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28 2. O percurso metodológico: O caminho é percorrido ao caminhar Tentar encontrar o desenho certo na tapeçaria de seus próprios escritos pode ser tão desanimador como tentar encontrá-lo na própria vida: tentar tecê-lo post facto “Isto é exatamente o que eu pretendia dizer” – é uma verdadeira tentação. (Geertz, 1989 5 ) O percurso metodológico foi reconstruído a partir das contribuições das bancas nos Exames de Qualificação I e II na PUC-Rio. O primeiro projeto foi construído na perspectiva das histórias de vida e contemplaria professores em fase de pré-aposentadoria das redes estadual e privada 6 . A proposição da banca foi focar nos professores da rede estadual de ensino da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC-RJ), onde também estou lotada, e seguir em outra linha de investigação. Acatei as sugestões da banca, e decidi desenvolver a pesquisa a partir da seguinte questão: a permanência no magistério desde o ingresso na profissão até a aposentadoria, que será, então, o fio condutor de todo este trabalho. Com o objetivo de delimitar a fase em que se encontram os sujeitos da pesquisa recorri aos Ciclos de Vida Profissional dos Professores (HUBERMAN, 1992), que define esse ciclo final da carreira como um período de Desinvestimento. No entanto, as análises evidenciaram que, pelo fato dos professores possuírem tempos de magistério distintos, ingressarem no magistério em diferentes momentos da vida, alguns já aposentados de outras profissões, vivenciam, nesta fase da carreira docente, um estágio do ciclo da vida profissional díspar. Definidos o Campo de estudo Professores em fase de pré- Aposentadoria da Rede Estadual de Ensino do Rio de Janeiro , os Sujeitos da pesquisa Professores Licenciados (Professor especialista em uma disciplina) , e o Instrumento de coleta dos dados as Entrevistas , iniciei a caminhada. Uma 5 Trecho retirado do prefácio do livro: GEERTZ, Clifford. A interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: GEN, LTC, 1989. 6 Inicialmente, pensei em continuar investigando os professores da rede privada de ensino, lócus de investigação do GEPPE Grupo de Estudos e Pesquisas sobre o Professor e o Ensino, coordenado pela Professora Isabel Lelis, do qual faço parte , onde realizei minha pesquisa de mestrado.

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2. O percurso metodológico: O caminho é percorrido ao caminhar

Tentar encontrar o desenho certo na tapeçaria de seus próprios escritos pode ser tão desanimador como tentar encontrá-lo na própria vida: tentar tecê-lo post facto – “Isto é exatamente o que eu pretendia dizer” – é uma verdadeira tentação.

(Geertz, 19895)

O percurso metodológico foi reconstruído a partir das contribuições das

bancas nos Exames de Qualificação I e II na PUC-Rio. O primeiro projeto foi

construído na perspectiva das histórias de vida e contemplaria professores em fase

de pré-aposentadoria das redes estadual e privada6. A proposição da banca foi

focar nos professores da rede estadual de ensino da Secretaria de Estado de

Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC-RJ), onde também estou lotada, e seguir

em outra linha de investigação. Acatei as sugestões da banca, e decidi desenvolver

a pesquisa a partir da seguinte questão: a permanência no magistério desde o

ingresso na profissão até a aposentadoria, que será, então, o fio condutor de todo

este trabalho.

Com o objetivo de delimitar a fase em que se encontram os sujeitos da

pesquisa recorri aos Ciclos de Vida Profissional dos Professores (HUBERMAN,

1992), que define esse ciclo final da carreira como um período de

Desinvestimento. No entanto, as análises evidenciaram que, pelo fato dos

professores possuírem tempos de magistério distintos, ingressarem no magistério

em diferentes momentos da vida, alguns já aposentados de outras profissões,

vivenciam, nesta fase da carreira docente, um estágio do ciclo da vida profissional

díspar.

Definidos o Campo de estudo – Professores em fase de pré-

Aposentadoria da Rede Estadual de Ensino do Rio de Janeiro –, os Sujeitos da

pesquisa – Professores Licenciados (Professor especialista em uma disciplina) –,

e o Instrumento de coleta dos dados – as Entrevistas –, iniciei a caminhada. Uma

5 Trecho retirado do prefácio do livro: GEERTZ, Clifford. A interpretação das Culturas. Rio de

Janeiro: GEN, LTC, 1989. 6 Inicialmente, pensei em continuar investigando os professores da rede privada de ensino, lócus

de investigação do GEPPE – Grupo de Estudos e Pesquisas sobre o Professor e o Ensino,

coordenado pela Professora Isabel Lelis, do qual faço parte –, onde realizei minha pesquisa de

mestrado.

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caminhada permeada não só de flores, mas com alguns entraves no caminho, mas

nada que comprometesse os trâmites desta investigação.

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, cujas entrevistas semi-estruturadas

foram realizadas com o intuito de mergulhar em profundidade nas trajetórias dos

sujeitos investigados e nos sentidos imprimidos ao exercício da profissão. Foram

entrevistados dezesseis professores, nove homens e sete mulheres, na faixa etária

de 50 a 69 anos de idade.

2.1. A entrada no Campo: início da caminhada

A força da entrada no Campo é uma se alguém anda por ela, outra se a sobrevoa de aeroplano. Assim é também a força de um texto, uma se alguém o lê, outra se o transcreve. Quem voa vê apenas como a estrada se insinua através da paisagem, e, para ele, ela se desenrola segundo as mesmas leis que o terreno em torno. Somente quem anda pela estrada experimenta algo de seu domínio. [...].

(Benjamin, 1987: 16)

Inicialmente, apresentarei um breve recorte da estrutura da Rede Estadual

de Ensino. Este órgão se organiza em três instâncias: a sede – Secretaria de

Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC-RJ), responsável pela

elaboração de políticas públicas, pela instituição de portarias e decretos (atos

administrativos), e a administração de toda a rede de ensino do estado; quatorze

Diretorias Regionais (DR) – sete na região metropolitana e sete em municípios do

interior do estado, e, ainda, a Diretoria Especial de Unidades Escolares Prisionais

e Socioeducativas (DIESP), cuja função é coordenar a implantação das políticas

públicas nas unidades escolares de sua área de abrangência; e, por fim, as

Unidades Escolares, que no final de 20137 totalizaram 1.305 (um mil trezentos e

cinco) colégios estaduais, responsáveis por colocar em prática a política

educacional através de seu corpo docente.

O início da pesquisa de campo se deu com a entrada nos colégios públicos

que integram a Rede Estadual de Ensino do Rio de Janeiro, localizados em bairros

7GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Relatório de Governança: Transparência na

Educação – 4ª Série. Rio de Janeiro: SEEDUC, 2015. Disponível em: <http://www.rj.gov.br>.

Acesso em: 10 jan. 2015.

