Upload
kristy-collins
View
213
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Organizao do acervo digital de registros de marcas da Junta Comercial do Estado de Pernambuco na Internet
Ana Cludia Gouveia Arajo Mestranda em Cincia da Informao, UFPE
e-mail: [email protected]
Fbio Mascarenhas e Silva Doutor em Cincia da Informao, USP
e-mail: [email protected] Resumo: A produo intelectual no Brasil resguardada, dentre outras formas, atravs do registro de
marca. Durante longo perodo, o registro de marca em Pernambuco foi realizado na Junta Comercial
do Estado de Pernambuco (JUCEPE), antigo Tribunal do Comrcio. Dessa atividade administrativa
realizada pela Junta, resultou um manancial de documentos que foram digitalizados, cujo papel
fundamental no est mais vinculado a resguardar juridicamente a propriedade das marcas, mas atuam
como elementos representativos de preservao da cultura e memria social. Este trabalho apresenta
uma discusso terico-reflexiva proporcionada pela apresentao parcial dos resultados da pesquisa
sobre a organizao de acervo digital dos registros de marca da Junta Comercial do Estado de
Pernambuco (JUCEPE) seguindo os princpios da Web Semntica. A respeito dos aspectos
metodolgicos, configura-se como uma pesquisa qualitativa de carter exploratrio e investigativo e
utiliza o levantamento documental como tcnica de pesquisa, cujo objetivo discutir temticas
relacionadas Web Semntica e verificar a sua contribuio para elaborar uma proposio terica de
organizao do acervo de marcas registradas da JUCEPE em ambiente digital, fundamentando-se nas
necessidades potenciais dos usurios. Analisa os registros de marca da Junta Comercial como fontes
de informao tecnolgica de carter histrico, e reflete sobre temas relacionados Web Semntica,
mais especificamente, metadados e ontologias.
Palavras-chave: Junta Comercial do Estado de Pernambuco. Marcas registradas histricas. Web semntica. Metadados. Ontologias.
1 Introduo
O registro de marca iniciou no Brasil em funo de um caso particular de plgio e litgio
jurdico, no ano de 1873, envolvendo a fbrica pernambucana de produtos derivados do tabaco,
Moreira & Cia, que colocou no mercado uma embalagem do Rap Area Parda, sendo acusada de
plagiar o Rap Area Preta, produzido na Bahia pela fbrica Muron & Cia (a mais antiga do pas no
gnero)1
Diante disso, percebemos que necessitam de tratamento tcnico (descritivo e temtico), com o
objetivo de serem futuramente inseridos em um sistema de informao de maneira previamente
organizada, a fim de permitir o fluxo desses estoques de conhecimento em um sistema de informao.
Partimos do pressuposto de que, para haver o acesso eficaz aos estoques de informao/conhecimento
em ambiente digital, preciso que se desenvolva um tratamento informacional adequado, onde este
. Em 1875 foram instaladas Juntas Commerciais na Capital do Imprio e algumas provncias,
dentre elas a de Pernambuco, que ficaram responsveis pelo registro de marca. Dessa atividade, que
perdurou de 1875 a 1924 na Junta Commercial do Recife, antigo Tribunal do Commercio e,
posteriormente, Junta Comercial do Estado de Pernambuco (JUCEPE), resultou em um manancial de
documentos cujo papel fundamental no est mais vinculado a resguardar juridicamente a propriedade
das marcas, mas atuam como elementos representativos de preservao da cultura e memria social,
bem como da Informao Cientfica e Tecnolgica (ICT).
O acervo histrico da marcas registradas da JUCEPE foi digitalizado em Projeto Cultural
realizado pela Junta, em parceria com a Fundao Gilberto Freyre (FGF), e encontra-se armazenado
em Digital Video Disc ou Digital Versatile Disc (DVD), porm, a riqueza do material no
contemplada com o uso pela comunidade de usurios/pesquisadores, visto que o acervo ainda
permanece inacessvel e desconhecido por muitos. Apesar de estarem DVD, perde-se bastante tempo
para encontrar um registro de marca especfico, pois no h nenhum procedimento de recuperao.
