24
Diretrizes Clínicas Protocolos Clínicos 027 Acolhimento aos Usuários de Álcool e Drogas Estabelecido em: 10/08/2013 Responsável / Unidade Vanuza Fortes Ribeiro – Médica | CCPC Colaboradores Eliane Mussel – Médica | HGV Guilherme Freire Garcia – Médico | CCPC Validadores Equipe assistencial do HGV e IRS Disponível em www.fhemig.mg.gov.br e intranet

34 -Acolhimento de Usuarios de Alcool e Drogas€¦ · drogas ilícitas no mundo, e entre eles cerca de 27 milhões de pessoas com problemas severos devido ao abuso de drogas. E reafirma

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

D

iretr

izes

Clí

nic

as

Pro

toco

los

Clí

nic

os

027 Acolhimento aos Usuários

de Álcool e Drogas

Estabelecido em: 10/08/2013

Responsável / Unidade

Vanuza Fortes Ribeiro – Médica | CCPC

Colaboradores

Eliane Mussel – Médica | HGV

Guilherme Freire Garcia – Médico | CCPC

Validadores

Equipe assistencial do HGV e IRS

Disponível em www.fhemig.mg.gov.br

e intranet

Pág. 34 027- Acolhimento aos Usuários de Álcool e Drogas

INTRODUÇÃO / RACIONAL

Estudo do Ministério da Saúde de 2013 informa que 21% dos acidentados no trânsito e 49%

dos episódios de agressão estão relacionados ao uso de álcool. O IBGE publicou no último

Estudo Nacional de Saúde Escolar-2009 que 71,4% dos estudantes já haviam experimentado

álcool; 24,3% já haviam experimentado fumo e 8,7% já haviam experimentado drogas ilícitas.

Segundo a Organização Mundial de Saúde -OMS o número total de doenças atribuídas ao uso

de álcool e drogas ilícitas no mundo representa 5,6% da carga total de doenças no mundo além

de estar associado à violência, negligência e maus tratos a crianças e absenteísmo. De acordo

com os dados da OMS em 2010 existiriam em torno de 230 milhões de adultos utilizando

drogas ilícitas no mundo, e entre eles cerca de 27 milhões de pessoas com problemas severos

devido ao abuso de drogas. E reafirma a existência de intervenções e estratégias eficazes para

prevenir e tratar as desordens relacionadas ao uso abusivo de drogas.

A OMS lançou em 2011 o pacote ASSIST (ANEXO I) desenvolvido para ajudar os profissionais de

saúde a detectar e gerenciar o uso nocivo de substâncias psicoativas em ambientes de cuidados

de saúde. Este pacote inclui também um guia desenvolvido para auxiliar o paciente a avaliar e

alterar comportamento de risco em relação ao uso destas substâncias, utilizando estratégias de

auto-ajuda (ASSIST, Brief interventions-linked brief intervention for hazardous and harmful

substance use: a manual for use in primary care and Self-help strategies for cutting down or

stopping substance use: a guide. – março de 2011). Recentemente foi lançado no Brasil o site

www.informalcool.org.br, ferramenta que divulga as políticas, estratégias, abordagens de

tratamento no Brasil em conformidade com as orientações da OMS.

Os usuários de álcool e drogas podem apresentar uma série de complicações sociais, jurídicas,

clínicas e psiquiátricas. O uso destas drogas leva à busca de serviços médicos em vários

momentos: nas intoxicações, durante o uso habitual ou crônico e nos períodos de

desintoxicação. Este protocolo pretende orientar o profissional que atende em urgências

clínicas e psiquiátricas pacientes com diversos quadros devido ao uso/abuso de álcool e outras

drogas.

OBJETIVOS

• Reconhecer e distinguir os diversos graus de uso, intoxicação, dependência e abstinência

de substâncias psicoativas(ANEXO I);

• Realizar avaliação clínica e psiquiátrica adequada e qualificada;

• Orientar o atendimento multidisciplinar;

• Implementar atuação preventiva (entrevista motivacional);

• Implementar a articulação com o sistema nacional de saúde.

027- Acolhimento aos Usuários de Álcool e Drogas Pág. 35

SIGLAS

ASSIST:Alcohol, Smoking and Substance

Involvement Screening Test;

CAPSad: Centro de Atenção Psicossocial

para usuários de álcool e outras drogas;

CMT: Centro Mineiro de Toxicomania

DQ: Dependente Químico;

DST: Doenças Sexualmente Transmissíveis

FC: Frequência Cardíaca;

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatítica;

IMC: Índice de Massa Corporal;

MOV: Maternidade Odete Valadares

NIDA: National Institute on DrugsAbuse

OMS: Organização Mundial de Saúde;

PA: Pressão Arterial;

PD: Permanência-Dia;

SOU: Serviço de Orientação ao Usuário;

SPA: Substância Psicoativa;

SPP: Serviço de Prontuário de Pacientes;

SUS: Sistema Único de Saúde;

Tax: Temperatura axilar.

