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Cuestiones Teolgicas, Vol. 35, No. 83 (2008) / 75

Novos paradigmas para a catequese no Brasil Cuestiones Teolgicas, Vol. 35, No. 83 p. 75 - 94 Medelln - Colombia. Enero-Junio de 2008, ISSN 0120-131X

NOVOS PARADIGMAS PARA A CATEQUESE NO BRASIL

Apresentando o DiretrioNacionaldeCatequese

NewParadigmsforCatechesisinBrazil:

APresentationoftheNationalDirectoryforCatechesis

luiz alves de lima

Resumen:La iglesia brasilea ha desempeado en las ltimas dcadas un papel importante en la iglesia

latinoamericana, por su nmero de fieles y pastores, y dentro de ellos por sus telogos.

Consecuencia de este hecho son los grandes aportes que ha realizado a la reflexin y

pastoral de la iglesia latinoamericana. Este artculo hace una resea y presenta los elementos

que componen el Nuevo Directorio de la Catequesis en la iglesia del Brasil, tanto desde el

punto de vista de la cronologa suya como de aquellos que lo componen. No slo es un

aporte a la Catequesis, sino que adicionalmente constituye un reto para todas las iglesias

latinoamericanas a revisar el estado de su catequesis.

Palabras clave: Catequesis Pastoral - Pedadoga de la Iglesia Evangelizacin - Educacin

en la Fe.

Abstract:The Church in Brazil has played a significant role in the Latin-American Church, by the

number of her faithful and pastors, including the theologians. Consequently, her contribution

to the Latin-American Church has been very relevant nowadays. This article points out the

components of the New Directory for the Catechesis in Brazil, following its chronology

Salesiano. Doctor en Teologa Pastoral Catequtica. Asesor de catequesis del CNBB y del CELAM. Profesor en el Cmpus Pio XI del Centro Universitrio Salesiano de So Paulo, en las Pontifcias Universidades Catlicas de Curitiba y de Goinia, editor y redactor de la Revista deCatequese,coordinador de redaccin del DiretrioNacionaldeCatequese.

Artculo recibido el 15 de febrero de 2008 y aprobado por el Consejo Editorial el da 10 de marzo de 2008.

Direccin del autor: [email protected]

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and its different components. Its not only a contribution to Catechesis but a challenge to

all the Latin-American Churches to revisit the situation of their catechesis.

Key words: Catechesis - Pastoral - Pedagogy of the Church - Evangelization - Education

in faith.

Introduo

Em 25 de outubro de 2006 realizou-se o lanamento oficial do mais recente e importante pronunciamento do Episcopado Brasileiro sobre a educao da f na Igreja do Brasil: o DiretrioNacionaldeCatequese(= DNC)1. Ele consolida princpios e orientaes nestes ltimos 50 anos e abre outras perspectivas para a catequese no incio do milnio, marcado pela retomada, por parte de toda a Igreja, de sua mais profunda vocao evangelizadora. Assim, a catequese recebe o influxo benfico do dinamismo evangelizador e contribui, ao mesmo tempo, para sua expanso.

Aqui pretendemos expor a gnese e o desenvolvimento deste documento da CNBB e apresentar seu contedo essencial2.

I. ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DO TEXTO

1.Antecedentes:omovimentocatequticorecentenoBrasil

Os anos do pr e ps-conclio foram ricos de renovao catequtica no Brasil, alis, em grande parte da Igreja. Sob o impulso dos movimentos bblico, litrgico, patrstico e teolgico que precederam o Conclio e, sobretudo sob a influncia renovadora conciliar, a catequese superou suas caractersticas quase que exclusivamente doutrinais e muito ligada aos clssicos catecismos. Como em qualquer mudana de paradigmas, ao lado de avanos e conquistas, aqui tambm foram freqentes as crises, desorientaes, incertezas, tenses e experincias nem sempre exitosas.

Importantes eventos eclesiais, tanto no Brasil como na Amrica Latina, fizeram avanar a catequese na busca de novos modelos. Podemos citar principalmente os acontecimentos de 1968: EncontroNacionaldeCatequeserealizado no Rio de Janeiro (julho), a Semana InternacionaldeCatequeseem Medelln-Colmbia (agosto) e a IIConfernciaGeraldoEpiscopadoLatino-americano tambm em Medelln (setembro).

1 cnBB, DiretrioNacionaldeCatequese. Publicaes da CNBB 1, Edies da cnBB, Braslia 2006, 224 pp. Idem, DiretrioNacionaldeCatequese. Documentos da CNBB 84, Paulinas, So Paulo 2006, 288 pp.

2 Para maior documentao do que aqui se afirma, pode-se consultar alves de lima luiz. Gnese edesenvolvimentodoDiretrio Nacional de Catequese in RevistadeCatequese29, n. 116 (out-dez, 2006); 6- 25; id., NovosparadigmasparaacatequesenoBrasilin Ibidem30, n. 117 (jan.-maro, 2007) 6-17.


Novos paradigmas para a catequese no Brasil

As perspectivas para a educao da f revestiram-se ento de caractersticas marcantes: so influenciadas por uma eclesiologia e cristologia que levam seriamente em conta a situao sofrida dos mais pobres, e procura transmitir a Palavra de Deus no de um modo abstrato ou s voltado para os aspectos religiosos e espirituais, mas tambm uma Palavra encarnada nas situaes concretas das pessoas e das comunidades.

Fala-se no s da libertaodopecado, mas tambm de todas as suas conseqncias pessoais e sociais. Esta dimensosocialetransformadora da catequese, como em geral de toda pastoral, no foi isenta de crticas e contestaes, tanto de dentro como de fora Igreja. No faltaram perseguies nos anos 60 a 80 e at mesmo martrios entre catequistas, principalmente na Amrica Central.

No Brasil, os esforos de renovao marcados por esta dimenso scio-libertadora, tiveram sua consagrao no documento da CNBB CatequeseRenovadaOrientaeseContedode 1983. Valoriza-se ento o processo de educao da f a partir da vida de f da comunidade crist, sendo ela mesma considerada como fonte, lugar e meta da catequese; a dimenso eclesial cresce sobremaneira. A Bblia assume cada vez mais um lugar central na catequese, considerada como um ministriodaPalavradeDeuse como o texto por excelncia da educao da f. A catequese, inspirada pela concepo de revelaodivinada DeiVerbum procura ser coerente com a pedagogiadivinaque educa seu povo a partir das realidades da vida.

luz desta encarnao da Palavra de Deus a catequese tornou-se mais cristocntrica. Desenvolveu-se o princpio de interao entre f e vida, dando catequese uma caracterstica transformadora e libertadora; a opopreferencialpelospobresveio no s acentuar os destinatrios principais, mas tambm renovou contedos e metodologia que da decorrem. O eixo central que permeia a apresentao da mensagem da catequese o da comunho-participaonum processo comunitrio. A IV parte do documento CatequeseRenovadadescreve o processo pelo qual interagem o contedo da f e a transformao da vida pessoal e social. Cresceu em importncia a figura do catequista, sua formao pessoal, teolgica, espiritual e pedaggica. Dando importncia dimenso comunitria e transmisso da f bem por dentro da vida das pessoas, a catequese no poderia deixar de considerar, cada vez mais como destinatrio ou interlocutor privilegiado, o mundo dos adultos.

