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Revista Brasielira de Orientação Profissional, 2004, 5 (1), pp. 47 - 62 47 Estou me Formando... E Agora? Reflexões e Perspectivas de Jovens Formandos Universitários 1 1 Pesquisa realizada com apoio da CNPq e da CAPES. 2 Endereço para correspondência: Instituto de Psicologia – UFRGS; Rua Ramiro Barcelos, 2600, 90035-003. Porto Alegre, RS. E- mail: [email protected]; [email protected] Marco Antônio Pereira Teixeira Universidade Federal de Santa Maria William Barbosa Gomes 2 Universidade Federal do Rio Grande do Sul RESUMO Este estudo explorou a experiência de transição universidade-mercado de trabalho entre jovens universitários em fase de conclusão de curso. Foram entrevistados seis formandos de Farmácia e seis de Odontologia, com idade variando entre 21 e 26 anos. Os depoimentos obtidos foram analisados em três etapas reflexivas denominadas de descrição, redução e interpretação. A análise adotou em seu conjunto orientações básicas da tradição fenomenológica. De acordo com a análise, as expectativas dos participantes quanto ao seu futuro profissional foram otimistas. As descrições de projetos profissionais elaborados e realistas estavam associados à crença na qualificação e na capacidade profissional. Interpretou-se que o senso de competência decorria do envolvimento dos estudantes em sua formação, especialmente em atividades práticas e não obrigatórias. Os dados sugerem que os universitários não estão sendo preparados para as tarefas de transição, apontando para a necessidade de se desenvolverem programas de atendimento a esse tipo de demanda. Palavras-chave: desenvolvimento vocacional; universitários; carreira. ABSTRACT: Finishing College... What Now? Reflections and Expectancies of Undergraduates This study explored the experience of transition from university to the labor market of undergraduates. Twelve semi-structured interviews were conducted with students from Pharmacy and Dentistry (aged 21 to 26 years). The method of analysis followed the phenomenological tradition. Overall, the students’ expectations about their professional future were optimistic. The most outstanding factors embasing professional plans were their personal beliefs about their qualification and professional capacity. This sense of competency was the result of the students’ involvement with their course activities, especially the practical and optional ones. The results indicated that the participants seem not to be prepared for the transition period. It is suggested that career guidance programs be offered to university students. Keywords: vocational development; undergraduate; career. RESUMEN: Me Estoy Graduando... ¿Y Ahora Qué? Reflexiones y Perspectivas de Jóvenes Universitarios en Formación. Este trabajo analizó la experiencia de transición universidad-mercado de trabajo entre jóvenes universitarios en la etapa de finalización de su carrera. Fueron entrevistados seis graduandos de Farmacia

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Reflexões e perspectivas de jovens formandos. Psicologia e carreira.

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Estou me Formando... E Agora? Reflexões ePerspectivas de Jovens Formandos Universitários1

1 Pesquisa realizada com apoio da CNPq e da CAPES.2 Endereço para correspondência: Instituto de Psicologia – UFRGS; Rua Ramiro Barcelos, 2600, 90035-003. Porto Alegre, RS. E-

mail: [email protected]; [email protected]

Marco Antônio Pereira TeixeiraUniversidade Federal de Santa Maria

William Barbosa Gomes2

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

RESUMOEste estudo explorou a experiência de transição universidade-mercado de trabalho entre jovensuniversitários em fase de conclusão de curso. Foram entrevistados seis formandos de Farmácia e seis deOdontologia, com idade variando entre 21 e 26 anos. Os depoimentos obtidos foram analisados em trêsetapas reflexivas denominadas de descrição, redução e interpretação. A análise adotou em seu conjuntoorientações básicas da tradição fenomenológica. De acordo com a análise, as expectativas dos participantesquanto ao seu futuro profissional foram otimistas. As descrições de projetos profissionais elaborados erealistas estavam associados à crença na qualificação e na capacidade profissional. Interpretou-se que osenso de competência decorria do envolvimento dos estudantes em sua formação, especialmente ematividades práticas e não obrigatórias. Os dados sugerem que os universitários não estão sendo preparadospara as tarefas de transição, apontando para a necessidade de se desenvolverem programas de atendimentoa esse tipo de demanda.Palavras-chave: desenvolvimento vocacional; universitários; carreira.

ABSTRACT: Finishing College... What Now? Reflections and Expectancies of UndergraduatesThis study explored the experience of transition from university to the labor market of undergraduates.Twelve semi-structured interviews were conducted with students from Pharmacy and Dentistry (aged 21to 26 years). The method of analysis followed the phenomenological tradition. Overall, the students’expectations about their professional future were optimistic. The most outstanding factors embasingprofessional plans were their personal beliefs about their qualification and professional capacity. Thissense of competency was the result of the students’ involvement with their course activities, especiallythe practical and optional ones. The results indicated that the participants seem not to be prepared for thetransition period. It is suggested that career guidance programs be offered to university students.Keywords: vocational development; undergraduate; career.

RESUMEN: Me Estoy Graduando... ¿Y Ahora Qué? Reflexiones y Perspectivas de Jóvenes Universitariosen Formación.Este trabajo analizó la experiencia de transición universidad-mercado de trabajo entre jóvenesuniversitarios en la etapa de finalización de su carrera. Fueron entrevistados seis graduandos de Farmacia

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y seis de Odontología (de entre 21 y 26 años). Las declaraciones obtenidas fueron analizadas en tresetapas reflexivas denominadas: descripción, reducción e interpretación. El proceso de análisis emprendidoen este estudio siguió la orientación del método fenomenológico. De acuerdo con el análisis, lasexpectativas de los participantes respecto de su futuro profesional fueron optimistas. La creencia en lacalificación y en la capacidad profesional fueron los factores más destacados por aquellos que poseíanproyectos profesionales más elaborados y realistas. Se interpretó que el sentido de competencia fue elresultado del mayor compromiso de los estudiantes con su propia formación, especialmente con lasactividades prácticas y con aquellas que no eran obligatorias. En vista de la falta de preparación de losjóvenes para las tareas de transición, de acuerdo con los datos, se sugiere la implantación de servicios deorientación de carrera para jóvenes universitarios.Palabras claves: desarrollo vocacional; universitarios; carrera.

Para muitos jovens adultos, o fim de um cur-so universitário significa a promessa de uma novafase de vida, marcada pelo início do exercício daprofissão escolhida. No entanto, um dos princi-pais problemas com os quais os recém-formadosse deparam é a dificuldade de ingressar no mer-cado de trabalho de suas profissões. Se há algu-mas décadas o diploma universitário era garantiapara emprego bem remunerado ou boa colocaçãono mercado de profissionais autônomos, hoje arealidade é diferente. Há uma nítida redução nonúmero de empregos oferecidos e inovações tec-nológicas transformaram profundamente o cam-po das ocupações profissionais. Por conseguinte,espera-se que o trabalhador seja mais flexível,apresentando maior repertório de habilidades ecompetências (Lassance & Sparta, 2003). Con-tudo, a responsabilidade por desenvolver as com-petências que possibilitarão atender a essademanda do mercado de trabalho tem ficado acargo do indivíduo, que é visto como responsá-vel tanto pelo seu sucesso quanto pelo seu fra-casso. Enfim, a conquista de um espaço nomercado não depende apenas de um diploma, mastambém de características pessoais, competênci-as específicas, redes de relações e capacidade deajustar-se a diferentes demandas de trabalho.