Durante o projeto de digitalizao em 2005, localizaram-se aproximadamente 70 (setenta)
documentos de marcas com grande relevncia para a histria nacional, do Estado e da JUCEPE, tais
como: registro de marca da Fbrica Pilar a Vapor, dos rtulos da bolacha Maria, Maizena e muitos
outros biscoitos da Fbrica Pilar, registros da Fbrica de Biscoitos Confiana, do Dirio de
Pernambuco, Jornal Provncia e Jornal do Commercio; solicitao de registro da marca do Elixir
Sanativo, fbricas de plvora e de tecidos da famlia Lundgren, da Compainha de Tecidos Paulista,
Restaurante Manoel Leite, dentre outros.
1 A primeira indstria de tabaco que se estabelece no pas, na regio do Recncavo Baiano, de propriedade de franceses, a Muron & Cie., em 1818 (LIMA, 1998, p. 75).
envolve as tcnicas de descrio fsica e representao temtica da informao, ou seja, metodologias
de organizao da informao e do conhecimento que viabilizem recuperar a informao semntica
(significado) dos documentos, levando em considerao a capacidade cognitiva dos usurios da
informao.
Como resultado parcial das reflexes tericas desenvolvidas a partir de pesquisa qualitativa de
carter exploratrio e investigativo que utiliza o levantamento documental como tcnica de pesquisa,
esta comunicao tem como objetivo discutir temticas relacionadas Web Semntica e verificar a sua
contribuio para elaborar uma proposio terica de organizao do acervo de marcas registradas da
JUCEPE em ambiente digital, fundamentando-se nas necessidades potenciais dos usurios.
2 A Organizao da Informao e do Conhecimento em Ambientes Digitais
Tratar sobre organizao do conhecimento em ambiente digital requer diferenciar organizao
do conhecimento (OC) de organizao da informao (OI). Consideramos aqui, OC como a disciplina
que se ocupa dos elementos de sentido constantes em registros do conhecimento, como por exemplo,
os registros de marcas. Por outro lado, a OI se preocupa com a descrio fsica e temtica de um item
apenas, e no do contedo semntico constante no documento e de suas relaes conceituais
(Exemplo: a descrio fsica de um registro de marca seria descrever o solicitante, a data de
solicitao, data de registro, etc. de um registro de marca especfico). E a descrio temtica, apesar de
ser muito referenciada como representao do conhecimento, geralmente realizada utilizando
instrumentos de classificao que terminam se limitando tambm a uma representao pontual, no
considerando que a unidade do conhecimento o conceito e a sua representao requer considerar no
apenas a anlise do assunto de um item especfico, mas as possibilidades de relaes existentes entre
os conceitos contidos nele.
Tais afirmaes podem ser corroboradas com as informaes apresentadas por Brscher e
Caf (2008) que dizem que o produto desse processo descritivo a representao da informao ou do
conhecimento (RI ou RC). A RI entendida como um conjunto de elementos descritivos que
representam os atributos de um objeto informacional especfico (BRSCHER; CAF, 2008, p. 5).
Afirmam tambm que no contexto da OI e da RI, temos como objeto os registros de informao.
Estamos, portanto, no mundo dos objetos fsicos, distinto do mundo da cognio, ou das idias, cuja
unidade elementar o conceito (BRSCHER; CAF, 2008, p. 5).
Percebemos, portanto, uma sutil diferena entre a representao da informao e representao
do conhecimento, enfatizadas nessa comunicao. A primeira, referindo-se descrio fsica e
temtica dos documentos e a segunda referindo-se a uma abstrao da realidade, uma construo de
modelos de mundo. No nosso caso especfico, uma representao do domnio das marcas registradas
de carter histrico.