Nos anos 80 e 90 o movimento catequtico se voltou para os aspectos ligados inculturao das expresses da f. O princpio metodolgico da interaoentrefevida,que em geral considerava mais o aspecto scio-poltico-econmico, comeou a refletir tambm a importante dimenso cultural, seguindo as reflexes que no momento se faziam sobre a novaevangelizaoinculturada, por ocasio da celebrao dos 500 anos da primeira evangelizao do continente americano (1992).

O advento do final do milnio, a importncia dada ps-modernidade e todo movimento cultural que da brotou, motivaram a reflexo catequtica a se preocupar


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com outros aspectos da catequese, como a afetividade, a maior valorizao da espiritualidade e as exigncias da educao da f nos centros urbanos. A crescente importncia dos adultos como destinatrios e interlocutores principais da catequese levou o movimento catequtico brasileiro a se envolver intensamente com este tema. Assim em 2001 realizou-se a IIa. Semana Brasileira de Catequese3 com o tema Com Adultos,CatequeseAdulta,e o lema CrescerrumomaturidadeemCristo.A mudana de terminologia a partir de ento e integrada no novo Diretrio, proposital: no se fala de catequese de adultos, mas com adultos para acentuar o protagonismo do leigo adulto no processo de educao da prpria f. Esta Semana foi um despertar para a educao da f dos adultos suscitando novas experincias de catequese com adultos.

Tais perspectivas levaram a uma renovao da mentalidade catequtica quer por parte da hierarquia (bispos e presbteros) como tambm entre os responsveis pela catequese e os catequistas de base. verdade que tanto num ambiente como noutro, muitos resistem em renovar a prpria concepo de catequese, ou mesmo a dar-lhe a devida importncia, permanecendo com a tradicional e arcaica concepo de que catequese atividade destinada a preparar crianas para primeira comunho....

preciso dizer tambm que a renovao catequtica no foi, nem est sendo uniforme e generalizada. Em vrios lugares do imenso territrio brasileiro persiste uma prtica ligada ao velho modelo catequtico doutrinal, com alguma renovao pedaggica. Mas, em termos de proposta ou marco terico, o avano tem sido constante e promissor.

2. A CAMINHO DO DIRETRIO

a)Primeirospassos

A seco de catequese da CNBB possui o significativo nome de animao bblico-catequtica. No mbito deste organismo h tambm um grupo de assessores que, desde 1983, ajudam na reflexo, animao e planificao da atividade catequtica em todo pas. Intitula-se GRECAT: grupo nacional de reflexo catequtica.

Logo aps a realizao da Semana sobre a catequese com adultos, este grupo comeou a refletir sobre a necessidade de uma reformulao e atualizao do documento CatequeseRenovadade 1983. De fato, ele j havia completado quase 20 anos e o ritmo acelerado das transformaes da sociedade, assim como os apelos da Igreja com o advento do CatecismodaIgrejaCatlicae principalmente do DiretrioGeralparaaCatequese (= DGC; 1997), exigiam novos posicionamentos e perspectivas.

3 Cf. Sobre esta Semana pode-se consultar RevistadeCatequese, (monogrfico), n. 96 (out.-dez, 2001); cnBB, ComAdultosCatequeseAdulta.Texto base da 2a Semana Brasileira de Catequese. Estudos da cnBB 80, Paulus, So Paulo: 2001; cnBB, Segundasemanabrasileiradecatequese:comadultos,catequeseadulta.Histria, abertura, contedos, propostas, compromissos e documentos, Estudos da CnBB 84, Paulus 2002, 556 pp.



Da confluncia destas duas exigncias, nasceu a deciso de se elaborar um DiretriodeCatequese.Dada a extenso do territrio brasileiro e a diversidade cultural, j tinha sido uma deciso de 1983, registrada no documento CatequeseRenovadade no elaborar um catecismonacionalou oficial. Seria muito mais eficiente e mais de acordo com a teologia da encarnao, traduzida no princpio de interaoentrefevida,elaborar diretrizesgerais e deixar para cada regional ou conjunto de regionais a confeco de um prprio catecismo ou textooficialdecatequese.O Diretrio vem atender tambm a esta exigncia.

Foi no interior do Grecat, no final de 2001, que surgiram as primeiras reflexes, elaborao de critrios e esquemas em vista de um Diretrio. importante registrar que desde o incio optou-se por seguir o esquema do DGC, porm adaptando-o realidade brasileira. Tal deciso foi mantida at a redao final; assim, pode-se dizer que o DNC uma releitura brasileira do DGC.

Preparou-se um esquema bem amplo em seis partes correspondentes s cinco partes do DGC, mais uma correspondente Exposio Introdutria, que no DNC seria parte integrante do texto. Elaborou-se, ento, um texto com as justificativas, motivaes, critrios de redao, com um primeiro projeto de Diretrio para ser apresentado na reunio da Assemblia Geral (= AG) dos Bispos do ano seguinte.

b)Justificativas,critriosderedaodoanteprojetoeprimeirasredaes

O anteprojeto foi apresentado, discutido e aprovado na 40a. AG da CNBB (abril de 2002). Nele encontramos as justificativas e motivaes para o novo Diretrio:1. Cumprir o que sobre este assunto pede o DiretrioGeralparaaCatequese adaptando-o realidade nacional (cf. DGC 9, 11, 139, 166, 171 etc.); 2. Atender proposta de reviso e atualizao do Documento CatequeseRenovada de 1983; 3. responder s expectativas dos coordenadores de catequese e catequistas que esto solicitando a definio de princpios e diretrizes para a catequese, para a elaborao de textos e manuais e para a formao de catequistas.

Quanto aos critriosderedao assim se expressa: no processo da elaborao do DiretrioNacional estamos levando em conta: a realidade brasileira, o contexto scio-econmico, cultural e eclesial, com seus novos desafios catequese; a Palavra de Deus na Bblia e na Tradio da Igreja; a caminhada histrica da catequese no Brasil: o movimento catequtico pr e ps-conciliar...; o Magistrio da Igreja universal, latino-americana e do Brasil...4.

