355 - Laicado Dominicano Janeiro Fevereiro 2012

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    Janeiro/Fevereiro 2012Ano XLII - n 355

    Directora: Isabel de Castro e LemosISSN: 1645-443X - Depsito Legal: 86929/95Praa D. Afonso V, n 86, 4150-024 Porto - PORTUGAL

    Fax: 226165769 - E-mail: [email protected]

    LAI

    CADOD

    OMINI

    CANO

    Directora: Cristina BustoISSN: 1645-443X - Depsito Legal: 86929/95

    Praa D. Afonso V, n 86, 4150-024 Porto - PORTUGAL

    Aspectos da Originalidade de S. Domingos1. conhecida asua ascendncia. Todosos que passamos porCaleruega vemos oslocais e a nobreza daTorre da Famlia deGusmo, senhores dehaveres e de f viva. Esti-mulado pela me, apoia-do pelo tio proco, foiuniversitrio, Sacerdote,Cnego, Prior em Osma

    e Companheiro do Bis-po na misso diplomti-ca Dinamarca. Tudo

    isto foram ocasies de pregao.

    2. Evolui e define-se pelos estudos dos Evangelhos ede S. Paulo. Os bigrafos coincidem na afirmaode que S. Mateus e S. Paulo eram o seu alimentoespiritual em casa e em viagem.Outra fonte de inspirao e orientao de vida foio contacto com as pessoas, normalmente com asituao dos desorientados ctaros ou puros e os

    albigenses que falsificavam a autenticidade euniversalidade da Revelao.

    3. So estas as fontes de inspirao e definio da suavida: a Palavra de Deus e as necessidades das pes-soas. Da surge a inspirao de tornar-se evangeliza-dor com adaptados processos de Pastoral, pelapregao moda dos apstolos, que inclui: Pala-vra, itinerncia e testemunho de vida pobre, parti-lhada em fraternidades.Tudo deve ser orientado para o objectivo ou finali-dade da pregao. A disponibilidade, a competn-

    cia, a pobreza e a vida das fraternidades devemtestemunhar a verdade da pregao leal, autnticae gratuita.

    4. Quanto aos meios em vista da finalidade, S.Domingos optou:a. Fraternidades que na pobreza e em comum

    partilham a aventura da misso com algumascaractersticas prprias: Todos so frei ou irmos complementares; Os superiores so eleitos democraticamente

    por tempo definido; No haver cargos vitalcios nem privilgios

    pessoais; Todos so mutuamente responsveis pelo

    bem comum.

    b. O estdio assduo substituiu o trabalhomanual; cada irmo dispe de uma cela paraestudar intensamente em vez dos dormitrios.Desde a primeira hora investe-se na frequnciadas universidades para aprender a ensinar comverdade.

    c. Primado da liberdade e responsabilidade, esta-belecendo o princpio da autonomia e da leal-dade. As leis tornam-se orientadoras da vidapessoal e comunitria, mas sem a marca daculpa moral e estabelece-se a lei da dispen-

    sa, em vista do primado do estudo e da prega-o.

    5. Quanto aos mtodos insiste-se na fora objectivada: Fraternidade partilhada em comunidades

    vivas, Orao pessoal e comunitria do Ofcio do

    Coro; Acolhimento das pessoas para esclarecimento

    e orientao de vida, Pregao competente, adaptada e itinerante,

    pelo dilogo fraterno e propostas fundamenta-das; Servidores da verdade pela aco do Esprito

    Santo.

    6. Quantos aos locais e destinatrios: Ir ao encontro das necessidades reais das pes-

    soas: Opo pelos centros citadinos onde se elabo-

    ra o mundo de amanh, Frequncia das universidades para se compe-

    tente nas propostas, Tornar-se pregador esclarecido, fraterno, exi-

    gente consigo e misericordioso com os outros, Servir a Palavra de modo adaptado s circuns-

    tncias em busca da radicalidade do evange-lho;

    Anunciar uma palavra de ressurreio para omundo.

    Tudo isto exige reviso e converso permanentespara evitar tornar-se um anfbio que se adapta aomais ou menos e no testemunha a verdade davida vocacionada segundo a misso e estilo de S.