MATERIAL / PESSOAL NECESSÁRIO

Enfermeiro;

Técnico de Enfermagem;

Médico Clínico;

Médico Psiquiatra;

Assistente Social;

Formulário do exame de enfermagem;

ASSIST;

Exames laboratoriais/ imagem;

Material assistencial: balança,esfigmomanômetro, termômetro, estetoscópio,

eletrocardiógrafo.

ATIVIDADES ESSENCIAIS

A OMS divulga orientações gerais para os programas de atendimento a usuários de drogas lícitas

e ilícitas que preconizam a necessidade de acolhimento destas pessoas, isto é, atendimento a

qualquer momento sem preconceitos, sem confrontação, compreensivo e multidisciplinar com o

objetivo de atender a todas as demandas e necessidades e não apenas às questões de saúde.

O acolhimento é o primeiro contato do usuário com o serviço de saúde. Segundo os critérios do

Humaniza SUS é um momento de acolhida qualificada, escuta subjetiva, ambiência adequada e

simpatia. No caso do usuário de droga é um momento muito privilegiado, crucial para avaliação

clínica, intervenção terapêutica e formação de aliança terapêutica. Devido à multifatoriedade do

desenvolvimento da Dependência Química o tratamento deve ser interdisciplinar, dirigido às

diversas áreas afetadas: física, psicológica, social,questões legais e qualidade de vida. O objetivo é

iniciar a abstinência e prevenir as recaídas conforme as diretrizes gerais do CFM e NIDA para a

assistência integral ao dependente do uso de crack (ANEXO II).

Pág. 36 027- Acolhimento aos Usuários de Álcool e Drogas

1) Classificação de Uso

O uso de drogas atinge as pessoas de diferentes maneiras. Todas as populações e todas as

culturas fizeram uso de drogas. Várias são as maneiras de classificar o uso de drogas psicoativas.

Tabela 1- Classificação de Uso

Nomenclatura Forma de Consumo

Uso recreativo Qualquer consumo de substância psicoativa para experimentar,

esporádico ou episódico.

Uso de risco Padrão que eleva o risco para o usuário e aqueles que estão à sua volta,

mas ainda não trouxe danos diretos à saúde deste usuário.

Abuso ou uso

nocivo Consumo associado a algum prejuízo (biológico, psíquico ou social).

Dependência

Consumo sem controle, geralmente associado a problemas sérios para

o usuário de diferentes graus. A dependência é caracterizada pelos

fatores abaixo que precisam sempre ser investigados:

• Desejo acentuado do uso da droga;

• Necessidade de doses crescentes para obter o mesmo efeito;

• Dificuldade para controlar o uso tanto em termos de início quanto

de dose;

• Estado fisiológico desagradável que induz ao uso da droga com

objetivo de aliviar os sintomas;

• Negligência crescente pelos interesses e prazeres alternativos com

abandono de atividades do dia a dia, tudo visando a obtenção de

novas doses ou recuperação após o uso;

• Persistência do uso mesmo com efeitos nefastos do uso da droga

reconhecidos.

Binge Consumo episódico de doses excessivas, muitas vezes levando à

intoxicação.

Intoxicação ou

overdose

Consumo num único episódio de dose acima daquela que o organismo

é capaz de metabolizar causando sintomas graves de descompensação

podendo levar até à morte.

Síndrome de

Abstinência

Conjunto de modificações orgânicas que se dão em decorrência da

interrupção abrupta ou redução do aporte de substância após uso

prolongado e desenvolvimento de dependência à droga

027- Acolhimento aos Usuários de Álcool e Drogas Pág. 37

2) Cocaína / Crack

a) Elementos da Síndrome de Intoxicação - (Protocolo Clínico 041- Manejo Clínico do Usuário

de Crack)

