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Organização do acervo digital de registros de marcas da Junta Comercial do Estado de Pernambuco na Internet Ana Cláudia Gouveia Araújo Mestranda em Ciência da Informação, UFPE e-mail: [email protected] Fábio Mascarenhas e Silva Doutor em Ciência da Informação, USP e-mail: [email protected] Resumo: A produção intelectual no Brasil é resguardada, dentre outras formas, através do registro de marca. Durante longo período, o registro de marca em Pernambuco foi realizado na Junta Comercial do Estado de Pernambuco (JUCEPE), antigo Tribunal do Comércio. Dessa atividade administrativa realizada pela Junta, resultou um manancial de documentos que foram digitalizados, cujo papel fundamental não está mais vinculado a resguardar juridicamente a propriedade das marcas, mas atuam como elementos representativos de preservação da cultura e memória social. Este trabalho apresenta uma discussão teórico-reflexiva proporcionada pela apresentação parcial dos resultados da pesquisa sobre a organização de acervo digital dos registros de marca da Junta Comercial do Estado de Pernambuco (JUCEPE) seguindo os princípios da Web Semântica. A respeito dos aspectos metodológicos, configura-se como uma pesquisa qualitativa de caráter exploratório e investigativo e utiliza o levantamento documental como técnica de pesquisa, cujo objetivo é discutir temáticas relacionadas à Web Semântica e verificar a sua contribuição para elaborar uma proposição teórica de organização do acervo de marcas registradas da JUCEPE em ambiente digital, fundamentando-se nas necessidades potenciais dos usuários. Analisa os registros de marca da Junta Comercial como fontes de informação tecnológica de caráter histórico, e reflete sobre temas relacionados à Web Semântica, mais especificamente, metadados e ontologias. Palavras-chave: Junta Comercial do Estado de Pernambuco. Marcas registradas históricas. Web semântica. Metadados. Ontologias.

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  • Organizao do acervo digital de registros de marcas da Junta Comercial do Estado de Pernambuco na Internet

    Ana Cludia Gouveia Arajo Mestranda em Cincia da Informao, UFPE

    e-mail: [email protected]

    Fbio Mascarenhas e Silva Doutor em Cincia da Informao, USP

    e-mail: [email protected] Resumo: A produo intelectual no Brasil resguardada, dentre outras formas, atravs do registro de

    marca. Durante longo perodo, o registro de marca em Pernambuco foi realizado na Junta Comercial

    do Estado de Pernambuco (JUCEPE), antigo Tribunal do Comrcio. Dessa atividade administrativa

    realizada pela Junta, resultou um manancial de documentos que foram digitalizados, cujo papel

    fundamental no est mais vinculado a resguardar juridicamente a propriedade das marcas, mas atuam

    como elementos representativos de preservao da cultura e memria social. Este trabalho apresenta

    uma discusso terico-reflexiva proporcionada pela apresentao parcial dos resultados da pesquisa

    sobre a organizao de acervo digital dos registros de marca da Junta Comercial do Estado de

    Pernambuco (JUCEPE) seguindo os princpios da Web Semntica. A respeito dos aspectos

    metodolgicos, configura-se como uma pesquisa qualitativa de carter exploratrio e investigativo e

    utiliza o levantamento documental como tcnica de pesquisa, cujo objetivo discutir temticas

    relacionadas Web Semntica e verificar a sua contribuio para elaborar uma proposio terica de

    organizao do acervo de marcas registradas da JUCEPE em ambiente digital, fundamentando-se nas

    necessidades potenciais dos usurios. Analisa os registros de marca da Junta Comercial como fontes

    de informao tecnolgica de carter histrico, e reflete sobre temas relacionados Web Semntica,

    mais especificamente, metadados e ontologias.

    Palavras-chave: Junta Comercial do Estado de Pernambuco. Marcas registradas histricas. Web semntica. Metadados. Ontologias.

