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062 pós- pós v.16 n.26 são paulo dezembro 2009 Resumo Inseridas em modelo de planejamento estratégico, muitas cidades vêm buscando a receita da transformação urbana, por meio de grandes projetos de desenvolvimento urbano que expressem um urbanismo monumental e contenha arquiteturas de grife. Dentre as diversas cidades que já experimentaram esse tipo de planejamento urbano, destaca-se Bilbao, a qual, com a construção do Museu Guggenheim, projetado pelo arquiteto Frank Gehry, passou por uma transformação em sua estrutura urbana e por uma nova construção imagética da cidade no mundo contemporâneo dos negócios e dirigida pelo capital financeiro, bem como por uma economia cada vez mais dependente da obtenção de rendas de monopólio. Assim sendo, o modelo adotado nessa cidade provocou o chamado “efeito Bilbao”, sendo o museu, em grande medida, o principal responsável por essa implicação, tornando- se também o principal ícone da capital basca. No entanto, a cidade vem buscando auto-afirmar-se à custa de outras intervenções e, principalmente, de outras arquiteturas de grife, com a agregação de mais valor simbólico às novas construções, muitas das quais seguindo a receita de sucesso do Guggenheim. Diante de tal fato, entender os grandes projetos urbanos, isto é, o “urbanismo monumentalista patriótico” de Bilbao e, por conseguinte, sua arquitetura de grife, é o objetivo deste trabalho. Palavras-chave Planejamento estratégico, Bilbao, Guggenheim, arquitetura de grife. l g u gg e nh e im y m u cho más” – u rbanismo mon u m e ntal e arquit e t u ra d e grif e e m bilbao 1 e Mariana Fialho Bonates

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guggenheim museo bilbao

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    ResumoInseridas em modelo de planejamento estratgico, muitas cidades vmbuscando a receita da transformao urbana, por meio de grandesprojetos de desenvolvimento urbano que expressem um urbanismomonumental e contenha arquiteturas de grife. Dentre as diversascidades que j experimentaram esse tipo de planejamento urbano,destaca-se Bilbao, a qual, com a construo do Museu Guggenheim,projetado pelo arquiteto Frank Gehry, passou por uma transformaoem sua estrutura urbana e por uma nova construo imagtica dacidade no mundo contemporneo dos negcios e dirigida pelo capitalfinanceiro, bem como por uma economia cada vez mais dependente daobteno de rendas de monoplio. Assim sendo, o modelo adotadonessa cidade provocou o chamado efeito Bilbao, sendo o museu, emgrande medida, o principal responsvel por essa implicao, tornando-se tambm o principal cone da capital basca. No entanto, a cidadevem buscando auto-afirmar-se custa de outras intervenes e,principalmente, de outras arquiteturas de grife, com a agregao demais valor simblico s novas construes, muitas das quais seguindo areceita de sucesso do Guggenheim. Diante de tal fato, entender osgrandes projetos urbanos, isto , o urbanismo monumentalistapatritico de Bilbao e, por conseguinte, sua arquitetura de grife, oobjetivo deste trabalho.

    Palavras-chavePlanejamento estratgico, Bilbao, Guggenheim, arquitetura de grife.

    l guggenheim y mucho ms urbanismo monumental earquitetura de grife embilbao1

    eMariana Fialho Bonates

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    ResumenIncluidas en un modelo de planificacin estratgica, muchasciudades buscan la receta de la transformacin urbana a travs degrandes proyectos de desarrollo urbano que expresen un urbanismomonumental y que cuenten con arquitecturas de grife. Entre lasmuchas ciudades que probaron esse tipo de planificacin urbana,se destaca el caso de la ciudad de Bilbao, que, con laconstruccin del museo Guggenheim, proyectado por el arquitectoFrank Gehry que provoc el nombrado efecto Bilbao,responsable, a gran medida por la transformacin de la estructuraurbana y de la nueva construccin de la imagen de la ciudad en elmundo contemporneo de los negocios, dirigido por el capitalfinanciero y por una economia cada vez mas dependiente de laobtencin de rentas de monoplio. As, el museo se ha vuelto elprincipal cono de la capital basca. Pero, la ciudad buscaautofirmarse tamben con otras intervenciones y, pricipalmente, atravs de otras arquitecturas de grife, agregando ms valorsimblico a las nuevas construcciones, muchas de ellas siguiendolas recetas exitosas del Guggenheim. De hecho, entender losgrandes proyectos urbanos, es decir, el urbanismo monumentalistapatritico de Bilbao y, luego, su arquitectura de grife, son losobjetivos de este texto.

    Palabras clavePlanificacin estratgica, Bilbao, Guggenheim, arquitectura de grife.

    EL GUGGENHEIM Y MUCHO MSURBANISMO MONUMENTAL Y

    ARQUITECTURA DE GRIFE EN

    BILBAO

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    AbstractMaking use of strategic planning, within which large-scale urbanprojects of monumental urbanism and signature architecture arefostered, many cities have been greatly transformed in recent years.Bilbao is one of them. The Guggenheim Museum, designed byarchitect Frank Gehry, has prompted the so-called Bilbao effect,projecting the city image internationally into the business world. Themuseum has become the main icon of the Spanish Bask capital.However, the city has also promoted other projects, by also signaturearchitects, adding more symbolic value and thus monopoly rents to the city. Understanding the role of large-scale urban interventions or a monumental patriotic urbanism to Bilbaos urbandevelopment is the main objective of this paper.

    Key wordsStrategic planning, Bilbao, Guggenheim, signature architecture.

    EL GUGGENHEIM Y MUCHO MS

    MONUMENTAL URBANISM AND

    SIGNATURE ARCHITECTURE IN

    BILBAO

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    Introduo

    A crise do modelo fordista de produo e a emergncia de um novo regimede acumulao acumulao flexvel influenciaram na mudana do enfoquedo planejamento urbano e da forma de intervir nas cidades, para o que DavidHarvey (2005)2 , ainda na dcada de 1980, chamou de empreendedorismourbano e, posteriormente, Castells e Borja (1996) denominaram deplanejamento estratgico3 . Esses dois ltimos autores defendem e apontam ascaractersticas desse projeto de cidade, no qual o governo local passa a ter maisautonomia, novas competncias, e, com os demais atores sociais, passa apromover a construo de uma nova imagem de cidade por meio de diferentescampos de atuao, como, por exemplo: 1) promoo econmica da cidade; 2)promoo de segurana pblica e de justia; 3) melhorias urbansticas,ambientais, de infra-estrutura de servios urbanos, transportes e comunicaes;4) promoo de programas sociais de moradia e urbanizao bsica; 5)programas de gerao de emprego; e 6) oferta cultural tanto aquela destinadaaos pblicos externos como a destinada aos pblicos internos (CASTELLS;BORJA, 1996). No campo urbanstico, de moradia e de meio ambiente,

    O papel promotor e a liderana local podem, assim, concretizar-sena definio de grandes obras pblicas financiadas pelo Estado; narecuperao das reas obsoletas sob posse de autoridades porturias,militares ou de ministrios diversos; na gesto de programas demoradia; na delegao ou transferncia da competncia disciplinarem todos os temas de meio ambiente urbano; na definio de novasfiguras de planejamento que o vinculem execuo de projetos; napossibilidade de criar holdings, consrcios ou empresas mistas; naexecuo conjunta, com outras administraes e com agentesprivados, de grandes operaes de desenvolvimento urbano; naassuno do domnio pblico do subsolo, reabilitao de centrosantigos, planos de uso, etc. (CASTELLS; BORJA, 1996, p. 162)

    Por outro lado, autores como Otlia Arantes (2000) e Carlos Vainer (2000)apresentam posies crticas quanto a esse modelo de planejamento. Para aprimeira, o planejamento estratgico est relacionado terceira geraourbanstica, do urbanismo contemporneo4 , que ela caracteriza como umasimbiose de imagem e produto, ou seja, o fator simblico passa a ter papelrelevante no desenvolvimento e no planejamento urbanos contemporneos emalguns casos, mais importante, inclusive, que outros aspectos do prprioplanejamento. Alm disso, segundo Arantes (2000), esses processos derevitalizao, reabilitao, revalorizao, reciclagem, requalificao, etc., fazemparte desse tipo de planejamento, que tambm est relacionado s gentrificaesurbanas. Diz ela:

    (1) Agradeo peloscomentrios e sugestesdo Prof. Dr. Mrcio MoraesValena.

    (2) Esse texto foipublicado pela primeiravez em GeografiskaAnnaler, edio de 1989.

