Upload
dangminh
View
213
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Uma análise dos investimentos externos diretos chineses no Brasil de 2010 a 2016.
Caique Andriewiski
Fábio Esperança
Gabriela Padilha
William Araújo
1. Introdução:
Diante da conjuntura recente chinesa, são observadas diversas mudanças em suas
diretrizes e práticas geopolíticas, tanto em seu projeto de desenvolvimento como em sua
postura diante da economia global. Internamente, têm se tornado cada vez mais evidentes as
suas intenções de escalada nas cadeias globais de valor expressas no plano de governo
formulado em 1999 com o título “Going Global”. Essa estratégia tem se caracterizado
basicamente pela internacionalização de suas empresas aliada à sensível expansão de seus
investimentos externos e integração dos planos de comércio exterior, além da maior liberdade
de controle de capitais (ACIOLY, PINTO E CINTRA; 2011, p. 35).
Direcionando esses aspectos à economia brasileira, percebemos nitidamente essa nova
diretriz político-econômica chinesa. Isso porque há uma forte aproximação no comércio
internacional entre ambos os países; objetivamente, a China se tornou o principal destino das
exportações brasileiras, saindo do 6º lugar em 2001, para 3º em 2005 e assumindo a liderança
em 2010. Qualitativamente, o Brasil exporta basicamente bens primários e manufaturas
simples, como fumo, hortaliças e minério de ferro. A China se tornou também uma das
maiores fontes de nossas importações, comercializando, sobretudo, bens de alta tecnologia
como máquinas e produtos químicos (ACIOLY, PINTO E CINTRA, 2011; p. 24).
Em relação aos investimentos externos diretos sediados no Brasil, houve uma
expressiva mudança desde o início desse século, considerando que, de acordo com o Banco
Central do Brasil, os investimentos tiveram crescimento expressivo. Outras fontes mencionam
que o investimento direto chinês em 2010 chegou à casa dos US$15 bilhões, tendo se
destinado principalmente à aquisição de empresas dedicadas à exploração do pré-sal (US$10
bilhões), empresas financeiras (US$1,8 bilhões), mineração (US$1,22 bilhões) e energia
elétrica (US$ 1,72 bilhões) (ACIOLY, PINTO E CINTRA, 2011; p. 40 e 41).
Gráfico 1
Fonte: Kupfer e Freitas, 2018, p. 27.
Projetando o olhar para um cenário geral de longo prazo, de forma preliminar, podemos
observar as dinâmicas dos investimentos chineses no território brasileiro no período
compreendido entre 2010 e 2016. Nesse intervalo, há um influxo de investimentos no valor de
US$52 bilhões de dólares realizado principalmente por meio de Joint Ventures, Greenfields e
F&A (Fusões e Aquisições), sendo utilizadas empresas parceiras de outros países para operar
no Brasil (KUPFER E FREITAS, 2018; p. 15 e 16). Nessas parcerias, empresas como Vale,
Thyssen-Krupp, Petrobrás, Eletrobras e BTG Pactual já estiveram envolvidas, o que ilustra
um pouco da relevância dessas atividades.
Já no gráfico acima, conseguimos observar a tendência em formato de "U" dos
investimentos chineses no Brasil para o período previamente mencionado. Há um forte
volume de capitais entrando em 2010, seguido de uma forte queda para os períodos de 2011 a
2014 e, em seguida, uma retomada a partir de 2015. Ao longo desse trabalho, iremos analisar
esse movimento em suas características setoriais de um modo mais aprofundado. Não
obstante, para agora, cabe ressaltar que as inversões chinesas se deram preponderantemente
nos setores de extração (petróleo e minério de ferro) e energético, totalizando 90% do IED
chinês, sendo 42% para este setor e 48% para aquele (KUPFER E FREITAS, 2018; p. 18).