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atendidos pela Diretoria Regional Metropolitana VI8, nas Zonas Sul, Oeste e

próximos ao Centro da cidade9, cujos sujeitos, protagonistas da pesquisa, são os

professores que lecionam para os alunos do ensino médio regular (1ª a 3ª séries) e

estão em fase de pré-aposentadoria. Professores, portanto, que deram entrada em

processos de aposentadoria na Secretaria de Estado de Educação do Rio de

Janeiro no ano 2015, e aguardam em sala de aula o deferimento de suas

solicitações. A maioria dos professores terá direito, inicialmente, à Licença-

Prêmio10

e após a vigência da mesma gozará os benefícios da aposentadoria.

A centralidade somente nesta Diretoria Regional se deve, sobretudo, a

extensão em termos de bairros que são atendidos por ela no Rio de Janeiro e pelo

fato de trabalhar vinculada a mesma. É considerada uma das metropolitanas de

maior abrangência pelo número de escolas públicas11

e privadas, de recursos

humanos e, também, de alunos matriculados. No total, segundo dados do

Relatório de Governança da SEEDUC-RJ, no ano de 201412

, havia 52.674

(cinquenta e dois mil, seiscentos e setenta e quatro) alunos matriculados nas 84

(oitenta e quatro) escolas públicas atendidas pela Regional (SEEDUC, 2015).

De acordo com os dados do Instituto Pereira Passos13

, órgão da Prefeitura

da cidade do Rio de Janeiro, e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística14

(IBGE), as informações referentes aos bairros onde os colégios estaduais estão

8 Inclui os bairros: Aeroporto, Alto da Boa Vista, Andaraí, Anil, Barra da Tijuca, Benfica, Botafogo, Caju, Camorim, Catete, Catumbi, Castelo, Centro, Cidade de Deus, Cidade Nova,

Copacabana, Cosme Velho, Curicica, Engenho Novo, Estácio de Sá, Fátima, Flamengo, Freguesia,

Gamboa, Gardênia Azul, Gávea, Glória, Grajaú, Grumari, Humaitá, Ilha de Paquetá, Ipanema,

Itanhanga, Jacaré, Jardim Botânico, Joá, Lagoa, Lapa, Laranjeiras, Leblon, Leme, Mangueira,

Manguinhos, Maracanã, Pechincha, Praça da Bandeira, Praça Mauá, Praça Seca, Recreio dos

Bandeirantes, Rio Comprido, Rocha, Rocinha, Sampaio, Santa Teresa, Santo Cristo, São Conrado,

São Cristóvão, São Francisco Xavier, Saúde, Tanque, Taquara, Tijuca, Triagem, Urca, Vargem

Grande, Vargem Pequena, Vasco da Gama, Vidigal, Vila Isabel. 9 Com o intuito de preservar a identidade dos sujeitos não especificarei o bairro onde está

localizado o colégio estadual, mas a região onde se situa. 10 O Estatuto dos Funcionários Públicos do Estado do Rio de Janeiro prevê em seu Artigo 129 – “Após cada quinquênio de efetivo exercício prestado ao Estado, ou a suas autarquias, ao

funcionário que a requerer, conceder-se-á licença-prêmio de três meses, com todos os direitos e

vantagens de seu cargo efetivo.” Esse benefício pode ser acumulado e retirado integralmente antes

da aposentadoria. 11 Atende 84 escolas públicas, de acordo com os dados do Relatório de Governança do Governo do

Estado do Rio de Janeiro (2015). 12

De acordo com o Relatório de Governança acima citado, em Nota de Rodapé (Nota: 3). 13 Disponível em: <http://portalgeo.rio.rj.gov/bairroscariocas/index_bairro.htm>. Acesso em: 10

set. 2015. 14 Disponível em: < http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?codmun=330285>. Acesso em: 10

set. 2015.

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localizados e onde os professores entrevistados lecionam apresentam as seguintes

características:

A região da Zona Sul, nos arredores dos bairros da Gávea, Jardim

Botânico e Leblon, é considerada uma área nobre, de classe média alta e alta, com

um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) muito alto entre 0,957 a 0,970. No

ano de 2010, neste perímetro urbano, o número total de habilitantes era de 76.755

(setenta e seis mil, setecentos e cinquenta e cinco) moradores, destes 3.679 (três

mil, seiscentos e setenta e nove) eram jovens na faixa etária de 15 a 19 anos.

Existiam na região, no ano de 2012, quatorze (14) escolas e uma (1) creche da

rede pública, sendo que cinco (5) colégios15

são da rede estadual de ensino.

Para efeito deste trabalho, a Zona Oeste será subdividida em duas regiões,

Jacarepaguá e Barra da Tijuca. A região de Jacarepaguá é composta por inúmeros

bairros, os colégios estaduais ficam próximos aos bairros da Praça Seca, Curicica

e Taquara, cujo IDH é considerado alto, fica em torno de 0,828 a 0,845. No ano

de 2010, nos bairros citados o contingente populacional era de 197.462 (cento e

noventa e sete mil, quatrocentos e sessenta e dois) habilitantes e destes 14.916

(quatorze mil, novecentos e dezesseis) eram jovens na faixa etária de 15 a 19

anos. Existiam na região, no ano de 2012, trinta e uma (31) escolas e seis (6)

creches da rede pública, sendo que quinze (15) colégios são da rede estadual de

ensino.

O bairro da Barra da Tijuca tem um IDH muito alto 0,959. O quantitativo

populacional era, no ano de 2010, de 135.924 (centro e trinta e cinco mil,

novecentos e vinte e quatro) habitantes, do número total de habitantes 7.164 (sete

mil, cento e sessenta e quatro) são jovens na faixa etária de 15 a 19 anos. Na

região existem 15 (quinze) escolas públicas e uma (1) creche, desse quantitativo,

cinco (5) colégios são estaduais.

Em relação ao âmbito do Centro da cidade, nas imediações dos bairros Rio

Comprido, Tijuca e Praça da Bandeira, o IDH varia de 0,849 a 0,926, também

considerado alto. A população total nesta região, no ano de 2010, era de 213.517

(duzentos e treze mil, quinhentos e dezessete) moradores, com 13.033 (treze mil e

trinta e três) jovens na faixa etária de 15 a 19 anos. No ano de 2012 existiam na

15 Os dados sobre o número de colégios estaduais são oriundos da Coordenação de Inspeção

Escolar da DRM VI, no ano de 2015.

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região vinte e três (23) escolas e doze (12) creches da rede pública. Com relação

aos colégios da rede estadual são em número de dez (10).

