40-historias-gloriosas JEC

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     historias GLORIOSAS

    Elton Carvalho Lucas Balduino

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    PrefácioEscutar e ler histórias. Quem não gosta? Que lembranças mais ternas e remotas isto

    desperta em nós? Da atenção emprestada a uma contação cheia de lances e expectati-vas à experiência da própria leitura, fosse num gibi, num jornal ou no livro de históriados primeiros bancos escolares. Quem já não foi envolvido por uma onda com estasemoções de ouvir ou descobrir histórias?

    O JEC é uma instituição que dispensa apresentações. Tal reconhecimento, porém,não representa que não seja fonte de revelações passados 40 anos desde a sua fun-dação. Por mais popular que seja, nem tudo está contado dentro do contexto da in-

    tensidade que envolveu o clube do coração do joinvilense nestes 40 anos. Históriasvariadas, como só o futebol e seus bastidores podem produzir.

    Nunca se contarão todas as histórias do futebol, casos e ocasos, engraçados ou dra-máticos, em que a estratégia pode até se fundir a algum ardil ou puxada de tapete.Pelas paixões que envolvem o esporte, é bom que seja levantada a bandeira das re-velações destes bastidores de vez em quando, como fazem agora os jornalistas LucasBalduino e Elton Carvalho ao escolherem este desafio para celebrar a passagem do 40ºaniversário do Tricolor joinvilense.

    Num cenário vasto de personagens e ambientes, o JEC é mais um terreno fértil à bro-tação de histórias que extrapolam o simples jogo de futebol. Que se formaram na inci-piência das conversas que davam forma à fusão, na histórica campanha de 1976 que fez

    o clube campeão já em seu primeiro ano, nas inesquecíveis arquibancadas metálicasdo Ernestão, nas recepções à entrada da cidade nos títulos, nas crises, nas mudanças,sejam elas de endereço ou de patamar. O JEC é a usina joinvilense de paixões e também,como se revelará aqui, de boas tiradas, vibrantes como um gol na Arena.

    Comemoremos, saboreando histórias, a passagem destas quatro décadas do Joinvil-le Esporte Clube. Fartemo-nos neste bufê de “causos”, bastidores e registros históricosque ajudam a explicar como o JEC ocupou rapidamente, nestes intensos 40 anos, lugarno cotidiano joinvilense. E muito mais, certamente, ainda será escrito. Pelo time, nosinsólitos e incertos caminhos da bola, ou por quem se aventure a prender nossa aten-ção contando histórias.

    Boa leitura.

     EDITOR E COLUNISTA DE “A NOTÍCIA” 

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    O MOTORISTA PÉ-FRIO 4

    O FOGUETÓRIO 6

    O PATROCINADOR FORTE DO JEC 8

    O PRESUNTO DIGESTIVO QUE FALTOUNO PRIMEIRO JOGO DA HISTÓRIA 10

    “ SE VOCÊ FICA, A GENTE TE REEMBOLSA” 12

    O HERÓI QUE NÃO SAIU NO JORNAL 15

    O VINHO DA CONFUSÃO 16

    ADEMIR PADILHA, O JOGADOR LAMEIRO 18

    O FUTEBOL IMITA A ARTE 20

    CULPA DE UM PENTACAMPEÃO 22NÃO SE CUTUCA O COELHO COM VARA CURTA 24

    COELHO TRAVESSO 26

    A URUCA DO SAL GROSSO 28

    O AMULETO DE 2014 30

    NO SINGULAR OU NO PLURAL? 33

    O DESAPARECIMENTO DA TAÇA 34

    A PERUCA FOI A SALVAÇÃO 38A DESCOBERTA 40

    GRITO POR JUSTIÇA 42

    Índice

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    O motorista

    pé-frio

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    Em 40 anos de existência, oJoinville já fez tantas partidas,marcou tantos gols, venceu eperdeu tantos jogos e escreveutantas histórias que, em algunscasos, é difícil dizer com preci-são o que aconteceu e quandoisso, de fato, aconteceu. A tarefafica ainda mais difícil quandoum fato tem como personagemcentral o técnico Maurílio Joséde Souza – o Velha – lendáriopor seus causos.

    Velha teve três passagens pelocomando do Tricolor entre 1977e 1983 (ano em que foi campeãoCatarinense pelo clube). Emuma delas, protagonizou a se-guinte história:

    À época, sem ônibus próprio,o Joinville precisava contrataruma empresa de viagens paralevar a delegação até as partidasfora de casa. Por questões deescala dos profissionais dessasagências, o motorista nem sem-pre era o mesmo.

    Supersticioso como só ele, Ve-lha percebeu que sempre que de-terminado motorista era o res-ponsável por conduzir o Tricoloraté o local do jogo, a equipe nun-

    ca vencia. E não foram poucos os jogos que o JEC fez para que otreinador chegasse à conclusão.

    – E era verdade. Sempre que agente era levado por aquele mo-torista, que não lembro o nome,a gente só perdia ou empatava– recorda Nardela, testemunhaocular do fato.

    A solução encontrada paraafastar a “uruca” do motorista foia menos ortodoxa possível. Velhachamou um massagista e pediupara que ele lhe entregasse umagarrafa de álcool. Com a garrafaem mãos, o treinador encharcouparte do chão com o líquido e pe-diu para que chamassem o piloto.

    Quando ele entrou no vestiá-rio e foi posicionado acima dapoça de álcool, Velha pronta-mente riscou um palito de fós-foro e atirou na direção do chão,fazendo levantar fogo sobre opé do pobre funcionário da em-presa de ônibus.

    – Pronto. Motorista que levameu time tem que ter o pé quen-te. Agora, está tudo bem. Vamos

     jogar.Coincidência ou não, o JEC ven-

    ceu aquela partida.

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    O foguetorioDormir às vésperas de uma de-

    cisão de campeonato é algo quepoucos atletas conseguem fazer.A ansiedade toma conta dos mais

     jovens e, vez ou outra, atinge até osatletas experientes. Nem os arti-lheiros conseguem escapar da afli-ção. Soa até irônico, pois são eles os

     jogadores mais frios quando é pre-ciso colocar a bola na rede.

    Na madrugada de 13 de julho,o goleador do Campeonato Cata-

    rinense de 1996 sabia que dormirseria uma tarefa quase impos-sível. Tudo porque, aos 22 anos,Marcos Paulo já carregava statusde ídolo do JEC.

    Semanas antes, quase marcouseu nome na história do Joinvil-le. O JEC recebeu a Chapecoensena última partida do returno doquadrangular. Como havia ven-cido o turno, o Tricolor precisavaganhar por dois gols de diferen-

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    ça para conquistar também o re-turno e levar o título estadual deforma antecipada.

    O primeiro objetivo foi alcan-çado: aos 53 minutos do segundotempo, Jairo Santos marcou e oJoinville vencia por 3 a 2. No en-tanto, faltava um gol. E ele veio. Nominuto seguinte, após uma gran-de confusão no escanteio, MarcosPaulo ficou com a sobra. A bola en-

    trou e o Ernestão explodiu.A torcida invadiu o campo, co-memorou o gol, Marcos Paulo feza festa, mas o árbitro João PauloAraújo, que havia validado o gol,voltou atrás. Na cobrança do escan-teio de Jairo Santos, a bola saiu. Masisso só foi divulgado muito tempodepois, quando o árbitro já estavano vestiário.

    A frustração no dia 29 de junho

    se transformou em motivação parao dia 13 de julho. E quando MarcosPaulo finalmente controlou a an-siedade para dormir, uma bateriade foguetes o acordou. O barulhodespertou também o companheirode quarto, Regilson.

    – Às duas horas da manhã, eulevantei com o foguetório. Comoeu dormia perto da janela, escuteimuito barulho. E o foguetório não

    acabava. Eu e o Regilson fomospara o corredor do hotel para ten-tar descansar. Ficamos sentados,esperando, com medo, mas o fo-guetório só foi parar depois dastrês horas da manhã – recorda.

    O susto mexeu com os jogadoresdo JEC no Hotel Bertaso, no Cen-

    tro de Chapecó. A maioria passoua madrugada em claro. MarcosPaulo dormiu pouco, mas acor-dou com a mesma disposição. Àsnove da manhã, hora do café, re-cebeu a notícia que não imagina-va: o Joinville não jogaria a finalno Estádio Índio Condá.

    – Nós não participamos da deci-são, foi algo que surpreendeu a to-dos. Muita gente estava cansada, as

    condições físicas não eram as me-lhores, mas nós queríamos jogar.Mesmo em vantagem – o Join-

    ville venceu o jogo de ida por 2 a 0e precisava de um empate –, o pre-sidente Vilson Florêncio se man-teve irredutível. O JEC não jogou adecisão alegando cansaço. O casoparou na Justiça e teve soluçãoapenas seis meses depois. Umanova final foi marcada para 18 de

    dezembro. Na ocasião, o Tricolorperdeu por 2 a 0 e acabou com ovice-campeonato.

    O histórico foguetório de Cha-pecó mudou os rumos da final,mas altera a convicção de Mar-cos Paulo que, 20 anos depois docaso, garante:

    – A gente não foi campeão dedireito, mas somos os verdadeirosvitoriosos de 1996. Apesar de a

    gente estar motivado, não dá paradizer que a adrenalina em dezem-bro era a mesma de julho. Em de-zembro, nós já não contávamoscom alguns jogadores que foramvendidos. Em julho, estávamoscompletos. Nosso time era melhore faríamos história naquele dia.

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    O patrocinador

    forte do JECA fundação do Joinville EsporteClube, em 1976, teve como gran-des parceiros João Hansen Júniore Carlos Roberto Hansen, o CauHansen. Pai e filho têm até hojetítulos importantes na história doJEC. João Hansen Júnior é presi-

    dente de honra do Tricolor. CauHansen recebeu a homenagem depatrono do Joinville. Cau, inclusive,foi vice-presidente do JEC durantealgumas gestões do ex-presidenteWaldomiro Schützler.

    Por meio de João e Cau, duranteanos, o Joinville estampou em suacamisa o patrocínio da Tigre, em-presa da Cia. Hansen Industrial,hoje Tigre Participações S/A. Nos

    bastidores, a Tigre ajudava na con-tratação de jogadores para o JEC.O investimento no patrocínio, noentanto, não chegava a ser o motordas finanças tricolores.

    De 1978 a 1990, quem sustentou

    a formação dos grandes times foio JEC Ouro, título de capitalizaçãoque rendia prêmios aos seus com-pradores. Do JEC Ouro surgiu tam-bém o mascote do JEC, o Coelho,porque era o símbolo do carnê –falava-se que o pé do Coelho trazia

    sorte aos apostadores.O JEC Ouro tinha autorização doMinistério da Fazenda para fun-cionar. Waldomiro Falcão, voluntá-rio do JEC e funcionário da ReceitaFederal, foi quem conseguiu bolara criação do título. O presidente,Waldomiro Schützler, teve outroplano tão bom quanto a obra deFalcão: distribuir o carnê para osfuncionários das empresas parcei-

    ras do JEC.Deste modo, o JEC Ouro chegoua ter 30 mil compradores, que nãonecessariamente eram torcedoresdo Joinville, mas pessoas interes-sadas em concorrer aos prêmios.