Em razão dos aspectos mencionados acima, fica claro que o principal objetivo desse
trabalho é analisar a tendência dos investimentos chineses sediados no Brasil durante o
período que se estende de 2010 até 2016. Esse recorte temporal foi escolhido por dois
motivos principais: 1) Para períodos anteriores, há uma escassez de dados que quase
impossibilita centrar a análise para as interações sino-brasileiras sem que isso se torne uma
pesquisa dotada de um nível elevado de agregação e 2) para além desse motivo, como foi
colocado anteriormente, a partir de 2010, há uma reviravolta no volume de investimentos e
fluxos de comércio trazidos da China que, sem dúvidas, tornam tal período um objeto de
estudo importante para uma compreensão sistêmica e dinâmica dos posicionamentos dessas
duas nações nas complexas estruturas de interações produtivas e comerciais que estão em
constante transformação no século XXI. Nesse sentido, este último aspecto, constitui o
interesse central dessa dissertação que será realizado através da priorização da caracterização
objetiva e descritiva das nuances da temática proposta.
Focando na parte metodológica, realizando o objetivo de maneira coesa e coerente,
iremos recorrer a duas referências principais. A primeira é o texto de David Kupfer e Felipe
Freitas, publicado em 2018, intitulado "Direções do investimento chinês no Brasil 2010-2016:
Estratégia Nacional ou Busca de Oportunidades?", no qual encontraremos diversos dados
(fornecidos pela base de dados GIC/UFRJ) e interpretações que reforçarão o nosso fio
condutor. A segunda referência serão os relatórios publicados pelo Conselho Empresarial
Brasil-China (CEBC) que foram uma das principais fontes de dados para diversos trabalhos
por ter abrangência ampla e ter sido divulgado em períodos bianuais. Desse modo,
conseguiremos dar um forte respaldo analítico ao presente texto a partir do confronto entre
esses dois referenciais.
1.1) O problema dos dados de IEDs chineses no Brasil
Ao contrário daqueles relativos ao comércio, fartos e relativamente homogêneos, os
dados (tanto oficiais quanto não-oficiais) que dizem respeito ao investimento externo direto
(IED) da China no Brasil são relativamente escassos, heterogêneos e apresentam alguns
problemas. Essa problemática já é apontada extensamente em (KUPFER; FREITAS, 2018).
Na China, esses dados oficiais advêm do Ministério do Comércio da República
Popular da China (MOFCOM) que (apesar de apresentarem bom panorama de tendências
agregadas), quando desagregados por país, apresentam os problemas de contabilizar apenas os
países que são o destino primeiro do investimento, não observando aquele que é o país de
destino final do capital. Assim, como muitas vezes empresas chinesas canalizam seus
investimentos através de outros países (Hong Kong, Singapura...) para depois atingirem seu
destino final (“trans-shipping”), os dados de IED para o Brasil dessa fonte tendem a ser muito
subestimados. Já no Brasil, os dados oficiais são compilados pelo Banco Central, mas
apresentam problemas similares aos do MOFCOM, visto que contabilizam apenas o último
destino do capital antes de entrar (logo, também subestimam a quantidade de IEDs chineses
no Brasil devido ao “trans-shipping”). Outra fonte oficial são os relatórios da Conferência das
Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) que, no caso dos IEDs
chineses no Brasil, apenas reproduz os dados do MOFCOM. Dados os problemas acima
mencionados, conclui-se que os dados oficiais não são uma aproximação muito adequada do
real volume de investimentos chineses no Brasil (KUPFER, 2018).
Gráfico 2
Fonte: KUPFER; ROCHA; TORRACA, 2018, slide 5
Os dados não oficiais, por sua vez, são encontrados em maior profusão e constituem
melhor “proxy” do real volume de IED chinês que teve como destino o Brasil. Entre eles, se
destacam a base privada FDI Markets, que só contabiliza os investimentos novos
(“greenfield”), a base “China Global Investment Tracker” (CGIT), que aponta apenas as
transações de valor acima de U$100 milhões, a CEPAL, a base RedALC e os dados do
Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) (estes, se tratando do Brasil, são os mais
completos). Além dessas, outra base não oficial relevante é a GIC-IE/UFRJ, criada pelo
professor David Kupfer (IE-UFRJ) a partir da junção das bases não-oficiais supracitadas, a
fim de minimizar seus problemas (heterogeneidade de classificação setorial; não-identificação
de investimentos menores; vinculação de investimentos ao ano do anúncio, não de sua
realização; contabilização de investimentos intencionados, mas não necessariamente
realizados...) (KUPFER, 2018).
