41039 Antonio Evaristo

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METODOLOGIA DAS CINCIAS SOCIAIS: Mtodos Quantitativos

ANTNIO EVARISTO 800453

METODOLOGIA DAS CINCIAS SOCIAIS: Mtodos Quantitativos

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Introduo Mtodos e tcnicas de investigao em cincias sociais No que respeita aos mtodos e tcnicas de investigao existe uma grande diversidade de definies, pois estas variam de autor para autor. Madeleine Grawitz (1993) menciona a extrema desordem que existe neste domnio e refere vrias definies de mtodos. A autora define mtodos como um conjunto concertado de operaes que so realizadas para atingir um ou mais objectivos, um corpo de princpios que presidem a toda a investigao organizada, um conjunto de normas que permitem seleccionar e coordenar as tcnicas. Os mtodos constituem de maneira mais ou menos abstracta ou concreta, precisa ou vaga, um plano de trabalho em funo de uma determinada finalidade. As tcnicas so procedimentos operatrios rigorosos, bem definidos, transmissveis, susceptveis de serem novamente aplicados nas mesmas condies, adaptados ao tipo de problema e aos fenmenos em causa. A escolha das tcnicas depende do objectivo que se quer atingir, o qual, por sua vez, est ligado ao mtodo de trabalho. A autora refere ainda que dessa interdependncia nasce muitas vezes uma confuso entre os termos mtodo e tcnica que convm distinguir. A tcnica representa a etapa de operaes limitadas, ligadas a elementos prticos, concretos, definidos, adaptados a uma determinada finalidade, enquanto que o mtodo uma concepo intelectual coordenando um conjunto de operaes, em geral vrias tcnicas.1 Paradigma Quantitativo Paradigma Quantitativo Advoga o emprego dos mtodos quantitativos. Positivismo lgico "procura as causas dos fenmenos sociais, prestando escassa ateno aos aspectos subjectivos dos indivduos". Medio rigorosa e controlada. Objectivo. margem dos dados; perspectiva "a partir de fora". No fundamentado na realidade, orientado para a comprovao, confirmatrio, reducionista, inferencial e hipottico-dedutivo. Orientado para o resultado. Fivel: dados "slidos" e repetveis. Generalizvel: estudos de casos mltiplos. Particularista. Assume uma realidade estvel. Fonte: ( Reichardt e Cook, 1986, 29) Caractersticas dos mtodos quantitativos A utilizao de mtodos quantitativos est essencialmente ligada investigao experimental ou quasiexperimental o que pressupe a observao de fenmenos, a formulao de hipteses explicativas desses mesmos fenmenos, o controlo de variveis, a seleco aleatria dos sujeitos de investigao (amostragem), a verificao ou rejeio das hipteses mediante uma recolha rigorosa de dados, posteriormente sujeitos a uma

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anlise estatstica e uma utilizao de modelos matemticos para testar essas mesmas hipteses. O objectivo a generalizao dos resultados a uma determinada populao em estudo a partir da amostra, o estabelecimento de relaes causa-efeito e a previso de fenmenos. A investigao quantitativa implica que o investigador antes de iniciar o trabalho elabore um plano de investigao estruturado, no qual os objectivos e os procedimentos de investigao estejam indicados pormenorizadamente. A elaborao do plano dever ser precedida de uma reviso da literatura pertinente, a qual essencial no s para a definio dos reais objectivos do trabalho, como tambm para a formulao de hipteses e para a definio das variveis. Os objectivos da investigao quantitativa consistem essencialmente em encontrar relaes entre variveis, fazer descries recorrendo ao tratamento estatstico de dados recolhidos, testar teorias. Quer se trate de uma investigao experimental, quer se trate da caracterizao estatstica de uma determinada populao (por exemplo, mediante a administrao de um inqurito por questionrio ou por entrevista estruturada), procede-se seleco de uma amostra que dever ser representativa da populao em estudo, para que os resultados possam ser generalizados a essa mesma populao, o que implica a seleco aleatria dos sujeitos de investigao. Para a testagem de hipteses (verificao ou rejeio) existe uma grande variedade de testes, cuja eficcia reconhecida. Cito, a ttulo de exemplo: o t-teste, o teste de Mann- Whitney, a anlise da varincia (ANOVA) ou a anlise da varincia multivariada (MANOVA), entre os mais utilizados. Uma das principais limitaes da utilizao dos mtodos quantitativos em Cincias Sociais est ligada prpria natureza dos fenmenos estudados: diversidade dos seres humanos; diferentes respostas a um mesmo estmulo de acordo com os sujeitos, respostas que so por sua vez complexas; grande nmero de variveis cujo controlo difcil ou mesmo impossvel; observao que dever ser rigorosamente conduzida para minimizar os efeitos provocados pela presena do investigador e garantir objectividade na interpretao dos resultados; medio que se reveste de dificuldades e que muitas vezes indirecta, como por exemplo o caso das atitudes; problema da validade e fiabilidade dos instrumentos de medio (Validade de um instrumento diz respeito adequao que encerra, no sentido de medir o objecto que com ele foi proposto ser medido; fiabilidade se diferentes investigadores utilizando o mesmo instrumento chegariam a iguais resultados. Mtodos quantitativos de investigao em cincias sociais A realizao de uma pesquisa emprica em Cincias Sociais implica sempre o accionamento de procedimentos terico-metodolgicos de observao do real: estruturao de uma estratgia de investigao. Esta ir depender, em grande parte, dos objectos concretos da pesquisa, bem como da sua origem. Com efeito, alguns objectos de investigao sugerem a utilizao de mtodos e tcnicas de carcter mais quantitativo (quando o universo em estudo muito vasto), enquanto que outros objectos de pesquisa permitem uma anlise mais intensiva. Deste modo, as estratgias de investigao sociolgica podem designara-se por: extensiva, intensiva e investigao-aco. A lgica extensiva caracterizada pelo uso dominante de tcnicas quantitativas. A sua principal vantagem o facto de permitir o conhecimento em extenso de fenmenos: Mtodo de medida ou anlise extensiva (resultados relativos a toda a populao): este mtodo implica a observao de populaes vastas. As populaes amplas constituem o objecto da anlise extensiva, pelo que se recorre, muitas vezes, a tcnicas de amostragem. Fases da pesquisa sociolgica O processo de investigao envolve um conjunto de etapas desde que o investigador inicia o processo de pesquisa at que os resultados obtidos assumem uma forma de escrita. Apesar da pesquisa emprica poder obedecer a diferentes estratgias, as suas etapas seguem um modelo padro:

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1 etapa: definio de um problema ou de uma questo de partida (pergunta de partida); 2 etapa: estudo exploratrio (recolha de informaes sobre o tema); 3 etapa: definio da problemtica, das hipteses de trabalho e construo de um modelo de anlise (deve recorrer-se produo terica j existente sobre o tema, de modo a definir os conceitos que a ele esto associados e estabelecer as relaes entre eles); 4 etapa: seleco e aplicao dos instrumentos de observao e recolha de informaes (definio das tcnicas a usar, em funo dos objectivos da investigao); 5 etapa: anlise da informao e concluses (processo de verificao emprica, isto , anlise dos dados e concluses do estudo). Tcnicas de pesquisa quantitativa O inqurito por questionrio possibilita obter dados atravs do questionrio, consistindo em apresentar um conjunto pr-determinado de perguntas populao. O questionrio , portanto, um conjunto estruturado de questes expressas num papel, destinado a explorar a opinio das pessoas a que se dirige. Os questionrios podem ser de tipo livre ou aberto (deixa-se toda a latitude de resposta ao inquirido. A principal vantagem o facto de permitir pessoa interrogada dar uma resposta livre e pessoal, sendo que as desvantagens so, essencialmente, o facto de poderem dar origem a respostas equvocas, contraditrias ou ilegveis, e o facto de serem de difcil apuramento, em consequncia da multiplicidade de respostas possveis); fechado (feito sem qualquer maleabilidade, seguindo um plano rgido, no qual a ordem das questes e os seus termos se mantm invariantes. Vantagem: permite canalizar as reaces das pessoas interrogadas para algumas categorias muito fceis de interpretar. Inconveniente: tem a ver com o aspecto tcnico do questionrio); ou semi-aberto ou semi-fechado (combinao das vantagens dos 2 tipos anteriores, com vista reduo dos seus inconvenientes. Neste tipo de inqurito, as questes podem so fechadas, mas d-se a possibilidade da resposta ser livre). Por outro lado, os testes e medida de atitudes e opinio visam o conhecimento quantificado e directo do comportamento do sujeito. As medidas de atitudes e opinio tm por objecto a graduao da respectiva intensidade, possibilitando a ordenao dos indivduos ao longo de uma escala. Estas tcnicas so criticadas pelo seu carcter subjectivo e pela ausncia de um padro estandardizado de medida. As escalas de atitudes e opinies visam superar esse subjectivismo, atravs da utilizao de um sistema pr-construdo de proposies sobre as quais o inquirido toma posio. Tipos de questes a incluir num inqurito por questionrio: questes fechadas (apuramento rpido dos resultados / pobreza das informaes obtidas; as perguntas podem ser feitas de forma tendenciosa); questes abertas (grande abundncia e riqueza de informaes / dificuldade no tratamento dos dados, dada a variedade de respostas, a maior parte das vezes, pouco objectivas); questes semi-abertas ou semi-fechadas (facilidade e rapidez no apuramento dos dados; informao suficiente, dado ser apresentada a justificao da resposta). As sondagens so uma modalidade particular de inqurito por questionrio, que visam obter a opinio dos inquiridos sobre determinado assunto. Os seus resultados podero ser generalizados a um universo mais vasto. Apesar disto, esta tcnica bastante complexa, se tivermos em conta os passos da sua correcta aplicao: Definio dos objectivos; Inventariao do recursos disponveis, o que permite determinar a extenso, os limites e a durao do trabalho a realizar; Identificao do universo e escolha do intervalo de confiana. necessrio conhecer o n total de indivduos do universo cuja opinio se deseja pesquisar, bem como a sua distribuio por categorias (profisso, idade, sexo, regies). A esta discriminao qualitativa e quantitativa do universo d-se o nome de breakdown do universo, que se torna fundamental para escolher o intervalo de confiana que se espera atingir no trabalho; Construo da amostra. Sendo que, normalmente, o universo apresenta uma enorme extenso, preciso seleccionar uma amostra representativa desse universo, isto , considerar uma parcela do universo que seja numericamente expressiva, a fim de representar o mais exactamente possvel todo o universo. importante que os indivduos que compem a amostra representativa se encontrem discriminados, afim de que a colheita das opinies se processe nas devidas propores. A esta discriminao d-se o nome de breakdown