Segundo dados do Atlas Brasil16

, no ano de 2010, o IDH do município do

Rio de Janeiro que leva em consideração aspectos como, longevidade, educação e

renda era considerado alto pelo Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD), cujo valor era 0,799. Torna-se necessário destacar

que, por ser uma cidade com fortes contrastes econômicos e socioculturais, e vasta

extensão territorial, é cercada por comunidades (zonas favelizadas) em toda a sua

extensão urbana, seja sobre os morros devido ao tipo de relevo da região, seja no

asfalto. Em comunidades da zona oeste situam-se dois colégios estaduais, cujos

professores são sujeitos da pesquisa.

Com relação aos colégios estaduais, todos apresentam boa estrutura física e

organizacional, têm boas condições de limpeza, com o mobiliário em condições

de uso, salas refrigeradas, enfim, com infraestrutura adequada ao funcionamento.

Na zona sul, um dos colégios tem 62 anos de existência, é uma instituição

de grande porte, tradicional no bairro, na década de 60 foi considerada uma escola

de vanguarda pelo trabalho realizado por professores e gestores.

Na zona oeste, um dos colégios, também de grande porte, fundado em

1962, é uma referência no bairro pela qualidade do ensino. Esse colégio no final

da década de 60 oferecia gratuitamente o curso de pré-vestibular para os alunos de

baixa renda da região, uma iniciativa de vanguarda no período. Destaco, ainda,

que os professores que lá lecionam enfatizaram o trabalho de parceria da equipe, a

construção coletiva do Projeto Político Pedagógico, evidenciando a importância

da relação entre pares.

Entretanto, a importância da relação entre pares, da parceria dos colegas de

trabalho, foi um aspecto silenciado pelos docentes. Embora seja destacada a

importância do trabalho em equipe por inúmeros autores (HARGREAVES, 1998;

NÓVOA, 1999; CARIA, 2000; MARCELO, 2009, VAN ZANTEN, 2009) para a

eficácia e desenvolvimento profissional, este aspecto esteve ausente da fala dos

professores.

16 Disponível em: <http://www.atlasbrasil.org.br>. Acesso em: 10 set. 2015.

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Outro colégio estadual localizado na zona oeste, nas imediações de

Jacarepaguá, passou recentemente por reformas, incluindo a manutenção dos

prédios, a troca de todo o mobiliário e a ampliação da biblioteca.

Uma observação se faz necessária em relação à distinção dos termos

utilizados nesta investigação Escola e Colégio. O termo Escola é utilizado em

referência às unidades escolares de toda a rede pública carioca de ensino –

estadual, municipal e federal –, e para designar as Escolas da rede municipal de

ensino, nomenclatura também usada pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro.

No caso da rede estadual de ensino a denominação, comumente, utilizada pela

SEEDUC-RJ, cujas escolas são identificadas, é Colégio – Colégio Estadual. Este

esclarecimento justifica a utilização dos termos empregados ao longo do texto.

A informação sobre o quantitativo populacional de jovens na faixa etária

de 15 a 19 anos foi relevante, em virtude do nível de atuação dos docentes. Eles

lecionam para alunos do ensino médio que se encontram nesta faixa etária.

Todos os professores relataram a inexistência de violência dentro dos

colégios estaduais, embora policiais militares permaneçam nos portões ou nos

pátios externos das unidades escolares durante o turno de aula, o que, segundo

alguns professores, gera uma sensação de segurança. A presença desse efetivo foi

determinada pela SEEDUC17

desde 2012.

2.1.1. O trabalho na Rede Estadual de Ensino: um facilitador na entrada ao campo e na aproximação com os sujeitos

Parece-me, no entanto, importante esclarecer que os modos de investigação e as técnicas de recolha e tratamento da informação decorrem, e são parte constitutiva e integrante, do processo de construção do objecto de estudo. A metodologia, entendida num

17 Desde o início do ano de 2012, na gestão do Governador Sérgio Cabral, sob a administração do

Secretário de Educação Wilson Rizolia, foi realizado um acordo entre as secretarias estaduais de

Educação e Segurança Pública do Rio de Janeiro, que deu à Polícia Militar a missão de fazer a

segurança dentro das escolas do estado, o que gerou forte polêmica envolvendo órgãos da

sociedade civil, promotores públicos, partidos políticos e o próprio SEPE (Sindicato Estadual dos

Profissionais da Educação do Rio de Janeiro). A presença de PMs nas escolas foi adotada um ano

após o massacre de Realengo, o primeiro caso em escolas no Brasil. No dia 7 de abril de 2011,

Wellington Menezes de Oliveira, 23 anos, invadiu a Escola Municipal Tasso da Silveira, onde

havia estudado na infância, e matou a tiros 12 jovens entre 12 e 14 anos, antes de ser baleado e se

suicidar. Disponível em: < http://www.rj.gov.br/web/seeduc/exibeconteudo?article-id=907706>.

Acesso em: 24 ago. 2013.

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sentido amplo e não redutível a técnicas e preceitos normativos, atravessa a globalidade do processo de investigação.

(Canário, 1996: 13418)

O trabalho na rede estadual de ensino do Rio de Janeiro, na Coordenação

Regional de Inspeção Escolar da DRM VI (CRIE-VI), se constituiu como um

elemento indispensável para facilitar a minha entrada no campo de pesquisa. A

partir do contato com o Coordenador de Gestão de Pessoas da Regional tive acesso

ao acervo dos professores que deram entrada em processos de aposentadoria e de

posse de seus dados pessoais pus-me a entrar em contato com os docentes para

propor um encontro para as entrevistas, após esclarecimento sobre o tema e os

objetivos do trabalho. Na maioria dos processos, o professor solicitava primeiro a

Licença-Prêmio para depois desfrutar da aposentadoria.

Durante três meses, quinzenalmente, verifiquei o acervo dos professores

que abriram os processos para a aposentadoria do estado. A coleta das

informações foi realizada de fevereiro a abril de 201519

. Em virtude da

necessidade de tempo hábil para realizar as entrevistas, transcrevê-las e analisá-

las, foi necessário fazer esse recorte temporal. A folha de rosto do processo

informava os dados pessoais do professor – nome, escola de origem, data de

entrada no processo, telefone(s), correio eletrônico, escola de lotação, data de

nascimento.

Alguns processos eram descartados durante a triagem inicial por não se

adequarem ao perfil docente definido pela pesquisa, em virtude dos professores

terem se ausentado um longo tempo de sala de aula para ocupar cargos de gestão,

como diretor, orientador ou coordenador pedagógico. Em outros, ainda, os

professores já haviam recebido a concessão da Licença-Prêmio e, logo em

seguida, seriam aposentados. Como parâmetros para a seleção dos sujeitos foram

estabelecidos que, o professor deveria, efetivamente, estar em atividade docente

enquanto aguardava o deferimento ao processo de aposentadoria, quer seja por

18 CANÁRIO, Rui. Os estudos sobre escola: problemas e perspectivas. In: BARROSO, João

(Org.). O Estudo da Escola. Porto: Porto, 1996. 19

Como o objetivo da investigação era trabalhar com os professores que permaneciam em sala de

aula, tendo em vista que, a grande maioria antes da aposentadoria desfruta da licença-prêmio, e

considerando, ainda, que os deferimentos dos processos de aposentadoria são realizados,

geralmente, no prazo de seis meses após a abertura dos mesmos, foi necessário que a entrada ao

campo ocorresse no início de 2015.