No ambiente digital, o compromisso em organizar/representar o conhecimento previamente
ainda mais importante, fundamentando-se na capacidade cognitiva do usurio da informao e nas
possibilidades de pesquisa que ele pode requerer no processo de busca em um sistema de informao,
a fim de disponibilizar a informao relevante para esse usurio. As ontologias, desenvolvidas na Web
Semntica, tm sido apresentadas como sistemas de organizao do conhecimento (SOCs) que,
associadas aos metadados, podem contribuir para a representao do contedo semntico dos
documentos. Sistemas de Organizao do Conhecimento (SOCs) ou Knowledge Organization System
(KOS) so objetos de interesse particular para a CI, uma vez que cumprem importante papel de
padronizao da terminologia adotada para organizao e recuperao de informaes, ao delimitar o
uso de termos e definir conceitos e relaes de alguma rea do conhecimento, de forma compartilhada
e consensual.
Problemas relacionados recuperao da informao relevante podem estar ligados
incapacidade de os sistemas processarem o contedo semntico dos documentos. Diante disso,
procuramos trazer reflexes a respeito das contribuies que podem ser dadas pela web semntica para
tentar solucionar o caos informacional na Rede, oferecendo ferramentas que viabilizem uma melhor
representao de contedos em ambiente digital. Web Semntica, no uma web separada, mas uma
extenso da atual. Berners-Lee, Hendler e Lassila (2001) dizem que a Web Semntica trar significado
e estrutura s pginas web, criando um ambiente em que agentes de software possam percorrer de
pgina em pgina para executar tarefas sofisticadas para os usurios, extraindo o contedo semntico
dos documentos contidos nas pginas da Internet.
Os metadados tm sido considerados como elementos essenciais para a melhoria do processo
de recuperao de informaes na web. So utilizados para descrio, descoberta, localizao e
avaliao de recursos na Rede, onde o conceito de recurso est relacionado a um objeto da web,
identificado por uma Uniform Resource Locator (URL). Gilliland-Swetland (1997), apresenta os tipos
de metadados quanto a sua funo em: Administrativo, Descritivo, Preservao, Tcnico e de Uso.
Inicialmente, identificamos o metadados descritivo como o mais adequado para o estudo atual, tendo
em vista estar relacionado elaborao de proposta de representao da informao para fins de
recuperao.
Dentre os formatos para captura de metadados, segundo Breitman (2005), o que teve maior
impacto para a Web semntica foi o Dublin Core2
Ttulo
. Conforme Borba (2009, p. 59), O Dublin Core
um padro de metadados mantido pela Dublin Core Metadata Initiative e suas especificaes so
autorizadas pelos padres ISO 15836-2003 e NISO Z39.85- 2001, que autorizam a descrio
documental com qualidade. Este padro apresenta os seguintes elementos de descrio:
um ttulo dado ao recurso
Criador uma entidade principal responsvel pela elaborao do contedo do recurso
Assunto assunto referente ao contedo do recurso
Descrio uma descrio sobre o contedo do recurso
Editor a instituio responsvel pela difuso do recurso
Contribuinte uma entidade responsvel pela contribuio ao contedo do recurso
Data data associada com um evento no ciclo de vida do recurso
Tipo a natureza ou gnero do contedo do recurso
Formato manifestao fsica ou digital do recurso
Identificao identificao no ambgua do recurso dentro de um dado contexto
Fonte uma referncia para um outro recurso o qual o presente recurso derivado
Idioma idioma do contedo intelectual do recurso
Relao uma referncia a um outro recurso que se relaciona com o recurso
Cobertura a extenso ou cobertura espao-temporal do contedo do recurso
Direitos Informaes sobre os direitos do recurso e seu uso
Quadro 1 - Elementos de descrio do Dublin Core
Fonte: Borba (2009).