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da amostra; Elaborao do esboo do questionrio, elaborando e ordenando as questes e os mtodos a utilizar; Realizao do pr-teste, destinado a assegurar a natureza e a complexidade das questes e a sua adequao aos objectivos previamente determinados; Elaborao do questionrio definitivo; Recolha da informao; Codificao das respostas; Anlise e tratamento dos dados; Elaborao do relatrio final. Vantagens da sondagem: abarcando, apenas, uma parcela da populao total, exige menos recursos do que o inqurito exaustivo. Os inconvenientes prendem-se, sobretudo, com distores que podem ser introduzidas, tanto na fase de identificao prvia da populao a inquirir, como na do tratamento dos dados ou nas falhas de informao. 1- A escolha de um tema Toda e qualquer investigao cientfica consiste no processo da procura metodolgica de um problema, visando a sua resoluo e o consequente alargamento dos horizontes do conhecimento. A origem da iniciativa cientfica reside na curiosidade humana em tentar saber e compreender o porqu das coisas. Podemos, at certo ponto, comparar a investigao a um exerccio de pontaria, uma vez que "o problema o alvo". No entanto, a colocao deste no a primeira fase do processo. Na opinio de vrios autores (Cervo e Bervian, 1989, Barros e Lehfeld, 1989, Lakatos e Marconi, 1989 e Bell, 1997), a escolha do tema o primeiro passo de uma investigao cientfica, podendo a sua seleco ser realizada basicamente atravs de duas formas: a primeira, no caso da deciso da escolha no ser tomada por quem vai investigar, havendo uma atribuio prvia do tema de estudo (Bell, 1997); a segunda, no caso da livre escolha por parte do investigador, havendo portanto, uma maior liberdade de opes. sobre esta ltima que recaiem, nos momentos de decidir, as "verdadeiras angstias" (Cervo e Bervian, 1989: 73). - O que escolher!? O que fazer!? Apesar de ser o primeiro passo, a escolha do tema no de todo o mais fcil. Assuntos para pesquisar no faltam, a dificuldade est na tomada de deciso em partido de um deles. Seleccionar um tema, equivale a eliminar todos os outros passveis de serem investigados. Assim sendo, foroso definir critrios de seleco e estabelecer prioridades de acordo com as nossas necessidades. Segundo Cervo e Bervian (1989), tais critrios so de extrema importncia uma vez que podem desempenhar a funo de guia metodolgico, orientando assim o sujeito em direco ao assunto prioritrio, e posteriormente, ao longo de todo o processo. As razes que levam o indivduo a optar, por um ou outro tema, podem ser de vrias ordens, tais como: Intelectuais - baseadas apenas no desejo de conhecer ou compreender algo (Cervo e Bervian, 1989); Prticas baseadas no desejo de conhecer para realizar algo (Idem, ibidem); Interesse - gosto particular ou profissional em estudar um assunto especfico (Sobral, 1993, Barros e Lehfeld, 1989 e Cervo e Bervian, 1989). A "liberdade nesta escolha" (Barros e Lehfeld, 1989), seja ela de que ordem for, deve repousar nos interesses, preocupaes e gosto do sujeito que vai investigar algo. Acima de tudo, deve proporcionar experincias positivas e enriquecedoras, e contribuir de alguma forma para o progresso cientfico. Para que tal acontea necessrio cumprir determinados requisitos. Em primeiro lugar, o tema deve ser adequado capacidade e formao do investigador, ou seja, o estudo deve ser realizado numa rea para a qual o sujeito deseja orientar as suas preocupaes. Em segundo lugar, dever corresponder s suas possibilidades, no que se refere ao tempo, recursos materiais, humanos e econmicos (Cervo e Brevian, 1989). Por outro lado, deve-se ainda ter em linha de conta a existncia ou no de material bibliogrfico sobre o assunto, tornando-se fundamental a realizao prvia de uma anlise, explorao e consulta bibliogrfica (Barros e Lehfeld, 1989). Os factores apontados tornam-se, na maioria dos casos, elementos impeditivos da execuo de um estudo em determinada rea do nosso agrado ou interesse. Assim sendo, cada vez mais frequente, optar pela escolha de temas j existentes e largamente estudados, cuja replicao injustificvel conduz realizao de temas fceis e sem interesse que no compensam o esforo exigido (Cervo e Brevian, 1989) - o fazer por fazer! Segundo Kundera, no difcil arranjar um tema, porque basta glosar o que j foi dito. E como tudo

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pode ser glosado, h um nmero infinito de temas", o que conduz a uma falta de originalidade. No entanto, examinar e desenvolver um tema original, nem sempre se mostra exequvel, uma vez que o tempo til concedido para a sua realizao pode no o proporcionar. A soluo mais acessvel e frequente est em duplicar trabalhos, que aplicados a contextos diferentes se revestem de uma identidade essencial (Sobral, 1993) - so as chamadas replicaes diferenciadas. Apesar do que foi escrito, a replicao de estudos no pode ser visto como um procedimento negativo. A sua realizao, permite o controlo de qualidade dos processos de conhecimento cientfico sobre uma determinada problemtica, assim como, uma anlise multivariada sobre um determinado tema. No nos podemos esquecer que um determinado assunto pode ser abordado sob vrias perspectivas. Em suma, a seleco de um tema mais difcil do que pode parecer primeira vista. Numa luta contrarelgio, aliado s incertezas da escolha, a tentao de decidir, sem realizar um trabalho preliminar (fazer leituras, anotar ideias, discutir tpicos, etc.), enorme (Bell, 1997). No entanto, devemos estar conscientes do seguinte: aps a escolha do tema e a correcta delimitao do seu campo, a fase seguinte a sua transformao em problema, ou seja, "descobrir os problemas que o assunto envolve, identificar as dificuldades que ele sugere, formular perguntas ou levantar hipteses significa abrir a porta, atravs da qual o pesquisador penetrar no terreno do conhecimento cientfico" (Cervo e Bervian, 1989: 76). E, como dizia frequentemente Einstien (o maior gnio da humanidade), - "a formulao correcta de um problema mais importante que a sua resoluo" (Sobral, 1993: 31). Submeta o trabalho que iniciou na actividade anterior, a uma nova crtica interrogando-se: o tema escolhido ser pertinente? Que tipo de informao recolhi at agora? Que elementos de nevoeiro informacional encontrei na pesquisa preliminar? Redundncias (sobre-informao)? Zonas brancas (sub-informao)? Contradies (possveis elementos de pseudo-informao)? Passos para a escolha do tema Uma das primeiras tarefas do investigador elaborar um plano de trabalho. Do ponto de vista prtico, isso consiste em tentar elaborar um projecto de ttulo, de bibliografia e de ndice geral, assim como um esboo da introduo. Todos estes elementos comeam por ser apenas instrumentos destinados a clarificar e organizar as nossas ideias e a auxiliar a planificao do trabalho do dia-a-dia. Sero frequentemente modificados medida que a investigao avanar, de tal forma que, se houver um verdadeiro salto qualitativo no nosso conhecimento do tema que estamos a estudar, eles podero estar irreconhecveis no trabalho final. Nesta primeira fase no h preocupaes com as questes de estilo. O que interessa tentar pr no papel as nossas ideias. Se depois de escritas, elas nos parecerem obscuras ou mesmo ininteligveis, mais natural que o problema resulte de as nossas ideias serem mesmo pouco claras, do que de dificuldades de expresso ou redaco. O ttulo define e delimita o tema, o ndice geral organiza e relaciona os diferentes aspectos e partes do tema, permitindo enquadrar todas as abordagens analticas e de pormenor num viso sinttica e de conjunto. O projecto de bibliografia corresponde a um plano de pesquisa. O esboo de introduo tem em vista esclarecer as nossas ideias sobre os objectivos, ponto de partida e mtodos da nossa investigao. O rendimento da investigao depende da sua boa preparao. Investigar antes de mais interrogar. Para tal temos que saber bem quais as questes de partida que queremos colocar no incio do Estudo. Formalmente a preparao do plano de investigao inclui quatro fases distintas: 1-Escolha e identificao do tema - Escolher o tema da investigao a partir de um conjunto de factores: relevncia no contexto da respectiva disciplina, interesses pessoais, possibilidades de orientao, existncia e acessibilidade de fontes adequadas. - Definir e delimitar o tema atravs de um ttulo provisrio do trabalho. - Definir o tema em termos de uma questo principal - Definir os principais conceitos e ideias -chave relacionados com o tema. 2-Pesquisa preliminar / Recolha de informao geral

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Logo que o tema esteja escolhido possvel realizar uma pesquisa preliminar em livros e outros documentos, onde o tema se inclua (procurando os conceitos e ideias -chave j definidos), e ainda em obras de referncia, como enciclopdias e dicionrios. Estas obras podem remeter para a literatura especfica mais importante e significativa sobre o assunto. Esta pesquisa preliminar tem em vista obter: a) Um breve panorama do tema. b) Um reportrio dos mais importantes nomes de pessoas e locais, datas e conceitos associados com o tema. c) Um lxico da principal terminologia especializada utilizada no tratamento do tema. d) Um primeiro reportrio da mais relevante bibliografia sobre o tema, citada nas fontes consultadas. Elaborar fichas de leitura para a) e fichas separadas para cada tpico de b), c) e d). 3-Anlise preliminar A recolha efectuada durante a fase anterior deve permitir dar os primeiros passos na anlise do tema: a) Redefinir o tema de forma mais detalhada e atravs de questes mais especficas. O esforo posto na redefinio nesta primeira fase do projecto permitir no perder de vista a viso de conjunto do tema e do seu enquadramento global, que se poder tornar mais difcil numa fase mais avanada da investigao e, por outro lado, permitir planear e obter maior rendimento na investigao posterior. b) Equacionar as diferentes abordagens possveis para responder s questes de partida. H que ter em conta que diferentes abordagens podero obrigar utilizao de diferentes fontes e mtodos de investigao. c) Elaborar um plano de ndice geral, organizando e relacionando os diferentes aspectos e partes do tema, procurando enquadrar todas as abordagens analticas e de pormenor num viso sinttica e de conjunto. d) Elaborar um esboo de introduo, tendo em vista esclarecer as ideias sobre os objectivos, ponto de partida e mtodos da investigao. e) Identificar todas as ideias e palavras-chave que possam descrever ou estar relacionados com o tema, incluindo todos os sinnimos. f) Identificar todos os principais conceitos que possam estar relacionados com o tema, incluindo os mais importantes nomes de pessoas e locais, datas e factos associados com o tema. Esta identificao permitir no s alargar as ideias e palavras-chave utilizados na pesquisa bibliogrfica, como melhorar a compreenso do contexto geral onde se integra o tema em estudo. 4- A reviso da literatura A Reviso da Literatura deve ser especfica e expressar o pensamento mais actualizado sobre o tema a ser tratado. No deve ser apenas uma transcrio daquilo que outros autores dizem e pensam mas uma sntese comentada de ideias diversas sobre o mesmo tema. Toda e qualquer ideia utilizada deve ser devidamente referenciada. Podem-se fazer citaes formais que so a fiel transcrio das palavras de outro autor, e citaes conceptuais a reproduo por outras palavras do que outro autor diz. Reviso da literatura: analisar de forma sucinta, os conhecimentos existentes (estado da arte) sobre o problema ou oportunidade focalizada e destacar o(s) elemento(s) do projecto, com base em reviso de literatura actual, relevante e ligada directamente s questes tcnico-cientficas colocadas pelo projecto. Proceder a uma pesquisa bibliogrfica, documental, ciberntica. Esta fase obriga a que o tema tenha sido previamente traduzido num conjunto de ideias e palavras-chave atravs dos quais se procede pesquisa. Estas palavras dependero naturalmente dos descritores utilizados nas bibliografias. Alm da pesquisa por assuntos, pode revelar-se muito til a pesquisa por autores cuja obra seja importante no mbito do nosso trabalho. A pesquisa em livros e revistas a mais frequente, mas tambm podemos proceder a buscas em teses ou actas de reunies cientficas. A escolha do tema deve ser feita segundo alguns critrios. Antes de mais nada pesquisar a acessibilidade a uma bibliografia sobre o assunto, pois todo trabalho universitrio baseia-se, principalmente, na pesquisa bibliogrfica. Outros requisitos importantes so a relevncia, a exequibilidade, isto , a possibilidade de desenvolver bem o assunto, dentro dos prazos estipulados, e a adaptabilidade em relao aos conhecimentos do autor. Escolhido o tema, faz-se necessrio delimit-lo, ou seja, definir sua extenso e profundidade, o tipo de abordagem. importante que os objectivos sejam claramente estabelecidos a fim de que as fases posteriores da pesquisa