    (3) Um Plano Estratgico a definio de umProjeto de Cidade queunifica diagnsticos,concretiza atuaespblicas e privadas eestabelece um marcocoerente de mobilizao ede cooperao dos atoressociais urbanos.(CASTELLS; BORJA, 1996,p. 166)

    (4) Venuti denominageraes urbansticas oconjunto das condieseconmicas, sociais,culturais e polticas quecaracterizam um perodode vida da sociedade. Deacordo com suaclassificao, a primeiragerao do urbanismocontemporneocorresponde reconstruo das cidadesdestrudas durante aSegunda Guerra Mundial;a segunda geraoconstitui a expansourbana atravs da criaode novas reasurbanizadas e a terceiragerao diz respeito transformao urbana,uma vez que a cidadepode e deve ser reutilizadamediante processo dequalificao dasestruturas urbanas.(MELO, 2008, p. 4-5)

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    Como estou dando a entender que o planejamento dito estratgicopode no ser mais do que um outro eufemismo para gentrification,sem no entanto afirmar que sejam exatamente a mesma coisa quemsabe a sua apoteose: uma cidade estrategicamente planificada de A aZ nada mais seria, enfim, do que uma cidade inteiramentegentrificada [] (ARANTES, 2000, p. 31)

    Para Vainer (2000), seguindo-se o planejamento estratgico, a cidadedeve ser vendida no mercado global como uma mercadoria e, para isso, deveser gerida tal como uma empresa, de acordo com os princpios deprodutividade e competitividade, a fim de serem procurados maisinvestimentos, sendo o city marketing o principal instrumento utilizado paraesse fim. Alm da mercadoria e da empresa, o planejamento estratgicocria, inicialmente, entre os cidados, um sentimento de crise, de a cidadenecessitar de uma grande transformao para reativar sua economia. Assim,faz-se necessrio reconstru-la com o sentimento patritico da cidade visando legitimao do plano. Com tal objetivo, o urbanismo monumentalistapatritico reentronizado, produzindo ao final do sculo XX os novos arcos dotriunfo do capital transnacionalizado. (VAINER, 2000, p. 94) nesse contextoque se destacam, segundo denominao de Snchez et al. (2004), os grandesprojetos de desenvolvimento urbano (GPDU), inseridos nas ilhas deprosperidade, com as seguintes caractersticas, necessrias para sua plenaconcretizao:

    [] a formao de parcerias entre os setores pblico e privado; aimplementao de novos instrumentos e instituies voltados para ogoverno urbano; a desregulamentao e/ou flexibilizao do aparatolegal da cidade e a reduo da escala de interveno/gesto urbana,por meio de projetos de grande impacto no espao construdo dascidades. (SNCHEZ et al, 2004, p. 42)

    Assim, o urbanismo monumentalista patritico, citado por Vainer (2000),pode ser considerado como sendo os GPDU, implantados, em especial, emantigas reas degradadas e deterioradas, como centros urbanos e/ou zonasporturias (waterfront)5 , marcados por uma nova imagem da cidade para reativaro sentimento patritico nos cidados. A reconverso dessas reas, por meio deum grande projeto urbano, assimilada pela transformao no uso do solo,voltado, sobretudo, para o chamado cultural turn, uma vez que, no mundocontemporneo, para entrar nesse universo dos negcios, a senha maisprestigiosa a cultura [] a nova grife do mundo fashion, da sociedade afluentedos altos servios a que todos aspiram (ARANTES, 2000, p. 31).

    O turismo recreativo, cultural, de compras e de negcios, tem semostrado importante dinamizador econmico e social nos projetos derevitalizao das reas centrais, particularmente nas reas porturiase frentes de gua, onde a simbiose histrica entre cidade e mar podeser amplamente explorada e transformada num efetivo cenrio soos Festival Market Malls, as marinas, os aqurios e museus, oscentros de conferncias, etc. (DEL RIO, 2001)

    (5) Essas antigas reasporturias, assim como asantigas reas ferrovirias,so marcadas pelasbarreiras fsicas e pelafalta de integrao com oresto da cidade,dificultando odesenvolvimento urbanode seu entorno.

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    Dessa forma, verifica-se que esse urbanismo monumentalista conta com apresena de edifcios-ncora de vis culturalista, como os museus, centros deconferncias, aqurios, marinas, etc., mas tambm, e, especialmente, com umaarquitetura caracterizada pela monumentalidade, conseguida com a forma deimplantao do edifcio no espao urbano, a escala, a tecnologia e os materiaisutilizados na edificao. Alm disso, em geral, essa arquitetura monumental demarca ou de grife, ou seja, assinada por arquitetos de renome internacional;embora isso no seja mencionado por Castells e Borja (1996), no projeto de cidadeestratgico. Para Pedro Arantes (2008), a arquitetura de marca6 , como eledenomina, est relacionada com o capital financeiro e propostas arquitetnicas desolues nicas e, portanto, gerando outro tipo de renda, no apenas a velharenda fundiria. O autor diz, sobre essa arquitetura:

    Os arquitetos da era financeira, ao contrrio dos modernos, noprocuram solues universalistas, para serem reproduzidas em grandesescalas o que anularia o potencial de renda monopolista damercadoria. O objetivo a produo da exclusividade, da obra nica,associada s grifes dos projetistas e de seus patronos. []. A arquiteturade marca tem, assim, um limite comercial que a obriga a adotarsolues inusitadas e sempre mais chamativas: se diversas cidadesalmejarem uma obra de Frank Gehry, por exemplo, perderoprogressivamente a capacidade de capturar riquezas por meio deprojetos desse tipo. (ARANTES, 2008, p. 179)

    Ou seja, deixa-se de perseguir o lema a forma segue a funo para sebuscar uma obra de arte arquitetnica com um valor simblico agregado e, muitasvezes, ela est deslocada do contexto urbano, como descrito por Christine Boyer:

    Assim, outro destaque o importante papel reservado para acapacidade expressiva e simblica das novas arquiteturas, dos edifciosde grife cenografia dos city tableaux, muitas vezes criticados pelosdeslocamentos temporais e geogrficos que seus ambientes promovem, epela artificialidade social tpica do ps-modernismo. (BOYER, apudDEL RIO, 2001)

    Outra caracterstica da arquitetura contempornea de grife a valorizao dassuperfcies, embalagens ou peles: a prevalncia das superfcies em relao sestruturas o que permite a mgica de sua desmaterializao e transformao emimagem miditica. (ARANTES, 2008, p. 193). Essas superfcies podem serconstitudas de materiais diversos desde que no sejam convencionais comovidros, chapas metlicas (variadas), placas polimricas, etc.

    Tendo como pano de fundo esse planejamento estratgico e sua caractersticade reabilitao das reas porturias por meio de um urbanismo monumentalista com a presena de edifcios-ncora de arquitetura de grife , pode-se dizer queBilbao, efetivamente, aderiu a esse novo modelo, transformando no apenas suaestrutura urbana, mas, principalmente, sua construo imagtica e o sentimentopatritico da populao basca. Seu principal cone de arquitetura de grife (edifcio-ncora) e mais conhecido elemento de city marketing o projeto de Frank Gehry, oMuseu Guggenheim o qual, gostem ou no de sua arquitetura, surpreende a todos inclusive ao prprio arquiteto, que afirmou, em documentrio dirigido por Sydney

    (6) Para Arantes (2008,p. 178), a ascenso dasmarcas, mesmo as deempresas produtoras demercadorias tangveis,est sobretudo associada nova hegemoniafinanceira, segundo a quala imagem e o nome damarca sobrepem-se aovalor-trabalho dasmercadorias que aempresa produz (outerceiriza),acrescentando-lhes umvalor de novo tipo: umaespcie de renda derepresentao dasprprias mercadorias.Cumprem, como imagemque se destaca do corpoprosaico do objeto, umpapel similar ao daabstrao do dinheiro.Interpretando isso para aarquitetura de marca,significa que um tipo dearquitetura projetada porarquitetos de renomeinternacional, cuja famareconhecida acrescentaum valor simblico aoobjeto projetado o qualno pode ser reproduzidoou copiado.

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    Pollack (2005), ter ficado constrangido ao ver, pela primeira vez, seu edifcioconstrudo, perguntando-se, ento: Como me deixaram fazer isso? PedroArantes (2008) afirma ser o edifcio um caso bem-sucedido, no apenas comosurpreendente aparato tcnico/esttico, mas tambm, ou, sobretudo, comoestratgia rentista, devido s rendas de monoplio7 que gera para os diversosagentes envolvidos, por ser divulgado pelos canais miditicos como pice daproduo arquitetnica recente.