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tempo de serviço ou pela aposentadoria compulsória20

; e, também, permanecido

em exercício durante os anos de magistério, sem exercer funções gratificadas

(Direção, Orientação Pedagógica, Coordenação Pedagógica).

Neste período de triagem foram selecionados trinta e quatro (34)

processos, destes descartei os primeiros cinco professores que se recusaram a

participar da pesquisa no primeiro contato telefônico.

As primeiras tentativas de agendamento das entrevistas foram frustrantes,

no contato telefônico com os cinco primeiros professores selecionados não houve

boa receptividade, os mesmos se recusaram um a um a participar da investigação,

por questões diversas, embora me apresentasse como servidora estadual, também

professora, e estudante de doutorado que pesquisava os professores em processo

de aposentadoria. As negativas foram as mais variadas, “Não quero!” (a voz era

grave e impaciente, o professor desligou o telefone logo em seguida sem me dar

chance de argumentar); “Obrigada minha filha, mas cheguei ao final da carreira.

Não quero mais falar sobre educação” (uma voz doce soava ao telefone. Minha

insistência foi em vão, ela repetia o mesmo argumento); “Não tenho interesse

não!” (essa professora desligou em seguida o telefone, mas o tom de voz era

agradável e foi educada ao responder após meus argumentos); “Nesse momento

não vou poder porque estou viajando amanhã e não sei quando volto, estou de

férias e vou passar um tempo com minha filha e meus netos nos Estados Unidos.

Se não fosse a viagem ficaria feliz em falar da profissão” (a voz transpassava a

felicidade com a possibilidade de reencontrar a família distante. Não argumentei,

agradeci e desliguei); “Não tenho o menor interesse, obrigado” (a voz firme e

serena do professor encerrou a ligação).

Esses posicionamentos mudaram o rumo inicial de acesso aos docentes, a

partir de então construí uma nova estratégia entrando em contato direto com os

colégios estaduais através de seus gestores.

Minha credencial como servidora do estado foi um elemento facilitador da

entrada no campo de pesquisa. A visita ao colégio estadual no qual o professor

20

A aposentadoria compulsória é uma imposição legal que obriga o trabalhador a afastar-se do

posto de trabalho que ocupava, independente da sua condição física, mental, etc. A Constituição

Federal de 1988, em seu artigo 40, §1º, inciso II, determina que todos os funcionários públicos da

União, estados, municípios e do Distrito Federal devem obrigatoriamente se aposentar ao atingir a

idade de 70 anos.

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estava lotado foi eleita meu início de percurso investigativo. O contato com o

docente seria, então, mediado pelos gestores. Foi um alívio ouvir ao telefone da

primeira diretora de um colégio próximo ao Centro da cidade que dois professores

aguardavam a aposentadoria em sala de aula. Os demais contatos telefônicos

também foram um alento, percebi que esse era o caminho mais adequado para

iniciar o trabalho de campo.

Em alguns colégios fiz a visita pessoalmente, sem a intermediação do

contato telefônico. É importante destacar que, em todos os colégios, nos quais

nunca atuei como Professora Inspetora Escolar, fui bem recebida por gestores e

professores. A cada nova visita percebia que o novo caminho escolhido, de acesso

ao professor por intermédio do diretor, seria o mais eficaz para entrevistá-los.

Alguns dos professores que haviam sido selecionados durante os meses de

triagem e verificação dos processos no Setor de Gestão de Pessoas da DRM VI

foram descartados porque já estavam usufruindo a Licença-Prêmio. Informação

que só obtive ao chegar nos colégios estaduais. Outros, entretanto, foram surgindo

a partir das informações colhidas com os gestores. Enfim, contei com a parceria

da direção para me comunicar com os docentes que não estavam na listagem

inicial, mas também haviam dado entrada em processos de aposentadoria.

Na primeira visita ao colégio nem sempre conseguia contato direto com o

professor, alguns deles trabalhavam em dias ou horários distintos, mas de posse da

grade de horário dos docentes realizava os contatos e fazia o agendamento da

entrevista. Percebi que, às segundas-feiras e às sextas-feiras, havia maior ausência

de docentes em fase de pré-aposentadoria, a maioria trabalha de terça-feira a

quinta-feira. Passei a visitar os colégios nesses dias. Pude comprovar,

posteriormente que, o tempo de magistério e a permanência por anos no mesmo

colégio estadual os deferia a escolha das turmas e dos dias de trabalho nas

unidades escolares, um privilégio desfrutado pelos professores em final de

carreira.

O contato interpessoal com o professor, realizado pelas visitas às unidades

escolares, facilitou a marcação das entrevistas. Ao conversar com o professor e

apresentar a pesquisa, percebi na maioria deles a disposição para falar sobre o

magistério e a carreira que construíram. Apenas uma professora de um colégio na

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zona sul se recusou, alegando falta de tempo para a entrevista pela extensa carga

horária na rede pública e privada.

2.2. Os Sujeitos: o norte da caminhada

Ao longo dos últimos anos, temos dito (e repetido) que o professor é a pessoa, e que a pessoa é o professor. Que é impossível separar as dimensões pessoais e profissionais. Que ensinamos aquilo que somos e que, naquilo que somos, se encontra muito daquilo que ensinamos.

(Nóvoa, 2009b: 212)

É importante traçar o perfil de quem estamos falando, os professores

licenciados – especialistas (GATTI, 2010). Para isso, vou apresentar de forma

breve alguns elementos que os identificam – nome, idade, locais e níveis de

formação, redes/sistemas público(a) ou privado(a) em que atuam/ram, ano em

que ingressaram na rede estadual de ensino, tempo de aposentadoria em outras

redes –, dados que também estarão ilustrados na Tabela 1.

Embora os professores não tenham pedido sigilo em relação a seus nomes

e autorizaram a divulgação de suas informações ao assinarem o Termo de Livre

Consentimento, resolvi utilizar nomes fictícios a fim de preservar suas

identidades. Os nomes escolhidos, de certa forma compõem a identidade desses

professores, pois derivam de seus próprios nomes compostos ou estão associados

à sua terra natal.

As primeiras entrevistas foram realizadas com os professores dos colégios

próximos ao Centro da cidade, inicialmente, dois professores. Depois migrei para

a Zona Sul, e, por último, para a Zona Oeste. A maioria dos colégios funciona em

três turnos (manhã, tarde e noite), mas todos os professores entrevistados

lecionam somente nos turnos da manhã e/ou da tarde. Trabalham dois ou três dias

na semana na rede estadual, dependendo do fato de ter uma ou duas matrículas.