A transição da universidade para o merca-do de trabalho pode ser caracterizada como umperíodo exploratório (Super, Savickas & Super,1996), no qual o jovem investiga as possibilida-des existentes em sua profissão e procura experi-mentar-se em diferentes papéis. Embora oingresso na universidade já exija do adolescente

uma primeira especificação de seus interessesprofissionais, a escolha de um curso ainda é, paraa maioria dos jovens, uma atividade explorató-ria, não correspondendo a um projeto de vida maisrefletido e elaborado (Lassance, Gocks & Fran-cisco, 1993; Teixeira & Gomes, 2000).

A qualidade da transição reflete, ao menosem parte, o grau de comprometimento do indiví-duo com a profissão escolhida. Esse grau de com-prometimento revela-se nas suas expectativasfrente ao curso universitário, no seu envolvimen-to com as atividades de formação e nas suas ati-tudes de preparação para essa transição. Em váriosmomentos da trajetória universitária os jovensreavaliam suas expectativas, re-estabelecem ob-jetivos e - alguns sim, outros não - planejam asua transição. O que está implicado nessa transi-ção, contudo, não é apenas a formação profissio-nal ou a colocação no mercado de trabalho.Trata-se, para muitos, de um movimento maisamplo de independência do meio familiar e deestabelecimento na vida adulta, movimento esteque para a maioria dos estudantes iniciou-se naadolescência e tiveram na escolha profissional ena experiência universitária momentos significa-tivos. A conclusão do curso universitário, por-tanto, implica em uma reavaliação das escolhasrealizadas, das experiências vividas até o momen-to e, também, uma antecipação do que está porvir, tanto em termos profissionais como não pro-fissionais.

Apesar de ser um momento importante navida de muitos jovens adultos, o período de tran-sição entre a universidade e o mercado de traba-

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lho não tem recebido atenção dos pesquisadores.A maioria dos estudos ocupa-se da transição en-tre o nível médio de ensino e o mundo do traba-lho, buscando criar modelos ou mapearempiricamente trajetórias de transição (Sarriera& Teixeira, 1997; Savickas, 1999).

Quanto aos universitários, as pesquisas têmdado mais ênfase ao ajuste, à evasão, à troca decurso e à permanência na universidade. Entre osaspectos que contribuem para a permanência fo-ram citados (Gerdes & Mallinckrodt, 1994): bomdesempenho escolar, senso de desenvolvimentointelectual e congruência de valores com profes-sores e pares. Juntamente com os aspectos aca-dêmicos também contribuem a integração socialdos alunos e o ajustamento emocional (Cabrera,Castañeda, Nora & Hengstler, 1992). No Brasil,alguns estudos têm verificado que as atividadesextracurriculares (Capovilla & Santos, 2001) e oambiente acadêmico (Fior & Mercuri, 2003) sãoimportantes para o desenvolvimento pessoal dosestudantes universitários, especialmente em as-pectos como o raciocínio reflexivo e competên-cia social (Pachane, 2003).

Pesquisas relacionadas à evasão e re-opçãode curso têm indicado que, em geral, estudantesque abandonam seus cursos não possuem infor-mações suficientes sobre o curso escolhido e aspróprias atividades da profissão (Magalhães &Redivo, 1998). A decepção com os cursos, porsua vez, evidencia-se, em geral, logo no iníciodas atividades acadêmicas, resultando em desis-tências ou trocas de cursos ainda no primeiro anoda universidade (Sbardelini, 1997). No entanto,conforme sugerem Magalhães e Redivo (1998),a qualidade dos esforços de re-opção empreendi-dos pelos estudantes são questionáveis, o quesugere que parte dos jovens apresenta dificulda-des na elaboração de projetos profissionais e devida nos anos de universidade.

Neiva (1993; 1995; 1996) investigou os efei-tos das dificuldades do mercado de trabalho narepresentação do futuro profissional, no estabe-lecimento de projetos pós-universitários e nosníveis de ansiedade e de motivação de estudantesque estavam concluindo a graduação nas seguin-

tes áreas: engenharia civil, engenharia química,engenharia elétrica, psicologia, administração deempresas e ciências sociais. Os achados indica-ram que as oportunidades percebidas de empre-go produzem efeitos diferenciados nos projetosprofissionais e nas atitudes de jovens concluintesdo ensino superior. Os estudos de Neiva aponta-ram para os problemas decorrentes da transiçãoentre universidade e mercado de trabalho em adul-tos jovens. Aliás, um tema que é pouco explora-do no Brasil, mesmo diante da enorme expansãodo ensino superior e das crescentes dificuldadesno mercado de trabalho.

O objetivo deste estudo foi descrever trajetó-rias de desenvolvimento profissional ao longo daexperiência universitária que conduzem a dife-rentes expectativas e modos de se preparar para oingresso no mercado de trabalho, quando da con-clusão de um curso superior. A experiência detransição foi entendida, teoricamente, como umfenômeno que se apresenta à consciência dos jo-vens formandos sob a forma de uma narrativa quearticula experiências passadas e expectativas parao futuro em um todo que carrega em si váriossignificados.

Uma vez que há estudos indicando a impor-tância do mercado de trabalho na formação deexpectativas de universitários formandos (Neiva1993; 1995; 1996), o presente estudo focalizaduas carreiras profissionais distintas: uma comperspectivas de trabalho mais favoráveis e outracom perspectivas menos favoráveis. Espera-se,assim, possibilitar uma maior heterogeneidade deexperiências nos casos a serem estudados e reve-lar possíveis efeitos do mercado de trabalho so-bre a elaboração dos projetos profissionais.

MÉTODO

ParticipantesParticiparam deste estudo 12 formandos de

dois cursos da Universidade Federal do Rio Gran-de do Sul, uma das mais conceituadas universi-dades pública do país. Os cursos escolhidos foramFarmácia e Odontologia, por serem consideradas

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áreas com mercados de trabalho distintos quantoàs oportunidades oferecidas, tendo a Farmácia ummercado mais favorável ao ingresso de recém-formados e a Odontologia um mercado menosfavorável. Ambas as faculdades são bastante tra-dicionais na universidade, tendo sido fundadasainda no final do século dezenove. Seus profes-sores são, em sua maioria, altamente qualifica-dos, atuando em cursos de mestrado e doutoradoque também são oferecidos nas respectivas áre-as. Os cursos de Farmácia e Odontologia sãomuito procurados nos concursos vestibulares e,assim como outros cursos da referida universida-de, gozam de prestígio junto à comunidade.