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    Havia até compradores de outrasregiões do Norte do Estado. O su-cesso do carnê patrocinava o in-vestimento do Joinville no futebol.

    Mas isso mudou em 1990. A par-tir daí, a fonte de receitas do Join-ville secou. O próprio Waldomiro

    Schützler reconheceu em entrevis-ta ao site Nasceu Campeão que oclube dependia mais do título decapitalização do que da Tigre.

    – Ela (a Tigre) dava a sua contri-buição mensal ao JEC, como outrasempresas também davam, masnunca pagou para estampar a suamarca nas camisas. O Cau, que erao vice-presidente na época, me dis-se que se tiver alguma outra em-

    presa que queira patrocinar o JEC,abriria espaço na camisa para au-mentar a receita do JEC.

    Nos anos seguintes, o Joinvilleaté conseguiu levantar recursoscom outra promoção do gênero,

    o Bingão do JEC. E, a exemplo doque aconteceu com o JEC Ouro, ou-tra medida do governo federal ex-tinguiu a fonte de receita.

    Hoje, o Joinville descobriu outramaneira de ter receita: os sócios.Eles representam a maior fonte de

    receita do clube. Agora, o desafio étornar sócias as pessoas que nãosão torcedores do JEC, assim comoeram os compradores do JEC Ouro.Por este motivo, o departamentode marketing investe em parceriaspara conseguir descontos exclu-sivos para este torcedores em su-permercados, TVs por assinatura,lojas de esportes e outros.

    Recentemente, até houve (sem

    sucesso) um plano de resgataro JEC Ouro. O Joinville planeja-va uma parceria com outro títulode capitalização para fomentar aspromoções. A ideia, no entanto,não saiu do papel.

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    O presunto digestivoque faltou no primeiro

    jogo da historiaTodo torcedor do Joinville que co-

    nhece minimamente a história doclube sabe que a primeira partida

    oficial do escrete tricolor foi em umamistoso contra o Vasco da Gama,que terminou empatado por 1 a 1.Aqueles que são um pouco mais afi-cionados pelo passado são capazesde escalar o primeiro time a entrarem campo. Mas o que poucos têmconhecimento é que um atleta, quecertamente seria titular daquelaequipe, sequer foi relacionado parao jogo e ficou fora da primeira foto

    oficial: o ponta-direita Ratinho.Aos 34 anos, o ponta, que antesbrilhara no São Paulo e, principal-mente, na Portuguesa, residia em

    Joinville em 1976. É evidente, en-tão, se imaginar que um jogadornascido em São Francisco do Sul,

    identificado com Joinville e comuma consolidada carreira no fute-bol brasileiro teria um lugar entreos 11 iniciais que seriam escaladospor João Lima.

    Teria, não fosse uma animosida-de com o diretor de futebol Clau-dio Costa.

    Ratinho foi procurado para atuarpelo Joinville naquele jogo. Mas, porum “desencontro”, acabou faltando

    a dois treinamentos da equipe queestava nascendo e não foi perdoa-do pelo então diretor de futebol. Aochegar ao estádio, como torcedor,

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    ouviu o cartola dizer pelo rádio queele havia faltado às atividades e que,por isso, foi descartado. E que não

    seria Ratinho o destaque daquelapartida, e, sim, o Vasco da Gama.Jogador que chegou a fazer parte

    da relação de 40 atletas pré-con-vocados para a Copa do Mundo de1970,  o ponta-direita sentiu a suahonra ofendida e deu a sua versãodos fatos. Disse que faltou a um co-letivo porque sentia dores na perna,mas que, mesmo assim, treinava fi-sicamente todos os dias e não se ne-

    garia a jogar contra o Vasco.Talvez nenhuma definição para aausência de Ratinho naquele jogoseja tão precisa quanto a do colu-

    nista Joel Nascimento – o Maceió– para mostrar a importância que oatleta teria dentro das quatro linhas:

    – Rato seria uma excepcional atra-ção, um presunto tão digestivo comoos grandes jogadores que o Vascotrouxe a Joinville – escreveu, à época,em sua coluna no jornal “A Notícia”.

    Pouco tempo depois, a históriafoi colocada em panos quentes.Quando Ratinho foi procuradopelo Inter de Lages para fazer par-te da equipe no Estadual de 1976, oJoinville se atravessou na negocia-

    ção e contratou o jogador, que aju-dou o time a chegar ao primeirotítulo do Catarinense logo no anode sua fundação.

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    O maior talento revelado peloJoinville nos últimos anos só apa-receu para o futebol porque acei-

    tou uma proposta de risco oferta-da pelo clube. Mas para entenderessa história, é preciso voltar umpouco mais no tempo e viajar deJoinville para Barra do Piraí, noRio de Janeiro. Foi no interior doRio que nasceu Ramires, atual

     jogador do Chelsea. Antes de de-sembarcar na Inglaterra, o joga-dor teve passagens por Benfica,Cruzeiro e JEC. No entanto, até

    chegar ao Tricolor, o volante tevede lutar bastante.Ramires morava numa casa com

    12 pessoas. O espaço tinha apenasdois quartos. Num deles, dividiaa cama de casal com o irmão ea irmã. No verão, o aperto ficavapior em razão do calor. O quartosequer tinha ventilador. O jeito era

    passar boa parte do tempo fora decasa – o problema é que, na volta,nem sempre havia comida.

    – Por isso, para mim, até hoje,feijão e arroz são suficientes – dis-se em entrevista ao repórter Thia-go Asmar, da TV Globo, em 2013.

    As dificuldades na casa eramtão grandes que o irmão Mai-con comprava roupas para usopróprio e as compartilhava comRamires. Normalmente, as peçasficavam ajustadas ao corpo deRamires e apertadas para Mai-

    con. Era a melhor ideia para quea dupla pudesse dividir as roupas.O cenário obrigava Ramires

    a buscar um emprego para aju-dar nas despesas de casa. Com 15anos, trabalhou como servente depedreiro. Sua função era carregarpedras, areia, tijolos e fazer pintu-ras, quando necessário. Durante

    reembolsa

    a gente teSe voce ficar

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    um ano e meio, Ramires ocupouboa parte do tempo nesta função.O carrinho de mão só era tro-

    cado pelas chuteiras no fim dotrabalho. Ramires corria para ocampo do América de Barra doPiraí (RJ) e lá esquecia o cansaçoporque fazia o que gostava. Aos17 anos, mostrou qualidade, masmantinha os pés no chão em ra-zão da impossibilidade de parti-

    cipar das peneiras dos grandesclubes por causa da distância eda falta de condições financeiraspara se deslocar.

    – Eu já tinha desistido de jogarfutebol. Só que jogar depois dotrabalho era o que eu mais gosta-va, por isso, continuava treinando.

    Foi aí que Ramires e Joinville secruzaram. A base do Tricolor dis-putou a Taça Rio, no Rio de Janei-

    ro. Num dos jogos, o JEC enfrentouo América de Barra do Piraí. OJoinville venceu o jogo por 2 a 1, eo destaque do duelo foi Ramires,autor do gol do América.

    – Eles gostaram de mim, falaramcom a minha família e disseramque queriam que eu fosse para lá(Joinville). Mas me disseram o se-guinte: ‘Você compra a passagem,guarda um dinheiro para a volta e

    vai para lá. Se você ficar, a gente tereembolsa. Se não ficar, volta parao Rio’ – recorda o jogador.

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    Ramires só conseguiu o dinheiropara pagar a passagem de quase R$200 para Joinville graças a uma “va-quinha” entre os familiares. Todosajudaram, apostando no sucesso do

     jovem. Com o dinheiro na mão, eleseguiu viagem, desembarcou na ro-doviária de Joinville, chegou a termedo – na rodoviária, foram duas

    horas de espera pelos dirigentes tri-colores -, mas foi encontrado e, nosdias seguintes, começou os treinos.

    Estar no Norte de Santa Catarinaera a realização de um sonho paraRamires. No JEC, disse ter encontradoo clube ideal para jogar profissional-mente em razão da estrutura ofere-cida. A empolgação não o livrou dascobranças no começo da carreira.

    Ramires atuou como lateral-direito

    no JEC e teve dificuldades em 2005.O destaque só surgiu quando ele foideslocado ao meio-campo, ondeatuou como volante. Em 2006, na Sé-rie C, chamou a atenção justamente

    como homem do meio-campo.No ano seguinte, já estava na mira

    do Cruzeiro. Não demorou muitopara ele ser emprestado, com valorde direitos econômicos fixados em300 mil dólares. O Cruzeiro voltou aagir rápido e aproveitou a barganhapara comprar 70% dos direitos eco-nômicos por este valor. Os outros

    30% ficaram com o JEC, que acaboureembolsado quando o Benfica ad-quiriu Ramires. Por ter estes 30%, oTricolor recebeu 1,5 milhão de euros– R$ 4,2 milhões à época.

    O negócio de Ramires foi o maiordos 40 anos do Joinville. Parece atéum pouco de sorte diante de tudo oque aconteceu. Hoje, o volante viroumotivo de orgulho para os joinvi-lenses. E não é para menos. Rami-

    res casou na cidade, participou dedois amistosos com a camisa doJEC, mantém contato com pessoasde Joinville e garante: ainda voltará avestir a camisa tricolor.

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    O heroi que naosaiu no jornal

    Oito de maio de 1999. Estádio Or-lando Scarpelli, Florianópolis. Trezeminutos do segundo tempo da pror-rogação. Naquele momento, surgiaum herói. Renato Abreu, o camisa 17do Joinville, saiu do banco de reservase, quando teve a bola nos pés, decidiuarriscar a uma distância de quase 40metros. A bola saiu com muita forçade seu pé esquerdo e acertou o ângulodo goleiro Leandro.

    O barulho da rede estufada veioacompanhado por um grande silên-cio, provocado pelo próprio Renato,que, com o dedo, pedia para a torcidado Figueirense se calar. Quem gritavaeram os torcedores do JEC e os atletasda equipe. O golaço dava o título doturno ao Tricolor em plena Capital.

    Nos segundos subsequentes aogol, Renato comemorou e viu o futu-ro: sua foto estampada em jornais; amanchete “Joinville campeão”; o diade herói. Tudo estava na cabeça. Ummomento histórico para quem tinhaapenas 20 anos e morava debaixo dasarquibancadas do Estádio Ernestão.

    – Comecei no banco, mas estavalouco para jogar aquela final. Quandofiz o gol, tinha a certeza de que seriao herói do título e entrei no jogo pen-

    sando em ser mesmo o cara decisivodo jogo – relembra o meia.

    No entanto, a página dos jornais dodia seguinte teve de ser reescrita umminuto e meio depois. Genilson se

     jogou, fora da área. Gilson AparícioPauletti correu para a marca da cal eapontou o pênalti de Panambi sobre oatacante do Figueirense.

    Pronto. A imaginação estava des-feita. O explosivo Renato foi o pri-meiro a partir para cima do árbitro,inconformado com a decisão queroubava seu sonho.

    – Eu fiquei revoltado, sem noção,perdi a cabeça. Ele tentava, mas nãoconseguia dar a justificativa para termarcado aquele pênalti. Todo mundoentendeu que fomos roubados parater a final entre Figueirense e Avaí.