2 http://www.dublincore.org/
Breitman (2005) salienta que o Dublin Core tem seu ponto forte relacionado sua
simplicidade, o que permite a utilizao em larga escala. Alm disso, permite a utilizao de campos
extensveis, permitindo adaptao s necessidades adicionais de descrio. Contudo, por outro lado,
tem como fator que o enfraquece que o fato de no acomodar uma semntica mais expressiva. A fim
de minimizar dificuldades como as do Dublin Core em no descrever semanticamente os recursos na
Rede, a Web Semntica tem apresentado as ontologias como uma ferramenta que tem como objetivo
atenuar o caos de informaes da Internet, no no sentido de acabar com a diversidade de conceitos no
ciberespao, mas no de precisar a recuperao do contedo, diminuindo a redundncia e a
ambiguidade de conceitos para grupos de pesquisa com propsitos em comum.
Uma das definies mais conhecidas de ontologias na literatura de Web Semntica a
apresentada por Gruber (1993) ontologia uma especificao formal e explcita de uma
conceitualizao compartilhada. Breitman (2005) acrescenta que conceitualizao representa um
modelo abstrato de algum fenmeno que identifica os conceitos relevantes para o mesmo. Explcita
significa que os elementos e suas restries esto claramente definidos; formal significa que a
ontologia deve ser passvel de processamento automtico, e compartilhada reflete a noo de que uma
ontologia captura conhecimento consensual, aceito por um grupo de pessoas.
Quanto aos benefcios diretos para o acervo digital da JUCEPE, com os recursos dessa web
inteligente, os documentos podero ser indexados de forma mais precisa, conforme uso de metadados
e ontologias e, consequentemente, recuperados pela comunidade de usurios que ainda desconhece o
potencial de tal acervo, ou seja, poder viabilizar a permanncia continuada e compartilhamento de
informaes para uso imediato e das geraes futuras.
O acervo de registro de marcas da JUCEPE constitudo por documentos que contm texto e
imagem, portanto, no poderemos desconsiderar a necessidade de representar as imagens para fins de
recuperao. As tcnicas para descrio da informao imagtica apresentam lacunas e este problema
da indexao de imagens reflete significativamente na sua recuperao (SMIT, 1996). A dificuldade
de indexar os contedos desta tipologia documental deve-se grande quantidade de informaes que
elas podem conter, e ao alto nvel de abstrao e de subjetividade de seus componentes. Conforme
Smit (1996, p. 30), existem trs nveis de anlise de imagem, considerados pela Anlise Documentria
da imagem: pr-iconogrfico, iconogrfico e iconolgico.
Nvel pr-iconogrfico: nele so descritos, genericamente, os objetos e
aes representados pela imagem;
Nvel iconogrfico: estabelece o assunto secundrio ou convencional
ilustrado pela imagem. Trata-se, em suma, da determinao do significado
mtico, abstrato ou simblico da imagem, sintetizado a partir de seus
elementos componentes, detectados pela anlise pr-iconogrfica;
Nvel iconolgico: prope uma interpretao do significado intrnseco do
contedo da imagem. A anlise iconolgica constri-se a partir das
anteriores, mas recebe fortes influncias do conhecimento do analista sobre o
ambiente cultural, artstico e social no qual a imagem foi gerada (SMIT,
1996, p. 30).
Verificamos, portanto, que a rea de Anlise Documentria da Imagem considera
relevante a interpretao do contedo visual. Com relao s marcas registradas da JUCEPE, podemos
iniciar afirmando que transpem caractersticas grficas de traos e letras. E, tambm, os elementos
descritivos que se referirem ao texto apenas, no sero suficientes para descrever a informao
imagtica contida para fins de recuperao em ambiente digital. Observamos tambm que, como
representar a imagem uma atividade subjetiva e reflexiva, exige ento conhecimentos scio-polticos
culturais da poca em que foram produzidas.
Em ambiente digital o problema da recuperao da informao imagtica ocorre de
forma mais agravante, pois a documentao de imagens exige tcnicas que, na maioria das vezes, so
desconhecidas pelos informatas. O resultado da busca por uma imagem especfica se d de forma
sinttica, geralmente relacionada ao texto que acompanha a imagem, e no ao contedo visual
especificamente (o contedo semntico), tornando-as virtualmente irrecuperveis por no existir uma
descrio associada a elas (LIMA-MARQUES; MANINI; MIRANDA, 2007, p. 3).