  • 1 Introduo

    O registro de marca iniciou no Brasil em funo de um caso particular de plgio e litgio

    jurdico, no ano de 1873, envolvendo a fbrica pernambucana de produtos derivados do tabaco,

    Moreira & Cia, que colocou no mercado uma embalagem do Rap Area Parda, sendo acusada de

    plagiar o Rap Area Preta, produzido na Bahia pela fbrica Muron & Cia (a mais antiga do pas no

    gnero)1

    Diante disso, percebemos que necessitam de tratamento tcnico (descritivo e temtico), com o

    objetivo de serem futuramente inseridos em um sistema de informao de maneira previamente

    organizada, a fim de permitir o fluxo desses estoques de conhecimento em um sistema de informao.

    Partimos do pressuposto de que, para haver o acesso eficaz aos estoques de informao/conhecimento

    em ambiente digital, preciso que se desenvolva um tratamento informacional adequado, onde este

    . Em 1875 foram instaladas Juntas Commerciais na Capital do Imprio e algumas provncias,

    dentre elas a de Pernambuco, que ficaram responsveis pelo registro de marca. Dessa atividade, que

    perdurou de 1875 a 1924 na Junta Commercial do Recife, antigo Tribunal do Commercio e,

    posteriormente, Junta Comercial do Estado de Pernambuco (JUCEPE), resultou em um manancial de

    documentos cujo papel fundamental no est mais vinculado a resguardar juridicamente a propriedade

    das marcas, mas atuam como elementos representativos de preservao da cultura e memria social,

    bem como da Informao Cientfica e Tecnolgica (ICT).

    O acervo histrico da marcas registradas da JUCEPE foi digitalizado em Projeto Cultural

    realizado pela Junta, em parceria com a Fundao Gilberto Freyre (FGF), e encontra-se armazenado

    em Digital Video Disc ou Digital Versatile Disc (DVD), porm, a riqueza do material no

    contemplada com o uso pela comunidade de usurios/pesquisadores, visto que o acervo ainda

    permanece inacessvel e desconhecido por muitos. Apesar de estarem DVD, perde-se bastante tempo

    para encontrar um registro de marca especfico, pois no h nenhum procedimento de recuperao.

    Durante o projeto de digitalizao em 2005, localizaram-se aproximadamente 70 (setenta)

    documentos de marcas com grande relevncia para a histria nacional, do Estado e da JUCEPE, tais

    como: registro de marca da Fbrica Pilar a Vapor, dos rtulos da bolacha Maria, Maizena e muitos

    outros biscoitos da Fbrica Pilar, registros da Fbrica de Biscoitos Confiana, do Dirio de

    Pernambuco, Jornal Provncia e Jornal do Commercio; solicitao de registro da marca do Elixir

    Sanativo, fbricas de plvora e de tecidos da famlia Lundgren, da Compainha de Tecidos Paulista,

    Restaurante Manoel Leite, dentre outros.

    1 A primeira indstria de tabaco que se estabelece no pas, na regio do Recncavo Baiano, de propriedade de franceses, a Muron & Cie., em 1818 (LIMA, 1998, p. 75).

  • envolve as tcnicas de descrio fsica e representao temtica da informao, ou seja, metodologias

    de organizao da informao e do conhecimento que viabilizem recuperar a informao semntica

    (significado) dos documentos, levando em considerao a capacidade cognitiva dos usurios da

    informao.

    Como resultado parcial das reflexes tericas desenvolvidas a partir de pesquisa qualitativa de

    carter exploratrio e investigativo que utiliza o levantamento documental como tcnica de pesquisa,

    esta comunicao tem como objetivo discutir temticas relacionadas Web Semntica e verificar a sua

    contribuio para elaborar uma proposio terica de organizao do acervo de marcas registradas da

    JUCEPE em ambiente digital, fundamentando-se nas necessidades potenciais dos usurios.