Humor disfórico: irritabilidade e

ansiedade, agitação, elação ou euforia,

elevação da sociabilidade,

comportamento sexual

impulsivo.Ansiedade crescente, ataques

de pânico, apreensão e desconfiança

crescente até o surgimento de paranóia,

sintomas psicóticos, alucinações, delírios,

perda de juízo crítico (psicose

cocaínica), insônia

Comportamento de busca,

inquietação, agitação,movimentos

estereotipados, tremores e

discinesias. Cefaléia e convulsões

Pupila dilatada

Náuseas, perda de apetite

Queimaduras da faringe, pneumotórax,

pneumomediastino, pneumopericárdio,

broncoespasmo, respiração ofegante,

pneumonite, tromboembolismos

Taquicardia, hipertensão, aumento

da demanda cardíaca,

tromboembolismo, vasoconstrição

coronariana e angina. Em altas

doses pode causar efeito

inotrópico negativo, depressão da

função ventricular esquerda,

falência cardíaca, arritmias

cardíacas (supraventriculares e

ventriculares) e até em casos raros

rompimento de aorta

Colite, infarto intestinal, infarto

esplênico e renal

Sintomas físicos: Perda de peso, hipertermia (estimulação sistema simpático), acidose

metabólica, rabdomiólise, hipercalemia e hipocalcemia, rompimento da placenta, aborto

espontâneo.

CRITÉRIOS DE INTERNAÇÃO CLÍNICA

• Alterações persistentes do estado mental, hipertermia significativa ou rabdomiólise,

coagulopatias, acidose metabólica, hipertensão severa, dor torácica sugestiva de

isquemia do miocárdio, falência renal ou hepática e complicações respiratórias;

• Todos os pacientes que ingeriram pacotes de drogas (mesmos os assintomáticos),

devem ser hospitalizados para exames diagnósticos e evacuação dos pacotes

ingeridos.

Pág. 38 027- Acolhimento aos Usuários de Álcool e Drogas

b) Elementos da Síndrome de Abstinência - (Protocolo Clínico 041- Manejo Clínico do

Usuáriode Crack)

É comum ser dividida em três fases:

1ª) Fissura intensa: desejo exacerbado pelo consumo da droga, irritabilidade e

agitação(crash) com duração de 2horas a 5 dias, seguida de hipersonolência, anedonia,

depressão e exaustão;

2ª) Abstinência propriamente dita: reemergência da fissura, depressão e ansiedade (até 10

semanas);

3ª) Redução gradativa dos sintomas.

Ansiedade e inquietação

Pupilas dilatadas

e lacrimejamento

Náuseas, vômitos e diarreia

Taquicaria e hipertensão

Coriza

027- Acolhimento aos Usuários de Álcool e Drogas Pág. 39

3) Álcool

a) Elementos da Síndrome de Intoxicação Alcoólica (Protocolo Clínico 034 - Intoxicação

AlcoólicaAguda)

A sintomatologia é crescente a partir de níveis de alcoolemia acima de 20mg%. Inicialmente,

elação e excitação, com elevação da alcoolemia e sintomas depressores do SNC: euforia,

excitação, perda de coordenação motora, ataxia, fala pastosa, prejuízo cognitivo, náuseas,

vômitos, disartria, amnésia, anestesia, risco de aspiração, desidratação, hipoglicemia, hipotermia,

alterações de consciência, coma, alterações cardiovasculares podendo levar à morte.

Perda de coordenação motora, ataxia,

alterações de consciência, coma

Risco de aspiração

Hipotermia,

anestesia,

desidratação

Hipoglicemia

Euforia, excitação, amnésia,

depressão, prejuízo cognitivo

Náuseas, vômitos, disartria,

fala pastosa

Alterações

cardiovasculares

Pág. 40 027- Acolhimento aos Usuários de Álcool e Drogas

b) Elementos da Síndrome de Abstinência Alcoólica (Protocolo Clínico 016- Síndrome de

Abstinência Alcoólica)

Tremor, hiperreflexia, inquietação, cefaléia,

convulsões, confusão mental Agitação, zoopsias, insônia

Alucinações visuais

Alucinações táteis,

sudorese

Diarreia

Fraqueza

Mal-estar

Taquicardia, hipertensão

Náuseas, vômitos

Alucinações auditivas transitórias

027- Acolhimento aos Usuários de Álcool e Drogas Pág. 41

4) Maconha

a) Elementos da Intoxicação por Cannabis

Quadros ansiosos com disforia e palpitações ou psicóticos (sintomas leves de paranóia),

comportamento agressivo.

Comportamento agressivo Quadro ansioso ou psicótico

Alucinações visuais

Dispneia

Diarreia

Polaciúria

Mal-estar

Taquicardia

Náuseas

Alucinações auditivas transitórias

Sudorese

Pág. 42 027- Acolhimento aos Usuários de Álcool e Drogas

b) Elementos da Abstinência por Cannabis

Irritabilidade, perda de apetite e de peso, desconforto físico, raramente sintomas psicóticos.