O processo de transferncia da informao imagtica para a informao
verbal negligenciado; consequentemente, a indexao da imagem , muitas
vezes, realizada levando em conta somente a legenda da fotografia, que, de
acordo com as metodologias de documentao de imagem, apenas uma
pequena parte da informao que pode estar associada imagem (LIMA-
MARQUES; MANINI; MIRANDA, 2007, p. 3).
Apesar de ainda no existir um modelo de indexao que represente de modo preciso a
informao presente numa imagem em sistemas de informao, existem tcnicas que recuperam as
informaes mais relevantes. A literatura da rea apresenta atualmente duas tcnicas de indexao: a
indexao baseada no contedo da imagem e a indexao baseada no conceito. A descrio de
imagens, com palavras, feita por seres humanos, denomina-se em geral indexao baseada em
conceitos, e a indexao de imagens por seus atributos intrnsecos baseada em contedos. A
tcnica baseada em conceitos aquela na qual os termos so atribudos pelo indexador, seja em
linguagem natural ou baseado em linguagem controlada (Rasmussen (1997) apud Lancaster (2004, p.
214).
Durante muito tempo, a indexao automtica de imagens em ambientes digitais considerou,
basicamente, apenas os atributos primrios como a cor, a textura e a forma, devido incapacidade
tecnolgica dos computadores em desempenhar a anlise descritiva e interpretativa de imagens. De
uns anos pra c, algumas pesquisas de indexao por contedo esto tentando incorporar informaes
textuais e semnticas aos atributos visuais da imagem, significando um promissor incio da integrao
entre as duas tcnicas de indexao. De acordo com Lima-Marques; Manini e Miranda (2007), em se
tratando de descrio e recuperao de informao imagtica no contexto de sistemas de informao,
dispe-se de trs alternativas: com base em texto, atributo e ontologias. Os autores tambm
acrescentam que as duas primeiras tcnicas apresentam uma certa inabilidade em analisar as
fotografias sob o ponto de vista semntico (aes, sentimentos, emoes, significados das imagens).
Lima-Marques, Manini e Miranda (2007) dizem que o contedo informacional, ou seja, o que
a imagem mostra, denominado de contedo semntico. Porm, acrescentamos que importante
considerar que a semntica (significado) da imagem nem sempre perceptvel, ela muitas vezes est
subentendida. Empreendimentos para solucionar esse problema tm se utilizado das ontologias para
melhorar a recuperao, tal como Hollink et al. (200-), Muda (2008), Schreiber (2001). A descrio de
imagens usando ontologia consiste basicamente em associar conceitos e instncia imagem. Logo, a
descrio de imagens fica bem mais rica, pois ela herda no apenas um termo, mas o termo
acompanhado de sua descrio atravs das propriedades que o descreve (SCHREIBER, 2011).
O indexador inicia o processo de descrio a partir da seleo de uma
categoria de alto nvel e segue expandindo a hierarquia de conceitos at
encontrar um conceito que melhor descreva a imagem; se no encontr-lo, o
indexador pode criar uma instncia do conceito (MIRANDA, 2007, p. 25).
A mesma rvore de categorias usada pelo indexador pode ser utilizada pelo usurio no
momento da pesquisa, ou seja, o usurio pode elaborar sua expresso de busca dentro do que est
sendo fornecido pela hierarquia de conceitos, as quais resolvem o problema da ambiguidade de
termos, problema muito frequente em recuperao da informao. Consideramos, portanto, para os
registros de marcas da JUCEPE, uma representao da informao utilizando metadados e a
representao do conhecimento, utilizando-se de ontologias para representar o contedo textual e
imagtico dos documentos. Para isso, preciso a realizao de um trabalho interdisciplinar,
envolvendo profissionais de reas como Histria, Design, Comunicao e Cincia da Informao,
dentre outros.
