidas no momento servindo-se de signos e símbolos”. Em se

tratando do desenvolvimento cognitivo das crianças, e ainda com base em Piaget,

os autores completam: “A representação do real físico e social começa quando

passa a existir simultaneamente diferenciação e coordenação entre os significantes

e os significados.” Isto é, quando a criança demonstra ser capaz de distinguir, por

exemplo, o desenho de uma casa (significante) de sua própria casa (o objeto

significado).

Entretanto, desde os anos 60, o psicólogo americano J. Bruner distingue,

contrariamente a Piaget ou Wallon, dois sistemas precoces de representação para

além daquele já estabelecido como “representação simbólica” (Bideaud, Houdé,

Pedinielli, 1993, 2004, p. 289). Trata-se dos sistemas de representação “inativa” e

representação “icônica”, que se instituiriam anteriormente à representação simbólica.

Como representações inativas Bruner nomeia os “padrões de ação”, por meio dos

quais a criança comunica ao meio os seus afetos e desejos (os tipos de choro que

indicam fome ou irritação, por exemplo). As representações icônicas ou imaginadas,

que surgiriam no final do primeiro ano de vida da criança, estariam ligadas aos

aspectos superficiais dos objetos e permitiriam que as crianças estabelecessem

elos, por exemplo, entre a colher e o prato de comida. A essa abordagem Bideaud,

Houdé e Pedinielli (1993, 2004, p.323-4) opõem o pensamento de Mounoud e Vinter

para os quais seria necessário, nesse caso, introduzir um novo conceito análogo ao

de representação mas não idêntico a ele. Eles sugerem os termos mapa cognitivo,

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modelo interno (segundo Luquet), traço mnemônico, ou esquema, para indicar essa

presença mental precoce dos objetos.

Quando as crianças começam a traçar linhas sobre um papel, entorno dos

dois anos de idade, muito rapidamente realizam, em seqüência, os primeiros

enclausuramento de planos construindo figuras. Aos poucos passam a identificar

seus primeiros círculos ou planos polimorfos com os objetos de seu cotidiano. São

capazes de nomear um círculo recém desenhado “totó”, indicando assim uma

possível representação do cãozinho da família. Mas, elas não costumam manter a

relação entre desenho e objeto. No dia seguinte, se questionadas, podem afirmar

que o desenho anteriormente denominado “totó” é na verdade a boneca “Lili”. Não

estabelecem, portanto, durante certo período, a necessária relação permanente

entre o objeto e seu substituto, a fim de que se estabeleça o caráter

representacional do segundo (o desenho) em direção ao primeiro (o objeto

desenhado).

Ainda que, entre seus inúmeros investimentos no ato de desenhar, a criança

evidencie estar realizando até mesmo uma tentativa de escrita, a equivalência entre

desenho e representação gráfica não se realiza imediatamente, mas apenas por

volta dos três anos, especialmente com a primeira configuração da figura humana.

Uma vez realizado o círculo da cabeça acrescido de qualquer filamento de linha que

indique o corpo (girino), a figura humana poderá ter a sua identidade alterada (papai,

vovó, tia Alice), mas a relação entre o esquema gráfico e o objeto (figura humana)

estará construída. No desenho a figura humana não será nomeada “bicicleta” apesar

de círculo e linhas serem elementos pertinentes a ambos os objetos.

Luquet (1913, 1927) nomeou “modelo interno” essa primeira permanência na

mente de um modo de desenhar um objeto. Trata-se de reconhecer que uma

memória sobre “como desenhar uma categoria de objetos” é internalizada. A

imagem mental de si próprio, e dos outros sujeitos que convivem com a criança,

ganha um substituto nos desenhos esquemáticos e representativos que ela produz.

O “modelo interno” figura humana é, no desenvolvimento infantil, seguido de outros

desenhos que ganham permanência: casa, automóvel, etc.