Aprovadas as justificativas e o projeto inicial, foram tambm nomeadas as comisses de bispos, catequetas, liturgistas e telogos para a elaborao do Diretrio. Os trabalhos

4 Cf cnBB - 40 ag. ProjetodeumDiretrioNacionaldeCatequese in ComunicadoMensal51, n. 560 (abril, 2002) 411.


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de redao do DNC sempre foram presididos por D. Albano Bortoletto Cavallin, ento arcebispo de Londrina (PR), que j tinha estado, em 1983, frente da redao do documento CatequeseRenovada.

c)Primeiroesquema Com o aval da AG deu-se incio ao trabalho de redao no Grecat: novas reflexes

foram feitas e a distribui-se o trabalho entre os vrios membros. Originalmente, portanto, os vrios captulos do DNC foram escritos por pessoas diferentes, mas o texto foi longamente analisado, criticado, discutido, emendado, re-trabalhado, re-escrito e refeito tanto pela comisso redatora, como por todo o Grecat, por biblistas, liturgistas, telogos e outros estudiosos e catequistas de base.

O texto, j bem desenvolvido, em fevereiro de 2003, estava assim organizado:Introduo ampla com uma apresentao e explicao de conceitos sobre Diretrio;

Cap. I Visopastoraldarealidade Cap. II AcatequesenamissoevangelizadoradaIgreja; Cap. III Amensagemevanglicaasertransmitida; Cap. IV ApedagogiadeDeuseastendnciaspedaggicasdehoje; Cap. V Osinterlocutoresdacatequese; Cap. VI AcatequesenaIgrejalocal.

Cada um desses captulos foi analisado e discutido; afirmou-se que o Diretrio precisaria ser um manual catequtico que sirva tambm para formao dos catequistas, e que tivesse um carter mais reflexivo que legislativo. Particular dificuldade apresentou o captulo IV sobre a mensagemdacatequese: os autores queriam deliberadamente desenvolver mais o tema da Bblia do que do Catecismo, uma vez que o DGC faz o inverso... para o Brasil seria importante insistir mais sobre a Bblia do que sobre o Catecismo. Como veremos, as observaes romanas pediram para reconsiderar este ponto.

Quanto ao captulo referente pedagogia observou-se que a anlise das cincias da educao fosse feita sob a tica catequtica libertadora, cuidando para que no fique extenso e no se demonstre uma preferncia por uma ou outra corrente de pensamento. Com relao ao ltimo captulo, Acatequesena Igreja local, o texto apresenta a relao entre catequese e igreja local, catequese como servio nico, de responsabilidade comunitria, a sustentao e o apoio da diocese e da comunidade, a responsabilidade dos procos e do bispo, etc.

Discutiu-se tambm o tema da formaodoscatequistas, sua experincia de f no quotidiano, sua espiritualidade. Sugeriu-se acrescentar: o ministrio da coordenao, pistas para a organizao prtica da catequese, comeando de baixo para cima: parquia, diocese, regional, nacional e levando em conta a organizao j existente no Brasil.



Assunto polmico foi o do ensinoreligiosoescolar, que inicialmente estava neste sexto captulo, mas na edio definitiva passou para no final do captulo II.

d)Segundoesquema

Em reunies com a equipe redatora, D. Albano Cavallin, presidente da comisso episcopal, insistiu para que se acrescentasse um captulo no incio, com uma sntese do movimento catequtico a partir do documento CatequeseRenovada(1983); assim, deveria ficar claro que o novo DNC no seria uma ruptura, mas um processo de continuidade com tudo o que j vem sendo feito no mbito da reflexo e da prtica catequtica no Brasil.

Assim, alm dos 5 captulos centrais que refletem as cinco partes do DGC, temos mais um captulo que resgata, resume e reafirma todas as conquistas do movimento catequtico brasileiro (ser o cap. I). Um outro captulo novo, com relao ao DGC, como j se disse, o que substitui a exposio introdutria do DGC tornando-se uma verdadeira e prpria parte do Diretrio, inserindo-o dentro da nossa histria passada e presente (contexto scio-poltico-cultural-religioso): ser o cap. III (mais na frente se ver a causa da localizao deste tema no cap. III).

Com essas e outras contribuies advindas de catequistas, telogos, biblistas e principalmente dos liturgistas, foi preparada uma outra verso, agora mais completa, com 7 captulos, para ser apresentada na 41a AG da CNBB (maio 2003). Nela os bispos tiveram contato, pela primeira vez, com a redao completa do Diretrio, cujo esquema era o seguinte:

Introduo: natureza,finalidade,objetivosdoDNC I Asconquistasdomovimentocatequticobrasileiro II AcatequesenamissoevangelizadoradaIgreja III - Acatequese,ahistriaearealidadecomolugaresteolgicos IV - Amensagemnacatequese V ApedagogiadeDeus VI Osinterlocutoresdacatequese

VII - AcatequesenaIgrejaParticular

O coordenador de redao, Pe. Luiz Alves de Lima, sdb, apresentando o texto na AG, disse que a partir do DCG de 1971 ampliou-se o conceito de diretrio: como que um manual ou compndio de catequtica, com um complexo de princpios, critrios e diretrizes de natureza bblico-teolgica e metodolgico-pastoral com a funo de coordenar, em nvel de Igreja universal, a ao catequtica do Conclio e do ps-Concilio. Explicou que semelhana das DiretrizesGerais da CNBB, o atual DiretrioNacionaldeCatequesepretende tambm ter um carter mais teolgico-pastoral, do que jurdico-normativo, apontando para a prtica concreta da ao catequtica; a encontramos, sobretudo, critrios inspiradores para a ao catequtica e no tanto


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indicao de normas imperativas como poderia sugerir, talvez, a palavra diretrio; mais do que proporcionar frmulas e normas imediatas para a catequese, o diretrio esclarece sua natureza e finalidade.

e) InstrumentodeTrabalhoI:contedoereaes

Com as muitas emendas e sugestes feitas por escrito antes, durante e depois da assemblia episcopal, o texto retornou equipe de redao que preparou a primeiraediodotexto. Em fins de julho de 2003 foi publicado o InstrumentodeTrabalhoI(ITI)como verso provisria5, com os 7 captulos acima citados, acrescido de apresentao, siglas e ndice.

Nas reunies e reflexes do Grecat acentuou-se mais a presena da liturgia no processo catequtico, os dados histricos foram diminudos e amenizou-se a linguagem s vezes moralista.

O texto ITI foi amplamente divulgado e estudado tanto por especialistas (telogos, biblistas, liturgistas...), como por parte de coordenadores e catequistas das vrias regies do pas. Ele recebeu especial contribuio da ComissoNacionaldeLiturgia, com a qual o coordenador de redao discutiu conceitos sobre catequese,iniciao,mistrio,natureza sacramental da Liturgia, catecumenato, smbolo na liturgia e na catequese,ritos,dimensocatecumenaldacatequese,liturgiaecelebraeslitrgicas,osignificadoecontedodoRito de Iniciao Crist de Adultos (RICA), etc.

f)PreparaodoInstrumento de Trabalho II

Como resultado das vrias contribuies, o DNC sofreu modificaes nas verses posteriores, principalmente a alterao da estrutura do capitulo IV a partir do InstrumentodeTrabalhoII: ao tratar da mensagemdacatequeseeste captulo no s trata da Bblia e Catecismo semelhana do DGC, mas acrescenta tambm uma substanciosa parte sobre a Liturgia considerada como fonte e vrtice da vida eclesial, permeando tambm toda a educao da f. Portanto, conforme o DNC a mensagem da catequese se encontra nestas trs grandes vertentes da Palavra de Deus: a Bblia, a Liturgia e o Catecismo.