    No entanto, a despeito do forte apelo imagtico do Guggenheim, Bilbaovem buscando auto-afirmar-se para alm do museu: El Guggenheim y muchoms o slogan encontrado no folhetim Bilbao International, um dos muitospanfletos tursticos sobre a cidade. De fato, Bilbao tem mucho ms alm doGuggenheim para se ver e conhecer; apesar disso, o museu continua sendo aprincipal atrao turstica da cidade. Discutir os grandes projetos urbanos, isto ,o urbanismo monumentalista patritico de Bilbao e, por conseguinte, suaarquitetura de grife, o objetivo deste trabalho. Para isso, primeiro foi necessrioconsiderar o papel do planejamento estratgico suas principais conseqncias no desenvolvimento urbano contemporneo das cidades. Em seguida, em visitaao local da pesquisa, para observao sistemtica e coleta de dados, foramreunidos documentos como as notcias veiculadas pelo folhetim BilbaoInternational e pelo Museu Guggenheim, e tambm panfletos tursticos einformaes institucionais, inclusive, pela internet. Portanto, a discusso quesegue tem por base uma pesquisa de campo realizada em 2008 e vriostrabalhos j produzidos sobre aspectos do desenvolvimento urbano de Bilbao eassuntos correlatos.

    Bilbao Y MUCHO MS

    Bilbao uma cidade localizada no norte da Espanha e capital da provnciabasca. Em 2006, tinha mais de 300 mil habitantes, e, sua regio metropolitana,pouco mais de 900 mil habitantes. At pouco tempo, era mais conhecida comoo palco de ao do explosivo ETA (Euzkadi a Askatsuma ou Povo Basco eLiberdade), um grupo nacionalista determinado a livrar o pas basco do domnioespanhol (GLANCEY, 2001, p. 225).

    Embora pouco divulgada, uma cidade de muita histria. Datadaaproximadamente do sculo 12, seu centro histrico possui ruas medievais,igreja gtica, edifcios e plazas neoclssicos, entre outros elementos de perodosdiversos. No sculo 19 e incio do sculo 20 foi quando a cidade mais cresceu,devido ao seu importante parque porturio e industrial (de minerao, siderurgiae construo naval) e conseqente incremento populacional.

    Bilbao tambm se tornou bastante conhecida pelo processo dedesindustrializao pelo qual passou aps a dcada de 1970, com a crise dofordismo e a emergncia da nova economia de acumulao flexvel, quecausaram a migrao das indstrias multinacionais para pases do TerceiroMundo e o crescimento do setor de servios (a terciarizao) nos pases docapitalismo avanado. semelhana de outras cidades europias que passarampelo mesmo processo, Bilbao viu seu parque industrial e porturio reduzir suasatividades. A economia estagnou, sobretudo, na dcada de 1980:

    (7) Ribeiro (1997, p. 67),ao interpretar a teoria dovalor de Marx, explica: arenda de monoplio umaforma particular de rendanascida sob condiessingulares. []. Nestecaso estamos diante debens que no somercadorias no sentidoestrito do termo. Trata-sede objetos, como, porexemplo, obras de artecujo preo no reguladopela lei do valor, mas pelasnecessidades, desejos ecapacidades depagamento doscompradores. [], opreo de monoplio nascequando tem-se um bemno-reprodutvel ouparcialmente reprodutvel.Neste sentido, cria-severdadeiramente um preode monoplio. nessecontexto que asarquiteturas de grife, asquais esto sendoimplantadas em Bilbao,geram rendas demonoplio. Essasarquiteturas so poucoreprodutveis e possuemalto valor simblico, quasecomo obras de arte, sendoassociadas ao tipo deplanejamento que pregauma valorizao daimagem a terceiragerao urbanstica.

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    Em meados dos anos de 1970, o setor industrial de Bilbao passou poruma crise provocada pela insuficiente capacidade de adaptao smudanas tecnolgicas e aos novos desafios da globalizao e pelaconcorrncia de outros pases. Durante os anos de 1980, comoresultado desses fatores, a regio metropolitana de Bilbao perdeu80.000 empregos industriais e 70.000 residentes sobre um total de ummilho. A crise econmica agravou a deteriorao urbana e ambiental,ao mesmo tempo em que gerou mais excluso social. (MELO, 2008,p. 6)

    Para agravar a situao de crise, de degradao e deteriorao de suasestruturas fsicas, em 1983 a cidade sofreu com a inundao do rio Nrvion,que destruiu grande parte do stio histrico. Desde ento, Bilbao iniciou umareabilitao urbana de seu centro histrico, a qual, posteriormente, estendeu-se,passando a envolver diferentes reas da cidade, especialmente ao longo doNrvion. Embora esse rio no seja to famoso quanto o Tmisa (de Londres), oSena (de Paris) ou mesmo o Tiet (de So Paulo), ao longo dele que sedesenvolve muito do urbanismo monumental patritico de Bilbao.

    Com esse cenrio de desindustrializao e sentimento de crise formado(uma das tcnicas do planejamento estratgico), Bilbao, assim como outrascidades porturias europias (Londres e as Docklands, Barcelona e Port Vell,etc.), lanou-se na empreitada da reabilitao de sua rea porturia e industrial,seguindo a terceira etapa do processo da destruio criativa do capital ouseja, o capital constri, destri e reconstri o espao urbano em busca dareativao econmica8 . Segundo Melo (2008), em 1987, a prefeitura de Bilbaotraou o primeiro Plan general de ordenacin urbana, mas foi em 1992 que secriou a Sociedad Annima Bilbao Ra 2000, com o objetivo de impulsionar odesenvolvimento das reas cujos terrenos pertenciam a empresas daadministrao pblica.

    A Bilbao Ra 2000 uma parceria interinstitucional, de capital pblico,formada por vrios rgos, dentre os quais se destacam o governo central, aautoridade porturia, o governo basco, etc.9 Ela a responsvel por desenvolvero plano estratgico de Bilbao, o qual conta com 25 intervenes que buscam areabilitao de vrias reas da Bilbao Metropolitano, como Abandoibarra,Barakaldo (ambas antigas reas industriais de ao e ferro), Ametzola (antiga reaferroviria), Basauri, La Vieja, entre outras10 (Figura 1). De acordo com Melo(2008), essas intervenes esto divididas em trs grupos de investimentos emprojetos urbanos, em consonncia com o modelo descrito por Castells e Borja(1996): 1) provimento de infra-estrutura; 2) requalificao de espaos pblicos ereas livres; e 3) habitao. De todas as reas contempladas, Abandoibarra ade maior destaque, pois onde est implantado o Guggenheim, o edifcio-ncora de uso cultural, cone mais conhecido da transformao da antiga cidadeindustrial em locus turstico, cultural e de servios. Arantes (2000, p. 59)ressalta:

    um Plano Estratgico foi elaborado, mas parecia patinar, quando, hpoucos anos atrs, o diretor da Fundao Guggenheim convenceu oprefeito da cidade a construir um edifcio que pudesse identificar acapital basca como, por exemplo, Sidney, pelo edifcio do seu teatro

    (8) Expresso utilizada porHarvey, apud Valena,2008.

    (9) A Bilbao Ra 2000 temuma forma de atuao noespao urbano que buscaa captao da mais-valiapor meio de suas obras,visando continuao desuas intervenes, o quevem sendo feito demaneira bem-sucedida.Para maiores detalhes arespeito dacaracterizao e daatuao da Bilbao Ra2000, ver Melo (2008).

    (10) Disponvel em: . Acesso em: 17ago. 2009.

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    de pera o resultado bem conhecido, um museu projetado peloarquiteto americano Frank Gehry, uma extravagante flor metlica de200 milhes de dlares (entre construo, franquia e acervo), mais de30.000m, 70m de altura, a emergir do rio Nrvion, destinado aexponenciar a oferta cultural da cidade, [].

    Frank Gehry e outros dois arquitetos Coop Himmelblau e Arata Isozaki foram convidados para concorrer na escolha de quem projetaria o museu.Durante dois ou trs dias, cada um deles desenvolveu uma proposta, e o projetode Gehry foi o aprovado pela comisso no houve precisamente um concursomais amplo, mas sim convites (POLLACK, 2005). A inteno de construir-se ummuseu tornou-se premente, assim como a inteno de associar o projeto doGuggenheim a um nome famoso no cenrio da arquitetura internacional; contudo,o mais famoso era, de fato, Frank Gehry, o arquiteto cone da ps-modernidadefinanceira (ARANTES, 2008, p. 183) e, tambm, o arquiteto dos Simpsons11 .

    Figura 1: Foto area de algumas reas de interveno da Bilbao Ra 2000, indicando, ainda, uma rea porturia e industrialprevalecente e o centro histricoFonte: Google Earth, 11 ago. 2008

    Legenda:1) Centro histrico; 2) Abandoibarra; 3) Ametzola; 4) Barakaldo; 5) Ensanche (rea de expanso planejada);6) Ilha remanescente com atividades porturias e industriais. Futuro megaprojeto de Zaha Hadid

    (11) Em um dos episdiosdo desenho animado OsSimpsons, aparece afigura de Frank Gehryprojetando um edifciopara sediar uma casa demsica semelhante aoWalt Disney Concert Hallde Los Angeles.