Com já citado anteriormente, neste trabalho serão utilizados os dados do CEBC e da
GIC-IE/UFRJ, confrontando-os sempre que possível, a fim de tornar mínimo o viés que a
utilização de uma dessas bases em separado possa vir a acarretar.
2) A evolução dos investimentos chineses no Brasil:
2.1) Fase inicial, o período 2010-2011:
Iniciando a análise pelo período compreendido entre 2010 e 2011, intervalo este que,
como já foi possível retratar, há uma sensível elevação do volume de investimentos chineses
no Brasil em relação à primeira década do século XXI, saindo de um acumulado de 255
milhões de dólares em vinte anos (1990-2009), para um confirmado de quase 10 bilhões
somente para 2010 (CEBC, 2011; p 19). Além disso, acompanhando esse fluxo, há um
incremento de 50% no volume de comércio entre Brasil e China de 2009 para 2010 (CEBC,
2011; p. 20). Constatada essa relativa explosão de entrada de recursos chineses em território
brasileiro, uma análise por setores se torna necessária para entender os motivos dessa maciça
reviravolta de relações.
Dentre as fontes de estudos referentes ao nosso objeto de estudo não há muita
divergência que, em um nível mais agregado, os investimentos chineses se destinaram
principalmente ao setor de extração para fins de suprir a incessante demanda deste país por
commodities para serem utilizadas como insumos em sua indústria de transformação em
desenvolvimento (CEBC, 2011; p. 24). Nesse sentido, quando observamos os fluxos de IED
em 2010, há a nítida preocupação com bens primários, como pode ser visto no gráfico em
seguida:
Gráfico 3- Investimentos chineses anunciados em 2010 por setor da economia:
Fonte: CEBC, 2011. Elaboração própria baseada no gráfico da CEBC
Podemos perceber que houve, de acordo com o Conselho Empresarial Brasil-China,
uma forte intenção de entrada no setor brasileiro de extração mineral (Petróleo e Gás e
Mineração), constituindo 65% dos investimentos anunciados, já ampliando para o setor de
commodities em geral (Setor mineral somado de Agribusiness), totalizam-se 85% dos
investimentos chineses no país. Isso ilustra fortemente a intencionalidade de tornar o Brasil
um fornecedor de bens primários para a indústria na China.
Entretanto, apesar dessa notável proporção, ao serem confrontados com dados de
outras fontes como da ActionAid e da base de dados elaborada pelo Grupo de Indústria e
Competitividade da UFRJ (GIC/UFRJ), percebemos ainda mais a preocupação quase que
única em direção a um avanço sobre os recursos naturais brasileiros. Para a ActionAid, os três
maiores investimentos, feitos pelas empresas estatais Sinopec, Sinochem e State Grid (as duas
primeiras do setor petroquímico e a última do setor de transmissão elétrica), somaram
US$11,89 bilhões (NETO, 2016; p. 54 e 55), ou seja, superaram em aproximadamente dois
bilhões o montante total anunciado colocado pela CEBC.