Outras modificaes: o ltimo captulo (VII: A catequese na Igreja Particular), considerado por demais extenso, foi dividido em dois captulos; o novo cap. VII recebe o ttulo de Ministriodacatequeseeseusprotagonistas; e o cap. VIII fica com o ttulo: LugaresdacatequeseesuaorganizaonaIgrejaParticular.

H tambm importantes alteraes com relao ao ttulo dos captulos: o cap. III, com muitas modificaes, foi intitulado: Catequesecontextualizada:histriaerealidade;

5 cnBB. DiretrioNacionaldeCatequese.InstrumentodeTrabalhoI.Verso provisria. Centro de Pastoral Popular, Braslia 2003, 152 pp., formato de brochura.



cap. IV: Catequese:mensagemecontedo; cap. V: Catequesecomoeducaoda f; cap. VI: Destinatrioscomointerlocutoresnoprocessocatequtico. No conjunto, ficou mais reduzido, principalmente o cap. IV, sintetizando as abundantes reflexes sobre BbliaeCatequesee acrescentando, como j se disse, uma nova seco sobre LiturgiaeCatequese.

Um objeto de discusses e de tomada de posio foi a proposta que faz o DNC de institucionalizar o ministrio da catequese. Ao final ficou acordado que a institucionalizao do ministriodacatequese poderia ser sugerida pelo DNC, mas a deciso final ficaria por conta de cada diocese6. Por fim, chegou-se estrutura definitiva do documento, dividido agora em duas partes com 4 captulos cada uma, acrescentando-se ao final um glossrio dos conceitos menos conhecidos pelos catequistas de base, que foi redigido posteriormente.

g)O Instrumento de Trabalho II submetido Assemblia Geral doEpiscopado

Com estas consideraes da Comisso Episcopal, do Grecat e com as muitssimas contribuies enviadas por escrito pelos bispos e outras pessoas, o coordenador de redao preparou novo texto, distribudo e estudado durante a 42a. AG de 2004, agora como InstrumentodeTrabalhoII(ITII). Ele no foi publicado, mas s usado durante a Assemblia.

Nas intervenes, aps a apresentao, os bispos manifestaram algumas preocupaes: falta a dimenso escatolgica; no se deve diminuir o texto, pois ele deve ser uma pequena enciclopdia ou obra de referncia do catequista e excelente instrumento para sua formao; no esquecer a dimenso petrina e mariana da f; ressaltar mais a vocao do catequista, superando improvisaes; acentuar na formao dos catequistas a dimenso pneumatolgica; a catequese, sendo competncia da diocese, precisa integrar nela CEBs, movimentos, escolas...; na Igreja primitiva mais que doutrina e normas, a catequese era anncio e iluminao; necessidade de valorizar smbolos e sinais; a dimenso cristocntrica no pode esconder a dimenso trinitria; valorizar mais o CatecismodaIgrejaCatlica; considerar os dirigentes da sociedade, formadores de opinio e profissionais liberais como destinatrios da catequese; o ministrio da catequese institudo ressaltar melhor a vocao do catequista; alguns questionaram a linguagem usada a respeito dos deficientes e outros pediram esclarecimentos sobre o ensinoreligiosoescolar.

De novo o texto foi emendado a partir das sugestes da AG e das abundantes observaes por escrito, no s dos bispos, mas tambm de liturgistas. Houve deslocamento do tema EnsinoReligioso e EscolaCatlicado captulo sobre lugares da catequese, para o final do cap. II, quando se descreve a natureza e finalidade da catequese.

6 Cf. EstgioatualdaredaodoDiretrioin RevistadeCatequese27, n. 105 (jan-maro, 2004) 51.


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3. A APROVAO DO DIRETRIO NACIONAL DE CATEQUESE PELA CONFERNCIA EPISCOPAL

a)InstrumentodeTrabalhoIII

No incio do segundo semestre de 2004 foi publicado nova edio do Diretrio em elaborao, com o ttulo: AcaminhodoDiretrioNacionaldeCatequese.InstrumentodeTrabalhoIII,Versoprovisria7. Foi tambm amplamente divulgado para ser discutido, criticado e receber novas contribuies e aperfeioamentos. Em sua apresentao, se diz que publicado para estudo e anlise dos bispos, sacerdotes, religiosos e, sobretudo das equipes diocesanas de catequese com seus catequistas. A finalidade da publicao destes textosprovisrios foi envolver o maior nmero possvel de pessoas na elaborao do documento.

Liturgistas, catequetas, biblistas e pastoralistas mais uma vez dedicaram-se sua anlise, aportando novas contribuies. Sugeriu-se um ndice analtico, a ser publicado no final do documento. Em 2005 o ITIII continuou sendo divulgado e estudado em vista da prxima e definitiva aprovao por parte do Episcopado. Nas redaes seguintes foram introduzidas alteraes sobre ERE e catecumenato.

Entretanto, devido ao falecimento de Joo Paulo II, em 02 de abril de 2005, a AG da CNBB foi suspensa e adiada posteriormente para agosto, e oITIIIcontinuou a ser revisto. Finalmente recomposto com vrias novas citaes, principalmente do recente publicado CompndiodoCatecismodaIgrejaCatlica foi preparado para a 43a. AG.

b) AprovaodoDNCna43a.AssembliaGeraldaCNBB

Aps as apresentaes de D. Albano C. e de D. Juventino K., houve pronunciamentos sobre o texto que tinham em mos (InstrumentodeTrabalhoIII, verso 4). Alguns foram generosos na avaliao do documento: livro precioso, trabalho srio, obra prima, mais um ingrediente da cesta bsica do catequista (referindo-se a uma comparao usada por D. Albano), o texto cresceu de ano para ano... A ata desta sesso assim registra: as intervenes foram unnimes em parabenizar a comisso pelo trabalho realizado, bem como pela capacidade de acolher as contribuies8.

Mas no faltaram tambm questionamentos, principalmente com relao ao ministriodacatequese (isto no traria duas categorias de catequistas?), falta de uma apresentao sistemtica do tema da moralcristao longo do documento, ao vazio

7 Cf. cnBB. AcaminhodoDiretrioNacionaldeCatequese.InstrumentodeTrabalhoIII,Versoprovisria. Centro de Pastoral Popular, Braslia 2004, 156 pp., em formato de brochura, com preo bem popular,

8 Cf. cnBB. 43a. AG daCNBB, Atan.03de11.08.2005 in ComunicadoMensal 54, n. 591 (agosto,



que h no ps-primeira comunho eucarstica e antes da crisma, a extenso do texto (mais de 330 nmeros!), etc.