A informação visual, isto é, a sensação perceptiva registrada na mente como

uma primeira representação do objeto (mamãe, por exemplo) recebe, pelo desenho,

alguns múltiplos: o desenho, ele mesmo, objeto físico, substituto material do objeto

concreto; e a memória do desenho realizado, uma imagem e uma representação

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mental. Nesse processo um código comunicacional e uma referência cognitiva se

estruturam.

5. Os desenhos do “Nível de Base”

Após um período extremamente produtivo e autônomo de representação de

mundo por meio de desenhos, que se estende em geral até os cinco, seis anos de

idade, o desenho infantil começa a apresentar uma maior rigidez esquemática. Os

desenhos da infância em idade escolar adquirem características de automatização e

irreflexão. Alguns teóricos do desenhar infantil, surpresos com a falta de

originalidade artística desses desenhos acusam a escola, e seu enquadramento

social repressor, por essa perda de particularidade (Duborgel, 1976). Os esquemas

repetitivos e conhecidos por toda a sociedade ocidental sedimentam-se aos poucos

nas práticas infantis e, até onde conhecemos, não existem estudos sobre essa

passagem, esse hiato, entre o desenho mais espontâneo e autoral dos primeiros

anos, e a rigidez posterior dos esquemas repetitivos, automatizados, irreflexivos e

altamente semelhantes entre todas as crianças de mesma faixa etária.

São esses desenhos que Bernard Darras (1996) inclui no Nível de Base, uma

entre as três categorias cognitivas proposta por Eleanor Rosch (1978) e revisada à

luz dos novos fundamentos teóricos aplicados às questões da imagem visual.

Darras realizou um experimento de desenho envolvendo crianças e

professores de escolas primárias francesas. A partir de uma mesma proposição de

trabalho, crianças e professores desenharam. Esses desenhos foram misturados e

dados à classificação por faixa etária a um novo grupo de professores. Entre os 50

desenhos obtidos apenas 5 foram classificados como desenhos realizados por

adultos, sendo que na verdade eram 30 os adultos (professores) participantes da

investigação e somente 20 crianças. Em sua grande maioria os desenhos (30) foram

classificados, de acordo com sua aparência esquemática, como desenhos infantis.

Na categoria “indeterminados” foram classificados 15 desenhos. (Darras, 1996, p.15

e ss).

O que acontece com o desenhar do adulto para que ele permaneça

configurado como um desenho “infantil”? Se compreendermos com Darras (1996,

1998) ou mesmo com os dados de minha pesquisa (Duarte,1995) que o desenho de

esquemas gráficos possui acima de tudo uma função comunicacional, e verificarmos

que esses desenhos, exatamente por seu esquematismo generalizante, cumprem

perfeitamente a tarefa de comunicar (de tornar presente o objeto ausente em uma

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situação de diálogo), podemos compreender a característica de “economia cognitiva”

que esses desenhos asseveram. Isto é, eles são capazes de possibilitar uma

apresentação (representação) do objeto com um trabalho mental mínimo.

Michel Denis (in:Dortier,1998) exemplifica essa questão:Quando perguntamos

a uma pessoa se uma mosca é maior que um elefante, a resposta é imediata,

automática. Mas, se a pergunta for: Uma mosca é maior que uma abelha? A

resposta demanda certo tempo, o tempo necessário para que as duas imagens

mentais de mosca e de abelha sejam comparadas e a resposta finalmente

formulada.

O entendimento de que no primeiro caso trata-se de comparar esquemas

mentais altamente diferenciados, simplificados e generalizantes, permite identificar

facilmente as razões para a resposta rápida dada à pergunta e, também, o tempo

necessário à formulação da segunda resposta. Certo, no primeiro caso a pessoa

“responde”, no segundo caso ela “formula” uma resposta. Por quê? Como os

esquemas mentais aos quais nos referimos são altamente simplificados, eles

apresentam exatamente as características mais significativas e diferenciadoras entre

as categorias. Assim, a principal característica do inseto mosca é ser um animal

“pequeno” e a principal característica do quadrúpede elefante é ser um animal “muito

grande”. Essa diferença, “pequeno” versus “muito grande”, nossa mente identifica

rapidamente, instantaneamente. Michel Denis denomina essa resposta “resposta

automática” (in: Dortier,coord,1998, 2003, p.249).