Nesse sentido, para a base de dados GIC/UFRJ, manteve-se o padrão anterior
observado pela ActionAid. No ano de 2010, teve-se um volume total de investimentos
totalizando aproximadamente US$15 bilhões, ao passo que, desse montante, uma parcela de
13 bilhões de dólares foram de empresas dos setores de energia e mineração. Ou seja,
calculando a participação percentual, temos que 86% dos investimentos chineses no Brasil em
2010 são destinados às empresas mineradoras ou do setor elétrico focado na extração de
petróleo e gás (GIC/UFRJ, 2016). Além disso, como observação, de acordo com essa mesma
Energia (Petróleo e
Gás) 45%
Agribusiness20%
Mineração20%
Siderurgia10%
Energia Elétrica
3%
Manufatura2%
base de dados, as principais formas de ingresso no sentido das relações de propriedade foram
através de Fusões e Aquisições com empresas estrangeiras e de investimentos do tipo
Greenfield, definidos pelo estabelecimento de fábricas ou unidades produtivas desde seus
estágios iniciais. Seguindo, em um nível maior de desagregação, temos que Sinopec investiu
US$7,1 bilhões, Sinochem US$3,07 bi e State Grid, US$1,72 bi (NETO, 2016, p. 54 e 55),
leia-se, os investimentos foram compostos massivamente por empresas do setor petroquímico.
Antecipando a conclusão do período inicial, vemos que nos anos de 2010 e 2011, a
indústria extrativa foi, em média, destino de 87% dos investimentos chineses no Brasil. O
grande diferencial foi o montante investido entre esses dois anos, apesar desse biênio ter se
caracterizado como o auge do investimento extrativo chinês (KUPFER E FREITAS, 2018, p.
30). De acordo com o relatório do Conselho Empresarial Brasil-China referente a esse
período, houve uma diminuição da euforia inicial que vai dar lugar um melhor e mais
cauteloso planejamento estratégico (CEBC, 2014, p. 7).
No ano de 2011, considerando essa queda do montante investido, tivemos um total de
US$7,4 bilhões investidos no Brasil. Apesar disso, o perfil das participações setoriais não vai
se alterar de forma significativa, aumentando o protagonismo do investimento extrativo que
atinge a casa dos 90% do total das inversões chinesas, em termos absolutos são US$6,775
bilhões. Para esse ano, as principais investidoras serão a Sinopec e China Niobium Investment
Holdings (CNIH), investindo em torno de 4,5 e 1,9 bilhões de dólares, respectivamente
(GIC/UFRJ, 2016). Mesmo com esse decréscimo, temos que a queda do número de projetos
para 2011 não cai de forma tão acentuada, ressalta a CEBC. Em 2010, foram 21 projetos
contra 14 no ano de 2011 (CEBC, 2014; p. 7).
Sintetizando a atuação chinesa nesse período inicial, tornou-se bastante clara a sua
agressividade ao avançar sobre os recursos naturais brasileiros, como forma de prover
recursos naturais para sua indústria nacional. Mas cabe ressaltar também que há uma evidente
preocupação tecnológica em relação ao pré-sal, que não somente pode reservar imensas
oportunidades para a extração petrolífera, como, principalmente, fornecer as técnicas
adequadas para a exploração desse tipo de reserva em outros territórios. Esse fator ficou muito
exposto quando se observou o forte avanço chinês através de suas estatais petroquímicas, à
exemplo da Sinopec e da Sinochem mencionadas anteriormente, mas também na utilização de
empresas parceiras estrangeiras como é o caso da Repsol espanhola e da GALP portuguesa,
que tiveram suas participações acionárias compradas minoritariamente pelas mesmas estatais
chinesas, além do fato de serem duas empresas que atuam na extração do pré-sal brasileiro
(NETO, 2016, p.63 e CEBC, 2011, p.25).