    2 A Organizao da Informao e do Conhecimento em Ambientes Digitais

    Tratar sobre organizao do conhecimento em ambiente digital requer diferenciar organizao

    do conhecimento (OC) de organizao da informao (OI). Consideramos aqui, OC como a disciplina

    que se ocupa dos elementos de sentido constantes em registros do conhecimento, como por exemplo,

    os registros de marcas. Por outro lado, a OI se preocupa com a descrio fsica e temtica de um item

    apenas, e no do contedo semntico constante no documento e de suas relaes conceituais

    (Exemplo: a descrio fsica de um registro de marca seria descrever o solicitante, a data de

    solicitao, data de registro, etc. de um registro de marca especfico). E a descrio temtica, apesar de

    ser muito referenciada como representao do conhecimento, geralmente realizada utilizando

    instrumentos de classificao que terminam se limitando tambm a uma representao pontual, no

    considerando que a unidade do conhecimento o conceito e a sua representao requer considerar no

    apenas a anlise do assunto de um item especfico, mas as possibilidades de relaes existentes entre

    os conceitos contidos nele.

    Tais afirmaes podem ser corroboradas com as informaes apresentadas por Brscher e

    Caf (2008) que dizem que o produto desse processo descritivo a representao da informao ou do

    conhecimento (RI ou RC). A RI entendida como um conjunto de elementos descritivos que

    representam os atributos de um objeto informacional especfico (BRSCHER; CAF, 2008, p. 5).

    Afirmam tambm que no contexto da OI e da RI, temos como objeto os registros de informao.

    Estamos, portanto, no mundo dos objetos fsicos, distinto do mundo da cognio, ou das idias, cuja

    unidade elementar o conceito (BRSCHER; CAF, 2008, p. 5).

  • Percebemos, portanto, uma sutil diferena entre a representao da informao e representao

    do conhecimento, enfatizadas nessa comunicao. A primeira, referindo-se descrio fsica e

    temtica dos documentos e a segunda referindo-se a uma abstrao da realidade, uma construo de

    modelos de mundo. No nosso caso especfico, uma representao do domnio das marcas registradas

    de carter histrico.

    No ambiente digital, o compromisso em organizar/representar o conhecimento previamente

    ainda mais importante, fundamentando-se na capacidade cognitiva do usurio da informao e nas

    possibilidades de pesquisa que ele pode requerer no processo de busca em um sistema de informao,

    a fim de disponibilizar a informao relevante para esse usurio. As ontologias, desenvolvidas na Web

    Semntica, tm sido apresentadas como sistemas de organizao do conhecimento (SOCs) que,

    associadas aos metadados, podem contribuir para a representao do contedo semntico dos

    documentos. Sistemas de Organizao do Conhecimento (SOCs) ou Knowledge Organization System

    (KOS) so objetos de interesse particular para a CI, uma vez que cumprem importante papel de

    padronizao da terminologia adotada para organizao e recuperao de informaes, ao delimitar o

    uso de termos e definir conceitos e relaes de alguma rea do conhecimento, de forma compartilhada

    e consensual.

    Problemas relacionados recuperao da informao relevante podem estar ligados

    incapacidade de os sistemas processarem o contedo semntico dos documentos. Diante disso,

    procuramos trazer reflexes a respeito das contribuies que podem ser dadas pela web semntica para

    tentar solucionar o caos informacional na Rede, oferecendo ferramentas que viabilizem uma melhor

    representao de contedos em ambiente digital. Web Semntica, no uma web separada, mas uma

    extenso da atual. Berners-Lee, Hendler e Lassila (2001) dizem que a Web Semntica trar significado

    e estrutura s pginas web, criando um ambiente em que agentes de software possam percorrer de

    pgina em pgina para executar tarefas sofisticadas para os usurios, extraindo o contedo semntico

    dos documentos contidos nas pginas da Internet.

    Os metadados tm sido considerados como elementos essenciais para a melhoria do processo

    de recuperao de informaes na web. So utilizados para descrio, descoberta, localizao e

    avaliao de recursos na Rede, onde o conceito de recurso est relacionado a um objeto da web,

    identificado por uma Uniform Resource Locator (URL). Gilliland-Swetland (1997), apresenta os tipos

    de metadados quanto a sua funo em: Administrativo, Descritivo, Preservao, Tcnico e de Uso.