    Domingos.

    fr. Bernardo Domingues, op

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    Palavra do PromotorVai dizer aos meus irmos Jo20,17Nesta caminhada de noveanos, proposta pelo anteriorMestre Geral, como prepara-

    o da grande celebrao dos800 anos da confirmao daOrdem que, como sabemos foiem 22 de Dezembro de 1216,temos como tema o papel damulher na famlia dominicanae a pregao.

    A palavra do Evangelho que acima referimos um man-dato de Jesus ressuscitado a uma mulher: Maria Madalena.Ela foi a primeira testemunha da ressurreio, ela ficouconhecida como a apstola dos apstolos.

    No por acaso que Maria de Magdala foi desde o inicio

    uma das padroeiras da nossa Ordem, nem por acaso que aOrdem guardou com respeito e amor as suas relquias eguardou o lugar onde a tradio refere que ela passou osltimos dias da sua vida, no sul da Frana, lugar conhecidocomo la Sainte Baume.

    Ao reflectir sobre este tema recordo o texto dofr.Damian Byrne, Mestre Geral, numa carta que escreveu eque tinha como ttulo Juntos em misso. Escrevia ento oMestre Geral: Podemos falar da dignidade da mulher, masas nossas palavras no tero valor enquanto no formosvistos como uma Ordem onde homens e mulheres traba-lham juntos, com mtuo respeito e sem temor. Isso seria naverdade palavra feita carne, encarnao da Teologia. Julgoque seja importante reconhecer que temos um longo cami-nho a percorrer e que parte do problema radica num exage-rado clericalismo por parte de alguns irmos que no seencontram bem pregando com mulheres.

    O que escrevia o Mestre Geral de ento, era fundado namais antiga tradio da Ordem como ele prprio escrevia:quem primeiro seguiu Domingos, o Pregador, forammulheres. Por outro lado, significativo que os primeirosfrades tomaram como padroeiras da Ordem, Santa MariaMadalena, apstola dos apstolos, e Catarina de Alexan-

    dria, estudiosa e professora de filosofia. H exemplos incon-tveis de mulheres grandes pregadoras na nossa histria:Catarina de Sena, Rosa de Lima, Margaret Hallahan, assimcomo muitas fundadoras de congregaes femininas.

    Neste ano teremos ocasio de dar a conhecer melhor asdiferentes congregaes de irms dominicanas implantadasem Portugal, o engenho e a coragem das suas fundadoras, ea compreenso da abrangncia da palavra pregao queestas mulheres protagonizaram, mas gostaria de ir mais lon-ge: uma pregao s de homens seria uma pregao incom-pleta, o anncio da Palavra no uma funo apenas desti-nada a clrigos ou s a homens: foi a todo o cristo que

    Jesus enviou a anunci-lo. Com imensa fora S. Paulo escre-veu: todos vs que fostes baptizados em Cristo, fostes reves-tidos de Cristo. No h judeu nem grego, no h escravonem livre, no h homem nem mulher; pois todos vs sois

    um s em Cristo Jesus Gl 3, 27-28.Na histria da vida das Fraternidades temos beneficiado

    do positivo que tem sido a experincia da pregao conjuntade religiosos e de leigos, de homens e mulheres. Esta intui-o nasceu de uma determinao do Captulo dos Frades

    realizado em Walberberg em 1980 que se expressou assimacerca das equipas mistas de pregao: desta forma, a nossapregao chegar com mais facilidade e mais eficcia totali-dade da pessoa (ACG 1980, n 77)

    Recordo que o Direito Cannico reserva a homlia daMissa aos ministros ordenados, fora disso, temos sido teste-munhas de muitas expresses de pregao em que as mulhe-res podem e devem tomar parte. Como no reconhecer aquia notvel expresso de pregao que se realiza no seio dasnossas fraternidades onde vrias irms assumem a funo dePromotoras. uma realidade que eu reconheo ser muitoimportante na vida das nossas fraternidades.