2.2) Fase intermediária, o período de 2012 e 2013:
De 2012 a 2014, é possível observar uma significativa contração do IED, fato esse sobre
o qual tanto os autores KUPFER E FREITAS quanto o CEBC e outros dados (oficiais ou não)
concordam. Abaixo, seguem alguns gráficos que expressam essa realidade:
Gráfico 4- Fluxo de investimento direto chinês segundo as fontes de dados selecionadas
para o período 2001-2016 (em milhões de dólares)
Fonte: KUPFER e FREITAS, 2018, p. 11
Apesar das diversas fontes de dados confluírem, apenas o CEBC buscou lançar luz
sobre os principais motivos dessa contração, que seriam: um melhor planejamento do IED
chinês no Brasil diante de um conhecimento ampliado da economia e do mercado brasileiro
obtido através do IED realizado no biênio anterior, os desdobramentos desses investimentos
do período anterior (consolidação e execução), desaceleração da economia brasileira
influenciada pela crise de 2011 e seus desajustes macroeconômicos, sobretudo pelos
endividamento das famílias, uma vez que os índices de consumo e desenvolvimento estariam
próximo de um nível de saturação, questões burocráticas relacionadas ao sistema tributário e a
mudança do modelo de desenvolvimento da economia chinesa. (CEBC, 2012-2013; p. 8).
Dos motivos:
Segundo a CEBC, a China, no período de 2010 a 2011, estaria muito entusiasmada com a
descoberta do Brasil como um novo e interessante destino para seus investimentos.
Entretanto, após tais investimentos, a mesma se demonstrou ainda estratégica e ponderada
para o período seguinte, seja pelos motivos já apresentados ou até mesmo por uma
“concentração nas iniciativas de maior probabilidade de concretização, conforme mostra
comportamento da taxa de efetivação de projetos, que era ordem de 45%, no período de
2007-2011, e subiu para 81% no período de 2012-2013”.(CEBC, 2012-2013; p. 8). Os dados
usados para aferir a contração no biênio 2012-2013 são os dados dos investimentos realizados
e anunciados do próprio CEBC, que podem ser comparados com os dados dos anos anteriores.
Gráfico 5
Fonte: KUPFER; ROCHA; TORRACA, 2018, slide 10
A diversificação
KUPFER e FREITAS teriam um ponto muito crucial a ser exemplificado nesse período: a
diversificação do IED em território brasileiro. Comparando com o período anterior, por
exemplo, “o setor terciário em 2010 e 2011 representou apenas 1% do montante investido,
enquanto em 2012 a 2014, representou respectivamente 14%” (KUPFER E FREITAS, 2018,
p. 28). Para eles, haveria acontecido uma mudança na composição setorial na qual, em um
primeiro momento, o foco seria as Indústrias Extrativas enquanto, em um segundo momento,
estaria na Indústria de Eletricidade e Gás e, em seguida, na Indústria de Transformação. Essa
análise também vai ao encontro dos dados do CEBC, que demonstram que, embora tenha
havido uma valorização dos projetos voltados ao setor eletrônicos e automotivos, em termos
valorativos os setores da Indústria de Eletricidade e Gás e de Transformação ainda seriam
superiores aos investimentos nos setores eletrônicos e automotivos. Para efeito de
comparação, seguem os gráficos abaixo:
Fonte: KUPFER; ROCHA; TORRACA, 2018, slide 15
Já em 2013, o IED apresentou uma melhora, entretanto ainda muito tímida. Segundo
KUPFER E FREITAS, unindo os dois anos (2012 e 2013), o IED teve como característica a
estagnação e redução, enquanto em 2010 e 2011 houve elevada entrada. Segundo os autores,
na fase inicial houve U$20,2 bilhões em investimentos realizados, para U$1,6 bilhões
anunciados, alcançando-se o montante de U$21,8 bilhões, enquanto que nos dois anos
posteriores não se alcançou nem ao menos a metade dessa quantia, sendo U$7,4 bilhões em
investimentos realizados e U$1 bilhão anunciado, somando apenas U$8,4 bilhões, (dados da
base GIC-IE/UFRJ). Entretanto, o resultado se demonstra coerente diante do número de
investimentos realizados. Do mesmo modo, o CEBC também informa a encalistrada ascensão
do IED Chinês nesse período, apesar de ressaltar o salto que o setor de Petróleo e Gás
conquista em 2013, demonstrado no gráfico abaixo:
Gráfico 6 - Distribuição setorial dos projetos anunciados e confirmados por valores:
2012-2013
Fonte: CEBC, 2014, p. 10
Ao analisarmos o biênio de 2012/2013, tantos pelos dados dos autores quanto pelos do CEBC,
chegamos à conclusão de que esse período se caracterizou não somente pela baixa do IED e
pelo tímido crescimento posterior, mas sobretudo pela diversificação dos destinos dos
projetos. Para KUPFER E FREITAS, a mudança na composição setorial (da Indústria
Extrativista para a Indústria de Eletricidade e gás), é um ponto extremamente significativo,
pois levaria a um aumento no setor de serviço, mas que “não apresentaria uma tendência de
concentração em alguma divisão específica”.(CEBC, 2012-2013; p. 31), abaixo seguem os
gráficos e tabelas de investimentos dos anos de 2012 e 2013.