Ainda segundo M. Denis a segunda resposta, que envolve a comparação

entre uma mosca e uma abelha, exige “um exame das duas imagens mentais [o

argüido não tem uma mosca ou uma abelha em seu campo visual] colocadas lado à

lado”. Por quê? Porque no nosso esquema altamente generalizante mosca e abelha

são dois animais bem pequenos, que voam, etc. Mosca e abelha, enquanto

esquemas do nível de base, são insetos “iguais”. Para realmente diferenciá-los é

necessário um exame mais minucioso, um trabalho cerebral com as imagens

mentais visuais.

Eleanor Rosch atribui à natureza humana essa capacidade de classificar os

objetos do mundo em grandes categorias. Muito cedo os bebês selecionam e

agrupam corretamente figuras geométricas de acordo com suas características

formais, mesmo crianças ou adultos com sérios danos cerebrais, que os impede de

aprendizagens como a fala ou a organização independente do seu cotidiano (por

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exemplo, em casos de autismo associado a outros déficits mentais) ainda assim são

capazes de agrupar objetos similares em uma mesma categoria.

Os esquemas gráficos infantis (e adultos) do nível de base guardam essa

característica semiótica: eles podem rapidamente representar toda uma categoria de

objetos. São econômicos do ponto de vista cognitivo. Sua identificação é imediata,

automática, e sua utilidade permanente. Como se, em nossa mente, um esquema

similar àquele do desenho estivesse presente há todo momento, nos auxiliando a

reconhecer e a classificar em categorias primeiras e amplas todos os objetos

apreendidos pelos nossos sentidos, pela percepção sensorial.

6. O desenho e o ato de desenhar

Vamos compreender desenho, de modo restrito, como um registro de linhas

e/ou planos sobre um suporte qualquer. O mais usual é que desenhos sejam feitos

com o auxílio de um tipo de lápis, com o qual as linhas são traçadas e os planos

delimitados. Quando desenhamos, crianças ou adultos, além da forma do objeto a

ser desenhado (se ele não estiver ao alcance de nossa vista), várias outras

memórias ou imagens mentais precisam entrar em sintonia na nossa mente.

Desenhar exige movimento do braço, antebraço, mão e dedos. Esse movimento tem

direção, dimensão, força e pressão, amplitude ou restrição. Realizar movimentos

também requer utilizar a memória do movimento; sua seqüência, direção, ritmo.

Quando realizamos um desenho habitual, já realizado várias vezes, o

movimento de traçado é rápido. Trabalhamos com uma seqüência memorizada e

muitas vezes automatizada. Pelo hábito, quem desenha pode ser capaz de agir de

modo tão automatizado e (quase) inconsciente, como você age ao dirigir seu próprio

carro ou ao escovar os seus dentes. Uma vez ou outra enquanto você desenha,

dirige, ou escova os dentes, surge em sua mente uma memória visual e motora da

tarefa que está sendo realizada: a imagem visual do desenho ou de um detalhe que

você está desenhando no momento, a consciência da dimensão do traço para

desenhar, por exemplo, a longa perna do personagem e a memória do movimento

necessário para esse alongamento.