As impressões sobre o mercado de trabalhonestas duas profissões foram confirmadas infor-malmente através de contatos com profissionaisdas respectivas áreas, uma vez que não foram lo-calizados dados mais precisos que permitissemuma avaliação comparativa objetiva da situaçãodo mercado. Essas impressões, contudo, encon-traram apoio em estudo prévio de caráter quanti-tativo (Teixeira, 2002), no qual formandos de 24cursos universitários indicaram sua percepçãosobre a situação do mercado de trabalho de suasprofissões. No referido estudo, os formandos deFarmácia avaliaram sua profissão com um mer-cado mais favorável do que os formandos deOdontologia, sendo que na hierarquia dos cursosquanto à situação do mercado (na avaliação sub-jetiva dos formandos, feita em uma escala numé-rica de 1 a 6 - muito bom a muito ruim) a Farmáciaficou em quinto lugar, enquanto a Odontologiasituou-se em décimo-nono.

Como o objetivo da escolha dos cursos foiapenas o de permitir que houvesse alguma varia-bilidade nas experiências individuais no que tan-ge à situação do mercado de trabalho, julgou-sesatisfatória a escolha realizada. Os participantesforam selecionados aleatoriamente a partir de umalista de pessoas que participaram de um estudoanterior (Teixeira, 2002) de caráter quantitativoe que se colocaram à disposição para futuros con-tatos. Pretendia-se equilibrar o número de homense mulheres em cada curso, mas isto não foi pos-sível. Na Farmácia todas as pessoas que se can-

didataram eram mulheres e, no caso da Odonto-logia, apenas dois homens concordaram em par-ticipar da pesquisa. As idades dos participantesvariaram entre 21 e 26 anos.

InstrumentoO instrumento utilizado foi uma entrevista

com roteiro tópico flexível, especialmente elabo-rado para este estudo (Anexo A). Tal tipo de en-trevista busca circunscrever o tema de interesseao mesmo tempo em que dá liberdade para que oentrevistado construa uma narrativa associandotemas que, em suas inter-relações, constituem osentido da experiência do entrevistado (Gomes,1998). No caso deste estudo, a entrevista explo-rava aspectos da trajetória na universidade, asimpressões sobre o mercado de trabalho, a pre-paração profissional recebida e as expectativaspara o futuro.

ProcedimentosOs participantes foram contatados para tomar

parte no estudo através de telefone, conforme in-dicados voluntariamente em estudo anterior (Tei-xeira, 2002). Uma vez aceita a participação, aentrevista foi agendada conforme disponibilida-de. As entrevistas foram realizadas na própriauniversidade ou então na residência do partici-pante, tendo durado, em média, 60 minutos. Asentrevistas foram gravadas em áudio e transcri-tas literalmente para análise. Os entrevistadosassinaram ainda, antes da entrevista, um termode consentimento informado de participação napesquisa.

Critérios de análiseA análise empreendida neste estudo é quali-

tativa e segue as três etapas do método feno-menológico (Gomes, 1998; Lanigan, 1988;Merleau-Ponty, 1994/1945): 1) descrição, 2) re-dução e 3) interpretação. Na descrição, procura-se trazer o mundo conforme vivido pelo sujeito –sua experiência consciente – de um modo diretoe não avaliativo. Na redução, distinguem-se aspartes que se mostraram essenciais à descrição.A distinção entre partes é auxiliada pela técnica

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da variação imaginativa livre, um processo de su-cessivos questionamentos sobre as presenças eausências que compõem a descrição (Lanigan,1988). Nesta etapa, o pesquisador questiona o seuentendimento inicial do problema e propõe paraanálise um elenco de experiências consideradasessenciais. Na interpretação, identificam-se e dis-cutem-se os significados implícitos nas experi-ências definidas como essenciais e se apontampossibilidades de intervenção ou de modificaçãonas condições que parecem contribuir para a ocor-rência de tais experiências. A tarefa é desvendaraquilo que constitui a visão de mundo do indiví-duo, apontando para novas possibilidades de en-tendimento do fenômeno (Gomes, 1998).Observe-se que os três passos indicados corres-pondem a reflexões sucessivas empreendidas pelopesquisador ao longo do processo de análise dosdados e por isso mesmo não são nitidamente dis-tintos entre si, pois cada etapa de reflexão reto-ma as suas precedentes para chegar a um novopatamar de compreensão do fenômeno. A apre-sentação dos resultados e discussão seguirá aordem de análise: descrição fenomenológica,redução fenomenológica e interpretação feno-menológica.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Descrição fenomenológicaOs procedimentos para a elaboração da des-

crição envolveram os seguintes passos: transcri-ção literal das entrevistas, divisão do texto dasentrevistas em micro-unidades de sentido e oagrupamento das unidades de sentido em macro-unidades temáticas. As macro-unidades foram asseguintes: 1) formação profissional; 2) expecta-tivas sobre o mercado de trabalho e a transição;3) o significado da conclusão do curso superior;e 4) características pessoais.

A formação profissional engloba todas as re-ferências dirigidas à trajetória universitária que,de uma forma ou de outra, mostraram-se relacio-nadas aos sentimentos e expectativas frente à tran-sição para o mercado de trabalho. As expectativas

sobre o mercado de trabalho e a transição reú-nem as impressões mais diretamente associadasao mercado de trabalho, aos projetos profissio-nais, às estratégias de inserção no mercado e àsdificuldades percebidas nesse processo. O signi-ficado da conclusão do curso superior aborda osignificado pessoal da formatura e as antecipa-ções de possíveis impactos que o ingresso nomercado de trabalho podem trazer no plano indi-vidual. Por fim, características pessoais ressaltamas associações entre a descrição de si próprio ofe-recida pelo entrevistado e os diferentes níveis deenvolvimento com o curso e com o próprio pro-cesso de transição.

Uma vez definidas as macro-unidades temá-ticas, retornou-se às entrevistas para confirmar oenquadramento das unidades de sentido nas ca-tegorias especificadas, operando-se eventuais re-classificações. Note-se que os temas identificadossão relacionados entre si, o que tornou o enqua-dramento de algumas passagens em um ou outrotema um ato arbitrário (combinações analógicas).Neste processo, passagens consideradas muitoespecíficas a cada entrevista foram deixadas delado. A descrição textual que é apresentada con-trasta as variações das experiências dos informan-tes. É importante ter claro que a descrição,enquanto uma apresentação de resultados, é, defato, uma descrição interpretativa, pois correspon-de à consciência do pesquisador sobre o fenôme-no em questão. Ela é resultado das escolhas queo pesquisador fez a partir do material bruto dasentrevistas, constituindo-se na base empírica dasreflexões posteriores.

Formação profissionalOs entrevistados descreveram a formação na

universidade como algo que vai além dos con-teúdos vistos em aula. Ela inclui, certamente,experiências de conhecer pessoas com idéias di-ferentes, de fazer contatos, de lidar com a com-petição e de conviver com adversidades entrecolegas. Tais experiências trouxeram mudançasno âmbito pessoal e auxiliaram na preparação paraa vida profissional. Além disso, as exigênciasimpostas pela faculdade também contribuíram

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para o desenvolvimento de um senso de respon-sabilidade em relação à própria formação.