Fonte: CEBC, 2014, p. 17
Enquanto os dados de KUPFER e FREITAS apresentam somente US$ 2.465 milhões
em 2012 e US$ 2.175 milhões em 2013 somando US$ 4.464 milhões de IED chinês no Brasil
nesse período. (KUPFER E FREITAS, 2018; p. 262,263,264), não obstante ambos bancos de
dados enfatizam o crescimento dos mesmos setores.
2.3) Fase final: o triênio 2014-2016
O ano de 2014 manteve a tendência de queda dos anos anteriores, com investimentos
no valor de U$1,7 bilhão segundo a CEBC e U$2,3 bilhões segundo a base GIC-IE/UFRJ,
entre investimentos efetivados e anunciados. Durante esse ano, os investimentos
concentraram-se muito no setor energético, devido especialmente à entrada de grandes
empresas chinesas da área (China Three Gorges, State Grid) na construção de infraestrutura
energética no país, através de participação em leilões públicos para geração e distribuição de
eletricidade. Os setores tecnológico e bancário também foram fortalecidos, com a compra do
Peixe Urbano pelo Baidu e do português Banco Espírito Santo de Investimento (Besi) pelo
Haitong (com todas as suas operações no Brasil).
Em 2015, os IEDs chineses no Brasil tiveram uma forte recuperação, atingindo valores
de U$7,4 bilhões (CEBC- projetos confirmados) a U$9,45 bilhões (entre anunciados e
confirmados- GIC-IE/UFRJ), indo na direção contrária da economia brasileira, que
mergulhava na pior crise de sua história. Essa retomada se deu em parte pela depreciação do
Real, que “tornou os ativos brasileiros mais atrativos para os investidores estrangeiros”
(CEBC, 2016), e tornou evidentes características tanto da perspectiva de desenvolvimento
chinesa, centrada no longo prazo, quanto do perfil de seus investimentos no Brasil
(majoritariamente em geração e distribuição de energia, de longa maturação), além de marcar
uma reaproximação sino-brasileira, indicada por visitas de Xi Jinping (2014) e do Primeiro-
Ministro Li Keqiang (2015) ao país. Além da área energética, foi possível perceber forte
crescimento no ramo automobilístico (marcado por novos aportes de empresas já
estabelecidas e pela compra da Pirelli pela ChemChina) e no de aviação, este devido à compra
de parte da Azul Linhas Áereas pela HNA. Geograficamente, os investimentos (tanto em 2014
quanto em 2015) se concentraram no Sudeste e, dentro deste, São Paulo foi o destino de
preferência.
Gráfico 7- Distribuição setorial de projetos (2014-2015)
Fonte: CEBC, 2016, p. 19
O ano de 2016 confirma as tendências do ano anterior de recuperação dos IEDs
chineses no Brasil, contando com investimentos de U$12,5 bilhões (CEBC) a U$13,1 bilhões
(GIC-IE/UFRJ), uma expansão enorme dos investimentos chineses, no contrafluxo tanto da
economia brasileira (cuja recessão se aprofundara naquele ano) quanto dos investimentos dos
outros países no Brasil (que caíram 23% em 2016, segundo estimações da UNCTAD).