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    Apesar de o Guggenheim de Frank Gehry ser a interveno mais conhecidae, portanto, o principal componente do planejamento estratgico de Bilbao, outrasgrifes importantes no mundo da arquitetura contempornea tambm assinamintervenes estratgicas, seguindo as diretrizes do plano: Santiago Calatrava e SirNorman Foster fazem parte desse rol de arquitetos cujos projetos agregam umvalor simblico (ou status) ao local. O primeiro o autor do aeroporto de Bilbao(Sondica Airport) e da ponte de pedestres Zubizuri, que atravessa o rio Nrvion(no obstante seja mais conhecida como ponte de Calatrava), nas proximidades dofamoso museu, ambos construes formadas por muita estrutura metlica e vidro.Foster, por sua vez, o arquiteto do metr, tambm em estrutura metlica evidro (Figura 2).

    O plano estratgico de Bilbao composto por vrias grifes, sobretudo ao longodo rio, na antiga rea porturia degradada da cidade seu waterfront , conhecidacomo Abandoibarra. Em algumas reas na margem, ocorreu a desocupao dosespaos industriais e do porto deslocado para a desembocadura do rio, dragadoe ambientalmente recuperado12 . Nessa rea desocupada da Abandoibarratem havido constante transformao, devido ao desenvolvimento de um grandeprojeto urbano, que inclui desde a construo de edifcios at novasurbanizaes.

    Nas margens reabilitadas foram implantados o museu de Gehry, a ponte deCalatrava, alm de outras pontes construdas ou reformadas, uma grande praacom rea de lazer, espaos verdes, reas de circulao de pedestres, ciclovias,muitas esculturas, um novo sistema de iluminao (incluindo postes escultricos)e mobilirio urbano novo. Ressalta-se, todavia, que esse espao verde,anteriormente, era ocupado pelo estacionamento do museu. Existem tambm,nessa localidade, outros exemplares arquitetnicos: 1) o Palcio Euskalduna de

    Figura 2: A) Ponte Zubizuri de Calatrava e, ao fundo, as duas torres de Isozaki;B) acesso estao de metr de FosterFotos: Autora, 2008

    BA

    (12) A recuperaoambiental do rio custouseis vezes mais do que aconstruo doGuggenheim e foifinanciada com osimpostos pagos peloscidados para o consumode gua (Bilbao Ria 2000).

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    Congresso e da Msica, dos arquitetos Federico Soriano e Dolores Palacios; 2) astorres residenciais-comerciais (Atea Towers), do arquiteto Arata Isozaki; 3) o HotelSheraton, de Ricardo Legorreta; 4) a Biblioteca Universidade de Deusto, de RafaelMoneo; 5) o Zubiarte Shopping Center, de Robert Stern; y mucho ms, comoprojetos em fase de desenvolvimento, na Abandoibarra, mas tambm em outrasreas de Bilbao, de outros famosos arquitetos lvaro Siza Vieira, Csar Pelli(com um grande arranha-cu) e Zaha Hadid. Nas margens reabilitadas, htambm a linha do tramway bem gramada e outras tantas edificaescomerciais e residenciais as quais vm sendo construdas (Figuras 3 e 4). Dooutro lado da Abandoibarra, na margem oposta, contrariamente, est o centroantigo, uma rea com residenciais multifamiliares e a Universitat de Deusto.

    O plano estratgico de Bilbao se refere, ainda: 1) melhoria no sistema detransportes (visvel com a construo da linha do tramway, com a maiorconectividade metropolitana via estaes de metr, projetadas por Foster eaeroporto de Calatrava); 2) reestruturao do porto e do sistema ferrovirio; 3) construo/reforma de pontes monumentais ao longo do rio; 4) construo dehotis, museus e instituies esportivas e artsticas (alm do Guggenheim); 5) valorizao cultural, incluindo a implantao de esculturas no meio urbano; 6) criao de parque tecnolgico; 7) produo de novas moradias; 8) urbanizao e pedonizao de ruas, entre outras intervenes. No se deveesquecer da reabilitao do patrimnio e do centro histrico. H tambmreferncia a uma melhoria da qualidade de vida dos bairros, com intervenes depequena escala, e programas sociais em bairros socialmente mais degradados(como La Vieja).

    Em suma, com essas intervenes (alis, as 25 transformaes de Bilbao),verifica-se ratificando as constataes de Otlia Arantes (2000) uma marcantegentrificao, com a construo predominante de equipamentos de consumo eturismo para pessoas de maior renda, buscando, em particular, umreconhecimento internacional e a melhor insero da cidade no mercado global,com uma economia mais moderna, centrada no setor de servios. NaAbandoibarra, por exemplo, raramente se vem populares (como os imigrantesresidentes) brincando entre as reas verdes de sua praa, pois freqentam asreas pblicas de seus bairros. Aquela rea muito segregada: seusfreqentadores so, basicamente, os turistas ou moradores de maior renda davizinhana, a utilizarem a margem do rio para a prtica de esportes. At osedifcios residenciais que esto sendo construdos atendero a uma populao denvel de renda mais alto, em virtude da valorizao da rea.

    Mesmo com todo esse conjunto de intervenes, o Guggenheim continuaexercendo um importante papel na insero de Bilbao na rota tursticainternacional (devido ao city marketing), responsvel tambm pelo incremento donmero de hotis e outros servios, motivo pelo qual se utiliza a expresso efeitoGuggenheim e, ultimamente, efeito Bilbao:

    Hal Foster chega a dizer que, depois dessa obra, a arquitetura no foimais a mesma, e vivemos a cada novo projeto do gnero uma espciede Efeito Bilbao, no que cada cidade procura construir umespetculo de magnitude similar com o objetivo de atrair novos fluxosde capital. O museu o resultado mais bem-sucedido de co-brandingurbano at o momento []. (ARANTES, 2008, p. 188)

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    Figura 3: A) Via do tramway que faz a ligao entre o centro antigo e o novo centro, passando pelaAbandoibarra;B) Postes de iluminao escultricosFotos: Autora, 2008

    Figura 4: Vista de uma margem do rio Nrvion, na rea-alvo do maior nmero de intervenes, aAbandoibarra. possvel identificar as vrias pontes que atravessam o rio e a rea ainda emconstruoFoto: Autora, 2008

    Legenda:1) Museu Guggenheim; 2) Puente de La Salve; 3) Biblioteca de Rafael Moneo; 4) Sopping Zubiartede Robert Stern; 5) Hotel Sheraton de Ricardo Legorreta; 6) Palcio de Congresso e da Msica deSoriano e Palcios;7) Espao verde da Abandoibarra (praa); 8) Universitat de Deusto, do outro lado do rio

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    Assim, graas a esse modelo de transformao urbana e do chamadoefeito Guggenheim-Bilbao, esta ser uma das cidades a participar daExposio Universal de Shangai, a ser realizada em 2010, sobre as reas demelhores prticas urbanas. Essa participao se constitui em mais um elementopara o city marketing de Bilbao.

    Enfim, Bilbao uma cidade privilegiada urbanstica e arquitetonicamente eimplantada em um belo stio, circundado por montanhas. Tem uma morfologiaurbana variada, com centro histrico, rea de expanso planejada, vriosprojetos urbanos de reabilitao com urbanismo monumental, edifcios-ncora eum grande nmero de grifes, predominantemente implantadas na Abandoibarra.Ou seja, um exemplo clssico do planejamento estratgico de cidade.

    El guggenheim y mucho ms

    Assim como Bilbao, o Museu Guggenheim, inaugurado em 1997, mucho ms que uma complexa forma arquitetnica revestida de titnio ou aextravagante flor metlica, conforme frisou Otlia Arantes e como usualmente lembrada e destacada. O museu tem outras perspectivasinteressantes, que poucos conhecem, ou seja, sua relao com o entorno, com acidade, seus outros volumes prismticos de pedra e os pintados de azul, seuinterior, entre outros aspectos relevantes que merecem discusso.

    O Guggenheim uma fundao vinculada a atividades culturais que vmpromovendo a arte de vanguarda desde o sculo 20. Essa fundao compostapor uma rede de museus: dois em Nova York13 , um em Veneza, um em Berlim eum em Bilbao. Desses, os mais conhecidos mundialmente so o de Bilbao e opioneiro Guggenheim, em Nova York, inaugurado em 1959 um edifcio curiosoprojetado por outro famoso arquiteto, o americano Frank Lloyd Wrigth.Acrescente-se, ainda, o Hermitage Guggenheim, em Las Vegas, do escritriocomandado pelo arquiteto Rem Koolhaas (OMA Architecture), de 2001. importante mencionar, por fim, as proposies de implantar um Guggenheim noRio de Janeiro (Brasil), com projeto de Jean Nouvel, outro em Abu Dhabi(Emirados rabes), projetado por Gehry, sem falar dos dois projetos da arquitetaZaha Hadid, para o Guggenheim em Taichung (Taiwan) e para o HermitageGuggenheim em Vilnius (Litunia), que ser a capital europia da cultura de2009, ou seja, possivelmente passar por um processo semelhante ao de Bilbao(implantao de um museu ncora de grife na margem de seu rio).