3 Desenvolvimento Metodolgico da Pesquisa
Para a construo do referencial terico conceitual efetuamos busca exaustiva no Portal de
Peridicos da Capes e Google Acadmico, com os seguintes termos: web semntica/semantic web,
organizao/representao do conhecimento/knowledge organization/representation on the semantic
web; historical trademark user, image representation, ontologies and image, metadata and image.
Alm disso, recorrermos a fontes impressas (primrias e secundrias), tais como: trabalhos acadmicos
como os de Lima (1998), Agra Jnior (2011), dentre outros, sobre marcas histricas.
No intuito de refletir sobre o acervo de marcas registradas da JUCEPE como fonte de
informao histrica, realizamos uma anlise documental e a caracterizao dos usurios de
informaes contidas nos registros de marcas. A seguir tais etapas sero detalhadas:
a) anlise documental. Considerou toda a estruturao das informaes contidas nos
documentos, identificando elementos representativos de serem descritos de forma fsica e conceitual,
seguindo os seguintes critrios: (1) foram priorizados os arquivos que continham imagens coladas; (2)
e aqueles que foram identificados como de relevncia histrica para o Estado de Pernambuco em
projeto j mencionado e executado no ano de 2005 (sendo figurativos ou nominativos).
Em seguida, no intuito de delimitar os registros de marcas analisados, optamos por escolh-los
a cada dez registros, seguindo a ordem em que foram armazenados nos DVDs. As pastas com as
imagens digitalizadas de marcas registradas nacionais esto numeradas conforme o exemplo: SG-RC-
4V1 - SG Secretaria Geral; RG Registro de Comrcio; 4 Marcas e Patentes Nacionais; V1
volume 1. Quanto disposio das informaes no documento, os registros referentes ao sculo XIX,
so constitudos por uma a quatro pginas (a depender do ano) com o nmero do registro na parte
superior do documento, a imagem (quando tem), o texto corrido contendo o nome da marca com
seu(s) respectivo(s) proprietrio(s), o endereo da indstria ou comrcio, a finalidade da marca, a
assinatura/despacho do secretrio da Junta Commercial. No primeiro volume, os registros contm
apenas uma pgina, os posteriores contm mais pginas. Alm disso, observamos que alguns
documentos so subdivididos em petio (primeira pgina); despacho do Secretrio da Junta
autorizando ou no o registro, mas sem indicar o nmero ainda (segunda pgina); marca (figurativa ou
nominativa) + descrio e aplicao da marca (terceira pgina); despacho final do Secretrio com o
nmero de registro e, em vrios casos, informaes adicionais, tais como: baixa em registros,
transferncia de responsveis pela indstria ou comrcio, mudana de razo social, etc.
Salientamos que na primeira pgina que so apresentados os endereos dos estabelecimentos
(proprietrios das marcas), bem como os nomes antigos das ruas (Exemplo: Registro da marca da
Fbrica Oitenta e Nove, localizada Rua 89, antiga Imperial). Essa informao, s vezes, aparece no
rtulo ou na parte chamada aplicao, entretanto, no frequente, sendo mais certo constar na petio
(requerimento do proprietrio) apresentada Junta. Este apenas um exemplo que nos faz defender a
disponibilizao do documento completo em um sistema de informao.
Os registros de marcas, portanto, permitem tambm resgatar a memria da cidade do Recife
neste aspecto. Vale salientar que a mudana de um nome de rua envolve questes polticas, sociais,
etc., retratando no apenas o simples fato da mudana da rua, mas o est por trs para disso. Agra
Jnior (2011), por exemplo, identificou que as empresas grficas se concentravam no bairro de Santo
Antnio, contudo, para identificar geograficamente as empresas, ele precisou pesquisar em diversas
fontes.
Entretanto, no apenas esse elemento possvel de ser identificado. Diante da diversidade,
tivemos que eleger um representativo, mas possvel verificar legislaes referentes autorizao de
empresas estrangeiras no Estado, agravos de petio que acompanham as marcas quando identificadas
situaes de plgio de marcas, quantidade de vezes em que um registro e renovado, dentre outros.