    Ainda inconformado, Renatoassistiu ao gol de Genilson. Nosvestiários, só o chapéu ajudava aidentificá-lo. O rosto, ele não con-seguiu erguer de tanta tristeza.Foi assim durante as duas horasde trajeto de Florianópolis a Join-ville. Naquele dia, o jovem Rena-to aprendeu que no futebol nemsempre os sonhos viram realidadenas páginas dos jornais.

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    Quem achou impressionantea vitória da Alemanha sobre oBrasil por 7 a 1 na Copa do Mun-do de 2014 talvez ficaria aindamais impressionado se voltasseno tempo, mais precisamenteao ano de 1976. O jogo não tinhatamanha relevância, mas o pla-car que o Joinville aplicou emcima do Ypiranga, de Tangará,foi ainda superior: 11 a 1. Maissurpreendente do que o placarfoi o que aconteceu depois do

     jogo: uma confusão envolvendoos jogadores do Tricolor na via-gem de volta.

    O município de Tangará, cida-de do Meio-oeste catarinense,é conhecido pelos vinhos queproduz. À época, os jogadoresdo JEC aproveitaram para com-prar alguns garrafões que tra-riam a Joinville.

    Mas, com a euforia pelo resul-tado, e pelo fato de ser aniver-sário do ponta-direita Ratinho,decidiu-se comemorar ali mes-mo, dentro do ônibus. Alguns

     jogadores pediram permissãoao capitão Fontan para abrir ovinho. Evidentemente, ele nãoviu problemas.

    Só que não foi dessa formaque o supervisor João Lima viua situação. Para ele, aquilo erainconcebível para uma equipeprofissional. Quando sentiu ocheiro da bebida, levantou-se doassento onde estava e deu uma

    ríspida bronca no grupo. O queele não esperava era a reaçãode Fontan, que bateu de frente edefendeu os companheiros.

    Saiu tanta faísca do emba-te que alguns jogadores, comoPiava, por pouco não foram àsvias de fato com João Lima.

    Na volta do grupo para Join-ville, o presidente WaldomiroSchützler convocou uma reu-nião com o grupo antes do trei-namento. Ele apareceu ao ladode João Lima – que havia feitoo relatório da confusão e apre-sentado a sua versão dos fatos –e foi cobrar satisfações. Quandoo dirigente indagou quem haviabebido, Fontan foi o primeiro aerguer a mão. O gesto foi repeti-do por todos os outros jogado-res da equipe.

    – Então está todo mundomultado em 30% do salário –sentenciou o presidente.

    O capitão Fontan achou injus-ta a punição e não se conteve.

    – Mas o João Lima não po-deria ter fala-do da gente daforma que fa-lou, sem respei-to – retrucou.

    Salomônico,Schützler com-pletou:

    – Pois bem. Tam-bém está multadoem 30%.

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    o vinhoda confusão

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    Ademir Padilhao jogador lameiro

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    Os torcedores mais jovens doJoinville só o conhecem pelo nome.Mas, entre os mais veteranos fre-quentadores das arquibancadas,existe uma certa unanimidade:Ademir Padilha foi um dos maio-res, se não o maior, ponta-esquerdaque já vestiu a camisa do Tricolor.Assim como Ayrton Senna ficoufamoso por ser mestre em pilotarna chuva na Fórmula 1, o boleiro se

    destacou por fazer seu futebol bri-lhar ainda mais quando os camposestavam encharcados.

    Não se sabe até que ponto éverdade e até que ponto é lenda.Mas uma história é contada e re-contada para ilustrar o quantoPadilha se sentia confortável em

     jogar na lama.Em dias de chuva, o campo fica-

    va pesado e o ponta-esquerda se

    aproveitava de sua força e velo-cidade para se livrar dos zaguei-ros e partir em direção à linha defundo. Nos dias de sol, reza a len-da que os responsáveis pelo gra-mado molhavam o lado do cam-po em que ele atuaria.

    Infelizmente, Ademir Padilhanão pode confirmar a história. Em1998, quando tinha apenas 37 anos,morreu depois de ter se engasgado

    durante o almoço. Chegou a ser en-caminhado para um hospital, masa perda de oxigênio no cérebro

    lhe tirou a vida.Quem recorda dele lem-bra com saudosismo.

    Nardela foi compa-nheiro de time e

    descreve bem como o companhei-ro se destacava.– Ele era um daqueles driblado-

    res. Ele driblava bem, partia pracima dos caras. Como tinha força fí-sica, ninguém o derrubava. Ele nãocaía. Em campos pesados, os defen-sores não podiam com ele. Quandochovia, era pior ainda – cita Nardela.

    Mas o maior jogador da históriado Joinville não confirma a lenda

    de que os campos eram molhadospropositalmente para que AdemirPadilha se destacasse.

    – Invariavelmente, o campo esta-va molhado. Em Joinville, semprechoveu muito. Então, sempre jogá-vamos com o campo molhado –explica o camisa 8.

    A fama de jogador lameiro per-dura até hoje. A chuva ainda é umaconstante na vida dos joinvilenses,

    principalmente daqueles que vãoàs arquibancadas dispostos a enca-rar garoa ou temporal.

    Ah, que bom seria ver alguémcomo este jogador descrito pelo

     jornalista Joel Nascimento, o Ma-ceió, em campo mais uma vez:

    – Ademir era um deus alado.Atleta da mais nobre linha genéti-ca. Com o pé direito, punha a bolaonde queria. De curva, de trivela,

    ensaiando a velha coreografia dosgrandes bailarinos. E, com o es-querdo, batia forte. Era mortal noschutes a meia distância. “Jogadorlameiro”, nos dias de chuva infer-nizava a vida dos laterais e a galeraexplodia em gostosas gargalhadas.

    Ah, que bom seria.

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    Lançar mão de métodos mo-tivacionais antes de partidasimportantes sempre foi umamarca pela qual o técnico Sér-gio Ramírez ficou conhecido.Mas poucas histórias atiçamtanto as lembranças afetivasdo uruguaio do que a da con-quista do turno do Campeona-

    to Catarinense de 2010.De um lado estava o Avaí,

    time que na época disputariaa Série A do Brasileirão. Dooutro, o Joinville – “recém--promovido” à Série D. A favordo JEC, apenas o fato de jogarem casa, podendo até mesmoempatar para ser campeão.

    Antes de descrever como foio duelo, é preciso falar sobre

    a noite anterior. Para motivaros seus atletas para um jogotão importante, Ramírez teve aideia de exibir um filme na con-centração. O título escolhido foiInvictus, lançado em 2009.

    Neste filme é contada a his-tória do time da Áfrilca do Sulna Copa do Mundo de Rúgbi de1995. Longe de ser a favorita aotítulo, a equipe africana supera

    as expectativas e se classificapara enfrentar a temida seleçãoda Nova Zelândia na decisão.Apesar do favoritismo dos All

    Blacks, os donos da casa con-quistam o título no último mi-nuto da partida.

    A história parece ter inspi-rado o grupo tricolor naquelatarde de domingo na Arena. OJEC viu o Leão abrir o placarno início do segundo tempo,depois de uma jogada indivi-

    dual de Patric.Mas o JEC estava inspirado

    após a lição de que não se podedesistir até que o jogo termine.O Joinville manteve os nervosno lugar, acreditou e foi recom-pensado quando poucos torce-dores ainda acreditavam. Aos48, após bate-rebate na área, abola sobrou para Ricardinhochutar de longe, empatar o jogo

    e confirmar a conquista.– O que aconteceu com a gen-

    te foi coisa de cinema mesmo.O que assistimos no sábado denoite aconteceu no domingo.Foi por isso que a emoção da-quele gol foi ainda maior. Foimuito significativo – recordaSérgio Ramírez.

    O Joinville já venceu muitaspartidas na Arena. Mas aquele

    empate por 1 a 1 é, até hoje, lem-brado com muito mais alegriado que várias vitórias do Trico-lor em sua casa.

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    O futebol

    imita a arte

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     Culpa de umpentacampeão

    Poucos sabem, mas a construçãodo CT do Morro do Meio (ou CTVilson Florêncio, nome oficial doespaço registrado em cartório) estáintimamente ligada a um lateral-es-querdo de grande destaque no fute-bol mundial. Na verdade, foi graçasao sonho de ter o pentacampeão Ro-berto Carlos que o Joinville decidiu

    investir num espaço adequado paraos treinos do grupo de jogadores.

    Desde a fundação do JEC, em 1976,os técnicos se habituaram a treinarno Ernestão ou em campos de recrea-tivas, cedidas pelas empresas de Join-ville. No entanto, com a terceirizaçãodestas recreativas, muitas delas se ne-gavam a ceder seus espaços de formagratuita para o Tricolor em razão dodesgaste no gramado provocado pe-

    los treinos em dias de chuva.Neste período, quem presidia o

    JEC era Vilson Florêncio. Cansado

    das queixas dos treinadores – que justificavam o baixo desempenhodo time por causa da falta de con-dições para treinos –, Florênciopassou a avaliar a construção de umnovo espaço, um centro de treina-mentos, exatamente como tinha oSão Paulo, clube que o inspirava.

    No entanto, a decisão de começar

    a obra surgiu do desejo de contrataro lateral-esquerdo Roberto Carlos.Florêncio conhecia Oliveira Júnior,empresário e amigo do jogador. Edesde a passagem do lateral pelo Er-nestão – quando ainda defendia oUnião São João de Araras (SP), o di-rigente tentou se aproximar dele parabuscar sua contratação.

    Mas Roberto Carlos colocava comoempecilho a falta de estrutura. E, à

    época, estava próximo de fechar con-trato com o Palmeiras, clube que oprojetou para o cenário mundial.

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    – Tentei a contratação dele, mas oRoberto não queria. Perguntou se oestádio era aquele mesmo, de madei-ra. Dizia que era preciso ter estruturapara ele jogar em Joinville. Disse a eleque eu construiria um CT para con-tratá-lo. E ele prometeu que jogariano JEC se eu concluísse a obra – re-corda o ex-presidente.

    Vinte anos depois da inauguraçãodo espaço, Florêncio reconhece quenão tem certeza se Roberto Carlosirá lembrar da história. Mas garanteque, de forma indireta, ele foi funda-mental para a construção do primei-ro patrimônio do JEC.

    A obraO primeiro passo para a construção

    do CT veio por meio de uma doação.

    Vilson Florêncio e Irineu Machado(diretor financeiro do JEC na décadade 1990) doaram um terreno no bair-ro Morro do Meio. Lá, começaram asobras até a conclusão, em 1995.

    – Quando inauguramos o CT, em1995, nenhum clube do Sul do Paíscontava com este tipo de estrutura.Meus planos eram ainda maiores,gostaria de fazer um clube social lá,terminar de fato a obra. Mas fui im-

    pedido de fazer isso – se queixa.Vilson Florêncio renunciou ao car-

    go de presidente em 1998. Segundo

    ele, em razão da pressão da torcida,parte da imprensa, alguns conselhei-ros e autoridades de Joinville.

    À época, carregava a fama de di-tador, segundo o próprio recorda.Florêncio valorizava que o Joinvilleprecisava se estruturar e, neste perío-do, dividiu os investimentos do fute-bol com a infraestrutura.

    – Fizemos tudo no peito. Compra-mos o ônibus, construímos o CT efazíamos equipes competitivas que,infelizmente, não foram campe-ãs. Mas só vislumbrava um futuropara o Joinville com investimentoem patrimônio.