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se processem de maneira satisfatria. Aps essa definio, convm definir um plano de trabalho para orientar os procedimentos seguintes. Esse plano provisrio e passa por reformulaes sucessivas. Deve ser razoavelmente elaborado quando se iniciar o trabalho de confeco de fichas. Uma pesquisa bibliogrfica pode ser desenvolvida como um trabalho em si mesma ou constituir-se numa etapa de elaborao de monografias, dissertaes, etc. Enquanto trabalho autnomo, a pesquisa bibliogrfica compreende vrias fases, que vo da escolha do tema redaco final. De modo geral, essas fases apresentam algumas semelhanas como as da elaborao dos trabalhos de graduao. A recolha de dados: De posse do tema, deve-se procurar na biblioteca, atravs de ficheiros, catlogos, abstracts, uma bibliografia sobre o assunto, que fornecer os dados essenciais para a elaborao do trabalho. Seleccionadas as obras que podero ser teis para o desenvolvimento do assunto, procede-se, em seguida, localizao das informaes necessrias. Localizao das informaes: Tendo em mos uma lista de obras identificadas como fonte provveis para determinado assunto, procura-se localizar as informaes teis, atravs das leituras: Leitura prvia ou pr-leitura: procura-se o ndice ou sumrio, l-se o prefcio, a contracapa, as orelhas do livro, os ttulos e subttulos, pesquisando-se a existncia das informaes desejadas. Atravs dessa primeira leitura faz-se uma seleco das obras que sero examinadas mais detidamente; Leitura selectiva: o objectivo desta leitura verificar, mais atentamente, as obras que contm informaes teis para o trabalho. Faz-se uma leitura mais detida dos ttulos, subttulos e do contedo das partes e captulos, procedendo-se, assim, a uma nova seleco. Leitura crtica/analtica: agora a leitura deve objetivar a inteleco do texto, a apreenso do seu contedo, que ser submetido anlise e interpretao; Leitura interpretativa: entendido e analisado o texto, procura-se estabelecer relaes, confrontar ideias, refutar ou confirmar opinies. Caso seja necessrio ampliar o levantamento bibliogrfico, deve-se procurar na bibliografia de cada obra, no rodap, nas referncias bibliogrficas, a indicao de outras obras e autores que podero ser consultados. Documentao dos dados: anotaes e fichas: As leituras realizadas numa pesquisa bibliogrfica devem ser registadas, documentadas, atravs de anotaes. As anotaes tornam-se mais acessveis, funcionais, se forem feitas em fichas (transcrever anotaes em fichas, para fins de estudo ou pesquisa). A vantagem de se utilizar o mtodo das fichas para a documentao dos dados est na possibilidade de obter-se a informao exacta, na hora necessria. Alm disso, pela facilidade do manuseio, remoo, renovao ou acrscimo de informaes, o uso de fichas indispensvel na tarefa de documentao bibliogrfica. As fichas ocupam pouco espao, podem ser facilmente transportadas, possibilitam a ordenao do material relativo a um tema, facilitando o estudo e a elaborao de trabalhos. Elas prestam-se a vrios tipos de anotaes: fichas de indicao bibliogrfica (autor, obra, assunto): seguem s normas da ABNT- o conjunto de elementos constantes da bibliografia como indicaes bibliogrficas, so as seguintes: autor, ttulo, nmero da edio, local de publicao, editora, data de publicao. de transcries, para citaes: excertos seleccionados de autores que podero ser usados como citaes no trabalho ou servir para destacar ideias fundamentais de determinados autores. de apreciao: anotaes a respeito das obras, no que se refere a seu contedo ou estabelecer comparaes com outras da mesma rea. Anotam-se crticas, comentrios e opinies sobre o que se leu. de esquemas: podem referir-se a resumo de captulos ou de obras, quanto a planos de trabalho. de resumo: os resumos podem ser descritivos (aponta as partes principais) ou informativos (dispensa a leitura do texto original), dependendo da sua finalidade. de ideias sugeridas pelas leituras etc.: ideias para a realizao de trabalhos ou para complementar um tipo de raciocnio ou de exemplificao no trabalho. (ideias cometa) No basta anotar em fichas, preciso saber us-las e organiz-las, para que o mtodo de fichamento cumpra suas finalidades. Toda a ficha deve ter indicaes precisas a respeito de seu contedo e, muitas vezes, de suas finalidades. Essas indicaes comeam pelo cabealho, que especifica o tema ou assunto ou ainda a finalidade do contedo fichado. (facilita a consulta e manuseio da ficha) Em seguida, anotam-se as indicaes bibliogrficas, ou seja, autor, obra, local de impresso, editora, data e, se for o caso, o captulo ou as pginas da obra em questo. Esta uma anotao necessria e deve ser repetida no alto de todas as fichas, se o trabalho consta de vrias. O corpo da ficha refere-se a seu contedo: esquema, resumo, citao, etc.

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Quando o trabalho (resumo, esboo, esquema) exige certo nmero de fichas, torna-se necessrio numer-las, no s por questo de ordem, mas tambm para prevenir surpresas desagradveis. Um ponto muito importante no que diz respeito s fichas nunca misturar assuntos ou autores. Cada ficha deve conter assunto relativo a um autor. O Pr-projecto A pesquisa cientfica objectiva, em ltima anlise, deve responder s necessidades humanas. , porm, uma actividade terica, racional. Deve, portanto, desde o incio, assumir o formato de actividade intelectual planeada. O pr-projeto a primeira actividade de planeamento. O que se pretende , a partir de um tema, gerar uma ou mais hipteses. A necessidade de pesquisar, de investigar, s toma forma, concretiza-se diante de uma hiptese, pois temas apenas anunciam a presena de uma necessidade humana qualquer. A actividade intelectual propriamente dita inicia-se pela percepo e problematizao da necessidade. Com base em conhecimentos previamente adquiridos e tidos como seguros, o pesquisador prev verdades possveis a respeito de um tema qualquer. , dessa forma, uma tentativa a priori de explicao. Seu enunciado uma afirmao provisria de verdade, a opinio inicial do pesquisador. funo da hiptese ser a gnese do processo posterior de investigao, ou seja, o trabalho de pesquisar consiste em procurar evidncias que comprovem (sustentem ou refutem) a verdade anunciada na hiptese. Alm disso, a hiptese que impor a directriz e finalidade a todo processo posterior de investigao e pesquisa, pois o investigador no deve pesquisar informaes ao sabor do acaso, mas com definio de onde quer chegar. Afinal, s encontra algo aquele que sabe o que est procura... A actividade de pr-projeto pode ser dividida em cinco passos bsicos: escolha do tema, reviso de literatura, problematizao, seleco/delimitao, gerao da(s) hiptese(s). Alguns critrios ajudaro na escolha de um tema de pesquisa: gosto pessoal, preparo tcnico, tempo disponvel, importncia ou utilidade do tema (trs beneficirios: a sociedade, a cincia, a escola), existncia de fontes. Uma vez escolhido o tema, o prximo passo procurar materiais escritos que tratem do assunto, trata-se da reviso da literatura. A releitura exploratria tem o mrito de aumentar a extenso e a profundidade dos contedos conhecidos. A problematizao a transformao de uma necessidade humana em problema, que por sua vez define-se como necessidade humana, quando pensada. O que se faz, na realidade, dividir a necessidade em seus aspectos componentes julgados importantes. O progresso cientfico quase sempre surge do aprofundamento de aspectos de uma necessidade, isto , estudase mais detidamente pedaos dela por vez. Da a importncia da delimitao. Deve-se escolher o pedao do problema que se quer ou se precisa estudar, para estud-lo em profundidade. A Hiptese caracterizada como uma verdade provisria. fundamental para qualquer processo de investigao cientfica, pois consiste no lanamento de uma afirmao a respeito de algo ainda desconhecido, ou pelo menos, no satisfatoriamente conhecido. A hiptese com que se vai trabalhar surge das questes j levantadas a respeito do tema, mais especificamente, da questo escolhida no processo de seleco/delimitao. A questo levantada, junto com a resposta que se deu, o indicativo do estgio de conhecimento do pesquisador a respeito do assunto do qual, inevitavelmente, partir sua investigao. Em funo disto, as hipteses so individuais, particulares, pois representam pontos de partida com base na extenso e profundidade do conhecimento j adquirido por indivduos/ pesquisadores, conhecimento esse indicado nas perguntas e respostas que formulou. Na prtica, gera-se a hiptese juntando o contedo da pergunta com o contedo da resposta, em uma frase afirmativa nica. Esta afirmao ter um contedo positivo, negativo ou duvidoso, dependendo do contedo de conhecimento do pesquisador, ao responder a pergunta. Ser, porm, sempre, uma afirmao. Anlise Quantitativa de Dados em Trabalhos Acadmicos: alguns casos Este texto tem como principal objectivo abordar a utilizao da anlise quantitativa de dados em trabalhos acadmicos, com uma componente de investigao emprica. De uma forma mais concreta, pretende-se deixar algumas sugestes para, na fase de planeamento, ancorar as hipteses operacionais e os mtodos de recolha e anlise de dados. Em simultneo, e atravs de uma escolha judiciosa dos exemplos (trabalhos de investigao) a apresentar, ilustrar procedimentos diferenciados para alcanar propsitos estabelecidos em funo de cada cenrio.