Ademais, detalhes a respeito de marcas conhecidas regionalmente foram identificadas, porm, seria
impossvel elencar todas na presente comunicao.
b) Caracterizao dos usurios das informaes contidas nos registros de marcas - Foram
identificadas fontes na rea de Design, Histria, Comunicao, entretanto, abordaremos
especificamente os que se referem aos registros de marcas da JUCEPE.
Foi possvel perceber que Lima (1998) e Agra Jnior (2011) tratam dos rtulos de cigarros,
no o documento completo de marca registrada. Enfocam questes a respeito de elementos grficos,
alguns elementos de significado das figuras (emblemas) e tcnica de impresso utilizada para produzir
os rtulos, especificamente a litografia. Para ambos os usurios, percebemos ser interessante
recuperar, em um possvel sistema de informao, a descrio da tcnica de impresso utilizada.
Ambos consideram as marcas de indstria e comrcio constantes na JUCEPE como elementos
essencias para o estudo da histria do Design e a preservao da memria, no s da Junta como
instituio pblica, mas das indstrias e comrcio instalados em Pernambuco no final do sculo XIX e
incio do sculo XX.
Alm dos autores supracitados, identificamos tambm Abad e Niemeyer (2009), que analisam
os registros de marcas da JUCEPE como ricas fontes de informao histricas, trazendo exemplos de
rtulos que representam a maonaria e o incio da Repblica no Brasil. Esses e outros exemplos
trazem elementos figurativos representando homenagens a polticos, literrios, artistas, dentre outros,
o que nos leva a concluir que eram muito mais do que elementos grficos, demonstrando tcnicas de
impresso do momento, mas tambm, so objetos de sentido que agregam valor s informaes
dispostas e incitam a necessidade de interpretaes relacionadas ao perodo scio-poltico-cultural do
pas. Estas caractersticas nos incitam a afirmar que uma representao de tal acervo no pode se
limitar a descrever o contedo textual do documento, mas tambm, precisa considerar o contedo
semntico inerente imagem. Pelo fato de as imagens estarem coladas no documento que contm
texto poderamos descartar a representao imagtica, entretanto, neste caso, o texto por si s no
basta para informar ao usurio os significados intrnsecos s imagens.
4 Consideraes Finais
Os estoques de memria, similares ao acervo de registro de marcas da JUCEPE, apresentam
caractersticas prprias e valor inerente, os quais servem de fonte de informao histrica. Pensar uma
forma de categorizao/ordenao deste acervo para um possvel uso em ambiente digital merece
planejamento adequado, vislumbrando a possibilidade dele constituir subsdio terico para novas
pesquisas e na inovao que ele pode proporcionar. Alm disso, esta estruturao informacional
merece estar associada s necessidades potenciais dos usurios e a tecnologias que combatam a falta
de preciso no processo de busca e recuperao da informao.
Newton (2010), afirma que, atualmente, as bases de dados de marca incluem apenas os
registros mais recentes ou as marcas ainda ativas, todavia, ele diz que isso uma perda para o estudo
da histria dos negcios, concluindo que o que seria interessante para fazer a pesquisa histrica nesta
rea mais prtica, e para abrir novas reas de estudo, um banco de dados de todas as marcas que j
foram registradas em cada pas, o que nos faz salientar mais ainda a importncia em refletir sobre
formas de disponibilizar as marcas histricas da JUCEPE.
Neste sentido, os propsitos da Web Semntica podero contribuir atribuindo sentido ao
acervo de marcas histricas da JUCEPE, permitindo, alm de inferncias automticas, uma melhor
recuperao das informaes, visto que um de seus propsitos utilizar-se de ferramentas que
indexam de forma mais eficiente os contedos semnticos dos documentos em ambiente digital,
viabilizando maior seletividade no momento da busca.