    De uma forma ou de outra, o fato o Guggenheim , no mnimo, umprojeto instigante, motivo pelo qual o principal edifcio-ncora, objeto do citymarketing de Bilbao. A imagem do museu ainda prevalece na maioria dospostais da cidade e, sobretudo, no imaginrio de grande parte das pessoas,quando estas se referem a Bilbao.

    O Museu Guggenheim est implantado em uma rea de 32.500 m, emstio privilegiado, na margem do rio Nrvion, defronte de uma extensa montanhavegetada, caractersticas naturais que oferecem um interessante cenrio. Paracompor com esse cenrio, o edifcio se integra ao seu entorno, encaixando-se emuma ponte de 1972, Puente de La Salve, ou Prncipe de Espaa, um dosprincipais acessos cidade. A integrao feita de diversas formas, seja com a

    (13) Os dois edifcios doGuggenheim em Nova Yorkso projetados porarquitetos famosos: FrankLloyd Wright projetou oSolomon R. GuggenheimMuseum e Arata Isozakifez o projeto para oGuggenheim MuseumSoho.

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    implantao de alguns volumes do edifcio passando por debaixo da ponte, sejapela escadaria do museu, a qual oferece acesso calada de pedestres daquela.O volume que est sob a ponte abriga espaos de grande relevncia para omuseu, como a maior galeria de exposio na qual se encontra a instalao doartista plstico Richard Serra e a cafeteria. A escadaria externa, a ligar o ptio doedifcio ponte, anuncia, do outro lado, a presena do museu. Uma vez sobre aPuente de La Salve, o observador tem uma vista panormica do Guggenheim, ouseja, a ponte integrada passa a ser um mirante para os curiosos da arquitetura deGehry. E mais: a caminhada pela ponte, no sentido de contornar o museu,possibilita um verdadeiro passeio arquitetnico contemplativo das vrias formas evolumes do projeto. Em funo disso, alm da integrao, poder-se-ia falar emutilizao da ponte pelo arquiteto como ponto de observao de sua obra de arte,mesmo porque o volume vertical do museu concorre com o volume vertical da

    Figura 5: A) Integrao ponte-museu;B) Vista do volume referente maior galeria;C) Fachada mais conhecida do edifcio, onde est o terrao;D) Passeio arquitetnico pela ponte e vista de outra fachada do museu, com o estacionamento no plano inferiorFotos: Autora, 2008

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    ponte (seu prtico)14 . Apesar disso, as principais fotos do Guggenheim emlivros ou na internet parecem ignorar tal relao do museu com a ponte,focando-se apenas na flor metlica (Figura 5).

    Entre 2006 e 2007, essa ponte foi reformada em comemorao ao dcimoaniversrio do museu e transformada em monumental escultura de luz, noite,graas insero de painis luminosos nas laterais do prtico que sustenta ostirantes. Esse mesmo prtico, durante o dia, destaca-se na paisagem, pois foipintado de vermelho, quebrando um pouco o tom acinzentado que predominano museu e por ele refletido (Figura 6).

    Outro aspecto interessante uma passagem subterrnea do edifcio, poronde trafegam veculos, inclusive o tramway da cidade, e onde se localiza umestacionamento do Guggenheim antes na praa da Abandoibarra (Figura 6).Isso mostra a complexidade de implantao da edificao no espao urbano e osvrios planos com acessos que se relacionam com esse edifcio.

    O projeto de Gehry em Bilbao, ainda que indiferente ideologia delugar, desenhou uma arquitetura extremamente entrosada com ascircunstncias locais bastante complicadas, articulando as vias quemargeiam o rio e o desnvel entre o leito e o bairro onde o museu seinsere. (REGO, 2001).

    Ainda em relao aos acessos, a entrada principal do museu est voltadapara o eixo de uma das principais vias da cidade, a avenida Iparraguirre, eno para o rio. De acordo com o informativo do museu, a idia era trazer acidade diretamente para a entrada do edifcio. A partir de uma anlise visual(ver CULLEN apud DEL RIO, 1990), seria possvel dizer que essa paisagem, vistada avenida Iparraguirre em direo ao Guggenheim, apresenta qualidadesespaciais, pois permite identificar dois conjuntos distintos de elementos. Umdeles o conjunto uniforme de edifcios ao longo da rua; o outro a paisagemde fundo, composta pelo museu e o morro. Embora distintos, ambos induzem aum ponto focal provocativo e curioso, que advm de suas formas e dos materiais

    (14) O papel daarquitetura como arteadquire maior importnciana contemporaneidade,como mostrado por KateNesbitt (2006, p. 45): Aarte desempenha umpapel mais importante naarquitetura ps-modernado que a tecnologia, jque o pndulo voltou aoscilar entre uma nfasena arquitetura como artee na arquitetura comoengenharia. Isso significaque passou a haver umentendimento de aarquitetura no serapenas tecnologia (comodefendiam osmodernistas), mas tambmarte. A tecnologia tambmtem importante papelcomo verificado emprojetos de NormanFoster, SantiagoCalatrava, etc.

    BAFigura 6: A) Esculturas luminosas no entorno do museu. Ao fundo, a Puente de La Salve iluminadaB) Vias de acesso sob o edifcio do GuggenheimFotos: Autora, 2008

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    utilizados: a flor metlica do Guggenheim. Assim, a cidade realmente induzida ao encontro do museu. Essa percepo, todavia, transforma-se ao finalda avenida, quando o observador depara com um amplo espao no qual, almdo material e das formas, a escala volumtrica do museu torna-se monumental:ele est implantado em meio praa da Abandoibarra e a um belo backgrounddo rio e do morro15 . Em outras palavras, a edificao, isolada no espao, ganhaum aspecto de obra de arte, como tantas outras obras de arte implantadas emBilbao e, especialmente, na Abandoibarra e no entorno do museu (Figura 7).Entretanto, importante salientar que essa escala monumental do Guggenheim,de mais de 50 m de altura, ter sua grandiosidade diminuda aps a construoda Torre de Csar Pelli, de 165 m de altura.

    Outra forma de integrao com o entorno a relao com o rio, bastanteexplorada no partido arquitetnico, conseguida com um espelho dgua de 30cm de profundidade. Esse espelho dgua, cujo fundo pintado de verde,circunda parte do edifcio, gerando a sensao de emergir das guas doNrvion. A construo de uma passarela suspensa entre o rio e esse espelhodgua ratifica mais ainda a idia de haver uma ponte por onde se caminhasobre o Nrvion. Enfim, embora a arquitetura de grife, de modo geral, sejacaracterizada como indiferente ao lugar ou deslocada temporal ougeograficamente, conforme j mostrado por alguns autores, o que se verifica, noespao urbano existente, so vrias inter-relaes, mesmo que estas sejamapenas medidas para valorizar mais ainda o edifcio. Ou seja, o espao urbano utilizado como um dos elementos para garantir que a arquitetura de grife sejamonumental e, conseqentemente, contribuindo para o aspecto visual de obrade arte isolada para ser melhor contemplada e para o papel simblico dessaarquitetura como instrumento do city marketing (Figura 8).

    Figura 7: A) Vista da avenida Iparraguirre com a paisagem do museu e do morro ao fundo;B) Uma das muitas esculturas de Bilbao, implantada na frente do Guggenheim, de Jeff KoonsFotos: Autora, 2008

    (15) A escala monumental,nesse caso, no se refere,necessariamente, aogabarito, uma vez que omuseu mantm umgabarito mdiosemelhante aos edifciossituados em seu entorno.A monumentalidade aquicomentada diz respeito aoprojeto em si (formasinusitadas e materialinovador) e o modo como oGuggenheim implantadono espao urbano,diferenciando-se dosdemais edifcios.

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    Quanto ao edifcio, alguns consideram, assim como o prprio Gehry, queele segue a tendncia do desconstrutivismo. Assim, alm de cone do citymarketing de Bilbao, o Guggenheim referido por alguns autores (REGO, 2001;MALARD, 2006), como um dos principais projetos do movimento ps-modernodo desconstrutivismo16 . Sobre a arquitetura desconstrutivista Wigley (apudFRAMPTON, 1997, p. 380) descreve-a como a seguir:

    A forma se deforma a si mesma. Contudo, essa deformao nodestri a forma. De uma maneira estranha, a forma parece intacta.Esta uma arquitetura de destruio, deslocamento, desvio edeformao, mais do que de demolio, desmantelamento,decadncia, decomposio e desintegrao. Ela desloca a estrutura,em vez de destru-la. Em ltima instncia, o que h de toperturbador nessas circunstncias exatamente o fato de que a formano apenas sobrevive sua tortura, mas dela ressurge ainda maisforte. Talvez a forma seja, na verdade, produzida por ela. No ficaclaro o que veio primeiro, se a forma ou a deformao [].