O envolvimento e a motivação dos alunoscom a formação profissional variaram tambémcom o passar do tempo. Embora alguns tenhamse comprometido com a formação desde o iní-cio, outros levaram mais tempo para se dar con-ta da necessidade de estudar seriamente3. Adedicação ao curso tornou-se maior à medida quedisciplinas mais aplicadas foram sendo cur-sadas e a importância de conhecimentos bási-cos adquiridos anteriormente pôde então serreconhecida. Também o envolvimento com ati-vidades extracurriculares como trabalhos de pes-quisa, monitorias, estágios e participação emdiretórios acadêmicos contribuíram para aumen-tar o comprometimento dos entrevistados coma formação.

A estrutura curricular dos cursos em algunscasos não favoreceu o envolvimento dos alunoscom a formação. No caso da Farmácia, as entre-vistadas perceberam uma dissociação entre asdisciplinas iniciais (mais teóricas) e a parte apli-cada, com desvalorização das primeiras discipli-nas. No caso da Odontologia, a carga horáriaintensa e o nível de exigência do curso dificulta-vam a realização de estudos ou atividades com-plementares.

Os entrevistados valorizaram muito as ativi-dades práticas para a formação profissional, en-fatizando a insuficiência deste tipo de atividadenos currículos. As práticas foram percebidas comomeio para integração dos conhecimentos vistosem aula, contribuindo para o senso de competên-cia profissional. As atividades práticas, fossemelas curriculares ou não, foram percebidas comooportunidades através das quais os alunos pude-ram conhecer melhor a própria profissão e a simesmos, iniciando um processo de especificaçãodo projeto profissional. O reconhecimento de fa-miliares e colegas sobre o bom desempenho emhabilidades recém adquiridas, o elogio de um pro-fessor e o apoio em situações de fracasso foram

exemplos de situações que contribuíram paramotivar os alunos e torná-los mais seguros de si.

As atividades de pesquisa na graduação fo-ram tidas como condição necessária ou no míni-mo facilitadora para quem pensava em seguircarreira acadêmica. Além disso, a pesquisa tam-bém foi vista como uma possibilidade de estabe-lecer contatos mais estreitos com professores, oque poderia resultar em futuras facilidades na vidaprofissional. Em contraste, o envolvimento ex-clusivo com atividades de pesquisa foi percebidocomo um fator de afastamento de outras experi-ências de formação, mais diretamente ligadas àrealidade profissional aplicada.

As impressões dos formandos sobre a quali-dade da formação recebida na universidade fo-ram variadas. Houve reconhecimentos de pontospositivos e negativos, tanto no que se referia àestrutura dos cursos quanto à qualidade dos seusrecursos humanos e materiais. Não obstante, aformação oferecida pelo currículo dos cursos foiconsiderada insuficiente para uma boa prepara-ção profissional. Tal situação exigiu dos alunos abusca ativa de outras fontes de conhecimento eexperiências. Os participantes perceberam tam-bém que existe uma distância entre a forma comoaprenderam a realizar as tarefas profissionais nafaculdade (em geral de uma maneira ideal) e arealidade do mercado de trabalho, que muitasvezes exige um ritmo mais acelerado ou mesmouso de procedimentos não-ideais.

Expectativas sobre o mercado de trabalho e atransição

Os entrevistados relataram estar otimistasquanto à inserção no mercado de trabalho, aindaque tivessem algum receio de enfrentar a situa-ção de procurar emprego ou de se colocar de for-ma autônoma. A insegurança estava tanto noreconhecimento de que as oportunidades de tra-balho são limitadas, quanto no medo de investirem uma tarefa na qual não sabe se terá sucesso.O apoio familiar, garantindo a subsistência pes-

3 Por estudar seriamente indica-se a prática do estudo sistemático e de maior atenção às demandas escolares.

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soal, é um fator que minimiza o receio frente àsincertezas.

O nível de conhecimento dos formandos so-bre a situação do mercado de trabalho mostrou-se dependente de relações interpessoais. Aquelesque tinham familiares que atuavam na mesmaprofissão (Odontologia) descreveram o mercadode uma maneira mais detalhada e mostraram-semais cientes das dificuldades e oportunidadesexistentes. Aqueles distanciados de pessoas en-volvidas com a profissão admitiram não conhe-cer muito a situação do mercado. Contudo, osentrevistados estavam confiantes na crença de queexiste lugar no mercado de trabalho para quem écompetente e busca as oportunidades.

As percepções sobre a situação do mercadode trabalho também se modificaram com a pro-ximidade do término do curso. A aproximaçãoda formatura traz, pela primeira vez, a necessi-dade de se pensar mais seriamente sobre o mer-cado, ao constatar que a situação não era tãofavorável quanto se imaginava antes. Em contras-te, também houve entendimentos de que a carrei-ra foi se mostrando mais promissora ao longo docurso, embora essa possibilidade consistisse emespecializar-se no exterior e não ingressar de ime-diato no mercado de trabalho. Aqueles que jáconheciam a realidade do mercado não percebe-ram mudanças em suas expectativas.

A preocupação com a transição para o mer-cado de trabalho surgiu, de maneira mais nítida,apenas no final da faculdade, tipicamente no úl-timo ano, quando estágios e práticas se tornaramrealidade. Contudo, alguns alunos sentiram ne-cessidade de conhecer ou mesmo vincular-se aomercado de trabalho já durante o curso, buscan-do experiências práticas ou mesmo mantendo-seatentos a alternativas de atuação profissional.

Apesar do otimismo dos entrevistados, osprojetos profissionais imediatos não estavam de-finidos. Faltavam critérios para estabelecer prio-ridades de carreira. As opções vislumbradas poreles incluíram, primordialmente, a busca poremprego, a realização de concurso público e acontinuidade dos estudos (em nível de especiali-zação/ênfase, “internato” ou mestrado). Outras

opções vislumbradas foram o início de atividadeautônoma e mesmo uma pausa para viagem, sen-do também consideradas mais de uma opção si-multaneamente. Possibilidades de trabalho nuncaimaginadas antes de entrarem na faculdade, comoa assistência farmacêutica e a odontologia pre-ventiva, passaram a ser consideradas em funçãodas experiências tidas no curso. O grande núme-ro de alternativas pós-formatura foi também con-siderado um fator que dificultava a tomada dedecisão em relação ao projeto profissional.

Os relatos dos entrevistados sobre seus pla-nos profissionais revelaram objetivos um tantoidealizados, como ter um emprego de acordo comas expectativas ou abrir um consultório próprio.Contudo, os próprios entrevistados demonstraramestar cientes das dificuldades de realizarem, aomenos de imediato, suas aspirações profissionais.Em vista disso, consideraram a possibilidade deiniciarem trabalhando em empregos não tão atra-entes ou mesmo de buscarem modos alternativosde obter renda, por exemplo, abrindo algum tipode negócio vinculado à profissão.

