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MARLY CAROLINE MOREIRA-FERREIRA
A INTERPESSOALIDADE EM BLOGS SOB A PERSPECTIVA
SISTÊMICO-FUNCIONAL
MESTRADO EM: LINGÜÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA LINGUAGEM
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO 2006
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MARLY CAROLINE MOREIRA-FERREIRA
A INTERPESSOALIDADE EM BLOGS SOB A PERSPECTIVA
SISTÊMICO-FUNCIONAL
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como
exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em
Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem, sob
orientação do Prof. Dr. Orlando Vian Jr.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
2006
3
Banca examinadora
____________________________ Prof. Dr. Orlando Vian Jr. (Orientador)
____________________________
____________________________
4
RESUMO
O objetivo deste trabalho é analisar os elementos interpessoais presentes em blogs, bem como caracterizar a maneira como ocorre a interação entre blogueiros e usuários, uma vez que, com o advento da Internet, diversos gêneros passaram a circular no mundo virtual e torna-se necessário compreender como estes se caracterizam. O corpus de estudo compõe-se de sete blogs, todos escritos em língua portuguesa, nos quais foram analisados 251 relatos (posts) e 5.521 comentários (comments) veiculados nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2005, totalizando 215.926 palavras. Utilizou-se a Gramática Sistêmico-Funcional de Halliday (1985, 1994) e demais seguidores (Eggins, 1994, Thompson, 1996, dentre outros) para a análise da metafunção interpessoal, de forma a caracterizar a interação entre blogueiro e os usuários que acessam seu blog, para uma maior compreensão de como ocorre essa troca comunicacional no universo virtual. O corpus de estudo, classificado como pequeno-médio (de 80 a 250 mil palavras), segundo a Lingüística de Corpus (Berber Sardinha, 2004), foi submetido ao programa computacional WordSmith Tools (Scott, 1998), e às ferramentas nele disponíveis tais como Concordanciador (Concord) e Lista de Palavras (WordList) utilizadas para analisar os seis itens que caracterizam, pela freqüência com que são empregados, os textos dessa interação virtual entre os participantes no contexto digital, quais sejam: (1) formas de tratamento, (2) pronomes, (3) nomes/nicknames, (4) emoticons, (5) itens de demonstração de afeto/carinho e (6) abreviações. Com base em tais análises, os resultados apontam que a interação entre blogueiros e usuários fica estabelecida a partir do momento em que o autor deixa seu post on-line e um leitor o acessa, comentando sobre o assunto do post. O papel assumido pelo blogueiro, portanto, é o de informante, seja para dar informações sobre sua própria vida, ou qualquer outro fato ou acontecimento relatado em seu blog. O usuário assume o papel de leitor/produtor, pois ao mesmo tempo em que lê o texto pode participar de sua produção. Os blogs veiculados na Internet que compõem o corpus desta pesquisa são, portanto, textos construídos conjuntamente pelos blogueiros e pelos usuários. Palavras-chave: Blogs, Gramática Sistêmico-Funcional, Interpessoalidade.
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ABSTRACT
This study aims to analyze the interpersonal elements present in blogs and to characterize the way in which the interaction between bloggers and users occurs. Since the advent of the Internet, several genres have started to circulate in the virtual world and it has become necessary to understand their characteristics. The corpus of this study is composed of seven blogs, all of them written in Portuguese. Of these blogs, 251 posts and 5,521 comments posted in the months of January, February and March of 2005, totaling 215,926 words, were analyzed. The Systemic Functional Grammar of Halliday (1985, 1994) and followers (Eggins, 1994, Thompson, 1996, among others) was used to analyze the interpersonal metafunction, so as to characterize the interaction between bloggers and the users that access their blogs, aiming at a better understanding of how this communicational exchange occurs in the virtual universe. The corpus, classified as small-medium (from 80 to 250 thousand words), according to Corpus Linguistics (Berber Sardinha, 2004), was submitted to the software WordSmith Tools (Scott, 1998) and to the tools it offers, such as Concord and WordList, used to analyze the six items that characterize, due to the frequency with which they are employed, the texts of this virtual interaction between the participants in the digital context: (1) forms of address, (2) pronouns, (3) names/nicknames, (4) emoticons, (5) items that show affection/kindness and (6) abbreviations. Results show that the interaction between bloggers and users is established when the author posts his/her text on-line and a reader accesses it, commenting on its subject. The role assumed by the blogger, therefore, is that of informant, either to give information about his/her own life, or about any other fact or event reported in his/her blog. The user assumes the role of reader/producer, for at the same time that s/he reads the text, s/he can participate in its production. The Internet blogs that compose the corpus of this research are, therefore, texts constructed jointly by bloggers and users. Key-words: Blogs, Interpersonal elements, Systemic Functional Grammar.
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Eu queria mandar um bei jo
pro meu pai, pra minha mãe,
pra minha avó e pro Hector.
A vocês dedico mais essa conquista
7
AGRADECIMENTOS A D’us, por tudo em minha vida, principalmente meus sonhos já realizados.
Ao meu Orientador Prof. Dr. Orlando Vian Jr.
Por estar ao meu lado desde o rascunho do meu primeiro projeto, quando nem
imaginava que minha paixão pelo mundo virtual me levaria à pesquisa e me faria
apaixonar por ela também. Obrigada pela paciência que teve comigo quando fui
“alma penada” nesse caminho, e ter me apoiado sempre, me guiado para o
caminho da sabedoria e aprendido muito durante todo esse tempo. Pelos
conselhos, puxadas de orelha, encorajamento em desafiar o novo e o
desconhecido, tanto no mundo acadêmico como na vida. Pela amizade que
nasceu e espero não perder por conta do tempo e da distância. E claro, nossos
sempre animados papos sobre cinema e Harry Potter ; )
Ao meu pai.
Por me fazer sentir seu amor absoluto, pelos seus esforços, suas noites e dias
em claro, e as oportunidades que sempre me proporcionou, “obrigada” é pouco
em forma de agradecimento por tudo, te amo muito.
À minha mãe.
Por nunca ter deixado que eu desistisse de nenhum dos meus sonhos mesmo
quando eles são quase impossíveis, por ter brigado comigo pelas intermináveis
noites em que ficava conectada na adolescência, e ainda bem que eu não te
obedeci, senão nada disso poderia ter acontecido. Você é meu exemplo de mãe,
mulher, esposa e profissional, te amo.
À minha avó.
Por tudo! Eu sem você com certeza não seria nada do que sou hoje! Pelo amor,
o carinho, a educação, as palmadas, o colo, as risadas, as histórias, e suas
orações que me protegem até hoje Dona Cleuza, amo a senhora voinha!
8
Ao Mauro Sobhie e a Prof• Dra. Sumiko Nishitani Ikeda,
Por participarem da banca de qualificação, em especial à Sumiko, por todos
esses anos de aprendizagem desde o início do curso de Letras e pela inspiração
de que eu chegarei onde quiser, desde que realmente queira.
A todos os professores do LAEL.
Em especial ao Prof. Dr. Tony Berber Sardinha, pelas dicas de WordSmith
Tools, Lingüística de Corpus e Macintosh que me salvaram sempre.
A todos os meus queridíssimos amigos, especialmente.
Glooque sem seu empurrão inicial irmãzinha, nada disso teria começado.
Obrigada por muita coisa que já passei ao seu lado!
Glauco Maximiliano, que acompanhou o processo de mutação e nunca me
deixou perder o controle, me lembrando que estudar é preciso, mas viver é
ainda mais, principalmente pelas pedaladas no Ibira durante a semana ; )
Rosinha que mesmo com fuso horário, distância, gente chata e outras coisas
mais, não deixou que nada atrapalhasse nosso contato, né cumádi?!
Paulo Murilo, pelas gargalhadas que sempre dei em alto e bom som com você
ao meu lado, e também por não deixar que eu concretizasse meus planos do
futuro nos momentos de surto.
Ao CNPq
pelo apoio financeiro que viabilizou a realização dessa pesquisa e a
concretização de uma antiga ambição .
Por fim, Fel que quando precisei me surpreendeu com sua ajuda, te resumo em uma única
palavra: imprevisível. E mesmo com esse jeito distante que sempre é comigo e
com meu amor por você, God only knows what I'd be without you…
9
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................. 08
1.1 – A Internet e a Linguagem Virtual ...................................... 08
1.2 – Os blogs e a blogosfera ..................................................... 18
1.3 – A abordagem Sistêmico-Funcional da linguagem .......... 25
1.4 – O contexto ........................................................................... 26 1.4.1 – O contexto de cultura …………..................…………………...……. 27
1.5 – O contexto de situação ...................................................... 29 1.6 – As três metafunções .......................................................... 34 1.6.1 – A metafunção ideacional .............................................................. 35 1.6.2 – A metafunção textual .................................................................... 36 1.6.3 – A metafunção interpessoal ........................................................... 36
CAPÍTULO II – METODOLOGIA DE PESQUISA ........................ 43
2.1 – Apresentação do corpus ................................................ 44 2.1.1 – Descrição dos blogs ................................................................... 45
2.2 – Os blogs analisados ...................................................... 49 2.2.1 – Uma dama não comenta ............................................................ 52 2.2.2 – Jesus, me chicoteia! ................................................................... 54 2.2.3 – No limite da razão ........................................................................ 57 2.2.4 – Crônicas Mônica .......................................................................... 59 2.2.5 – Não vá se perder por aí ............................................................... 60 2.2.6 – Suburbia Tales ............................................................................. 61 2.2.7 – Your Soul ...................................................................................... 62
10
2.3 – Compilação de dados .......................................................... 65
2.4 – A ferramenta computacional WordSmith Tools ................ 67
2.5 – Lingüística de Corpus .......................................................... 74
CAPÍTLO III – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS ................ 79
3.1 – Marcas da interação blogueiro-internauta ......................... 80
3.2 – Análise dos blogs ................................................................. 85 3.2.1 – Formas de tratamento nos blogs …………………........................... 87 3.2.2 – Pronomes …………………………………….……………..................... 92 3.2.3 – Nomes/Nicknames ………………………….................………………. 97 3.2.4 – Emoticons …………………………………………………................... 103 3.2.5 – Demonstrações de afeto/carinho ………………….….................... 107 3.2.6 – Abreviações ……………………………………………….................... 112
CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................... 118
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA .................................................. 128
ANEXOS ....................................................................................... 131
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LISTA DE QUADROS QUADRO 1 – Funções da fala e suas realizações ............................................ 38 QUADRO 2 – Papéis de fala ............................................................................. 39 QUADRO 3 – Os blogs e seus autores ............................................................. 46 QUADRO 4 – Tokens e Types dos posts .......................................................... 47 QUADRO 5 – Tokens e Types dos comments .................................................. 48 QUADRO 6 – Número total do corpus ............................................................... 48 QUADRO 7 – Freqüência total de posts ............................................................ 50 QUADRO 8 – Freqüência de posts do trimestre do Blog1 ................................ 53 QUADRO 9 – Freqüência de posts do trimestre do Blog2 ................................ 56 QUADRO 10 – Freqüência de posts do trimestre do Blog3 .............................. 58 QUADRO 11 – Freqüência de posts do trimestre do Blog4 .............................. 59 QUADRO 12 – Freqüência de posts do trimestre do Blog5 .............................. 61 QUADRO 13 – Freqüência de posts do trimestre do Blog6 .............................. 62 QUADRO 14 – Freqüência de posts do trimestre do Blog7 .............................. 64 QUADRO 15 – Tamanho sugerido de corpus ................................................... 76 QUADRO 16 – Palavras freqüentes .................................................................. 83 QUADRO 17 – Freqüência de abreviações .....................................................114
QUADRO 18 – Freqüência de abreviações .................................................... 116
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – Gênero em relação ao registro e a linguagem .............................. 31 FIGURA 2 – Lista de freqüência dos blogs. ...................................................... 69 FIGURA 3 – Lista em ordem alfabética dos blogs ............................................. 70 FIGURA 4 – Lista de estatística do corpus ........................................................ 71 FIGURA 5 – Exemplo de concordância da palavra beijos feita pelo Concord .. 72 FIGURA 6 – Distância espacial ou interpessoal (Eggins: 1994: 54) ................. 73 FIGURA 7 –Gráfico de um corpora representativo ............................................ 76 FIGURA 8 – Distância espacial ou interpessoal (Eggins: 1994: 54) ................. 81 FIGURA 9 – Wordlist das palavras mais freqüentes ......................................... 82 FIGURA 10 – Clusters da palavra “você” encontradas no texto ........................ 95 FIGURA 11 – Clusters do pronome no corpus do Suburbia Tales .................... 96 FIGURA 12 – Ocorrências do nicknameAndreh, sociólogo e bípede .............. 102
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“A web é uma criação mais social que técnica.
Eu a construí para um efeito social – ajudar as pessoas a
trabalhar juntas – e não como um brinquedo tecnológico.
A finalidade última da Web é ajudar a melhorar a “teia” de nossa
existência no mundo.
Nós nos agrupamos em famílias, associações e empresas (…).
O que acreditamos, endossamos e aceitamos é representável e,
cada vez mais, representado na Web.”
Tim Berners-Lee – Weaving the Web (1999)
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INTRODUÇÃO
Com a Internet, ocorreu a possibilidade de leitura dos correios eletrônicos;
de visitas aos websites pessoais; de trabalhos de busca detalhados para
determinado tema; pagamento de contas; pedidos de produtos e, também,
escrever seu próprio diário diante da tela do computador.
Na cultura eletrônica e digital, por um lado, as comunicações não se
realizam somente por meio da linguagem adequada ao meio pela qual se está
interagindo, o da palavra gerada pela voz ou registrada pela letra digitada.
Imagens em movimento e um complexo campo de linguagens artificiais
movimentam infinitas interações, causando na cultura virtual um hibridismo significativo dessas diferentes mídias a que estamos expostos atualmente .
Por outro lado, falar de Internet hoje é refletir no que ela foi há pouco
tempo, num passado ainda recente, tamanha a sua capacidade de se expandir
e mudar, ou, em concordância com Costa (1998: xiv), nesse novo universo
digital, o usuário tem uma outra concepção de tempo e durabilidade, que faz
com que uma palavra fique ultrapassada em questão de segundos, minutos,
horas.
A disseminação de informações está se tornando cada vez mais
avançada pela associação das telecomunicações e da informática, causando um
desenvolvimento de novas tecnologias e possibilitando o intercâmbio de
informações em tempo real. A Internet tornou-se responsável por partes de
informação-relâmpago e, com isso, a realidade virtual dá a ilusão de um poder
sobre a experiência semelhante ao que exercemos sobre nossa própria
consciência.
14
O interesse de desenvolver um estudo um pouco mais intenso sobre esse
novo meio de comunicação – o virtual, ao qual estamos todos expostos cada vez
mais – iniciou-se na época da graduação em Letras, em minha pesquisa de
Iniciação Científica (Moreira-Ferreira, 2003) em que analisei nos blogs e nos
diários íntimos (relatos de guerra, especificamente), as características que ainda
havia nos weblogs e em seus precursores e as comparações entre eles,
enquanto gêneros.
Um blog (ou weblog, como também é chamado na blogosfera) é uma
página da web cujas atualizações, chamadas de posts, são organizadas
cronologicamente como um diário, escritos em diferentes lugares do mundo e
acessados em qualquer lugar, pela Internet.
É importante mencionar que estes relatos podem ou não pertencer ao
mesmo tipo de texto. Neste sentido, podemos observar que, em determinado
dia, o blogueiro escreve sobre seu cotidiano; no outro, expõe uma opinião sobre
a política do país; ainda, sobre a derrota de um time de futebol, uma crítica
sobre filmes, e assim por diante. Há também os que se referem ao mesmo
assunto, como é o caso que tomamos como modelo para esta pesquisa Jesus,
me chicoteia! em que o blogueiro Marco Aurélio se propôs a reescrever a Bíblia
sob sua visão de mundo, mesmo que em alguns dos posts ele mencione fatos
de sua vida pessoal. Além disso, podemos exemplificar com outro blog do
corpus, o Suburbia Tales, escrito por oito blogueiros diferentes.
A maioria dos blogs é um registro dos blogueiros,1 feito com total
liberdade e com o subsídio de algumas ferramentas que incluem o
armazenamento de números de acessos dos internautas2, links3 deixados pelos
1 Especificamente para este estudo, utilizo a palavra blogueiro como denominação ao escritor, autor do blog. 2 Como internauta, nomeio o visitante/leitor/comentarista dos blogs, já que ambos os participantes dessa interação virtual são internautas no mundo digital.
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blogueiros de páginas sempre visitadas ou que despertem algum interesse para
a comunidade digital, a hora em que o post foi escrito e uma série de outras
informações disponíveis, fornecida pelos servidores que abrigam determinados
sites para blogs.
No blog, ocorre um direcionamento escritor-leitor, mas, muitas vezes, há o
emprego de uma linguagem mais informal, escrita de forma diferente, chamada
de “internetês” por seus usuários. Trata-se de uma linguagem surgida no
ambiente da Internet, baseada na simplificação informal da escrita, que consiste
em uma codificação que utiliza caracteres alfanuméricos, cria novas
abreviaturas, novas formas de escrita e de significados, para adaptar-se ao meio
digital e proporcionar maior desenvoltura aos que a usufruem.
O número total dos corpora deste estudo, armazenados e coletados em
sete blogs que contêm também os posts dos blogueiros e os comments dos
internautas, de janeiro a março de 2005, é o seguinte: 215.926 palavras, 251
posts e 5.521 comments dos respectivos meses de coleta.
Assim, este trabalho propõe-se analisar os blogs com base na Gramática
Sistêmico-Funcional de Halliday (1985) e demais seguidores (Eggins, 1994;
Thompson, 1996, dentre outros) para o estudo da metafunção interpessoal, a
interação do blogueiro com o internauta que o acessa e como se dá este
intercâmbio sob a perspectiva interpessoal de Halliday (1994).
Fundamentando-nos na análise desses sete blogs que compõem o
corpus pesquisado, nos quais são interpretadas as interações entre blogueiro e
internauta, este estudo tem como objetivo responder às seguintes questões:
3 Ligação, elo, vínculo; ligar, conectar. (1) Parte de um subprograma que interage com o programa principal. (2) Seqüência de instruções que estabelecem a ligação com outra parte do mesmo programa. (3) Um campo de ligação em uma lista. (4) Em terminologia de Internet, ligação entre partes diferentes de um hipertexto ou entre um hipertexto e outro. Um caminho que o usuário pode seguir para conectar documentos e páginas na Web.
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Quais os papéis assumidos pelos internautas nos posts e nos comments dos blogs?
Quais as relações construídas por ambos no mundo virtual? Como se caracteriza essa interação criada por ambos os usuários
da Internet?
Decidiu-se utilizar o instrumento computacional WordSmith Tools (Scott,
1998), para o levantamento de uma lista de palavras (WordList) e concordâncias
que apresentavam sinais de interação entre os participantes da pesquisa
(Concord e Clusters foram usados para isso). Para isto, enfocaremos seis
elementos que caracterizam esta comunicação virtual entre os interactantes:
tratamentos (amore, calégas, people, etc.); pronomes (eu, você, este último,
em sua variação VC, muito usado na linguagem virtual); nomes/nicknames
(alguns blogueiros, como Tiago e Mônica usam seus próprios nomes, no entanto
Cacau e Your Sou, utilizam seus apelidos para assinarem seus posts);
emoticons (:), :p, ;), etc.), demonstrações de afeto/carinho (beijo, abraço,
risos) e abreviações (mto, tb, bj, pq entre outras).
Tais escolhas gramaticais, que marcam a interação entre os blogueiros e
os internautas, foram feitas a partir do levantamento das mais freqüentes nos
sete blogs, com o subsídio do WordList.
Assim, este trabalho está dividido em quatro capítulos, a saber:
O Capítulo 1 apresenta os pressupostos teóricos que embasam esta
pesquisa. Num primeiro momento, exporemos o contexto em que o corpus de
pesquisa está inserido, a Internet, pois, uma vez que o foco deste trabalho é o
blog, é necessário que compreendamos alguns tópicos relacionados ao virtual.
17
Em seguida, enfocaremos as teorias da Gramática Sistêmico-Funcional
(doravante GSF), de acordo com as noções que norteiam a visão da Lingüística
Funcional, segundo Halliday (1985, 1994) e Halliday e Mathiessen (2004).
Concentramos nossa análise na metafunção interpessoal, sob a qual tratamos
as questões que envolvem o manejo da interação, tipos de papéis e relações.
No Capítulo 2, trataremos da metodologia que norteia a presente
pesquisa. Para isso, descreveremos o procedimento de coleta e análise do
corpus, além de uma breve apresentação do instrumento computacional
WordSmith Tools 3.0 (Scott, 1998) e das ferramentas (Concord e WordList ) que
foram usadas para analisar a interação blogueiro-internauta, o foco da pesquisa.
Será descrita também a Lingüística de Corpus como fundamentação
metodológica e a apresentação dos sete blogs utilizados neste estudo.
No Capítulo 3, discutiremos e analisaremos os dados. Baseando-nos na
interpretação do sete blogs, observamos como a interação é organizada e quais
são os papéis desempenhados pelos participantes da interação, em um período
de três meses, durante os quais verificamos os posts e comments, a fim de
entender como se desenvolve a interação entre blogueiros e internautas.
Nas Considerações Finais, além de apresentar uma retomada de todo o
trabalho e os resultados obtidos, há também as limitações da pesquisa, alguns
problemas apresentados em decorrência da velocidade em que surgem quase
todas as informações no mundo digital, seguidas das contribuições para os
outros estudos na área e as possibilidades de estudos futuros que envolvam os
blogs.
Finalmente, mencionaremos as Referências Bibliográficas utilizadas
para o trabalho, e, nos Anexos a página inicial de cada diário virtual que fez
parte do corpus de pesquisa.
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“A distância significa cada vez menos no mundo digital.
De fato um usuário da Internet não se apercebe dela (…) quando
um sistema de entrega que se parece mais com a Internet
começar a ser usado no mundo do entretenimento, o planeta se
tornará uma só máquina de mídia.
Casas equipadas hoje com antenas movies de satélite já têm o
gostinho de uma variedade enorme de programação, sem
barreiras geopolíticas.
O problema é como lidar com tudo isso.”
Nicholas Negroponte – A vida digital (1995)
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CAPÍTULO 1
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O objetivo deste capítulo é descrever os pressupostos teóricos que dão suporte a este trabalho. Em um primeiro momento, será exposto o contexto em que o corpus de pesquisa circula, ou seja, a Internet, pois, uma vez que o foco
deste trabalho é o blog, é necessário que compreendamos alguns tópicos
relacionados ao virtual.
Serão apresentados, também, os domínios da Internet, nos quais o blog
se insere e será igualmente descrita a linguagem virtual utilizada e empregada
neste meio de comunicação digital, além de um breve histórico da blogosfera.
Em seguida, como já mencionamos, enfocaremos a abordagem de
linguagem adotada neste trabalho, as teorias da Gramática Sistêmico-Funcional
(doravante GSF), de acordo com as noções que norteiam a visão da Lingüística
Funcional, segundo Halliday (1985, 1994) e Halliday & Mathiessen (2004). Com
base na abordagem sistêmico-funcional, concentramos nossa análise na
perspectiva interpessoal, sob a qual tratamos as questões que envolvem o
manejo da interação, tipos de papéis e relações.
1.1 – A INTERNET E A LINGUAGEM VIRTUAL
A Internet, a maior rede de computadores do mundo, se caracteriza pela
forma descentralizada em que atua e oferece serviços de comunicação de
dados, como acesso remoto, transferência de arquivos, correio eletrônico,
21
grupos de discussão, entre outros artifícios que surgem diariamente nela.
Refletir sobre esta rede nos dias atuais, como já afirmamos, é relembrar o que
ela foi num passado não muito longínquo, tal a maneira como ela se transforma .
Sem dúvida, é preciso considerar a modernidade, as novas tecnologias,
novas terminologias que representam entre outras coisas as transformações – e
por que não, concordando com Lévy (1996) “a revolução pela qual passamos na
atualidade: a passagem da Era Analógica para a Digital”. Esta abertura digital
não se restringe somente às mudanças tecnológicas, mas traz consigo
mudanças sociais, culturais, econômicas, entre outras, que por sua vez
transformam, não somente o cotidiano, mas o modo como percebemos o
mundo, ou, como cita Lévy (1999:32):
Vivemos hoje em uma destas épocas limítrofes na qual toda a antiga ordem de representações e dos saberes oscila para dar lugar a imaginários, modos de conhecimento e estilos de regulação social ainda pouco estabilizados. Vivemos um destes raros momentos em que, a partir de uma nova configuração técnica, quer dizer, de uma nova relação com o cosmos, um novo estilo de humanidade é inventado.
A quantidade de informações a que somos expostos está se tornando
cada vez mais avançada, em decorrência da associação das telecomunicações
e da informática, dando causa ao desenvolvimento de novas tecnologias que
possibilitam o intercâmbio de informações em tempo real.
Segundo Marcuschi e Xavier (2004:10), “o computador será nos próximos
anos tão fundamental como a geladeira, o fogão ou a escova dental”, pois tudo,
ou quase tudo, poderá ser feito através da Internet acessada ao computador, e
facilitará a vida do usuário para resolver os afazeres comuns do dia-a-dia, como
pagar uma conta, fazer compras no supermercado, escolher o jantar no site de
seu restaurante de preferência, mandar um cartão de aniversário, receber/enviar
notícias a parentes e amigos distantes, e muitas outras comodidades que essa
dupla tecnológica nos proporciona.