    Figura 8: Vista de topo do Museu Guggenheim, onde possvel verificar a Puente de La Salve, o volume vertical da escada, oacesso principal, o espelho d gua, alm de alguns volumes prismticos de pedra (marcado de vermelho) e um volume prismticoazul (marcado de azul)Fonte: Google Earth, 11 ago. 2008

    (16) Um tipo de estiloproveniente dopensamento filosfico deJacques Derrida,relacionado teorialingstica e importadopara a arquitetura.

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    Para Otlia Arantes (2000, p. 60), o Guggenheim se caracteriza pormateriais ostensivamente calculados para ofuscar pelo brilho high tech; atmosferade vanguarda sugerida pelos volumes de corte desconstrucionista; ambinciaintrovertida de um enclave para os happy few.

    Kate Nesbitt (2006), por sua vez, afirma que o desconstrutivismo serviriamais como um rtulo estilstico para a exibio de obras provocativas. No entanto,para ela, Gehry no , necessariamente, desconstrutivista, embora tenha ummtodo de trabalho o qual se aproxima daquela tendncia, como descrito nacitao abaixo:

    Do grupo de arquitetos que participou da exposio [DeconstructivistArchitecture], Peter Eisenman e Bernard Tschumi so os que mais seaproximam de uma postura desconstrucionista, com nfase na crtica ena dissoluo das fronteiras disciplinares. Mas Frank Gehry, StevenHoll e o Coop Himmelblau no tm muito em comum com os outrosarquitetos citados; o que os aproxima um mtodo de trabalho queparte da intuio e das propriedades sensoriais dos materiais. Gehry eHoll representam uma forte contratendncia ao historicismo ps-moderno, adotando um enfoque quase metafsico das coisasconcretas. (NESBITT, 2006, p. 30).

    De fato, o mtodo de trabalho de Gehry baseado na utilizao de materiaisinovadores e refinados, bem como na preocupao primordial com a formaplstica tambm inovadora, conforme verificado no documentrio, j referido,dirigido por Pollack (2005), a respeito do arquiteto.

    Em suma, a partir das afirmaes acima citadas, correto afirmar que oGuggenheim apresenta elementos do desconstrutivismo e tambm foi concebidopelo mtodo de trabalho identificado por Nesbitt da intuio e das propriedadessensoriais dos materiais. O projeto parte, principalmente, da busca pelo formatoarquitetnico do tipo desconstrutivista; por isso, para alcanar o resultadoesperado das formas e com o material de alta tecnologia, foi projetado tendo porbase o uso de maquetes fsicas e, posteriormente, a ajuda de um programautilizado na indstria aeroespacial CATIA (metodologia de projeto adotada porGehry) (POLLACK, 2005).

    O programa funciona melhor em superfcies que em polgonos. Asdistncias entre superfcies de pedra, metal, vidro e gesso e suasligaes so determinadas antes da estrutura subjacente, como em umprojeto convencional. Assim que o projeto da superfcie completado,o computador pode comear a calcular o volume e a natureza daestrutura nesse caso uma estrutura de ao que ser necessriapara sustentar essas superfcies. (GLANCEY, 2001, p. 225).

    Essa superfcie, sustentada por uma estrutura de ao oculta, , basicamente,a casca metlica formada pelo encaixe de um grande nmero de placas detitnio, cuja forma de assentamento do revestimento assemelha-se escama deum peixe e, segundo o informativo do museu, tem a garantia de durar, no mnimo,100 anos. Enfim, a estrutura resultado da definio, a priori, da forma plstica.

    Em relao ao partido arquitetnico adotado, segundo Glancey (2001,p. 225), o museu envolto em titnio foi construdo de modo a lembrar um

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    grande navio, refletindo a importncia de Bilbao como porto. Para Pedro Arantes(2008, p. 183), o museu uma espcie de navio de guerra cubista, ancorado norio Nrvion, recoberto com chapas de titnio que reluzem ao sol como ouro.Alm do navio, outras figuraes so relacionadas ao museu, como a referncia flor metlica, ao peixe, tanto no encaixe fish-scale das placas de titnio comoem volumes no interior do edifcio, como ser visto mais adiante.

    Mas o edifcio no se resume apenas quela casca metlica com formasdesconstrutivistas, como usualmente retratado. um conjunto de volumes,texturas e cores que se harmonizam entre si: blocos ortogonais revestidos compedra ou pintados na cor azul combinam com a flor metlica e as estruturasmetlicas as quais sustentam os painis de vidro. Segundo o informativo domuseu, o revestimento de pedra foi adotado como forma de referir-se Universidade de Deusto, localizada aproximadamente na frente do museu, pormdo outro lado do rio, cuja fachada revestida com uma pedra de tonalidadesemelhante. O que se verifica, porm, uma integrao do revestimento de pedracom as placas de titnio, pois ambos possuem praticamente a mesma dimenso eo mesmo assentamento; alm de a cor do titnio aproximar-se da tonalidade dapedra, dependendo da luz do dia e da distncia do observador. O bloco azul, porsua vez, o menor volume, proporcionalmente aos volumes de pedra e cascametlica, mas importante no contexto da edificao, pois contribui para avariao cromtica, quebrando a monotonia do acinzentado da obra. Verificam-se,portanto, diferenas volumtricas, no edifcio do Guggenheim, que, segundo Rego,so resultado das diversas necessidades programticas:

    Diante da necessidade programtica de distintas salas de exposio, oprojeto respondeu com um tipo racional conformao de blocos paraservios e para a clssica galeria destinada ao acervo permanente, emcontraste com a licenciosidade formal das amplitudes das demaisgalerias onde as condicionantes eram menos impositivas, sem atenuara tenso criada por esta colagem arquitetnica eclticas. (REGO,2001)

    Isso significa que o museu pode ser considerado o conjunto de trs formas:a flor metlica, que abriga as galerias de exposio; os volumes prismticos depedra e os pintados de azul, a abrigarem algumas galerias, as atividadesadministrativas e as de servios (Figura 9). Destaca-se, em grande medida, aligao entre essas trs formas, desenvolvida com a ajuda dos painis de vidro,funcionando como elemento de transio entre os distintos volumes. Tais painisso tratados de maneira a permitir a iluminao no interior da edificao. Eles soprotegidos do sol por algumas marquises metlicas, como a da entrada e a doterrao, esta ltima voltada para o rio Nrvion, constituindo-se em um elementoisolado, apoiada em um nico pilar (Figura 9).

    Internamente, o museu continua a surpreender no trio central, espao querene a entrada ao terrao e as vrias galerias de todos os pisos do edifcio. Nessetrio, o que impressiona a clareza obtida com as superfcies verticais e aspassarelas horizontais, tudo pintado de branco, como no poderia deixar de ser,pois as atraes, agora, passam a ser as exposies. Essas superfcies brancas sealternam com os volumes de pedra, as estruturas metlicas, o vidro e muita luz,conseguida com as esquadrias, inclusive iluminao zenital. Observa-se tambmque no existe, necessariamente, uma relao formal direta entre as formas do

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    exterior e as do interior. J o sistema estrutural do edifcio est por detrs dosvolumes brancos ou de pedra, no sendo possvel visualiz-los.

    Ainda no interior, o titnio praticamente desaparece e destacam-se, emespecial, as duas estruturas metlicas com vidro que abrigam as circulaesverticais (escadas e elevadores). Segundo uma gravao contida na visita guiada,so elementos com a forma de um peixe. Essa forma de peixe parece serrecorrente na obra de Gehry, pois tambm evidente em outros projetos seus,como, por exemplo, em uma escultura nos jardins do Hotel Arts, em Barcelona, etambm em seus projetos de luminrias. De acordo com o prprio arquiteto, elecomeou a desenhar peixes influenciado pela tendncia de retorno aohistoricismo, pois mais antigo que o homem o peixe, ao passo que o estiloclssico era, para ele, antropomrfico (POLLACK, 2005).

    Recorrente, de certa forma, tambm a flor metlica (uso da superfciecurva mais o titnio), uma vez que possvel identificar outros projetos com amesma aluso a ela, como o Walt Disney Concert Hall, em Los Angeles, o Peter B.