Com exceção da professora Janaína que prestou concurso para Língua

Inglesa (Inglês) no ano de 1994 com a carga horária de 40 horas, todos os demais

são Professores 16 horas (PI). A maioria possui duas matrículas no serviço

público (estado e/ou município) e aguarda o deferimento do processo de

aposentadoria no ano de 2015.

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Os professores Agostinho, Antônia, Augusto, Eduardo, Francisco,

Júnior, Lúcia, Maria e Virgínia já são aposentados de outros órgãos onde

exerceram funções no magistério ou em outros campos profissionais, como

ilustrado na Tabela 1 (p. 39-45).

Os docentes lecionam as seguintes disciplinas: Matemática – Antônia

(67)21

, Júnior (69), Manoel (60) e Virgínia (56) –, Matemática e Física – Maria

(68); História – Luiz (57), História e Sociologia – Eduardo (69) e Agostinho

(64); Química – Augusto (69); Geografia – Lúcia (69) e Helena (57); Educação

Física – Rafael (56) e Renato (57); Língua Espanhola – Carmen (50); Língua

Portuguesa – Francisco (69), Língua Portuguesa e Inglês – Janaina (54).

Em relação ao tempo de magistério são distintos, alguns professores têm

mais de 35 anos de carreira, outros 20 anos ou mais, e, ainda, temos os

professores com mais de 10 anos de exercício docente, neste grupo situam-se

Augusto e Junior que estão se afastando da rede estadual de ensino pela

aposentadoria compulsória, pois completam 70 anos de idade em 2015.

A maioria dos docentes reside próximo ao colégio onde leciona, com

exceção dos professores Júnior, que reside na zona sul e trabalha em um colégio

da zona oeste, próximo à Barra da Tijuca, e, ainda, Agostinho e Lúcia, que

residem na zona norte (Madureira e Pilares) e lecionam em colégios da zona

oeste, em bairros de Jacarepaguá. Todos possuem nível superior, são professores

com Licenciatura Plena nas áreas específicas de suas disciplinas. Destes, onze

professores possuem pós-graduação, onze a nível de especialização (mínimo de

360 horas/aula) e uma professora tem, ainda, o curso de mestrado (Antônia).

Esses professores se distinguem dos docentes que trabalham nos

segmentos da educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental (1º ao

5º anos). Alguns elementos de distinção entre os grupos são: a formação

(obrigatoriamente Licenciatura Plena e Bacharelado), habilitados para trabalhar no

ensino médio e no segundo segmento do ensino fundamental; são responsáveis

por lecionar uma disciplina específica (professor especialista de disciplina); a

carga horária de trabalho é diferenciada (16 h. em cada matrícula). E, também,

podem ocupar cargos gratificados através de processo seletivo interno do estado

na área de gestão. Enfim, além de outros fatores que promovem clivagens

21 O número entre parênteses se refere à idade cronológica do professor.

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históricas (MENDONÇA E CARDOSO, 2007) no interior da profissão, estes

elementos ratificam a distinção entre esses grupos22

.

Segue abaixo, a tabela com os dados dos professores entrevistados.

Tabela 1: Os Sujeitos da Pesquisa, professores da rede estadual de ensino do Rio

de Janeiro

PROFESSORES DA REDE ESTADUAL

Nome Idade Graduação Pós-

Graduação

Disciplina

que

Leciona

Rede/Sistema

Público(a)/Pri

vado(a) onde

trabalha/ou

Aposentado

desde

Agostinho

64

LicenciaturaPlena em

História (UFF –

Concluída

em 1985)

Bacharelado

e

Licenciatura

em Ciências

Sociais (UFF –

Concluído

em 1982)

Bacharelado

em Serviço

Social

(UFF –

Concluído

em 1976)

Especializa-

ção em

História

Social e

Cultural do

Brasil

(FEUC)

História

e

Sociologia

Estadual (RJ)

16 horas

(Iniciou em

1985)

Aguardando deferimento

do processo

Federal

(Atuou como

Assistente

Social durante

37 anos)

2010

Antônia

67

Bacharelado

e Licenciatura

Plena em

Matemática

(UERJ –

Concluída

em 1973)

Direito

(Universida

de Estácio

de Sá –

Concluída em 2010)

Mestrado em

Pesquisa

Operacional

(UFF –

Concluída em

– 1978)

Psicopedago-

gia

Matemáti-

ca

Estadual (RJ)

16 horas 2ª matrícula

(Ingressou em

1990)

Aguardando

deferimento do processo

Rede Privada

(Colégios

Andrews (30

anos) e Santo

Inácio (12

anos).

2002

Estadual (RJ)

16 horas

1ª matrícula (Ingressou em

1974)

1992

22 Este aspecto será mais aprofundado no capítulo 3.

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40

Augusto

69

Licenciatura

Plena em

Química (UFRJ –

Concluída

em 2003)

Engenharia

Química

(UFRJ –

Concluída

em 1973)

Não possui

Química

Estadual (RJ)

16 horas 1ª Matrícula

(Ingressou em

2005)

Aguardando

deferimento do processo

Compulsória

Estadual (RJ)

16 horas

2ª Matrícula

(Ingressou em

2007)

Aguardando

deferimento

do processo

Compulsória

Rede Privada

como

Engenheiro

Químico

2000

(INSS)

Carmen

49

Licenciatura Plena em

Letras

(Língua

Portuguesa

– Língua

Espanhola)

(UFRJ –

concluída

em 1989)

Especializaçã

o em Língua

e Literatura

Espanhola

(UFRJ –

concluída em

1991)

Mestrado

Incompleto

(Universidade

de Santander

– Espanha)

Língua Espanhola

Estadual (RJ) 16 horas

(Ingressou em

1990)

Aguardando deferimento

do processo

Rede Privada

(Colégio PH)

Não

Municipal

(RJ)

(Ingressou em

1995)

Só em 2020

Eduardo

69

Bacharelado

e

Licenciatura Plena em

Ciências

Sociais (UFRJ –

Concluído

em 1974)

Não fez

Estudos

Sociais

História

e

Sociologia

Estadual (RJ)

16 horas

(Ingressou em 76)

Aguardando

deferimento

do processo

Município do

RJ (ingressou

em 1977)

2000

Rede Privada

2005

Francisco

69

Licenciatura

Plena em

Letras (Português

Literatura)

(Faculdade Simonsen –

Concluída

em 1989)

Não possui

Língua

Portugue-

sa

Estadual (RJ)

16 horas

(Ingressou em

1994)

Aguardando

deferimento

do processo

Compulsória

Municipal

(RJ)

(Iniciou em 1996)

Aguardando

deferimento

do processo

Compulsória

Rede Privada

(Bancário)

2007

(INSS)

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41

Helena

57

Bacharelado

e Licenciatura

Plena

em

Geografia

(UFRJ –

Concluído

em 1985)

Licenciatura

Plena em Letras

(Português –

Francês)

(UERJ –

Concluída

em 1988)

Especializa-

ção em

Docência do

Ensino

Superior

(UFRJ)

Geografia

Estadual

(RJ) 16 horas

(Iniciou em

1991)

Aguardando

deferimento do processo

Municipal

(RJ)

(Ingressou em

1987 como PII

– Anos

Iniciais do EF e depois

passou para PI

– Anos Finais

do EF)

Vai sair pela

Compulsória

Janaína

54

Licenciatura

Plena em

Letras (Português

– Inglês)

(Faculdade

Souza

Marques –

Concluída em 1989)

Especializa-

ção em

Gramática

Histórica

(Faculdade

Souza

Marques)

Inglês

(40 h.)

e

Língua

Portugue-

sa (16 h.)