Irritabilidade, sintomas psicóticos

Desconforto físico

Perda de apetite e de peso

Alucinações auditivas transitórias

027- Acolhimento aos Usuários de Álcool e Drogas Pág. 43

5) Benzodiazepínicos

a) Elementos da Abstinência aos benzodiazepínicos

Os benzodiazepínicos apresentam atividade depressora como a do álcool, podendo levar a

bradicardia e hipotensão, particularmente quando há intoxicação por múltiplas drogas, o que

é frequente. Apresenta ainda elevação da temperatura corporal, tremores, fraqueza,

hiperreflexia e hipotensão postural.

Cefaléia, desorientação,

alteração de nível de

consciência, convulsões

até status epilepticus

Ansiedade, insônia, franco delírio

Elevação da

pressão

arterial,taquicardia,

bradicardia e

hipotensão

Taquipneia

Anorexia, náuseas, vômitos

Pág. 44 027- Acolhimento aos Usuários de Álcool e Drogas

6) Avaliações

6.1) Avaliação do Enfermeiro

Ao dar entrada no serviço o paciente deverá ser recebido e entrevistado pelo enfermeiro em primeiro

lugar (APÊNDICE I). Após esta entrevista, deve ser encaminhado ao médico para ser avaliado.

6.2) Avaliação do Médico

A OMS indica o ASSIST (ANEXO I) como instrumento adequado para avaliação do uso/abuso de

drogas, mesmo para utilização em serviços de assistência não especializados, devido a sua

estrutura padronizada, rapidez de aplicação, abordagem simultânea de várias classes de

substâncias, facilidade de interpretação e a possibilidade de ser utilizado por profissionais de

saúde de formações diversas.

A versão brasileira do instrumento apresentou boa sensibilidade e especificidade para álcool,

maconha e crack. Os dados deste estudo indicam que o ASSIST é um instrumento útil na triagem

do uso abusivo de álcool e outras drogas.

O médico deverá realizar a aplicação do ASSIST, a avaliação clínica e psiquiátrica inicial e a

solicitação dos exames laboratoriais e de imagem conforme necessário para esclarecimento do

quadro clínico/psiquiátrico apresentado no momento (Quadro 1).

Competirá ao médico por ocasião da definição da conduta abordar novamente o paciente

conforme as orientações que se seguem.

Quadro 1- Indicações na abordagem inicial aos usuários de SPA

Oportunidade de abordagem

Exames HIV, Hepatite B C , Baar

Entrevista de

aconselhamento/motivacional

Os usuários de SPA raramente buscam ajuda, portanto é

possível que este seja o único momento para aconselhar

o abandono da droga

Encaminhamento

Levando em consideração a oportunidade, e possível

motivação alcançada não deixe de referencir o usuário

a serviço adequado para o tratamento

027- Acolhimento aos Usuários de Álcool e Drogas Pág. 45

Quadro 2- Conduta clínica simplificada nos diversos quadros de intoxicação por SPA

Patologia Medidas ambientais Medicação Evitar

Intoxicação

Alcoólica

Ambiente tranquilo

com redução de

estímulos sensoriais

(auditivos e visuais),

proteção contra

quedas e se

agitado e

necessário, contenção

(Protocolo Clínico 033-

Contenção Física de

Pacientes em Agitação

Psicomotora)

Diazepam10 a 20 mg VO ,

Clordiazepóxido50 a 100mg

VO ou Lorazepam 2ª 4mg VO

1/1 h-

Haloperidol am caso de

alucinaçoes.

Clonidina em caso de HAS

Hidratação

excessiva

Difenilhidantoína e

clorpromazina

Glicose sem uso

prévio de Tiamina,

oferecer álcool

Síndrome de

Abstinência

Alcoólica

Diazepam 10 a 20mg VO, IM

IVde 1/1h, Lorazepam 2 a 4mg

de 1/1h até sedação leve

Tiamina 200mg/dia IM,IV ou

VO conforme quadro clínico

Medidas de suporte

Hidratação

excessiva

Difenilhidantoína e

clorpromazina

Glicose sem uso

prévio de Tiamina

Intoxicação por

Cocaína/Crack

Medidas de suporte/atenção

Pulmão de Crack e

Precordialgia

Agitação e S. Pânico- Diazepam

e Lorazepam VO, IM ou IV.

Sintoma psicóticos –

Haloperidol 5mg VO, IM ou IV.