    Figura 9: A) Diferentes vistas das trs formas compositivas do museu as superfcies metlicas, o volume prismtico de pedra e oprismtico azul;B) Fachada voltada para o rio Nrvion e a marquise isolada no terrao, em frente do painel de vidro;C) Duas entradas voltadas para o eixo da avenida Iparraguirre, protegidas por marquisesFotos: Autora, 2008

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    Lewis Building, em Cleveland, o Hotel Marques de Riscal, em Elciego-Rioja(Espanha) a poucos quilmetros de Bilbao , entre outros de sua extensa obra.Isso pode ser explicado: o sucesso estrondoso de algumas obras e seusarquitetos, contudo, acaba estimulando a repetio das mesmas frmulasprojetuais, reduzindo a cada duplicao de volumetrias similares suacompetncia em gerar rendas de exclusividade (ARANTES, 2008, p. 179). Semmencionar que a repetio das formas enraza cada vez mais a marca do arquitetonas cidades as quais contam com o privilgio de receber tais obras de arte.

    O programa de necessidades, distribudo entre os trs pisos, composto por19 salas de exposio e galerias, das quais nove correspondem aos volumesortogonais, revestidos de pedra, enquanto o restante se refere casca metlica.Dessas, uma mede 30 x 130 m e foi projetada para abrigar, em especial, umainstalao permanente do artista plstico Richard Serra. O vo livre de colunas; o mesmo volume que, na parte exterior, transpassa a Puente de La Salve. Omuseu contm tambm auditrio, restaurante, cafeteria, loja de souvenirs, WCs,bilheteria, primeiros-socorros, alm do setor administrativo e do de servios.

    Diante de todos os fatos acima citados, o Guggenheim surpreende, emborano esteja isento de crticas. Leonardo Benvolo, em seu livro A arquitetura nonovo milnio, por exemplo, faz uma srie de crticas a ele, as quais se referemtanto ao partido adotado quanto ao ocultamento da estrutura de ao daedificao:

    Essas escolhas, que cobrem somente uma parte do artefato, chegam asacrificar sua integridade. As estruturas metlicas de base e boa partedos ambientes internos funcionalmente vinculados so excludos doorganismo. []. Eis a concluso paradoxal: a ortogonalidade [] que

    Figura 10: A e B: Vistas internas do museuFonte: Carto postal, 2008

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    Estrutura emforma de peixe

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    muito elstica e rica em recursos do que as formas oblquas ecurvilneas preferidas por Gehry e muitos outros. Gehry paga um preofigurativo, no somente funcional, por suas predilees formais evincula-se a uma gama preconcebida de efeitos que empobrece o seutrabalho. (BENVOLO, 2007, p. 205)

    Em suma, mesmo com essa e outras crticas, mesmo com o mucho ms doGuggenheim, sua casca de titnio continua a destacar-se no cenrio mundialcomo o cone de Bilbao. Essa anlise do museu, por sua vez, ajudou naidentificao de outros elementos importantes na Abandoibarra a seremmencionados, como se ver a seguir, em busca de melhor entender-se ourbanismo monumentalista patritico e a arquitetura de grife, empreendidospelo planejamento estratgico de Bilbao.

    Abandoibarra y mucho ms

    Alm do Guggenheim, a Abandoibarra, como j comentado, concentra omaior nmero de edifcios de grifes em Bilbao, com vis culturalista, emboramuitos no to famosos no city marketing quanto o museu. No obstante, destaca-se, em especial, o Palcio Euskalduna de Congresso e da Msica, inaugurado em1999 e projetado pelos arquitetos espanhis Federico Soriano e Dolores Palacios.Com uma rea bem maior do que a do Guggenheim (53.000 m), o Palcio uma interveno que adota muitas caractersticas tambm encontradas no museu,como o tipo de ocupao no espao, algumas formas arquitetnicas e os materiaisutilizados.

    Em relao sua implantao, est localizado na margem do rio Nrvion eisolado em meio a uma grande rea formada pela unio da praa daAbandoibarra com o Parque de Doa Casilda, por onde possvel contemplar aobra de arte por diversos ngulos. Alm disso, o Palcio tambm est prximo auma ponte Puente Euskalduna (1997) , permitindo que ela seja utilizada comoponto de observao da arquitetura, embora a integrao dessa ponte com oedifcio no seja to forte quanto a existente entre o Guggenheim e a Puente deLa Salve, a qual, literalmente, passa por cima do museu.

    O espelho dgua junto de uma passarela que beira o Nrvion mais umelemento em comum com o museu, oferecendo a sensao de caminhar-se sobreo rio e de o edifcio emergir, de um lado, a partir dele. Do outro lado do edifcio,em contrapartida, possvel verificar um grande nmero de elementosescultricos estruturas metlicas que geram um certo sombreamento maispostes de iluminao, os quais, em conjunto, formam um tipo de floresta deesculturas. Esculturas so, inclusive, elementos recorrentes no entorno do Palcio,por vezes, em integrao com ele (Figuras 11 e 12).

    Quanto ao edifcio, conveniente esclarecer que se trata de um complexomultifuncional, a aglutinar variadas atividades de natureza econmico-empresarial,institucional, social e cultural, ou seja, abriga desde congressos at espetculosmusicais e tambm o local sede da Orquestra Sinfnica de Bilbao. Por isso, oprograma de necessidades formado por um grande nmero de espaos comfunes distintas: auditrios com capacidade para 2.164 cadeiras, teatro,

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    Figura 11: A) Vista de um lado do Palcio, com uma obra de arte integrando com o edifcioB) Vista do outro lado do Palcio, onde est a floresta de esculturasFotos: Autora, 2008

    Figura 12: Vista de topo do Palcio Euskalduna, onde possvel verificar a Puente Euskalduna, a implantao, a passarela e oespelho d guaFonte: Google Earth, 11 ago. 2008

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    inmeras salas de congressos, sala de reunies, foyer, hall de exposio, terraospanormicos, camarins, sala de ensaios, restaurante, cafeteria, administrao,servios, etc. Foi, inclusive, considerado o melhor centro de convenes domundo em 200317 .

    Por abrigar uma complexa quantidade de atividades e espaos, o edifcio composto por um conjunto de volumes distintos, com formas e superfciesdiferenciadas, assim como o Guggenheim, podendo-se dividir em basicamentedois grupos. O primeiro grupo um volume ortogonal levemente curvado nasuperfcie superior, totalmente revestido por chapas metlicas com aspectoenferrujado e elementos do tipo marquises do mesmo material em toda asuperfcie, formando uma composio visual. O segundo um conjunto de formas(basicamente ortogonais) de concreto, volumes revestidos de pedra ou placasmoduladas (de materiais diversos), painis e vidro, marquises de vidro e um blocosobre pilotis (Figura 13). Em suma, o Palcio possui alguns dos princpios queorientaram a construo do Guggenheim. Esses princpios so, portanto, a formade implantao no espao urbano e as prprias opes de projeto arquitetnico,destacando os materiais e as formas plsticas diferenciadas.

    Outras grifes, na Abandoibarra, tambm seguem certo padro naimplantao de seus edifcios em relao ao entorno. Por exemplo: todos os maisimportantes edifcios de grife esto estrategicamente na frente de alguma ponte,como se elas tivessem, ainda, a funo de chegar ao edifcio e no fossem osimples acesso para atravessar o rio. Dessa forma, alm da relao doGuggenheim com a Puente de La Salve e o Palcio de Euskalduna e a Puente demesmo nome, h: 1) a Atea Tower de Isozaki, defronte da ponte de pedestresZubizuri de Calatrava; 2) a Biblioteca de Deusto, de Moneo, em frente da outraponte de pedestres, Puente Pedro Arrupe; e 3) o Centro Comercial Zubiarte(2004) de Stern, localizado defronte Ponte de Deusto, construda em 1936.Saliente-se que todas essas pontes so anteriores aos edifcios, implantados tendoem vista a melhor localizao e visualizao na Abandoibarra, ou seja, na frentedas pontes (Figuras 14 e 15).

    Figura 13: A) Vista do Palcio isolado no espao, como uma obra de arte, e os dois grupos de volumeB) Elementos do tipo marquises metlicas em toda a extenso da superfcie metlicaFotos: Autora, 2008

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    (17) Disponvel em: . Acessoem: 21 ago. 08.

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    Figura 14: A) Vista sobre a ponte de pedestre, Puente Pedro Arrupe, da Biblioteca de DeustoB) Vista do Shopping ZubiarteFotos: Autora, 2008

    Figura 15: Vista da Abandoibarra. possvel identificar as vrias pontes que atravessam o rio, diretamente ligadas s grifes dacidadeFonte: Google Earth, 11 ago. 2008

    Legenda:1) Atea Towers de Isozaki; 2) Guggenheim de Gehry; 3) Biblioteca de Rafael Moneo; 4) Sopping Zubiarte de Robert Stern;5) Palcio de Congresso e da Msica de Soriano e Palcios

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    Do ponto de vista da arquitetura, excetuando-se o Shopping Zubiarte, comuma tendncia historicista do ps-modernismo, as demais grifes da Abandoibarra Atea Tower, Biblioteca de Deusto, assim como o Guggenheim e o Palcio buscam uma arquitetura mais contempornea caracterizada pelo emprego demateriais modernos, destacando-se a utilizao, em abundncia, das superfciesenvidraadas. Apesar desse carter mais contemporneo, alguns desses novosedifcios causam poucos contrastes visuais na paisagem anteriormente construdae em relao ao seu entorno, pois esto, em grande medida, fisicamente isoladosna praa da Abandoibarra e apresentam uma relao com o gabarito mdioverificado na rea (exceto o Atea Tower).