As principais dificuldades percebidas pelosentrevistados para o ingresso no mercado de tra-balho, além da escassez de oportunidades, inclu-íram a falta de habilidades básicas para a própriatarefa de transição (tais como saber elaborar umcurrículo e buscar emprego) e para o trabalho au-tônomo (como saber cobrar pelo trabalho). Entreaqueles que aspiravam a cursar mestrado (maiscedo ou mais tarde), a dificuldade apontada foi afalta de um currículo pessoal mais rico na partecientífica.

O significado da conclusão do curso superiorA conclusão do curso superior foi percebida

pelos entrevistados como um momento de ale-gria e satisfação pessoal, a coroação de uma es-colha. A iminência da formatura suscitoureflexões sobre as dificuldades encontradas no ca-minho, sendo traduzida como uma “sensação devitória”. Por outro lado, a proximidade da forma-tura trouxe sentimentos de medo, apreensão einsegurança. A metáfora de “ter que botar a cara”ou “dar a cara prá bater” descreve bem a sensa-

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ção dos entrevistados frente à necessidade de en-frentar uma situação nova para eles e sabidamen-te cheia de dificuldades a serem vencidas.

A formatura evocou, ainda, sentimentos deperda e saudade entre os formandos pela anteci-pação do fim de uma série de vínculos sociaisque a faculdade possibilitou, especialmente doslaços de amizade. A mudança da própria rotinade vida estabelecida em torno da faculdade du-rante anos também foi um elemento percebidocomo potencialmente capaz de trazer saudades.Por outro lado, a conclusão do curso trouxe mu-danças no modo dos formandos perceberem a simesmos, por exemplo, a necessidade de assumirmaior responsabilidade no plano profissional.

As repercussões da formatura, contudo, nãose restringem ao âmbito profissional. No planopessoal, o término do curso superior trouxe umasérie de expectativas para o futuro. A formaturatrazia a possibilidade de obter a independênciaeconômica, além de exigir maior responsabilida-de sobre si mesmo. Junto com essa possibilida-de, existia uma certa cobrança por independência,fosse por parte das pessoas com quem convivi-am, fosse pessoalmente. Em especial, a cobrançapessoal foi percebida como um fator decisivo parabuscar a independência econômica. A autonomiaassim obtida foi ainda comparada a uma passa-gem para a vida adulta, entendida como a possi-bilidade de “caminhar com as próprias pernas”.No entanto, a desejada autonomia financeira nãoimplicou necessariamente em um plano de mo-rar sozinho, pelo menos em um futuro próximo,entre aqueles que moravam com os pais. Porexemplo, morar sozinho foi visto como algo quepoderia até trazer desconforto. Para quem mora-va sozinho com o auxílio dos pais, o sustentar-seassumiu um caráter mais concreto, sendo antecipa-da inclusive uma possível queda no padrão de vida.

Os entrevistados não anteciparam muitasmudanças em suas vidas decorrentes da conclu-são do curso superior. De fato, o projeto profissi-onal assumiu um caráter preferencial nos relatosdos formandos acerca de suas expectativas parao futuro próximo. O plano mais definido entre osentrevistados foi o de trabalhar e, em alguns ca-

sos, especializar-se mais na profissão. Houvemanifestações sobre o desejo ter uma casa e mo-rar sozinho, mas não necessariamente logo apósa formatura. Por fim, constituir uma família apa-receu nas narrativas como um dos últimos objeti-vos, após a consecução das metas individuais derealização profissional e autonomia financeira.

Características pessoaisAs características pessoais dos entrevistados

salientaram-se nas narrativas, associando-se a po-sicionamentos frente à formação e à transição.Relatos de expectativas otimistas em relação aofuturo estavam associados à descrição de compor-tamentos ativos na busca de uma melhor forma-ção. Na linguagem dos entrevistados, é preciso“meter a cara”, “ir atrás” do que se quer. A con-quista do espaço profissional depende de ambiçãoe de boa relação interpessoal. Aqueles que relata-ram atitudes exploratórias autônomas ao longo daformação, não se restringindo apenas ao que eraoferecido no curso, mostraram-se ativos na buscade novas oportunidades. Em contraposição a es-sas atitudes mais afirmativas, houve falas que trou-xeram incertezas e inseguranças, incluindo a maiscompleta falta de planos para o futuro imediato.

Redução fenomenológicaUma maneira de iniciar a redução é definir uma

experiência marcante e pontual como centro, mes-mo que simbólico, e daí proceder à indução paraas experiências essenciais. No estudo da transiçãoda universidade para o mercado de trabalho a ex-periência que serve de divisor é, sem dúvida, aexperiência de formatura. O clima de celebração ede vitória que reveste a colação de grau é de oti-mismo, mesmo que ponteado com o medo e a in-segurança frente ao desconhecido que se aproxima.

A hierarquia entre experiências é apresenta-da na Figura 1. A numeração entre parêntese pro-cura facilitar o entendimento da hierarquiaproposta. Assim, a experiência de otimismo (1)frente à nova profissão é sustentada por um sen-so de competência (2) muito presente no final docurso. Este senso de competência, por sua vez,está associado às experiências de engajamento (3)

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e de trajetórias de formação (4). A maneira comoo formando lida com as experiências indicadasacima (5) leva a um outro patamar de experiênci-as: as definições de projetos profissionais (6) e a

clareza sobre projetos imediatos logo após a for-matura (7). A este conjunto de experiências, as-sociam-se mais duas: a preparação para a transição(8) e as características pessoais (9).

O momento de transição é caracterizado pelaexpressão de expectativas otimistas quanto à pos-sibilidade de ingresso no mercado de trabalho.Tais expectativas são alimentadas pela crença deque, para quem é competente e esforçado, sem-pre haverá trabalho. O sentimento de competên-cia profissional é, portanto, um dos elementosessenciais que qualificam a experiência de tran-sição. A saliência do senso de competência pro-fissional como fator que afeta as expectativasfrente à transição é coerente com a literatura(Bandura, 2001) que aponta a importância daauto-eficácia percebida para o desenvolvimentohumano. É com base em suas crenças de eficáciaque as pessoas escolhem os desafios a enfrentar,decidem quanto esforço estarão dispostas a des-pender e também o quanto irão perseverar em facede obstáculos. Quanto mais forte o senso de efi-cácia menor tende a ser a vulnerabilidade do in-divíduo em situações de estresse e depressão emaior a resiliência em situações adversas. De fato,

no campo do desenvolvimento de carreira, algunsestudos têm mostrado que as crenças de auto-efi-cácia estão positivamente relacionadas à decisãovocacional e à satisfação com o trabalho (Don-nay & Borgen, 1999).