    Temos que ultrapassar a ideia que a pregao um feu-do de quem quer que seja, se por ela entendermos o teste-munho vivo e claro da Palavra. Alguns pensaro que noso capazes, mas no podemos esquecer que o testemunho um apelo feito a todos os cristos e que a nossa espirituali-dade assenta no compromisso que todos fazemos de teste-munhar claramente a Palavra: a exemplo de S. Domingos,de Santa Catarina de Sena e dos nossos antepassados queilustraram a vida da Ordem e da Igreja, eles, fortalecidospela comunho fraterna, do, em primeiro lugar, testemu-nho da prpria f, auscultam as necessidades dos homensdo seu tempo e servem a verdade (Constituio Fundamen-tal do Laicado Dominicano, n5).

    Mas importante retomar a importncia e a urgncia dapresena da mulher nesta atitude de pregao. Reconheoque a forma de exprimir este anncio muito diverso: des-de a flor que se pe no altar voz que se pe ao servio dacelebrao litrgica, desde a catequese com que se formamcrianas e jovens at visita de doentes e idosos, desde con-templao e orao da Palavra at ao seu anncio, tudo soexpresses de pregao que tantas mulheres praticam deforma exmia e com frutos de grande profundidade. O queeu gostava de reafirmar que todos temos um compromisso

    com a pregao; e que o jeito e a forma como este compro-misso realizado pela mulher fundamental e insubstitu-vel. Por isso deve ser reconhecido e estimulado e nuncaolhado como realizaes de segundo plano.

    Ao longo deste ano vamos falar de pregao no femini-no, espero que as nossas reflexes contribuam para redesco-brir o valor na mulher na nossa Ordem, no passado e nopresente.

    Para reflexo:- Comentem as passagens da Carta Juntos em Misso

    acima citadas- Partilhem sobre as diferentes expresses de pregao

    dos membros da Fraternidade.

    Fr. Rui Carlos de Almeida Lopes, o.p.

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    Cristos perseguidos, exilados e at mortos, Igrejas incendiadas

    Quantos de ns no ouvimos, vemos imagens, lemosnotcias ... e ficamos possudos de uma imensa e profundaindignao, mesmo revolta.

    Como pode isto acontecer ainda nos nossos dias ... mrti-res e martrios isso foi nos tempos dos romanos!

    Neste nosso mundo ocidental vivemos to centrados emns prprios, nas nossas conquistas de bem estar e civilizao(reconhecimento dos direitos humanos, liberdade de expres-so e de religio, etc.) que nos esquecemos que noutras lati-tudes outros povos ainda no lhe so reconhecidos quais-quer direitos.

    Dentro dos mais oprimidos esto as mulheres que valemmenos que o camelo ou outro gado da famlia, seguindo-seno desprezo os crentes doutras religies que no as predomi-nantes no pas.

    Foi um longo caminho a percorrer e ainda estamos aperder preconceitos c entre ns, mas no ser que criare-mos outros?

    Os ciganos, os homossexuais, os negros, os protestantes ealgumas seitas que nos parecem to distantes da doutrina deCristo apesar de se dizerem crists?

    Penso que o nosso fundador original Cristo foi semprebem mais acolhedor e tolerante do que os discpulos ao lon-go dos tempos. Mas tambm nos disse que ramos servidoresdos outros e quantos de ns, no s a hierarquia eclesial,mas ns todos nos apossamos do poder mesmo na esferareligiosa.

    Servir os outros agora que a pobreza mesmo misria, nos

    parecia pertencer aos tempos antigos... Sentimo-nos muitasvezes defraudados pela histria e pelo progresso.

    O progresso que tantas iluses criou nos tempos dos nos-

    sos avs e bisavs. Nos finais do sculo. XIX quantos nopensavam que o desenvolvimento tecnolgico e a industriali-zao iriam trazer para sempre a prosperidade das naes,no s ocidentais mas expandir-se por todo o mundo.

    H decerto conquistas irreversveis, avanos na cincia

    que no se perdero... mas mesmo que se consiga superar dealgum modo estas crises no ocidente a menina africanaque no pode ir escola por andar 2 horas para trazer umbido de gua continuar a existir e a pesar-nos na conscin-cia.

    Hoje peo perdo pelo meu tom amargo, mesmo revolta-do...

    Perteno a uma gerao a que era respondido face a algu-mas das nossas indignaes juvenis pobres sempre os tereise o meu reino no deste mundo, etc., ignorando que oReino de Deus comea no aqui agora e que no possoadiar o meu contributo para a sua construo s porque hcrises e no h efeitos visveis para o nosso esforo por tor-nar este mundo mais humano e fraterno. Se no posso fazermais pelos irmos que sofrem por seguir o mesmo Cristoque ns seguimos, dar-lhe-emos as mos pelo envio de dona-tivos e se tal no nos for possvel, pela sua presena constan-te na nossa orao.