Outros chamavam a ateno para a importncia de determinado tema, como a catequese aos pr-adolescentes e infncia, a ateno ao ambiente de pluralismo religioso, a importncia de uma catequese familiar por ocasio das visitas pastorais, a necessidade de melhorar o texto sobre o ensinoreligiosoescolar, a questo da vocao do catequista, da valorizao do leigo, da formao metodolgica dos catequistas, do carinho para com os deficientes, de um maior apoio catequese nos movimentos, etc. No foram poucos aqueles que davam sua aprovao para temas controversos, como o caso do ministriodacatequese ( um avano, valoriza o catequista, preciso reforar este ministrio...).

A equipe redatora analisou as 129 emendas e observaes apresentadas, integrando-as no texto. A parte referente Revelao e Palavra deDeus como fundamento da catequese (atuais ns 19-28) sofreu modificaes, com interpolao de vrios textos da DeiVerbum. A descrio do catecumenato ficou mais de acordo com a terminologia do RICA.

O texto emendado foi apresentado Assemblia na manh do dia 15 de Agosto; aps algumas intervenes, realizou-se a votao definitiva cujo resultado foi a aprovao integral do DiretrioNacionaldeCatequese, sem nenhum voto negativo e apenas 3 votos em branco. Ao ser proclamado tal resultado, um longo aplauso selou este rduo trabalho, iniciado em fins de 2001.

4. AS OBSERVAES DA S APOSTLICA, APROVAO E PUBLICAO

Relatando a aprovao oficial do documento, l-se nas Atas da 43a. AG: A 43a. Assemblia Geral da CNBB aprovou o DiretrioNacionaldeCatequese. Sua publicao aps a aprovao pela Santa S, aparece em volume parte.

De fato, o documento uma vez aprovado, foi imediatamente enviado, atravs da Nunciatura Apostlica, CongregaoparaoClero, organismo da Cria Romana que responde pela catequese. Tendo-o examinado minuciosamente, foi encaminhado para a CongregaoparaaDoutrinadaF.

Esperava-se um retorno imediato, ou pelo menos at o final de 2005, o que no aconteceu. Devido a esta demora, o texto aprovado pela CNBB, mesmo sem a aprovao de Roma, foi divulgado em cpias xerografadas ou pela internet, ainda como texto em elaborao. De fato, alm da expectativa por parte da maioria dos catequistas e coordenadores da catequese sobre o DNC, muitas dioceses haviam colocado nos prprios planos de pastoral de 2006 o estudo deste documento na forma de encontros, assemblias ou reunies de catequistas e reciclagem para o clero. Assim, a demora


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por parte de Roma, acelerou a divulgao do texto aprovado na AG da CNBB, em forma de texto provisrio.

Aps 10 meses de espera chegou o documento romano com as observaes das duas Congregaes, num nico texto. A Apresentao no fala em aprovao, mas sim em recognitio. Diz: a Congregao para o Clero examinou com particular cuidado o Texto em pauta, tambm considerando o fato de tratar-se do Diretrio de uma grande e nobre Nao, para a qual muitas outras Igrejas latino-americanas olharo como viva ateno e interesse.

Quanto aos aspectospositivos reconhece-se um grande valor no texto aprovado pelos Bispos, a fidelidade doutrina da Igreja e ao mesmo tempo um incentivo diante dos grandes desafios atuais; reconhece que o Texto acolhe suficientemente as indicaes do DiretrioGeralparaaCatequese, at nos detalhes, e por isso merece um parecer positivo. Afirma que o DNC poder ser um grande impulso para uma autntica evangelizao e catequese, se os responsveis, nos vrios nveis, tiverem a coragem e a fora para assumir to ricas orientaes e traduzi-las em novas e renovadas opes.

Com relao ao cap. IV (Catequese:mensagemecontedo) observa-se que o DNC atribui um papel to central Bblia na catequese que parece consider-la nica, de tal modo que a to falada qualidade de fonte da liturgia e, sobretudo a afirmada presena do CatecismodaIgrejaCatlica e seu Compndio, aparecem mais coexistentes do que adequadamente correlatos Sagrada Escritura. Num texto bastante severo reclama que no Brasil o CatecismodaIgrejaCatlicafoi minimizado e que por vezes se faz mau uso da Escritura...9.

Observa que a tradicional expresso brasileira Bblia livro por excelncia da catequese no muito exata; outros episcopados usaram a mesma expresso, mas colocando entre aspas a palavra livro..., para no dar a entender que podemos encontrar Na Bblia a totalidade do contedo da catequese... E cita DeiVerbum n 9: no atravs da Escritura apenas que a Igreja deriva sua certeza a respeito de tudo o que foi revelado. Nota que a centralidade da Sagrada Escritura [no DNC] corre o risco de uma m compreenso de considerar a catequese [bblica] como auto-suficiente, isolando-a daquilo que o DGC chama de outras fontes. Conclui exortando que precisaria esclarecer melhor no texto do DNC o nexo entre Bblia e CatecismodaIgrejaCatlica.

Por fim, o documento romano surpreende-se com a afirmao sobre as dificuldades a respeito de um catecismounitrioda CNBB para todo o imenso pas, e pede que tal afirmao seja revista para no diminuir o CatecismodaIgrejaCatlicaque deveria ser

9 O texto romano se refere ao uso imprprio no DNC de uma traduo da Bblia, muito usada no Brasil, quando de fato se deveria usar apenas a traduo da BbliadaCNBB. Na verdade, os redatores do DNC tiveram como critrio usar a traduo oficial da CNBB; porm, na reviso final escaparam apenas 2 ou 3 citaes, e isso foi suficiente para uma forte observao dos censores romanos.



considerado texto de referncia seguro e importante na elaborao dos catecismos nacionais (cita FideiDepositumn 4).

Nas observaes particulares, redigidas em portugus, so feitas observaes de menor natureza, sempre no sentido de esclarecer melhor os conceitos, no deixando margem alguma para segundas interpretaes. Neste sentido, faz tambm sugestes de interpolao de vrios textos do Vaticano II ou DGC, como os atuais ns 23-24, 31a, 33, 58, a nota do n 59... Pediu-se que o texto sobre leitura libertadora fosse harmonizado com os termos do DGC como se encontra no n 110 da verso publicada.

As observaes da Congregao para aDoutrina da F foram mais exatas e pontuais, dando inclusive a motivao da mudana sugerida. Nelas pede-se tambm a interpolao de textos do Vaticano II e outros, como nos atuais ns 16, 20-21, 57, 99 (para evitar interpretao nestoriana), 146.

Todas estas exigncias serviram, sem dvida, para melhorar o texto, apur-lo, torn-lo mais exato. Contudo, ao lado de um maior alongamento do texto (que em si j era volumoso), a to suspirada releiturabrasileirado DGC ficou por vezes prejudicada, em favor de uma interpretao mais romana.