A análise das experiências mencionadasaponta para uma associação entre senso decompetência e modos de envolvimento com aformação. No entanto, tal resposta é por demaisgeneralizada para uma análise acurada. Pergun-ta-se então: quais experiências de formação con-tribuíram marcadamente para o desenvolvimentodo senso de competência? Salientam-se, nestesentido, as experiências práticas, o estímulo ereconhecimento de outras pessoas (pais, professo-res, supervisores e colegas), modos de engajamentoe o percurso por diferentes trajetórias.

As experiências aplicadas, tais como estágiose aulas práticas, foram consideradas básicas parao desenvolvimento de um senso de capacidadepara o exercício profissional. As práticas possi-

Figura 1. Relações hierárquicas das experiências essenciais

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bilitaram aos estudantes: a) integração de conhe-cimentos teóricos vistos fora de um contexto apli-cado ao longo do curso, adquirindo assim umsentido vivencial; b) aquisição de confiança pes-soal decorrente da realização de exercícios de en-frentamentos bem sucedidos de problemasconcretos da vida profissional, e c) descoberta deatividades profissionais gratificantes. O encora-jamento e a reafirmação verbal, vindos de pro-fessores, de colegas, ou mesmo de familiares,mostraram-se efetivos na superação da insegu-rança – algo que a prática, por si só, parece nãoser capaz de produzir.

Os diferentes modos de engajamento na for-mação parecem levar a diferentes sensos de com-petência. Houve relatos em que a dedicação aocurso estava presente deste o início. Em contras-te, em outros relatos a devida importância à for-mação foi um processo gradativo ao longo docurso. Para os últimos, a exploração do novo statusde universitários e a busca por integração socialfoi predominante na experiência universitáriainicial, em detrimento da formação profissionalpropriamente dita. Dois aspectos se destacamneste engajamento tardio: 1) falta de informaçõessobre o curso e 2) imaturidade de primeira es-colha profissional (Lassance & Gocks, 1995;Lassance, Gocks & Francisco, 1993; Magalhães,Lassance & Gomes, 1998).

Duas trajetórias principais de formação pro-fissional, não excludentes entre si, puderam seridentificadas nos relatos dos entrevistados. A pri-meira delas, chamada aqui de formação acadê-mica, caracterizou-se pelo envolvimento do alunoprimordialmente com as disciplinas do curso,atividades de pesquisa e outras exigências curri-culares, sem um maior interesse em buscar expe-riências diferenciadas ou que permitissem umcontato mais direto com o mercado de trabalho.A segunda, chamada de formação profissional,foi caracterizada pela preocupação do aluno emir além das tarefas curriculares e pela procura poratividades que lhe qualificassem melhor para oexercício profissional, tais com monitorias e es-tágios extracurriculares. Note-se que as defini-ções destas trajetórias caracterizam apenas tiposideais, pois a experiência de cada entrevistadomesclou aspectos de ambos os tipos de formação.

Como se poderia esperar, aqueles que tive-ram uma trajetória de formação mais voltada àprofissionalização perceberam-se melhor prepa-rados para o ingresso no mercado de trabalho. Issonão significa que a formação de cunho mais aca-dêmico não tenha sido considerada importante.De fato, o empenho nas disciplinas e a participa-ção em pesquisas também contribuíram para osentimento de qualificação profissional, mas ape-nas no que se referia à preparação teórica dos alu-nos (exceto nos casos de pesquisas aplicadas nasquais os estudantes prestavam alguma espécie deserviço através da pesquisa).

Deve-se observar que a escassez de experi-ências práticas proporcionadas pelos cursos foiuma crítica generalizada entre os entrevistados.No caso da Odontologia, embora houvesse disci-plinas aplicadas, o excesso de carga horária difi-cultava que os alunos buscassem outros tipos deexperiências que não apenas aquelas oferecidaspela faculdade. Já a formação na área de Farmá-cia foi considerada muito teórica e pouco voltadapara o mercado de trabalho. Em ambos os cursosos formandos perceberam que havia um distan-ciamento entre a forma (geralmente idealizada)como aprendiam os procedimentos na faculdadee as demandas reais que encontrariam no merca-do de trabalho.

A definição dos projetos profissionais dosformandos foi fortemente influenciada pela quan-tidade e variedade de experiências práticas queeles tiveram ao longo da formação. As práticascaracterizaram-se como comportamentos voca-cionais exploratórios (Flum & Blustein, 2000)através dos quais os estudantes puderam vir aconhecer melhor não apenas os seus interesses,mas também as alternativas de atuação profissio-nal existentes em suas respectivas áreas. Aque-les que exploraram mais a si mesmos e o ambienteprofissional através de experiências práticas apre-sentaram maior clareza e confiança quanto aosprojetos pós-formatura. A experiência em pesqui-sa foi importante na definição do projeto profis-sional dos entrevistados quanto à decisão deseguir ou não seguir a carreira acadêmica.

Como esperado, as avaliações globais domercado de trabalho feitas pelos formandos emFarmácia foram fortemente otimistas, o que não

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ocorreu nos depoimentos dos formandos de Odon-tologia. No entanto, independente das avaliaçõesde mercado, os formandos dos dois cursos esta-vam otimistas quanto às suas possibilidades pes-soais de ingressar no mercado de trabalho.Portanto, a situação objetiva do mercado de tra-balho na profissão – visto de um modo genérico– não parece afetar as expectativas dos forman-dos de um modo tão intenso quanto as crençasque eles têm nas suas próprias capacidades de en-frentar o mercado e de exercer a profissão comcompetência.

A preparação para a transição é uma ausên-cia na formação universitária atual. A preocupa-ção com o que fazer depois de formado tende aaparecer no último ano ou semestre da facul-dade. Não parece haver uma exploração siste-mática das alternativas profissionais existentes.Estratégias, neste sentido, são praticamente des-conhecidas. É frente à iminência da conclusão docurso que o formando se dá conta de que não sabeo que vai fazer logo após a formatura. Ocorreramreferências a estratégias válidas, ainda que trivi-ais, de procura de emprego (procurar anúnciosem jornais e enviar currículos para empresas).Contudo, não parece haver clareza quanto à efi-cácia dessas estratégias e ao modo de implemen-tá-las satisfatoriamente. Outra possibilidadeapontada foi o trabalho autônomo. Nestes casos,o sentimento associado era de não saber comooperacionalizar tais projetos, por falta de experi-ência em aspectos administrativos relevantes à prá-tica profissional, como a cobrança de honorários.

Características individuais de autoconfiançae de iniciativa foram aspectos que se salientaramcomo diferenciadores das experiências dos parti-cipantes deste estudo. Isto sugere que mais im-portante do que os fatores objetivos que podemfavorecer ou dificultar a inserção no mercado detrabalho é a maneira como o indivíduo percebe einterpreta esses fatores ambientais e se posicionafrente a eles de forma a aproveitá-los – se favorá-veis – ou superá-los – se desfavoráveis (Callega-ri, 2001; Lent, Brown & Hackett, 2000).