Percebe-se também a manutenção da predominância do setor energético, puxada pela atuação
de grandes empresas (China Three Gorges e State Grid, destacadamente). Também ganharam
força os setores de siderurgia e mineração (vide gráfico 8).
Gráfico 8
Fonte: CEBC, 2017, p. 19
O triênio 2014-2016 apresentou em diversos aspectos certa homogeneidade, sendo por
isso tratado conjuntamente. Durante todo esse período, foi notável e indiscutível
(independentemente da base de dados utilizada) a predominância de IEDs na área de geração,
transmissão e distribuição de energia elétrica (setor 35.1 na classificação CNAE 2.0),
responsável por 61,4% do valor total dos investimentos segundo a GIC-IE/UFRJ e 73,6%
segundo o CEBC. É marcante também sua concentração geográfica no Sudeste, em especial
São Paulo- no biênio 2014-2015, a região Sudeste absorveu 45% do valor dos projetos e São
Paulo, em particular, 32%. Em 2016, esses números foram ainda mais gritantes: 56% e 44%,
respectivamente. Outra característica desse intervalo é a concentração em poucas empresas,
visto que as três empresas que mais investiram nesse interregno (China Three Gorges, State
Grid e CBSteel) foram responsáveis por 73,49% do valor de todos os empreendimentos,
segundo dados da base GIC-IE/UFRJ. Ademais, o modo de ingresso desses investimentos foi
predominantemente por fusões e aquisições (F&A), seguido de investimentos novos
(greenfield) e, finalmente, joint-ventures (JV), como visto no gráfico abaixo:
Gráfico 9- Distribuição dos projetos por meio de ingresso (2014-2016)
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da base GIC-IE/UFRJ
3) Evolução dos IEDs chineses no Brasil entre 2010 e 2016:
3.1) Diferença na interpretação da trajetória dos IEDs:
F&A
Greenfield
JV
60,85%
7,72%
31,43%
Como exploramos detalhadamente cada biênio, faz-se necessário analisar a trajetória
geral dos investimentos estrangeiros diretos chineses no Brasil, durante o período de 2010 a
2016, evidenciando a divergência de perspectivas entre o Conselho Empresarial Brasil-China
(CEBC) e o texto de David Kupfer e de Felipe Rocha de Freitas.
O Conselho Empresarial Brasil-China defende que a entrada de empresas chinesas no
país evoluiu de maneira distinta ao longo dos sete anos analisados, e, portanto, seria possível
sistematiza-los em “quatro momentos com características específicas” – insinuando uma
desconcentração e diversificação dos IEDs. (CEBC, 2017, p. 6). No entanto, David Kupfer e
Felipe Freitas argumentam que, apesar dos números sugerirem uma entrada maciça do país
asiático na economia brasileira ao longo de 2010 a 2016, os IEDs chineses são muito
concentrados, tanto em relação ao método de ingresso, quanto ao valor investido, ao setor e às
empresas investidoras. Embora as empresas ingressem em diversos setores, pela ótica do
montante total investido, notamos que a grande magnitude do IED chinês no Brasil deriva de
um pequeno número de investimentos de grande porte, centrados em poucas empresas e em
poucos setores (FREITAS e KUPFER, 2018, p. 15 e 24).
De acordo com o Conselho, é possível separar os IEDs chineses no Brasil em quatro
momentos. O primeiro deles, de 2010 a 2011, teve uma predominância de investimentos em
atividades ligadas às commodities, que constituem a maior parte da pauta de exportação
brasileira para a China. A compra de 40% das operações brasileiras da empresa espanhola
Repsol pela estatal chinesa Sinopec, no setor de petróleo e gás, é um exemplo disso. Essa
aquisição estaria relacionada à importação de óleo bruto de petróleo brasileiro, mas também
refletiria o processo global de internacionalização das empresas chinesas, as quais compraram
diversas companhias ligadas à exploração de recursos naturais no mundo (CEBC, 2018, p. 7).