Estadual (RJ)

1ª Matrícula

40 horas

(Ingressou em

1994)

Aguardando

deferimento

do processo

(averbando

tempo de

serviço da

rede

privada)

Estadual (RJ)

2ª Matrícula 16 horas

(Ingressou em

2011)

Vai sair pela

Compulsória

Rede Privada

(Secretária

Executiva

Bilíngue

durante 13

anos)

Está

averbando o

tempo de

serviço.

Junior

69

Licenciatura

Plena em

Matemática ( UFRJ –

Especializa-

ção em

Docência

Superior

Matemáti-

ca

Estadual

(RJ)

16 horas (Ingressou em

Aguardando

deferimento

do processo

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Concluída

em 2000)

Engenharia

Elétrica

(UFRJ –

Concluída

em 1973)

(Universidade

Castelo

Branco)

1998 por

contrato e em

2000 por concurso)

Compulsória

Rede Privada

(Colégio

Santo Inácio –

6 meses)

_________

Rede Privada

(IBM –

Engenheiro –

durante 25

anos)

1998

Lúcia

69

Bacharelado

e

Licenciatura

em

Geografia (UERJ –

Concluído

em

1983)

MBA em

Meio

Ambiente –

Incompleto

(Universidade Veiga de

Almeida)

Geografia

Estadual

(RJ)

2ª Matrícula

16 horas

(Ingressou em

1997)23

Aguardando

deferimento

do processo

Compulsória

Estadual (RJ)

1ª Matrícula

16 horas

(Ingressou em

1984)

2015

Municipal

(RJ)

(Ingressou em

1966 como PII – Anos

Iniciais do EF

e depois

passou para PI

– Anos Finais

do EF)

1994

Rede Privada

(Editora

Moderna –

Trabalhou no

Editorial)

_________

23 Nesta terceira matrícula como servidora pública a professora não receberá proventos, mas terá

direito à Licença Prêmio de seis meses. Este benefício foi assegurado por decreto no Governo

Marcelo Alencar, segundo informação da Diretoria de Direitos e Vantagens (DRDV) da SEEDUC-

RJ, cujo servidor público possuidor de duas matrículas, aposentado em uma delas, poderia,

naquele período, prestar concurso público e atuar como servidor público até a Aposentadoria

Compulsória sem direito a receber os proventos da aposentadoria na terceira matrícula. Essa

informação foi apostilada no Ato de Investidura do Servidor.

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43

Luiz

57

Licenciatura

Plena em

História (UFF –

Concluída

em 1984)

Especializa-

ção em

História do

Brasil (Universidade

Cândido

Mendes –

2002)

História

Estadual (RJ)

16 horas 1ª Matrícula

(Ingressou em

1985)

Aguardando

deferimento do processo

Estadual (RJ)

16 horas

2ª Matrícula

(Iniciou em

1988)

Vai

permanecer

Rede Privada

(Leciona no

Sistema

FIRJAN – SENAI e

SESI)

Atual

Manoel

60

Bacharelado e

Licenciatura

em

Matemática

(Faculdade

Celso

Lisboa –

Concluído

em 1989)

Especializaçã

o em

Matemática (PUC-Rio -

concluída em

1992)

Matemáti-ca

Estadual (RJ) 16 horas

(Ingressou em

2002)

Aguardando deferimento

do processo

da 1ª

matrícula

(Averbou

período de

trabalho no

Sistema

Privado)

Município do

RJ

(Ingressou em 1996)

Vai sair pela

Compulsória

Rede Privada

(Colégio

Barilan)

Averbou

para a

Aposentado-

ria do

Estado.

Maria

68

Bacharelado

e

Licenciatura

em

Matemática

(USP – concluída

em 1972)

Pedagogia

(USP)

Especializa-

ção em

Álgebra

Linear

(USP –

concluída em 1975)

Matemáti-

ca

e

Física

Estadual (RJ)

16 horas

(Ingressou em

1999)

Aguardando

deferimento

do processo

Estadual (São

Paulo) (Ingressou em

1973)

1998

Municipal

(São Paulo)

(Ingressou em

1979)

Pediu

Exoneração

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Rede Privada

– em São Paulo

durante 5

anos.

_________

Rafael

56

Licenciatura

Plena em

Educação

Física (UFRJ –

Concluída

em 1979)

Especializa-

ção em

Educação

Física

Escolar

(UFF)

Especializa-

ção em

Prescrição de

Exercícios

para Casos

Especiais

(UNESA/

UGF)

Especializa-

ção em

Administra-

ção Escolar

(A Vez do

Mestre)

Educação

Física

Estadual (RJ)

1ª Matrícula

16 horas

(Ingressou em

1982)

Aguardando

deferimento

do processo

Estadual (RJ)

2ª Matrícula

40 horas

(Iniciou em 1985) –

Atualmente

atua como

Diretor

Adjunto

Permanecerá

até a

Compulsória

Rede Privada

(Lecionou em

Escolas da

Rede

Cenecista na

Região dos

Lagos – RJ, até 2000)

_________

Renato

57

Licenciatura

Plena em

Educação

Física (UFMG –

Concluída

em 1982)

Especializa-

ção em

Ciência do

Basquetebol

(UGF)

Educação

Física

Estadual (RJ)

16 horas

(Ingressou em

1983)

Aguardando

deferimento

do processo

Municipal

(RJ)

(Iniciou em

1989)

Permanecerá

até a

Compulsória

Virgínia

56

Bacharelado

e

Licenciatura

Plena em

Matemática

(UERJ –

Concluída

em 1985)

Não possui

Matemáti-

ca

Estadual

(RJ)

16 horas

(Ingressou em 1987)

Aguardando

deferimento

do processo

Municipal

(RJ)

(Ingressou em

1982 como PII

– Anos

Iniciais do EF

e depois

passou para PI

2013

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– Anos Finais

do EF)

Rede Privada

(Lecionou no

Colégio Gama

Filho durante

10 anos – de

1987 a 1996)

_________

A partir deste quadro com recortes das informações básicas sobre cada

professor, alguns elementos foram considerados e articulados para construção de

categorias que possibilitaram as análises deste estudo.