    Inicialmente, identificamos o metadados descritivo como o mais adequado para o estudo atual, tendo

  • em vista estar relacionado elaborao de proposta de representao da informao para fins de

    recuperao.

    Dentre os formatos para captura de metadados, segundo Breitman (2005), o que teve maior

    impacto para a Web semntica foi o Dublin Core2

    Ttulo

    . Conforme Borba (2009, p. 59), O Dublin Core

    um padro de metadados mantido pela Dublin Core Metadata Initiative e suas especificaes so

    autorizadas pelos padres ISO 15836-2003 e NISO Z39.85- 2001, que autorizam a descrio

    documental com qualidade. Este padro apresenta os seguintes elementos de descrio:

    um ttulo dado ao recurso

    Criador uma entidade principal responsvel pela elaborao do contedo do recurso

    Assunto assunto referente ao contedo do recurso

    Descrio uma descrio sobre o contedo do recurso

    Editor a instituio responsvel pela difuso do recurso

    Contribuinte uma entidade responsvel pela contribuio ao contedo do recurso

    Data data associada com um evento no ciclo de vida do recurso

    Tipo a natureza ou gnero do contedo do recurso

    Formato manifestao fsica ou digital do recurso

    Identificao identificao no ambgua do recurso dentro de um dado contexto

    Fonte uma referncia para um outro recurso o qual o presente recurso derivado

    Idioma idioma do contedo intelectual do recurso

    Relao uma referncia a um outro recurso que se relaciona com o recurso

    Cobertura a extenso ou cobertura espao-temporal do contedo do recurso

    Direitos Informaes sobre os direitos do recurso e seu uso

    Quadro 1 - Elementos de descrio do Dublin Core

    Fonte: Borba (2009).

    2 http://www.dublincore.org/

  • Breitman (2005) salienta que o Dublin Core tem seu ponto forte relacionado sua

    simplicidade, o que permite a utilizao em larga escala. Alm disso, permite a utilizao de campos

    extensveis, permitindo adaptao s necessidades adicionais de descrio. Contudo, por outro lado,

    tem como fator que o enfraquece que o fato de no acomodar uma semntica mais expressiva. A fim

    de minimizar dificuldades como as do Dublin Core em no descrever semanticamente os recursos na

    Rede, a Web Semntica tem apresentado as ontologias como uma ferramenta que tem como objetivo

    atenuar o caos de informaes da Internet, no no sentido de acabar com a diversidade de conceitos no

    ciberespao, mas no de precisar a recuperao do contedo, diminuindo a redundncia e a

    ambiguidade de conceitos para grupos de pesquisa com propsitos em comum.

    Uma das definies mais conhecidas de ontologias na literatura de Web Semntica a

    apresentada por Gruber (1993) ontologia uma especificao formal e explcita de uma

    conceitualizao compartilhada. Breitman (2005) acrescenta que conceitualizao representa um

    modelo abstrato de algum fenmeno que identifica os conceitos relevantes para o mesmo. Explcita

    significa que os elementos e suas restries esto claramente definidos; formal significa que a

    ontologia deve ser passvel de processamento automtico, e compartilhada reflete a noo de que uma

    ontologia captura conhecimento consensual, aceito por um grupo de pessoas.

    Quanto aos benefcios diretos para o acervo digital da JUCEPE, com os recursos dessa web

    inteligente, os documentos podero ser indexados de forma mais precisa, conforme uso de metadados

    e ontologias e, consequentemente, recuperados pela comunidade de usurios que ainda desconhece o

    potencial de tal acervo, ou seja, poder viabilizar a permanncia continuada e compartilhamento de

    informaes para uso imediato e das geraes futuras.