    O bustoUm dos fatos que marcaram a

    inauguração do CT foi a entrega de

    um busto com a imagem de VilsonFlorêncio. Na época, surgiram críticasna imprensa pelo forte ego do dirigen-te e ameaças de torcedores, contráriosa sua gestão. Alguns deles pretendiamderrubar ou depredar o monumento.

    – Aquilo ali não teve nada a ver co-migo. Foi uma homenagem dos di-retores, especialmente do Silas Silva.Eles acreditavam que eu havia aju-dado muito o JEC e merecia muito a

    homenagem. Só que algumas pesso-as distorceram e reforçaram a tese deque eu era um ditador com ego forte.

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     curtacom vara Nao se cutu

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    A sabedoria popular ensina que

    não se deve cutucar onça com umavara curta. Considerando que oJoinville chegou ao Estadual de1985 com o pedigree de ter sidocampeão nas últimas sete ediçõesdo campeonato, seria prudente queninguém provocasse o brio dos jo-gadores do Tricolor. Mas o técnicoLauro Búrigo, à época no Avaí, deude ombros para o bom senso. Antesdo decisivo duelo que definiria o

    campeão, protagonizou uma cenaque iria incendiar o JEC.

    Após um treino do Leão, o téc-nico viu uma patrola próximo aoEstádio da Ressacada e entrou noveículo, diante da imprensa, paramandar o seu recado antes da fi-nal. Em sua cabeça, ele tinha cer-teza de que o Avaí iria “patrolar” otime tricolor.

    – O Avaí tem que ser igual a esta

    patrola: azeitada e forte para pas-sar por cima do Joinville. Pode sairda frente porque vai dar Avaí.

    O otimismo do folclórico trei-nador era comprovado por núme-ros. As duas equipes já haviam seenfrentado cinco vezes no Catari-nense. Foram três vitórias para oLeão e dois empates. Com o deci-

    sivo jogo tendo que ser disputado

    em Itajaí, já que o Joinville haviaperdido um mando de campo, alógica dizia que a equipe de Flo-rianópolis iria colocar um pontofinal na hegemonia do JEC.

    Mas o futebol não é uma ciênciaexata.

    E a provocação de Lauro Búrigoinflamou o vestiário do Tricolor.Vencer aquele Estadual – possi-velmente o mais difícil na série

    do octacampeonato consecutivo– virou questão de honra para osatletas do Joinville.

    – Foi o maior doping que pode-ríamos receber antes de uma par-tida – recorda Nardela, o maiorcraque da história do Tricolor.

    Com a bola nos pés, o JEC deua sua resposta. Com um está-dio cheio de torcedores para lheapoiar em Itajaí, o Joinville venceu

    por 2 a 0, com gols de João CarlosMaringá e Paulo Egídio.

    Depois daquele jogo, duas coisasaconteceram: o Joinville encerrouali a sua hegemonia dentro de San-ta Catarina após oito conquistas, eo técnico Lauro Búrigo nunca maisfoi visto em cima de outra patrolapara desafiar algum adversário.

    a o Coelho

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     Coelho

    travessoUm dos grandes motivos para aderrota do grupo apoiado pelo en-tão presidente Adelir Alves nas elei-ções do JEC em 2008 foi a inusitadaparceria com o Juventus, de Jaraguá

    do Sul. Durante três meses, o Trico-lor vestiu a camisa do clube vizinho.Parece bizarro, mas o fato aconte-ceu. Sem calendário em razão danão classificação para a Série C ecom a queda para a recém-criadaSérie D, o Joinville ficou pratica-mente seis meses inativo no futebolprofissional. E aí surgiu a ideia daunião com o Juventus.

    O plano era montar uma equipe

    e prepará-la para a disputa da CopaSanta Catarina, marcada para no-vembro, jogando a Segunda Divisãodo Campeonato Catarinense. AdelirAlves propôs a Ildo Vargas, presiden-te do Juventus, ceder toda a estrutu-ra de futebol do JEC ao Moleque Tra-vesso – jogadores, comissão técnica,

    investimentos em geral.Com dificuldades financeiras, o Ju-

    ventus aceitou prontamente. Na teo-ria, a parceria seria boa para os doisclubes. O Joinville chegaria à Copa

    Santa Catarina “voando” depois dapré-temporada na Segunda Divisãocatarinense e o Juventus poderia terum caminho mais fácil no retorno àelite do futebol do Estado.

    Na época, a parceria até chegou aser costurada com o Hercílio Luz,de Tubarão. O acordo só surgiu como Juventus porque os dirigentes doJoinville julgaram que a proximida-de entre as cidades ajudaria na ma-

    nutenção e observação da equipe.– Começamos, dessa forma, amontar o time para a Copa Santa Ca-tarina que vai nos levar para a SérieD do Brasileiro em 2009 – justificavana época o presidente Adelir Alves,reforçando a importância da parce-ria entre os clubes.

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    Na teoria, tudo era bonito. Na prá-tica, o “Coelho Travesso” não caiu nogosto dos torcedores do Joinville eteve resultados bem abaixo do espe-rado. A Segunda Divisão era dividi-da em dois grupos. O Juventus (JEC)estava na chave B, ao lado de Imbitu-ba, Próspera, Hercílio Luz e Cambo-riuense. O time venceu Hercílio Luz(4 a 1) e Próspera (2 a 0) fora de casa.

    No Estádio João Marcatto, dois em-pates – 0 a 0 com o Imbituba e 1 a 1com o Camboriuense.

    Classificado como segundo colo-cado da chave, o Juventus (JEC) jo-gou a semifinal do turno contra oBrusque. Em Jaraguá do Sul, derrotapor 1 a 0. No jogo da volta, em Brus-que, vitória por 1 a 0 e nova derrotapor 1 a 0 na prorrogação. Ou seja, aequipe estava eliminada.

    Começava a cair no descrédito aparceria. Restava a chance de reaçãono segundo turno. Mas o Juventus(JEC) repetiu a campanha do turnona fase de grupos – duas vitórias (2a 1 sobre o Hercílio Luz e 4 a 1 con-tra o Próspera) e dois empates (0 a 0com o Imbituba e 2 a 2 com o Cam-boriuense). A classificação às semi-finais veio com a liderança da chave,e o time até parecia ter embalado ao

    passar com tranquilidade diante doConcórdia – vitórias por 3 a 1 e 2 a 0.

    Na final, novamente o Brusque cru-zou o caminho do Juventus (JEC). Eo pior aconteceu: com duas vitórias(4 a 3 e 4 a 2), o Brusque venceu tam-bém o returno e conquistou o títuloda Segundona de forma antecipada.

    Ou seja, o time formado pela direto-ria do Joinville para jogar a competi-ção pelo Juventus sequer conseguiuganhar o campeonato.

    A essa altura já estava no coman-do do JEC a nova diretoria, forma-da por Márcio Vogelsanger, NereuMartinelli e Osni Fontan. A ordemera formar uma equipe diferentepara a disputa da Copa Santa Cata-

    rina e aproveitar quem se destacas-se nos jogos do Juventus. Conclu-são: neste período, o Tricolor tevedois times e dois técnicos.

    Poucos do time do Juventus foramaproveitados na equipe de Vogelsan-ger e Martinelli. O destino, no entan-to, foi cruel.

    O Brusque, campeão da Segundo-na, ganhou um lugar na Copa SantaCatarina. E foi exatamente o Brusque

    o adversário do JEC na final da CopaSanta Catarina, que valia um lugar naSérie D. No primeiro jogo, derrota doTricolor por 2 a 0 no Augusto Bauer.Na segunda partida, vitória por 2 a 0do Coelho. A decisão acabou nos pê-naltis e o Brusque levantou o títuloem plena Arena.

    No término de 2008, o saldo eraextremamente negativo. Duas equi-pes foram formadas e nenhuma

    delas conseguiu vencer o Brusque.A nova diretoria justificou o fracas-so pela falta de tempo – de fato, elafoi eleita no começo de outubro e aequipe estreou 30 dias depois. Deutudo errado do início ao fim. Sinal deque vestir o Coelho com outra cami-sa jamais será uma boa ideia.

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    A urucado sal grosso

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    Há quem diga que superstiçãonão ganha jogo, mas também háaqueles que adotam dezenas deritos para que a sorte ande ao seulado em uma partida de futebol.Pelo sim ou pelo não, o técnico Age-nor Piccinin fez o que pôde paraque o Joinville vencesse. Só o queo treinador não esperava era queo seu método pouco ortodoxo aca-basse virando um causo contadocomo piada até os dias de hoje.

    Em 2008, o JEC atravessava umdos piores anos de sua história.Não bastasse o fato de não tercalendário durante o segundosemestre daquela temporada, aequipe, para se manter em ativida-de, disputava a Segunda Divisãodo Catarinense com a camisa doJuventus de Jaraguá do Sul – prá-tica conhecida como barriga dealuguel no meio do futebol. Masos jogadores do Tricolor parecemnão ter se acostumado a jogar como manto de outro clube.

    Os resultados ruins dentro decampo fizeram Piccinin adotaruma medida extrema: reunir doishomens de confiança para jogar salgrosso no gramado do Estádio JoãoMarcatto, em Jaragua do Sul, afas-tando os maus agouros do seu time.

    Paulinho Hoffmann, funcioná-rio do departamento de registrodo JEC, e Perninha, supervisor daequipe de Jaraguá, foram escaladospara comprar quilos de sal grosso eespalhar em forma de cruz em to-dos os pontos do campo que tives-sem a intersecção de duas linhas de

    demarcação do gramado.Na calada da noite, os dois execu-

    taram o plano do treinador – quehavia desenhado em um papel ospontos exatos onde o sal deveriaser despejado. O sal que restou foiespalhado no vestiário da equipe.

    Com tanto sal para afastar a másorte, a vitória já estava pratica-mente garantida. Hoffmann e Per-ninha foram dormir satisfeitoscom o trabalho bem-feito.

    No outro dia, quando a duplase acomodou em um ponto su-perior da arquibancada para as-sistir ao jogo contra o HercílioLuz, o estrago ficou evidente. Oforte sol que fez em Jaraguá doSul queimou os pontos da gramaonde havia sal e as várias cruzesficaram visíveis para todo mun-do que foi ao estádio.

    Para piorar, o feitiço virou con-tra o feiticeiro, e os símbolos, quedeveriam trazer sorte à equipe dacasa, ajudaram o time de Tubarãoa sair com a vitória.

    Ao fim do jogo, Hoffmann e Perni-nha fizeram de tudo para se esqui-var da bronca do treinador. Em vão.Quando Piccinin viu a dupla, logo aculpou por mais uma derrota:

    – Perdemos porque vocês coloca-ram o sal sem fé. Se fosse com fé, agente teria vencido.

    A verdade é que com a má faseque o Joinville atravessava na-quela época, não haveria sal gros-so no mundo que faria os resul-tados aparecerem como em umpasse de mágica.

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    o amuleto

    de 2014Você já vestiu uma peça íntimaamarela na virada do ano? Diz asuperstição que, no ano seguinte,ela o ajudará a ter mais dinheiro.Será? E no futebol? Acredita em al-guma camisa, calção ou até mesmonuma cueca da sorte? Parece boba-gem, muita gente prefere esconderou negar as superstições, mas elas

    estão muito ligadas ao futebol. Afrase “em time que está ganhandonão se mexe” é um bom exemplo.