22
Os primeiros computadores4 surgiram na Inglaterra e nos Estados Unidos,
em 1945, porém estavam restritos ao uso militar e aos cálculos científicos.
Somente a partir da década de 70, com o desenvolvimento e comercialização de
microprocessadores (unidade de cálculo aritmético e lógico localizado em um
pequeno chip eletrônico) é que tiveram início diversos processos econômicos e
sociais de bastante amplitude, que, de acordo com Lévy (1997:31):
(...) abriram uma nova fase na automação da produção industrial: robótica, linhas de produção flexíveis, máquinas industriais com controles digitais, etc. Presenciaram também o princípio da automação de alguns setores do terciário (bancos, seguradoras). Desde então, a busca sistemática de ganhos de produtividade por meio de várias formas de uso de aparelhos eletrônicos, computadores e redes de comunicação e dados aos poucos foi tomando conta do conjunto das atividades econômicas. Esta tendência continua em nossos dias.
A tecnologia e os conceitos fundamentais utilizados pela Internet surgiram
de projetos produzidos ao longo dos anos 60, pelo Departamento de Defesa dos
Estados Unidos. Esses projetos tinham em vista o desenvolvimento de uma rede
de computadores para comunicação entre os principais centros militares de
comando e controle para que pudessem sobreviver a um possível ataque
nuclear.
Em 1957, a então União Soviética pôs em órbita o satélite espacial
Sputnik. Quatro meses depois, nos Estados Unidos, foi criada a ARPA
(Advanced Research Projects Agency) com a missão de pesquisar e
desenvolver alta tecnologia para as forças armadas. Surgiu deste modo um novo
conceito: a comunicação em rede.
Em 1969, a “rede de pacotes”, sob o nome ARPAnet, conectou quatro
universidades norte americanas: Stanford, Berkelly, UCLA e Universidade de
Utah. Ao longo das décadas de 70 e 80, muitas universidades se conectaram a 4 Todos os dados históricos referentes ao computador foram coletados do site http://widesoft.com.br/users/virtual/parte1.htm (acessado em 17/11/2005), e, quando não houver referência, são experiências de fatos já conhecidos pela pesquisadora.
23
essa rede o que conduziu a ação militarista ao uso da rede para uma motivação
mais cultural e acadêmica. Em meados de 1980, a NSF (National Science
Foundation) dos Estados Unidos constituiu uma rede de fibra ótica de alta
velocidade, conectando centros de supercomputação localizados em pontos-
chave do país.
Essa rede NSF, chamada de “backbone da NSF”, teve um papel
fundamental no desenvolvimento da Internet nos últimos anos desde a metade
da década de 80 quando foi criado, por ter reduzido substancialmente o custo da
comunicação de dados para as redes de computadores que foram estimuladas a
se conectarem ao backbone da NSF. Em abril de 1995, o controle da backbone
pela NSF acabou passando para o controle privado.
A WWW (World Wide Web5) nasceu em meados de 1991 no Laboratório
CERN (Conselho Europeu para Pesquisa Nuclear), na Suíça. Seu criador, Tim
Berners-Lee, a concebeu como uma linguagem que serviria para interligar
computadores do laboratório e de outras instituições de pesquisas, além de
exibir documentos científicos de forma simples e ser fácil de acessar. O
endereço da Web é chamado de URL6, e cada recurso (site ou arquivo) tem um
URL, que é o endereço da web. O sistema mais utilizado para a transferência de
dados da Web pela Internet é o http7, ou o protocolo de transferência de
hipertexto.
5 Todos os dados históricos referentes à Internet foram coletados do site http://www.isoc.orr/internet/history/brief.shtml (acessado em 23/11/2005), exceto as partes referentes à Internet no Brasil. Quando não houver referência, se trata de experiências de fatos já [sabidos]= conhecidos pela pesquisadora. 6 Uniform Resource Locator (localizador uniformizado de recursos). Na internet, uma forma padronizada de se especificar o endereço de qualquer recurso, site ou arquivo existente em um servidor da WWW. Em outras palavras, é o endereço de um site da WWW na Internet. 7 HyperText Transfer Protocol (protocolo de transferência de hipertexto): o modo pelo qual os dados em um documento de HTML [(HyperText Markup Language – linguagem de marcação de hipertext - linguagem que permite criar programas que trabalham com textos e imagens numa mesma tela simultaneamente] são transferidos entre um servidor e um cliente na WWW. É o
24
O que determinou o crescimento da Web foi a criação de um programa de
navegação chamado Mosaic, que permitia o acesso a Web num ambiente
gráfico, parecido com o Windows. Antes do Mosaic só era possível exibir textos
na Web.
A WWW disponibiliza os recursos ao usuário de maneira simples: links
(apontadores) são incluídos no hipertexto8 /texto e indicam a localização do alvo,
que pode ser outro texto, uma imagem, uma parte de outro texto, um servidor de
Gopher 9, um serviço de FTP10 ou qualquer outro tipo de informação.
A rede é um sistema aberto, definido por Castells (2000:498) como: “(...)
um conjunto de nós interconectados. Nó é o ponto no qual uma curva se
entrecorta”. É a conexão entre esses nós, conhecidos como hipertextos,
determina o funcionamento da rede. A Internet é considerada a rede das redes,
ou melhor, a única rede que permite o fluxo de informação estabelecido pelos
nós.
O trabalho de localização e exibição das novas informações é feito a
partir de sua aplicação local em contato com o provedor e, por meio deste, com
os demais servidores. Os links incluídos nos textos dos documentos não são
vistos diretamente pelo usuário, mas são interpretados e exibidos somente pelo
browser11, que apresenta uma ou mais palavras sublinhadas ou sensibiliza uma
imagem ou um ícone que aciona no sistema uma direção como a do hipertexto.
protocolo mais usado para transferir informação de servidores a navegadores na WWW, razão pela qual a maioria dos endereços das páginas da Web começa com http://. 8 Texto não-linear, caracterizado pela presença de links que ligam vários documentos. 9 Sistema de redes que permitia, com software adequado, guiar o usuário de um arquito a outro. 10 File Transfer Protocol: define uma estratégia para os arquivos serem transferidos por meio da Internet. 11 Programa gráfico utilizado para navegar na WWW.
25
A chave de sucesso da WWW é o hipertexto. Os textos e imagens são
interligados através de palavras-chave, tornando a navegação simples e mais
agradável. A Web fez pela Internet o que o Windows fez pelo computador
pessoal (antes da Web os comandos eram em UNIX12 – linguagem de
computador usada na Internet).
É possível, por meio da Internet, enviar e receber mensagens, pesquisar,
buscar informações, participar de cursos a distância, fazer propaganda,
comercializar produtos e serviços, divertir-se ou, simplesmente, “navegar” pelo
mundo virtual. No entanto, dada à rapidez com que a Internet se instalou na vida
de seus usuários, provavelmente, muitos serviços e usos estão por vir, ou como
nos diz Lévy (1997:26):
[...]muitas vezes, enquanto discutimos sobre os possíveis usos de uma dada tecnologia, algumas formas de usar já se impuseram. Antes de nossa conscientização, a dinâmica coletiva escavou seus atratores. Quando finalmente prestamos atenção, é demasiado tarde.
Em 1990, foi criado um projeto do Ministério da Educação – A Rede
Nacional de Pesquisa (RNP) – para gerenciar a rede acadêmica brasileira. Em
1992, instalou-se a primeira “espinha dorsal”, com a finalidade de conectar a
Internet nas principais universidades e em centros de pesquisa do país, além de
algumas organizações não-governamentais, como o Instituto Nacional de
Análises Sociais e Econômicas (IBASE13).
Com a elaboração de softwares e interfaces cada vez mais fáceis de
serem manipuladas, as pessoas foram se encorajando a participar da rede. O
grande atrativo da Internet era poder trocar e compartilhar idéias, estudos e
12 Sistema operacional produzido pelos Bell Laboratories em 1971 para os microcomputadores DECPDP11. 13 http://www.aisa.com.br/historia.html#origem - acessado em 23/11/2005.
26
informações com outras pessoas que, muitas vezes, nem se conheciam pessoalmente.
Em 1994, no dia 20 de dezembro, a EMBRATEL lançou o serviço
experimental a fim de conhecer melhor a Internet e em 1995, foi liberado seu
uso comercial, no Brasil. Em meados de 1997, surgiram no país os primeiros
provedores de acesso comerciais à rede.
Já é consenso que a Internet tornou o mundo menor, pois com o tempo a
rede foi evoluindo e hoje existe uma verdadeira teia de conexões. É importante
ressaltar que a Internet é o nome dado a todo o sistema (cabos, protocolos,
conexões, roteadores), que permite que as pessoas, dos seus
microcomputadores, se conectem e se comuniquem com os demais
computadores, para localizar informações ou manter contato com amigos
Ao tecermos considerações sobre a Internet, é necessário que
consideremos também a linguagem utilizada nos meios virtuais e a oposição
entre real e virtual, questão discutida por Lévy, em “O atual e o virtual”
(1996:15), em que o autor considera, primeiramente, a oposição fácil e
enganosa entre real e virtual. A palavra virtual é empregada para a pura e
simples ausência da realidade.
Virtual vem do latim medieval virtualis, derivado de virtus, forças,
potências. O virtual tende a atualizar-se; virtualidade e atualidade são apenas
duas maneiras de ser diferentes.
O virtual é o nó de tendências ou de forças que acompanha uma
situação, um acontecimento, um objeto ou uma entidade qualquer e que chama
um processo de resolução: a atualização.
27
A utilização das novas tecnologias está modificando e redefinindo a
experiência humana, ao gerar novas relações a partir de “redes” de
comunicação. As redes eletrônicas, os satélites e os aparatos de difusão tornam
próximos e presentes e, até mesmo em tempo real, acontecimentos separados
por dimensões físicas e geográficas, por meio da convergência do suporte
técnico, do conteúdo e da veiculação das informações e/ou serviços.
Com o surgimento da Internet, criou-se um ambiente diferente: o
ciberspaço, definido por Lévy (2000:92) como:
(…) um espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores. Essa definição inclui o conjunto dos sistemas de comunicação eletrônicos (aí incluídos os conjuntos de redes de hertzianas e telefônicas clássicas), na medida em que transmitem informações provenientes de fontes digitais ou destinadas à digitalização.
O ciberespaço e as novas tecnologias são intermediárias do contato entre
duas ou mais pessoas, estabelecendo uma comunicação intermediada por
computadores que proporcionam outros tipos de relações, como: homem-
homem, homem-máquina e máquina-máquina.
A comunicação não é somente com uma máquina, mas a partir de
conexões em rede pode-se comunicar com inúmeras máquinas, sem saber qual
o caminho percorrido pela informação. Considere-se, também, a interação
máquina-máquina quando são trocadas informações; ou seja, para o acesso à
Internet, o computador está interagindo com outros, passando informações e
buscando outras.
Com toda essa nova maneira de comunicar-se com o outro pela Internet,
essa interação entre os usuários dessa novidade digital, sofreu uma
‘virtualização’.
28
Como se pode depreender pelo exposto anteriormente, é muito difícil
separar os mundos real e virtual. Desta fronteira ou interface difusa emerge uma
ligação tão íntima e estreita que eles acabam por se fundir em um complexo
ainda maior.
Lévy (2000:81) alerta para os aspectos da interatividade, considerando a
gerada pelo telefone como maior ou menor que a proporcionada pelas novas
tecnologias, dependendo da interpretação.
E ainda complementa:
A comunicação por mundos virtuais é, portanto, em certos sentidos, mais interativa que a comunicação telefônica, uma vez que implica, na mensagem, tanto a imagem da pessoa como a da situação, que são quase sempre aquilo que está em jogo na comunicação. Mas, em outro sentido, o telefone é mais interativo, porque nos coloca em contato com o corpo do interlocutor. Não apenas uma imagem de seu corpo, mas sua voz, dimensão essencial de sua manifestação física.
A realidade virtual somente é possível de ser experimentada porque o
mundo real serve de parâmetro para a definição do que pode ser considerado
virtual, concretizando assim a sua existência. Porém, não se pode traçar
quaisquer correlações entre o inconsciente e o virtual e entre o consciente e o
real. Tampouco se pode dizer que o inconsciente seja o virtual do consciente, e
muitas vezes o imaginário não precisa necessariamente ser inconsciente para
existir como pode ser observado, por exemplo, em Lévy (2000).
A transição do texto impresso para o eletrônico promete criar uma
mudança brusca na maneira como acessamos, lemos e entendemos a
informação.
O computador representa não apenas revolução como também evolução:
após a transcrição do cursivo para o impresso, uma nova grafia passou a existir.
29
Como exemplo, nesse meio virtual, a palavra beijos pode ter as seguintes
variações de escrita: bjs, bjos, bejos, bjus, e talvez tantas outras, pois o modo de
escrita de cada internauta é uma característica única, somente dele, a sua
identidade no mundo virtual que o faz ser único, singular, distinto dos demais
habitantes que vivem nesse mesmo espaço digital.
Com a revolução do mercado mundial, a multimídia ou a comunicação
interativa é o mais recente meio utilizado, graças ao vertiginoso desenvolvimento
dos sistemas de computação pessoal, que invadiram todos os setores da
atividade humana.
Essa nova forma de interação social afeta o indivíduo e sua identidade,
porquanto os novos gêneros virtuais passaram a participar da vida de todos e
fizeram com que o cotidiano se modelasse com o século XXI e a sua
modernidade deste século, e, conseqüentemente, dos próximos, segundo
especifica Levy (2004:17): “a ’virtualização’ não é uma desrealização (a
transformação de uma realidade num conjunto de possíveis), mas uma mutação,
um deslocamento”.
Com essa inovação na forma de comunicação virtual, novos meios de
compartilhar as informações nela disponibilizadas foram criados, ou melhor dizendo,
modificados, dentre eles, a linguagem virtual utilizada na Internet que, segundo Lévy
(1996), se distingue, conceitualmente, do reino do ficcional e do imaginário. O
que a torna diferente da locução comumente vista como tal é o fato de que essa
linguagem virtual se torna possível pela informática – dos computadores e das
telecomunicações.
A virtualização da linguagem surgiu pelo próprio fato de ela ter
ultrapassado as novas fronteiras, uma necessidade para que se adaptasse a
esse novo mundo, entre o virtual e o real, o que pode ser bem ilustrado no caso
da chamada "comunidade virtual".
30
Uma comunidade virtual, no sentido em que se emprega a expressão
hoje, é uma comunidade constituída por pessoas que não habitam
necessariamente numa mesma região, mas que se encontraram e se mantêm
unidas através de computadores e das telecomunicações - isto é, através das
muitas redes de comunicações que hoje interligam os usuários de
computadores.
Para Marcuschi (2004:64), a idéia de linguagem virtual parece clara
quanto à escrita “nos gêneros em ambientes virtuais que se dá numa certa
combinação com a fala, manifestando um hibridismo ainda não bem conhecido e
muitas vezes mal compreendido”, pois no meio em que esse tipo de língua
circula, existem diversas maneiras de escrita, uma mescla entre o oral e o
escrito, muitas vezes, criando outras abreviações, novos símbolos e diferentes
significados.
Todas as transformações ocorridas nos meios de comunicação levaram o
indivíduo a construir significados diversos para sua interação no contexto sócio-
histórico ao qual pertence, adaptando-se às mídias e linguagens tecnológicas
mais recentes, e em meio a essa novidade, o universo digital, encontra-se o
objeto de estudo da presente pesquisa: o blog, que passaremos a conhecer a
partir de agora, desde sua origem na Internet.
1.2 – OS BLOGS E A BLOGOSFERA
O blog é um gênero emergente e híbrido do diário confessional, e de
acordo com Marchuschi (2004:13), “os gêneros emergentes nessa nova
tecnologia são relativamente variados, mas a maioria deles tem similares em
outros ambientes, tanto na oralidade como na escrita”. Daí a idéia de que o blog
pode ter surgido a partir de uma adaptação do diário para o meio digital.
31
Por conta disto, dessa informatização de tudo o que esteve recentemente
no nosso passado, falar de Internet é ter um dado diferente a cada segundo que
se torna já ultrapassado quase no mesmo instante de sua criação. Dessa forma,
o computador passou a desenvolver uma linguagem própria para seu ambiente
virtual, a fim de se adaptar às novas formas de ver o mundo digital, ou seja, ele
diverte, educa, emociona, motiva, informa, orienta, enfim, nos faz comunicar
com o mundo todo por meio de uma tela de acrílico, um cabo de fibra óptica,
uma unidade central de sistema e um teclado.
Podemos acrescentar que esta máquina vem quebrando barreiras, pois
desaparecem as fronteiras existentes entre as pessoas, uma vez que podem
estabelecer contato com vários lugares do mundo, ou para uma conversa
informal iniciada no chat de algum site, ou para compensar as saudades de
alguém por intermédio de uma webcam, além de propiciar uma comunicação
muito mais rápida do que as cartas, telegramas ou mesmo telefonemas,
mediante o e-mail.
Dentre os gêneros veiculados no mundo virtual, um revelou-se
significativo na modernidade: o blog. Por ser um item virtual de fácil acesso, não
necessita de que o usuário seja um programador ou saiba os segredos de
linguagens de programação, o HTML,14 o Java15 ou qualquer outra, podendo
se hospedar em qualquer provedor em que haja esta ferramenta.
Algo simples, fácil tanto para acessá-lo quanto para atualizá-lo e, talvez,
o motivo para ter se tornado esse fenômeno: a praticidade Internet. A agenda
contendo rabiscos, confidências, com fotos e bilhetinhos colados, é típica do
14 Linguagem de marcação de hipertexto. Linguagem que permite criar programas que trabalham com textos e imagens numa mesma tela simultaneamente. 15 Uma linguagem de programação baseada em rede, é especificamente projetava para escrever programas que possam ser “baixados” (transferidos por download) para o computador do usuário por meio da Internet, e imediatamente executados sem o temor de vírus ou outros malefícios que possam causar danos ao seu computador ou arquivos.
32
adolescente, porém, criar um mundo próprio e personalizado na blogosfera foi o
meio que os adultos encontraram para soltar a imaginação, expondo farto
material.
Para Crystal (2001:170, apud Marchuschi, 2004:63) a interação que
acontece no meio virtual é fascinante por “observar a linguagem em seu estado
mais primitivo” e por se evidenciar uma “versatilidade lingüística entre as
pessoas, sobretudo nos jovens”, pelo fato da nova geração que nasceu e até
mesmo cresceu juntamente a origem e propagação da Internet pelo mundo
afora, ingressar neste universo cada vez mais cedo, podendo ter como primeiro
brinquedo, em muitos casos, um teclado de computador.
Ao considerarmos os blogs a partir de uma perspectiva histórica,
veremos que há controvérsias sobre a sua história. Há quem afirme ter sido
usado pela primeira vez em dezembro de 1997, por John Barger16 (também
autor de um dos primeiros FAQs – frequently asked questions) para descrever
sites pessoais que fossem atualizados freqüentemente e tivessem comentários e
links acessíveis aos usuários.
Porém, há pessoas que dizem que seu início se deu quando foi criado o
Blogger17 que tem como domínio o blogspot.com, em agosto de 1999, pelo
norte-americano Evan Williams18, criador do maior site hospedeiro de blogs,
mundialmente falando.
No entanto, há ainda quem afirme que o primeiro weblog foi o primeiro
website, o site construído por Tim Berners-Lee, quando instituiu a Web19, o qual,
16 John Barger: http://barbela.grude.ufmg.br/gerus/noticias.nsf (acessado em 11/11/2005) 17 http://www.blogger.com 18 http://www.novae.inf.br/bicarato/livrespornatureza/htm (acessado em 11/11/2005) 19 http://www.isoc.orr/internet/history/brief.shtml (acessado em 23/11/2005)
33
felizmente, ficou arquivado no World Wide Web Consortium20.
A única certeza é que se trata de um fenômeno bastante recente, existente
há apenas poucos anos, mas, apesar disso, o seu desenvolvimento tem sido
significativo, havendo já inúmeras pessoas denominadas blogueiras.
Os números da blogosfera, quando os dados utilizados para esta
dissertação foram coletados, apresentavam as seguintes características, de
acordo com informações obtidas pelo site Technorati21:
existem 40,7 milhões de blogs em todo o mundo;
a cada dia são criados, mais ou menos, 75 mil novos blogs;
existem na blogosfera que hospeda os blogs, 2,4 bilhões de links;
cerca de 1,2 milhões de posts são publicados por dia; com 50 mil
updates por hora;
são 70 milhões de usuários, isto é, 14% dos internautas do planeta;
no Brasil, 43% dos internautas lêem blogs regularmente;
os brasileiros passam 23% do seu tempo de navegação visitando
blogs e comunidades virtuais.
Quando se procura uma explicação para o fato de mais de 1 milhão de
pessoas22 se dedicarem à manutenção diária de blogs, pode-se pensar que a
resposta seja quase sempre a mesma: eles oferecem um meio por onde podem
se expressar e serem compreendidos por inúmeras pessoas, seus leitores, que
não só lêem, como também opinam a respeito da vida do blogueiro em questão. 20 World Wide Web: literalmente, “Teia (Rede) Mundial”. A Word Wide Web é um acervo universal de páginas da Web (Web pages) interligadas por vínculos (links), o qual fornece ao usuário informações de um completo banco de dados multimídia, utilizando a Internet como mecanismo de transporte. 21 Technorati: http://www.technorati.com (acessado em 15/3/2006) 22 Dados extraídos do Blogger, em março de 2005, quando foi realizada a coleta de dados desta pesquisa.
34
Outro fato é que os próprios blogueiros também são leitores de blogs que
pertencem a algum outro blogueiro. Eles partilham informações, utilizam um
mesmo vocabulário ampliado com novos significados e criam eventos para se
encontrarem fora do “mundo virtual”, fazendo com que os cabos de fibras
ópticas ultrapassem isso tudo e façam com que eles formem laços de amizades
reais.
São raros os blogueiros que não oferecem na sua página links para
outros blogs que considerem relevantes para seus leitores. É uma forma de lhes
recomendar blogs de amigos reais e virtuais. Por isso, para um blogueiro, ter
amizades com muitos outros é aumentar o número de visitantes em seu blog.
Em relação às características e à origem da palavra, temos que blog é a
abreviatura para o termo inglês "weblog". Trata-se de uma página web
atualizada freqüentemente, na maioria das vezes, diariamente, composta por
posts que podem conter, além dos textos, fotos, endereços de outros sites e até
mesmo outros blogs, e tudo o mais que o blogueiro sentir vontade de expor e
sua imaginação permitir, em ordem cronológica, da última atualização para a
primeira
Usar um blog é como mandar uma mensagem instantânea para toda a
web. Uma pessoa escreve sempre que se vir impelido a divulgar um assunto ou
mesmo opinar sobre algo que lhe chamou a atenção a que todos os que visitam
o seu blog têm acesso. Note-se também que, mediante esta ferramenta, pode-
se desvendar certos sigilos, como aconteceu com a empresa americana
Kryptonite, que fabrica cadeados: um blogueiro descobriu que com qualquer
caneta Bic pode-se abrir uma popular trava de bicicletas. “A noticia se espalhou
como fogo em mato seco pela rede e o estrago já estava feito”, como
exemplificou Guimarães (2006), repórter, em matéria publicada na revista
Exame (2006:23).
35
Os blogs não somente manifestam idéias ou sentimentos do autor, mas
também podem contar com a colaboração de um grupo de pessoas que se
reúnem para atualizar um mesmo blog. Então, observa-se que eles podem ser
individuais ou coletivos, característica que os diferenciam de seu precursor, o
diário íntimo.
Os blogs contêm textos de diversas naturezas: empresariais, ecológicos,
relativos à medicina, quando expõem sobre alguma doença, dentre muitos
outros. Muitas vezes, são personalidades famosas que descrevem seu próprio
cotidiano; enfim, qualquer fato que se queria propagar no mundo virtual.
O blog diferencia-se das outras formas de relacionamento virtual (e-mail, chats,
instant messages, fórum, listas de discussão, e até a mais nova febre virtual: o
Orkut, entre outras coisas a que somos apresentados à este mundo a todo
instante) justamente pela sua dinâmica e interação possibilitadas pela facilidade
de acesso e de atualização. Cada uma dessas formas de interação virtual tem
sua dinamicidade, uma complementa a outra, tratando-se de comunicação
virtual.
A utilização destas tecnologias está modificando e redefinindo a
experiência humana, ao gerar novas relações a partir de “redes” de
comunicação. As redes eletrônicas, os satélites e os aparatos de difusão tornam
próximos e presentes, e até mesmo em tempo real, acontecimentos separados
por dimensões físicas e geográficas, por meio da convergência do suporte
técnico, do conteúdo e da veiculação das informações e/ou serviços.
Note-se que tais meios de comunicação usando as mais recentes
tecnologias torna-se mais ágil, pois diminuem as barreiras de acesso às
informações com os novos dispositivos, criando uma sociedade que percebe a
necessidade do uso de informes de maneira estratégica para o aumento da
36
produtividade das empresas. E a Internet está presente neste contexto,
disponibilizando os novos recursos tecnológicos para as organizações
adquirirem a competitividade empresarial.