Over dose- Internação clínica

Abstinência por

Cocaína/crack

Tratamento sintomático e de

suporte

Intoxicação por

Benzodiazepínicos

Medidas de suporte

Antídoto Flumazenil (0,1 a

0,4mg/h)

Abstinência por

Benzodiazepínicos

Redução gradual de dose

utilizando Diazepam

Suporte psicológico

Intoxicação por

Cannabis (Maconha)

Usualmente não requerem

medicação, atendimento

sintomático

Abstinência por

Cannbis (Maconha) Sintomático

Pág. 46 027- Acolhimento aos Usuários de Álcool e Drogas

6.2.1) Manejo do atendimento ao usuário e dependente de drogas

Os usuários devem ser encaminhados para avaliação médica após a entrevista com a

enfermagem cujos resultados orientam para o diagnóstico inicial do quadro. É muito frequente

que façam uso de múltiplas drogas o que pode dificultar a avaliação inicial. Além disto, também

as comorbidades em psiquiatria são particularmente comuns e importantes trazendo questões

complexas quanto à melhor conduta a ser seguida.

São frequentes o uso e abuso de drogas entre os pacientes portadores de Transtorno Bipolar

e Esquizofrenia e Transtornos de Personalidade só para citar algumas comorbidades. Como

princípio geral deve-se tratar inicialmente os quadros clínicos devido ao uso/abuso de drogas

para, num segundo momento, abordar os quadros psiquiátricos cujo tratamento pode

inclusive demandar internação.

A solicitação de exames laboratoriais, radiológicos e de ECG além dos já padronizados precisa

ser avaliada neste momento.

Após o exame clínico e aplicação do ASSIST,o médico deve fornecer informações claras sobre o

resultado dos exames e da avaliação do uso de drogas e a relação entre eles. Explicar a

relação entre os níveis de uso, os problemas para a saúde, os riscos a curto e longo prazo de

continuar fazendo uso da droga e incentivar a descontinuação e abstinência:

Discuta com o paciente rapidamente sobre as substâncias que ele faz uso;

Se perceber disposição para interromper ou diminuir o uso da droga, discuta com o usuário

os melhores meios de atingir este objetivo;

Se não, informe que é possível interromper mesmo o uso nocivo e encoraje o paciente a

buscar um serviço especializado caso mude de idéia ;

Se for mulher e estiver grávida ou amamentando encaminhe para serviço especializado pois

se trata de gravidez de alto risco (MOV);

Investigue as razões que a pessoa tem para usar drogas utilizando as técnicas de

Intervenção Breve;

Aconselhe a interromper completamente o uso da droga e disponha-se a ajudá-lo;

Pergunte à pessoa se está preparada para interromper o uso;

Caso existam sinais importantes de intoxicação, encaminhar para serviço de atendimento

clínico capacitado.Em presença de sintomas psiquiátricos importantes, encaminhe para

hospital psiquiátrico e em presença apenas de dependência química encaminhe para

CAPS-ad ou serviço para dependentes (CMT).

É muito importante que as informações sejam claras e que sejam fornecidos os endereços

para atendimento.

6.3) Avaliação do Assistente Social

A família e acompanhantes deverão ser entrevistados pela Assistente Social a fim de

esclarecer a história clínica e de uso de drogas. As intervenções com a família podem ser

determinantes do seguimento ou não do tratamento, portanto os acompanhantes devem ser

esclarecidos em todas as dúvidas. Devem ser fornecidas informações sobre os serviços de

atendimento ao dependente químico inclusive com os endereços. As Técnicas Cognitivo

Comportamentais fornecem ferramentas adequadas para esta abordagem e o técnico deve

buscar familiarizar-se com elas.

Se disponível, aplique intervenções psicossociais, tais como aconselhamento ou terapia

familiar, aconselhamento ou terapia para a resolução de problemas,terapia cognitivo-

comportamental, terapia de reforço motivacional, terapia de manejo de contingências.

027- Acolhimento aos Usuários de Álcool e Drogas Pág. 47

Os usuários de drogas precisam ser abordados em todas as suas necessidades. Portanto, é

hora de investigar condições de habitação, emprego, grupos de auto-ajuda, albergamentos

terapêuticos ou de reabilitação.

7) Atendimento aos Quadros Clínicos

Em caso de sinais de Intoxicação Alcoólica, remeter-se ao Protocolo Clínico 034 - Intoxicação

Alcoólica Aguda;

Em caso de Abstinência Alcoólica, remeter-se ao Protocolo Clínico 016- Síndrome de

Abstinência Alcoólica;

Em caso de uso de cocaína/crack, remeter-se ao Protocolo Clínico 041 - Manejo Clínico ao

Usuário de Crack;

Em caso de sinais de intoxicações por outras drogas, encaminhar ao Serviço de Toxicologia

do Hospital João XXIII.

ITENS DE CONTROLE

1. Número absoluto de pacientes encaminhados para hospitais clínicos / Número absoluto de

pacientes acolhidos nos serviços de saúde mental.