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Numa definio feliz para um trabalho acadmico, Baraano (2004) afirma que: Um trabalho acadmico uma argumentao. Justifica, depois, que por essa razo deve ser: importante, surgindo do corpo de conhecimento existente e preenchendo as lacunas detectadas, sustentvel, fornecendo provas da sua veracidade e compreensvel para o leitor, com uma escrita reflectindo a argumentao de forma clara e lgica. Um trabalho acadmico o produto de um processo de aprendizagem, e o autor desta comunicao, no mbito da sua actividade docente na ps-graduao da Universidade de Aveiro, nomeadamente na disciplina de Metodologias de Investigao, tem-se debruado sobre o processo de investigao, tentando sensibilizar os discentes para a componente de planificao e criatividade controlada que existe no processo, para alm da (qui mais evidente) aplicao de conhecimentos. Isto significa percorrer, passo a passo, um caminho organizado de forma lgica, utilizando mtodos rigorosos de identificao de problemas, recolha dos dados relevantes e extrapolao de concluses vlidas, tudo embrulhado num processo verificvel e que deve permitir a repetio. Nesta comunicao o assunto ser delimitado componente da fase de planeamento do trabalho emprico, em particular ao estabelecimento das hipteses operacionais (na perspectiva da futura recolha de dados), bem como recolha e anlise quantitativa dos dados relevantes. A experincia do autor na colaborao com investigadores de outras reas em estudos que envolvem anlise quantitativa de dados, cimenta uma ideia chave neste processo: na fase de planeamento da investigao emprica essencial ponderar os mtodos de recolha e anlise dos dados, naturalmente articulados com hipteses operacionais adequadas. No mtodo de investigao utilizado nesta comunicao (hipottico-dedutivo), consensual considerar um ciclo que envolve: o processo de observao, fonte de uma parte significativa de trabalhos de investigao; a identificao de um problema, que por vezes implica a recolha de alguns dados e/ou informao; o modelo conceptual ou estruturao terica dos factores ligados ao problema; (no mbito de um trabalho acadmico, por vezes estas trs fases encontram-se condensadas no processo de reviso da literatura); o estabelecimento das hipteses (gerais) atestar; o estabelecimento das definies operacionais que permitiro especificar as hipteses operacionais; o estabelecimento/seleco dos mtodos de investigao; a recolha, anlise e interpretao dos dados; a deduo (concluso), que pode reverter para o refinamento da teoria, incorporando motivos para o seu enriquecimento, ou conduzir a uma concretizao. Esta ltima fase pode alimentar a primeira (aqui descrita como observao), fechando o ciclo. Embora as fases deste ciclo decorram, habitualmente, de forma sequencial, existem interdependncias a considerar. Por exemplo, no planeamento do trabalho emprico no se podem divorciar as hipteses operacionais, dos mtodos de investigao e da anlise de dados. Existem interligaes entre estes trs aspectos do trabalho que, face a restries ou limitaes de um deles, reflectem de forma automtica aqueles constrangimentos nos outros. A constatao deste facto motivou o autor a eleger este tema como elemento central desta comunicao em que, atravs da descrio de casos concretos (trabalhos de investigao realizados ou a decorrer na Universidade de Aveiro), permitir apresentar alguns aspectos no processo de recolha, anlise e interpretao de dados e ilustrar o planeamento e a execuo de uma investigao emprica. 1 Exemplo de uma Investigao Emprica Apresentamos, a seguir, uma sntese (de parte) do trabalho de investigao emprica que o NES tem vindo a desenvolver. As Preocupaes dos jovens face ao Suicdio - Representaes sociais do suicdio na adolescncia, Psiquiatria Clnica, 22, (1), 41-48. Este trabalho - sendo parte de uma investigao ainda por concluir - insere-se no mbito das Actividades de Investigao do NES. O suicdio adolescente em Portugal Objectivos gerais da investigao - identificar e analisar as dimenses de significao mais significativas que estruturam as representaes

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sociais do suicdio adolescente, numa populao de adolescentes, estudantes do ensino secundrio; - verificar as diferenas e semelhanas das representaes sociais do suicdio (obtidas) em funo da idade, ano de escolaridade, sexo, regio e presena de ideao suicida; - verificar em que medida as representaes so modeladas pelo contacto com o suicdio (tentativas de suicdio); - apreender as principais causas atribudas ao suicdio juvenil; - identificar as atitudes mais significativas de um jovem face a um seu conhecido ou amigo com ideao suicida; - avaliar a importncia da preveno do suicdio entre os jovens. Metodologia Sujeitos A amostra foi constituda por adolescentes, estudantes do 10, 11 e 12 anos de escolas secundrias de Santarm, Guimares, vora e Lisboa, num total de 822 sujeitos - 386 rapazes e 431 raparigas (5 sujeitos no indicaram o sexo). O Quadro 1 apresenta a distribuio dos sujeitos por sexo e idade, enquanto o Quadro 2 indica a sua distribuio por regio e ano de escolaridade. Quadro Ide At aos 16 anos 17 anos 18 anos 19 anos ou mais Total Mdia-etria:17,55 Rapazes Raparigas 20,6% 27,3% 30,7% 21,4% 46,9% Total 19,6% 34,2% 31,8% 14,4% 53,1% 20,1% 31,0% 31,3% 17,7% 100% desvio-padro:1,26

Quadro IIRegioano vora Guimares Lisboa Santarm Total 20,1% 22,0% 37,9% 20,1%

11 ano 31,6% 19,2% 31,3% 17,9%

12 ano Total 17,0% 27,8% 43,6% 11,6% 29,7% 23,5% 22,7% 37,1% 16,7% 100%

32,5% 37,8%

(estes dados foram recolhidos em 1999) Nesta populao, 34,4% dos jovens j teve ideias de suicdio, uma ou mais vezes. Entre estes adolescentes, 7% fizeram pelo menos uma tentativa de suicdio (TS). Variveis Consideraram-se como variveis independentes: o sexo; a idade (constituiram-se 2 grupos: um com idades compreendidas entre os 15 e os 17 anos e outro com os jovens acima dos 19 anos); o ano de escolaridade (10, 11 e 12 ano); a regio (Guimares, Santarm, Lisboa e vora); e as ideias de suicdio (presena ou ausncia de ideao suicida). Foram estudadas como variveis dependentes as dimenses explicativas que estruturam as representaes sociais do suicdio. Procedimento

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No sentido de responder aos objectivos gerais da investigao, foi construdo (e previamente validado) um instrumento constitudo por duas partes: - A primeira com questes abertas com vista a identificar os contedos representacionais - ou dimenses (significantes) de representao - que estruturam as ideias (pensamentos), sentimentos e imagens (metforas) em relao ao suicdio. - A segunda parte correspondendo a um questionrio estruturado (perguntas fechadas) com diversos indicadores, de modo a identificar: as dimenses explicativas da representao do suicdio; as crenas sobre o suicdio; as atitudes face ao suicdio e estratgias de preveno; a importncia/impacto das notcias sobre o suicdio; a percepo de situaes justia na relao com os pais e com os amigos, a frequncia com essas situaes lhes acontecem e o modo como essas situaes podem levar a ideias de suicdio; a autoestima pessoal e auto-estima social dos adolescentes, as pertenas grupais e as suas funes na preveno do suicdio; a influncia do contacto com o suicdio; e um conjunto de questes para caracterizar os adolescentes desta amostra. Os itens que operacionalizam estas dimenses foram construdos a partir da anlise de contedo a entrevistas inicialmente realizadas e com base na reviso de literatura sobre as representaes sociais e o suicdio (e.g., Sampaio, 1991; Ordaz, 1995; Valentim, 1997; Oliveira, 1995; Saraiva, 1997). Tratamento dos Dados Efectuaram-se vrios procedimentos para se obter uma descrio detalhada dos dados e diversas Anlises Factoriais em Componentes Principais, com o objectivo de analisar as estruturas das diversas dimenses que integram o questionrio. Realizaram-se anlises de varincia para analisar os efeitos das variveis independentes sobre as dimenses representacionais obtidas. Principais Resultados Os jovens recorrem a uma multiplicidade de razes para explicar o suicdio que nos remetem para uma abordagem multidimensional, onde se salientam as dimenses representacionais (significativas) de natureza intra-individual (baixa auto-estima, sentimentos de perda, desiluso e insegurana), interactiva (injustia relacionada com os amigos, injustia relacional e injustia distributiva), psicossocial (influncia social/isolamento) e biolgica (factores biolgicos). Esta estrutura das dimenses de significao sobre as explicaes do suicdio, revela uma diversidade que concorda com a perspectiva terica de uma causalidade multifactorial e complexa do suicdio (e.g., Sampaio, 1991) e se afasta da viso dicotmica caracterstica de uma vertente mais clssica. Para os nossos jovens, as causas que mais podem contribuir para o suicdio so, antes de mais, os problemas - principalmente os problemas familiares - e as dificuldades para os resolver, a falta de amigos, a droga e o lcool; estas constituiro representaes hegemnicas (Moscovici, 1988), partilhadas pela maioria dos jovens inquiridos. A insegurana e a baixa auto-estima so consideradas como razes preponderantes que podem levar um jovem ao suicdio. Igualmente muito importantes, so os sentimentos de perda, a dor e a desiluso, bem como a influncia social (traduzida no modo como ou no conseguida a integrao e a identificao grupal/social) e o isolamento. Os factores biolgicos e a solido face aos problemas so outras causas a salientar. Quanto s atitudes consideradas como mais importantes, face a algum conhecido ou amigo com ideias de suicdio, salientamos a tentativa de perceber os motivos ou problemas desse colega, procurando tirarlhe essas ideias da cabea, a vontade de no o deixar s, a tentativa de o ocupar com actividades de grupo e o pedido de ajuda a um especialista - atitudes amplamente partilhadas. Consideramos ainda como preponderantes a confidencialidade e a lealdade face a esse colega em situao de risco - o que pode ser difcil de conjugar com a vontade de o ajudar. Em relao preveno do suicdio, a medida mais considerada pela quase totalidade dos jovens foi: Os pais falarem mais com os filhos sobre os problemas. Da recordarmos como fundamental existir uma boa comunicao entre pais e filhos. Depois dessa medida, salientou-se a necessidade de ter uma disciplina onde