    Em 2014, durante a Série B, oJoinville criou outra teoria: “Em ca-

    misa que está ganhando não semexe”. Tudo começou na 15ªrodada. Naquele dia, o Joinvil-le recebia o Sampaio Corrêa,na Arena, e, àquela altura, o

    Tricolor passava por um mo-

    mento difícil, pois vinha de umasequência de três derrotas após li-derar o campeonato.

    A mudança no uniforme, inicial-mente, surgiu de uma proposta dogerente de marketing, FernandoKleimmann. O plano era utilizar acamisa branca para estampar umbotão em alusão à promoção do

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    Dia dos Pais, realizada com os só-cios mais antigos do clube durantea passagem da data. Segundo o ge-rente de marketing, a logomarca fi-caria mais visível na camisa branca.

    No entanto, para conseguir aaprovação, Kleimmann precisavado “ok” do presidente do JEC, NereuMartinelli. E aí veio a pergunta sur-preendente. Martinelli não ques-tionou a visibilidade da logo, mas o

    desempenho do uniforme branco.– Quantas vezes ganhamos debranco? – perguntou.

    – Duas vezes, presidente, temosum aproveitamento de 100% – re-bateu Fernando Kleimmann.

    – Então está autorizado. Pode jogar de branco – determinouMartinelli.

    Pronto, nascia ali o amuleto doJEC na conquista do acesso e do tí-

    tulo da Série B. O presidente só nãosabia que Kleimmann havia lhepregado uma peça. O aproveita-mento de 100% contabilizava ape-nas o desempenho com as peçasfabricadas pela Umbro. No começoda Série B, o JEC chegou a jogar debranco, mas os uniformes, à época,eram fabricados pela Spieler. A li-nha do Umbro (tricolor e branca)só passou a ser utilizada a partir

    da sétima rodada, contra o Vasco.Antes, o JEC jogou três vezes debranco com a camisa da Spieler:venceu o Paraná, em Curitiba, por3 a 2; empatou com o Atlético-GOpor 0 a 0, em Goiânia; e perdeu por3 a 1 para o América-MG, em BeloHorizonte. Além disso, era com acamisa branca da Spieler que o

    Joinville foi derrotado pelo Figuei-rense na final do Campeonato Ca-tarinense do mesmo ano.

    O desempenho de branco coma camisa da Umbro consideravaapenas o amistoso contra o Amé-rica de Joinville, vencido pelo JECpor 3 a 1, e a vitória na 11ª rodada,também por 3 a 1, diante do Ceará,em Fortaleza.

    No dia 5 de agosto, o JEC usou

    branco como mandante e venceuo Sampaio Corrêa por 3 a 1, que-brando a série de três derrotas.Se deu certo, valia a pena repetir.Na rodada seguinte, no entanto, oamuleto não funcionou: derrotapor 2 a 0 para a Ponte Preta.

    Mas o Tricolor não desistiu dapeça da sorte, especialmente por-que havia outra superstição inco-modando o clube. Com a camisa

    tricolor da Umbro, desde a estreiacontra o Vasco, o JEC jogou seisvezes e só conseguiu uma vitória.Mais uma justificativa para a ca-misa branca voltar a ser utilizadana Arena. E o JEC venceu nova-mente, desta vez frente ao Boa Es-porte, por 2 a 1.

    A partir deste resultado, o Join-ville estabeleceu uma série de seispartidas sem derrota. Na verdade,

    o JEC ganhou quatro dos seis jogose neste período retomou a lideran-ça da Série B. Sempre de branco.

    A segunda derrota da camisabranca só aconteceu na 27ª roda-da, contra o América-RN, em Na-tal. Ali, o Joinville viveu o maiorintervalo de tempo sem vitóriasna Série B.

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    Na rodada seguinte, novamentede branco, o JEC só empatou como Santa Cruz e acumulou a quartapartida sem nenhum triunfo. Teriaa chave do sucesso perdido a força?

    Nada disso. A série de quatro jogos sem vitória foi interrom-pida diante do Vila Nova-GO, emGoiânia, na 29ª rodada. De bran-

    co. E a partir deste triunfo veio aespetacular série de sete vitórias,que culminou no acesso à Série A.O jogo do acesso teve o Joinvilleem campo, de branco, justamentediante do Sampaio Corrêa, adver-sário que deu início à jornada su-persticiosa tricolor.

    Por “coincidência”, foi de brancotambém que o JEC conquistou o tí-tulo da Série B, mesmo derrotado

    diante do Oeste-SP, em Itápolis. Aotodo, foram 18 partidas com o uni-

    forme reserva, quase um turno in-teiro, contabilizando nove vitórias,quatro empates e cinco derrotas.Estes números consideram tam-bém a camisa branca da Spieler.

    O branco da Umbro teve melhordesempenho. Em 15 partidas, fo-ram oito vitórias, três empates equatro derrotas (duas delas depois

    de o time já ter conquistado o aces-so e uma em que foi campeão, mes-mo perdendo).

    Como diz o começo do texto,poucas pessoas gostam de admi-tir que são supersticiosas. O pró-prio Nereu Martinelli prefere nãoconfirmar a história. Mas todos noclube sabem que, na busca do tãosonhado acesso e do inédito título,valeu até recorrer às superstições,

    afinal, em camisa que está ganhan-do não se mexe.

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     No singularou no plural?

    Era o ano de 1976. Com as fusõesdos departamentos de futebol de Ca-xias e de América para formar o Join-ville, os jogadores ainda buscavamaquele entrosamento fora das quatrolinhas para transformar as duas equi-pes em um único time.

    Um dos momentos de mais des-

    contração que havia para aproxi-mar os jogadores eram as rodas debobinho que aconteciam antes daatividade – ritual que é repetido atéos dias de hoje. E um dos grandespersonagens deste momento era oatacante Linha, figura marcada porsempre ser o primeiro a chegar naatividade recreativa para não cor-rer o risco de ser o “bobo” a ficar nocentro da roda.

    Eis que um dia, para espanto deamericanos e caxienses, Linha nãoestava no gramado. Todos ficaramse perguntando onde estava o joga-dor, que chegou correndo, esbafo-rido, quando não restava mais nin-guém no vestiário.

    Capitão do time, Fontan já indicoupara Linha que ele teria que ser obobo. Eis que os dois travaram o me-morável diálogo:

    – Por que o atraso hoje, Linha? –perguntou Fontan.

    – Desculpe a demora. Eu atraseiporque fui comprar um aparelho de

    som na loja da “Prodócimo” – res-pondeu Linha.Percebendo o erro do jogador

    oriundo do América, todo mundo seentreolhou em silêncio, até que Fon-tan interrompeu:

    – É Prosdócimo, Linha, Prosdócimo.– Você está tirando onda comigo. É

    Prodócimo – retrucou Linha.– Não, é Prosdócimo mesmo – ga-

    rantiu Fontan.

    Foi aí que linha, num misto deingenuidade com malandragem,emendou:

    – Mas eu estou falando no singular,não no plural.

    Caxienses e americanos se atiraramao chão aos risos.

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    O desaparecimento

    da taça

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    Vinte de dezembro de 1983. Na-quele dia, o mundo recebeu com as-sombro a notícia de que a Taça JulesRimet, conquistada de forma defini-tiva pela Seleção Brasileira após asvitórias nos mundiais de 1958, 1962e 1970, havia sido furtada da sededa CBF. O troféu tinha aproxima-damente dez centímetros de alturae quatro quilos – entre os quais, 1,8quilo de ouro puro.

    A sede teria sido invadida durantea noite, e a taça, levada inexplicavel-mente de dentro do cofre da entida-de. O roubo foi planejado por SérgioPereira Ayres e executado por Fran-cisco José Rocha Rivera, o Barbudo,e José Luiz Vieira da Silva, o Bigode.Diz-se que a taça foi derretida pelocomerciante Juan Carlos Hernandez.

    Trinta e dois anos depois, algo se-melhante aconteceu em Santa Ca-

    tarina, provocando alvoroço nosnoticiários locais. Tudo porque oCampeonato Catarinense de 2015não terminou no dia 3 de maio,como estava previsto no regulamen-to. Esqueça a festa da torcida do Join-ville na Arena, a entrega das meda-lhas e da taça. Nada disso valeu emrazão de um problema no jogo doJEC com o Metropolitano na últimarodada do hexagonal semifinal da

    competição. Começava ali a grandeconfusão.André Diego Krobel, lateral-di-

    reito do Joinville, foi relacionadopara a partida diante do Metropo-litano sem ter um contrato profis-sional, obrigatório para jogadoresque completaram 20 anos em 2015.

    Krobel fez aniversário no dia 28 demarço, 21 dias antes da partida como Metrô. Ele não chegou a entrar emcampo, mas estava no banco de re-servas. Ao tomar conhecimento dofato, antes após o primeiro jogo dafinal com o JEC – empate por 0 a 0no Estádio Orlando Scarpelli – o Fi-gueirense acionou a Justiça.

    A escalação do JEC infringiria oartigo 27 do regulamento do Cam-

    peonato Catarinense, que se reportaao artigo 43 da Lei Pelé, que diz: “Évedada a participação em compe-tições desportivas profissionais deatletas não profissionais com idadesuperior a vinte anos.”

    Como desrespeitava o regulamen-to, JEC – finalista com a vantagemde jogar por dois resultados iguaispara ganhar o título – poderia per-der até quatro pontos, o que levaria a

    uma inversão da vantagem na finaldo Campeonato Catarinense. Nestecaso, o segundo jogo seria no Orlan-do Scarpelli, e o Figueirense teria avantagem de dois empates.

    Como já havia sido disputado oprimeiro jogo, a Federação Cata-rinense de Futebol (FCF) decidiumanter a realização da segundapartida, no dia 3 de maio, na Arena.A decisão da entidade era entregar

    o troféu em campo, independente-mente do que acontecesse nos tri-bunais. A ideia era que houvesse umvencedor do jogo. Neste caso, seriamais difícil mudar o resultado docampo porque, mesmo com a van-tagem alterada, permaneceriam osplacares da decisão.

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    No entanto, nada disso aconteceu.O jogo da Arena terminou com ou-tro empate, novamente por 0 a 0, oque provocou a não homologaçãodo Joinville como campeão estadual,embora o Tricolor tenha recebido to-das as premiações.

    Logo após a disputa dentro de cam-po, começou a batalha nos tribunais

    entre advogados de Joinville e Figuei-rense. Nas duas disputas – no Tribu-nal de Justiça Desportiva de SantaCatarina (TJD-SC) e no pleno do Su-perior Tribunal de Justiça Desportiva(STJD) – houve o entendimento deque o Joinville deveria ser punido coma perda de quatro pontos. Mas havia aexpectativa de que esta decisão volta-ria para a FCF, que teria a missão dedar um rumo ao campeonato com a

    perda dos quatro pontos do JEC.Para a surpresa da grande maioria,os auditores do STJD não só decidi-

    ram punir o Joinville, mas tambémreconhecer o Figueirense como cam-peão do Estado.