Interpretação fenomenológicaA segurança em relação à profissão e os pro-

jetos pós-formatura dos entrevistados mostraram-

se estreitamente vinculados à qualidade das ex-periências de formação vividas durante o curso.Principalmente, aquelas experiências que trans-cenderam o espaço da sala-de-aula tradicional oucurricular, como monitorias, pesquisas e está-gios (dentro ou fora da faculdade). Atividadesdeste tipo promovem – ainda que nem sempre –maior integração entre aspectos práticos e teóri-cos ao longo da formação profissional. O con-fronto entre a descrição das experiências deformação e a redução às experiências essenciaissustentam as interpretações seguintes:

1) a conscientização dos estudantes sobre oque fazer para qualificar e diferenciar a formaçãoocorre de maneira fortuita e não planejada, pre-dominando uma postura passiva ante a formaçãoprofissional;

2) a transição da universidade para o merca-do de trabalho não tem sido seriamente estudadae refletida na universidade atual, isto se a singu-laridade das experiências dos formando em Farmá-cia e Odontologia, recolhidas neste estudo, foremextensivas a outros cursos e universidades; e

3) atitudes pessoais, estilos de comportamen-to e contextos de vida particulares interferem nastrajetórias de formação profissional.

As três interpretações apontadas podem serreduzidas a dois problemas fundamentais: a pre-paração para a transição e as características e con-textos pessoais.

Preparação para a transiçãoOs currículos universitários não contemplam

a preparação para a transição. Eles carecem declareza de metas e de definições e implementa-ções controladas de competências e habilidades.A preparação para a transição envolve tanto oplanejamento gradativo e continuado da forma-ção quanto a otimização de recursos disponíveisnas universidades. Obviamente, eventos fortui-tos fazem parte da vida e nem tudo o que se viveé passível de planejamento, o que não significaque as pessoas sejam passivas ante os aconteci-mentos. No entanto, no plano do desenvolvimentode carreira, é possível otimizar o acesso e o apro-veitamento de recursos que contribuem para aqualificação profissional como os anteriormentemencionados. Por exemplo, o contato com pro-

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fessores orientadores, como ocorre nas bolsas depesquisa, constitui-se muitas vezes em um traba-lho de orientação de carreira informal – seja dire-ta ou indiretamente – contribuindo para apersistência e envolvimento com o curso e a pro-fissão (Pascarella, 1980). Modalidades de orien-tação individualizada, feitas por professores,poderiam então ser estimuladas, implementadase tornadas acessíveis a todos os alunos.

As universidades poderiam promover servi-ços psicológicos de orientação de carreira paraseus estudantes, alertando-os a respeito das di-versas alternativas de formação, complementa-res à estrutura curricular básica. Há evidênciasempíricas indicando que a exploração do ambi-ente profissional está relacionada à intensidadede busca por emprego e esta, por sua vez, relacio-nada aos ganhos financeiros obtidos no início dacarreira (Werbel, 2000). Formandos, em geral, nãodesenvolveram habilidades específicas relaciona-das ao ingresso no mercado de trabalho, tais comoformas de buscar empregos, elaboração de currí-culos e estratégias de enfrentamento de proces-sos de seleção.

Características e contextos pessoaisVariações nas expectativas e na elaboração

de projetos pós-formatura mostraram-se associa-das a características pessoais, tanto psicológicasquanto contextuais. O senso de agência pessoal(Bandura, 2001) revelou-se uma característicaimportante na experiência daqueles entrevistadosque se mostraram mais otimistas e mais decidi-dos quanto ao futuro profissional. Este senso deagência leva à exploração de si mesmo e dosambientes profissionais, buscando oportunidadesde formação mais ricas e diferenciadas. Em con-seqüência, desenvolvem um senso de auto-eficá-cia profissional mais elaborado, resultando emplanos mais elaborados ou realistas. Note-se queo senso de agência, no plano do desenvolvimen-to vocacional, não se restringe ao esforço pessoalde buscar se envolver em atividades de forma-ção. Inclui, também, o reconhecimento e a cons-trução de redes de apoio social capazes deconcretizar objetivos cuja realização transcendea esfera da ação pessoal (Bandura, 2001).

A qualidade do projeto profissional não resi-de no grau de certeza assumido pelo formando,mas sim em seu realismo e na formulação de es-tratégias alternativas. Flexibilidade e abertura nãopodem faltar a uma boa estratégia de carreira(Krumboltz, 1992), especialmente para quem estácomeçando em mercados de elevada concorrên-cia e poucas oportunidades.

As narrativas dos participantes evidenciaramtransformações pessoais variadas em função daexperiência universitária. Aqueles que possuíamatitudes mais exploratórias frente à vida engaja-ram-se em atividades mais diversificadas duran-te a formação (tanto acadêmicas quanto sociais).Estas atitudes exploratórias não conduziram, emgeral, a transformações marcantes na identidade(em termos de mudanças de interesses ou de esti-los de comportamento), mas muito mais ao reco-nhecimento de características pessoais e aodesenvolvimento de atitudes (como a responsa-bilidade). Na verdade, a experiência universitá-ria dos jovens formandos ainda é um períodoexploratório que leva à conquista (ou especifica-ção) de uma identidade (Erikson, 1976). No en-tanto, apenas o aspecto ocupacional da identidadeparece mais delineado ao final do curso universitá-rio (e ainda assim de uma maneira bastante ideali-zada), ao menos entre os estudantes solteiros eque moram com os pais.

A transição da universidade para o mercadode trabalho caracteriza-se por ser um momentode antecipação e não de realização de projetos, oque faz com que os jovens sintam-se um tantosem referências para dar sustentação ao seu sen-so de identidade: não são mais estudantes, masao mesmo tempo não são ainda profissionais. Damesma forma, não se consideram mais adoles-centes, mas também não se percebem como pro-priamente adultos – uma condição semelhante àque Arnett (2000) chamou de adultez emergente.

Mesmo com o fim do curso e o possível in-gresso no mercado de trabalho, é corrente a pre-ferência por continuar vivendo com os pais,evitando o risco de assumir uma vida economi-camente independente de imediato. A permanên-cia na casa dos pais é o argumento alegado para anão antecipação de grandes mudanças pós-for-

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matura. Morar sozinho ou constituir família eram,até há algumas gerações atrás, aspirações altamen-te desejadas, demarcando o ingresso na vida adul-ta. Agora, no entanto, parecem já não ser tãovalorizadas pelos jovens como rituais de passagemem suas vidas, esvanecendo-se as fronteiras entreo fim da adolescência e início da vida adulta.