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se abordem temas que digam respeito s dificuldades dos jovens e a criao de um espao na escola onde possam falar com pessoas mais experientes. De facto, a necessidade de informao e deformao especfica, foi um importante factor que obtive. Verificmos importantes diferenas no modo como os rapazes e as raparigas representam o suicdio juvenil. As raparigas sobressaem pelo seu maior envolvimento emocional e sentido prtico, mais voltado para a aco, o que se denota em mltiplos aspectos (nomeadamente de natureza interacional), que elas salientam mais do que os rapazes: a famlia no compreender o jovem, no ter amigos, a importncia dos pais falarem com os filhos, a necessidade de (in)formao, tentar perceber os problemas que preocupam o colega, pedir ajuda a um especialista, ter uma disciplina onde se fale de suicdio, no deixar o colega s, tentar tirar-lhe a ideao suicida e ocup-lo com outras actividades (grupais). Esta tendncia para as raparigas revelarem um maior envolvimento afectivo-emocional com a morte e o suicdio, concorda com resultados anteriores (e.g., Oliveira, 1999; Oliveira e Amncio, 1999; Sampaio, 1991, 1999). Relativamente idade, foram os mais novos (16 e 17 anos) que salientaram algumas das causas internas para o suicdio - a dor, os sentimentos de perda e a desiluso - e duas causas externas - a droga e o lcool. Quanto ao ano de escolaridade, so os jovens do 10 ano que mais salientam os sentimentos de perda, a dor e a desiluso. Os alunos do 10 e do 11 anos, mais do que os do 12 ano, do maior importncia necessidade de (in)formao e aos factores biolgicos, bem como criao de um espao de discusso na escola e criao de uma disciplina onde se fale de suicdio. Por outro lado, so os estudantes do 12 ano que mais referem a insegurana e a baixa autoestima como causas do suicdio e mais valorizam o dar importncia a quem lhes fala de ideias suicidas. So os jovens de vora e de Guimares que mais evidenciam a influncia social e o isolamento como causas de suicdio (e, tendencialmente, referem ainda os factores biolgicos). tambm nestas regies - e muito particularmente em vora - que os adolescentes consideram com maior premncia a criao de um espao apropriado para dilogo na escola. Consideremos agora a presena ou ausncia de ideao suicida: os jovens que nunca tiveram ideias de suicdio so os que mais facilmente pediriam ajuda a um especialista, caso tivessem um colega ou amigo com ideao suicida; mas so os adolescentes que j tiveram uma ou mais vezes ideias de suicdio que do maior importncia insegurana e baixa auto-estima como causas do suicdio juvenil. Constata-se ainda que os jovens com ideao suicida escolhem sobretudo razes de natureza intra-individual (problemas de personalidade, vergonha de si prprio), psicossocial (no ter oportunidades para se integrar socialmente, ser posto de parte pelos outros) e biolgica (doena mental, doena incurvel). So os jovens que nunca tiveram ideias de suicdio que atribuem maior importncia droga e ao lcool como possveis razes do suicdio; revelam uma atribuio externa, o que facilita a associao do suicdio ao comportamento desviante (afastando-o para uma rea de recriminaes e no ditos, que a sociedade condena). Breve discusso dos resultados Podemos reter vrias ideias. A primeira e a mais importante neste contexto a de que, na realidade, os jovens pensam nesta questo e preocupam-se. Do aos problemas, a nvel individual, social e, principalmente, familiar, a maior relevncia. E s dificuldades que da advm, quando no se sabe ou no se consegue encarar, abordar e ultrapassar essas mesmas situaes. A quem recorrer, como decidir, ... como agir? Muitas perguntas perdem-se ou no encontram resposta e, por vezes, a nica sada parece ser mesmo o suicdio. Poder, cada um de ns, estar ainda mais atento e ajudar a perceber que existem outros pontos de vista e outras alternativas possveis (e.g., Blackburn, 1982; Sampaio, 1991, 1993, 1996; Schneidman, 1996). Os jovens recorrem a uma multiplicidade de causas, atitudes e razes para explicar o suicdio - remetendo para uma abordagem multidimensional - onde se salientam as representaes de natureza afectivo-emocional e intra-individual (como a insegurana, a baixa auto-estima, os sentimentos de perda, a dor ou a desiluso). As explicaes e representaes do suicdio variam com o sexo, a idade, o ano de escolaridade, a regio (onde os jovens estudam) e o facto de j terem ou no pensado em suicdio. Esta constatao assume particular importncia para o delinear de estratgias preventivas adequadas a cada contexto e situao especfica. Podemos, em conjunto, renovar as ideias, reflectir acerca dos "sinais de risco", dos significados dos comportamentos de risco e, mais propriamente, dos gestos suicidas - e simbolismos que se lhes associam.

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Muitos jovens, ao se "exprimirem", alertam-nos para a necessidade da compreenso e, acima de tudo, de afecto e do trabalho de preveno - no qual os pais, a escola e todos os seus intervenientes, os tcnicos de sade, os autarcas e os polticos, tm um papel fundamental (e insubstituvel) a desempenhar. No fcil entendermos os mltiplos factores - internos e externos - e os vrios contextos - familiares, culturais, psicossociais - que podem conduzir um(a) jovem ao suicdio. Quo confuso, triste, s e desesperado se sentir um(a) jovem para, num derradeiro acto, tentar a sua morte? Se um(a) jovem se suicida porque no conseguiu encontrar razo e estmulo para viver, no suportou as suas preocupaes, no foi capaz de perceber a vida ou no encontrou quem o auxiliasse a equilibrar-se. E ento, um pedao de ns, morre com ele. Pois "ningum morre sozinho" e "nada mais importante do que a dignidade na morte" (Sampaio, 1991, 1997). Mas, quem "vai dar apoio aos pais que perderam um filho, quem pensa nos professores que falaram pela ltima vez com o jovem, onde esto aquelas pessoas disponveis para amparar os amigos deixados ss?"(Sampaio, 1999a, p. 8). Esta situao revela-nos uma face do fracasso do modelo de sociedade e do "projecto de modernidade" que consagrmos (Oliveira, 1999). Poderemos agir melhor e encontrar o que nos aproxima. Para que as diferentes geraes cooperem, em conscincia. Para que as "vozes" da adolescncia normal no se transformem em "rudos" ininteligveis e para que os "rudos" "se possam tornar "vozes" de uma comunicao positiva" (Sampaio, 1993, p. 212). 2 Tcnicas de Amostragem (complemento ao captulo 2 do livro adoptado) Patton (1990), afirma que provavelmente nada pe to bem em evidncia a diferena entre mtodos quantitativos e mtodos qualitativos como as diferentes lgicas que esto subjacentes s tcnicas de amostragem. A investigao quantitativa tem como base amostras de maiores dimenses seleccionadas aleatoriamente, enquanto a investigao qualitativa tipicamente focaliza-se em amostras relativamente pequenas, ou mesmo casos nicos, seleccionados intencionalmente. Populao ou universo o conjunto de elementos abrangidos por uma mesma definio. Esses elementos tm, obviamente, uma ou mais caractersticas comuns a todos eles, caractersticas que os diferenciam de outros conjuntos de elementos. O nmero de elementos de uma populao designa-se por grandeza ou dimenso e representa-se por N. (Os estudantes universitrios portugueses, os imigrantes cabo-verdianos residentes em Portugal, podem constituir exemplo do que ento designmos como populaes.). A populao deve ser definida em pormenor, de tal forma que um investigador possa determinar se os resultados que se obtiveram ao estudar uma dada populao podem ser aplicados a outras populaes com caractersticas idnticas. Na prtica, em grande nmero de casos, como os indicados anteriormente, o nmero de elementos de uma populao demasiado grande para ser possvel, (dado o custo e o tempo), observ-los na sua totalidade, sendo ento necessrio proceder-se seleco de elementos pertencentes a essa populao ou universo. A tcnica designada por amostragem (processo de seleco de uma amostra) conduz escolha de uma parte ou subconjunto de uma dada populao ou universo que se denomina amostra, de tal maneira que os elementos que constituem a amostra representam a populao a partir da qual foram seleccionados. O nmero de elementos que fazem parte de uma amostra designa-se por dimenso ou grandeza da amostra e representa-se por n. O propsito da amostragem obter informao acerca de uma dada populao; raramente incluindo um estudo a totalidade da populao. De facto, em grande nmero de casos no s no possivel utilizar a totalidade dos elementos que constituem toda a populao, como tambm no necessrio faz-lo. Se a populao constituda por um grande nmero de elementos, ou se estes esto geograficamente dispersos, o facto de se estudar toda a populao implicaria um grande gasto de tempo e de dinheiro. A seleco da amostra pode ser feita de tal forma que esta seja representativa do conjunto da populao que pretende estudar-se. Existem dois grandes tipos de tcnicas de amostragem: a probabilstica e a no probabilstica. Amostras probabilsticas so seleccionadas de tal forma que cada um dos elementos da populao tenha uma probabilidade real (conhecida e no nula) de ser includo na amostra. Amostras no probabilsticas so seleccionadas de acordo com um ou mais critrios julgados importantes pelo investigador tendo em conta os

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objectivos do trabalho de investigao que est a realizar (no est garantida uma probabilidade conhecida e no nula de cada um dos elementos da populao ser seleccionado para fazer parte da amostra). Seja qual for a tcnica utilizada, ao realizar uma amostragem devem ser tomados os passos seguintes: - Definio da populao; - Determinao da dimenso ou grandeza da amostra necessria; - Seleco da amostra. Como Seleccionar os Elementos para a Amostra De cada vez que se faz uma sondagem, necessrio seleccionar uma amostra da populao que se pretende estudar, qual se aplica depois um inqurito, para eventualmente se extrapolarem os resultados para toda a populao (Vicente, Reis e Ferro, 1996). A necessidade de conhecer uma populao no que respeita a uma ou vrias caractersticas, impulsiona um processo de recolha e anlise de informao. A dificuldade e mesmo nalguns casos, a impossibilidade de estudar a totalidade da populao ditou a importncia do estudo a recurso a amostras. impossvel assegurar a qualidade de uma sondagem, se no houver um conhecimento dos problemas e do impacto que eles podem ter nos resultados do estudo. Sondagens versus Recenseamentos Quando precisamos de fazer um estudo sobre uma populao, nem sempre possvel fazer um recenseamento, isto , inquirir todos os elementos e, mesmo que fosse possvel, este processo demoraria muito tempo, o que tornaria o estudo muito caro e possivelmente j sem nenhum sentido, pois tornar-se-ia desactualizado. As sondagens so mais baratas, menos demoradas, sendo muito mais fcil aceder a todos os elementos de uma amostra do que aos de uma populao inteira. certo que os recenseamentos so importantes pois so teis na actualizao de bases de dados para a realizao de sondagens. Em Portugal, os Censos1 ou recenseamentos so realizados de dez em dez anos o que faz com que consigamos ter uma actualizao exaustiva, tanto do parque habitacional como das caractersticas da populao residente. Com o decorrer do tempo, essa base de dados vai ficando desactualizada, pois num curto espao de tempo existem mudanas, tanto a nvel habitacional como populacional, por isso, conforme vo decorrendo os inquritos por amostragem a actualizao da base de dados vai sendo feita. Fases de realizao de uma sondagem Como habitual numa sondagem, o inqurito aplicado a uma amostra retirada de uma populao (Vicente, Reis e Ferro, 1996). Conceber e levar prtica um estudo por sondagem um processo complexo envolvendo diversas fases interdependentes. A vantagem deste esquema a ilustrao clara da fase de amostragem (nvel "escolha da amostra"), dentro do processo de sondagem. sobre os mtodos de amostragem que a seguir nos vamos debruar. Etapas do Plano Amostral Segundo Vicente et al (1996), o plano amostral o momento da sondagem onde se seleccionam os elementos a partir dos quais se vo recolher os dados necessrios. Assim sendo, os passos requeridos para recolher a amostra podem ser descritos atravs da seguinte sequncia: Etapas do plano amostral 1. Definir a Populao Alvo 2. Identificar a base de Sondagem 3. Escolher uma tcnica amostral 4. Determinar a dimenso da amostra