    – Ao meu ver, consequência lógi-ca da perda de pontos e, portanto, dareclassificação do hexagonal é que avantagem, que até então era do Join-ville, passou a ser do Figueirense e,tendo em vista que ambas as partidas

    da final do Campeonato Catarinen-se de 2015 terminaram empatadas,deve ser o Figueirense declarado ocampeão – escreveu o auditor FlavioZveiter em seu relatório

    – Não há sentido realizar mais duaspartidas ou determinar que a discus-são volte para a federação. Era maisprudente resolver agora e colocar o re-sultado de campo para dar ao Figuei-rense o título pelo empate por 0 a 0 –

    emendou o presidente do STJD, CaioCésar Vieira Rocha, após o julgamento.Com esta decisão em mãos, res-

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    tava à FCF entregar a taça e homo-logar o Figueirense como campeão.No entanto, no dia 16 de julho –manhã seguinte ao julgamento doSTJD em Minas Gerais –, a taçado Campeonato Catarinense haviasido furtada da loja do Joinville, aToca do Coelho da Arena.

    O Joinville pouco se pronunciou so-bre o caso. Deixou toda a investigaçãonas mãos da Polícia Militar. A loja foiinvadida na madrugada do dia 16.Nenhuma câmera conseguiu flagrara ação. Uma das janelas da loja foi de-predada. Nada além da taça do Catari-nense foi levado pelos autores do furto.

    O curioso é que, temendo esta ação,o Joinville havia mudado o lugar dataça dentro da loja e escondido numa

    sala alternativa, debaixo de algunspanos. A investigação da polícia nãochegou a nenhuma conclusão. O des-tino da taça permanece como ummistério. E, para resolver o problema,a FCF teve de produzir outro troféupara entregar ao Figueirense.

    O caso virou motivo de piada eprovocação entre os torcedores.Nos dias seguintes, circularam nasredes sociais gravações de torce-dores do JEC que ligavam à lojado Figueirense afirmando que eles“jamais teriam a taça original nasmãos”. A própria torcida do Join-

    ville exibiu taças de pano no clás-sico estadual com o Figueirense,em duelo válido pelo returno. Nes-te jogo, o Joinville terminou comovencedor e a torcida, se sentindoinjustiçada pela decisão dos tribu-nais, gritou “é campeão”.

    A diferença deste furto para o de1983 é o objetivo do ato. No Rio deJaneiro, o troféu, símbolo de orgulhopara os brasileiros, se tornou peça

    para enriquecimento por meio doouro derretido. Em Santa Catarina, ataça não tinha valor algum. Na verda-de, foi o sentimento do torcedor queacabou derretido após ver o time sercampeão em campo e perder o troféufora das quatro linhas.

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    a peruca

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    foi a salvaçãoPerder um jogo dentro de casa é

    algo que irrita qualquer torcedor.

    Perder um clássico dentro de casa já faz os mais fanáticos se exalta-rem ainda mais. Mas ser goleado,dentro de casa, em um clássico, éimperdoável. E que o diga o téc-nico Paulinho de Almeida, co-mandante do Joinville em 1995,que precisou achar uma soluçãoinusitada após uma das pioresderrotas do JEC no Ernestão.

    O episódio aconteceu na semi-

    final do primeiro turno do Ca-tarinense daquele ano: Joinvil-le contra Chapecoense. No jogode ida, no Oeste do Estado, tudocomeçou a ir por água abaixoquando uma jogada atrapalhadade Benson resultou em um gol dotime local. O volante disse para ogoleiro Silvio deixar a bola pas-sar, pois a situação estava sobcontrole. Benson fez golpe de vis-

    ta, mas a bola, em vez de ir parafora, bateu na trave e entrou, cau-sando o destempero do treinadorgaúcho na derrota por 3 a 1.

    No jogo da volta, o Tricolor pre-cisava reverter o placar. Mais de 17

    mil pessoas nas arquibancadas.Clima de “vamos lá”. O JEC pron-to para se classificar e... mais umasurra. Goleada por 5 a 1 da Chape-coense comandada por Paulo Rink– que iria terminar o campeonatocomo o artilheiro com 23 gols – empleno Ernestão.

    Sobrou para Paulinho de Al-meida. Os xingamentos foramtantos que o treinador passou a

    temer pela vida já dentro do ves-tiário. Com o passar do tempo eparte da torcida se recusando adeixar o estádio enquanto nãocobrasse satisfação do dono daprancheta, o treinador pôs osneurônios para trabalhar.

    A fim de evitar levar alguns so-papos, ele colocou uma peruca esaiu andando discretamente pelosfundos. Não foi reconhecido e vol-

    tou ileso para casa.O que não se sabe até hoje é ondeeles foram encontrar uma perucaem um vestiário de futebol.

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    a descobertaPense num estádio cheio, mas

    em silêncio. São mais de 15 milpessoas incrédulas com o queacontecia. Imagine agora o apitofinal de uma partida de futebol.Tente ouvir, após o sopro derradei-

    ro no apito, o coro com as seguin-tes palavras: “Vergonha, vergonha,vergonha”. Pronto, você voltou notempo. Bem-vindo à tarde de 17 deoutubro de 2010.

    Neste dia, o Joinville viu ruir osonho de ascender à Série C diantedo quase inexpressivo América--AM. A Arena Joinville se firmavacomo palco das tristezas tricolores.Desde 2008, o JEC tentava voltar ao

    cenário nacional. Quando final-mente conseguiu e parecia estarpronto para galgar um lugar maisdigno, caiu. E a queda era pesada,pois seria preciso recomeçar todoo trabalho de resgate de um gigan-te adormecido.

    O coro de “Vergonha, vergonha,vergonha” não representava ape-nas o sentido literal da palavra. Elecarregava um misto de humilha-

    ção, impotência, revolta, tristeza edúvida: qual seria o futuro do clu-be depois de mais um fracasso?

    No dia seguinte, a Arena Join-ville lembrava uma capela mor-tuária diante do clima de velóriono clube. O empate por 1 a 1 comos manauaras não saía da cabeçados funcionários do Joinville. O

    adversário não tinha nem bolassuficientes para treinar dias antesdo jogo decisivo. Será que eles nãotinham nada de errado com umaestrutura tão modesta?

    A reflexão de dois funcioná-

    rios tricolores despertou o in-teresse. A partir daí, começoua busca por algo improvável. Aesperança era encontrar algumairregularidade no América-AMou em qualquer um dos timesque ascenderam à Série C. Numcampeonato em que são raros osclubes organizados, o imprová-vel tornou-se rapidamente crívelnuma simples pesquisa.

    O departamento de registrosdo JEC encontrou no dia 18 deoutubro de 2010 três irregulari-dades: uma no Madureira; outrano Sampaio Corrêa; e a terceirano América-AM. Depois de maisalguns estudos, um consenso: ocaso do América-AM era o pior,com chances significativas de êxi-to para o Joinville.

    O erro do América-AM, neste

    caso, foi a negligência. O volanteAmaral rescindiu contrato com oclube depois de uma lesão. No en-tanto, tratou a contusão, se recupe-rou e a comissão técnica decidiuutilizá-lo na Série D. Para a sorte doJEC, ninguém se deu conta de queera preciso formalizar um novocontrato e registrá-lo na CBF. De

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    quebra, ele esteve em campo con-tra o Tricolor no dia 17 de outubro.Nos dias seguintes, o JEC agiu rá-

    pido: reuniu diretores, consultou odepartamento jurídico e decidiu ira fundo no caso Amaral. Na mes-ma semana, Paulinho Hoffmann,um dos funcionários do departa-mento de registros do JEC, foi aoRio de Janeiro para conseguir naCBF a negativa que comprovava a

    irregularidade de jogador.Mais tarde, ele telefonou para opresidente Márcio Vogelsanger:

    – Presidente, consegui a nega-tiva. É isso mesmo que conversa-mos. Ele está irregular.

    No sábado, 23 de outubro, Vogel-sanger convocou uma entrevistacoletiva. Ali, anunciou que o JECestava entrando na Justiça paradenunciar a irregularidade ameri-

    cana. Pronto. Começava uma durabatalha jurídica, vencida pelo Join-

    ville apenas em 9 de dezembro domesmo ano. Naquele dia, o clubecomemorou o acesso à Série C, quenão veio no campo.

    A vaga não chegou a ser ce-lebrada com ares de festa pelamaioria dos torcedores em razãodas circunstâncias. Mas ela repre-sentou alívio. Muito alívio. Quemrealmente festejou foram os doisfuncionários responsáveis pela

    descoberta: Gilson Sagaz e Pau-lo Hoffmann. Naquele dia, a per-severança deles premiou o JEC eos transformou em importantespersonagens da história do clube.

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     grito por

     justiçaInvadir o campo era algo comumnos estádios catarinenses até o fim dadécada de 1990. O hábito do torcedoracontecia com frequência nas deci-sões de campeonato. Foi assim comAvaí, Brusque, Criciúma, Figueirense

    e Chapecoense nas disputas de títulodo Campeonato Catarinense. No en-tanto, o ano de 1999, que já teve a po-lêmica decisão de turno do Estadual,reservava ainda outra boa históriaenvolvendo o Joinville.

    Tudo começou em razão da deci-são do turno, na qual o JEC acabouderrotado pelo Figueirense. No re-encontro das equipes, em partidaválida pelo returno, no Ernestão, os

    torcedores tricolores levaram faixasprovocativas. Numa delas, estava es-crito: “Sr. árbitro, seu valor vem de

    sua honestidade.A outra faixa era mais agressiva.

    Os jequeanos protestaram com osdizeres: “Delfim + Figueira + GilsonPauletti + $$$ 2 x 2 JEC”. A frase insi-nuava que o título do turno conquis-

    tado pelo Figueirense, no empate por2 a 2 com o Joinville, só foi conquista-do graças a uma combinação entre opresidente da Federação Catarinense,Delfim Pádua Peixoto Filho, o Figuei-rense e o árbitro do confronto na oca-sião, Gilson Pauletti.

    As manifestações provocaram atra-so no apito inicial. Luiz Orlando deSouza, árbitro no Ernestão, recusoucomeçar o jogo com as faixas. Só de-

    pois de serem retiradas pela PolíciaMilitar, o jogo pôde finalmente acon-tecer. O ato deixou o clima mais tenso.

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    Aos 35 minutos, o lateral-esquer-do Clóvis, do JEC, foi expulso aoreceber o segundo cartão amarelo.O ambiente ficou ainda pior aos 40minutos do primeiro tempo. Apósconfusão causada por uma falta deMarquinhos Rosa sobre Perivaldo,Luiz Orlando de Souza expulsouMarquinhos Rosa, do JEC, e Valdeir,

    do Figueirense. O Tricolor teve aindaoutro atleta expulso: João Carlos Ca-valo. Pronto. O clima de guerra entretorcida e árbitro estava escancaradoa partir daquele momento.

    Na volta do intervalo, apesar de terdois jogadores a menos, o Joinvillequase abriu o placar. Logo a um mi-nuto de jogo, Marco Antônio cruzouda direita e Emerson Almeida cabe-ceou a bola na trave. Mas era difícil

     jogar nesta condição. E, aos 13 mi-nutos, o Figueirense chegou ao golcom Fabinho.