    A todas as vtimas de injustia e carncia do essencial,seja qual for o continente aonde vivem ou mesmo os nossosvizinhos alertemos os nossos coraes e dos outros parapudermos ajuda-los ou pelo menos pedir a ajuda e inspiraode Cristo salvador de toda a humanidade.

    Maria do Carmo Ramos, o.p.

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    PINHEIRO DA BEMPOSTA

    Foi no dia nove de Outubro de 2011 que fiz a minha

    promessa temporria na Ordem Dominicana, com muitaalegria e riqueza do esprito da Fraternidade Dominicanado Pinheiro da Bemposta, na qual me tenho sentidoapoiada e incentivada.

    A Celebrao foi presidida pela nossa Presidente, Lau-ra de Jesus Martins, pela promotora, irm Engrcia e pelapresidente provincial, Cristina Busto.

    Foi neste dia que senti um pouco de responsabilidadepelo acto em que estava a participar.

    Fiquei tambm comovida pois o meu filho tambmesteve presente, por quem tenho intercedido a todos osSantos e inclusive a S. Domingos.

    Bem sei que difcil sermos seguidores do GrandeSanto Domingos, mas peo-lhe que interceda junto denosso Pai, para me fortalecer e encher do seu Espritosbio, alegre e perseverante.

    A todos agradeo e espero ser digna de seguir o exem-

    plo de Domingos.Catarina Arde

    S. JOO DE OVAR

    No passado dia 11 de Dezembro realizou-se um conv-vio de Natal entre os irmos da Fraternidade de S. Joode Ovar, onde no faltou um agradvel lanche e muitaamizade entre todos.

    A Fraternidade aproveita para desejar a todos um BomAno de 2012!

    Maria Jos Pinto Santos

    RETIRO QUARESMAL

    semelhana do ano passado, vai realizar-se o retiroquaresmal das Fraternidades Leigas Dominicanas. O local

    ser a Casa de Retiros Verbo Divino e o retiro ter in-cio no dia 16 de Maro noite, terminando com o almo-o do dia 18.

    As inscries devero ser remetidas Secretria Pro-

    vincial, Maria do Cu Silva, at ao dia 29 de Fevereiro.Cristina Busto, o.p.

    Notcias das Fraternidades

    OraoQuando me ordenas que cante, o meu corao parece

    rebentar de orgulho; olho ento para o Teu rosto e vm-me lgrimas aos olhos. Tudo o que difcil e dissonantena minha vida funde-se numa doce harmonia; e a minhaadorao abre as suas asas como um pssaro feliz que

    sobrevoa o mar. Sei que sentes prazer no meu canto. Seique apenas como cantor venho Tua presena. Com aponta da asa do meu canto aberta, toco os Teus ps, que

    nunca poderia aspirar alcanar. brio com a alegria decantar, esqueo-me de mim mesmo e chamo-te amigo, aTi, que s o Meu Senhor.

    Rabindranath Tagore (1861-1941)

    Poeta e mstico indiano, tentou combinar o que havia de melhor nas tradiesocidental e hindu. Traduziu a sua mais famosa colectnea de versos espiri-tuais, Gitanjali, para ingls; ganhou o prmio Nobel da Literatura em 1913.

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    S. Toms de AquinoA dificuldade de falar sobre S. Toms de Aquino neste bre-

    ve artigo seleccionar qual o aspecto de sua mente multifaceta-da que melhor poderia sugerir a dimenso ou a escala dela. Porcausa do seu corpo opulento que carregava o seu igualmentemacio crebro, ele era chamado O boi. assim: qualquertentativa de reduzir tamanha inteligncia para um artigo dejornal parece-se com todas as piadas possveis sobre um boinuma chvena de ch. Ele foi um dos dois ou trs gigantes; umdos dois ou trs maiores homens que j viveram; e eu no fica-ria surpreso se ele realmente fosse, independentemente da san-tidade, o maior deles. Outra maneira de considerar S. Tomsde Aquino com outros gigantes assumir que a proporo

    varia de acordo com o que os outros homens so comparveisou no a ele. No teremos uma escala de grandiosidade atconstatar que poucas criaturas histricas poderiam rivalizarcom o santo.