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5. Seleccionar os elementos da amostra 6. Recolher a informao necessria dos elementos da amostra 1.Definir a Populao Alvo A definio da populao alvo uma das fases mais importantes na realizao de uma sondagem. sobre essa populao que o nosso estudo vai incidir. A maior parte dos autores (Cochran (1963), Stuart (1984) e Barnett (1991)) definem por populao alvo a totalidade dos elementos sobre os quais incide a nossa anlise e dos quais se pretende obter informao. Para definir correctamente a populao alvo, primeiro temos de ter a certeza qual o objectivo do nosso inqurito, e depois, podemo-nos perguntar: sobre quem incide o inqurito? quem so os elementos de referncia acerca dos quais se pretende obter a informao? Por exemplo, vamos supor que o objectivo do nosso inqurito era caracterizar o emprego e o desemprego em Portugal. Este estudo tem de ser feito junto das famlias mas, como atravs dos alojamentos mais fcil detectar as famlias, devido existncia das moradas de residncia, ento a nossa populao alvo a dos alojamentos. 2. Identificao da Base de Sondagem A base de sondagem uma listagem dos elementos da qual se vai seleccionar a amostra (Vicente et al, 1996). Para utilizar a base de sondagem como a fonte para a recolha da amostra necessrio que se possam identificar as unidades amostrais, sendo estas, elementos ou grupo de elementos da populao. Pela dificuldade em construir essas listagens, em muitos casos impossvel fazer coincidir a populao alvo com a populao a inquirir ou base de sondagem. Trata-se dos casos em que a populao muito grande, tornando-se incomportvel fazer seleces sucessivas de amostras. Nestes casos opta-se por considerar uma grande amostra, bem representativa da populao, a que se chama base de sondagem. A partir desta populao, que rene caractersticas da populao-alvo inicial, extraem-se, de seguida, vrias amostras. No Instituto Nacional de Estatstica, por exemplo, a Amostra-Me (utilizada em diversos inquritos como por exemplo o Inqurito ao Emprego) uma grande amostra extrada da populao alvo, a partir da qual se extraem outras amostras. Posteriormente, quando esta base de sondagem comea a ficar saturada, pois certos indivduos j foram inquiridos um determinado nmero de vezes, a base de sondagem actualizada, atravs da substituio por novos indivduos. Gomes (1998) explica claramente esta estratgia que consiste em actualizar uma parte "representativa" da populao alvo, que assume o papel de base de sondagem. Tal como se referiu, em Portugal o INE actualiza a Amostra-Me de 5 em 5 anos e a partir de 1998 recorre-se a uma actualizao parcial em cada ano. 3. Escolha de uma tcnica amostral Depois de definida a populao-alvo, o problema que se levanta o da seleco dos elementos da amostra. Nesta fase da sondagem importa distinguir os mtodos probabilsticos ou aleatrios (em que aos elementos da populao est associada uma probabilidade de incluso na amostra) dos no probabilsticos (onde essa probabilidade no determinada). Os mtodos probabilsticos esto associados seleco de amostras aleatrias. No momento da seleco de uma amostra aleatria tem de se considerar toda a populao, (ou, quando tal se justifica, uma base de sondagem). Uma amostra considerada no aleatria quando determinados elementos da populao no tm possibilidade de serem escolhidos. Por exemplo, nas entrevistas de rua, apesar das pessoas serem escolhidas aleatoriamente, a amostra que se obtm uma amostra no aleatria, visto que nem todos os indivduos da populao tm a mesma possibilidade de passar no local no momento em que se esto a realizar as entrevistas. Importa salientar que s com a utilizao de amostras aleatrias possvel conhecer o grau de confiana (grau de certeza que se tem a respeito da preciso da estimativa) dos resultados, mas em contrapartida so as amostras no aleatrias que possibilitam a concluso mais rpida do estudo e com menor custo (Vicente, Reis e Ferro, 1996). Quer se escolha uma amostra aleatria ou no, o importante obter estimativas prximas dos parmetros a estimar e isto s se consegue se tivermos uma amostra o mais representativa possvel do universo.

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4. Determinao da dimenso da amostra A resposta pergunta de qual dever ser a dimenso da amostra difcil. Se a amostra muito pequena, os resultados do estudo podem no ser generalizveis populao. Os resultados podem apenas ser vlidos para a amostra e poder-se-iam obter diferentes resultados se se estudasse a totalidade dos elementos da populao. Usualmente considera-se que quanto maior for a amostra mais possibilidades tem de ser representativa da populao. A dimenso aceitvel da amostra varia com o tipo de investigao. Para um estudo descritivo, uma amostra de 10% considerado o mnimo. Se a populao pequena pode ser necessria uma amostra de 20%. Para um estudo correlacional pelo menos 30 sujeitos so necessrios para estabelecer se existe ou no uma relao entre duas variveis. Para estudos experimentais e causais-comparativos geralmente recomendado um nmero mnimo de 30 sujeitos por grupo. Por vezes necessrio utilizar amostras maiores, por exemplo em estudos experimentais quando se espera que a diferena entre o grupo experimental e o grupo de controlo seja pequena pois se a amostra no for suficientemente grande a diferena pode no ser evidenciada. Existem no entanto tcnicas estatsticas relativamente precisas que podem ser utilizadas para estimar qual a dimenso necessria da amostra para um dado estudo experimental; o uso de tais tcnicas exige que se conheam determinados factos acerca da populao tais como as diferenas esperadas entre grupos. O facto de aumentar a dimenso da amostra diminui a possibilidade de erro e portanto de variabilidade da amostra. No entanto, para determinar a dimenso da amostra deve-se ter em considerao, entre outros, o problema do custo, o erro tolervel, o plano de investigao. Como determinar a dimenso da amostra A questo da dimenso a considerar para amostra sempre uma deciso importante no processo de sondagem. H dois aspectos muito importantes a ter em conta nesta fase: a preciso requerida para os resultados (pois existe sempre um erro que se pretende que seja o mais reduzido possvel) e as limitaes de tempo e de custo envolvidas na sondagem. Tambm temos de ter em conta que quanto maior for a amostra, maior a preciso, mas tambm maior o custo. Por isso, devemos conjugar bem as duas situaes. sendo: c = parmetro determinado pelo nvel de confiana desejado n = tamanho da amostra f = frequncia relativa do atributo na amostra (proporo A dimenso da amostra necessria para obter uma determinada preciso nos resultados s pode ser calculada matematicamente se as amostras forem escolhidas por um processo aleatrio. Caso contrrio, segundo Weiers (1998) temos trs opes: adoptar a dimenso j utilizada, com sucesso, em estudos anteriores das mesmas caractersticas, ter em conta o oramento disponvel para o estudo e os custos envolvidos e por fim supormos que a amostra aleatria e ver qual a dimenso que seria necessria, sendo o valor encontrado meramente indicativo. Uma amostra deve ser representativa da populao, isto , tem de apresentar os aspectos tpicos, pois a amostra um modelo em miniatura da populao. Deve-se ter presente que a dimenso da amostra a recolher no directamente proporcional ao tamanho da populao e que essa dimenso depende fundamentalmente da variabilidade existente na populao. Por exemplo, se relativamente populao constituda pelos alunos do 10 ano de uma escola secundria, estivermos interessados em estudar a sua idade mdia, a dimenso da amostra a recolher no necessita de ser muito grande j que a varivel idade apresenta valores semelhantes, numa classe etria restrita. No entanto se a caracterstica a estudar for o tempo mdio que os alunos levam a chegar de casa escola, j amostra ter de ter uma dimenso maior, uma vez que a variabilidade da populao muito maior. Cada aluno pode apresentar um valor diferente para esse tempo. Num caso extremo, se numa populao a varivel a estudar tiver o mesmo valor para todos os elementos, ento bastaria recolher uma amostra de dimenso 1 para se ter informao completa sobre a populao; se, no entanto, a varivel assumir valores diferentes para todos os elementos, para se ter o mesmo tipo de informao seria necessrio investigar todos os elementos (Graa Martins, 2001).

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5. Seleccionar os elementos da amostra Tal como vimos nos itens anteriores, existem vrias formas de seleccionarmos os elementos de uma amostra. Nas amostras aleatrias o esquema de seleco designa objectivamente qual o elemento a ser escolhido. Nestes casos, devido existncia de listagens prvias que contm as referncias sobre os elementos includos na amostra, possvel identificar cada um dos inquiridos e estabelecer contactos (pessoais, via telefone, ou por correio) de modo a desencadear o processo de recolha de dados. No caso do Inqurito ao Emprego do INE, por exemplo, os seleccionados so contactados por correio, seguindo-se um conjunto de vrias visitas pessoais dos entrevistadores. Se a amostra for no aleatria, o entrevistador tem de seleccionar os elementos a incluir e, para tal, devido inexistncia de uma base de sondagem, necessrio recorrer ao julgamento humano (Vicente, Reis e Ferro, 1996). No caso da amostragem por quotas, por exemplo, existem guies ou planos que constituem um bom auxlio, pois ajudam o entrevistador a introduzir alguma aleatoriedade no processo de seleco dos entrevistados. Estes guies ou planos contm frmulas para seleccionar as ruas dentro de uma freguesia, ou para seleccionar alojamentos dentro de um edifcio. 6. Recolha da informao necessria dos elementos da amostra Uma vez seleccionados os elementos da amostra h que os contactar no sentido de obter os dados necessrios para a concretizao do objectivo do estudo. Num estudo por sondagem existem essencialmente trs mtodos de recolha de informao: a entrevista pessoal, entrevista telefnica e o questionrio por correio. Cada um destes mtodos tem as suas vantagens e desvantagens, as quais passam a ser mencionadas. Entrevista Pessoal A entrevista pessoal pode ser considerada como uma conversa entre duas pessoas, face a face, iniciada e conduzida pelo entrevistador com o propsito particular de obter informao relevante, no sentido de concretizar os objectivos do estudo (Mayer, 1974). Este tipo de recolha de informao, foi durante muito tempo o mais utilizado, sendo hoje em dia, bastante importante na realizao de alguns inquritos realizados pelo INE. Este mtodo de recolha de informao pode ser um bocado dispendioso, visto haver necessidade de formao prvia do entrevistador e este ter de se deslocar ao local do inquirido para obter a entrevista. Por vezes estas deslocaes tm de ser feitas vrias vezes, porque os entrevistados no se encontram em casa, ou porque naquele momento no esto disponveis para responder ao questionrio. Por vezes pode tambm ocorrer uma recusa, o que torna este mtodo mais dispendioso do que os outros dois mtodos seguintes. Segundo Aaker e Day (1990) s 30% a 40% do tempo do entrevistador gasto com a entrevista propriamente dita, pois o restante tempo ocupado em deslocaes, localizao dos inquiridos, etc. certo, que este mtodo tem vantagens em relao ao questionrio por correio, pois a entrevista pode ser conseguida em poucos minutos enquanto que o questionrio por correio pode demorar semanas. A taxa de respostas mais elevada na entrevista pessoal, devido ao facto de haver maior incentivo para a resposta por parte do entrevistador para com o entrevistado. A Entrevista Telefnica A entrevista telefnica uma alternativa entrevista pessoal. A recolha desta informao feita pelo telefone, tal como o nome diz, onde o entrevistador realiza o questionrio ao entrevistado. Este mtodo torna-se por vezes mais barato do que o anterior. Por exemplo, se tivermos em conta que no necessrio fazer vrias deslocaes aos alojamentos para conseguirmos as entrevistas sendo o tempo que se gasta a fazer uma entrevista por telefone menor do que no caso da entrevista pessoal, este mtodo muito mais vantajoso. Mas, nem tudo so vantagens, pois se o questionrio for muito longo, certo que os custos das chamadas telefnicas se aproximam muito dos custos das entrevistas pessoais, alm do entrevistado se poder fatigar mais depressa. O Questionrio por Correio A caracterstica deste mtodo que aquele que vai responder ao questionrio, aps ter lido as questes e explicaes que as acompanham, dever por si s redigir as suas respostas sem poder recorrer a um