    Daí em diante, não houve mais jogo.Um torcedor invadiu o campo e, demaneira irônica, expulsou Luiz Or-lando de Souza. Logo depois, os torce-dores do JEC derrubaram o alambra-do e invadiram o gramado. No centrodo campo, pediam justiça no Campe-onato Catarinense.

    – Eles foram a nossa voz. O que foifeito com a gente neste campeonatofoi uma palhaçada. O manifesto nos

    representou porque o Figueirensesempre era beneficiado contra a gente– recorda o ex-volante Daniel Coraci-ni, que esteve em campo naquele jogo.

    No outro lado, o temor tomouconta dos vestiários do Figueiren-se. Encurralados, os alvinegros nãoconseguiam deixar o Ernestão. AbelRibeiro, técnico da equipe na época,

    lembra que pedia aos jogadores quenão revidassem aos protestos.

    – Se a gente reagisse, seria pior. Fi-camos no corredor do Ernestão, forados vestiários, para não sermos atin-gidos por objetos. Tivemos de esperarmuito tempo para deixar o estádio.

    Na verdade, a saída do Figueirensesó aconteceu porque a delegação sedividiu em vários carros e teve de serdeslocada por um acesso alternativo

    no Ernestão. Até aquele momento, otemor tomava conta do adversário.

    – Nos não sabíamos o que pode-ria acontecer. A maioria tentava ficartranquila, mas havia muita tensão,era arriscado – completa Abel.

    Após a manifestação, o Joinvilleacabou punido pela Justiça Des-portiva catarinense. Teve prejuízos,trocou alambrado, mas o torcedorsente que fez sua parte. Naquele dia,

    gritou por justiça. E só voltou a in-vadir o campo na comemoração dotítulo estadual, em 2000.

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    A viagem

    quase voou

    em que o boi

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    – No futebol, eu já vi de tudo. Sónão vi boa voar.Uma das frases mais célebres do

    presidente Nereu Martinelli ser-ve para ilustrar bem como tudopode acontecer dentro do futebol.A história a seguir aconteceu em2010, quando Nereu ainda ocupa-va o cargo de diretor de futebol eo Joinville disputava a Série D doBrasileirão.

    Não são poucos os causos queenvolvem o JEC e alguns ônibusquebrados às margens das rodo-vias. Mas são raras as ocasiões emque tantos presságios de má sorterondaram o Tricolor.

    Em época de vacas magras eda política de austeridade prega-da pelo então presidente MárcioVogelsanger, a delegação do Join-ville iria com o Jecão – apelido do

    ônibus do clube – até Irati, cidadeparanaense que fica a 288 km dedistância de Joinville para evitarcustos desnecessários.

    Como diz o ditado, o barato saicaro. No quilômetro 666 da BR-376– o primeiro sinal de mau agouropara os mais sensíveis –, o “zarco”do JEC quebrou. Foram algumashoras de espera com o time às mar-gens da rodovia até que o supervi-

    sor Gilson Sagaz conseguisse umplano B – um ônibus para comple-tar o trajeto até o local do jogo.

    O que não se esperava eraque o plano B também

    falhasse. Poucos quilô-metros após a dele-

    gação ser recolhi-

    da, começou a pegar fogo no motordo novo ônibus, que precisou pararem um posto às margens da BR,em Tijucas do Sul-PR.

    Como a viagem já estava duran-do mais que o esperado e o grupo

     já começava a reclamar de fome,não teve jeito. O preparador físicoReverson Pimentel assumiu o co-mando da chapa do restaurantedo posto e começou a fritar bifes e

    ovos. O massagista Lincoln se des-dobrou para fazer suco para o pe-lotão. Quem esteve lá garante quesobrou tempo até para ele atenderaos outros clientes do posto.

    Depois de dezenas de ligações,Sagaz finalmente conseguiu umnovo ônibus (para isso, contou como auxílio de Rafael Zucon, supervi-sor do Paraná Clube). Com mais deseis horas de atraso, o Joinville che-

    gou a Irati. Mas os maus presságiosnão acabaram. Quando o time che-gou ao hotel, soube que havia umcasamento no local. O barulho dafesta, evidentemente, atrapalhou osono dos jogadores.

    No domingo, durante o almoço,uma toalha pegou fogo no restau-rante em que os atletas se alimen-tavam. Instantes antes do jogo, ovéu da santa que o Tricolor leva em

    suas viagens também pegou fogodepois de ter entrado em contatocom uma vela. Com tanto fogo, oTricolor entrou em campo incen-diado. Venceu por 2 a 0, com facili-dade, e encaminhou a classificaçãopara a terceira fase.

    Por pouco, o boi não voou.

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    Os sete terríveis anos que oJoinville viveu de 2004 a 2010 têmuma série de explicações para os

    mais supersticiosos torcedores.Alguns dizem que a saída do Es-tádio Ernestão provocou a queda.Outros atribuem os fracassos aum sapo supostamente enterra-do na Arena Joinville. Mas há ou-tra teoria, segundo profissionaisdo clube: a imagem de Nossa Se-nhora Aparecida, destruída em

    2004, justamente o ano em quecomeçou a queda do Tricolor.

    O responsável pela destruição

    da imagem sagrada seria o pre-parador físico Hamilton Tavares,de acordo com informações defuncionários tricolores. Ele nãoacreditava que a santa, exposta novestiário do JEC, ajudaria o timedentro de campo. Por este motivo,teria justificado o ato para que osatletas não se apegassem à fé.

    A santa

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    Coincidência ou não, foi em2004 que o JEC caiu para a SérieC. Dali, ainda ficou sem série - em2008, não se classificou para a Sé-rie C e a CBF criou a Série D nomesmo ano. No entanto, sem aqualificação por meio das com-petições estaduais, o JEC não po-deria nem jogar a Série D, fatoque voltou a acontecer em 2009.

    Nesta época, já se falava que era

    preciso algumas orações para“purificar” a Arena Joinville. Nãofoi à toa que uma capela foi cons-truída dentro do estádio. Alémdisso, os dirigentes tricolores fre-quentemente realizavam oraçõescoletivas para pedir uma ajudi-nha das forças superiores.

    Em 2008, na gestão do presidenteAdelir Alves, até um padre foi con-tratado. No entanto, nada adianta-

    va. O Joinville, de fato, parecia umclube alvo de grande maldição.As coisas pareciam melhorar

    em 2009, quando o JEC ganhou aCopa Santa Catarina e finalmentegarantia um lugar na Série D. Em2010, o Tricolor chegou a vencer oturno do Estadual e disputou asquartas de final da Série D coma melhor campanha. Só que nasduas disputas, o Joinville acabou

    derrotado. No Estadual, quedainquestionável diante do Avaí.Na Série D, um tombo assustadorcontra o frágil América-AM.

    E foi justamente após o revéscontra o América-AM que umtrio chegou à conclusão: era pre-ciso buscar uma nova santa, em

    Aparecida do Norte (SP).– Após o jogo contra o Amé-rica-AM, o Gilson (Sagaz) disse:“não tem jeito. Desde que que-braram nossa santa (Nossa Se-nhora Aparecida), dá tudo er-rado”. O Paulinho (Hoffmann)concordou. Procurei entendera história para saber do que setratava – disse o diretor VilfredSchapitz, à época, responsável

    pela área financeira do JEC.Vilfred se inteirou sobre o as-sunto e, dias depois, surgiu a de-núncia contra o América-AM.Apesar de estar apoiado pelo re-gulamento, o Joinville não venceua primeira disputa nos tribunaise corria sério risco no pleno doSTJD. E aí veio a promessa.

    – Decidimos que, se o JEC con-seguisse o acesso, iríamos até

    Aparecida do Norte (SP) parabuscar uma nova santa. Este erao combinado entre eu, o Sagaz e oPaulinho – conta Vilfred.

    No último julgamento, o Amé-rica-AM acabou punido e o Join-ville herdou a vaga na Série C. Emagradecimento, o trio deu início,

     já no sábado seguinte, à saga atéo interior de São Paulo para bus-car a imagem da nova santa.

    Na manhã de sábado, às 6 ho-ras, eles iniciaram a viagem. Malsabiam eles que haveria uma sé-rie de desafios, quase como testespara a fé dos tricolores. O trajeto,que deveria terminar até as 15 ho-ras, durou quase até as 22 horasem razão do congestionamento.

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    Para piorar, não foi possível des-cansar na cidade porque todos oshotéis estavam lotados. O trio tevede viajar a uma cidade vizinha, Lo-rena, onde também não havia ho-téis disponíveis. Apenas um peque-no abrigo, com condições precárias,oferecia espaço para os tricolores. O

     jeito foi encarar o desafio.O banho teve de acontecer em água

    fria – não havia água quente –, osono veio numa cama pouco confor-tável e o café da manhã estava longede ser agradável. Nem a fechadurafuncionava direito. O jeito foi esperare sair na manhã seguinte para bus-car alguma alimentação melhor emoutro lugar.

    Logo depois do lanche, o trio vol-tou a Aparecida. Lá, finalmente con-seguiu a imagem da santa, benzida.No retorno a Joinville, decidiramdeixá-la nos vestiários da Arena.

    Quem ficou da temporada de 2010para 2011 percebeu o novo objeto.

    E parece que a santa começou atrazer sorte para o JEC, que ganhouo título da Copa Santa Catarina, oacesso para a Série B e o título na-cional da Série C. E aí aparece outrodetalhe da viagem de 2010: antesde voltar para Santa Catarina, o trioprometeu que retornaria a Apareci-da, com a santa, se o Joinville subissepara a Série B em 2011.

    No fim de 2011, Vilfred Shapitz, Gil-son Sagaz e Paulo Hoffmann estive-ram em Aparecida, com a santa, paraagradecer e pedir nova bênção para aimagem, cumprindo a promessa fei-ta no ano anterior. Hoje, a imagem deNossa Senhora Aparecida está lá, nosvestiários da Arena. E ao que parece,ela tem protegido bem o JEC, que,hoje, está bem longe da realidade queviveu entre 2004 e 2010.

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    um retorno

    inusitadoQuando o Jecão – apelido do ônibusdo Joinville – pegava a estrada paraatravessar o Estado rumo a algum jogodo Tricolor, sempre era uma loteria sa-ber se ele chegaria ao seu destino ou seiria empacar em algum encostamentodas rodovias. Quando se chegava semimprevisos até a outra cidade, já haviaum primeiro motivo para comemorar.

    Mas a apreensão, invariavelmente, serepetia no caminho de volta.

    E foi justamente em um retornopara Joinville que as coisas deramerrado para o “zarco” do Tricolorem 2005.

    Logo após o empate por 1 a 1 coma Chapecoense no Oeste do Estado –um bom resultado naquela Série A2do Campeonato Catarinense –, o JECiniciou a sua viagem de volta para

    casa feliz da vida. Não se sabe se pelaempolgação ou por simples descuido,o motorista errou logo no primeirotrevo e, em vez de rumar no caminhopara o Planalto Norte, se embicou paraConcórdia, no Meio-oeste do Estado.

    Tivera sido esse o maior problemada viagem de regresso. Madrugada

    adentro, logo após ter passado pela ci-dade de Porto União, uma mangueiraestourou e o Jecão foi obrigado a pararna rodovia escura. Eram 2 horas e nãohavia socorro por perto.