A manutenção de vínculos econômicos coma família de origem e de vínculos estudantis coma universidade (através de especializações, ênfa-ses, mestrados) pode ser interpretada como es-tratégias de viabilização da identidade, tanto noplano intra quanto no interpessoal. Através des-tes vínculos, os jovens estabelecem uma referên-cia identitária relativamente segura que lhespermite continuarem a exploração de si mesmose de seus ambientes, implementando suas identi-dades emergentes (em seus vários aspectos: pro-fissional, relacional, ideológico etc). Trata-se, naverdade, de uma identidade em construção, arti-culada em uma narrativa que se desloca de si-mesmos vividos no passado para os possíveissi-mesmos do futuro (Markus e Nurius, 1986). Omomento da transição da universidade para omercado de trabalho entre jovens universitáriosilustra muito bem essa condição dialógica queconstitui a identidade humana. O eu (si-mesmo)se constrói como uma polifonia de vozes que es-tabelecem relações mútuas (e por vezes de opo-sição) entre si (Hermans, Kempen & Van Loon,1992; Wiley, 1996), mas sem perder a capacida-de criadora e transformadora de sentido inerenteao ser humano, que possibilita a ampliação dehorizontes e permite a contínua atualização etransformação do próprio si-mesmo.

Destaca-se aqui o caráter tolerante que vemtendo a família brasileira de classe média ao per-mitir (e talvez até mesmo estimular) a permanên-cia dos filhos no ambiente familiar, por um períodode tempo que pode se estender por vários anos apósa conclusão de um curso superior. É sabido queem outras culturas, como a norte-americana, asaída da casa da família de origem se dá relativa-mente cedo, em geral quando os filhos ingressam

em uma universidade. É possível que um novopadrão de desenvolvimento na idade adulta jo-vem esteja se configurando na classe média bra-sileira (entre outros já existentes), onde uma maiortolerância na convivência de gerações em ummesmo ambiente se associa a uma necessidadede qualificação profissional que vai além do en-sino de graduação, qualificação esta que teria oobjetivo de possibilitar uma melhor colocação nomercado de trabalho e a manutenção (ou mesmoelevação) do padrão de vida tido até então.

Deve-se considerar, por fim, as limitaçõesdeste estudo. Em primeiro lugar, trata-se de umapesquisa qualitativa que não tem a pretensão deestabelecer conclusões generalizáveis para todaa população de concluintes de cursos universitá-rios. O fato de formandos de apenas dois cursosterem participado do estudo, se por um ladohomogeneizou o espectro de experiências es-pecíficas aos cursos ressaltando as diferenças in-dividuais, por outro não permite uma transposiçãoindiscriminada dos achados para outros contex-tos. Ainda, deve-se considerar que os informan-tes foram todos voluntários e oriundos de umaúnica instituição de ensino superior, cujo prestí-gio e qualidade de ensino é um fator que certa-mente influencia a colocação profissional de seusegressos. Estes fatores também precisam ser le-vados em consideração na interpretação dos re-sultados apresentados. Não obstante, os relatosobtidos mostraram-se diversificados e suficien-temente ricos em características que, em maiorou menor grau, são comuns à realidade da maio-ria dos cursos universitários e à experiência dospróprios alunos. Dessa forma, os achados desteestudo sugerem possibilidades que podem encon-trar paralelo em outros cursos e instituições, pos-suindo um valor instrumental para a elaboraçãode novos questionamentos e interpretações sobreo tema. Certamente, contudo, outros estudos sefazem necessários em diferentes contextos e comdiferentes populações, a fim de ampliar as possi-bilidades aqui apontadas e o próprio entendimentodo fenômeno.

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Recebido: 05/04/041ª Revisão: 22/09/04

Aceite final: 24/09/04

Sobre os autoresMarco Antonio Pereira Teixeira é Psicólogo, Mestre e Doutor pela Universidade Federal do RioGrande do Sul. Professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria. Aspublicações de Teixeira concentram-se nas áreas de autoconsciência, estilos parentais e orientaçãoprofissional.

William B. Gomes, PhD, é Professor do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Gran-de do Sul. Nos últimos anos, vem colaborando com pesquisas na área de Orientação Profissional. Em1998, organizou juntamente com seus orientandos, o livro Fenomenologia e Pesquisa em Psicologia,incluindo estudos sobre Orientação Vocacional. Gomes foi fundador e editor por dez anos da RevistaPsicologia: Reflexão e Crítica. Suas publicações incluem estudos sobre psicoterapia, adolescência,psicologia hospitalar e história da psicologia. É bolsista de produtividade do CNPq. A graduação emPsicólogo (1971) foi realizada na Universidade Católica de Pernambuco. Os títulos de Mestre (1980)e Doutor (1983) foram obtidos na Southern Illinois University – Carbondale, EUA.

Page 16: 8 GOMES W.B. TEIXEIRA M.a.P Estou Me Formando...E.agora Reflexoes.e.perspectivas.de.Jovens.formandos

Revista Brasileira de Orientação Profissional, 2004, 5 (1), pp. 47 - 62

62 Marco Antônio Pereira Teixeira, William Barbosa Gomes

ANEXO APROTOCOLO DE ENTREVISTA

AberturaInicialmente quero te agradecer o interesse em participar neste estudo cuja finalidade é compreen-

der melhor a experiência de jovens que deixam a faculdade e buscam ingressar no mercado de traba-lho. As perguntas são simples e apontam para experiências que caracterizam a transição da universidadepara o mercado de trabalho. Tu gostarias de fazer alguma pergunta? Então vamos começar.

1) Me conta um pouco sobre a tua trajetória na universidade, por que tu escolhestes este curso, o quetu tens achado da faculdade... (explorar: motivos para a escolha, como escolheu, realização - ounão - de expectativas em relação ao curso, motivação em relação ao curso).

2) O que mais tu tens feito além da faculdade?3) Tu tens planos sobre o que fazer depois de se formar? (explorar para cada projeto citado: quando

e como surgiu a idéia, o que atrai, possíveis barreiras, que apoios possui em relação aos projetos).4) Como tu descreverias o mercado de trabalho na tua profissão?5) Tu tinhas idéia de como era o mercado de trabalho quando tu escolheste essa profissão?6) Que fatores tu achas que são mais importantes para conseguir um lugar no mercado de trabalho na

tua profissão?7) Tu te sentes preparado para trabalhar na tua profissão?8) Que tipos de experiências tu tiveste que mais te ajudaram nessa preparação (ou que tipos de expe-

riências tu achas que faltaram)?9) Como é que tu te sentes quando tu pensas no teu futuro profissional? (explorar: otimismo/pessi-

mismo, senso de eficácia/competência, sentimentos em relação a um possível desemprego, frus-trações ou conquistas).

10) Tu percebes alguma mudança em relação às tuas expectativas profissionais comparando quando tuentraste no curso e agora que tu estás te formando? (explorar: quando mudou, por quê mudou).

11) Se tu pudesses mudar alguma coisa na tua trajetória de preparação profissional até o momento, tumudarias algo? O quê e por quê?

12) Como é que tu imaginas a tua vida daqui a uns cinco anos?13) Se tu fosses escrever uma história sobre como tu te sentes nesse momento de terminar a faculdade

e o que tu esperas para o teu futuro, que título tu darias para essa história?

FechamentoÉ isso. Tu gostarias de acrescentar mais alguma coisa? Muito obrigado pela ajuda.