    Enfim, parece haver, no urbanismo monumentalista patritico aquianalisado, uma relao direta entre a gua (particularmente o rio a waterfront,citado por Del Rio , mas tambm os espelhos dgua contguos aos edifcios), aspontes e a arquitetura de grife, monumental e implantada como obra de arte(isolada) no espao urbano receita do sucesso da Abandoibarra no mercado doturismo cultural, com seus edifcios-ncora.

    Concluso

    Repetindo-se outro slogan do city marketing de Bilbao, verifica-se que essacidade realmente passou da revoluo industrial para uma revoluo tecnolgicae urbana. A caracterstica da atividade porturia e industrial da cidade serapenas um fato histrico, cedendo lugar ao cultural turn. O urbano vem sendotransformado para se adaptar nova realidade da globalizao e da poltica deformato neoliberal. Nessa conjuntura, o planejamento estratgico se tornou oprincipal instrumento de interveno no espao urbano, com o desenvolvimentode grandes projetos urbanos. Estes se apresentam por meio de um urbanismomonumentalista, com grandes reas verdes de lazer, edifcios de uso cultural,arquitetura de grife, obras de arte tudo isso nas melhores condies deacessibilidade, graas a um novo sistema de transportes. Nesse contexto, alm dagrife, a arquitetura deve ser provocativa, para despertar a curiosidade das pessoas,tornando-se, ela prpria, mais um elemento de visitao, mais uma obra de artena cidade, para o turismo cultural, o grande setor da economia mundialatualmente. Assim, Bilbao tem Foster, Calatrava, Isozaki, Moneo, Soriano e Palcio,Legoretta, Stern, entre tantos outros arquitetos de fama internacional, cujosprojetos agregam um valor simblico (ou status) ao local e, portanto, uma rendade monoplio, contribuindo para a construo da nova cidade. Mais importante:Bilbao tem um Gehry e um Guggenheim!

    O Guggenheim , antes de tudo, um projeto intrigante, assim como outrasobras de Gehry algumas, inclusive, com caractersticas semelhantes s domuseu. Alguns afirmam que o edifcio indiferente ideologia do lugar, mas oque se verifica uma certa integrao com o espao existente, mesmo essaintegrao sendo utilizada apenas como forma de destacar mais ainda a obra dearte de Gehry: a ponte funciona como ponto de observao, a rua convida ostranseuntes a irem ao encontro daquele elemento estranho, o rio, o espelhodgua, e os jardins da Abandoibarra proporcionam mais isolamento monumentalidade do edifcio. A prpria localizao do museu escolha do

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    arquiteto privilegiada, pois um excelente ponto focal, observado das margensdo rio e tambm do ponto mais alto da cidade morro localizado praticamenteem frente do Guggenheim, onde possvel ter uma viso panormica da rea. Emsuma, em vrios pontos da cidade, possvel identificar o museu, que se tornou ocone da nova Bilbao.

    A localizao, em si, no o nico destaque do museu: o edifcio umaarquitetura monumental, que surpreende a todos, quer gostem quer no. OGuggenheim surpreende, pois se trata de um complexo sistema construtivo dealta tecnologia, revestido por uma superfcie de titnio, aliada a uma srie deoutros volumes mais comportados. Gehry tenta unir duas arquiteturas em uma s:os volumes prismticos, que primam pela funcionalidade, e a obra de arte da flormetlica, a qual objetiva, primordialmente, a provocao ou o espetculo, comosugeriu Nesbitt (2006), referindo-se arquitetura desconstrutivista. Esseespetculo, em particular o brilho do titnio, reflete bem o tipo de espao que sequer na Abandoibarra e talvez em toda a cidade: um lugar socialmentegentrificado, destinado populao de maior poder aquisitivo e, sobretudo, para oturista, a fim de impulsionar o setor de servios da cidade. Em outras palavras, aAbandoibarra a ilha de prosperidade expresso cunhada por Snchez et al(2004) a respeito dos projetos urbanos do planejamento estratgico de Bilbao,ao passo que os reais espaos pblicos da populao em geral, prximos aosconjuntos habitacionais, recebem outro tipo de tratamento e menor volume deinvestimentos.

    Igualmente, o Palcio Euskalduna, inaugurado dois anos depois do efeitoGuggenheim, procurou adotar alguns dos mesmos princpios que consagraram omuseu como smbolo de Bilbao, como a localizao e a forma de implantao noespao urbano, o espelho dgua, a relao entre as superfcies e os volumes doedifcio, os materiais inovadores, etc. No seria demasiado acrescentar que essascaractersticas projetuais so tambm encontradas em outro projeto do HermitageGuggenheim, de Zaha Hadid, para Vilnius-Litunia, com espelhos dgua noentorno do edifcio, materiais inovadores, etc., tudo nas margens de um rio inserindo-se nos requisitos da transformao estratgica. Diferentes so os projetosarquitetnicos da Atea Towers, da Biblioteca de Deusto e do Shopping Zubiarte;no entanto, estes tm em comum com o Guggenheim e o Palcio Euskalduna aimplantao fisicamente isolada no espao urbano e a localizao defronte daspontes que atravessam o Nrvion.

    Conclui-se, portanto, que o urbanismo monumentalista patritico, aqui emquesto, consiste em um conjunto de arquiteturas de grife e com funo rentista,as quais esto implantadas de modo isolado em meio a uma extensa rea verdena margem do rio (waterfront) e em frente das respectivas pontes que oatravessam, induzindo o acesso direto aos edifcios, alm de serem pontos deobservao dessa nova arquitetura da cidade.

    Muitas dessas caractersticas do urbanismo monumentalista patritico e daarquitetura de grife aqui analisadas so tambm observadas em outras cidades,como a waterfront de uma antiga rea industrial de Lisboa, atual bairro dasNaes (local da Expo 98), a waterfront das Docklands em Londres e a waterfrontdo Portt Vell em Barcelona18 . Ou seja, parecem seguir a receita do fazerestratgico urbanstico: seguem os mesmos preceitos quanto localizao noespao urbano, formas e superfcies dos edifcios, garantindo a exclusividade para

    (18) Todas essasexperincias vm sendoestudadas porpesquisadores de vriasnacionalidades. O caso deBilbao no diferente etambm vem sendoestudado, inclusive, noBrasil. Algumas pesquisassobre Bilbao podem serencontradas emdissertaes e teses emdiferentes programas deps-graduao, como atese de Eunice HelenaSguiizardi Abascal, cujottulo A recuperaourbana de Bilbao comoprocesso dinmico epolifnico, defendida naFAUUSP em 2004.

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    a sobreacumulao da renda de monoplio da obra de arte. Isso significa umafuso com a forma publicitria e com a indstria do entretenimento. A relaoclssica de forma e funo expressa na tectnica do objeto arquitetnico pareceestar sendo liquefeita para que a arquitetura possa circular mundialmente comoimagem de si mesma (ARANTES, 2008, p. 195).

    Assim, as intervenes de Bilbao, especialmente as da Abandoibarra, fazemparte de uma volumosa obra de enobrecimento (o que requer enormesinvestimentos) de uma rea, sob a gide do planejamento estratgico, em prol daeconomia da cidade, embora o benefcio seja de poucos, ao passo que os espaosmais pobres ficam em segundo plano, recebendo menor volume de investimentose, por conseguinte, menor valor simblico. Alm dos investimentos j realizados, houtros novos projetos a serem executados, enfatizando-se, em particular, omegaprojeto de Zaha Hadid para a reabilitao da ilha no Nrvion, contando comatividades porturias e industriais remanescentes. Com tantas transformaes,Bilbao vai para a Expo de Shangai, em 2010, mostrar suas melhores prticasurbanas. O que se verifica, por fim, bom ou mau, bem ou mal, Bilbao mucho ms que o Guggenheim, e este mucho ms de uma simples flormetlica a qual o consagrou mundialmente.

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    Mariana Fialho BonatesArquiteta (UFPB), mestre (PPGAU-UFRN) e professora do Departamento de Arquitetura eUrbanismo da UFRN.Rua Cavalo Marinho, 55, ap. 17. Ponta Negra59.090-715 Natal, RN(84) 9102-8005 / (83) [email protected]/[email protected]

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    Obs.:Este artigo produto de pesquisa realizada sobre planejamento estratgico emBilbao, incluindo visita a campo em julho de 2008.

    Nota do EditorData de submisso: fevereiro 2009Aprovao: agosto 2009