2. Número absoluto de pacientes encaminhados para serviços de saúde mental / Número

absoluto de pacientes acolhidos em serviços de urgência clínica.

3. Percentual de pacientes com quadros de intoxicação por álcool, cocaína, maconha e

benzodiazepínicos, separadamente.

4. Percentual de pacientes com quadros de abstinência por álcool, maconha, cocaína,

benzodiazepínicos, separadamente.

REFERÊNCIAS

1. ASSIST, Brief interventions-linked brief intervention for hazardous and harmful substance use: a

manual for use in primary care and Self-help strategies for cutting down or stopping substance

use: a guide. – março de 2011

2. Intervención breve para o consumo de risco e prejudicial de álcool-Um manual para

utilizaciónen atención primaria-Organización Mundial de La Salud. Thomas F. Babor,Jhon

C.Higgins-Biddle,2001

3. Motivacional Interviewing: a systematic review and meta-analysis. Sune RubackAnneli

Sandbaeck, Torsten Lauritzen and Bo Christensen- British Journey of General practice 2005;

55:305-312

Pág. 48 027- Acolhimento aos Usuários de Álcool e Drogas

Bibliografia suplementar

1. Brasil. Presidência da República. Decreto 7.179 de 20 de maio de 2010. Institui o Plano

Integrado de Enfretamento ao Crack e outras drogas e cria o seu Comitê Gestor. Brasília-

CETAD

2. Brasil. Presidência da República. Secretaria Nacional de políticas sobre drogas. Relatório

brasileiro sobre drogas/Secretaria nacional de políticas sobre drogas; IME USP; org.Paulina do

caro Arruda Vieira do Carmo, Vladimir de Andrade Stempliuk, Lúcia Pereira Barroso - Brasília

SENAD,2009

3. Diel, Alessandra; Cordeiro, Daniel Cruz; Laranjeiras, Ronaldo. Tratamento farmacológico para

dependência química: da evidência à prática clínica. Artmed, Porto Alegre, 2010.

4. Henrique, I.F.S., De Micheli D., Lacerda R.B.,Lacerda L.A., Formigoni M.L.S. Validação daversão

brasileira do teste de triagem do envolvimento com álcool, cigarro e

outrasdrogas(ASSIST).Trabalho realizado no Departamento de Psicobiologia da Universidade

Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, SP, e Departamento de Farmacologia da

Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR.

5. Instituto Nacional Sobre el Uso de Drogas-Institutos Nacionales de la Salud- Departamento

de Salud e Servicios Humanos de los EEUU. Principios de tratamiento para la drogadición-

Uma guia basada em las investigaciones. NIH Publicación No. 10–4180(S) Impresa en julio

del2001; revisada en julio del 2010

6. OMS, Comite de expertos de la OMS em problemas relacionados com el consumo de acohol

–Serie de informes tecnicos, 2007

7. World Health Organization- United Nation Office on drugs and crime.Principles of drugs

dependence treatment-Discussion paper-Mars, 2008

027- Acolhimento aos Usuários de Álcool e Drogas Pág. 49

APÊNDICE I

Avaliação do Enfermeiro

Nome: Sexo:

Prontuário: __________________________Data de nascimento:____/____/_______

DADOS VITAIS

Pulso_____ bpm PA___/___mm Hg Peso_____ kg Altura_____m IMC_____

Respiração_____irpm

Pele.

Sudorese_____ Palidez_____ Cianose_____ Vermelhidão_____ Piloereção_____

Olhos.

Midríase_____ Miose_____ Hiperemia_____ Lacrimejamento_____

Nariz.

Coriza_____ Espirros_____ Bocejos_____ Sinais de queimadura_____

Comportamento.

Ansioso____ Inquieto____ Comportamento de busca____ Violento____ Agressivo____

Paranóide____ Eufórico____ Irritável____ Pensamento acelerado _____

Neurológicos.

Tremores___ Confusão___ Desorientação___ Convulsão___ Obnubilação___ Coma___

Reação à estímulos.

Exacerbada_____ Reduzida_____

Gastrointestinal.

Náuseas_____ Vômitos_____ Diarréia_____ Cólicas_____

Cardiovasculares.

Arritmias_____ Dor pré-cordial_____

Respiratório.