O mundo de possibilidades oferecidas pela Internet é permeado pela
discussão da viabilidade da comunicação um-a-um em detrimento da
comunicação um-para-todos, pois a primeira exige que o receptor escolha as
alternativas para atender às suas próprias necessidades, sejam estas pessoais
e/ou comerciais.
A Internet propicia a abertura para a criação, o compartilhamento de
informação e proporciona liberdade de escolha no acesso a essas informações,
que vão desde os dados às imagens criativas, interferindo na seleção e
produção de signos e de significados.
Dessa forma, o blog pode ser considerado um dos mais recentes
fenômenos da escrita no contexto digital a ser investigado – pelo menos, até o
surgimento de outra novidade, mesmo já sabendo que o novo boom do
momento é a rede de relacionamentos Orkut, no ar desde o início de 2005, mas
que com certeza, como os demais utilitários na Internet, não terá seu tempo
muito prolongado.
É por meio da interação blogueiro-internauta que essa pesquisa vai se
tornar válida para os estudos lingüísticos, principalmente para aqueles que
envolvem a abordagem sistêmico-funcional da linguagem, em que essa troca de
comunicação virtual será discutida à luz da perspectiva da metafunção
interpessoal de Halliday (1985, 1994), Halliday & Mathiessen (2004) e da teoria
de Thompson (1995, 1996) sobre papéis desempenhados e projetados.
É apresentada agora a teoria que tomamos como base para a validade do
presente estudo sobre a interação nos blogs, a gramática sistêmico-funcional,
37
que nos mostrará o entendimento de como a linguagem varia, de acordo com o
usuário e de acordo com as funções para as quais ela está sendo usada.
1.3 – A ABORDAGEM SISTÊMICO-FUNCIONAL DA LINGUAGEM
A abordagem sistêmico-funcional preocupa-se com as escolhas léxico-
gramaticais feitas num determinado contexto e os diversos significados que
podem estar inseridos nele.
Para Eggins (1994:144-145) a maneira como se utiliza a linguagem não é
certa ou errada, mas sim o que venha a ser adequado ou inadequado num
determinado contexto de uso, por exemplo, o tipo de linguagem que o falante
usa numa roda de amigos no bar, em casa com seus pais ou no ambiente de
trabalho falando com o chefe.
Uma abordagem sistêmico-funcional enfocará sempre uma interação
social na qual as pessoas usam textos falados ou escritos, a fim de estabelecer
um significado para aquilo que é exposto pela língua pelos sujeitos desta
influência mútua. Eggins (1994:02) conclui que “em outras palavras, a função
geral da linguagem, é somente semântica 23”, pelo fato de englobar aspectos
funcionais, semânticos, contextuais e semióticos, em que escolhas lingüísticas
são feitas para gerar significados a esses textos que o usuário da língua faz
valer-se dessa interação social.
Segundo Martin (1997:4), a linguagem e o contexto social como sistemas
semióticos em uma relação de realização, ou codificação, entre si, são tratados
pela lingüística sistêmico-funcional, por conta de que, em um específico tipo de
contexto social, as escolhas léxico-gramaticais são feitas de acordo com o
23 Todas as traduções são de minha inteira responsabilidade.
38
próprio contexto em que a situação está ocorrendo e os significados que estão
expostos àquela presente ocasião.
Complementando: uma rede de sistemas lingüísticos interligados nos
serve para construir significados, e é dessa maneira que a abordagem
sistêmico-funcional percebe a língua, porque ela é entendida como um sistema
de significados em relação à estrutura social. “A característica distintiva dos
sistemas semióticos é que cada escolha no sistema adquire seu significado em
comparação ao pano de fundo de outras escolhas que poderiam ter sido feitas”
(Eggins,1994:3).
Assim, na visão sistêmico-funcional existem duas dimensões, contexto de
situação e contexto de cultura, que contribuem para caracterizar o contexto
social das escolhas lingüísticas que ocorrem em um texto, como poderemos
conferir no item seguinte.
1.4 – O CONTEXTO
Halliday (Halliday & Hasan, 1989:05) afirma que o contexto antecede o
texto e a situação precede o discurso nele aplicado, por este motivo o contexto é
um elemento significante na abordagem de um determinado gênero.
Podemos deduzir um contexto a partir de um texto; podemos predizer a
língua a ser usada através de um texto e somente com o contexto podemos
dizer que significado está sendo construído. Segundo Halliday (1994), há uma
relação entre a organização da linguagem (as três metafunções que reúnem
significados) e os elementos contextuais.
O autor apresenta três variáveis que devem caracterizar um contexto: o
modo do discurso, as relações do discurso e o campo do discurso e ao conjunto
39
dessas três variáveis denominamos registro (Halliday & Hasan, 1989), como
veremos mais adiante.
Portanto, podemos identificar um texto e saber em que tipo de contexto
ele foi criado, mesmo que não tenhamos esses dados em mãos, visto que,
segundo Thompson (1996:09) “uma importante implicação da visão funcional da
linguagem é que o contexto e a linguagem são interdependentes24 uma da
outra”, já que as escolhas feitas e os significados que o texto, falado ou escrito,
apresenta, são identificados prontamente pelo usuário da língua, mesmo ele
desconhecendo o contexto, de tal modo que os contextos de cultura e de
situação, com certeza, influenciam na construção dos textos dos usuários.
1.4.1 – O CONTEXTO DE CULTURA
Segundo Eggins (1994:25), o entendimento de como as pessoas usam
linguagem e como a linguagem é estruturada para uso “envolve a análise de
interações lingüísticas completas (textos) e palavras, para lembrar da
importância do contexto situacional e cultural em entender o que o texto diz e o
que ele faz”
O contexto de cultura refere-se à interação, através da qual a linguagem é
usada, a fim de alcançar objetivos culturalmente adequados, por meio de um
certo gênero do qual se esteja falando, como, por exemplo, a linguagem na
Internet que utiliza pontuação para expressar sentimentos, que são chamadas
de smileys ou emoticons.
24 Grifo nosso.
40
Porém, um gênero só é configurado pela presença de elementos
obrigatórios em sua estrutura, apresentando, ainda, elementos opcionais e
recursivos que podem estar presentes no texto.
A essa estrutura obrigatória formada pelos estágios obrigatórios do
gênero dá-se o nome de Estrutura Potencial de Gênero (EPG). No caso dos
blogs, como exemplo, tais estágios se apresentam da seguinte maneira: data,
saudação inicial, mensagem, despedida (opcional) e saudação final. A presença
desses elementos numa ordem padrão permite que percebamos se o texto está
completo ou não.
Hasan (Halliday e Hasan, 1989) acrescenta que os elementos opcionais
são, por definição, aqueles que podem ocorrer, mas não obrigatoriamente. Com
base na exploração de todas as possibilidades de elementos opcionais e
obrigatórios que possam existir em um gênero, assim como a ordem em que
eles aparecem , fica estabelecida a sua EPG.
A autora ainda complementa seu trabalho, descrevendo o texto como
uma unidade de significado, como a linguagem, que é funcional num dado
contexto e cujos elementos que compõem a estrutura do texto devem ser
definidos a partir do papel, ou seja, da função que desempenham naquela
configuração textual específica.
Observa-se que o gênero encontra-se num plano superior ao registro e
este, por sua vez, superior à linguagem. O gênero se define após o
reconhecimento do uso da estrutura em estágios, que obedecerá a uma
seqüência de elementos obrigatórios, opcionais e recursivos.
Desse modo, o gênero para Hasan (Halliday & Hasan, 1989:68) é
concebido como um dos dois planos do contexto. Um plano do contexto é
ocupado pelo registro – contexto da situação (por que ocorre) – e o outro é
41
ocupado pelo gênero – contexto da cultura (onde ocorre, com base em Martin,
(1992:495).
Ainda de acordo com os autores citados, o gênero torna-se conhecido,
entre outros aspectos, pelos significados que atribuímos ou associamos a ele
dentro de uma sociedade; o gênero, pois, é social. Como o gênero é a
codificação historicamente atestada de propriedades discursivas, como qualquer
instituição, ele evidencia os aspectos constitutivos da sociedade a que
pertencem.
Desse modo, na Era Digitalizada em que vivemos, pode-se inferir que o e-
mail substituiu a carta, os chats, o bate-papo face-a-face entre pessoas e o blog,
os diários íntimos, não mais tão íntimos assim, pois agora são expostos na
Internet para que qualquer um leia, mesmo havendo controvérsias por parte de
alguns indivíduos.
1.5 – O CONTEXTO DE SITUAÇÃO
No contexto de situação, os significados são realizados e expressos
através de um registro, e como já mencionado, “o texto e contexto estão
interligados, o que equivale também dizer que o contexto está no texto” (Eggins,
1994:49). O contexto, assim, sempre precede o texto; contexto e texto são
aspectos de um mesmo processo e não devem ser analisados separadamente.
Para Halliday, a questão da definição de texto é muito importante: tudo o
que for dito ou escrito se estende em algum contexto de uso. Na abordagem
sistêmico-funcional, existem dois fatos que permitem caracterizar o contexto
social das escolhas lingüísticas de um certo tipo de texto: as teorias de gênero e
de registro.
42
É no contexto de situação que se realiza o gênero, por meio de escolhas
lingüísticas que caracterizarão o registro de determinado gênero, cujas variáveis
compreendem o campo, as relações e o modo:
Campo – sobre o que se fala ou escreve, o tópico da situação.
Relações – os papéis sociais que cada participante desempenha na
interação.
Modo – o modo falado ou escrito pelo qual a mensagem é veiculada na
interação.
Cada uma das três variáveis de registro estão relacionadas a um
significado, ou seja:
Campo – está relacionado com a metafunção ideacional.
Relações – está relacionado com a metafunção interpessoal.
Modo – está relacionado com a metafunção textual.
O contexto de situação fornece instrumentos para entendermos o que
está sendo falado (campo); identificar o papel que a linguagem está
desempenhando na interação e a distância entre as pessoas que estão
interagindo (modo); e, ainda, podemos inferir as relações interpessoais entre os
participantes do discurso e os papéis sociais que eles estão representando
(relações).
A figura a seguir permite visualizar melhor a relação entre as variáveis de
registro e as metafunções no gênero.
43
Figura 1, Gênero em relação ao registro e a linguagem (Traduzido de Eggins e Martin, 1997: 243)
De acordo com Halliday (Halliday & Hasan, 1989: 38-42), registro é um
conceito semântico, definido como “uma configuração de significados que são
tipicamente associados a uma configuração situacional, particular do campo,
relações e modo”.
As relações sociais que ocorrem em nosso cotidiano podem estar
refletidas no registro, que sofrerá variações em decorrência do contexto
situacional a que somos expostos sempre. Portanto, não é possível usar
somente um único registro em todas as situações que vivemos (Halliday &
Gênero
modo
campo
relações
Ideacional
Interpessoal
Textual
Contexto: gênero –
acima e além das
metafunções
Contexto: registro
organizado por variáveis de contexto
Linguagem organizada
por metafunção
44
Hasan, 1989: 41), uma vez que fazemos uso de diferentes escolhas lexicais
para determinados contextos em que estamos inseridos.
Para Eggins e Martin (1997:236), a relação entre contexto e texto,
(contexto de cultura e gênero) se efetua num texto por intermédio de escolhas
léxico-gramaticais. O conceito de registro, segundo os mesmo autores
(1997:234), explica como usamos a linguagem de formas variadas em diferentes
funções. Já para Eggins (1994:9), o registro descreve o impacto das dimensões
do contexto imediato da situação de um evento de linguagem no modo como a
linguagem é utilizada.
E os teóricos citados (1997:235) ainda acrescentam que, além da
variação de registro, os textos também podem exibir variações em termos de
gênero, ou seja, o gênero é, ao lado do registro, uma extensão que caracteriza o
texto. Martin (1992) afirma que o registro funciona como forma de expressão do
gênero, da mesma maneira que a linguagem funciona como expressão do
registro.
O registro, por sua vez, inserido no contexto da situação, associa-se às
opções léxico-gramaticais, que permitem a distinção entre um gênero e outro.
Eggins (1994:34) estabelece a seguinte relação entre gênero, registro e a
linguagem: “(o gênero) é mais abstrato, mais geral, do que o contexto de
situação (registro)”.
O registro funcionará como um passo para a definição da estrutura
genérica. A distinção entre os gêneros e registro, porém, está no nível de
abstração em dois diferentes planos: social e cultural.
Halliday (1989) destaca que o registro é o princípio geral que assegura
que a linguagem falada e a linguagem escrita nunca serão totalmente
semelhantes, considerando, portanto, a distância entre as duas.
45
Eggins (1994:53), ao abordar a teoria do registro, mostra alguns aspectos
que distinguem a linguagem falada da escrita que podem influenciar diretamente
no modo. Um dos aspectos mencionados é a distância interpessoal e espacial
entre participantes da interação; a autora comenta, ainda, que os meios de
comunicação modernos, como os e-mails, têm revelado dimensões de modos
complexos.
Segundo Martin (1984:25; 1985:248), um gênero tem um propósito
definido, é orientado para um objetivo e organizado em estágios; um registro (no
caso dos blogs, um relato) específico é usado para que tais objetivos e
propósitos sejam alcançados.
O registro, portanto, auxilia-nos na definição das escolhas; uma vez
inserido no contexto da situação, associa-se às opções léxico-gramaticais, que
permitem a distinção entre um gênero e outro. Em resumo, verificamos que os
conceitos de registro e gênero são empregados com a finalidade de apontar o
significado e a função da variação entre textos.
As línguas são organizadas com base em dois tipos de significados: o
ideacional e o interpessoal. Estes componentes são chamados metafunção,
classificados por Halliday em: ideacional, interpessoal e textual. Estas
metafunções fornecem esclarecimento do uso da língua a partir das
necessidades, dos propósitos do falante em um determinado contexto de
situação.
A metafunção ideacional refere-se ao que a pessoa expressa com
significados sobre a realidade; a metafunção interpessoal é o modo pelo qual os
participantes se relacionam socialmente no discurso, por meio da linguagem, o
modo com que eles expressam suas atitudes e julgamentos quando dão ou
pedem informação, quando fazem, se oferecem ou levam alguém a fazer
alguma coisa, e finalmente, na metafunção textual, reconhece-se o modo como
46
é organizada a mensagem e como está exposta em um texto ou na fala,
permitindo que os participantes do discurso reconheçam a linguagem como um
texto com significado.
Como o objetivo desta pesquisa visa à interação entre blogueiro e
internauta, vamos nos deter à descrição detalhada da metafunção interpessoal
que nos fornece o subsídio necessário para analisar essa interatividade dos
participantes em questão, e somente explanar brevemente sobre as outras duas
(a ideacional e a textual), pois, segundo Thompson (1996:28), “compreender
cada um desses três tipos de significado contribui igualmente para o significado
da mensagem como um todo”.
1.6 – AS TRÊS METAFUNÇÕES
Sabe-se que a GSF é a definição de uma gramática ‘natural’, cujo foco
são as unidades da linguagem, que precedem o texto (falado ou escrito) para se
atingir uma finalidade: a comunicação.
A GSF é considerada sistêmica, porque trata de uma teoria de três
metafunções que reúnem tipos de significados vistos sob a mesma perspectiva
funcional como escolhas, em que a língua ou qualquer outro sistema semiótico é
interpretado como ambientes de opções inter-relacionadas: esta, aquela ou a
outra, conforme explica Halliday (1994: xxvii): “a abordagem sistêmica vê a
língua como redes de sistemas lingüísticos interligados, das quais nos servimos
para construir significados.”
Halliday (1994 apresenta as três metafunções da linguagem: ideacional,
interpessoal e textual. Como já mencionamos, serão expostas sucintamente a
ideacional (1.6.1) e a textual (1.6.2), já que, apesar de sempre ocorrerem em
conjunto com a interpessoal, não serão enfocadas nesta pesquisa. As três
47
metafunções ocorrem simultaneamente, uma depende da outra para o
desenvolvimento de uma gramática mais funcional e menos formal.
1.6.1 - A METAFUNÇÃO IDEACIONAL
Eggins (1994:78) nos afirma que a metafunção ideacional25 se relaciona à
variável de registro campo e expressa a realidade. Também diz respeito ao
assunto do texto e ao que está acontecendo.
De acordo com Halliday (1994:106), essa metafunção se realiza
sobretudo pelo sistema gramatical da transitividade, definindo a experiência de
mundo em um determinado conjunto de tipos de processos, relacionando-se ao
uso da língua como representação, tanto no mundo externo como ao mundo
interno. Dessa forma, no que concerne à perspectiva ideacional, é enfocado,
basicamente, o conteúdo da mensagem, e não a finalidade do falante em
enunciá-la.
Ainda de acordo com o autor (1994:107), a estrutura da transitividade é
formada por três itens: processo, participantes do processo e as circunstâncias
associadas ao processo.
O processo26 é a ação, realizada pelo grupo verbal, cujos participantes
são constituídos pelos grupos nominais ou pronominais, realizando as ações; as
circunstâncias são os grupos que contêm os advérbios e seu emprego é
realizado para adicionar informações às ações que são realizadas pelos 25 Relembrando o leitor que esta é somente uma breve apresentação da metafuncão ideacional. Para informações mais detalhadas do assunto, cf. Halliday, 1994. 26 Processos que podem ser, de acordo com Halliday, três principais e os demais intermediários. Os principais são: processo material, mental e relacional e os intermediários: verbal, existencial e comportamental.
48
processos. Assim, essa metafunção tem a ver com o que falamos, com os
acontecimentos, sentimentos, crenças, situações, etc.
1.6.2 – A METAFUNÇÃO TEXTUAL
A metafunção textual,27 segundo Eggins (1994: 78) relaciona-se à variável
de registro modo e é expressa através da oração, dando significado à
mensagem. Também diz respeito a como está organizado o texto (falado ou
escrito) e qual assunto trata o texto em questão.
De acordo com Halliday (1994:37), esta metafunção pode assumir o
caráter de mensagem em todas as línguas como uma oração, dando assim, um
grau comunicativo à troca entre os falantes e aos destinatários da comunicação,
organizado-os coerente e coesivamente.
Ainda é o mesmo autor que reitera que é na metafunção textual que
encontramos dois elementos significantes para a estrutura da oração: Tema e
Rema. Tema é o ponto de partida da mensagem e o que é tratado nela, e o
restante, denominado Rema, o ponto em que o tópico, o assunto é
desenvolvido; para ele (1994) tema e rema se combinam e constituem a
mensagem.
1.6.3 – A METAFUNÇÃO INTERPESSOAL
A metafunção interpessoal descreve qual é o relacionamento entre
escritor e leitor ou falante e ouvinte, e, também, qual é a atitude do autor em
27 Mais detalhes sobre o assunto: Halliday, 1994 e 2004.
49
relação ao assunto de que trata. Eggins (1994:78) explicita, ainda, sobre a
metafunção interpessoal, que ela está relacionada à variável de Registro
Relações e expressa os papéis e as atitudes dos participantes de uma
determinada interação.
Tais relações nas quais ocorram essa interação, são tipicamente
carregadas de uma “proximidade” intrínseca de diferentes graus. Nesse contínuo
transcrito de Eggins (1994:65), esquematiza-se o quanto estamos
emocionalmente envolvidos ou comprometidos com determinada situação
interativa.
Alto Baixo
Para Halliday (1994), a metafunção interpessoal é realizada
gramaticalmente através dos sistemas de modo e modalidade. O modo é
definido como o sistema que estabelece as relações de papéis entre o
escritor/leitor, a “intervenção pessoal” (Ramos, 1997: 43), enquanto que o
sistema de modalidade carrega a avaliação do escritor sobre a verdade de sua
mensagem e o seu grau de responsabilidade sobre ela.
Na metafunção interpessoal revela-se a maneira pela qual os
participantes se relacionam socialmente no discurso por meio da linguagem. Em
outras palavras, é por intermédio da metafunção interpessoal que os padrões
lingüísticos realizam léxico-gramaticalmente a forma como as pessoas
interagem. A língua é usada como troca de significados entre os interlocutores e
as pessoas assumem papéis conforme a posição que ocupam ou dependendo
do turno. No sistema de modo ocorrem as relações entre os participantes, e no
sistema de Modalidade podemos analisar a responsabilidade do participante
sobre a mensagem.
50
Eggins resume (1994:153) as realizações típicas e não-típicas de função
de fala, expostas no quadro abaixo:
Função de fala
Modo oracional típico
Modo oracional não típico
Comando Imperativo Declarativa interrogativa modulada
Oferta Interrogativa modulada Declarativa imperativa
Declaração Declarativa Declarativa com pedido de confirmação
Pergunta Interrogativa Declarativa modulada
Quadro 1. Funções de fala e as suas realizações (traduzido por Sobhie, 2003:13)
De acordo com Halliday (1994) considera-se a escrita e a fala como uma
troca comunicativa entre dois (ou mais) participantes, como uma interação.
Ainda nos explica o autor (1994:68) que a oração pode ser organizada como um
evento interativo envolvendo o falante, ou escritor, e o ouvinte ou leitor. No ato
da comunicação, o falante assume para si um papel de fala em particular e
atribui ao seu leitor um papel complementar que ele deseja que seu leitor adote.
Thompson & Thetela (1995:103) argumentam que
embora a pesquisa na função interativa da língua tenha, por razões óbvias tido o enfoque mais para o discurso falado do que para o discurso escrito, nos últimos anos tem aumentado o interesse em explorar o texto escrito em termos de interação.
Na interação, Halliday (1994:70) considera dois tipos fundamentais de
troca: (i) informação e (ii) bens e serviços. Desta forma, são concebidos quatro
papéis de fala básicos: (1) dar (prover) informação; (2) pedir informação; (3) dar
(prover) bens e serviços; (4) pedir bens e serviços. Essas possibilidades, quando
colocadas juntas, definem quatro funções primárias de fala: declaração,
interrogação, oferta e comando, respectivamente, como podemos verificar no
quadro abaixo.
51
Função de fala de resposta
Função de fala inicial Apoio Confronto
Dar bens e serviços Oferta Aceitação Rejeição
Pedir bens e serviços Comando Conformidade Recusa
Dar informações Declaração Concordância Contradição
Pedir informações Pergunta Resposta Rejeição
Quadro 2 – Papéis de fala
É através dessa troca, de bens e serviços ou de informação, que as
pessoas interagem e trocam significados (Thompson, 1996: 38). Se escreve algo
ou se diz alguma coisa a outras pessoas com uma finalidade, podemos querer
influenciar atitudes ou comportamento de alguém; fornecer uma informação que
temos e que a pessoa não tem; explicar uma atitude qualquer ou um
comportamento, ou ainda, pedir a alguém que nos forneça determinada
informação ou que adote a ação de que necessitamos.
Um novo conceito apresentado por Thompson & Thetela (1996:68-69) é o
da projeção de papéis nas interações que se sobrepõem à transitividade, nas
quais o falante ou escritor estará assumindo um dos papéis de fala.
Thompson & Thetela (1995:107) apresentam dois tipos de papéis de fala
relacionados à interação:
Papéis desempenhados: que são basicamente os papéis de fala.
Papéis projetados: que são designados através de nomeação ou
atribuição.
O trabalho dos autores (1995) afirma, ainda, que papéis projetados
dependem de referência explícita no texto aos dois participantes: o escritor
pode, portanto, escolher não projetar papéis (ao passo que não pode escolher
não desempenhar papéis). Esse é, portanto, o ponto em que o componente
interpessoal se sobrepõe ao ideacional, no modelo de Halliday, já que, se o
52
escritor projeta papéis, a pessoa sobre quem o papel foi projetado é
simultaneamente um participante no evento lingüístico e um participante na
oração (Thompson & Thetela, 1995:108).
Finalmente, para Thompson & Thetela (1995:109) é possível identificar,
conseqüentemente, um contínuo que vai das formas mais explícitas para as
menos implícitas de realização: isto é, o falante/escritor pode apresentar-se no
texto, para propósitos pessoais ou interacionais, com maior ou menor níveis de
visibilidade. O falante/escritor pode projetar papéis nomeando a si mesmo ou
nomeando os outros, mais claramente, através de formas de vocativo. De outro
lado, o falante/escritor pode projetar papéis pelas escolhas de transitividade.
Halliday & Hasan (1976:44, apud Ramos, 1997:44) falam em papel
associado à categoria de pessoa (ou sistema de referência pessoal): “o termo
pessoa é usado no sentido especial de papel”.
Os autores também advertem que o termo pessoa28 não parece ser o
mais adequado, porque esse sistema inclui não só significados impessoais
(termo que designa pessoa humana, mas não individualizada), mas também
referências que são não-pessoa, ou seja, referência a objetos.
Contudo, o argumento desses autores para o uso do termo ‘pessoa’ é que
ele expressa o significado típico central da categoria em questão e é mais
simples e fácil de ser lembrado.
Portanto, tendo como base teórica a GSF e com o subsídio da Lingüística
de Corpus, juntamente com o programa computacional WordSmith Tools, que
será detalhado no próximo capítulo metodológico, as marcas lingüísticas da
interpessoalidade contidas na interação blogueiro-internauta,serão analisadas
para responder às perguntas de pesquisa, com base em algumas ferramentas
28 Grifo nosso
53
e utilitários disponibilizados pelo WordSmith Tools que nos apontarão tais sinais,
indicando esta interatividade entre os participantes.