    Assim, para comear, poderemos situ-lo no contexto davida ordinria de seu tempo e narrar as suas aventuras no meio

    dos contemporneos dele. Sozinho, ele lanou uma luz sobre ahistria, a despeito da luz que lanara sobre a filosofia. Nascidoem bero de ouro, no muito distante de Npoles, quando estefilho de um grande nobre de Aquino revelou o seu desejo de setornar monge, pareceria, de acordo com aquela poca, quetudo seria facilitado para ele. Uma figura influente poderia seradmitida, com decoro, na hoje antiga rotina dos beneditinos;como filho mais novo de um escudeiro ter-se-ia tornado umproco daquelas redondezas. Mas o mundo de ento havia jsido varrido em todos os seus caminhos por uma revoluoreligiosa. Quando o jovem Toms insistiu em se tornar umdominicano um frade viajante e pedinte os seus irmos

    recorreram a tcticas como a perseguio, o sequestro e o siln-cio no crcere. Era como se o filho de um latifundirio se tor-nasse um cigano ou um camionista. Contudo, ele conseguiutornar-se frade e o discpulo preferido do grande Santo AlbertoMagno (1). Em seguida, estabeleceu-se em Paris, onde foi umproeminente defensor das ordens mendicantes (2) que surgiamna Universidade de Sorbonne e onde quer que fosse. Adiante,ele encontrou-se no cerne da controvrsia sobre Averris (3) e

    Aristteles, que reflectiu na reconciliao entre a f crist e afilosofia pag. Mesmo na sua vida social, as preocupaes deesprito o ocupavam sempre. Homem grande, corpulento,manso e bem-humorado, s vezes era dado a transes. Duranteum jantar com So Lus (4), o rei francs, S. Toms ensimes-mou-se de tal forma que, subitamente, bateu na mesa com opunho e bradou: Isto vai liquidar os maniqueus! O rei, com afineza irnica e inocente, pediu para um servial anotar o racio-cnio de S. Toms, para que as palavras no fossem esquecidas.

    Ento, ele poderia ser comparado com santos e telogosmais msticos do que dogmticos. Como homem sensato, S.Toms era mstico privadamente e, em pblico, um filsofo.Tudo bem que ele tinha experincia religiosa; mas ele nopedia, maneira moderna, que outras pessoas racionalizassema sua experincia. A sua vivncia religiosa inclua casos bemcomprovados de levitao em xtase; e uma apario da Sants-sima Virgem, que o confortou com a ptima notcia de que ele

    nunca se tornaria um bispo. Similarmente, poderamos compa-rar a filosofia tomista com outras, nos aspectos em que se dife-renciava de Escoto (5) ou So Boaventura (6). Mas no h espa-o para distines aqui, alm de uma genrica: que S. Toms

    tende relativamente para o racional, enquanto os outros seaproximam do mstico, ou poderamos dizer, romntico. Emqualquer caso, certo que nunca houve um telogo maior, eprovavelmente, nunca um santo to grandioso. Porm, afirmarque ele era maior do que So Domingos ou So Francisco nosinalizaria (no sentido que pretendemos) para o quo grandeele foi.

    Para entender a sua importncia, devemos opor S. Toms aduas ou trs possibilidades de credos csmicos: ele todo ointelecto cristo falando ao paganismo ou ao pessimismo. Eleargumenta ao longo dos tempos com Plato ou com Buda; etem sempre o melhor raciocnio. A sua mente era to vasta esuas conexes to bonitas que sugeri-la seria discutir ummilho de coisas. Mas talvez a melhor simplificao seja esta:So Toms confronta outros credos do bem e do mal, semnegar todo o mal com uma teoria de dois nveis de bondade. Aordem sobrenatural o bem supremo, como para qualquermstica oriental; mas a ordem natural boa, to solidamente