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entrevistador (Vicente, Reis e Ferro, 1996). Este mtodo aconselhvel no caso de populaes geograficamente dispersas. Os custos de recolha de informao so reduzidos. Os questionrios so prtestados vrias vezes para se ter a certeza que as questes so entendidas e que todas as pessoas as entendem da mesma maneira. Apesar dos custos serem reduzidos, a questo do tempo nem sempre muito favorvel, portanto quando se tem de obter respostas rpidas este mtodo no aconselhvel. Alm do mais, deve-se ter em conta a taxa de no respostas que neste tipo de recolha de informao pode ser sempre mais elevado face aos anteriores. Depois de feita uma pequena introduo acerca dos tipos de amostras veremos a seguir, com mais pormenor, as vrias tcnicas amostrais. Os principais tipos de Amostragem Aleatria so: simples, sistemtica, estratificada, por Clusters, multi-etapas e multi-fases. Os principais tipos de amostragem 1. Amostragens probabilsticas As amostragens probabilsticas implicam que a seleco dos elementos que vo fazer parte da amostra seja feita aleatoriamente. Procede-se seleco de amostras probabilsticas com o objectivo de poder generalizar totalidade da populao os resultados obtidos com o estudo dos elementos constituintes da amostra e que dela fazem parte, devendo assim ser estes representativos dessa populao. Existem cinco tcnicas bsicas de amostragem probabilstica. A saber: 1.1 Amostragem aleatria simples Na amostragem aleatria simples cada elemento da populao tem uma igual probabilidade de ser seleccionado. Todos os elementos da populao fazem parte de uma lista, e o nmero de elementos que constituem a amostra so seleccionados aleatoriamente. Exemplo de uma seleco aleatria de sujeitos: 1. A populao constituda pelos 530 estudantes de um curso de cincias sociais. 2. A dimenso da amostra que se pretende seleccionar de 20%, ou seja de 106 estudantes. 3.A partir da lista de estudantes atribui-se-lhes um nmero de 000 a 530. 4. Utilizando uma tabela de nmeros aleatrios, de que se reproduz uma pequena parte, seleccionam-se os estudantes que faro parte da amostra. 99116 15696 97720 11666 71628 40501 22005 11731 10811 00408 5. Como a populao de 530 estudantes interessam apenas os 3 ltimos dgitos. 6. O primeiro estudante a ser seleccionado aquele a quem foi atribudo o nmero 116 (3 ltimos dgitos do nmero 99116). 7. O nmero seguinte constante da tabela de nmeros aleatrios o 15696. O nmero constitudo pelos trs ltimos dgitos 696. No existe nenhum estudante com esse nmero uma vez o total ser de 530. 8. Procedendo como indicado em 6 e 7 seleccionam-se em seguida os estudantes nmeros 501, 005 e 408 e assim sucessivamente at ser seleccionada a totalidade dos estudantes que fazem parte da amostra.

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1. 2. Amostragem estratificada A Amostragem estratificada o processo de seleccionar uma amostra de tal forma que subgrupos ou estratos previamente identificados na populao estejam representados na amostra na mesma proporo na qual existem na populao. Os elementos pertencentes a cada um dos estratos depois de numerados devero ser seleccionados aleatoriamente (utilizando uma tabela de nmeros aleatrios). Exemplo: A populao estudada constituda por estudantes de uma faculdade de cincias sociais pertencentes a trs diferentes cursos: Sociologia, Economia e Antropologia. Considerou-se que as variveis sexo e curso tinham uma grande importncia para o estudo e constituram-se subgrupos ou estratos em relao a essas variveis. Populao 970 Estudantes da Faculdade de Cincias Sociais C. Sociologia 170 150 320 C. Economia 220 160 380 C. Antropologia 140 130 270 Total 530 440 970

Sexo Fem. Sexo Masc. Total Amostra (20%)

194 Estudantes da Faculdade de Cincias Sociais C. Sociologia Sexo Fem. Sexo Masc. Total 34 30 64 C. Economia 44 32 76 C. Antropologia 28 26 54 Total 106 88 194

A nossa amostra portanto constituda por 34 estudantes do sexo feminino do curso de Sociologia e 30 estudantes do sexo masculino do mesmo curso; 44 estudantes do sexo feminino do curso de Economia e 32 estudantes do sexo masculino do mesmo curso; e, 28 estudantes do sexo feminino do curso de Antropologia e 26 estudantes do sexo masculino do mesmo curso. Elementos que aparecem na amostra na mesma proporo em que apareciam na populao. 1.3. Amostragem por cachos (clusters) Na Amostragem em cachos cada elemento da populao pertence a um grupo ou cacho (cluster). Os grupos ou cachos tm caractersticas semelhantes. Seleccionam-se se aleatoriamente os cachos e a nossa amostra constituda por todos os elementos que fazem parte dos cachos seleccionados. O cacho neste caso a unidade de amostragem e no cada elemento da populao. Utiliza-se esta tcnica de amostragem por exemplo quando os cachos esto geograficamente dispersos como seja o caso de escolas dispersas pelo Pas, prdios de residncia numa cidade, etc. Exemplo: Suponhamos que queremos seleccionar alunos do 7ano de escolaridade para se proceder experimentao de novos programas. Seleccionam-se aleatoriamente as escolas e todos os alunos do 7ano pertencentes s escolas seleccionadas constituem a amostra.

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1.4. Amostragem por Etapas Mltiplas A Amostragem por Etapas Mltiplas resulta da extenso do conceito de amostragem em cachos. O mais simples a amostragem em duas etapas, mas por vezes fazem-se vrias etapas de seleco. Exemplo: Selecciona-se aleatoriamente uma dada percentagem de escolas do Pas, e em cada escola seleccionada selecciona-se um determinado nmero de turmas. Os alunos dessas turmas que vo fazer parte da amostra. 1.5. Amostragem sistemtica Na Amostragem sistemtica os elementos so seleccionados a partir de uma lista dos elementos da populao. Aleatoriamente escolhe-se o primeiro elemento a ser seleccionado e seguidamente a intervalos iguais os restantes elementos. (Por exemplo o 40, o 80, o 120, o 160). O intervalo depende do nmero de elementos que contituem a populao e da dimenso da amostra pretendida. A maior diferena relativamente amostragem aleatria simples que de facto todos os elementos da populao no tm uma probabilidade independente de serem seleccionados. Uma vez escolhido o primeiro elemento a ser seleccionado os outros elementos so tambm automaticamente determinados. Apesar disso, uma amostragem sistemtica pode ser considerada aleatria se a lista da populao for ordenada aleatoriamente. Quando os elementos da lista no tiverem sido ordenados aleatoriamente a amostra no representa to bem a populao comparativamente s outras tcnicas que indicmos anteriormente. Quando no se dispe de uma lista nas condies indicadas, existe a possibilidade que certos subgrupos da populao possam ser sistematicamente excludos da amostra. A vantagem deste tipo de amostragem a facilidade como so seleccionados os elementos da amostra quando se est a realizar trabalho de campo. 3. Amostras no probabilsticas As amostras no probabilsticas so utilizadas em muitos projectos de investigao. Amostras no probabilsticas podem ser seleccionadas tendo como base critrios sistematicamente utilizados com a finalidade de determinar as unidades da populao que fazem parte da amostra. Muitas vezes so utilizadas para fazer estudos em profundidade. A dimenso e os elementos escolhidos dependem dos objectivos do estudo. Sete das tcnicas de amostragem no probabilstica mais frequentemente usadas so as seguintes: 3.1. Amostragem de convenincia

Na amostragem de convenincia utiliza-se um grupo de indivduos que esteja disponvel ou um grupo de voluntrios. Poder tratar-se de um estudo exploratrio cujos resultados obviamente no podem ser generalizados populao qual pertence o grupo de convenincia. 3.2. Amostragem de casos muito semelhantes/ou muito diferentes Nestes estudos os elementos seleccionados so normalmente em pequeno nmero e portanto os recursos necessrios para fazer o estudo so limitados, mas evidente que se pe o problema de generalizar os resultados para alm dos casos estudados. Exemplo: Seleccionar estudantes de Sociologia que obtm boas classificaes/ou seleccionar simultaneamente estudantes que obtm boas classificaes e estudantes que obtm ms classificaes. 3.3. Amostragem de casos extremos Esta tcnica de amostragem consiste em seleccionar elementos onde o fenmeno se manifesta em grau muito elevado. A lgica que est por detrs deste tipo de amostragem a de que os resultados obtidos ao estudar