2.3. O clima das entrevistas: a proximidade profissional e social assegura o vínculo e a cumplicidade entre pesquisador e pesquisado

[...] Sob risco de chocar tanto os metodólogos rigoristas quanto os hermeneutas inspirados, eu diria naturalmente que a entrevista pode ser considerada como uma forma de exercício espiritual, visando a obter, pelo esquecimento de si, uma verdadeira conversão do olhar que lançamos sobre os outros nas circunstâncias comuns da vida. A disposição acolhedora que inclina a fazer seus os problemas do pesquisado, a aptidão a aceitá-lo e a compreendê-lo tal como ele é, na sua necessidade singular é uma espécie de amor intelectual [...].

(Bourdieu, 1998: 70424)

A narrativa é reconstrutora da memória, ao narrar suas experiências os

sujeitos experimentam e ressignificam os caminhos vividos, recriam novos

sentidos de existir (FORMOSINHO, 2009) e reconstroem suas identidades. E,

assim, eles vão atribuindo sentidos aos percursos de sua existência.

Durante a entrevista o pesquisador deve ter uma postura não-violenta

(BOURDIEU, 1998) em sua abordagem, com o objetivo de criar um clima de

confiança e de cumplicidade assegurada pela proximidade social dos sujeitos

(Ibid: 1998).

As experiências subjetivadas narradas pelos sujeitos garantem a

compreensão dos inúmeros vieses que atravessam a profissão docente e o grau de

24 BOURDIEU, Pierre. Compreender. In: _____. (Org.). A Miséria do Mundo. Petrópolis, Vozes:

1998.

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complexidade deste ofício, que se constrói não somente na formação, mas

também na prática cotidiana, na interação com os alunos, na convivência com os

pares, no chão da sala de aula.

Para que haja compreensão dos professores e de suas práticas, e,

sobretudo, dos motivos que impulsionaram a permanência no magistério, é

necessário conhecer suas vidas e, assim, compreender as escolhas pessoais e as

contingências sociais (GOODSON, 1992), a partir das interações que estabelecem

de forma significativa nos diversos contextos sociais em que atuam.

No primeiro encontro com o professor expunha o meu interesse com a

pesquisa, esclarecia a forma como tive acesso ao seu nome e também lhe

apresentava o Termo de Livre Consentimento25

.

Para Bourdieu (1998: 695), apresentar a pesquisa é:

[...] tentar esclarecer o sentido que o pesquisado se faz da situação, da pesquisa

em geral, da relação particular na qual ela se estabelece, dos fins que ela busca e explicitar as razões que o levam a aceitar de participar da troca. [...] É o

pesquisador que inicia o jogo e estabelece a regra do jogo, é ele quem,

geralmente, atribui à entrevista, de maneira unilateral e sem negociação prévia, os objetivos e hábitos, às vezes, mal determinados, ao menos para o pesquisado.

Na tentativa de minimizar os efeitos da desinformação com relação aos

interesses da pesquisa, para que as regras do jogo estivessem o mais claras e

objetivas possíveis, foi criado o Termo de Livre Consentimento, cujo intuito foi

esclarecer os trâmites da investigação, a justificativa, os objetivos do estudo, e a

segurança em relação ao sigilo e à confiabilidade da mesma.

O professor definia o local e a data da entrevista, algumas foram realizadas

na visita inicial, em algum tempo livre do professor ou após o turno de aula,

outras foram previamente agendadas, de acordo com a disponibilidade de cada

docente. De maio a novembro de 2015, as entrevistas foram sendo realizadas. O

longo período temporal se deve ao fato de que, algumas entrevistas precisaram ser

adiadas pelos professores, considerando, ainda, período de férias escolares,

feriados e pontos facultativos26

. É importante esclarecer que, o início do trabalho

de campo foi realizado no ano de 2015, último ano do curso de Doutorado, pois a

25

O modelo do Termo de Livre Consentimento estará anexo. 26 É uma espécie de "feriado", decretado pelos governos em dias úteis, nas datas especiais para o

Município/Estado ou Nação, decreto válido apenas para os servidores das repartições públicas de

sua alçada administrativa, os quais, naquelas datas data ficam dispensados do ponto, e,

consequentemente, do serviço.

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intenção era investigar o professor que ainda estava em sala de aula, o que não

faria sentido se iniciasse em anos anteriores.

No total, foram realizadas dezessete entrevistas, sendo que uma das

entrevistas, a exploratória, foi descartada, pois não alcançou o objetivo da

investigação.

Todas as entrevistas foram realizadas nas unidades escolares onde os

docentes estão lotados e ainda lecionam. Não foi imposto tempo para duração da

entrevista, o tempo era determinado pela disposição do professor de falar sobre os

anos de exercício na profissão. As entrevistas tiveram a duração média de uma

hora e quarenta minutos (1 h. 40 min.), foram realizados em tempos de aula livres,

após reuniões de Conselho de Classe (COC), ou em horários anteriores os

posteriores aos turnos de aula.

Os espaços reservados para as entrevistas foram biblioteca, sala de

coordenação ou direção, sala de professores, ou em alguma sala de aula livre do

colégio. Sem exceção, todas as entrevistas sofreram algum tipo de interrupção dos

agentes escolares, em especial as que foram realizadas nas salas de coordenação,

professores e direção, em virtude de serem espaços por onde circulam professores

e demais funcionários da unidade escolar, mas nada que impedisse o bom

andamento da entrevista ou constrangesse o professor.

Em todas as entrevistas percebi a disponibilidade do professor em falar

sobre a/da profissão, expor os sentimento e emoções que atravessaram os anos de

exercício do magistério, uma espécie de catarse, que os fez relembrar momentos

de sua história de vida, trazer elementos que compõem suas práticas e, ainda,

compartilharem seus projetos de futuro.

As entrevistas tiveram um caráter diretivo em virtude de haver um roteiro

semiestruturado como orientação do caminho, tal qual uma bússola para um

caminhante que não quer se desviar da sua rota, dos objetivos da investigação.

Mas, foi, fundamentalmente, não diretiva para permitir que os professores

estivessem livres para contar suas histórias, criando um espaço de re-viver o

vivido.

Van Zanten (2004) aponta alguns fatores importantes para o sucesso das

entrevistas de campo. Para esta autora, o bom resultado nesta etapa da pesquisa

exige do pesquisador algumas condições, como, atitude crítica e flexível para

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modificar, quando necessário, a formulação e ordem das perguntas; a seleção

pertinente do horário e espaço para a entrevista; o domínio da situação; esclarecer

ao entrevistado o objetivo da entrevista; intervir quando necessário para retomar o

tema central da entrevista

Procurei estar atenta a todas essas recomendações durante o processo de

entrevista, a fim de garantir a legitimidade e o sucesso desta etapa fundamental de

coleta de dados.