    O acervo de registro de marcas da JUCEPE constitudo por documentos que contm texto e

    imagem, portanto, no poderemos desconsiderar a necessidade de representar as imagens para fins de

    recuperao. As tcnicas para descrio da informao imagtica apresentam lacunas e este problema

    da indexao de imagens reflete significativamente na sua recuperao (SMIT, 1996). A dificuldade

    de indexar os contedos desta tipologia documental deve-se grande quantidade de informaes que

    elas podem conter, e ao alto nvel de abstrao e de subjetividade de seus componentes. Conforme

    Smit (1996, p. 30), existem trs nveis de anlise de imagem, considerados pela Anlise Documentria

    da imagem: pr-iconogrfico, iconogrfico e iconolgico.

  • Nvel pr-iconogrfico: nele so descritos, genericamente, os objetos e

    aes representados pela imagem;

    Nvel iconogrfico: estabelece o assunto secundrio ou convencional

    ilustrado pela imagem. Trata-se, em suma, da determinao do significado

    mtico, abstrato ou simblico da imagem, sintetizado a partir de seus

    elementos componentes, detectados pela anlise pr-iconogrfica;

    Nvel iconolgico: prope uma interpretao do significado intrnseco do

    contedo da imagem. A anlise iconolgica constri-se a partir das

    anteriores, mas recebe fortes influncias do conhecimento do analista sobre o

    ambiente cultural, artstico e social no qual a imagem foi gerada (SMIT,

    1996, p. 30).

    Verificamos, portanto, que a rea de Anlise Documentria da Imagem considera

    relevante a interpretao do contedo visual. Com relao s marcas registradas da JUCEPE, podemos

    iniciar afirmando que transpem caractersticas grficas de traos e letras. E, tambm, os elementos

    descritivos que se referirem ao texto apenas, no sero suficientes para descrever a informao

    imagtica contida para fins de recuperao em ambiente digital. Observamos tambm que, como

    representar a imagem uma atividade subjetiva e reflexiva, exige ento conhecimentos scio-polticos

    culturais da poca em que foram produzidas.

    Em ambiente digital o problema da recuperao da informao imagtica ocorre de

    forma mais agravante, pois a documentao de imagens exige tcnicas que, na maioria das vezes, so

    desconhecidas pelos informatas. O resultado da busca por uma imagem especfica se d de forma

    sinttica, geralmente relacionada ao texto que acompanha a imagem, e no ao contedo visual

    especificamente (o contedo semntico), tornando-as virtualmente irrecuperveis por no existir uma

    descrio associada a elas (LIMA-MARQUES; MANINI; MIRANDA, 2007, p. 3).

    O processo de transferncia da informao imagtica para a informao

    verbal negligenciado; consequentemente, a indexao da imagem , muitas

    vezes, realizada levando em conta somente a legenda da fotografia, que, de

    acordo com as metodologias de documentao de imagem, apenas uma

    pequena parte da informao que pode estar associada imagem (LIMA-

    MARQUES; MANINI; MIRANDA, 2007, p. 3).

  • Apesar de ainda no existir um modelo de indexao que represente de modo preciso a

    informao presente numa imagem em sistemas de informao, existem tcnicas que recuperam as

    informaes mais relevantes. A literatura da rea apresenta atualmente duas tcnicas de indexao: a

    indexao baseada no contedo da imagem e a indexao baseada no conceito. A descrio de

    imagens, com palavras, feita por seres humanos, denomina-se em geral indexao baseada em

    conceitos, e a indexao de imagens por seus atributos intrnsecos baseada em contedos. A

    tcnica baseada em conceitos aquela na qual os termos so atribudos pelo indexador, seja em

    linguagem natural ou baseado em linguagem controlada (Rasmussen (1997) apud Lancaster (2004, p.

    214).

    Durante muito tempo, a indexao automtica de imagens em ambientes digitais considerou,

    basicamente, apenas os atributos primrios como a cor, a textura e a forma, devido incapacidade

    tecnolgica dos computadores em desempenhar a anlise descritiva e interpretativa de imagens. De

    uns anos pra c, algumas pesquisas de indexao por contedo esto tentando incorporar informaes

    textuais e semnticas aos atributos visuais da imagem, significando um promissor incio da integrao

    entre as duas tcnicas de indexao. De acordo com Lima-Marques; Manini e Miranda (2007), em se

    tratando de descrio e recuperao de informao imagtica no contexto de sistemas de informao,

    dispe-se de trs alternativas: com base em texto, atributo e ontologias. Os autores tambm

    acrescentam que as duas primeiras tcnicas apresentam uma certa inabilidade em analisar as

    fotografias sob o ponto de vista semntico (aes, sentimentos, emoes, significados das imagens).