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casos extremos podem contribuir para explicar casos mais tpicos. Exemplo: Seleccionar os estudantes que obtm as melhores classificaes, ou os que obtm as piores classificaes. 3.4. Amostragem de casos tpicos Este tipo o melhor exemplo da tcnica de amostragem utilizada quando existem grandes limitaes em tempo e recursos, que tornam impossvel efectuar uma amostragem probabilstica. O investigador selecciona alguns casos considerados como normais ou usuais. Para aumentar a credibilidade do estudo, casos que so considerados nicos ou especiais no so obviamente, incluidos na amostra. Esta tcnica de amostragem implica que o investigador conhea bem a populao em estudo para poder seleccionar casos que considera como tpicos. A suspeita de que um ou mais casos no so tpicos vai afectar a credibilidade do estudo. 3.5. Amostragem em bola de neve Este tipo de amostragem implica que a partir de elementos da populao j conhecidos se identifiquem outros elementos da populao. Os primeiros indicam os seguintes e assim sucessivamente. A amostra cresce como uma bola de neve. Frequentemente este tipo de amostragem utilizado quando impossvel obter uma lista dos elementos da populao. Exemplo: Identificar os "sem abrigo". Uns vo indicando outros. 3.6. Amostragem por quotas Com esta tcnica pretende-se atingir um objectivo idntico ao da amostragem aleatria: constituir uma amostra que seja um modelo reduzido da populao. Comea-se por estabelecer-se um inventrio das propores estatsticas correspondentes combinao de diferentes modalidades dos caracteres retidos. Deste modo a populao dividida em sub-grupos, por exemplo homens ou mulheres, escales de idade, grupos tnicos de pertena, etc. Seguidamente, tendo como base as percentagens de indivduos necessrios para a amostra final, so indicados a entrevistadores uma quota ou seja, o nmero de sujeitos pertencentes a cada sub-grupo que tm que seleccionar e entrevistar. Deste modo a amostra apresentar a mesma estrutura que a populao. Exemplo: Se numa localidade tivermos 20000 activos, dos quais 2000 pertencem ao sector primrio (dos quais 600 mulheres e 1400 homens), 8000 ao sector secundrio (dos quais 3000 mulheres e 5000 homens) e 10000 ao sector tercirio (dos quais 6000 mulheres e 4000 homens). Uma amostra de 1000 sujeitos dever incluir: 600 1000 / 20000 = 30 mulheres pertencentes ao sector primrio, 1400 1000 / 20 000 = 70 homens pertencentes ao sector primrio, 3000 1000 / 20 000 = 150 mulheres pertencentes ao sector secundrio, 5000 1000 / 20 000 = 250 homens pertencentes ao sector secundrio, 6000 1000 / 20 000 = 300 mulheres pertencentes ao sector tercirio, 4000 1000 / 20 000 = 200 homens pertencentes ao sector tercirio. 30 + 70 + 150 + 250 + 300 + 200 = 1000 Este tipo de amostragem apresenta similariedades com amostragens probabilsticas, especialmente com a amostragem estratificada, mas difere dele num importante aspecto: os sujeitos so escolhidos por entrevista. Aos entrevistadores so dadas instrues especficas sobre os sujeitos que devero seleccionar, mas esta seleco pode ocasionar enviesamentos na amostra, pois muitas vezes os entrevistadores tm tendncia a entrevistar pessoas pertencentes sua rede de relaes ou ento indivduos detentores de determinadas caractersticas que os tornam mais facilmente contactveis. Por outro lado, o problema da no resposta no existe, porque quando um sujeito se recusa a responder ou o entrevistador no encontra ningum em casa procura outro sujeito com as mesmas caractersticas. O entrevistador obtem sempre o nmero de sujeitos inicialmente previstos, mas o nmero de sujeitos difceis de contactar pode ficar mal representado. possvel impr aos entrevistadores um itinerrio, dependendo neste

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caso a representatividade da amostra da pessoa que estabelece o plano de sondagem. Se o processo de seleco for mal definido no h nenhum mtodo estatstico vlido para estimar o erro de amostragem. A amostragem por quotas no to dispendiosa como a amostragem aleatria estratificada, mas apresenta grandes inconvenientes relativamente a esta, nomeadamente no que diz respeito representatividade da amostra e consequentemente possibilidade de generalizao dos resultados. 3.7. Utilidade das amostragens no probabilsticas uma tcnica de amostragem til em determinadas circunstncias, algumas das quais j indicadas anteriormente: Quando se estudam determinadas populaes cuja listagem impossvel de obter. Exemplos: os "sem abrigo", "crianas da rua", toxicodependentes. A amostragem em bola de neve a nica tcnica possvel. Quando o investigador est interessado em estudar apenas determinados elementos pertencentes populao. Numa fase exploratria do processo de investigao quando o investigador quer averiguar se um problema relevante ou no. necessrio no esquecer que devido ao carcter subjectivo que envolve o processo de seleco, este no oferece regras ou mtodos para inferir resultados da amostra para a populao, pe-se portanto o problema da validade externa (relativo generalizao dos resultados obtidos). No possvel saber-se se os resultados obtidos seriam os mesmos se os elementos da populao seleccionados fossem outros. Quando utiliza uma amostragem no probabilstica o investigador dever explicar pormenorizadamente como procedeu seleco dos elementos da populao, que devero tambm ser descritos com rigor. Mini glossrio POPULAO ou UNIVERSO - Conjunto de elementos abrangidos por uma mesma definio. Grandeza ou dimenso da populao - Nmero de elementos que a formam. AMOSTRA - Parte ou subconjunto de uma populao. AMOSTRA REPRESENTATIVA - Parte ou subconjunto de uma populao que tem as mesmas caractersticas que a populao. Uma amostra representativa de uma populao reproduz correctamente em miniatura essa populao. Grandeza ou dimenso da amostra - Nmero de elementos que a formam. 3 A construo de um questionrio (complemento aos captulos 3, 4, 6, 7 e 8 do livro adoptado) Embora nem todos os projectos de pesquisa utilizem o questionrio como instrumento de recolha e avaliao de dados, este muito importante na pesquisa cientfica, especialmente nas cincias da educao. Construir questionrios no , contudo, uma tarefa fcil, mas aplicar algum tempo e esforo na sua construo pode ser um factor favorvel no crescimento de qualquer investigador. No existe um mtodo-padro para se formular um questionrio. Porm, existem algumas recomendaes, bem como factores a ter em conta relativamente a essa importante tarefa num processo de pesquisa. O objectivo , assim, discutir a construo de um questionrio apresentando-se sugestes de tarefas e cuidados a serem tomados, dentro de uma sequncia lgica, de modo a que este instrumento tenha eficcia para a finalidade a que se destina. Numa primeira parte define-se questionrio e discute-se alguns cuidados a ter na construo das questes que o constituem. Dessa forma procura-se mostrar a importncia de serem cumpridos os diversos cuidados necessrios para que o questionrio seja bem construdo e bem aplicado e assim ser reduzido o nvel de erro. Numa segunda parte, apresenta-se os tipos de perguntas, suas vantagens e desvantagens, bem como os vrios tipos de questionrios e escalas para tratamento dos dados obtidos. Numa terceira etapa discute-se alguns cuidados a ter na apresentao do questionrio, seguido de algumas vantagens e desvantagens que este instrumento de investigao apresenta.

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O que um inqurito? Se formos a um dicionrio procurar saber o que significa a palavra inqurito, encontramo-la definida como um conjunto de actos e diligncias destinados a apurar alguma coisa, aparecendo como seus sinnimos inquirio, interrogatrio, sindicncia; e registando como exemplo de situaes possveis, associadas sua realizao o inqurito administrativo, o judicial, o policial e o cientfico. Da etimologia da palavra extrai-se a ideia de que um processo em que se tenta descobrir alguma coisa de forma sistemtica. "Em cincias sociais, o inqurito uma pesquisa sistemtica e o mais rigorosa possvel de dados sociais significativos, a partir de hipteses j formuladas, de modo a poder fornecer uma explicao." [Alain Birou Dicionrio de Cincias Sociais] O inqurito por questionrio uma tcnica de observao no participante que se apoia numa sequncia de perguntas ou interrogaes escritas que se dirigem a um conjunto de indivduos (inquiridos), que podem envolver as suas opinies, as suas representaes, as suas crenas ou vrias informaes factuais sobre eles prprios ou o seu meio. O inqurito por questionrio distingue-se da entrevista, porque a aplicao do inqurito exclui em alguns casos a relao de comunicao oral entre inquiridor e inquirido (entrevistado), caracterstica da situao de entrevista - o que se passa nos questionrios de administrao directa (ou auto-administrados), em que o prprio inquirido regista as suas respostas. S nos inquritos de administrao indirecta, nos quais o inquiridor quem formula as perguntas e regista as respostas do inquirido, se estar numa situao semelhante da entrevista. Esta tcnica adequada ao estudo extensivo de grandes conjuntos de indivduos (normalmente atravs da medida de certos atributos de uma sua amostra representativa), mas tem importantes limitaes quanto ao grau de profundidade da informao recolhida. Um questionrio um instrumento de investigao que visa recolher informaes baseando-se, geralmente, na inquisio de um grupo representativo da populao em estudo. Para tal, coloca-se uma srie de questes que abrangem um tema de interesse para os investigadores, no havendo interaco directa entre estes e os inquiridos. O Inqurito um dos instrumentos mais utilizados no domnio da investigao aplicada, nomeadamente na rea social. Desde os estudos de mercado s pesquisas puramente tericas, passando pelas sondagens de opinio, poucos so os estudos que no se apoiam, parcial ou totalmente, em informaes recolhidas com base em inquritos. O que um Inqurito Estatstico? a necessidade de conhecer uma populao no que se refere a uma ou vrias caractersticas, que nos leva a recorrer realizao de inquritos. A alternativa da observao directa, mesmo que vivel, em certos casos, levaria demasiado tempo, ou seria impossvel quando os fenmenos em estudo se reportam ao passado (Ghiglione e Matalon, 1992). O recurso ao inqurito necessrio de cada vez que temos necessidade de informao sobre uma grande variedade de comportamentos de um mesmo indivduo, ou quanto pretendemos conhecer o mesmo tipo de varivel para muitos indivduos. Exemplo de um dos Inquritos realizado pelo INE: O Inqurito aos Oramentos Familiares, realizado pelo INE, tem como objectivo conhecer a origem e o valor dos rendimentos dos agregados e a forma como se transformam em despesas de consumo. atravs deste inqurito que se pode actualizar o ndice de Preos no Consumidor, desenvolver e construir um sistema de Indicadores de Pobreza, a anlise da concentrao da despesa e do rendimento dos agregados familiares, bem como a realizao de outros estudos scio-econmicos. O inqurito em Cincias Sociais Em Cincias Sociais esta expresso usada de uma forma precisa para designar processos de recolha

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sistematizada, no terreno, de dados susceptveis de poder ser comparados. H mesmo autores que quando se referem a inquritos se circunscrevem aos que permitem uma posterior anlise quantitativa identificando-os erradamente com o conceito de inqurito por questionrio. Esta perspectiva quantitativista , quanto a ns, profundamente redutora, uma vez que o que define um inqurito no a possibilidade de quantificar a informao obtida mas a recolha sistemtica de dados para responder a um determinado problema. Alis, conforme o tm demonstrado diversos autores, o critrio da quantificao no diferenciador porque que cada vez mais vivel quantificar informao aparentemente difcil de der submetida a tal tratamento. Um delrio de um doente mental, por exemplo, pode ser quantificado desde que haja por parte do investigador o cuidado prvio de conceber um modelo de anlise com variveis e indicadores significativos, registar rigorosamente as observaes efectuadas (em vdeo, por exemplo) e proceder s necessrias opera