    boa como para qualquer transeunte das cidades. Isto o queliquida os maniqueus. A f maior do que a razo, mas arazo maior do que qualquer outra coisa, e tem direito supre-mo no seu prprio domnio. Isto o que antecipa e respondeao clamor antirracional de Lutero e dos outros; como um poetapago me disse certa vez: A Reforma aconteceu porque aspessoas no tiveram crebro para entender Aquino. a Igreja mais imortalmente importante do que o Estado, mas por tudo,o Estado tem os seus direitos. Esta dualidade crist sempreesteve implcita, assim como a distino de Cristo entre Deus eCsar, ou a diferena dogmtica entre as naturezas de Cristo.Mas S. Toms tem a glria de ter apanhado a duplicidade

    como indcio de milhares de coisas; e assim forjou o nicocredo em que os santos podem ser sos. Talvez ele apresenta,principalmente para o mundo moderno, o nico credo em queos poetas podem ser sos. Por agora no h ningum para liqui-dar os maniqueus; e toda a cultura est infectada com um sen-so vago e imundo de que a natureza e todas as coisas atrs edebaixo de ns so ms, e que s h glrias para os elevadoseruditos. S. Toms exaltou a Deus sem diminuir o homem, eexaltou o homem sem rebaixar a Natureza. Desse modo, ele fezum cosmos do senso comum e a vientum terra, a terra dos vivos.

    A sua filosofia, assim como a sua teologia, do senso comum.No se tortura o crebro com desesperadas tentativas de expli-car a existncia, explicando-a. Os primeiros passos da mentetomista so os primeiros passos de qualquer mente honesta;assim como as primeiras virtudes de seu credo podem ser dequalquer campons de boa vontade. Ele, que combinou tantascoisas, combinou tambm a subtileza intelectual e a simplicida-de espiritual.

    O sacerdote que compareceu ao leito de morte deste Titda energia intelectual, cujo crebro tinha devassado as razes domundo, perfurado cada estrela e caminhado por todo o univer-so do pensamento e at do cepticismo, disse que, ao ouvir aconfisso do moribundo, imaginou de repente que ouvia aprimeira confisso de uma criana de cinco anos.

    Artigo de G. K. Chesterton, publicado originalmente narevista The Spectator, em 27 de fevereiro de 1932, antes do

    autor lanar seu livro sobre S. Toms de Aquino.Traduo: Rafael Carneiro Rocha

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    Notcias da Famlia DominicanaPASSEIO DA FAMLIA DOMINICANA

    No prximo dia 11 de Maro de 2012 a ProvnciaDominicana de Portugal comemorar 50 anos de sua Res-

    taurao. Recordo que a Provncia foi fundada em 1417.Mas em 1834 as Ordens Religiosas tinham sido expulsasdo pas. Em 1894, professa na Ordem fr. Domingos Fru-tuoso - em 1920 foi nomeado Bispo de Portalegre - ecom ele renasceu a Ordem em Portugal. Exilado em1910 com nova expulso das Ordens religiosas, regressaem 1913. Neste sentido, foi decidido que o Passeio daFamlia Dominicana se realizasse em 2012 - 19 de Maio - Ribeira de Santarm, terra natal de fr. Domingos Fru-tuoso o qual em 1920 foi nomeado Bispo de Portalegre.

    Depois de uma reunio que o Secretariado da FamliaDominicana teve com um representante da Diocese de

    Santarm e da Cmara, ficou estabelecido o seguinte pro-grama:

    11h Acolhimento na Ribeira de Santarm12h Conferncia pelo fr. Jos Carlos Lopes, o.p.13h Almoo partilhado no Seminrio de Santarm

    Tempo livre com possibilidade de visita guiada aoConvento de So Domingos das Donas.16h Eucaristia no S de Santarm

    Desde j peo que se vo fazendo as inscries junto

    dos responsveis locais das Fraternidades, ComunidadesReligiosas ou algum por elas designadas. Peo igualmen-te o empenhamento de todos nesta aco que para almda vertente cultural serve tambm para reforarmos osnossos laos de Famlia Dominicana ao estilo de S.Domingos.

    Com amizade, sada-vos no nosso Pai S. Domingos,Fr. Jos Geraldes, o.p.

    CURSO DE COMUNICAO E PREGAO

    O verdadeiro nome dos dominicanos Ordem dosPregadores. S. Domingos de Gusmo criou esta Ordempara a santa pregao e so j 800 anos de experincia eprtica de pregao que queremos partilhar com todos osque desejem aprender ou aperfeioar esta arte de comuni-car.