No capítulo seguinte, será apresentada a metodologia de pesquisa
utilizada para a presente pesquisa.
54
“ Os grandes educadores sempre souberam que aprender não é
algo que você faz apenas na sala de aula ou sob supervisão de
professores (…).
Há quem receie que a tecnologia irá desumanizar a educação
formal. Mas quem quer que tenha visto crianças trabalharem
juntas em torno do computador, do jeito que meus amigos e eu
fazíamos em 1968, ou tenha observado intercâmbio entre
estudantes separados por oceanos sabe que a tecnologia pode
humanizar o ambiente educacional.”
Bill Gates – A estrada do futuro (1995)
55
CAPÍTULO 2
METODOLOGIA DE PESQUISA
Neste capítulo será apresentada a metodologia que norteia a presente
pesquisa. Para isso, caracterizaremos o procedimento de coleta e análise do
corpus, ainda uma breve apresentação do instrumento computacional
WordSmith Tools 3.0 (Scott, 1998) e da Lingüística de Corpus, além de
descrever os sete blogs utilizados para os dados deste estudo.
Justamente pensando em contribuir para o entendimento dessa interação
eletrônica é que se situa essa pesquisa, desenvolvida desde a época da
graduação em Letras, quando iniciamos os estudos sobre blogs em um projeto
de Iniciação Científica, no qual os blogs foram comparados aos diários íntimos
como forma de estabelecer a estrutura de ambos os gêneros.
Como mencionado anteriormente, o objetivo geral desta pesquisa é
analisar e discutir, sob a perspectiva da metafunção interpessoal da Gramática
Sistêmico-Funcional de Halliday, (1994), além de outros trabalhos como:
Halliday & Hasan, (1989), e também o trabalho de seus seguidores, como
Eggins, (1994), Martin, (1992), Thompson (1996), dentre outros; quais os papéis
sociais que assumem os autores dos blogs, os blogueiros, e as pessoas que
acessam tais blogs, os internautas e como se dá essa interação.
Como caracteriza muito bem Marchuschi (2004: 35): “o/a internauta que
interage com o/a blogueiro/a sabe quem ele/a é, mas o mesmo pode não
acontecer, como é sempre freqüente”. Daí o interesse em pesquisar esse novo
tipo de interação que não é mais a face-a-face, e sim a virtual, em que muitas
vezes a pessoa que escreve sequer sabe quem realmente é seu leitor, pois em
56
diversos casos a relação construída no virtual não ultrapassa o real.
Com base nas interações entre blogueiro e internauta, este trabalho tem
como objetivo específico responder às seguintes questões de pesquisa:
Quais os papéis assumidos pelos internautas nos posts e nos comments dos blogs?
Quais as relações construídas por ambos no mundo virtual?
Como se caracteriza essa interação criada por ambos os usuários
da Internet?
Para que as perguntas de pesquisa possam ser respondidas, neste ponto
do estudo, nos deteremos na apresentação do corpus e, na seqüência,
descreveremos os blogs.
2.1 – APRESENTAÇÃO DO CORPUS
O perfil dos textos estudados nesta pesquisa está voltado para o contexto
virtual em que o blog está inserido. A partir desse contexto, a presente pesquisa
tem por objetivo estudar os weblogs levando-se em conta sua configuração
genérica e os elementos lingüísticos que os caracterizam e os estruturam,
principalmente no que diz respeito à metafunção interpessoal na gramática
sistêmico-funcional (Halliday, 1985; Eggins, 1994; Martin, 1992; Thompson,
1996), envolvendo blogueiros e internautas.
57
2.1.1 – DESCRIÇÃO DOS BLOGS
Sempre tendo como referência o contexto, observaremos e
identificaremos, nos blogs, a interpessoalidade entre escritor-leitor, como se
realiza a interação entre eles, quais os pronomes mais freqüentes que eles
(blogueiros) usam para nomearem a si e aos seus leitores e que papéis o
blogueiro e o internauta assumem nessa modalidade virtual-social.
Foram visitados quarenta blogs, dentre os quais treze foram escolhidos
aleatoriamente, coletados e salvos para compor o corpus que consistirá os
corpora da pesquisa.
Contudo, para que o corpus tivesse a denominação de ‘representativo’
para a Lingüística de Corpus, teríamos que saber o tamanho total da blogosfera
para compor este corpus representativo com os blogs, que de acordo com Silva
(2000:72): “por exemplo, apenas três tipos de textos não são suficientes para
caracterizar toda uma língua, mas, por outro lado, são suficientes para
representar o gênero estudado”.
Portanto, o corpus da presente pesquisa torna-se representativo para
este fim específico. Não que isso seja impossível, isto é, criar um banco de
dados representativo, mas Berber Sardinha (2004:17), sobre a extensão do
corpus, define que “para o corpus ser representativo, deve ser vasto”. No
entanto, o mundo virtual cresce tão rapidamente que acompanhar esse
desenvolvimento e falar de números é impraticável já que tudo muda muito
rapidamente. Os treze blogs selecionados, como já dito, são compostos por
seus posts29 e comments30 dos meses de janeiro, fevereiro e março de 2005.
29 Ao ato, na língua virtual, no qual o blogueiro insere os relatos diários em seu blog, nomeia-se, postar. Post é o tópico do dia exposto aos seus leitores. 30 Comments: ferramenta integrada a um blog, usada pelos internautas para deixar um recado, comentar o post do dia ou até fazer uma sugestão.
58
Entretanto, optamos somente por sete desses treze blogs, delimitando
mais ainda o objeto de pesquisa. Entre os sete blogs escolhidos e coletados na
Internet, 2 (dois) são do sexo masculino e individuais; 3 (três) do sexo feminino
e individuais também; 1 de um trio, composto por duas mulheres e um homem e
um 1 coletivo misto, com sete mulheres e um homem. Todos escritos em língua
portuguesa.
Ademais, com o surgimento do blog, desaparece o conceito de que diário
é individual e tem o tom confessional, típico dos segredos, pois quando usado
por um grupo, cujos participantes o acessam com a mesma senha e login31,
para sua constante atualização, esse novo suporte de comunicação virtual deixa
de ter caráter individual e se torna fragmentado.
O corpus desta pesquisa, portanto, é composto pelos blogs apresentados
no quadro abaixo. Como cada blog recebe um titulo, estão listados na coluna
BLOG o título de cada um e, à direita, os BLOGUEIROS, seus autores, como
podemos conferir no quadro:
BLOG BLOGUEIROS
Uma dama não comenta Giovanna e Lilaise Cantareli
e Mestre Delih
Jesus, me chicoteia! Marco Aurélio
No limite da razão Cacau (Carla)
Crônicas Mônica Mônica
Não vá se perder por aí Thiago Capanema
Suburbia Tales
Rachel, Cris, Hazel, Lia, Lilá, Carla, Cinha e Robs
Your Soul Cláudia
Quadro 3 – Os blogs e seus autores
31 Entrada no sistema (identificação). Processo pelo qual um usuário se identifica ante o sistema por intermédio de senhas, as quais possibilitam acesso aos arquivos e aos demais recursos. Este método é muito utilizado em sistemas com muitos usuários.
59
Como já explicitado, serão usados posts e comments para analisar a
interação do blogueiro com o internauta. Assim, o programa computacional
WordSmith Tools 3.0 (Scott, 1998) (doravante WS Tools) será usado no auxílio
da pesquisa para que marcas dessa interação sejam encontradas e a partir
delas, verificar como ocorre essa interação e quais as possíveis relações que
podem ser criadas e/ou mantidas por meio desse intercâmbio entre os
interactantes da pesquisa.
Para isso, os blogs foram divididos em quadros por posts e comments
relativos aos três meses de coleta, com seus Tokens 32 e Types 33 selecionados
no WS Tools.
Podemos ter uma melhor visualização disso, no quadro referente aos
Tokens e Types dos posts dos três meses de coleta:
TOKENS TYPES BLOGS JANEIRO FEVEREIRO MARÇO JANEIRO FEVEREIRO MARÇO
Uma dama não comenta
1.072 766 1.301 520 357 604
Jesus, me chicoteia
5.305 2.265 4.848 1.642 908 1.641
No limite da razão
4.015 4.596 4.742 1.342 1.634 1.717
Crônicas Mônica
1.236 1.657 627 606 790 362
Não vá se perder por aí
4.010 1.387 3.469 1.464 673 1.420
Suburbia Tales
1.005 2.049 1.699 535 835 736
Your Soul 4.793 4.814 3.690 1.679 1.718 1.302 Quadro 4 – Tokens e Types dos posts dos meses de janeiro, fevereiro e março
32 Tokens: número de itens (ou ocorrências) de um corpus, entre outras palavras, o total de palavras contidas no corpus de estudo. 33 Types: número de formas (ou vocábulos), entre outras palavras “palavras diferentes” que ocorrem num corpus.
60
Já no quadro que se segue, encontra-se o agrupamento de Tokens e
Types referentes aos comments dos internautas nos blogs, dos meses de
janeiro, fevereiro e março de 2005.
TOKENS TYPES BLOGS JANEIRO FEVEREIRO MARÇO JANEIRO FEVEREIRO MARÇO
Uma dama não comenta
3.006 4.343 4.533 1.006 1.301 1.266
Jesus, me chicoteia
9.942 10.872 11.151 2.491 2.646 2.902
No limite da razão
11.696 10.738 10.109 3.141 2.946 2.327
Crônicas Mônica
6.715 4.823 4.099 1.791 1.338 1.239
Não vá se perder por aí
1.984 2.276 2.517 703 807 779
Suburbia Tales
2.931 1.002 4.533 963 401 1.266
Your Soul 17.771 17.618 13.690 3.716 3.701 2.967 Quadro 5 – Tokens e Types dos comments dos meses de janeiro, fevereiro e março
No quadro abaixo, segue listado o número total de Tokens e Types de
cada blog, incluindo os posts e os comments dos três meses de coleta.
BLOGS
TOKENS
TYPES
Uma dama não comenta
15.021 3.369
Jesus, me chicoteia! 44.380 12.230
No limite da razão 45.896 13.157
Crônicas Mônica 19.157 6.036
Não vá se perder por aí 15.643 5.786
Suburbia Tales 13.219 4.736
Your Soul 62.607 15.083
TOTAL 215.926 20.077
Quadro 6 – Números totais do corpus pesquisado.
61
2.2 – OS BLOGS ANALISADOS
Pesquisando em diversos sites e também na visita virtual a diversos
outros diários virtuais, foram selecionados sete blogs para este estudo, conforme
veremos com mais detalhes nos itens seguintes.
Mesmo com algumas polêmicas que os blogs engendram, existem
pesquisadores que chegam a designá-los como a versão on-line de uma
renascença digital, em decorrência do potencial que enxergam nesta ferramenta
que começou com a simples idéia do diário virtual e guia de sites on-line.
O blog ainda pode ser conceituado como um laboratório de escritos
criativos cujo principal objetivo é oferecer à comunidade de escritores e leitores
um local virtual onde possam se encontrar e interagir, trocando experiências,
motivações, idéias e informações sobre temas de mútuo interesse.
Podemos ainda considerar outra característica apontada pela revista
Veja, especial para jovens (agosto de 2003, p. 40), ao tratar dos blogs:
“Diferentemente do diário de papel, o blog não é coisa só de menina. Os garotos também se divertem. Muda apenas o assunto. Numa simplificação grosseira, pode-se dizer que elas falam mais de sentimentos. Eles preferem falar uns dos outros e de futebol. Para ambos os sexos, o objetivo é mostrar um ponto de vista”.
Como foi explicitado anteriormente, cada post significa um dia do mês em
que o blogueiro se expressa nas páginas virtuais do seu blog. Assim, cada post
diário gera um determinado número de comments que são deixados pelos
internautas no decorrer do dia em que tal relato foi divulgado.
Os sete blogs escolhidos para compor o corpus da presente pesquisa
foram coletados na própria Internet, durante os três meses iniciais de 2005 e são
62
eles: Uma dama não comenta, Jesus, me chicoteia!, No limite da razão,
Crônicas Mônica, Não vá se perder por aí, Suburbia Tales e Your Soul, todos
escritos em língua portuguesa.
O quadro abaixo nos fornece um total de quantas vezes os blogueiros
expuseram seus relatos durante os meses do primeiro trimestre de 2005.
BLOGS JANEIRO FEVEREIRO MARÇO TOTAL
Uma dama não comenta 11 12 18 41
Jesus, me chicoteia! 12 13 10 35
No limite da razão 16 19 16 51
Crônicas Mônica 4 3 2 9
Não vá se perder por aí 4 6 9 19
Suburbia Tales 6 4 5 15
Your Soul 29 27 25 81
Quadro 7 – Freqüência total dos posts nos blogs
Podemos observar, no quadro acima, a freqüência de cada um dos
blogs contendo os posts dos três meses em que foram coletados para a
pesquisa. Note-se que eles não são rigorosamente expostos diariamente como
deveria ser, remetendo a idéia de que um diário é para ser escrito dia-a-dia, e
não esporadicamente, como acontece nos blogs escolhidos para o estudo da
presente pesquisa.
A partir da análise da tabela, podemos perceber os blogueiros que
postam mais frequentemente e aqueles com freqüência menor no mês de
janeiro de 2005. Your Soul34 escreve, no mês de janeiro, exatos 29 dias. Já os
blogueiros de Crônicas Mônica, Suburbia Tales e Não vá se perder por aí
escrevem muito pouco, abaixo da metade do mês.
34 A saber: uma nomenclatura foi criada para nomear cada um dos blogs, assim sendo, usei a palavra BLOG e um número representando de 1 a 7 para identificá-los e diferenciá-los entre si, não optando por utilizar somente os títulos ou qualquer outra denominação.
63
O fato de os três blogueiros citados não serem tão assíduos quanto à
atualização de seus diários, já que a idéia de manter um diário, seja ele virtual
ou não, vem da própria concepção da palavra “diário35”, não quer dizer que eles
não recebam comments deixados pelos internautas na mesma proporção de
Your Soul, uma das que mais escreve e o faz rigorosamente. Isso poderá ser
conferido nas páginas, a seguir, nas quais serão expostos os comments gerados
por cada dia de post.
Podemos notar que há uma variação de posts nos meses de coleta do
corpus de estudo de um blog para outro. Essa variação deve-se pela
assiduidade em que o blogueiro escreve, já que por motivos às vezes
desconhecidos pelos leitores, os posts não são freqüentes. Percebe-se, assim,
que a única blogueira que escreve diariamente é novamente Your Soul,
deixando de escrever somente dois dias no mês de janeiro, um em fevereiro e
seis em março.
Outro blog com posts quase freqüentes, de ocorrências diárias é o No
limite da razão, escrito praticamente na metade dos dias dos respectivos meses.
Já Jesus, me chicoteia! e Uma dama não comenta vêm em seguida, com uma
freqüência um pouco mais baixa que o anterior, sendo acompanhado
posteriormente por Suburbia Tales, Crônicas Mônica e Não vá se perder por aí.
Deste modo, como já foi dito no início deste capítulo, será usado o
programa computacional WordSmith Tools para detectar as marcas de interação
entre blogueiros e internautas, usando os posts e comments dos três meses de
coleta, cujos dados concretos serão apresentados nas próximas páginas. A
seguir serão apresentados os blogs e blogueiros que compõem o corpus desta
pesquisa, reafirmando a citação dada pela revista Veja especial para jovens
(agosto de 2003, p. 40), “de que nem só de meninas os blogs são feitos”. 35 Diário .s.m. 1 – escrito em que se registram os acontecimentos de cada dia. 2 – periódico que se publica todos os dias; jornal. (cf. Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa: 1032).
64
2.2.1 – UMA DAMA NÃO COMENTA
O primeiro blog apresentado e indicado para fazer parte da realização do
presente estudo sobre os diários virtuais, é escrito por três blogueiros: duas
mulheres (Giovanna e Lilaise Cantareli) e um homem, representado pela figura
de Mestre Delih.
O blog36 é composto por relevantes questionamentos da vida e do
universo, ações que se passam no ambiente de trabalho das blogueiras, na
própria vida particular delas, postado na maioria das vezes por Giovanna e
raramente por Lilaise. Mestre Delih responde às perguntas dos internautas,
dando-lhes conselhos um tanto quanto não-convencionais que se fariam a uma
pessoa seriamente.
Seus posts não são muito regulares com uma média às vezes, menos da
metade do mês em que são postados os tópicos. Porém, é bem visitado pelos
internautas, isto é, recebe visitas constantes de outros blogueiros e leitores fiéis
do blog, que deixam seus comentários e expressam suas opiniões sobre o
assunto do dia. Este é um exemplo de blog em grupo, já que não é escrito por
um blogueiro somente.
Na página a seguir podemos conferir a freqüência dos comments
deixados pelos internautas nos determinados dias em que houve um post.
36 http://dama.blogspot.com
65
Quadro 8 – Freqüência de comments do trimestre de 2005
Conforme a tabela mostra, o mês de março é o que mais contém posts
(19 dias) totalizando 326 comments, já os meses de janeiro e fevereiro têm
quase a mesma quantidade de posts (dez e doze dias, respectivamente) mas
uma relevância significativa em quantidade de comments: 158 no primeiro mês e
251 no segundo.
Dessa forma, a comunicação entre blogueiro e internauta ocorre, de
acordo com Batista (1998: 30), quando “um gênero se consolida num contexto
de cultura para que um propósito comunicativo específico ou um conjunto de
propósitos sejam alcançados. Assim, o propósito comunicativo do blog na
presente pesquisa é a maneira como a interação entre os participantes ocorre,
sendo marcada neste caso por algumas características do contexto digital.
JAN
COMMENTS
FEV
COMMENTS
MAR
COMMENTS
Dias Dias Dias
31 08 28 33 31 25
28 12 24 17 29 14
27 04 22 19 28 12
25 09 20 10 24 27
21 23 17 27 22 19
19 27 16 12 23 10
18 04 12 20 22 21
17 29 11 16 21 17
11 21 09 22 19 22
03 21 07 21 18 24
03 24 17 11
02 30 16 09
15 12
14 07
11 25
10 19
08 27
05 15
03 10
66
2.2.2 – JESUS, ME CHICOTEIA!
O blog37 foi criado por Marco Aurélio dos Santos com o intuito de
reescrever a Bíblia, o sagrado livro do Cristianismo, segundo sua visão
particular.
Em entrevista à Revista da Folha38, Jesus – como é conhecido na
blogosfera – afirma que um dia, a caminho do trabalho, começou a pensar em
como ele contaria a criação do mundo. Resolveu se aventurar e este foi o
segundo post de seu blog, intitulado “Jesus, me chicoteia!” frase que ele tomou
emprestada de uma colega de trabalho para nomear seu diário virtual, que é um
fenômeno na esfera dos blogs, atualmente, pelo fato de, diariamente, receber
várias visitas dos internautas.
Como é uma recontagem das histórias bíblicas, os posts são
excessivamente longos, contrastando de maneira surpreendente com outros
blogs que contêm somente uma linha, com uma única frase. No entanto, os
internautas que acessam o blog não se importam com isso, pela quantidade de
comments que ele recebe diariamente, que pode ser conferido por meio dos números do quadro 8, a seguir.
Os posts não são tão regulares, porquanto são escritos com até quatro
dias de diferença ente eles. Ao contrário de Mestre Delih, “Jesus” não responde
aos questionamentos que lhe são feitos pelos seus “fiéis” leitores, talvez, em
virtude da quantidade de comments que recebe a cada post novo ou, como ele
mesmo explicita na entrevista à Revista da Folha (2005: 13), “a maioria dos
blogs é muito ruim, porque a proporção de gente imbecil é igual em todos os
grupos. E os imbecis são sempre a maioria”. 37 http://www.jesusmechicoteia.com.br 38 Revista da Folha, parte integrante do jornal Folha de São Paulo que sai aos domingos. A referência em questão é da edição de 7 de agosto de 2005.
67
Com isso, o blog é muito polêmico e gera discussões entre os internautas
que não concordam com as atitudes do blogueiro. Podemos mencionar como
exemplo um comment que a internauta Daniele deixou no dia 25 de janeiro de
2005, exaltada com a maneira como o autor “sacaneia” a Bíblia, afirmando
também que não concorda com a atitude do autor em blasfemar contra Jesus
Cristo.
É interessante acrescentar que no lado esquerdo do layout do blog em
questão há um link chamado “A Bíblia Sacaneada”, um trocadilho com a palavra
“scaneada39” em que todos os textos que Marco Aurélio alterou do livro sagrado
estão integrais e podem ser baixados para a leitura, no formato PDF 40.
Podemos conferir, no quadro a seguir, a freqüência dos comments
deixados pelos internautas, não nos esquecendo de que, pelo blog ter uma
notória repercussão na Internet confirmada pela quantidade de comments
deixados pelos internautas, ironicamente, há dias em que ele só recebe quatro
visitantes que deixam seus comentários, em contraposição a distintas 138
opiniões dos demais freqüentadores.
39 Scaneada – examinada, digitalizada – o scanner é um aparelho que interroga automaticamente o estado de vários processos, arquivos, condições, ou estados físicos e inicia alguma ação, de acordo com a informação. Com isso, um texto scaneado tem suas imagens digitalizadas e armazenadas sob a forma de um arquivo, que pode ser incorporado a textos gerados em processadores de textos e programas de layout de páginas. 40 PDF – Portable Document Format – (formato de documentos portáteis). Formato de documento que facilita sua transferência.
68
Quadro 9 - Freqüência de comments dos meses de janeiro, fevereiro e março/2005
Segundo Eggins & Slade (1997), a abordagem sistêmica oferece dois
benefícios maiores para a análise das interações, um dos quais permite que
padrões conversacionais possam ser descritos em níveis e graus variados.
Ainda de acordo com as autoras, uma conversa casual, que é o caso do
blog já que sua estrutura lingüística é informal e quase sempre se assemelha a
uma conversa entre os participantes de uma interação eventual -- pode ser
analisada envolvendo padrões lingüísticos diferentes. Deste modo, tomando
novamente os blogs como exemplo, observamos que é freqüente o uso de
palavras usadas na comunicação oral, na escrita dos relatos virtuais, os quais
tanto atuam e constroem dimensões da identidade social quanto das relações
interpessoais; daí, o enfoque deste estudo: a interação.
JAN
COMMENTS
FEV
COMMENTS
MAR
COMMENTS
Dias Dias Dias
31 19 28 28 30 27
30 22 26 28 29 33
25 74 25 23 24 26
23 12 23 23 18 138
19 39 22 47 16 14
18 17 20 17 15 42
17 28 15 45 12 28
16 11 12 25 06 42
12 19 09 14 04 24
09 21 05 04 03 22
08 08 04 22
05 28 02 38
69
2.2.3 – NO LIMENTE DA RAZÃO
De todos os blogs coletados e escolhidos para este estudo, No limite da
razão41 é o que mais tem o tom de diário confessional, por relatar o cotidiano da
blogueira Cacau, que é quem o escreve, de uma maneira semelhante ao que se
fazia no precursor dos blogs, o diário íntimo. Seu nome verdadeiro é Carla, mas
quase nenhum dos leitores a chama dessa maneira e, talvez, alguns internautas
sequer o saibam.
Relatos de seu cotidiano são colocados diariamente no ar, em seu blog;
acontecimentos que tenham ocorrido em casa ou no trabalho (Eu quero morrer
quando um cliente liga aqui e diz assim: - Então, lembra aquele carpete lá que
comprei?), na companhia de seus amigos (Terça-feira, Paulinho me raptou. Me
pegou no metrô e só me levou pra casa, lá pela meia-noite. Não dá pra acreditar
que somos amigos desde 87!), as constantes brigas em família (Ontem, tive que
ouvir que nossa família é uma merda e me calar. Hoje, tive que ouvir que a
presença do meu pai a irrita. Me calei, novamente). Tudo vira post neste weblog
que tem acesso de postagem relativamente freqüente, no qual os internautas
sempre deixam seus comments, dando um apoio, dicas ou somente dizendo que
gostaram de ter visitado o blog.
Os posts de Cacau não são longos. Em geral, médios, e como é de tom
confessional como pode ser observado nos exemplos listados do parágrafo
acima, expressa muitos de seus sentimentos e emoções, compartilhando tudo o
que acontece com seus leitores. Os comments deixados são na maioria das
vezes dos amigos, alguns reais, outros ainda virtuais, como podemos conferir
numericamente no quadro a seguir.
41 (http://www.nolimetedarazao.com/blog)
70
JAN
COMMENTS
FEV
COMMENTS
MAR
COMMENTS
Dias Dias Dias
30 17 28 18 28 25
27 29 25 18 26 14
25 20 24 16 25 12
21 32 23 13 22 27
18 26 22 17 21 19
17 13 20 22 20 10
14 13 18 16 17 21
13 20 17 12 16 17
12 10 16 15 13 22
11 17 15 19 10 24
9 24 14 10 9 15
7 22 13 8 8 16
6 11 11 16 6 18
5 13 9 14 3 25
4 20 4 20 2 16
2 15 3 12 1 14
2 21
1 13
Quadro 10 – Freqüência de comments dos meses de janeiro, fevereiro e março/2005
Com os exemplos já citados, pode-se refletir sobre a interação entre
Cacau e seus internautas, como também na dos outros blogueiros com seus
comentaristas. Eggins & Slade (1997) sugerem em “analisar a conversa sob
perspectivas diferentes”, e por ser a metafunção interpessoal o foco da
pesquisa, alguns procedimentos para analisar essa interação virtual poderá ser
conferido nos próximos itens.