    Lima-Marques, Manini e Miranda (2007) dizem que o contedo informacional, ou seja, o que

    a imagem mostra, denominado de contedo semntico. Porm, acrescentamos que importante

    considerar que a semntica (significado) da imagem nem sempre perceptvel, ela muitas vezes est

    subentendida. Empreendimentos para solucionar esse problema tm se utilizado das ontologias para

    melhorar a recuperao, tal como Hollink et al. (200-), Muda (2008), Schreiber (2001). A descrio de

    imagens usando ontologia consiste basicamente em associar conceitos e instncia imagem. Logo, a

    descrio de imagens fica bem mais rica, pois ela herda no apenas um termo, mas o termo

    acompanhado de sua descrio atravs das propriedades que o descreve (SCHREIBER, 2011).

    O indexador inicia o processo de descrio a partir da seleo de uma

    categoria de alto nvel e segue expandindo a hierarquia de conceitos at

    encontrar um conceito que melhor descreva a imagem; se no encontr-lo, o

    indexador pode criar uma instncia do conceito (MIRANDA, 2007, p. 25).

  • A mesma rvore de categorias usada pelo indexador pode ser utilizada pelo usurio no

    momento da pesquisa, ou seja, o usurio pode elaborar sua expresso de busca dentro do que est

    sendo fornecido pela hierarquia de conceitos, as quais resolvem o problema da ambiguidade de

    termos, problema muito frequente em recuperao da informao. Consideramos, portanto, para os

    registros de marcas da JUCEPE, uma representao da informao utilizando metadados e a

    representao do conhecimento, utilizando-se de ontologias para representar o contedo textual e

    imagtico dos documentos. Para isso, preciso a realizao de um trabalho interdisciplinar,

    envolvendo profissionais de reas como Histria, Design, Comunicao e Cincia da Informao,

    dentre outros.

    3 Desenvolvimento Metodolgico da Pesquisa

    Para a construo do referencial terico conceitual efetuamos busca exaustiva no Portal de

    Peridicos da Capes e Google Acadmico, com os seguintes termos: web semntica/semantic web,

    organizao/representao do conhecimento/knowledge organization/representation on the semantic

    web; historical trademark user, image representation, ontologies and image, metadata and image.

    Alm disso, recorrermos a fontes impressas (primrias e secundrias), tais como: trabalhos acadmicos

    como os de Lima (1998), Agra Jnior (2011), dentre outros, sobre marcas histricas.

    No intuito de refletir sobre o acervo de marcas registradas da JUCEPE como fonte de

    informao histrica, realizamos uma anlise documental e a caracterizao dos usurios de

    informaes contidas nos registros de marcas. A seguir tais etapas sero detalhadas:

    a) anlise documental. Considerou toda a estruturao das informaes contidas nos

    documentos, identificando elementos representativos de serem descritos de forma fsica e conceitual,

    seguindo os seguintes critrios: (1) foram priorizados os arquivos que continham imagens coladas; (2)

    e aqueles que foram identificados como de relevncia histrica para o Estado de Pernambuco em

    projeto j mencionado e executado no ano de 2005 (sendo figurativos ou nominativos).