    Que nos ensinam os grandes pregadores? Como prepa-rar seriamente uma pregao? Quais as leis da comunica-o que a pregao ter de respeitar? Ser a revelao deDeus um modelo de comunicao? Que diversos modelose pblicos podem inspirar a nossa pregao?Com este curso se procura, pois, uma iniciao terico-prtica imprescindvel tarefa eclesial da pregao.

    fr. Jos Nunes, op

    P. Provincial

    CONFERNCIAS28 de Janeiro

    A pregao na tradio dominicana (a graa da pregao)(fr. Bento Domingues)

    11 de FevereiroA Palavra de Deus como comunicao(fr. Francolino Gonalves)

    18 de FevereiroOs sermes do Mestre Eckhart(fr. Jos Manuel)fr. Joo Franco, um sermo do sculo XVIII

    (fr. Jos Carlos)

    25 FevereiroAs modalidades clssicas da pregao(fr. Jos Nunes)

    3 de MaroA arte de comunicar(Dr. Paulo Rocha)

    17 Maro

    Do silncio palavra. A espiritualidade da pregao(fr. Rui Grcio)

    Horrio: das 15h s 16.30hEntrada livre

    INSTITUTO SO TOMS DE AQUINOConvento de So Domingos de LisboaRua Joo de Freitas Branco, 121500-359 LISBOATelefone: 210322300

    Email: [email protected] Web: www.dominicanos.com.pt

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    ORDENAO SACERDOTALDO FREI GONALO DINIZ

    No prximo dia 4 de Fevereiro, pelas 12 horas, reali-zar-se- na Igreja de Cristo-Rei, no Porto, a ordenaosacerdotal do frei Gonalo Diniz o.p. Presidir celebra-o eucarstica o Sr. Bispo D. Joo Miranda. No final da

    Eucaristia haver um almoo convvio.

    O frei Gonalo realizou a sua profisso solene a 13 deSetembro de 2009, no Convento de S. Domingos, emLisboa. Reside no Convento de Cristo-Rei, no Porto, des-de Setembro de 2011.

    A missa nova ser no dia 12 de Fevereiro, pelas11h00, na S Catedral do Funchal.

    Cristina Busto, o.p.

    ANIVERSRIO DA RESTAURAO DAPROVNCIA PORTUGUESA DA ORDEM

    DOS PREGADORES

    Em 11 de Maro de 2012 celebraremos o 50 aniversrioda restaurao da Provncia Portuguesa dos frades dominica-nos. Motivo de alegria, de aco de graas e, sobretudo, oca-sio para lembrar o passado sem deixar de perspectivar opresente e o futuro!

    A histria dos dominicanos em Portugal longa e, como normal tambm, cheia de vicissitudes. O primeiro religiosodominicano a chegar a Portugal (1217), e portugus, foi umcompanheiro de S.Domingos: fr.Soeiro Gomes. No anoseguinte constitudo o primeiro convento no nosso territ-rio (Montejunto/Santarm) e em 1275 criado o Vicariatode Portugal da Provncia Ibrica. A Provncia Portuguesa daOrdem dos Pregadores, contudo, s aparecer em 1418.

    Depois de sculos de enorme labor apostlico, em Portu-

    gal e nos territrios missionrios, os Dominicanos e todas asOrdens Religiosas acabaram por ser extintos do territrioportugus (1834). Nas primeiras dcadas do sculo XX, apa-receram homens que quiseram voltar a viver a realidadedominicana no nosso pas e, em 1948, vieram para Portugalalguns frades do Canad para ajudar restaurao da Pro-vncia, o que se efectivar em 1962, tendo sido nomeadoProvincial o fr. Louis Marie Sylvain.