71
2.2.4 – CRÔNICAS MÔNICA
Mônica acabou de ser avó e relata em seu blog42 esta experiência a que
ainda está se habituando, já que é uma vivência completamente nova, pelo fato
de Francisco ser, aparentemente, seu primeiro neto.
De todos os blogueiros escolhidos, é a que menos escreve, porém,
quando ela posta algo novo, recebe visitas de seus internautas que sempre
comentam suas narrativas. Seus posts são, em geral, curtos, às vezes médios,
mas nunca longos demais, diferentes dos que Marco Aurélio escreve. Às vezes,
são exaustivos, pela quantidade de informação.
A freqüência com que Mônica escreve no seu blog não é muito habitual
em relação ao restante dos blogueiros, como pode se verificar no quadro abaixo.
Quadro 11 – Freqüência de comments dos meses de janeiro, fevereiro e março/2005
Tomando como base novamente Eggins & Slade (1997), as autoras
sinalizam em seus estudos que, por meio de significados interpessoais, a
interação propõe identificar alguns aspectos que ocorrem em uma troca
comunicativa, como por exemplo, os tipos de relações de papel estabelecidos
42 http://www.cronicamonicacomica.blogger.com.br
JAN
COMMENTS
FEV
COMMENTS
MAR
COMMENTS
Dias
Dias Dias
30 34 22 37 17 72
21 50 12 46 07 33
10 45 02 28
04 29
72
por meio da conversa, neste caso, especificamente, a conversa virtual entre
blogueiros e internautas.
2.2.5 – NÃO VÁ SE PERDER POR AÍ
Blog43 criado por um jovem aspirante a universitário de 20 anos, Tiago
Capanema, tem posts longos e são escritos com uma freqüência baixa 44
durante o primeiro trimestre de 2005.
Tiago posta sobre qualquer acontecimento de seu dia-a-dia, que o tenha
incomodado ou lhe provocado revolta ou ira. Como exemplo, podemos mencionar um post do dia 14 de janeiro de 2004, em que ele relata sua
reprovação, ao tentar cursar a faculdade Senac, como aluno ouvinte. Não foi
aceito, pois a faculdade não conta com o programa de alunos ouvintes.
Com o endereço da faculdade ou do reitor e com alguma dúzia de selos por semana, qualquer pessoa esforçada pode ingressar numa faculdade. Vejam, a gente pode crescer na vida com simples idéias. São os outros que complicam...
O motivo para tal exaltação é o fato de que a mensalidade para o curso
Design Gráfico é alta e Tiago, aparentemente, não tem esse dinheiro disponível
todos os meses.
43 (http://naovaseperder.blogspot.com) 44 Toma-se o termo freqüência baixa, a partir de agora, quando o blogueiro escrever menos de um terço do mês analisado; freqüência média quando for a metade do mês e freqüência alta quase o mês todo.
73
Quadro 12 – Freqüência de comments de janeiro, fevereiro e março/2005
2.2.6 – SUBURBIA TALES
Este é o nome de outro blog do corpus de estudo que realizamos. São
oito pessoas que escrevem: Rachel, Cris, Lia, Lilá, Carla, Cinha, Robs e o único
homem do grupo, Hazel.
Como o nome do blog45 sugere, são relatados contos do subúrbio do Rio
de Janeiro, formado pelos bairros distantes da Zona Sul e do Centro da cidade.
No layout de entrada do blog, as características de cada um dos blogueiros são
descritas, focalizando/evidenciando se são suburbanos ou já deixaram de ser e
quando isto aconteceu.
O tom dos posts é bastante informal, como por exemplo, o do dia 31 de
janeiro de 2005, em que é descrita uma festa de aniversário infantil, típica do
subúrbio, (Festa infantil de Subúrbio* – Primeiro que na maioria dos casos a
festa infantil de subúrbio é mais para os pais se embebedarem e ficarem tortos
45 http://www.suburbiatales.com.br
JAN
COMMENTS
FEV
COMMENTS
MAR
COMMENTS
Dias Dias Dias
31 11 28 15 30 17
14 27 27 04 24 21
12 29 26 20 23 03
11 09 25 07 22 11
15 17 16 10
01 19 15 04
04 15
02 20
01 08
74
do que os pirralhos se divertirem). Atrai muitos leitores, apesar de a freqüência
dos posts ser baixa.
Quadro 13 – Freqüência de comments do blog Suburbia Tales
Como poderá ser visto nos próximos itens, uma das características no
envolvimento dos blogueiros do Suburbia Tales com seus internautas é o
tratamento que eles usam para se referir aos seus leitores (caléga ou calégas),
marcando o que Eggins (1994: 65) afirma ser um grau de contato em relação à
distância social, resultado da convivência ou da freqüência de contato entre os
participantes envolvidos em uma interação e a intensidade de atenção a cada
um deles.
2.2.7 – YOUR SOUL
Blog46 atualizado por Your Soul, apelido de Cláudia, que, não traz
descrição alguma sobre ela no próprio diário. Este fato não é muito corriqueiro
na blogosfera, já que, na página de entrada da maioria dos blogs, existe uma
46 http://www.your-soul.com
JAN
COMMENTS
FEV
COMMENTS
MAR
COMMENTS
Dias Dias Dias
31 19 28 09 30 17
30 10 26 04 21 20
29 11 12 15 16 06
18 17 08 05 06 14
06 16 03 11
02 09
75
breve caracterização do blogueiro. Ela assina todos os posts e responde aos
comments, usando seu pseudônimo virtual.
Escreve quase todos os dias dos meses analisados. Dos sete blogs
escolhidos aleatoriamente, é o único de freqüência altíssima, levando em
consideração todos os dias em que escreve, com relatos muito longos sobre
fatos do cotidiano, como o relato do dia 14 de fevereiro (E começou tudo de
novo, again! O despertador grita em meus ouvidos freneticamente. Viro pra lá e
pra cá, a cama me segura deliciosamente, olho para o lado, Bebê dorme
gostoso e lá vou eu.).
É umas das únicas blogueiras que responde aos comments deixados
pelos internautas, na maioria, amigos feitos por meio da blogosfera; porém,
existem alguns que são reais e convivem com ela diariamente. Outros só têm a
convivência marcada pela Internet, da qual ela se diz no post do dia 14 de
março: “viciada e dependente em alto grau”
Podemos visualizar os detalhes descritos acima, conferindo o quadro
na página a seguir:
76
Quadro 14 – Freqüência de comments dos meses de janeiro, fevereiro e março/2005
Com os blogs da pesquisa já devidamente descritos e apresentados,
passamos para a compilação dos dados, os procedimentos de coleta, e
organização, seguidos do programa WordSmith Tools para evidenciar as marcas
da interação entre blogueiro e internauta e um breve relato da Lingüística de
Corpus.
JAN
COMMENTS
FEV
COMMENTS
MAR
COMMENTS
Dias Dias Dias
31 36 28 26 31 30
30 30 27 14 30 28
29 22 26 24 29 22
28 26 25 25 28 30
27 26 24 32 27 20
25 22 23 36 26 28
24 28 22 32 25 34
22 28 21 34 24 12
21 22 20 16 23 30
20 16 19 36 22 26
19 32 18 34 21 24
18 18 17 14 19 28
17 28 16 38 18 26
16 16 15 30 17 36
15 20 14 34 16 24
14 20 13 24 15 12
13 28 11 40 14 28
12 26 10 22 12 18
11 26 09 14 11 14
10 22 08 14 10 17
09 20 07 22 08 12
08 30 06 14 07 28
07 30 05 20 06 32
06 24 04 32 05 12
05 28 03 34 04 26
04 24 02 32 03 26
03 12 01 26 02 21
02 16 01 30
77
2.3 – COMPILAÇÃO DOS DADOS
Sendo usuária da Internet já há muitos anos, os dados foram compilados
mediante o acesso ao blog de um amigo, que nos remeteu por meio de outros
links a vários outros blogs, inclusive os que foram coletados para fazer parte
dos corpora da presente pesquisa.
Utilizamos também a ferramenta de busca Google47 e um site
especializado em armazenar endereços de blogs48 espalhados pela superfície
virtual, para encontrar diversos blogs que poderiam fazer parte dos dados de
pesquisa.
O número de blogs foi aleatório, porque, a princípio, não havíamos
estipulado quantidade de diários virtuais, nem qualquer outro limite. A única
condição rigorosa e mantida desde o início da pesquisa era que o blog contasse
com um número razoável de comments diários e fosse atualizado diariamente,
ou ao menos sempre que possível pelo blogueiro, para podermos verificar sua
interação com o internauta, concretizar o enfoque de estudo e responder às
perguntas elaboradas para a pesquisa.
Todos os blogs consultados são de livre acesso, isto é, qualquer usuário
da Internet tem a possibilidade de se tornar leitor daquele texto, sem a
necessidade de senhas nem permissão para isso. Porém, os posts e comments
seriam usados como dados de uma pesquisa acadêmica, e mesmo sendo de
47 Google, uma das mais poderosas ferramentas de busca na Internet atualmente, segundo pesquisa realizada pela revista INFO Exame de março de 2006. O Google hospeda diversos outros serviços, além do de busca, como por exemplo, um especializado somente em imagens, um sobre blogs, mapas. 48 Technorati (http://www.technorati.com), site especializado no armazenamento de endereços de blogs espalhados pela rede. Há blogs de diversos tipos e em várias partes do globo. Neste site, também somos possibilitados a saber quantos blogs já foram criados ao redor do mundo, e essa estimativa passa da marca dos 37 milhões (dados acessados em 17/2/2006).
78
domínio público, julgamos conveniente que os blogueiros soubessem que seus
blogs haviam sido escolhidos para compilar os dados deste estudo.
Foi feito um contato entre a pesquisadora e os blogueiros cujos blogs
foram indicados, para a aplicação de um questionário, elaborado com a
finalidade de entendermos um pouco mais e melhor o universo do blogueiro.
No entanto, nem todos os blogueiros escolhidos colaboraram em
responder ao questionário. Talvez por tempo insuficiente, por falta de interesse,
por ociosidade ou qualquer outro motivo. Sendo assim, dos treze blogueiros que
tiveram seus relatos selecionados aleatoriamente, somente sete contribuíram
para a validação do questionário como dado de pesquisa.
O questionário foi elaborado com o intuito de saber do blogueiro como é
estabelecida a interação com seu leitor, como isso ocorre, enfim, coletar outros
dados a fim de que a confiabilidade instituída com a análise final dos dados
fosse corroborada.
Portanto, com base nos questionários respondidos é que selecionamos
sete para compor o corpus de estudo. O passo seguinte foi renomear os blogs,
pois todos eles contêm nomes extensos e a simplificação dos títulos não só
concorreria para que eles fossem assimilados com mais facilidade pelos leitores,
como também facilitaria, quando fôssemos nos referir a eles, na análise.
Assim, os blogs foram renomeados da seguinte maneira: Uma dama não
comenta passou a ser nomeado Blog1; Jesus, me chicoteia!, Blog2; No limite
da razão, Blog3; Crônicas Mônica, Blog4; Não vá se perder por aí, Blog5;
Suburbia Tales, Blog6 e Your Soul, Blog7.
Depois dos blogs coletados, armazenados e salvos no editor de texto
para que pudessem ser analisados pelo WS Tools, a escolha dos seis itens que
79
nos propusemos analisar foi feita após a leitura dos blogs e apontadas como as
mais freqüentes neste corpus de estudo, a saber: tratamentos (amore, calégas,
people, etc.); pronomes (eu, você - em sua variação VC, muito usado na
linguagem virtual); nomes/nicknames (alguns blogueiros, como Tiago e Mônica
usam seus próprios nomes, no entanto Cacau e Your Soul utilizam seus
apelidos para assinarem seus posts ); emoticons (:), :p, ;), etc.),
demonstrações de afeto/carinho (beijo, abraço, risos) e abreviações (mto, tb,
bj, pq entre outras).
Lembramos que muitos outros itens podem ser encontrados nos posts e
comments que foram analisados, porém houve uma delimitação nessas
escolhas para focar mais a interação entre blogueiros e internautas. Como
exemplo de extensão, podemos citar o uso de outros pronomes além dos
pessoais que foram escolhidos: os pronomes possessivos, demonstrativos,
interrogativos, etc.
É importante também apresentar o programa computacional WordSmith
Tools que foi usado para encontrar as marcas da interação virtual entre os
participantes dessa modalidade digital que a utilizam com freqüência, e em
seguida, uma breve nota sobre a Lingüística de Corpus que também faz uso
dessa ferramenta por trabalhar geralmente com grandes quantidades de textos e
assim dar uma maior precisão dos resultados que são propostos nas análises
feitas pelos pesquisadores.
2.4 – A FERRAMENTA COMPUTACIONAL WORDSMITH TOOLS
O WordSmith Tools é um conjunto de programas destinado à análise
lingüística. Esse software permite fazer análises baseadas na freqüência e na
80
co-ocorrência de palavras. Foi criado por Mike Scott, da Universidade de
Liverpool, Reino Unido, em 1996.
De acordo com Hoey (1993 apud Berber Sardinha, 2004: 85):
o desenvolvimento do computador com memória poderosa seria para a lingüística o que o desenvolvimento do microscópio com lentes poderosas foi para a biologia – uma oportunidade não somente de ampliar nosso conhecimento mas de transformá-lo.
O WS Tools, então, serve como uma ferramenta que permite realizar
tarefas relacionadas à análise lingüística. Porém, ele não foi feito para efetuar
análises de projetos específicos; disponibiliza uma série de opções de
ferramentas, umas mais gerais, outras mais restritas.
O programa possui três ferramentas (Wordlist, Keywords e Concord) e
quatro utilitários (Renamer, Text Converter, Splitter e Viewer).
Seguem abaixo as ferramentas que serão usadas do WS Tools na
pesquisa para encontrar as marcas lingüísticas que sinalizam as características
da metafunção interpessoal da GSF: a WordList e o Concord com suas
respectivas funcionalidades:
WordList: produz listas de palavras contendo todas as palavras do
arquivo ou arquivos e percentuais. Cada uma dessas listas é apresentada
em uma janela diferente, e, juntamente com as suas janelas correspondentes
à lista alfabética (A) e por freqüência (F), o programa oferece uma terceira
janela (S) na qual aparecem estatísticas relativas aos dados usados para
produção de listas. (Costa, 2005:43).
81
Figura 2 – Lista de freqüência dos blogs
Na figura acima, podemos ver as primeiras 26 palavras mais freqüentes
no corpus de estudo. A freqüência representa quantas vezes a palavra apareceu
no objeto de pesquisa, neste caso, os blogs. Por exemplo, o pronome EU está
ocupando a posição nove, com 2.073 ocorrências e 0,96% de representatividade
no total do corpus, enquanto a palavra beijo, aparece em 19o lugar, com 1,189
ocorrências e 0,56% de representatividade.
Abaixo, a lista formada pelo WS Tools, representando a ordem
alfabética em que as palavras do corpus de estudo são encontradas pela
ferramenta.
82
Figura 3 – Lista em ordem alfabética dos blogs
Na figura abaixo, a janela do WordList que mostra a Estatística (S) do
corpus, apresenta também os Tokens e Types totais do corpus de pesquisa.
Há ainda o item chamado de Type-Token Ratio, que é o vocábulo/ocorrência
em porcentagens. De acordo com Berber Sardinha (2004:94) “quanto maior o
seu valor (types ÷ tokens), mais palavras diferentes o texto conterá”, mas
lembrando sempre que esses valores podem ser representativos de acordo
com o corpus de estudo e para que ele foi coletado.
83
Figura 4 – Lista de estatística do corpus.
Concord: realiza concordâncias ou listagens de uma palavra
específica (o ‘nódulo’, node word ou search word) juntamente com parte do
texto onde ocorreu. Apresenta também uma lista de colocados, i.e., palavras
que ocorreram perto do nódulo.
Como já explicitado nos itens anteriores, a palavra beijos tem uma
ocorrência de 1.189 vezes no corpus, e abaixo podemos ver as maneiras como
essa palavra foi agrupada.
84
Figura 5– Exemplo de concordância da palavra “beijos” feito pelo Concord.
Na ferramenta Concord, pode-se utilizar também o seguinte recurso:
Clusters (lista de agrupamentos lexicais): segundo Berber Sardinha
(2004: 111), essa lista refere-se a “uma lista de seqüências fixas de palavras
(multipalavras) recorrentes na concordância” e pode ser obtida a partir da
barra de ferramentas do recurso Concord.
85
Nesse caso, o programa busca as palavras recorrentes nas linhas de
concordância, sem se restringir aos trechos de textos em que a palavra de
busca ocorre.
Figura 6 – Exemplo de lista de clusters, feito pelo Concord, com a palavra “beijos”.
Como podemos observar os agrupamentos lexicais com que se liga a
palavra beijos com as palavras existentes no corpus da pesquisa.
86
2.5 – A LINGÜÍSTICA DE CORPUS
De acordo com Berber Sardinha (2000: 46):
A Lingüística de Corpus se ocupa da coleta e exploração de corpora, ou conjuntos de dados lingüísticos textuais que foram coletados criteriosamente com o propósito de servirem para a pesquisa de uma língua ou variedade lingüística. Como tal, dedica-se à exploração da linguagem através de evidências empíricas, extraídas por meio do computador.
A Lingüística de Corpus é uma abordagem teórico-metodológica
importante para a realização da averiguação dos componentes lingüísticos que
estão contidos nos posts dos blogs, como meio de caracterizar esta interação
virtual, objeto de nosso estudo.
Leech (1992:106) propõe que a Lingüística de Corpus “pode ser definida
não somente como uma nova metodologia, para o estudo da linguagem, mas
como uma nova empreitada de pesquisa e, na verdade, como uma nova
abordagem filosófica”, segundo Berber Sardinha (2000:357).
Além disso, a Lingüística de Corpus é uma abordagem que parte de
pressupostos teóricos e que abre novos rumos para análise e interpretação
lingüística dos corpora armazenados em computador. E mesmo antes dos
computadores existirem, já havia corpora, porém eles não eram analisados
eletronicamente como se procede hoje, mas sim, manualmente.
Serralvo (2004:09), com base em Biber e colaboradores (1998:04)
ressaltam que a Lingüística de Corpus pode ser definida como uma área que
trabalha com a descrição dos mais variados aspectos de linguagem natural via
corpus, cujas características mais comuns são:
87
(a) ser uma pesquisa de investigação empírica e analisar os padrões reais de uso em textos naturais; (b) utilizar coletâneas grandes e criteriosas de textos naturais, conhecidas por “corpus”, como base da análise; (c) fazer uso extensivo de computadores na análise, empregando técnicas automáticas e interativas; (d) depender de técnicas quantitativas e qualitativas.
Pode-se dizer que a Lingüística de Corpus considera a linguagem como
um sistema probabilístico, no qual os traços lingüísticos ocorrem com maior ou
menos freqüência, dependendo do contexto de uso.
A teoria sistêmico-funcional de Halliday (1994) concebe a linguagem
como um sistema composto por um conjunto de escolhas, dentre as quais o
falante tem que selecionar uma a cada enunciado. Trata-se, também, para o
autor, de um sistema probabilístico, já que, se há um conjunto de escolhas,
algumas serão mais prováveis do que outras, dependendo do contexto.
Um corpus é representativo para a finalidade ao qual ele está sendo
pesquisado, naquilo que ele foi concebido à investigação, e quanto maior ele for,
mais representatividade ele terá. Para que um corpus seja representativo,
conforme Berber Sardinha (2004:24), ele deve conter o maior número possível
de sentidos de cada forma.
De acordo com Sinclair (1995), para que um corpus seja representativo, é
necessário torná-lo o maior possível, a fim de que ele se aproxime o máximo da
população49 da qual deriva, sendo, portanto, mais representativa. 49 População é o universo de onde deriva o corpus estudado. Neste caso, a população é a
blogosfera de onde os blogs provêm. Os 7 blogs compilados e estudados nesta pesquisa
representa somente uma fatia da população de webblogs mundialmente concebidos, assim
sendo, para saber se os 7 que foram escolhidos para o presente estudo são representativos à
blogosfera, é necessário que se saiba quantos blogs exatamente existem on-line, mas isso é
quase impossível, já que a cada segundo um novo diário virtual é criado e os números aumentam
significativamente, rápido demais, para se acompanhar tal avanço e ser exato na quantidade
(Berber Sardinha, 2004: 22 – 24).
88
Deste modo, Berber Sardinha (2004: 26) sugere uma classificação
baseada na observação dos corpora utilizados de acordo com quatro anos de
conferências de Lingüística de Corpus:
Tamanho em palavras
Classificação
Menos de 80 mil Pequeno
80 a 250 mil Pequeno-médio
250 mil a 1 milhão Médio
1 milhão a 10 milhões Médio-grande
10 milhões ou mais Grande
Quadro 15 – Tamanho sugerido de um corpus representativo
E graficamente, a escala seria assim (Berber Sardinha, 2004:26):
0,500
0,003 0,080 0,250 1 10 480
P M G
39,8
Figura 7 – Gráfico de um corpora representativo.
De acordo com a tabela e a figura acima, Berber Sardinha (2004: 119)
afirma que um corpus que contenha entre 80.000 e 250.000 palavras é
considerado um corpus de tamanho pequeno-médio, diante do imenso potencial
de armazenamento de dados dos computadores de hoje. O corpora desta
89
pesquisa mostram-se adequados para os propósitos da análise, levando em
consideração que o número total de palavras é 215.926.
Em síntese, a Lingüística de Corpus é uma área da Lingüística que se
dedica à pesquisa através da observação de uma grande quantidade de textos
armazenados eletronicamente (corpus) e analisados por meio de programa de
computação capaz de selecionar, ordenar, contar e calcular.
Assim, tendo como base teórica a GSF e com o subsídio da Lingüística
de Corpus, juntamente com o programa computacional WordSmith Tools, as
marcas lingüísticas da interpessoalidade contidas na interação blogueiro-
internauta serão analisadas para responder às perguntas de pesquisa, com o
uso de algumas ferramentas e utilitários disponibilizados pelo WordSmith Tools
que nos apontarão tais sinais indicando esta interatividade entre os
participantes.
Tendo apresentado a metodologia desta pesquisa e descrito os
procedimentos adotados para a análise, bem como o instrumento computacional
utilizado para levantar as marcas de interpessoalidade apresentadas no objeto
de pesquisa, e um breve relato da Lingüística de Corpus para descrever a
representatividade do corpus, que tem um tamanho pequeno-médio por conter
215.926 palavras, passaremos para o capítulo de análise e discussão dos
dados.
90
“A criatividade é fruto de espíritos empreendedores, atuando em
ambientes que favorecem a inovação. Nesses ambientes os
fracassos são apenas degraus rumo ao sucesso. As vezes idéias
brilhantes se revelam um fiasco.“
Steven Paul Jobs – Fundador e Presidente da Apple
91
CAPÍTULO 3
DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS DADOS
Como já amplamente explicitado nos capítulos anteriores, esta pesquisa tem como propósito estudar um corpus formado por sete (7) blogs,
com os dados dos meses de janeiro, fevereiro e março de 2005, com posts e
comments correspondentes a essas datas, a fim de se saber como ocorre a
interação on-line entre blogueiros e internautas.
Os sete diários virtuais que serão analisados, foram escolhidos de
maneira aleatória na Internet. Atualmente, existem disseminados pela blogosfera
diversos tipos de blogs: empresariais, institucionais, jornalísticos, direcionados
para a Literatura, Música, Arte, há os que versam sobre atores e atrizes
famosos, celebridades instantâneas, enfim, tudo o que acontece na rede e no
mundo real é motivo para se escrever um blog. Assuntos corriqueiros, como a
descoberta de como abrir um cadeado e roubar uma bicicleta, já mencionado, o
sentimento de injustiça por ter adquirido um computador com diversos
problemas, os acontecimentos políticos, entre vários outros exemplos, estão nos
blogs com os relatos do dia-a-dia.
Nesses blogs, os autores descrevem quaisquer aspectos da vida nos
seus escritos expostos na Internet. Apesar disso, esse tipo de blog, com
narrativas do cotidiano, de acordo com Komesu (2005), não é um
aperfeiçoamento do diário íntimo pertencente aos séculos passados, mas sim,
um fenômeno da Era Digital.
92
Para a GSF, a língua é como um produto que envolve o contexto
sociocultural e tem como foco o estudo da linguagem em uso, não
individualmente, porém abrangendo dois ou mais participantes.
Utilizando o programa computacional WS Tools (Scott, 1998), como já
explicado no capítulo 2 de Metodologia de Pesquisa, faremos uso das
ferramentas Concord e WordList para encontrar as marcas lingüísticas que
caracterizam a interação dos integrantes da pesquisa e as marcas que
identificam a interpessoalidade presente na permuta virtual em que se enredam
os interactantes.