5 Referncias ABAD, Gisela; NIEMEYER, Lucy. Maons e positivistas em marcas pernambucanas. In: GONGRESSO INTERNACIONAL DE PESQUISA EM DESIGN, 5., 2009, Bauru, SP. Anais... Bauru, SP: [s.n], 2009. AGRA JNIOR, Jarbas. Memria grfica pernambucana: indstria e comrcio atravs dos impressos litogrficos comerciais recifenses [1930-1965]. Dissertao (Mestrado) Programa de Ps-graduao em Design, Universidade Federal de Pernambuco, 2011. Recife: UFPE, 2011. BERNERS-LEE, Tim; HENDLER, James; LASSILA, Ora. The Semantic Web: a new form of web content that is meaningful to computers will unleash a revolution of new possibilities. Scientific American, maio 2001. BORBA, Vildeane da Rocha. Modelo orientador para construo de estratgias de preservao digital: estudo de caso do Banco de Teses e Dissertaes da UFPE. 2009. Dissertao (Mestrado em Cincia da Informao) Programa de Ps-Graduao em Cincia da Informao, Universidade Federal da Paraba, Joo Pessoa, 2009. BRSCHER, Marisa; CAF, Lgia. Organizao da informao ou organizao do conhecimento? In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CINCIA DA INFORMAO, 9., 2008, So Paulo. Anais... So Paulo: USP, 2008. Disponvel em: . Acesso em: dez. 2010.
BREITMAN, Karin Koogan. Web semntica: a internet do futuro. Rio de Janeiro: LTC, 2005. 190p. GILLILAND-SWETLAND, Anne J. Introduction to metadata: setting the stage. 2000. Disponvel em: . Acesso em: jan. 2011. GRUBER, T. R. Toward principles for the design of ontologies used for knowledge sharing. Stanford: Knowledge Systems Laboratory. Stanford University, 1993. Disponvel em: . Acesso em: set. 2010. HOLLINK, Laura et al. Semantic annotation of image collections. Disponvel em: . Acesso em: fev. 2011. LANCASTER, F. W. Bases de dados de imagens e sons. In: ______. Indexao e resumos: teoria e prtica. 2. ed. rev. atual. Braslia, DF: Briquet de Lemos, 2004. Cap. 13. p. 214-248. LIMA, Edna Lucia Oliveira da Cunha. Cinco dcadas de litografia comercial no Recife: por uma histria das marcas de cigarros registradas em Pernambuco, 1875-1924. Dissertao (Mestrado) - Departamento de Arte & Design, PUC-Rio, 1998. LIMA-MARQUES, Mamede; MANINI, Miriam Paula; MIRANDA, Alex Santos Sandro. Ontologias: indexao e recuperao de fotografias baseadas na tcnica fotogrfica e no contedo da imagem. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CINCIA DA INFORMAO, 8., 2007, Salvador. Anais... Salvador, BA: UFBA, 2007. Disponvel em: . Acesso em: jun. 2009. MIRANDA, Alex Sandro Santos de. Ontologias: indexao e recuperao de fotografias baseadas na tcnica fotogrfica e no contedo da imagem. 2007. 132 f. Dissertao (Mestrado em Cincia da Informao) Faculdade de Economia, Administrao, Contabilidade e Cincia da Informao e Documentao, Universidade de Braslia, Braslia, DF, 2007. Disponvel em: . Acesso em: 02 ago. 2009. MUDA, Zurina. Ontological Description of Image Content Using Regions Relationships. In: ESWC Ph.D. SYMPOSIUM, 2008, Tenerife, Espanha. Anais [S. l.]: MIT, 2008. NEWTON, David. Historical trademarks: a resource for business research. World Patent Information, v. 32, p. 275-276, 2010. SMIT, Johanna W. A representao da imagem. Informare, Rio de Janeiro, v. 2, n. 2, p. 28-36, jul./dez. 1996.
Ana Cludia Gouveia ArajoMestranda em Cincia da Informao, UFPE e-mail: [email protected] Mascarenhas e SilvaDoutor em Cincia da Informao, USP e-mail: [email protected]