Em reunio da Comisso Episcopal e equipe de redao cada uma dessas observaes foi avaliada, discutida, acatada e inserida no texto, com as devidas modificaes. O texto refeito seguiu imediatamente para Roma, que o devolveu aprovado em menos de um ms. Em solenidade realizada em 25 de outubro de 2006 no Auditrio D. Helder Cmara, na sede da CNBB em Braslia, foi lanado oficialmente o novo DNC.

Em sua apresentao, diz o secretrio geral da CNBB, D. Odilo Scherer: O DiretrioNacional de Catequese fruto de um grande trabalho de colaborao. Milhares de mos o elaboraram ao logo de mais de trs anos, por meio de um rico processo participativo. E a CNBB, em trs Assemblias Gerais sucessivas, examinou e aperfeioou este texto. Mesmo assim, o DNC no um documento acabado, porque a catequese dinmica, criativa, atenta s necessidades, desafios e potencialidades do mundo e da Igreja.

II. ALGUMAS CARACTERSTICAS MARCANTES DO NOVO DNC

1. A estrutura do diretrionacionaldecatequese

O DNC brasileiro, como j se disse, manteve o esquema geral do DiretrioGeralparaaCatequese da S Apostlica, com adaptaes nossa realidade, refletindo o movimento catequtico brasileiro destes ltimos 50 anos.

Diferente do DGC, esse DNC divide-se em duas partes: na primeira, de carter mais de iluminao, so tratados os fundamentosteolgico-pastorais da catequese, a


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partir da renovao ps-conciliar. Compe-se essa primeira parte de quatro captulos: inicia-se apresentando as conquistas do recente movimento catequtico brasileiro. A seguir aprofundado o tema da revelaoecatequese, correspondendo primeira parte do DiretrioGeralparaaCatequese; a a catequese se apresenta bem dentro da misso evangelizadora da Igreja, como atividade de iniciao f: o captulo mais teolgico e fundante da catequese. Aps ter sido esclarecida a verdadeira tarefa da catequese, faz-se, ento, uma leitura da nossa realidade brasileira e da histria como lugares teolgicos da manifestao de Deus, correspondendo ExposioIntrodutriado DGC. A mensagem e contedo da catequese so considerados no quarto captulo, destacando-se a Bblia, a liturgia e os catecismos.

A segunda parte, de carter mais prtico, se compe tambm de quatro captulos: primeiramente se analisa a pedagogiacatequtica tendo como fundamento a pedagogia divina, modelo da educao da f pretendida pela catequese. Enumeram-se no captulo sexto os destinatrios, considerados como interlocutores no processo catequtico. O captulo stimo trata do ministriodacatequese com seus protagonistas, principalmente os catequistas e sua formao e, por fim, no ltimo captulo, so analisados os lugares e a organizao da catequese na Igreja local.

Sinteticamente: Introduo; IParte:Fundamentosteolgico-pastoraisdacatequese:1. Movimento catequtico ps-conciliar: conquistas e desafios; 2. A catequese na misso evangelizadora da Igreja; 3. Catequese contextualizada: histria e realidade; 4. Catequese: mensagem e contedo. IIParte:OrientaesparaaCatequesenaIgrejaParticular: 5. Catequese como educao da f; 6. Destinatrios como interlocutores no processo catequtico; 7. O ministrio catequtico e seus protagonistas; 8. Lugares da catequese e sua organizao na Igreja particular.

Concluso

Analisando a estrutura do DGC e do DNC, percebe-se algumas diferenas. Assim, o DGC composto de cinco partes com vrios captulos, ao passo que o DNC est estruturado em 2 partes com quatro captulos cada uma. Por outro lado, os oito captulos do DNC refletem as cinco partes do DGC.

As adaptaes realidade brasileira, entre outras coisas, consistiram em acrescentar 3 captulos quelas cinco partes do DGC. Aquilo que no DGC era uma simples Exposio Introdutria, tornou-se no DNC um captulo importante (o terceiro) intitulado: Catequese contextualizada: histria e realidade.

Tal mudana foi proposital e reflete a tradio recente da Amrica Latina, sobretudo do Brasil: dar importncia realidade histrica, social, cultural. Afirma-se logo no incio deste captulo III: A Igreja faz parte da histria. Ela est situada no contexto social, econmico, poltico, cultural e religioso, marcado atualmente pela globalizao neoliberal de mercado e pelo pluralismo. Em nossa complexa realidade brasileira, predomina uma matriz cultural crist. O mandato missionrio de Jesus coloca cada discpulo e a Igreja,



em qualquer lugar, como sal, luz e fermento. A catequese, como ministrio da Igreja, leva em conta as situaes especficas de cada lugar e as condies prprias de cada grupo de catequizandos (n 59).

Portanto, no se contenta apenas em fazer uma exposio introdutria da situao (como se faz no DGC) para nela anunciar o evangelho, mas ela considerada como locus theologicus da manifestao da Palavra de Deus (cf cap. III, ttulo 1 com a respectiva nota).

Note-se tambm que este III captulo (uma espcie de ver, dentro do mtodo ver-iluminar-agir-celebrar, com um duplo olhar: histria passada e histria presente) no est situado em primeiro lugar, como logicamente poderia parecer. De fato, em geral ao tratar de um problema, faz-se a anlisedarealidade, vendo quais so os principais problemas, como se apresentam, qual o seu contexto... etc. Seria uma espcie de statusquaestionis dos antigos escolsticos, que, naturalmente sempre vem em primeiro lugar.

No DNC optou-se por situar esse cap. III aps a apresentao da plataforma de sustentao da catequese (teologia da revelao, catequese a servio da Palavra de Deus, definio da natureza, finalidades e objetivos da catequese), e a descrio da sua identidade, como se apresenta no cap. II. Ou seja: olha-se para a realidade desafiante do mundo de hoje somente aps a declarao de princpios, aps ter assentado a catequese em slidas bases bblico-teolgicas. a partir dessa slida viso teolgico-pastoral que podemos nos debruar sobre a anlisedarealidade. Esta inverso com relao ao tradicional mtodo ver-iluminar-agirj vinha sendo adotada desde a Conferncia de Santo Domingo (1992). Apesar de alguns quererem ver em tal alterao um posicionamento ideolgico, a comisso de redao julgou por bem mant-la.

Ainda com relao ao DGC que trata longamente da educao religiosa escolar10, o tema do EnsinoReligiosoEscolar brevemente tratado no DNC, falando apenas de Sua diferena com relao catequese na comunidade e apresentando a escola mais como lugar de anncio evangelizador e de dilogo com outras religies, credos e culturas do que propriamente como lugar de educao da f crist, que tem seu lugar privilegiado no ambiente da comunidadeeclesial. Neste sentido, enquanto o DGC trata da escola e da educao religiosa escolar no cap. III da quinta parte como um lugar de catequese, o DNC prefere situar este tema no final do cap. II da primeira parte onde se descreve a natureza evangelizadora da catequese, justamente para diferenciar o ensinoreligiosoescolare para falar da misso evangelizadora da escola (cf DNC 54-58). Trata tambm brevemente sobre a misso eminentemente evangelizadora da escolacatlica(DNC57-58).