Dispnéia_____ Tosse_____

Pág. 50 027- Acolhimento aos Usuários de Álcool e Drogas

ANEXO I

ASSIST 2.0

Teste para triagem do envolvimento com fumo, álcool e outras drogas

027- Acolhimento aos Usuários de Álcool e Drogas Pág. 51

Fonte: VALIDAÇÃO DA VERSÃO BRASILEIRA DO TESTE DE TRIAGEM DO ENVOLVIMENTO COM ÁLCOOL, CIGARRO

E OUTRAS SUBSTÂNCIAS (ASSIST). IARA FERRAZ SILVA HENRIQUE, DENISE DE MICHELI, ROSELI BOERNGEN

DE LACERDA, LUIZ AVELINO DE LACERDA, MARIA LUCIA OLIVEIRA DE SOUZA FORMIGONI. Trabalho

realizado no Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, SP, e

Departamento de Farmacologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR.

Pág. 52 027- Acolhimento aos Usuários de Álcool e Drogas

ANEXO II

Princípios Gerais para o Tratamento das Drogadições (NIDA)

1. A drogadição é uma doença complexa, porém tratável que afeta o funcionamento do

cérebro e o comportamento. As drogas de abuso alteram a estrutura e o funcionamento

do cérebro, o que ocasiona alterações que podem persistir por muito tempo após a

interrupção do consumo das drogas. Isto explica por que as pessoas que tiveram problemas

de drogadição correm risco de recaídas, mesmo após longos períodos de abstinência e

apesar das consequências potencialmente danosas.

2. Não existe um tratamento que seja apropriado para todas as pessoas. É de suma

importância buscar uma combinação adequada de intervenções e de serviços de

tratamento que atendamaos problemas e às necessidades particulares de cada paciente,

para que se alcance, como êxito final, o retorno ao funcionamento produtivo junto à família,

trabalho e sociedade.

3. O tratamento deve estar facilmente disponível a qualquer momento. É importante a

disponibilização de uma rede abrangente e variada de serviços de fácil acesso, capacitados

a acolher o usuário e engajá-lo no tratamento já que a adesão aos tratamentos é sempre

difícil.

4. O tratamento eficaz abrange as diversas necessidades das pessoas, não apenas o

problema de abuso de drogas. Para que o tratamento seja eficaz, deve não só abordar o

problema do uso de drogas, mas também qualquer outro problema médico, psicológico,

social, vocacional e legal que esteja presente. Igualmente, é importante que o tratamento

seja apropriado para a idade, sexo, grupo étnico e cultura de cada usuário.

5. Para que o tratamento seja eficaz, é essencial que o usuário permaneça em

acompanhamento durante um período adequado de tempo. A duração apropriada do

tratamento depende do tipo e da severidade dos problemas e das necessidades de cada

pessoa. As investigações indicam que a maioria dos pacientes requer pelo menos três

meses de tratamento para reduzir de forma significativa ou interromper o consumo de

drogas, porém, que os melhores resultados são alcançados com períodos mais prolongados

de tratamento. A recuperação da drogadição é um processo a longo prazo, e que não raro

requer vários ciclos de tratamento. Como sucede com outras enfermidades crônicas, podem

acontecer várias recaídas no uso de drogas o que indica a necessidade de restabelecer ou

ajustar o tratamento. Já que muitas pessoas podem abandonar o tratamento prematu-

ramente, os programas devem incluir estratégias que comprometam e mantenham os

usuários no tratamento.

6. A terapia individual e de grupo, além de outras formas de terapia comportamental,

são as formas de tratamento mais eficazes para o abuso de drogas. As terapias

comportamentais variam segundo o seu enfoque. Podem focar e dirigir a motivação que o

paciente apresenta de mudança, fornecendo incentivos para a abstinência, desenvolvendo

habilidades para rechaçar o uso de drogas, substituir atividades de grupos onde se

consome drogas por atividades construtivas e gratificantes, desenvolvendo as aptidões para

solucionar problemas e propiciar melhores relações interpessoais. De igual maneira, a

participação durante e após o tratamento em terapias de grupo e outros programas de

apoio pode ajudar a manter a abstinência.

027- Acolhimento aos Usuários de Álcool e Drogas Pág. 53

7. Para muitos pacientes, os medicamentos constituem um elemento importante do

tratamento, especialmente quando são combinados com a orientação psicológica e

outros tipos de terapia comportamental. Por exemplo, a metadona e a buprenorfina são

eficazes para ajudar os aditos à heroína e outros opióides a estabilizarem sua vida e

reduzirem o consumo das drogas ilícitas. A naltrexona também é um medicamento eficaz

para certas pessoas aditas a substâncias opióides e para alguns pacientes que sofrem de

dependência ao álcool. Outros medicamentos para o tratamento da dependência ao álcool

são o acamprosato e o dissulfiram. Para as pessoas adictas ao fumo, os produtos de

substituição à nicotina como adesivos, chicletes ou pastilhas, ou um medicamento oral

como a bupropiona ou a vareniclina, podem ser componentes eficazes do tratamento

quando são parte de um programa integral de tratamento comportamental.