Sendo assim, o WordList será utilizado para identificar a freqüência (F) com que determinadas palavras que marcam a interação aparecem no corpus,
seguidas da estatística (S). A ordem alfabética (A) não nos interessa neste
caso, pois a evidenciada pela ferramenta pode não ser a mesma que assinala a
interação blogueiro-internauta; o Concord será empregado para apontar as
palavras específicas que caracterizam a interação entre os participantes,
aproveitando também o recurso de Clusters (lista de agrupamentos lexicais)
para identificar com o quê tais palavras encontradas no corpus são
acompanhadas, e a partir daí, responder às perguntas de pesquisa.
3.1 – MARCAS DA INTERAÇÃO BLOGUEIRO-INTERNAUTA
Eggins (1994: 53-54), ao abordar a teoria do registro, aponta alguns
aspectos que assinalam a diferença da linguagem falada da escrita. Um deles é
mencionado pela autora como o aspecto das distâncias interpessoal e espacial
entre os envolvidos da interação, como pode ser visto na figura abaixo,
simplificada de Martin (1984: 26 apud Batista, 1998: 32) por Eggins, explicando
que os meios de comunicação, como os e-mails, têm revelado dimensões de
modos complicados, porém não vai além desse comentário.
93
A conclusão dada por Batista (1998:32) sobre essa definição de Eggins
em relação ao e-mail, ocorre em virtude desse suporte virtual que é
compartilhar características de duas comunicações a que os falantes da língua
estão expostos: uma conversa informal mesclada com uma escrita mais formal.
Conversação Telefone E-mail Fax Rádio Romance
+ contato visual - visual - visual - visual - visual - visual
+ audível + audível - audível - audível - audível - audível
+ resposta + resposta + resposta + resposta - resposta - resposta
imediata imediata rápida rápida atrasada
Figura 8 – Distância espacial ou interpessoal (Eggins: 1994: 54)
Como se pode depreender da figura acima, o blog não está entre os
meios de comunicação, primeiro porque o objeto de pesquisa não havia surgido
ainda na época em que esse quadro foi criado (1994 – acredita-se que o
primeiro blog tenha nascido em 1999) e mesmo agora com a difusão dos diários
virtuais na blogosfera, ele estaria no mesmo eixo do e-mail, por conter quase as
mesmas características do correio-eletrônico, em que a visão e a audição são
menos privilegiadas, mas a resposta imediata é a grande favorecida dessa
interação on-line, que trataremos a seguir.
O programa WS Tools, citado no início do capítulo, possibilita fazer listas
de palavras do corpus que está sendo analisado. E como os corpora da
presente pesquisa contém 215.926 palavras, seria um trabalho um tanto quanto
árduo fazer a análise das marcas lingüísticas que caracterizam a interação entre
blogueiros e internautas, manualmente, além de não se ter a confiabilidade ao
94
analisar os dados encontrados que poderiam ser descartados, distraidamente,
tamanha a quantidade de palavras que envolvem o corpus de estudo.
Dessa forma, as duas ferramentas utilizadas no WS Tools foram o
WordList e o Concord, para que duas listas das palavras do corpus total e
individual de cada blog fossem feitas, contendo as palavras mais freqüentes e as
marcas lingüísticas características da interação entre os participantes.
Das palavras que foram encontradas no Controller do WS Tools
identificados pela Wordlist do programa, a de maior freqüência, que marca a
interação entre os blogueiros e internautas, é o pronome eu com ocorrência de
2.073 (0,96%), seguido da palavra beijos, com 1.189 (0,55%) como podemos ver
na figura abaixo, sinalizada pelo recurso mark/unmark, listando assim, os 9o e
19o lugares, respectivamente, da WordList.
Figura 9 – Wordlist das palavras mais freqüentes
95
Essas duas palavras encontradas pela ferramenta WordList, deu-se a
partir da restrição das escolhas léxico-gramaticais que caracterizam e assinalam
a interação nesse específico suporte do contexto virtual, o blog, as quais foram
eleitas por explicitarem melhor a interação nos textos escritos virtualmente pelos
internautas e pelos blogueiros e também por abordarem duas características
típicas de uma interação: a relação pronominal e a demonstração de afeto e
carinho entre os participantes.
Retomando a idéia de Thompson (1996:38) de que é mediante a troca de
bens e serviços ou de informação que acontece a interação entre os
participantes e é por meio da metafunção interpessoal que se estabelece uma
relação de escolhas gramaticais para que o falante interaja com seu ouvinte, a
sugestão dos itens relacionados no parágrafo acima tem como meta, além de
focar mais este estudo interativo entre blogueiros e internautas, caracterizar
alguns itens da linguagem virtual que acontece neste contexto em que o blog
está inserido: a Internet.
Primeiro será mostrada uma relação de algumas palavras apresentadas
segundo os critérios de prioridade que foram estabelecidos, conforme já
explicado.
N
P
F
%
N
P
F
%
N
P
F
%
9 EU 2.073 0,96 166 QUERIDA 140 0,06 266 BEIJÃO 96 0,04
19 BEIJOS 1.189 0,55 181 POLLY 125 0,06 287 LELE 80 0,04
22 SOUL 1.124 0,52 198 AMIGA 116 0,05 291 AMIGO 78 0,04
34 VC 732 0,34 201 AMORE 114 0,05 297 AURÉLIO 77 0,04
38 VOCÊ 648 0,30 211 SÓCIA 108 0,05 299 ERIKA 77 0,04
48 RS 521 0,24 217 ANA 105 0,05 324 HEHEHE 71 0,03
93 BEIJO 267 0,12 228 BEIJOCAS 100 0,05 351 TIAGO 66 0,03
97 CACAU 250 0,12 230 AMIGOS 98 0,05 377 RSRS 62 0,03
QUADRO 16 – palavras mais freqüentes que marcam a interação blogueiro-internauta
96
Foi usada a ferramenta Wordlist para enumerar as palavras que caracterizam a
interação blogueiro-internauta a partir do critério estabelecido de que a palavra
deveria estar com uma porcentagem acima de 0,03 para que fosse válida.
Assim a legenda do quadro acima é a seguinte:
N - No programa WS Tools o N representa o número da colocação da
palavra na lista. Na tabela acima, também terá essa finalidade,
lembrando que as palavras que estão nela foram as mais destacadas
pela troca comunicativa entre blogueiro-internauta e mais freqüentes,
caracterizando assim, a interação virtual.
P – No WS Tools, o P representa a WORD (palavra) que foi encontrada
pela Wordlist. Assim, as palavras que estão no quadro representam as
mais freqüentes que nos remetem à interação a que nos referimos.
F – A freqüência (F) em que determinada palavra aparece no Wordlist.
Aqui, representa também a presença em que foi mostrada no corpus de
pesquisa.
% – A porcentagem em que determinada palavra aparece no corpus que
se está pesquisando. As palavras com porcentagem abaixo de 0,01%
não aparecem marcadas no Wordist neste item (%), somente
apresentam o Word e a Freqüência.
Desse modo, a análise individual dos blogs será apresentada a seguir e
as marcas de interação neles encontradas serão explanadas da mesma
maneira, para assim, responder às perguntas de pesquisa.
97
Lembramos ao leitor que algumas das palavras que foram relatadas no
quadro 16 não aparecem no corpus dos blogs (separada e/ou individualmente)
quando foi feita a análise, pois os Tokens (palavras contidas no corpus) e Types
(palavras diferentes do corpus) de cada um dos blogs são somente um número
mínimo dos corpora que estão sendo estudados.
Para melhor entendimento nominal dos blogs, já que todos eles têm
títulos longos, adotamos a seguinte nomenclatura ao nos referirmos a eles: será
usada a letra B maiúscula (representando a palavra blog) e um número
correspondente.
3.2 – ANÁLISE DOS BLOGS
Optou-se, neste estudo, por analisar seis itens nos blogs:
(1) Formas de tratamento;
(2) Pronomes;
(3) Nomes/Nicknames;
(4) Emoticons;
(5) Demonstrações de afeto/carinho;
(6) Abreviações.
Tal escolha foi feita com base na lista de freqüência do programa WS
Tools e decidimos efetuar a análise do mesmo item para todos os blogs, para
que se verificasse sua ocorrência nos diferentes textos e também para uma
melhor visualização das conclusões dos dados e entendimento do leitor.
98
De acordo com Ramos (1997: 41), apoiada também na sistêmico-
funcional, é por meio da metafunção interpessoal que a língua cumpre um de
seus principais propósitos de comunicação: interagir com outras pessoas. Com
base nessa troca realizada pelos participantes da interação, papéis são
atribuídos e assumidos por eles; no caso dos blogs, são conferidos os papéis de
“blogueiro(a)”- aquele que é o transmissor da informação contida em seu blog- e
“internauta”- o que visita um outro diário virtual conhecido dele. O blogueiro, por
sua vez, pode escolher ser ele mesmo, ao passo que para o internauta, esse
papel é imposto, pois, ao acessar determinado blog para deixar um comments,
já se atribui o papel de “comentarista.”
Giovanna, Lilaise e Mestre Delih interagem com seus internautas da
seguinte maneira: como já foi mencionado nas páginas anteriores, Mestre Delih
responde aos internautas que lhe fazem questionamentos sobre situações
excepcionais de suas vidas. Podemos conferir no texto abaixo.
Sexta-feira, Janeiro 21, 2005 MESTRE DELIH RESPONDE Mestre Delih, Vivo em crise nos últimos meses. É que toda vez que assisto a novela Senhora do Destino fico de tico duro pela Renata Sorrah. Acho aquela coroa uma gostosa do caramba e se pudesse beijava ela na boca e chamava de meu amor. O problema é que abri essa minha opinião pela loirosa aos meus amigos da minha idade (tenho 21 anos) e todos riram da minha cara, dizendo que Deus o livre, que aquela velha era feia que era o diabo e não sei o que mais... Em resumo, Mestre Delih, sou ou não uma pessoa normal por me masturbar pensando na Renata Sorrah? Meu caro, Assim que conseguir conter minha crise de risos, respondo seu e-mail.
Mestre Delih
O dilema do internauta está em achar a atriz Renata Sorrah atraente e ter
que encarar o círculo de amizade que não concorda com ele e ainda ser motivo
de zombaria. Note-se, ainda, que ele não expôs seu nome. Mestre Delih não
responde imediatamente, pois, segundo ele mesmo diz: “Assim que conseguir
conter minha crise de risos, respondo seu e-mail”. Esse fato de que o blogueiro
99
está ludibriando o internauta da mesma forma como os amigos o fizeram mostra-
nos um sinal de interação caracterizado pela palavra “risos” e por outros
componentes da frase. Aparece o uso da expressão “risos” mostrando que,
verdadeiramente, esta é uma interação virtual e a ausência da troca face-a-face
faz com que o internauta crie mecanismos para suprir a falta desse contato.
Segundo Sinclair (1985 apud Ramos, 1997: 42), o texto escrito, como o
falado, é interativo já que é “direcional e tem um propósito” – o escritor tem uma
finalidade dirigida para uma audiência ou leitor, neste caso, o internauta que
acessa e lê o blog visitado.
Como foi proposto anteriormente, através da ajuda do WS Tools,
verificaremos, na seqüência, as escolhas léxico-gramaticais indicadas nos
comments e posts deste blog.
3.2.1 – FORMAS DE TRATAMENTO NOS BLOGS
Entendemos por tratamento a forma de referência do interlocutor na
situação, neste caso específico, escritor/leitor. Quanto mais os interactantes se
conhecem, menos há distância social entre eles. Tais relações de envolvimento
entre os participantes da interação tipicamente carregam com elas uma
“proximidade” de diferentes graus. Nesse contínuo transcrito de Eggins
(1994:65), esquematiza-se o quanto estamos emocionalmente envolvidos ou
comprometidos com a situação.
Alto Baixo
Do total de palavras do corpus dos sete blogs foram encontradas 1.076
palavras que apontam as formas de tratamento que os blogueiros usam com
seus internautas, seja no post do dia ou durante a resposta de um comment.
100
Especificamente nos corpora de Blog1, foi encontrado um único elemento,
explicitamente, que demonstra o tratamento deles para com os internautas, a
palavra amigos, tendo cinco ocorrências, isto é, 0,03% do corpus total, que
contém 15.021 tokens e 3.369 types. É uma ocorrência bastante baixa, levando
em consideração o número de palavras presentes neste corpus.
Já no Blog2, o blogueiro tem um modo peculiar de tratar o internauta. Às
vezes, com ternura, usando, por exemplo, a palavra amigo, em outras, usando
uma forma de tratamento um tanto quanto chula.
Um dos posts que mais renderam comments dos internautas visitantes foi
uma resposta aberta a um leitor que se sentiu ferido quanto ao objetivo traçado
pelo blogueiro em reescrever a Bíblia segundo sua visão.
O internauta usou passagens bíblicas (O inexplicável é que o Senhor
continua te amando e não desistiu de você, mas gostaria de lembrá-lo do que
está registrado no último capítulo de apocalipse versículo 18: "Eu, a todo aquele
que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: se alguém lhe fizer
qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos descritos neste livro".)
para mostrar ao blogueiro que, por desrespeito com a imagem sagrada da Bíblia
e de Jesus Cristo, ele não teria sua alma salva, um pensamento cristão que diz
que ao se cometer um “pecado”, uma falta grande de desmoralização com as
imagens católicas, sua alma terá não o Paraíso, mas o Inferno para descansar.
Como o próprio autor do blog cita, sua resposta ao visitante foi demasiada
longa, e em momento algum, o blogueiro usa termos ofensivos. No entanto, o
tom sarcástico do autor se revela no fim da resposta, quando ele escreve: “PS:
Então Deus quer meu coração, hein? Que coisa, eu nem sabia que o coitado
estava na fila de transplantes...”
101
O autor do Blog2 ainda faz uso das palavras amigo, leitor e irmãos para
se referir ao seu leitor. Desse modo, cria uma intimidade com o internauta, como
poderemos conferir no item de Demonstrações de Afeto/Carinho deste capítulo.
A autora do Blog3, Cacau, usa duas palavras específicas para tratar seus
blogueiros: people e folks, talvez pelo fato de seu blog ter um tom mais
verdadeiro de diário, pois narra acontecimentos prosaicos de sua vida, do que os
dos demais. Sempre que chega próximo ao fim de semana ou de alguma data
que mereça destaque, ela deixa no fim do post do dia uma mensagem para eles,
como no exemplo a seguir.
janeiro 21, 2005 Presente com gosto de beijo. E de quero mais. Muito mais. Cada vez mais. Sempre mais. Você vicia. "Eu queria ter uma bomba. Um flit paralizante qualquer. Pra poder me livrar. Do prático efeito Das tuas frases feitas. Das tuas noites perfeitas." - (® Cazuza) Bom finds, people!
Posted by Cacau at 07:19 AM
fevereiro 14, 2005 Agora sim! Happy Valentine’s Day Folks !!!
Posted by Cacau at 08:06 AM
102
A blogueira do Blog4, conforme já explicitado, escreve muito pouco. Por
este motivo, não procedemos da mesma forma que na análise dos blogs
anteriores, com referência às formas de tratamento, pois em nenhum post a
autora explicita como nomeia seus receptores.
No entanto, o criador do Blog5 não escreve, aparentemente, direcionado
a alguém. Pelos posts que foram coletados e analisados, a impressão deixada
pelo blogueiro é que ele faz do seu espaço virtual um ambiente tanto para seus
desabafos quanto para questionar as atuais incertezas da vida. E em momento
algum ele nos aponta palavras como amigo, leitor, gente e palavras que
pudessem nos elucidar como seus leitores poderiam ser tratados por ele.
Segundo Eggins (1994:64), o grau de envolvimento afetivo entre os
participantes da interação refere-se à extensão ou intensidade – isto é, alta ou
baixa – de relações de amizade, amor, afinidade ou consangüinidade entre os
interactantes, que pode ser conferido no esquema a seguir.
conhecidos desconhecidos
próximos distantes
menor distância social maior distância social
Refletindo sobre a interação que acontece entre os interactantes deste
suporte virtual que é o blog, pode-se interpretar o diagrama acima da seguinte
maneira: quando o blogueiro conhece (real ou virtualmente) um internauta, a
socialização com ele é maior, uma afeição é criada entre ambos, tornando-os
mais próximos; por isso, os participantes dividem segredos, angústias,
103
pensamentos, ideais, entre outras coisas, como alguém que tenha um convívio
continuo em um círculo de amizades face-a-face.
Já quando a distância entre eles é latente, o apego, a dedicação não
ocorre na mesma intensidade como se houvesse uma comunicação, um diálogo
freqüente entre ambos os participantes. Resulta daí uma conexão entre eles
desenvolvida de maneira mais formal, sem demonstrações de afabilidade entre
os envolvidos.
Os blogueiros do Blog6 tratam seus internautas com a seguinte
nomeação: caléga ou calégas. Essa é a variante da palavra colega, termo muito
usado pelos cariocas em geral, para tratar uma pessoa amiga, companheira,
como podemos constatar no exemplo abaixo.
Segunda, 28 de Fevereiro de 2005 Digrátis Curso de Marketing. Disciplina: Inteligência Competitiva. Professor: “-(…) Clube de Pontos, Smart… nada disso dá certo por aqui. Brasileiro gosta é de brinde, de raspadinha…” Eu virei pro lado e perguntei: “-Caléga, ele disse ‘brasileiro’ ou ’suburbano’, que eu não ouvi direito?” Cinha às 0:20 | 9 Calégas!
Observa-se que no trecho acima, o blog possui uma marca para contar
quantos internautas deixaram seus comentários durante o dia daquele post
(quase todo blog possui esse utilitário, daí a exatidão de comentários que são
deixados pelos internautas) e na configuração do número, podemos notar que
é usada a palavra caléga para identificar os visitantes. É interessante frisar
que quase todos os blogs possuem esse utilitário, daí poder se conhecer com
exatidão quantos comentários são deixados pelos internautas.
104
Finalmente, a autora de Blog7 não usa um pronome de tratamento
especial para falar com seus leitores, seus posts começam sempre com um
título referente ao será abordado no dia; no entanto, segundo o Concord, a
forma de tratamento mais encontrada foi amore – 108 vezes, e logo em
seguida apareceu querida (38 ocorrências). Porém, a forma masculina foi
encontrada somente quatro vezes e os plurais desse tratamento, nenhuma
vez, de acordo com o Concord.
A expressão amore é sempre usada por Sound of Silence e Your Soul.
Aparentemente, Sound of Silence é uma pessoa que tem algum envolvimento
amoroso com a blogueira pela maneira como eles se tratam. Podemos
conferir no exemplo abaixo:
:: 28 de fevereiro, 2005 :: Filiz por tê-la junto com nóis aqui na Festim, Amoreeeeeeeeee... E filiz demais por tê-la conhecido pessoalmente, e por ter visto a razão de todo o carinho que vc tem por ela... Tinhamuuuuuuuuuuuuuuuuuuu... Sounds of Silence fevereiro 28, 2005 07:30 AM Né Amore? EU tumém... tinhamú Your Soul fevereiro 28, 2005 08:00 AM
3.2.2 – PRONOMES
Com o recurso de Clusters no Concord podemos observar a que outras
palavras determinado termo está associado; porém, tal utilitário não nos mostra
esse resultado, se uma palavra ocorrer no mínimo duas, e no máximo, oito
seqüências de palavras repetidas e presentes na concordância (Berber
Sardinha, 2004: 107).
105
Os pronomes que foram escolhidos para demarcar a interação entre
blogueiro e internautas, usados nos sete blogs desta pesquisa, foram eu e você,
sendo aceita também sua abreviação vc, pois no meio virtual essa redução do
pronome é bastante comum, ocorrendo, portanto, 112 (0,75%); 34 (0,23%) e 13
(0,09%) vezes , respectivamente, no corpus do Blog1.
Podemos ver isso concretamente, no exemplo abaixo, extraído das sete
primeiras lindas do Concord com a palavra eu, do blog citado acima. 1 ereiro 09, 2005 - [peido/arroto] - Que nojo! - Eu não sou porco. Sou orgânico. 2 Segunda-feira, Março 14, 2005 E então que eu comprei um All Star em quadrinhos e 3 ira, Fevereiro 22, 2005 Pichação de muro que eu gostaria de entender: "Na montaem 4 o pra quem pergunta a que horas eu acordo. Eu levanto às seis e meia, mas só acordo 5 vai mamada" é a resposta ao "vai serginho": "eu vou tocar uma siririca e vou gozar na 6 favorito Num adianta deletar Com reload eu republico. Oi plis mi adi! arremessado 7 aaaaaaaaaaaaaaaaahhhhh Gabi, vc é fashion. Eu também tenho um desses. –Carol
No Blog2, o pronome de primeira pessoa do singular foi encontrado em
500 ocorrências com o uso do Concord, associado às palavras o que eu (16
vezes) e que eu não (9). Como já explicado anteriormente, abaixo de dois e
acima de oito palavras que acompanham os Clusters que estamos procurando, o
gerenciador de concordâncias não nos aponta esses dados.
No entanto, você aparece 234 vezes e desse total o que você aparece
nove vezes e acho que você outras seis; já a variante de você abreviada vc
parece 121 vezes, e, talvez por esse número ser um pouco abaixo para o
Concord realizar uma busca com os clusters, não aparece a que a palavra em
questão está associada.
O uso do pronome pessoal eu pela blogueira do Blog3 é usado 590 vezes
segundo o Concord, e esta associação do pronome aparece dez vezes,
mostrada pelos Cluster, com as palavras coisa que eu, oito com eu quero uma,
sete com eu acho que e o que eu.
106
O uso de você nos mostra uma curiosidade quanto a sua escrita: com a
grafia correta (você) são detectadas 109 vezes, dentre as quais, três associadas
ao cluster de acho que você, contra 24 aparições de vc ladeadas à que vc não e
vc sabe que (com seis ocorrências cada) e espero que vc, com cinco
ocorrências.
Apesar do Blog3 não ser atualizado tão constantemente, o uso de
pronomes é freqüente, e num nível alto, retomando a teoria que embasa esta
pesquisa de que as escolhas lexicais marcam a interação, neste caso, entre
blogueiros e internautas, já que as escolhas pronominais afetam, ou refletem,
certos fatos sociais sobre o falante.
A utilização de eu nesse blog acontece 120 vezes, sendo cinco
associadas pelos Clusters às palavras eu te amo; o uso de você é de 85
aparições, mas nenhum Cluster foi feito com ela, o mesmo acontecendo com a
forma abreviada “vc”, recorrente 48 vezes.
Com quase quatro mil palavras diferentes em seu corpus, Blog4 tem uma
grande variedade do pronome eu, se comparado aos blogs anteriores que foram
analisados.
São listadas pelo Concord 170 ocorrências do pronome e quando
apontado pelos Clusters, a palavra vem aliada a eu assusto você (com oito
freqüências), eu não quero (com seis ocorrências) e acho que eu (com quatro
ocorrências).
107
Já você aparece de uma forma um tanto quanto desigual num segundo
tipo de colocação da palavra, como vemos na figura abaixo, em destaque pela
marca azul na linha em questão.
Figura 10 – Clusters da palavra “você” encontradas no texto
A palavra você teve 76 ocorrências no corpus total, e sua abreviação vc
um pouco mais de sua metade: 42 vezes.
Das marcas pronominais que foram escolhidas para caracterizar a
interação blogueiro-internauta no Blog6, listadas pelo WordList, eu é a mais
usada pelos autores e visitantes, aparecendo 104 vezes. Ao usar os Clusters
108
para apontar com quais outras palavras esse pronome era usado, curiosamente,
pelo fato de o blog descrever a vida suburbana dos próprios blogueiros e
conhecidos deles, a maior ocorrência de eu foi eu levanto às com três
ocorrências, como podemos ver na figura abaixo.
Figura 11 – Clusters do pronome “EU”, encontrado no corpus do blog Suburbia Tales
Segundo Halliday (Halliday, 1994:189), os pronomes pessoais
representam o mundo do ponto de vista do falante, no contexto de uma troca de
fala. Sendo assim, os papéis de fala são tipicamente dêiticos50 e referenciais.
50 Papéis de fala dêiticos estão relacionados com a questão da dêixis da pessoa que diz respeito à codificação do papel dos participantes no evento da fala no qual o enunciado em questão é feito (para mais informações, cf. Levinson, 1983: 62). Conforme Lyons (cf. 1977: 574), papéis dêiticos derivam do fato de que no comportamento de língua normal o falante remete seu enunciado a outra pessoa (ou outras pessoas) que está (estão) presente(s) na situação e pode referir-se a si mesmo, ao(s) destinatário(s) ou a outras pessoas e objetos (estando eles na situação ou não), não por meio de um nome ou descrição,
109
O corpus do Blog7 contém 60.621 palavras (Tokens) e 7.318 palavras
diferentes (Types); desses números, o pronome pessoal eu foi encontrado
477 vezes, você 89 vezes e vc com 286 ocorrências.
Foram usados os Clusters do Concord para ver a quais palavras o
pronome eu estava associado e deu como resultado onze ocorrências o que
eu, seguido de outras dez ocorrências “coisas que eu”. Em virtude da baixa
freqüência de você e vc não houve palavras encontradas com ambas pelos
Clusters.
3.2.3 – NOMES/NICKNAMES
Os internautas e também blogueiros utilizam, na maioria dos textos,
pseudônimos para se identificarem na Internet.
Giovanna Cantareli, Mestre Delih, Andreh, Alexandre, Larisse – Lady
Xanax, Claire, Vanessa e Hazel foram os nomes que mais tiveram ocorrência
dentre os que lêem o Blog1.