    Convidamos toda a Famlia Dominicana a participaractivamente nas mltiplas iniciativas que marcaro este anode 2012. A primeira ser j a 11 de Maro, em Ftima, como seguinte programa:

    15H00 Lanamento de um livro sobre a Provncia,16H00 Eucaristia17H00 Lanche partilhado

    Fr. Jos Nunes, op

    P. Provincial

    Ensinamentos de GandhiPerguntaram a Mahatma Gandhi quais so os factores que destroem osseres humanos. Ele respondeu:A Poltica, sem princpios; o Prazer, sem compromisso; a Riqueza, sem

    trabalho: a Sabedoria, sem carcter; os negcios, sem moral; a Cincia, semhumanidade; a Orao, sem caridade.E continuou:A vida ensinou-me que as pessoas so amveis, se eu sou amvel; que aspessoas esto tristes, se eu estou triste; que todos me querem, se eu os que-ro; que todos so maus, se eu os odeio; que h rostos sorridentes, se eu sor-rio; que h faces amargas, se eu sou amargo; que o mundo est feliz, se euestou feliz; que as pessoas ficam com raiva quando eu estou com raiva; queas pessoas so gratas, se eu sou grato.

    A vida como um espelho: se voc sorri para o espelho, ele sorri de volta. Aatitude que eu tome perante a vida a mesma que a vida vai tomar perante

    mim.

    Gandhi (1869-1948): pensador e poltico, criador da resistncia pacfica, libertador da ndia.

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    F i c h a T c n i c aJornal bimensalPublicao Peridican 119112ISSN: 1645-443XPropriedade: Fraternidade Leigas de So DomingosContribuinte: 502 294 833Depsito legal: 86929/95

    Direco e RedacoCristina Busto (933286355)Maria do Carmo Silva Ramos (966403075)

    Administrao:Maria do Cu Silva (919506161)Rua Comendador Oliveira e Carmo, 26 2 Dt2800 476 Cova da PiedadeEndereo: Praa D. Afonso V, n 86,

    4150-024 PORTOE-mail: [email protected]

    Grafismo/Impresso: Maria Jos de MeirellesTiragem: 435 exemplares

    O s a r t i g o s p u b l i c a d o s e x p r e s s a m a p e n a sa o p i n i o d o s s e u s a u t o r e s .

    Laicado Dominicano Janeiro/Fevereiro 2012

    Postal de Natal

    A actual secretria do Conselho das Fraternidades Maia do Cu Silvaaceitou ser o NOVA ADMINISTRADORA do Jornal Laicado Domi-nicano.

    Toda a correspondncia e donativos devero ser enviados para:

    MARIA DO CU SILVA

    RUA COMENDADOR OLIVEIRA E CARMO, 262 DT2800-476 COVA DA PIEDADE.

    Era Dezembro eanoitecia. O solst-cio de Inverno tra-zia por companhia

    os dias curtos e asnoites longas, e aescassez de luz tor-nava a aldeia e ocasario de granitocinzento mais escu-ro e humilde. O

    vento agreste e gelado, vindo das serranias do Alvo eda portela de Aguiar, convidava a regressar a casa e aoaconchego de uma lareira acesa, ao amparo de um cal-

    do de cebola para a ceia e de mais um cobertor nacama, porque a noite prometia ser dura. As couves, quehaviam de ser, com o bacalhau, iguaria mesa de Natal,coziam j geada que as tornava mais tenras, enquantoas mulheres puxavam o xaile de l para a cara e oshomens subiam as golas das samarras. Os rebanhos,

    estrada acima, acompanhados pelos ces e pelos pasto-res, recolhiam em passo lento aos currais. Parei, e foiento que os meus olhos se encontraram com uma per-sonagem sada do prespio, desses que fazemos em casa

    ou contemplamos nas igrejas no tempo de Natal: erauma mulher dos seus trinta anos que seguia atrs dorebanho, a caminho da aldeia. De baixa estatura e ardecidido, tinha no rosto, curtido pelo frio, as cores deuma ma madura. No brao esquerdo segurava comcarinho a filhinha, talvez com uns dois anitos, cujacabea j sonolenta, coberta por um gorro de l verme-lha, repousava no ombro da me. No brao direito,com no menos carinho, como se de outro filho se tra-tasse, aconchegava um cordeirinho nascido h poucos

    momentos, ainda hmido. A ovelha me, combalidaainda do parto recente, seguia-a. Disse-me, com toda a

    naturalidade coitadinha, nasceu agora mesmo, mal se tem

    nas pernas, e est cheiinha de frio!

    Jos Carlos Gomes da Costa, o.p.

    Nova Administrao do Laicado