Todos nós sabemos que quanto maior o número de vezes que realizamos

uma ação, maior é nossa capacidade para realizá-la bem. Sabemos também quanto

esforço empregamos nas primeiras vezes que a executamos (aprender a dirigir, por

exemplo) e o quanto a realizamos sem registrarmos qualquer dificuldade ou trabalho

mental consciente após um certo tempo de prática. Quando aprendemos algo,

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depois que aprendemos, parece que esquecemos o esforço do aprendizado, do

automatizado, como se para aquela atividade nosso cérebro não precisasse mais

funcionar. Não é verdade, ele funciona, mas funciona utilizando vias neurais já

construídas, mapas mentais conhecidos. Nosso cérebro funciona para realizar

tarefas já aprendidas, como nós mesmos agimos quando conhecemos bem um

trajeto que devemos percorrer para ir ao trabalho ou ao cinema: chegamos

rapidamente ao destino sem erros ou desgastes no percurso.

As crianças, e os adultos quando crianças, desenham tantas vezes, repetidas

vezes, cada esquema gráfico aprendido, que passam a fazê-lo automaticamente,

utilizando um mapa cerebral já construído e solidificado.

Outros desenhos, entretanto, exigiriam outro tipo de atividade cerebral. É

comum ouvirmos uma criança de oito ou nove anos, que desenha rapidamente suas

casas, árvores e automóveis (esquemas gráficos do nível de base), reclamar de

cansaço ou desinteresse se lhe solicitarmos que desenhe, por exemplo, o sofá da

vovó. O desenho de um elemento novo, nunca desenhado, vai exigir um trabalho

cerebral bem diferente daquele exigido pelo desenho do esquema gráfico do nível

de base. Seria como se eu solicitasse a você, um excelente motorista de

automóveis, que dirigisse um trator ou um barco a motor.

É com esse desenho padrão, simples, generalizante, passível de ser

automatizado, como todos os componentes cognitivos standards (incluídos por

Darras no nível de base das categorias cognitivas), que foi composto um quadro de

desenhos a serem ensinados para as crianças cegas. Trata-se de promover um

processo inverso de apreensão dos objetos, no qual a informação primeira não é a

sensação perceptiva visual, mas uma sensação háptica, tátil, oferecida como o

resumo possível de uma imagem visual.

7. Para concluir

Neste texto a concepção de representação foi trabalhada especialmente sob

a abordagem da psicologia cognitiva e compreendida, de acordo com esse domínio

do conhecimento, como uma “codificação [mental] das significações e dos

conhecimentos” produzida nas inter-relações dos sujeitos com os objetos no mundo

(Bideau, Houdé, Pedinielli, 1993, 2004, p.315). Enquanto imagem mental, não

importando qual a origem sensorial dessa imagem, a representação é, então, uma

marca, um traço, uma memória dos objetos e dos acontecimentos na mente.

O conceito de “protótipo” cunhado por Rosch permite compreender que

classificamos mentalmente os objetos do mundo selecionando, como recurso de

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identificação de uma classe, aquele que melhor a representa (representação) e

ainda, que esse exemplar mais adequado é utilizado como parâmetro de

compreensão para um conjunto de objetos dados (por exemplo, animais

quadrúpedes) e futuras classificações.

A concepção de “iconotipo” forjada por Darras na construção de uma

modelização específica ao universo das imagens visuais instaura, nesse universo,

um conjunto de imagens que representam de modo esquemático, generalizante e

neutro, toda uma categoria de objetos. Como um sub-conjunto dos iconotipos

identificados por Darras, destacou-se os “esquemas gráficos infantis” como

representantes classificatórios dos objetos do mundo e componentes da categoria

cognitiva denominada “nível de base”. Trata-se de uma produção que, como Darras

ressaltou, atua economicamente na qualidade de representante geral de uma classe

ou conjunto de objetos. Os “esquemas gráficos” funcionam como uma representação

gráfica e mental, e como um “paradigma” conceitual.

Indicou-se, também, a importância e a possibilidade da aprendizagem desses

“esquemas gráficos” pelas crianças cegas permitindo-lhes assim o acesso possível a

um recurso imagético comunicacional e a um recurso cognitivo básico, origem

possível de novas compreensões e aprendizagens.

Referências Bibliográficas

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