No entanto, com o uso do Concord, notamos que, apesar de Mestre Delih ser o
que mais interage com os internautas, é Giovanna que mais aparece na
freqüência nominal (42 vezes; 0,28%) e a que mais escreve no blog.
mas por meio de um pronome demonstrativo ou pessoal, cuja referência é determinada pela participação do referente no evento e língua, no momento do enunciado (Ramos, 1997:51).
110
O uso de um nick na Internet é fundamental, muitas vezes, para
preservar a identidade do usuário, seja ele um blogueiro ou um internauta, da
mesma forma que ocorre com alguém que tenha um perfil no Orkut ou um
indivíduo que entra em um chat qualquer de um determinado provedor para
bater-papo com outras pessoas. Mestre Delih, por exemplo, usa essa
identidade para aconselhar os internautas que lhe pedem ajuda. Alexandre
assina os comments que deixa para o trio de blogueiros como “Alexandre –
sociólogo e bípede”, assim como “Larisse – Lady Xanax”.
Dos diversos internautas que acessam o Blog2 diariamente, quatro são
leitores vorazes dos escritos de Marco Aurélio: Ale Siedschlag, Davidemogi,
Diego Paiva e Trotta e isso é evidenciado pelos comments deixados pelo
quarteto.
Mas outros leitores sempre acessam o blog, ou porque souberam por
amigos, ou porque visitam outros diários virtuais, ou ainda porque alguém leu
sobre o autor em alguma revista ou jornal, e assim por diante. Em grande parte,
os comments deixados pelos novatos leitores do blog são para declarar que
adoraram o que leram, para dizer que vão voltar mais vezes ou mesmo para
pedirem para que Marco entre no blogs deles, como nos exemplos mostrados
abaixo.
Marco Aurelio, E X C E L E N T E, como sempre...E que inveja destes teus conhecimentos biblicos, melhor do que qualquer religioso. Da-lhe...adorei! Leila | 28/03/2005 - 19:44| | Com lagrimas nos olhos (não sou boila, nào!), e com perceptiveis tremores de alegria e admiração, digo-vos: TÚ EH FODA, MARCO AURÉLIO! davidemogi | 21/03/2005 - 08:39 | Marco, vc é meu ídolo! AMEI o que vc escreveu, como sempre... Fundamentalistas desbancados me fazem uma pessoa mais tranquila... Parabéns! Janaina | 20/03/2005 - 02:08| |
111
Contudo, um registro somente para a curiosidade do leitor, Marco
Aurélio51 assina os posts com seu verdadeiro nome e sobrenome, não fazendo
uso de um nick como a maioria dos usuários da Internet faz.
A própria blogueira do Blog3 tem seu nome listado pelo WordList 237
vezes, haja vista a freqüência não só dos posts em seu blog, sem longos
espaços temporais, mas também dos comments deixados pelos internautas que
lhe escrevem. Cacau não usa seu nome verdadeiro (sabe-se que é Carla) para
assinar o blog, preferiu criar um nick para preservar sua identidade na
blogosfera.
Com o tom coloquial predominando nas páginas do blog, seus comments
são sempre deixados por pessoas que ela conhece, na maior parte, amigos
reais e também os virtuais que passaram a ser reais, como podemos ver nas
linhas abaixo.
março 22, 2005 Ela mesma, No Limite... - parte I * Sábado, 19 de março Pollycita, finalmente, veio passar o finds em Sampa. Depois de muito falarmos, ficou acertado que ela viria no dia 19. (...) Polly, tu tá aí longe, fia, morando em outra cidade, porém, saiba que já faz parte da lista dos grandes amigos. São poucos, mas você está nela. Quero que você volte mais vezes. E eu irei na sua casa, sim. Pode contar que sim. Posted by Cacau at 12:08 AM
51 A saber: o sobrenome do blogueiro é Santos, ironicamente uma ligação nominal às divindades que são reverenciadas pela igreja católica e usadas para os ritos sagrados.
112
Dos nomes/nicks que foram relacionados pelo Concord, aparecem eu, eu
mesma e a rê (52 ocorrências), Polly (82 ocorrências), Marlíndia (47
ocorrências), Ery Roberto (22 ocorrências) e Mônica (com 21 ocorrências).
O nick da autora do Blog3 está sempre associado, segundo os Clusters, a
sua própria assinatura “Posted by Cacau” com 50 aparições.
Apesar de Blog4 ter um corpus com 19.157 tokens e 3.698 types, o
emprego de nicks e nomes é relativamente baixo. Seus visitantes são quase
sempre os mesmos, e a média de freqüência deles nos comments está entre
dezessete e quatro vezes.
Helô e Cacau (a blogueira do Blog3, já citada) são as internautas que
mais aparecem na lista de nicks, sendo constatadas dezessete e onze vezes,
respectivamente, seguidos de Ery Roberto (13 ocorrências), Polly e Bugra (com
8 ocorrências), Rubia (6 ocorrências) e, finalmente, Fadakamikaze com apenas
quatro ocorrências. O nome da blogueira Mônica consta 63 vezes na lista do
Concord, mas, mesmo assim, não houve uma freqüência de clusters associados
a ele, como já foi explicitado em itens anteriores.
Outro blogueiro que não criou um pseudônimo para registrar seus
acontecimentos diários na Internet, foi o Blog4, registrando e assinando-os como
Tiago Capanema. Dos internautas que sempre visitam o blog de Tiago, quatro
estão sempre presentes nos comentários deixados: Rosa, Tay, Obsolleto e
Fabiola.
Rosa tem uma ocorrência de 15 vezes no corpus total e não se tem muita
certeza se ela é somente uma amiga “virtual” ou real de Tiago. Outra internauta
113
que sempre deixa sua opinião em Blog4, é Tay. Aparentemente, esta internauta
tem um envolvimento amoroso com Thiago, pela maneira como ela responde um
dos comments deixado por outra internauta:
vc é perfeito. tudo q fala é perfeito. Tenho q passar (www) Mar 01 2005, 04:22 am É PERFEITO MAIS TEM DONA VIU AMIGA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Tay (www)
Mar 02 2005, 01:06 pm
sem dúvida que já pegou o msn.¬¬ seu safado !!! Tay (www)
Mar 01 2005, 01:55 pm
Outros dois leitores e comentaristas fiéis deste blog são Obsolleto e
Fabiola que aparecem com uma freqüência de seis e cinco vezes,
respectivamente, no corpus total do blog.
Como já foi dito, mesmo com uma freqüência baixa de posts, o blog
recebe muitos comentários e seus internautas são sempre críticos aos pontos
dos posts que o autor escreve, remetendo novamente à idéia de distância
interpessoal, que, no caso deste blog mostra que o blogueiro mantém uma
distância menos social entre ele e seus internautas, pelo fato deles terem a
liberdade de opinarem sobre as decisões na vida de Tiago, demonstrando assim
o quão próximos e amigos os leitores são.
Os próprios blogueiros do Blog6 usam seus possíveis nomes reais e
apelidos, lembrando que fazem parte dos oito autores: Rachel, Cris, Lia, Lilá,
Carla, Cinha, Robs e Hazel.
114
Com poucos posts durante os meses de janeiro, fevereiro e março de
2005, o número de comments deixados pelos internautas que sempre lêem o
blog é razoável. Dos internautas que mais deixam posts, podemos listar “Andreh,
sociólogo e bípede” que também visita o blog Uma dama não comenta – Blog1 –
além de Horror de Claire, Miss Rip, o próprio blogueiro Hazel que quase sempre
responde os commentes deixados pelos internautas e Joakina, outra
freqüentadora assídua do blog suburbano.
Andreh, sociólogo e bípede aparece na lista do Concord 17 vezes,
seguido de “Miss Rip” com 16 ocorrências, “Hazel,” com 15, “Horror de Claire,”
11 e Joakina com apenas cinco ocorrências.
Na figura abaixo, podemos ver os comments assinados por Andreh.
Figura 12 – Ocorrências do nick do internauta Andreh, sociólogo e bípede
115
O nome da blogueira Your Soul, nomeado como Blog7, foi encontrado
847 vezes no corpus total. Como ela é a única que escreve com freqüência
diária em seu blog, os comments deixados pelos internautas são quase sempre
dos mesmos visitantes, mas também há os novos, pois ficaram sabendo do blog
por outros internautas, ou por um outro blogueiro e até mesmo podem ter
achado por acaso na rede, percurso quase trivial daqueles que acessam os
blogs espalhados pela blogosfera.
Os internautas que sempre deixam comentários em Blog7 e tiveram
seus nomes encontrados no WordList e no Concord são: Polly (27 vezes);
Sound of Silence (66); Lele (60); Igor (66); Lana (53) e Nanda (64).
Uma das provas evidentes de que a blogosfera é um espaço de
conhecimentos e trocas de amizade ou qualquer que seja o esperado quando
se entra nela, é Polly, que é amiga de Cacau, mas também visitante do Your
Soul, do Suburbia Tales e do Não vá se perder por aí. Daí reforçar-se a idéia
de que a blogosfera é um ambiente interativo entre os blogueiros e
internautas que vagam por ela.
3.2.4 – EMOTICONS
Como o próprio nome diz, esse recurso usa caracteres que
representam expressões faciais, feitos para serem lidos, horizontalmente, na
Internet, sejam representativas de emoções positivas ou negativas.
116
Os emoticons são muito utilizados para expressar algo que esteja
sentindo enquanto se escreve e, por meio deles, pode-se arriscar uma
ilustração de momento, como por exemplo, quando se está triste :( ou feliz :).
Os dois-pontos representam os olhos e os parênteses, a boca, sorrindo ou
denotando tristeza. Quando se está zangado com alguma coisa, representa-
se com :@ e quando não está gostando do que está acontecendo em
determinado momento, representa-se com os sinais :p.
Dos emoticons que foram encontrados neste corpus do Blog1, o único
com alguma relevância foi :p, como podemos conferir, em apenas oito linhas,
abaixo:
1 cai a zero"" aqui a dama comenta e prova :P vice mermão?
2 SC e, confesso, tinha gosto de Tang. :P -Hilma -Jan 18 2005, 04:16 pm #
3 quando o povo quer dar uma de sabe-tudo... :P -Persephone -Jan 06 2005, 09:10
4 orário em que mandou, é só o impulso mesmo! :P -Andreh, sociólogo e bípede -Jan
5 alguém foi à Gambino no Largo do Machado... :P -Andreh, sociólogo e bípede -Jan
6 Melhor chamar um ginecologista pra tirar o bug :P -Cris -Mar 05 2005, 02:29 pm #
7 8h pra ir pro trabalho, mas só acordo às 12h30! :P -Andreh, sociólogo e bípede -Mar
8 travesseiro nas costas? Esses estilistas, pffft :P -Dani -Mar 03 2005, 02:56 pm #
Como pode ser visto em destaque, o smiley usado representa uma
pessoa com a língua de fora. Quando se expressa um sentimento por meio dele,
algumas emoções estão envolvidas, como por exemplo, uma comida que não
agrade ao nosso paladar, ou algum fato repugnante que nos foi relatado, ou
ainda, a simples afronta quando alguém diz algo com que não estamos
concordando.
Os emoticons mais usados pelos internautas, na maioria das vezes para
expressar sentimentos, são pouco utilizados pelos visitantes de Blog2.
117
Dos que foram procurados e listados pelo Concord, somente três foram
usados: :) (19 ocorrências), ;) (18 ocorrências) e :p (6 ocorrências) com alguma
freqüência, como podemos conferir nas linhas abaixo.
1 Aaahhh, vá pra merda, Marco Aurélio! :P Hycur | 05/01/2005 - 21:55| |
2 8/02/2005 - 21:39| | é isso aE :P Kursch | 01/03/2005 - 01:50|
3 encontrei histórias de pescador... :P Vô esperar cê terminar o livro
4 FF, do IFCS/UFRJ e etc etc etc...:P Isso é pior que praga. Quindi
5 o livre s/a... essas coisas legais :P Kursch | 30/01/2005 - 16:52|
6 do mundo só fala de tirinhas, bler :P Kursch | 24/01/2005 - 11:43|
Nota-se que o uso desse smiley, nas linhas acima, encerra um assunto e
nos leva a supor que o internauta não teria mais o que escrever ou ainda,
perdeu a linha de seu raciocínio e concluiu a discussão não com um ponto de
exclamação, ou interrogação, mas usando um emoticon que expressa a
desaprovação de algo dito ou lido pelo falante/internauta.
Apesar dos muito comments que Blog3 recebe de seus internautas, eles
usam pouco o recurso emoticons para demonstrarem sentimentos. Foram
encontradas 38 vezes o símbolo =), usado de uma maneira não muito usual, já
que o uso mais freqüente pelos internautas é :) que somente foi detectado 25
vezes, com ainda onze emoticons ;) demonstrando uma piscadela e :p dez :p,
com a língua para fora, que demonstra a não-apreciação de alguma coisa, como
podemos ver no exemplo a seguir.
1 05 08:18 AM Tô aqui, tô aqui! =P [barata no pescoço do blog
2 esmaia e um boi-zebú biduzido! =P Eu, Eu mesma e a Rê mar
3 essa infernet é coisa do diabo! =P Super dúvida Quais as cha
4 beco lá em Embu das Artes! =P Muitas felicitações e congr
5 mãos tá chique para arrebentar! =P Rerrê março 22, 2005 02:2
118
6 maior orgulho do post da barata! =P Rê - ressurgindo das cinza
7 hehe, quem tem teto de vidro... =P bjo bjo florzinha de maracuj
8 sofridas" ficou mui engraçado! =P Que rir dos desastres alhei
9 td cocêis aprontaram por aqui!!! =P Rê - ressurgindo das cinza
10 fazer um curral que desmaia aí? =P E o que é um espanado
Mesmo com menos de 10% do total de posts e comments que foram
compilados e analisados, os internautas que freqüentam o Blog4 não fazem uso
constante deste artifício digital para expressar suas emoções.
Dos emoticons selecionados somente aparecem 18 ocorrências de :) e
nove de sua variável constante: :-), sendo que os demais smileys que são
usados para divulgar tais sentimentos, como desgosto por algo :p ou =p, como
podemos conferir na figura abaixo, não aparecem.
O uso de smileys pelos internautas de Blog5 não é muito habitual. Dos
encontrados pelo Concord, somente cinco compõem essa categoria.
Assim, consistem os emoticons de :-) com uma ocorrência, =) com
apenas uma, =p três vezes, :p quatro e :) com a mesma quantidade. Como o
uso é muito baixo, é impraticável usar o recurso Clusters para saber com que
tipo de palavra o emoticon vem acompanhado.
Os emoticons não são muito utilizados pelos internautas e até mesmo
pelos blogueiros, como veremos agora no Blog6. Dos listados pelo Concord, o
de mais ocorrência é :p sendo visualizado nove vezes pela ferramenta. Outros
smileys foram encontrados, porém poucas vezes, a saber: =p uma vez, =) e :)
apenas duas vezes cada um.
119
Segue abaixo a lista com o emoticons :p com nove ocorrências.
1 no ato, sem nem se dar conta! :P Comment by Andreh, sociólogo e
2 eiro nas costas? Esses estilistas, pffft :P -Dani -Mar 03 2005, 02:56
3 pro trabalho, mas só acordo às 12h30! :P -Andreh, sociólogo e bípede
4 marcavam os copos com esparadrapo :P Comment by Cris - 1/19/2005
5 foda, hazelico, no suburbio é maridão :P Comment by Cris - 2/26/2005
6 chamar um ginecologista pra tirar o bug :P -Cris -Mar 05 2005, 02:29
7 saia mais fudido do q os convidados :P Comment by Anonymous – 2/
8 saia mais fudido do q os convidados :P Comment by Rafael - 2/1/2005
9 AVÓ É SACANAGEM!!!! :P Comment by joakina – 2/1/2005
A referida lista é do blog Suburbia Tales, como dito anteriormente, com
um característica bastante sarcástica, pelo fato de relatar os acontecimentos do
cotidiano nos bairros do subúrbio carioca de uma maneira informal e sem
preconceito.
Os internautas que freqüentam o Blog7 não fazem muito uso de
emoticons, um recurso exclusivo da linguagem virtual. Somente um emoticon, o
que expressa sorriso, :) foi encontrado no corpus todo, com apenas 19
ocorrências. Os demais smileys que foram escolhidos para serem analisados
pelo WS Tools, não foram encontrados pelo Concord, já que, como já foi
explicado nos itens anteriores, não aparecem no WordList como parte da lista de
palavras que são selecionadas pelo programa, sempre das mais para as menos
freqüentes.
120
3.2.5 – DEMONSTRAÇÕES DE AFETO/CARINHO
Conforme já explicamos, quanto menor a distância entre os participantes
da interação, mais eles se conhecem e trocam demonstrações de carinho e
afeto entre si.
Uma das demonstrações mais mencionadas pelos internautas ao
deixarem um comments para Giovanna, Lilaise e Mestre Delih, autores do Blog1
é beijos, escritos com a grafia correta e suas várias outras formas de escrever,
usando as abreviações, como podemos conferir nas frases logo abaixo.
Sempre ao encerrar os comments, os internautas mandam beijo ou
abraços para os blogueiros. Há também a demonstração de risadas quando algo
muito engraçado acontece e é preciso notificar o internauta de que isso está
acontecendo, usando hahaha ou ainda risos, como o próprio Mestre Delih
utilizou ao zombar do internauta apaixonado pela atriz Renata Sorrah.
Para risadas, existe a variável delas, a saber: rs e hehehe, como
podemos conferir:
1 tá aí! Precisamos comprar BACALHAU, baby! rs Próxima Pergunta! -Darth -Mar 22
2 colher na boca segurando um ovo... calados...rs heheheheh -Larisse (Lady Xanax)
3 poh nem comando em ação bate isso...rs -Larisse (Lady Xanax) -Jan 23 2005, 10:01
4 ninguém merece o david. só a donna mesmo! rs o dylan é tudo..............! -Renata
5 ah...faz suco de laranja e deixa gelar...rs e pronto...hehehe -Larisse (Lady Xanax) -J
6 q matar a cobra e mostrar o pau, opa! A aguia, rs.rsr.rs. -Ju -Feb 23 2005, 09:05
7 da vida. Eu ouvira Deslises com esta vela...rs Beijos! -Leandro -Feb 08 2005
8 que é pesadelo! Pior que uma guerra atomica! rs... -Noelle -Mar 03 2005, 02:59 pm
121
Das dez linhas que foram encontradas no Concord, somente oito eram
relativas à palavra risos em sua variação rs. As outras duas se referiam ao
Estado do Rio Grande do Sul (RS), que também tem como sigla as letras R e S
em maiúsculas.
Os internautas que acessam o Blog2, escrevem beijos e abraços quando
deixam suas marcas pessoais nos comments para o blogueiro e para outros
visitantes também.
Foram encontrados beijos em sua forma plural e beijo no singular (15 e 7
ocorrências, respectivamente), além de abraços e abraço (11 e 19 vezes
concomitantemente) encontrados no corpus com a ajuda do Concord. Porém,
como são palavras com baixa freqüência, os Clusters não puderam ser usados
novamente para mostrar que tais palavras são usadas.
A interação entre Blog3 e seus internautas que visitam o blog deixam
explícitas as demonstrações de afeto e carinho com a blogueira e com os outros
internautas.
As marcas de risos e beijos são as que mais tiveram ocorrências
apontadas pelo Concord. Foram encontradas em 137 ocasiões as palavras
beijos em sua forma plural contra 68 no singular, beijo, e ainda a abreviação
mais freqüente bjs, 29 vezes.
A freqüência de abraços é bem abaixo da outra forma de demonstrar
carinho, com apenas nove ocorrências. Através dos clusters, pudemos notar que
beijo está sempre associado a beijos e bom e beijo se cuida, com nove
freqüências cada.
122
Tratando-se de evidenciar o grau de intimidade entre blogueira e
internautas, o uso freqüente de palavras que representam a risada são comuns.
As formas “hahaha” e “hehehe” aparecem nos textos com doze e 30
ocorrências cada, respectivamente, e “risos”, “rs” com doze e 40 cada, como
podemos ver em mais um exemplo a seguir.
1 ou a vaca que é abduzida??? hahaha lindinhademais... Jack
2 latinha de marré marré da Polly! Hahaha! Conte tudo!!! PS.: Si
3 pra no cio e viver....ser a Cau do HAHAHA, a douda varrida que
4 Hilário!!! Estou rolando de rir aqui! Hahaha! Já fui me ver tb no Di
5 fugiu em alguns momentos :-) Hahaha! Beijos Al janeiro 20
6 internautas mal comidas de inveja. Hahaha! Cobre alto pelo telefon
7 janeiro 17, 2005 10:00 AM Hahaha! Essa foto da cara de
8 ela rua menina... tome tento... hahaha March 25th street foi
9 metrossexual tá demais .... hahaha. Bjos, que liguei e nad
11 la que ela nem me respondeu!! Hahaha! Abraços!!! Denilson m
11 verdade... bjoks emagrecidas... hahaha Jack março 15, 2005
12 Vai parecer um hospício... hahaha Uma linda Páscoa pra
Com o nascimento de seu neto, Francisco, Blog4 teve virtualmente a
manifestação de afeto e carinho de seus internautas. A manifestação maior veio
através de beijos (aparecendo 103 vezes no corpus todo) e beijo (com 88
ocorrências).
Consta ainda no corpus dos posts e comments do primeiro trimestre de
2005, risos (10 vezes), rs (com 13 ocorrências) e ainda as variantes que marcam
esse tipo de contentamento de felicidade “hahaha” (quatro ocorrências) e
“hehehe” (três ocorrências).
123
Esse item também é pouco usado pelos internautas que acessam o
Blog5. Os itens que foram escolhidos por nós como sinalizadores dessa marca
de interação entre blogueiro-internauta, comprovam que tais ações não são
corriqueiras nos comments e posts do blog analisado.
Prova disso é que a palavra beijo aparece somente uma única vez listada
no Concord, ao passo que beijos nem aparece. Outras duas palavras ausentes
também na busca feita pelo gerenciador de concordância foram atribuídas ao
som de risadas, que aqui denominamos hahaha e hehehe.
Mesmo o uso da expressão “caléga(s)” pelos blogueiros do Blog6 para
demonstração de afeto com seus internautas, com a ressalva dessa única
palavra, as outras marcas lingüísticas dessa interação não são muito freqüentes.
Apesar de o blog usar de sarcasmo em seus relatos, marcas como
hahaha, hehehe, rs e risos foram encontradas simplesmente quatro, três, duas
e uma vez, respectivamente, com a ajuda do Concord.
Outra marca de baixa freqüência ficou a cargo de beijos e bjs que na
maioria das vezes são bastante empregadas por muitos internautas que sempre
circulam na Rede mundial de computadores, mas que em nos nossos dados
apareceram três e uma vez, conforme o Concord nos apontou.
A interação entre blogueiros e internautas de Blog7, demonstrando afeto
ou carinho entre eles, foram mais expressas pelos participantes da pesquisa na
forma de beijos (com 912 ocorrências) e risos (442 vezes).
124
Como Blog7 é a blogueira que mais “posta”, sua interação com os
comentaristas de seu blog é dinâmica, uma vez que eles deixam seus
comments e ela sempre responde, agradecendo pela visita, pelo comentário
deixado, dá conselhos, apoio e votos de felicidade, como podemos ver no
exemplo abaixo.
Eu tbm tenho tentado lutar contra um sentimento de rejeição que me causa ainda uma dor avassaladora. Não consigo perdoar e nem tão pouco esquecer... Tenho lutado contra esses sentimentos, mas a ferida ainda sangra e não tenho conseguido. Levo minha vida entre altos e baixos... quem sabe um dia eu me sinta em paz. Bjs, Ana Paula março 23, 2005 12:26 AM Vai conseguir sim Ana Paula, vai sim, creia. Beijos Your Soul março 23, 2005 06:13 AM
Outras demonstrações de afeto e carinho foram encontradas pelo
Concord e o WordList: beijo (102); risos (16); hahaha (5) e hehehe (11).
Thompson (1996: 3) realça que um dos principais objetivos da
comunicação é interagir com outras pessoas, estabelecer ou manter elos
sociais apropriados com os outros. Podemos constatar pelas marcas
lingüísticas que demonstram afeto e carinho a realização dessa interação
entre blogueiros e internautas.
125
3.2.6 – ABREVIAÇÕES
A linguagem empregada nos meios virtuais é instantânea. A urgência
em escrever rápido e enviar a mensagem mais velozmente na Internet é
fundamental para que tudo ocorra em segundos.
Ao entrar numa sala de bate-papo, por exemplo, os usuários precisam
primeiramente respeitar a netiquette52 que é imposta naquele ambiente em
que ele se situa. Uma delas é não deixar muito tempo a pessoa com quem se
está mantendo uma interação virtual esperando resposta.
Sendo assim, para ganhar tempo e agilidade, muitas vezes as palavras
são abreviadas, não são acentuadas e até passam a adquirir a personalidade da
pessoa que está escrevendo, entre outros diversos fatores, para não deixar que
o usuário perca tempo na rede.