    Em seguida, no intuito de delimitar os registros de marcas analisados, optamos por escolh-los

    a cada dez registros, seguindo a ordem em que foram armazenados nos DVDs. As pastas com as

    imagens digitalizadas de marcas registradas nacionais esto numeradas conforme o exemplo: SG-RC-

    4V1 - SG Secretaria Geral; RG Registro de Comrcio; 4 Marcas e Patentes Nacionais; V1

  • volume 1. Quanto disposio das informaes no documento, os registros referentes ao sculo XIX,

    so constitudos por uma a quatro pginas (a depender do ano) com o nmero do registro na parte

    superior do documento, a imagem (quando tem), o texto corrido contendo o nome da marca com

    seu(s) respectivo(s) proprietrio(s), o endereo da indstria ou comrcio, a finalidade da marca, a

    assinatura/despacho do secretrio da Junta Commercial. No primeiro volume, os registros contm

    apenas uma pgina, os posteriores contm mais pginas. Alm disso, observamos que alguns

    documentos so subdivididos em petio (primeira pgina); despacho do Secretrio da Junta

    autorizando ou no o registro, mas sem indicar o nmero ainda (segunda pgina); marca (figurativa ou

    nominativa) + descrio e aplicao da marca (terceira pgina); despacho final do Secretrio com o

    nmero de registro e, em vrios casos, informaes adicionais, tais como: baixa em registros,

    transferncia de responsveis pela indstria ou comrcio, mudana de razo social, etc.

    Salientamos que na primeira pgina que so apresentados os endereos dos estabelecimentos

    (proprietrios das marcas), bem como os nomes antigos das ruas (Exemplo: Registro da marca da

    Fbrica Oitenta e Nove, localizada Rua 89, antiga Imperial). Essa informao, s vezes, aparece no

    rtulo ou na parte chamada aplicao, entretanto, no frequente, sendo mais certo constar na petio

    (requerimento do proprietrio) apresentada Junta. Este apenas um exemplo que nos faz defender a

    disponibilizao do documento completo em um sistema de informao.

    Os registros de marcas, portanto, permitem tambm resgatar a memria da cidade do Recife

    neste aspecto. Vale salientar que a mudana de um nome de rua envolve questes polticas, sociais,

    etc., retratando no apenas o simples fato da mudana da rua, mas o est por trs para disso. Agra

    Jnior (2011), por exemplo, identificou que as empresas grficas se concentravam no bairro de Santo

    Antnio, contudo, para identificar geograficamente as empresas, ele precisou pesquisar em diversas

    fontes.

    Entretanto, no apenas esse elemento possvel de ser identificado. Diante da diversidade,

    tivemos que eleger um representativo, mas possvel verificar legislaes referentes autorizao de

    empresas estrangeiras no Estado, agravos de petio que acompanham as marcas quando identificadas

    situaes de plgio de marcas, quantidade de vezes em que um registro e renovado, dentre outros.

    Ademais, detalhes a respeito de marcas conhecidas regionalmente foram identificadas, porm, seria

    impossvel elencar todas na presente comunicao.

  • b) Caracterizao dos usurios das informaes contidas nos registros de marcas - Foram

    identificadas fontes na rea de Design, Histria, Comunicao, entretanto, abordaremos

    especificamente os que se referem aos registros de marcas da JUCEPE.

    Foi possvel perceber que Lima (1998) e Agra Jnior (2011) tratam dos rtulos de cigarros,

    no o documento completo de marca registrada. Enfocam questes a respeito de elementos grficos,

    alguns elementos de significado das figuras (emblemas) e tcnica de impresso utilizada para produzir

    os rtulos, especificamente a litografia. Para ambos os usurios, percebemos ser interessante

    recuperar, em um possvel sistema de informao, a descrio da tcnica de impresso utilizada.

    Ambos consideram as marcas de indstria e comrcio constantes na JUCEPE como elementos

    essencias para o estudo da histria do Design e a preservao da memria, no s da Junta como

    instituio pblica, mas das indstrias e comrcio instalados em Pernambuco no final do sculo XIX e

    incio do sculo XX.