8. O tratamento de cada paciente deve ser avaliado continuamente e, se necessário,

modificado para assegurar que se mantenha a par com qualquer modificação em sua

condição. O usuário pode requerer distintas combinações de serviços e componentes de

tratamento durante o curso do tratamento e de sua recuperação. Além da orientação

psicológica ou a psicoterapia, pode necessitar de medicamentos, atendimento clínico ou de

urgência, terapia familiar, orientação para a criação dos filhos, reabilitação vocacional ou

serviços sociais e legais. O sucesso depende da sintonia entre as necessidades, o momento

atual do usuário e os serviços oferecidos.

9. Muitas pessoas com problemas de drogadicção também têm outros transtornos

mentais. Como o abuso de drogas e a adicção são ambos transtornos mentais, amiúde se

apresentam concomitantemente com outras enfermidades mentais. A avaliação psiquiátrica,

portanto, é parte fundamental do atendimento ao usuário. É necessária atenção para o

diagnóstico e tratamento das comorbidades em psiquiatria.

10. A desintoxicação é só a primeira etapa do tratamento para a adiccão e por si mesma é

muito pouco para alterar o comportamento a longo prazo. Ainda que através da

desintoxicação se possa manejar de forma segura os sintomas físicos agudos da abstinência

e, em certos casos, aplanar o caminho para o tratamento da drogadição eficaz a longo

prazo, a desintoxicação, por si só, rara vez é suficiente para ajudar os drogaditos a

alcançarem abstinência duradoura. Por esta razão, se deve insistir com os usuários para que

permaneçam em tratamento após o processo de desintoxicação. Se a motivação e as

estratégias de incentivo forem adequadamente trabalhadas quando o usuário ingressar no

tratamento é possível também melhorar a adesão ao tratamento.

11. O tratamento não tem que ser voluntário para ser eficaz. As sanções e os prêmios

provenientes da família, do ambiente laboral ou do sistema jurídico penal podem

incrementar significativamente o número de usuários que ingressam nos programas de

tratamento, o índice de permanência neles e o êxito final das intervenções de tratamento

das drogadições.

12. O uso de drogas durante o tratamento deve ser supervisionado constantemente, já

que podem ocorrer recaídas. O fato de saber que o uso de drogas é vigiado pode ser um

grande incentivo para ajudar os usuários a resistir ao impulso de consumir a droga. O

monitoramento também serve como indicador precoce de uma recaída, o que pode indicar

a necessidade de rediscutir o processo de tratamento redirecionando-o para que se adapte

melhor às necessidadesatuais do paciente.

Pág. 54 027- Acolhimento aos Usuários de Álcool e Drogas

13. Os programas de tratamento devem incluir exames para HIV/AIDS, hepatites B e C,

tuberculose e outras enfermidades infecciosas, além de incluir uma terapia

especialmente dirigida a ajudar os usuários a modificar condutas que os colocam em

risco de contrair ou transmitir enfermidades infecciosas. Tipicamente, o tratamento do

usuário de drogas aborda algumas condutas relacionadas aos rituais de uso das drogas que

colocam as pessoas em perigo de contrair ou transmitir enfermidades infecciosas. A

orientação psicológica especificamente dirigida pode ajudar os usuários a reduzir ou evitar

comportamentos associados ao consumo de substâncias ou outros comportamentos de

alto risco. Além disso, a orientação psicológica pode ajudar aos que já estão infectados a

lidar com sua doença. Por outro lado, o comprometer-se com um tratamento para o abuso

de substâncias ilícitas pode facilitar a adesão a outros tratamentos médicos. Os usuários

podem se mostrar resistentes à realização do teste de HIV, portanto, é primordial que os

profissionais fomentem e apoiem as provas de detecção de doenças infecciosas e forneçam

informações sobre a eficácia da terapia antiretroviral para controlar a evolução da doença,

inclusive na população com problemas de drogadição (Organização Mundial de Saúde).

027- Acolhimento aos Usuários de Álcool e Drogas Pág. 55

ANEXO III

Fluxograma simplificado

Uso de drogas

psicoativas

Internação clínica /

psiquiátrica

Uso recreativo Dependência

Uso Nocivo Uso abusivo

Leve / moderado

Grave

Serviço especializado

CAPSad / CMT

Aconselhamento breve Entrevista Motivacional

Pág. 56 027- Acolhimento aos Usuários de Álcool e Drogas

ANEXO IV

Fluxograma de Acolhimento aos Usuários de Álcool e Drogas