É difícil enumerar todas as abreviações que possam estar contidas na
Internet, principalmente as da blogosfera. Abaixo, estão listadas duas maneiras
de se escrever a palavra beijo que foi tirada do corpus do Blog1: primeiro a
abreviação utilizando as letras B, J e S, logo abaixo a própria palavra escrita na
grafia correta. Alertamos o leitor para observar a quantidade das duas palavras
cujas freqüências são quase iguais.
52 Etiqueta da Internet. Conjunto de regras criadas para ajudar a regular o comportamento de usuários da Internet que utilizam qualquer um dos meios de comunicação virtual, com o propósito de tornar as relações no ambiente eletrônico mais harmoniosas e estáveis. A saber, uma das netiquettes que mais se preserva, é a de nunca escrever um texto em CAPS LOCK, pois este recurso denota que o usuário que a enviou está gritando com a outra pessoa, e isso pode acarretar uma discussão entre eles.
126
Abreviação da palavra beijos - bjs
1 Dá pra dois ovos duma única vez? Tá zerinho? Bjs. -debochado -Jan 21 2005, 07:40
2 ficou lindinho em quadrinhos isso ficou! =) Bjs!!!! -aNNaFLaVia -Mar 15 2005
3 uma vela dessa... Se é que vc me entende... Bjs!! -aNNaFLaVia -Feb 07 2005
4 Ninguém merecia!!! ahuahauhauha =D Bjs!! -aNNaFLaVia -Mar 02 2005, 10:13
5 que assisti a pouco tempo: O guru do sexo. bjs -Tahiana -Feb 21 2005, 04:47 pm #
6 muito esse blog. Vou por um link lá no meu. Bjs -Cátris -Mar 22 2005, 04:52 pm #
7 Como vcs conseguem bolar isso??? PQP!!! BJS!!! -Edu -Mar 13 2005, 01:31 pm #
Abaixo a palavra beijos – sem abreviação:
1 Parabéns às damas. Adoro este blog, beijos. -dani -Feb 24 2005, 03:42 p
2 são as melhores! hehehehehe Beijos PS: ADORO Esse blog! (mo
3 Esta foi inacreditável! ahhahaha beijos -Angélica -Feb 15 2005, 12:1
4 Achei muito engraçado :)))) Beijos! -marina -Jan 05 2005, 10:30
5 Assim mesmo, com "ç" no início! Beijos estratégicos... -Cooper -Mar
6 ouvira Deslises com esta vela...rs Beijos! -Leandro -Feb 08 2005, 02:
7 em Goiânia tem. tem até de Pequi. beijos -Jan 11 2005, 08:44 pm # ho
8 uma visita tua no meu blog também.. Beijos lunares grandes -Luana -Feb
Quando é mencionado o primeiro blog (Uma dama não comenta,
denominado Blog1) que mostramos no parágrafo acima, os internautas do
Blog2, Jesus, me chicoteia!, escrevem com mais abreviações do que os
visitantes do blog anterior.
As abreviações listadas no quadro abaixo foram as mais encontradas no
corpus de Blog2, lembrando ao leitor novamente que outras formas de
abreviações poderiam ser encontradas no corpus de pesquisa, porém optou-se
por dar relevância aos mais usados pelos internautas.
127
PALAVRA ABREVIAÇÃO FREQÜÊNCIA
você vc 121
que Q 44
não nao 19
também tb 12
porque pq 7
muito mto 4
Quadro 17 – Freqüência de abreviações do blog Jesus, me chicoteia!
Como estamos mostrando em cada blog as abreviações que foram
escolhidas com a finalidade de demonstrar quais poderiam ser as mais
freqüentes entre os usuários da Internet, para limitar os exemplos encontrados
no corpus de pesquisa, observamos que os visitantes do Blog3 as usam
constantemente, como os demais internautas dos outros blogs. Por este motivo,
agrupamos os blogs para examinarmos as ocorrências de abreviações.
As mais utilizadas são: vc (você – 214), q (que – 82) tb (também – 58),
pq (porque – 40), bjs (beijos – 29), e nao (não – 12). Peculiarmente, a única
abreviação que não apareceu no Blog2 – No limite da razão – já foi encontrada
nos demais blogs, foi relativo a muito (mto), não sendo usada pelos internautas
nenhuma vez.
No entanto, a blogueira do Blog4 que escreve Crônicas Mônica não é
muito regular com a escrita em seu blog, mas como já mencionado também, o
comparecimento virtual de seus leitores é habitual, mas, o uso de abreviações
não segue essa mesma lógica.
De algumas palavras que foram escolhidas, como já apontamos
anteriormente, houve uma baixa aparição delas no corpus de pesquisa: porque
128
(“pq”) foi constatado somente oito vezes, muito (mto – 1), também (tb – 5), beijos
(bjs – 4), nao (4) e que (q – 23) também apareceram poucas vezes. Somente
você/vc – 48 ocorrências – apareceram como abreviações no blog de Mônica,
como podemos ver no exemplo abaixo.
1 Beijo na Rô tb, no dia dela. Polly |
2 ter dito isso. Eu tb me deparo com algu
3 é pouco pra ela mas tb ele não fica atrás, nã
4 É que meu blog foi tb indicado e queria publ
5 A vida tem que ser, tb, um brinquedo. /// Re
Dos itens de abreviação selecionados do Blog5 (Não vá se perder por aí),
os que mais aparecem são você (vc – 42 ocorrências) e que (q – 40
ocorrências). Abreviaturas como porque (pq – sete ocorrências), muito (mto –
cinco ocorrências), também (três ocorrências) e não (nao – com 14 ocorrências).
Podemos ver no exemplo abaixo, a lista que o Concord fez da palavra
“nao” com 14 aparições no corpus de pesquisa, do Blog5:
1 piercing q eu nao entendi vose Tay (www)
2 O pior nao era o Jose Wilker e sim
3 que tinha grana mas nao poder político? entao...qu
4 vai contar como curriculo e tu nao vai ter diploma. Mas tu p
5 o de insatisfeitos na vida que nao conseguiram ser um belo
6 de ano bem, pelo menos nao estou compactuando co
7 do panico né? ou depressao nao sei... me explica melhor?
8 uma opiniao..mas tambem nao tenho nehuma amigo que
9 isso foi aqui em porto... a nao ser q ele ando se peland
10 para, mas serio mesmo, pq vc nao faz alguma coisa? pelo
11 quem nao passa no vestibular nao será nada na vida com T
129
12 porque LÁ é assim ne..quem nao passa no vestibular nao
13 e tem que ser Sírio, se nao, nao quero mais Flá (www)
14 que pessoa chata e falando, nao sei o que é pior assistir!
Outro artifício da linguagem virtual cujos dados nos propusemos
encontrar nos dados coletados de Blog6 são as abreviações, que,
coincidentemente também não são muito utilizadas pelos blogueiros e
internautas que escrevem e lêem o blog. As mais freqüentes formas de
abreviatura encontradas neste blog foram:
Palavra Abreviação Freqüência
que q 17
não nao 9
você vc 8
beijos bjs 7
porque pq 5
também tb 4
muito mto 3
Quadro 18 – freqüência de abreviações do blog Suburbia Tales
O Blog7 (blog da Cláudia, conhecida na blogosfera por Your Soul) teve
uma quantidade significativa do pronome relativo q (que) com 50 ocorrências de
acordo com o Concord, em seguida tb (também – 30); pq (porque – 28); bjs
(beijos – 35); nao (não – 28), e mto (muito – com somente três ocorrências).
A autora é a única que escreve diariamente no blog que leva como titulo o
seu nickname na rede. Do total de 90 dias que foram compilados de todos os
blogs (lembrando que foram coletados os meses de janeiro, fevereiro e março de
2005 para esta pesquisa), ela escreve 83.
130
Retomando a idéia de Thompson & Thetela (1995) quando se refere a
papéis projetados e desempenhados, o blogueiro adota o papel de informante
sobre diversos assuntos (sejam eles pessoais ou até culturais); torna-se
formador de opinião ao expressar suas idéias nas páginas do diário virtual, por
onde muitas pessoas passaram e leram o que o blogueiro pensa a respeito de
um atual momento do país, sua releitura da Bíblia (Jesus, me chicoteia!), para
mencionar alguns blogs analisados. Deve-se sempre especificar o que se tem
vontade de expor abertamente na Internet. A idéia de criar um blog demonstra a
necessidade que tem o autor/criador de que outras pessoas saibam o que
pensa, confessadamente, sobre cada um dos assuntos que lhe causa certo
desassossego e há o desejo de compartilhar tais idéias com outras pessoas,
conhecidas e desconhecidas. Desta forma tem a possibilidade de se mostrar
para o mundo, de uma forma resolvida perante seus questionamentos, com seu
nome verdadeiro ou uma identidade secreta, que foi criada para a proteção do
seu verdadeiro ser.
Então, as relações construídas por ambos no mundo virtual podem ser
desde uma amizade virtual que se transporta para o real, como muitas vezes
ocorre e são fatos concretos, descritos até nos blogs que serviram para compor
o corpus da presente pesquisa; a troca mútua de pensamentos,
compartilhamento de idéias e ideais, as desavenças perante escolhas quanto ao
conteúdo que será sustentado no blog, e mais infinitos acontecimentos que
podem ser desenvolvidos quando se está comprometido com uma interação,
seja ela virtual ou real.
O impulso para a realização do presente estudo foi tentar saber de que
maneira acontecia a interação entre blogueiros e internautas. As implicações
foram evidenciadas na análise dos dados coletados para a composição do
corpus, ou seja, que a interação entre blogueiro e internauta se dá a partir do
131
momento em que o autor coloca seu post e, mesmo que o leitor não esteja de
acordo com sua opinião sobre determinado assunto, ele já interage com aquele
pensamento que o blogueiro deixou registrado em seu diário virtual,
desenvolvendo assim, uma proporção talvez até maior do que o próprio autor
poderia esperar.
As marcas lingüísticas empregadas por ambos os participantes dessa
interação on-line também caracterizam a relação de interatividade entre escritor-
leitor dos blogs. Outro item que se deve considerar é o grau de afetividade, visto
que a maneira como um se dirige ao outro é importante para assinalar tal fato.
Devemos também sempre levarmos em conta as características ímpares de
cada blogueiro que, neste caso específico, teve seu blog visitado, lido, estudado,
analisado para a validade dos estudos lingüísticos na área da sistêmico-
funcional e adequação para este novo meio de comunicação virtual que cresce
dia após dias na blogosfera.
132
Compre, use, quebre, conserte, descarte, troque ,atualize,
carregue, aponte, aproxime, aperte, mexa, faça funcionar,
apague, escreva, codifique, cole, salve, carregue, cheque, copie,
plugue, toque, queime, rasgue, arraste, solte, comprima e
descomprima, tranque, preencha, reclame, encontre, veja,
codifique, destrave, surfe, bagunce, pose, clique, cruze, rompa,
troque e atualize, nomeie, leia, afine, sintonize, imprima, escaneie,
envie, mande um fax e renomeie, toque, toque, pague, observe,
transforme, esqueça, pare e formate.
Tecnológico, tecnológico, tecnológico, tecnológico
TECHNOLOGIC – DAFT PUNK
133
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse trabalho surgiu do interesse em se estudar os blogs como um novo
gênero em circulação. Segundo pesquisas feitas na própria Internet53, o primeiro
site hospedeiro de um blog foi o Blogger54, que surgiu em agosto de 1999, e
desde então hospeda diários virtuais de blogueiros espalhados pelo mundo todo.
Como foi um dos pioneiros, com o passar dos anos e a popularização
desta ferramenta no mundo virtual, outros sites surgiram para acolher os outros
blogs que foram aparecendo e divulgados pela blogosfera. Entre os que são
utilizados aqui no Brasil, os usuários podem filiar seus escritos eletrônicos à
versão em português do próprio Blogger (em parceria com o portal globo.com),
além do Weblogger no portal Terra e o Blog UOL, do Universo Online,
permitindo que os internautas leiam diariamente seus posts.
O blog, por ser um instrumento em ascensão dentro do mundo virtual e
provocar bastante impacto na mídia, inquieta quem se interessa por esse novo
estilo de exposição ao mundo motivando-nos a que o estudemos e pesquisemos
sobre ele. Dentre alguns trabalhos que já adotaram o blog como objeto de
pesquisa, aponto o trabalho de Komesu (2005) que investiga a dimensão
lingüístico-discursiva constitutiva da atividade do escrevente nesse gênero do
discurso.
Podem ser encontradas também em sites de busca de artigos científicos
na Internet, diferentes formas de abordar o tema blog no mundo acadêmico,
desde o seu uso para a área do Jornalismo, como também na Administração de
Empresas, nas Artes, na Literatura e em muitas outras concepções. O blog é
uma das ferramentas mais multifuncionais da Era Virtual, resistente ao tempo e
a seus sucessores digitais interativos. 53 http://www.google.com/blogsearch 54 http://www.blogspot.com
134
Porém nenhum trabalho fundamentado na Sistêmico-Funcional havia sido
feito em consonância com os blogs e a metafunção interpessoal, tendo a
interação do blogueiro com o internauta como foco de pesquisa. Portanto,
interessamo-nos em investigar como se dá este intercâmbio sob a perspectiva
interpessoal de Halliday (1994) e caracterizar as marcas lingüísticas criadas no
ilusório contexto digital, fazendo, assim, com que ela se torne inédita nos
estudos de Lingüística Aplicada e Ensino de Línguas e seja complementar nos
estudos dos blogs, um campo ainda incógnito para as diversas áreas em que ele
circula.
Deste modo, a proposta de realizar tal empreitada e analisar a interação
entre blogueiros e internautas foi dirigida para responder à interrogação de como
essa troca é manipulada pelos blogueiros que escrevem nos blogs e pelos
internautas que lêem esses textos virtuais.
Inicialmente, para compilação dos dados, os blogs foram descobertos
com a ajuda de um site de busca na própria Internet, o Google, links em outros
blogs do conhecimento da pesquisadora, leitora de alguns diários virtuais
disseminados pela rede, e ainda alguns foram localizados pelo site especialista,
o Technorati, em procurar os diários virtuais espalhados pela blogosfera.
Assim, formou-se um corpus inicial de quarenta blogs. Treze blogs foram
selecionados aleatoriamente do número inicial e são compostos por seus posts e
comments do primeiro trimestre de 2005, meses em que estava sendo
compilado os dados de análise.
Entretanto, optou-se por somente sete dos treze blogs que foram
coletados e reunidos, casualmente, delimitando mais ainda o objeto de pesquisa.
Sendo assim, o corpus de estudo dos meses de janeiro, fevereiro e março de
2005 contendo os relatos e os comentários, é de 215.926 palavras.
135
Os sete diários virtuais intitulados Uma dama não comenta, Jesus, me
chicoteia!, No limite da razão, Crônicas Mônica, Não vá se perder por aí,
Suburbia Tales e Your soul foram estudos e analisados, e percebemos que eles
apresentam um caráter confessional, mesmo os que aparentemente não foram
criados com esse intuito (como é o caso de um dos que pesquisamos aqui,
Jesus, me chicoteia!) .
O estudo tomou como base teórica a perspectiva sistêmico-funcional da
linguagem, possibilitando, assim, observar as questões sociais, culturais e
funcionais da linguagem empregada nesse novo meio de comunicação digital e
ainda não muito explorado nos estudos que envolvem a Lingüística Aplicada,
pelo menos no campo da interação, que foi a proposta desse trabalho e na
concepção, enquanto gênero discursivo, outro estudo realizado pela
pesquisadora (Moreira-Ferreira, 2003).
Dessa maneira, uma descrição textual foi feita por meio da perspectiva
interpessoal, trabalhando com questões de interação: os papéis sociais
assumidos por ambos interactantes virtuais; as relações construídas por eles no
mundo virtual; a caracterização dessa interação pelos usuários da Internet e
como blogueiros se nomeiam e como nomeiam os seus internautas.
Na análise dos dados foi utilizado o programa computacional Wordsmith
Tools (Scott, 1998) para fazer o levantamento das listas de palavras (WordList)
de cada blog, contendo os posts e comments dos três meses relatados e ainda
para o levantamento das concordâncias (utilizou-se o utilitário Concord para
essa tarefa) das expressões que identificassem a materialização da interação
dos participantes, por exemplo, pronomes e demonstrações de afeto/carinho
entre os interactantes.
Dessa forma, a pergunta que havia chamado minha atenção desde a
realização do trabalho de Iniciação Científica (Moreira-Ferreira, 2003), que
136
também teve como foco os blogs, foi o que impulsionou a elaboração e a
consolidação da pesquisa: como se dá a interação entre blogueiro e internauta?
De que forma essa ação é concretizada no mundo virtual?
Além da captura dos blogs na rede como corpus de pesquisa, para
responder a essa indagação, um questionário com 21 perguntas foi elaborado e
enviado para cada um dos blogueiros que tiveram seus escritos indicados como
dado de pesquisa para a contribuição deste estudo. Porém, dos treze blogueiros
a quem foram enviados os questionários, somente sete responderam, fazendo
deste modo com que o número proposto para o estudo se limitasse ainda mais.
Segundo Ramos (1997: 41), é dentro da abordagem sistêmico-funcional e
através da função interpessoal que a língua cumpre um de seus principais
propósitos de comunicação: interagir com outras pessoas.
Assim sendo, a interação entre os participantes dessa modalidade virtual
ocorre a partir do momento em que o blogueiro registra o post do dia e um
internauta qualquer que esteja lendo os seus escritos, opine sobre determinado
assunto que esteja em pauta.
O papel assumido pelo blogueiro é o de informante, seja para detalhar
sua própria vida, seja para discorrer sobre algum acontecimento, entre tantas
outras coisas que ocorrem na sucessão dos dias.
De acordo com Halliday (1994: 68), quando a oração se organiza como
um evento comunicativo, o escritor deseja que seu leitor adote um papel. Isso
nos remete aos papéis de fala.
Porém, segundo Thompson & Thetela (1995), os papéis projetados, que
são designados mediante nomeação ou atribuição, dependem de referências
explícitas dos participantes, i.e, o blogueiro pode, portanto, escolher não projetar
137
papéis (enquanto que não pode escolher não desempenhar papéis). Neste caso,
é aqui que o componente interpessoal se sobrepõe com o ideacional, já que “se
o escritor projeta papéis, a pessoa sobre quem o papel foi projeto é
simultaneamente um participante no evento lingüístico e um participante na
oração” (Ramos, 1997: 55).
Contudo, ao adotar um papel para si e atribuir um papel ao leitor (o
internauta), o blogueiro manipula a interação (Thompson & Thetela, 1995:104),
uma vez que essa troca comunicacional vai do escritor para o leitor, atribuindo a
este papéis que ele não tem como negociar, que no caso do presente estudo é o
internauta.
Com a linguagem adotada no meio virtual, podemos ressaltar a
caracterização particular com que cada blogueiro interage e cria um
relacionamento com seu internauta nos blogs analisados.
Foram expostas, no capítulo de análise dos dados, as formas de
tratamento usadas pelos autores para nomear seus leitores e também como
foram proferidos no capítulo em questão, os nomes atribuídos a ambos nessa
interação do contexto digital.
Dos nomes que os blogueiros atribuem aos seus leitores, podemos citar
os de amigos, people, folks, caléga, amore, querida.
Através dessas formas de tratamento entre ambos os participantes da
interação, é que as relações são construídas no ambiente virtual em que eles
convivem e desenvolvem, assim, uma relação de amizade, de afeto e carinho
entre si, que são cultivadas com o contato virtual, diariamente, como também
uma afinidade por terem o mesmo gosto musical, preferirem a mesma comida,
conhecerem os mesmos lugares, gêneros literários compatíveis, entre tantas
outras coisas.
138
Em todos os blogs que fizeram parte desse estudo, observou-se uma
relação de amizade entre blogueiros-internautas e entre internautas-internautas,
já que, na maior parte das vezes, os blogs são acessados por amigos, sejam
eles virtuais ou reais, dos próprios autores, não podendo esquecer também
daqueles que encontraram os diários por meio de buscas detalhadas na Internet
e que passam a freqüentar sempre aquele espaço virtual, criando uma rede de
afeição e um vínculo entre eles e o restante dos participantes.
Contudo, ocorrem também as discussões entre aqueles que não
concordam com determinadas idéias, tanto de blogueiros como dos próprios
internautas, a partir de algum assunto que tenha sido discutido naquele dia, ou
que tenha sido iniciado por um determinado motivo.
Porém, as discrepâncias que ocorreram no mundo digital dos diários que
foram analisados, sempre tiveram uma finalização por parte do próprio blogueiro,
para que seu espaço de relatos não se tornasse uma verdadeira confusão
virtual.
Dentre as limitações desta pesquisa, uma delas está relacionada à não-
resposta dos questionários por alguns blogueiros, o que pode ser atribuído à
falta de tempo, de interesse, ou qualquer outro motivo. Desta maneira, ficamos
condicionados à disposição dos autores em preencher o questionário, com as
perguntas que foram elaboradas para garantia da interação virtual que ocorre
entre blogueiro e internauta. É importante frisar que, ao menos, colaboraram em
permitir que seus blogs fossem objetos de estudo desta pesquisa, porque,
embora sejam expostos na Internet e pertençam ao acesso virtual-público,
podendo ser lidos por qualquer pessoa sem a necessidade de uma senha,
achamos por bem que houvesse a permissão dos autores para entrar no blog e
estuda-los, para que assim, pudessem colaborar com a validade dos resultados
que muito contribuirão para a área da Lingüística Aplicada, e iniciar uma
relevante e inesgotável fonte de trabalhos envolvendo os blogs.
139
Apesar de esta pesquisa representar somente uma pequena parcela do
que está exposto na Internet, já que optamos por estudar os blogs, a interação
que ocorre nele e suas características principais, existem ainda outros meios de
comunicação virtual que é do conhecimento daqueles que são usuários da Web,
os quais estão sempre se renovando para que os que dela usufruem
diversifiquem também (e-mails, chats, redes de relacionamento, sites de
namoros, fotologs55, videologs56, instant messages) suas relações virtuais e
quebrem mais barreiras interacionais por meio da tela do computador e de um
cabo de fibra óptica conectado ao mundo todo.
Os resultados obtidos nesta pesquisa estão longe de consumir o assunto
envolvendo a Internet, a interação criada nela e as relações entre seus usuários,
além de diversas outras questões envolvidas neste contexto.
O virtual renderá ainda muitos trabalhos futuros que impliquem os blogs e
as outras ferramentas que estão inseridas na Web. Seguindo esta mesma linha
de pesquisa, a GSF, em vez de analisar a interação blogueiro-internauta à luz da
perspectiva interpessoal da metafunção interpessoal, outras pesquisas poderão
estudar a metafunção ideacional, enfocando os participantes e processos
utilizados nos posts e comments, para traçar uma observação mais detalhada
que envolva a realidade, sempre lembrando que esta metafunção diz do que
trata o texto e do que está acontecendo nele.
Sobre a metafunção textual, fica a indicação de um estudo que faça
referências ao âmbito da organização do texto (falado ou escrito) e de que
assunto trata, podendo ser analisado por dois importantes elementos da oração,
o Tema e o Rema. Desta maneira, estará se preenchendo a lacuna de um
55 Fotologs são sites em que o flogger (como é chamada a pessoa que o mantém) coloca uma foto, e as pessoas comentam sobre aquela figura que foi exposta naquele dia. 56 Videologs seguem a mesma linha dos flogs, mas em vez de fotos, o usuário que sempre faz sua atualização, coloca vídeos curtos, com duração aproximada de três minutos para que os visitantes comentem também.
140
estudo que tenha como corpus um instrumento inserido no contexto virtual e
reforce o uso da Internet nos avanços de pesquisa em Lingüística Aplicada e
Estudos da Linguagem.
Com a elaboração desta pesquisa, nosso principal objetivo é contribuir
com estudos que envolvem a Gramática Sistêmico-Funcional e a interação entre
participantes de uma troca comunicativa, tendo a perspectiva interpessoal como
base.
É lícito dizer que os blogs que analisamos nesta pesquisa foram todos
em língua portuguesa por conseguinte, fica a nossa sugestão para que se criem
estudos referentes a blogs em línguas estrangeiras, com a finalidade de mais
uma vez quebrar os paradigmas e as barreiras da interação virtual e aumentar a
autenticidade nos estudos lingüísticos que levem em conta tal teoria, podendo
comparar os resultados alcançados com os desta pesquisa.
141
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144
ANEXOS
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Página inicial do blog Uma dama não comenta
Blogueiros: Lilaise e Giovanna Cantareli e Mestre Delih
http://dama.blogspot.com
146
Página inicial do blog Jesus, me chicoteia!
Blogueiro: Marco Aurélio
http://www.jesusmechicoteia.com.br
147
Página inicial do blog No limite da razão
Blogueira: Cacau (Carla)
http://www.nolimitedarazao.com/blog
148
Página inicial do blog Crônicas Mônica
Blogueira: Mônica
http://www.cronicasmonicacomica.blogger.com.br
149
Página inicial do blog Não vá se perder por aí
Blogueiro: Tiago Capanema
http://www.naovaseperder.blogspot.com
150
Página inicial do blog Suburbia Tales
Blogueiros: Rachel, Lia, Lila, Cris, Cinha, Robs, Hazel e
Carla.
http://www.suburbiatales.com.br
151
Página inicial do blog Your soul Blogueira: Cláudia (Your Soul)
http://www.your-soul.com
Livros Grátis( http://www.livrosgratis.com.br )
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