10 No DGC h vrias referncias ao EnsinoReligiosoEscolar: 51, 60, 73-76, 179, 199, 259-260, 279...


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2.Catequeseevangelizadoraecristocntrica

O DNC, como no poderia deixar de ser, inspira-se na renovao teolgica e pastoral do Vaticano II e na caminhada ps-conciliar da Igreja no Brasil. O ttulo do cap. II, inspirado no tema da segunda parte do DGC, muito sugestivo e significativo: A catequese na misso evangelizadora da Igreja. A catequese considerada como parte desta nica e grande misso eclesial do anncio do Evangelho, e se coloca a seu servio.

Vivemos em tempos mais de evangelizao explcita do que em tempos de cristandade, quando evangelizar significava anunciar o Evangelho em terras distantes. Hoje o desafio da Igreja a evangelizao do mundo, mesmo em territrios de antiga cristandade, como o caso tambm do Brasil (cf n. 29). Em muitos lugares vive-se em meio a culturas pags e s vezes ps-crists (cf DGC 110); da a necessidade de continuamente re-proporaessnciadoEvangelho,oquerigma,oanncioexplcitodeJesusCristo. J est superado o modelo de catequese tpico da igreja de cristandade, quando as famlias e a prpria sociedade favoreciam a iniciao vida crist. No existindo mais este contexto cultural cristo, necessrio retornar ao anncio explcito do Evangelho.

A catequese, como um segundo momento em relao todo processo evangelizador, precisa ela mesma assumir as caractersticas da evangelizao, seu ardor missionrio, o ncleo querigmtico, tornando-se uma catequese evangelizadora. Afirma o DNC: A atividade da Igreja, de modo especial a catequese, traduz sempre a mstica missionria que animava os primeiros cristos. A catequese exige converso interior e contnuo retorno ao ncleo do Evangelho (querigma), ou seja, ao mistrio de Jesus Cristo em sua Pscoa libertadora, vivida e celebrada na liturgia. Catequese em seu sentidoespecfico de aprofundamento da mensagem crist (catequese doutrinal) s tem sentido quando esta mesma mensagem houver j sido conhecida como alegre anncio que impulsiona a um maior conhecimento e opo por Jesus Cristo. De a tambm fica patente o cristocentrismode toda catequese.

3.Sagradaescrituracomolivrodecatequeseporexcelncia

A catequese renovada pelo Vaticano II, baseia-se na PalavradeDeus, manifestada na Tradio (Bblia, Liturgia, Santos Padres, Catecismos). O DNC re-afirma aquilo que j uma antiga conquista nossa: a Bblia continua sendo o livro por excelncia da catequese, e a comunidade crist, o ambiente onde o catequizando ou catecmeno devem crescer e viver a prpria f. As observaesvindas de Roma chamaram a ateno para o fato de que o livro da catequese deveria ser o catecismo e no a Bblia; e cita a DeiVerbumn 9 (cf acima n 4); sugeriu-se que a palavra livrodacatequese aplicada Bblia, fosse colocada entre aspas, o que foi feito (DNC 107).

Tal preocupao, se por um lado se inscreve dentro da polmica antiprotestante, por outro muito justa em ambientes fortemente cristos onde as Escrituras j so



suficientemente conhecidas, e ento o catecismo torna-se o livro de aprofundamento daquilo que apenas com as Escrituras no se pode ter acesso, com certeza, a tudo aquilo que foi revelado, conforme DV 9 j citado. Porm, num ambiente que exige uma forte evangelizao, nova evangelizao ou re-evangelizao, como o caso do Brasil, as Escrituras Sagradas ocupam o primeiro lugar, na frente e acima dos catecismos. E o melhor texto de catequese (ou catecismo) aquele que orienta para o contato direto com a Palavra de Deus.

4.Catequesecomoiniciaocristedeinspiraocatecumenal

Ao longo da histria o importantssimo papel da catequese, juntamente com a liturgia, de iniciar os cristos aos mistrios da f por meio de um srio e profundo catecumenato, foi absorvido pelas famlias crists e pela sociedade, assim chamada de crist: foram os longos sculos do catecumenatosocial. Neste contexto a catequese permanecia apenas com a funo doutrinal, que especificamente possua dentro do grande quadro da iniciao crist.

Superando este conceito restrito de catequese, o DNC assume a dimensocatecumenal como inspiradora de toda catequese: mais do que a tradicional dimenso racional ou doutrinal da f, a catequese torna-se experiencial, celebrativa, orante. D importncia aos smbolos e aos progressivos e graduais passos na f, assumindo assim as caractersticas de um processo inicitico(iniciaoaosmistriosdaf). Neste sentido, tambm seguindo as propostas do DGC, o DNC assume a proposta de retomada do catecumenatobatismal dos incios do cristianismo como modelo de toda e qualquer catequese. Tal dimenso catecumenaleinicitica da catequese no apenas para catecmenos, ou seja, para adultos, jovens ou crianas que se preparam para o batismo, mas tambm para catequizandos, ou seja, batizados adultos, jovens e crianas que necessitam de uma maior re-iniciao f ou mesmo necessitam completar a prpria iniciao.

O RitodeIniciaoCristdeAdultos reproposto como paradigma da dimenso catecumenal da qual a catequese deve se revestir. Assim, ao logo de todo o DNC proposta a parceria com liturgia. necessrio retornar unio ntima que no cristianismo primitivo havia entre catequese e liturgia. Essas duas dimenses da pastoral eclesial, que durante sculos estiveram separadas, precisam voltar a se reunir no esforo conjunto de proporcional uma sria e profunda iniciao crist aos nossos destinatrios ou interlocutores. Tal conscincia, j presente entre catequetas e liturgistas, cresceu sobremaneira ao longo da redao do DNC.

5.Comadultos,catequeseadultanumaigrejaadulta

Este tema, muito presente no Brasil nestes ltimos 25 anos, foi plenamente assumido pelo DNC. A catequese a descrita est voltada preferencialmente para os adultos e jovens: as crianas so muito queridas e bem-vindas catequese, mas a ateno principal de todas as foras catequticas da Igreja deveriam se voltar para tantos


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adultos que foram batizados mas no evangelizados, nem suficientemente iniciados na f. O objetivo da catequese no so apenas os sacramentos, mas a vivncia de toda vida crist, dentro da qual os sacramentos tm sentido, principalmente por parte dos adultos. Seguindo o DGC na apresentao dos destinatrios ou interlocutores, em primeiro lugar so nomeados os adultos. E ao longo do documento, todas as vezes que se fala da catequese conforme as idades, sempre se segue esta ordem: adultos, ancios, jovens, adolescentes, pr-adolescentes e crianas.