Como afirma Combessie (2004: 43):

Conduzir uma entrevista é ao mesmo tempo um ofício e uma arte: a melhor

condução é elaborada na maioria das vezes como que espontaneamente, com base

nas experiências adquiridas e deixando-se guiar pela dinâmica da entrevista.

Houve o cuidado de construir um Roteiro de Entrevista27

semiestruturado

com o objetivo de conter todas as questões necessárias à criação das categorias

que seriam construídas para análise dos dados. Durante a entrevista foi criado um

clima de confiança e tranquilidade (ZAGO, 2003), permitindo, assim, que os

entrevistados se sentissem confiantes em contar as histórias de suas vidas.

As entrevistas foram gravadas em áudio, posteriormente salvas na

memória do computador, e transcritas uma a uma, de forma atenta e recapitulada,

pela autora. O objetivo de transcrever cada entrevista foi o de imprimir em cada

uma delas o subjetivo das vozes e dos semblantes registrados em meu Diário de

Campo, em observações que se faziam registradas em cada uma das transcrições.

Para manter a fidelidade do discurso durante as transcrições é necessário estar

atento ao timbre de voz, o ritmo, a linguagem dos gestos, a postura corporal

(BOURDIEU, 1998).

Para Zaia Brandão (2002: 40):

A entrevista é trabalho, reclamando uma atenção permanente do pesquisador aos seus objetivos, obrigando-o a colocar-se intensamente à escuta do que é dito, a

refletir sobre a forma e conteúdo da fala do entrevistado, os encadeamentos, as

indecisões, contradições, as expressões e gestos [... ].

Após cada entrevista, intensas pelos momentos de emoção e troca, era

registrado em meu Diário de Campo as percepções de cada professor(a), os traços

fisionômicos, a busca do olhar e da aprovação da pesquisadora, as lágrimas de

27 Em anexos.

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tristeza e de alegria, que algumas vezes me contaminaram, os sorrisos, o

semblante triste e/ou saudoso, a efusividade de alguns, a retração de outros, enfim,

aspectos que não ficaram gravados no áudio, mas foram percebidos na relação e

registrados nas folhas do meu caderno. Elementos que identificam e distinguem

cada professor e cada professora entrevistado/a, ao compartilharem o pouco do

muito de suas histórias de vida.

Como enfatiza Bosi (2003: 60-61):

A entrevista ideal é aquela que permite a formação de laços de amizade; tenhamos

sempre na lembrança que a relação não deveria ser efêmera. Ela envolve

responsabilidade pelo outro e deve durar quanto durar uma amizade. [...] Se não fosse assim, a entrevista teria algo semelhante ao fenômeno da mais-valia, uma

apropriação indébita do tempo e do fôlego do outro.

Foi realizada, a posteriori, uma escuta cuidadosa de cada relato para as

transcrições, tentando ao máximo preservar os sentimentos, os silêncios, os risos,

enfim, as emoções que atravessavam cada narrativa. Certamente, a escrita nunca

dará conta do verbo, da emoção encarnada nas palavras, carregadas de

sentimentos, mas procurei ser o mais fiel possível às falas dos professores.

A partir dos relatos dos professores sobre a formação, a trajetória

profissional, o sentido da docência, os sentimentos que emergem nesta fase do

ciclo profissional, as expectativas de futuro, os rumos dessa caminhada foram se

delineando. E, assim, com as informações do que pensam, sentem, vivem e

aspiram (BIASOLI-ALVES e DIAS-DA-SILVA, 1992; BOGDAN e BIKLEN,

1994; ZAGO, 2003) iniciou-se a análise dos dados coletados.

Na perspectiva de Michelat (1987), uma análise interpretativa bem feita só

é possível se mantivermos a lógica do entrevistado, ou seja, o sistema de relações

por ele estabelecido. Logo, o processo de análise de cada entrevista foi criterioso,

no sentido de uma escuta isenta de pré-conceitos, buscando apreender a lógica de

pensamento de cada docente.

Para organizar os dados coletados nas entrevistas foi utilizado o Software

NVIVO10. A utilização deste programa foi fundamental para a construção das

categorias de análise a partir do lançamento dos dados obtidos nas entrevistas. O

programa não cruza dados, nem efetua quaisquer tipos de análise, mas auxilia no

armazenamento de informações e na construção de eixos analíticos. Afinal, a

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Page 23: 2. O percurso metodológico: O caminho é percorrido ao caminhar · processos de aposentadoria na Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro no ano 2015, e aguardam em sala

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pesquisa qualitativa é descritiva e analítica, privilegiando, portanto, as narrativas

(BOGDAN e BIKLEN, 1994).

As categorias para análise dos dados coletados foram construídas com o

objetivo de melhor elucidar os temas mais recorrentes, que favorecessem as

futuras análises e respondessem às questões iniciais da pesquisa, no sentido de

atribuir sentido às experiências dos professores. As categorias construídas focam,

em especial, a formação, a escolha do magistério, a relação com alunos, a

autoimagem professoral, a profissionalidade e a identidade construídas, o

momento da aposentadoria, os encantos e desencantos com a profissão, os

projetos futuros.

A análise dos dados articulou elementos objetivos e subjetivos percebidos

durante as entrevistas e as percepções registradas em meu Diário de Campo.

Aspectos que, revelaram os motivos de escolha da profissão e de permanência na

mesma.

As escolhas, a formação, as relações, as experiências acabam por revelar o

modo como diferentes pessoas dão sentido às suas vidas (BOGDAN e BIKLEN,

1994), considerando, evidentemente que, as experiências relatadas nas entrevistas,

as histórias contadas, são apenas fragmentos da vida do sujeito, são a ponta do

iceberg. O universo humano, as experiências vivenciadas, objetivas e subjetivas

possuem uma dimensão e um grau de complexidade que nenhum pesquisador

conseguirá dimensionar. Nossas análises se restringem às informações coletadas

nas poucas horas com os entrevistados, aos fatos narrados, às lembranças

objetivadas, à realidade construída por cada sujeito da pesquisa. Portanto,

trabalhamos sempre como pesquisadores com fragmentos da realidade, com

pequenas porções do todo que é o existir.

O olhar sobre o dito e o não dito é carregado também da subjetividade do

pesquisador, é o seu recorte do material vivido, que se torna um material

empírico, rico em nuances e texturas das quais estão/são encarnadas de sentido e

tecerão o percurso da investigação, em busca das singularidades do envelhecer e

do aposentar dos professores, protagonistas da pesquisa.

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