    Sem alguém para consertar o veícu-lo, com dificuldade para fazer contatosem plena madrugada e sem um ôni-bus para utilizar como plano B, o que

    fazer para que cerca de 30 pessoas pu-dessem voltar para casa e trabalhar nodia seguinte?

    A solução dos responsáveis pelo JECfoi, no mínimo, curiosa.

    Conseguindo uma van e um ônibuspara se deslocar em um pequeno tra-

     jeto, carregaram os veículos com osmateriais de apoio e embarcaram adelegação com destino a Mafra.

    De lá, pela primeira e única vez na

    história, o time inteiro do JEC voltoupara casa em um ônibus de linha.

    O JEC chegou de volta à cidade nomeio da tarde e perdeu um dia detrabalho, mas a história é lembradaaté hoje com bom humor por aque-les que vivenciaram o clube na épocadas vacas magras.

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    Do Aventureiro

    Você conhece Everaldo Luiz Pi-nheiro? Pelo nome, fica um poucodifícil, mas o apelido facilita o re-conhecimento: Benson. O joinvi-lense, criado no bairro Aventurei-ro, foi revelado pelas categorias debase do Joinville. A vida do agoraex-atleta é recheada de histórias,muitas delas renderiam até um li-vro. No entanto, uma delas se des-taca entre tantos “causos” envol-vendo o jogador: a ida a Wembley.

    Poucos acreditam, mas Benson,de fato, jogou no estádio mais fa-moso da Inglaterra. E tudo aconte-ceu de forma repentina. Até 1987,ele atuava apenas no time do pai.Ambicioso, sonhou em jogar noJEC. Depois de ganhar a autoriza-ção para fazer o teste, ele voltoupara casa com boas notícias.

    – Passei, pai. Vou jogar nas cate-gorias de base do Joinville.

    No ano seguinte, mais boas notí-cias: Benson foi convocado para aSeleção Brasileira infantil, que ex-cursionou pela Inglaterra, Escócia,Irlanda, País de Gales e Holanda.

    Empolgado, ele correu para casapara avisar o pai, que capinava.

    – Pai, eu estou na Seleção Brasi-leira – contou.

    – Pare de bobagens, guri, e vátrabalhar – retrucou o pai.

    – É sério, pai, fui convocado – in-sistiu Bênson.

    – Sai daqui com essas histórias,rapaz – devolveu o pai.

    O pai de Benson só se conven-ceu quando a imprensa foi atéa casa para conversar com afamília do jovem. Pronto, oAventureiro estava em fes-ta graças ao atleta.

    Nesta excursão, Ben-son, que jogou a maiorparte da carreira comovolante, atuou comozagueiro. Além dele,estavam na delega-ção o goleiro Danrlei– ídolo do Grêmio – eo atacante Marques –ídolo do Atlético--MG. Além deWembley, o

    Para o Wembley 

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    grupo passou por outros grandesestádios, como o Anfield, do Liver-pool; o St. James’ Park, do Newcastle;o Ibrox Stadium, do Glasgow Ran-gers; e o Philips Stadion, do PSV.

    Mas foi em Wembley, palco cons-truído em 1923, que Benson viveuo grande sonho. Os brasileiros en-cararam os ingleses de igual parao igual. O saldo, no entanto, não foi

    positivo: derrota por 2 a 0.– Nós nos c... inteiros – lembra,rindo à toa.

    O saldo só não foi pior porque oBrasil conseguiu empatar os dois

     jogos seguintes; porque Bensoncompletou 15 anos na Inglaterra;e porque, apesar de falta de habi-lidade com o inglês, o ex-jogadorsoube tirar proveito da belezadas inglesas.

    – Aonde eu ia, só dizia ‘kiss, kiss’(beijo). Chegou uma hora que umainglesa ‘quis’ também, e aí deu tudocerto – recorda, gargalhando.

    Everaldo Luiz Pinheiro ganhou

    o apelido de Benson em razão deuma série de TV americana, exi-bida entre 1977 e 1986. O persona-gem tinha fama de popular, brin-calhão e irreverente, exatamentecomo o ex-volante. A diferença éque o mais famoso falava inglês. Ooutro apenas arranhou algumaspalavras para se dar bem e fazerhistória na Terra da Rainha.

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    A segunda-feira de 19 de junhode 2000 amanheceu mais alegrepara os torcedores do Joinville. Naverdade, vários tricolores sequerdormiram na noite anterior, tama-nha foi a festa na cidade. Após 12anos de jejum, o JEC voltava a con-quistar o Campeonato Catarinense.A vitória por 2 a 1 veio do jeito que

    todo joinvilense está acostuma-do: sob chuva e com sofrimentoaté o fim – só após o gol de Fabi-

    nho, aos 44 minutos, os jequeanos puderamrespirar aliviados.

    A conquista, certa-mente, está na memória

    de todas as mais de 15 mil pessoaspresentes naquela noite no EstádioErnesto Schlemm Sobrinho. Na ver-dade, a conquista está na memóriade quase todas. Houve uma pessoaque esteve em campo, jogou, masnão lembra de nada: o goleiro Mar-cos Antônio Ronconi, o Marcão.

    Aos 31 minutos do primeirotempo, o lateral Emerson Gaúcho,do Marcílio Dias, recebeu livre, nolado esquerdo, e partiu em direçãoao gol. Marcão não teve dúvidas ese jogou ao encontro da bola. Noentanto, o camisa um ficou coma bola e com o pé esquerdo deEmerson na cabeça. O choque foi

     Ele jogou foi campeao

    da final

    mas não se lembra

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    tão violento que Marcão teve umaparada respiratória.O susto o obrigou a deixar o es-

    tádio numa ambulância. Foram 23horas em observação no HospitalSão José. Antes de estar recuperado,o Joinville fez sua parte em campoe venceu o Marcílio Dias por 2 a 1.Marcão só foi saber do título horasdepois no hospital, ainda um pou-co tonto e com dores na cabeça.

    – Estava zonzo, a cabeça pareciaexplodir, mas fiquei feliz quandosoube. É lógico que foi um poucofrustrante estar fora da final por-que eu joguei todos os jogos docampeonato, passamos dificulda-des, houve salários atrasados, e,para mim, que veio da base, o títuloera ainda mais significativo. Massão coisas que acontecem no fute-bol e estávamos sujeitos a isso na

    época – relata.Marcão diz lembrar apenas doaquecimento e de sua entrada emcampo. Os outros 31 minutos de

     jogo foram apagados de sua memó-ria em razão do choque. O susto foitão grande que provocou até um cer-to receio de ver o vídeo do acidente.

    – Passei dias sem ver o lance naTV. Não sei explicar por que, masnão quis ver.

    Logo após o lance, o zagueiro Teiopresenciou cenas assustadoras.Marcão revirava os olhos e come-çou a recolher a língua. O desespe-ro tomou conta dos atletas, que ra-pidamente chamaram os médicos.O goleiro não gosta muito de citarestas lembranças, contadas peloscolegas. A sensação ruim só é es-

    quecida quando recorda das brin-cadeiras feitas pelos companheirosnos dias seguintes ao choque.

    – Teve gente até falando que umbombeiro fez respiração boca aboca. Nunca ninguém me confir-mou isso e nada aparece nos víde-os. Mas se de fato aconteceu, eu ficof eliz. Foi o melhor ‘beijo’ que já ga-nhei, pois voltei à vida – brinca.

    Marcão foi considerado comple-

    tamente recuperado um mês apóso jogo. Quando voltou a trabalhar,não teve receio por outro choque,apenas medo de um possível aci-dente vascular cerebral (AVC). Paraa sorte da torcida do JEC, o goleirose manteve saudável e cumprindomuito bem sua função.

    Prova é que, em 2001, ele voltou a jogar todas as partidas do Campe-onato Catarinense e virou prota-

    gonista da final contra o Criciúmaem razão da sua atuação impecá-vel. Com defesas quase impossí-veis, ele parou o ataque do Tigree ajudou o Joinville a assegurar obicampeonato estadual.

    – Foi a melhor atuação da minhacarreira. Dá até para dizer que foium prêmio por tudo que passei noano anterior. E teve gosto especialporque minha família esteve lá no

    Heriberto Hülse.De Maracajá – pequena cidadepróxima a Criciúma – para a his-tória do Joinville. Não há dúvidade que Marcão foi um dos grandesídolos e jamais será esquecido pelatorcida tricolor. Nem uma pancadana cabeça será capaz de apagar osfeitos do camisa 1 do JEC.

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    A maior

    Em 40 anos de história desdea fundação, o Joinville acumulouvitórias, empates e derrotas. Sãocentenas de partidas disputadas,com dezenas de jogos inesquecí-veis. Mas para quem acompanha o

    clube desde a época em que aindaera uma incerteza se a fusão entreCaxias e América daria certo, háum duelo que jamais será apaga-

    do da memória: Joinville contraDom Bosco.

    Não por ser apenas a primeiraaparição do Joinville em um Cam-peonato Brasileiro, no ano de 1977,mas por ser um confronto que fi-

    cou marcado por tensão, por dra-ma e por um milagre que o destinoreservou para Osni Fontan prota-gonizar. Atleta que havia defendido

     virada da

    historia

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    as cores das duas equipes fundado-ras do JEC, ninguém teria a estre-la maior que a do capitão naquelanoite de 16 de novembro.

    A inexperiência em competi-ções nacionais pesou para o Join-ville, que fazia uma campanha

    ruim até o jogo contra a equipedo Mato Grosso. O Ernestão ficoupequeno para tanta gente que foiapoiar o Tricolor. Derrota ou em-pate praticamente limariam asesperanças de o Tricolor avançarà segunda fase. Uma vitória se-ria bom, mas um triunfo por doisgols de diferença seria o ideal – àépoca, vitórias por só um gol dediferença davam dois pontos, já

    uma margem maior resultava nocômputo de três.

    Mas de nada adiantava a calcu-ladora em mãos. Do outro lado docampo, o Dom Bosco estava dis-posto a estirpar o sonho da equipelocal. Aos 33 minutos da primeiraetapa, os visitantes já venciam por3 a 1, com três gols do endiabradoatacante Gonçalves.

    Britinho, Cremilson e Taquinho

    foram os responsáveis por deixaro placar da peleja igual ainda antesdo intervalo – fazendo com que as

    vaias e críticas se transformassemem gritos de apoio na volta para osegundo tempo.

    Sob o comando do técnico Pau-lo Sérgio Poletto, o JEC retornoupressionando, mas a bola teimavaem não entrar. O tempo foi fugindo

    pelo relógio. A torcida já se prepara-va para deixar o estádio. O cansaço

     já fazia a perna ficar mais pesada.Mas a sorte sorriu para Fontan.Aos 39 minutos, ele fez o quarto

    gol do Joinville. O gol da virada. Acomemoração dentro das quatro li-nhas se espalhou pelos quatro can-tos do estádio. Já estava bom, maspoderia ficar ainda melhor. Trêsminutos depois, com a energia de

    um Ernestão ensurdecedor, o capi-tão fez o quinto: 5 a 3. Fim de jogo.

    – Não sei como a arquibancadanão caiu depois do quarto gol, ta-manha a vibração. Aquilo arrepiavamuito. Depois do quinto gol, nemse fala. Foi uma festa gigante. Foi o

     jogo mais empolgante que fiz peloJoinville – recorda o herói do duelo.

    Muitos torcedores do JEC nãoti