Esta dimenso da catequese se defronta continuamente com o problema metodolgico que, ao fim e ao cabo, se torna tambm um problema de contedo. Com adultos necessrio fazer uma catequeseadulta, que leve em conta sua adultez, maioridade, autonomia, independncia e, sobretudo sua situao de leigos e leigas. No sculo XXI uma catequese com adultos ter frutos somente se ela tambm for adulta, superando o crnico infantilismo religioso, fruto de uma Igreja paternalista e clericalista, encaminhando-se para a maturidade em Cristo que ir gerar igualmente uma Igreja adulta na f.

6.Importnciadapessoadocatequistaedesuaformao:oministriodacatequese

A pastoral catequtica, tal como proposta no DNC, privilegia o catequista e insiste muito em sua esmerada formao. Talvez uma das partes mais desenvolvidas deste documento, seja o cap. VII, dedicado ao ministrio do catequista. Como todo documento catequtico, fala das diversas responsabilidades na Igreja, desde as comunidades, as famlias... at a figura do Bispo, o catequista por excelncia. Mas, a parte dedicada ao catequista leigo e leiga e sua formao a mais bem desenvolvida. Entre tantos aspectos tratados, evidencia-se a formao pessoal do catequista como discpulo e missionrio de Jesus Cristo (tema da V CELAM), sua misso de testemunha e sobretudo sua espiritualidade bblica e eclesial. Insiste-se bastante na necessria formao do clero e dos futuros presbteros.

No final desta parte dedicada aos catequistas o DNC institui o "ministrio do catequista" para aqueles que so reconhecidamente eficientes como educadores da f de adultos, jovens e crianas, e esto dispostos a se dedicarem por um tempo razovel atividade catequtica na comunidade. Tal reconhecimento do trabalho do catequista como um ministrio formalmente estabelecido na comunidade quer valorizar o importantssimo esforo dos educadores/as da f. Houve resistncias a este reconhecimento, tambm por que o DGC no d acolhida a este ministrio formalmente conferido11. O DNC numa expresso bastante restritiva diz que tal ministrio pode

11 Na verdade a nota 55 do n. 50 do DGC d a entender que no aprova a instituio formal do ministrio da catequese. Entretanto no n. 221 afirma: Ainda que toda a comunidade crist seja responsvel pela catequese, e ainda que todos os seus membros devam dar testemunho da f, somente alguns recebem o mandato eclesial de ser catequistas. [...] A Igreja confereoficialmente, a determinados membros do Povo de Deus, especificamente chamados, a delicada misso de transmitir a f, no seio da comunidade. Estas ltimas palavras so citadas no DNC 245 com grifo.



ser conferido oficialmente (DNC 245): ou seja, uma deciso das Igrejas Particulares, avaliadas as prprias circunstncias.

7.Umacatequeseencarnadanahistriaelibertadora

O documento anterior CatequeseRenovada (1983), elaborado em plena vigncia das correntes teolgicas da libertao, tinha um carter marcadamente antropolgico, voltado para a situao de pobreza econmica do povo e para a situao sciopoltica, vivida ento sob a ditadura militar. O atual DNC surgido em outro contexto scio-poltico-cultural, no tem certamente as mesmas perspectivas to acentuadas. Entretanto, o modelo de catequese que apresenta bastante encarnadonahistria e com aquela mesma dimenso antropolgica que tanto tem caracterizado nossa prxis e pensamento catequtico.

A figura de Jesus sempre apresentada em seu amor misericordioso para com os mais pobres e humildes; sua pedagogia, seu acolhimento s pessoas, preferencialmente aos pobres, pequenos, excludos e pecadores exemplo para a catequese (DNC 141a); a opo pelos pobres muitas vezes lembrada (13f-1, 51, 89, 92, 103-104), assim como a leitura libertadora da Bblia (113). Esto presentes tambm outras categorias de pobres: presos, soropositivos, txico-dependentes, prostitutas, sem terra, marginalizao urbana, etc (209), ou ainda as realidades sofridas do nosso povo, como o medo, a insegurana (213), a luta pela sobrevivncia, o anonimato, a solido (214).

A clebre proposta de uma catequese antropolgica da ConfernciadeMedelln(1968) afirmando que as situaes histricas e as aspiraes autenticamente humanas fazem parte do contedo essencial da catequese (cf. Medelln 8, 6), est citada no DNC conforme sua releitura feita pelo DGC n. 117: Na catequese bblica, se ajudar a interpretar a vida humana atual, luz das experincias vividas pelo Povo de Israel, por Jesus Cristo e pela comunidade eclesial, na qual o Esprito de Cristo ressuscitado vive e opera continuamente (DNC 86 citando tambm CatequeseRenovada 74)

Concluso:porumacatequeseevangelizadoradefeiocatecumenal

O novo DNC no rompe com o passado, mas em continuidade com o documento Catequese Renovada (1983) procura considerar outras perspectivas apresentando um novo paradigma, que, na verdade, to antigo quanto a Igreja: uma catequese profundamente cristocntrica, experiencial, litrgica, orante, ou seja: com dimenso catecumenal.

Por uma srie de motivos histricos, a catequese chegou at ns muito marcada pela dimensodoutrinal, cuja expresso mxima so os catecismos. importante dizer que estes textos, que tanto influenciaram beneficamente a catequese no passado, so importantes mas no esgotam as ricas dimenses do processo catequtico. A educao da f vai muito mais alm do conhecimento das formulaesdaf, to bem sintetizada


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nos catecismos. Portanto, tanto o CatecismodaIgrejaCatlica (1992) como seu recente Compndio (2005), so instrumentosprivilegiados, mas traduzem apenas a dimenso do contedodoutrinal: o grande desafio levar o catecmeno e o catequizando ao verdadeiro conhecimento (no sentido joanino), isto , verdadeira experincia de Deus, de Jesus Cristo, da Igreja, dos Sacramentos, da vida crist. E para isso, o mais importante o contato direto com a PalavradeDeus transmitida nas Escrituras, na vida concreta da Igreja, no testemunho dos cristos, principalmente do catequista e sua comunidade.

Muitos catequistas gastam energias enormes querendo transmitir a doutrina dos catecismos para pessoas que ainda no tiveram nem um primeirocontacto ou impacto com a pessoa e a mensagem salvadora de Jesus. Da dizer-se que a evangelizao precede a catequese, ou melhor, que toda e qualquer catequese deve ser evangelizadora. Esta mudana de concepo da natureza da catequese talvez seja o nosso maior desafio: hoje a catequese precisa assumir as caractersticas da evangelizao, tanto em sua dimenso de contedo (ou seja, o querigma, o anncio essencial do evangelho) como em sua metodologia (o testemunho direto de vida, o ardormissionrio, a experincia litrgica e celebrativa).

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57-101-1-PB