    Alm dos autores supracitados, identificamos tambm Abad e Niemeyer (2009), que analisam

    os registros de marcas da JUCEPE como ricas fontes de informao histricas, trazendo exemplos de

    rtulos que representam a maonaria e o incio da Repblica no Brasil. Esses e outros exemplos

    trazem elementos figurativos representando homenagens a polticos, literrios, artistas, dentre outros,

    o que nos leva a concluir que eram muito mais do que elementos grficos, demonstrando tcnicas de

    impresso do momento, mas tambm, so objetos de sentido que agregam valor s informaes

    dispostas e incitam a necessidade de interpretaes relacionadas ao perodo scio-poltico-cultural do

    pas. Estas caractersticas nos incitam a afirmar que uma representao de tal acervo no pode se

    limitar a descrever o contedo textual do documento, mas tambm, precisa considerar o contedo

    semntico inerente imagem. Pelo fato de as imagens estarem coladas no documento que contm

    texto poderamos descartar a representao imagtica, entretanto, neste caso, o texto por si s no

    basta para informar ao usurio os significados intrnsecos s imagens.

    4 Consideraes Finais

    Os estoques de memria, similares ao acervo de registro de marcas da JUCEPE, apresentam

    caractersticas prprias e valor inerente, os quais servem de fonte de informao histrica. Pensar uma

    forma de categorizao/ordenao deste acervo para um possvel uso em ambiente digital merece

    planejamento adequado, vislumbrando a possibilidade dele constituir subsdio terico para novas

  • pesquisas e na inovao que ele pode proporcionar. Alm disso, esta estruturao informacional

    merece estar associada s necessidades potenciais dos usurios e a tecnologias que combatam a falta

    de preciso no processo de busca e recuperao da informao.

    Newton (2010), afirma que, atualmente, as bases de dados de marca incluem apenas os

    registros mais recentes ou as marcas ainda ativas, todavia, ele diz que isso uma perda para o estudo

    da histria dos negcios, concluindo que o que seria interessante para fazer a pesquisa histrica nesta

    rea mais prtica, e para abrir novas reas de estudo, um banco de dados de todas as marcas que j

    foram registradas em cada pas, o que nos faz salientar mais ainda a importncia em refletir sobre

    formas de disponibilizar as marcas histricas da JUCEPE.

    Neste sentido, os propsitos da Web Semntica podero contribuir atribuindo sentido ao

    acervo de marcas histricas da JUCEPE, permitindo, alm de inferncias automticas, uma melhor

    recuperao das informaes, visto que um de seus propsitos utilizar-se de ferramentas que

    indexam de forma mais eficiente os contedos semnticos dos documentos em ambiente digital,

    viabilizando maior seletividade no momento da busca.

    5 Referncias ABAD, Gisela; NIEMEYER, Lucy. Maons e positivistas em marcas pernambucanas. In: GONGRESSO INTERNACIONAL DE PESQUISA EM DESIGN, 5., 2009, Bauru, SP. Anais... Bauru, SP: [s.n], 2009. AGRA JNIOR, Jarbas. Memria grfica pernambucana: indstria e comrcio atravs dos impressos litogrficos comerciais recifenses [1930-1965]. Dissertao (Mestrado) Programa de Ps-graduao em Design, Universidade Federal de Pernambuco, 2011. Recife: UFPE, 2011. BERNERS-LEE, Tim; HENDLER, James; LASSILA, Ora. The Semantic Web: a new form of web content that is meaningful to computers will unleash a revolution of new possibilities. Scientific American, maio 2001. BORBA, Vildeane da Rocha. Modelo orientador para construo de estratgias de preservao digital: estudo de caso do Banco de Teses e Dissertaes da UFPE. 2009. Dissertao (Mestrado em Cincia da Informao) Programa de Ps-Graduao em Cincia da Informao, Universidade Federal da Paraba, Joo Pessoa, 2009. BRSCHER, Marisa; CAF, Lgia. Organizao da informao ou organizao do conhecimento? In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CINCIA DA INFORMAO, 9., 2008, So Paulo. Anais... So Paulo: USP, 2008. Disponvel em: . Acesso em: dez. 2010.

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    Ana Cludia Gouveia ArajoMestranda em Cincia da Informao, UFPE e-mail: [email protected] Mascarenhas e SilvaDoutor em Cincia da Informao, USP e-mail: [email protected]