Entretanto, entre 2011 e 2013, seria possível notar uma gradual mudança no perfil dos
IEDs, configurando uma segunda fase do IED, de rearranjo progressivo dos investimentos na
exploração de recursos naturais para a indústria. A entrada de companhias chinesas no país se
deu principalmente nos setores automotivo (Chery) e de máquinas e equipamentos (Sany),
além da expansão dos empreendimentos já estabelecidos no setor de eletrônicos e
comunicação (Huawei e Lenovo), voltados para o mercado doméstico (CEBC, 2016, p. 13).
Em 2013, tem-se um terceiro momento, caracterizado por investimentos no setor de
serviços, em especial na área financeira. Bancos chineses se estabeleceram no país, ou
adquiriram participação acionária em bancos brasileiros ou internacionais já em operação no
Brasil, para dar suporte ao comércio e aos investimentos bilaterais, além de apoiar a estratégia
de internacionalização do yuan. A entrada do Industrial andCommercial Bank of China,
através de um investimento inicial de US$ 100 milhões é um exemplo (CEBC, 2017, p. 8).
Por último, tem-se uma quarta fase, iniciada entre 2014 e 2015, e reforçada ao longo
de 2016, em que o volume dos investimentos chineses na economia brasileira cresce bastante,
refletindo o contexto geral dos IEDs chineses no mundo. Altos valores são investidos na área
de produção e transmissão de energia – as companhias State Grid e China
ThreeGorgesvencem licitações para a construção de usinas hidrelétricas e linhas de
transmissão no Brasil. Segundo o CEBC, também avançaram os investimentos no setor de
agronegócio, por meio de tradings, além da participação em licitações no setor de
infraestrutura. (CEBC, 2017, p. 8-13).
Entretanto, essa divisão dos IEDs chineses no Brasil por fases, do Conselho
Empresarial Brasil-China, parece um pouco exagerada, comparada aos dados de David
Kupfer e Felipe Rocha Freitas. Olhando a tabela a seguir, nota-se que os 10 maiores
investimentos “realizados” no Brasil, entre 2010 e 2016, em valor, são US$ 31, 8 bi e
representam 73% do montante investido pela China. Os cinco maiores investimentos em valor
realizados representam 53% do valor total investido pelo país asiático. Logo, pode-se afirmar
que, ao contrário do discurso de desconcentração dos IEDs propagado pelo Conselho, o
elevado montante investido pela China na economia brasileira corresponde a um número
muito limitado de transações (FREITAS e KUPFER, 2018, p. 16).
Fonte: (FREITAS e KUPFER 2018, slide 12)
Inclusive, pode-se perceber a predominância do setor energético na tabela – dentre os
10 maiores IEDs chineses “realizados” no Brasil durante os sete anos analisados, 8 pertencem
ao setor energético, e configuram uma participação de 64% no total investido. Os outros dois
investimentos são pequenos quando comparados ao resto (8% de participação no total
investido), e fazem parte da área de extração de metais e mineração, e foram realizados nos
anos de 2010 e 2011. Nota-se que nesses dois anos, a prioridade era a indústria extrativa,
principalmente a extração de petróleo e gás natural, por meio das estatais Sinopec e
Sinochem. Já nos anos de 2015 e 2016, a estratégia chinesa passa a priorizar a geração,
transmissão e distribuição de energia elétrica, por meio das estatais State Grid e China
ThreeGorges Corporation (CTG). Logo, não somente o montante total investido é
concentrado em um número pequeno de transações, como também em um limitado número de
setores.
Se observarmos os investimentos por empresa investidora, a concentração é ainda
maior. A tabela abaixo mostra que as cinco principais investidoras chinesas no Brasil nos anos
de 2010-2016 correspondem a US$ 35,1 bi e a 80% do valor total investido. Destacam-se a
Sinopec (US$12 bi), a State Grid (US$ 12 bi) e a China ThreeGorges (US$ 6,5 bi), que
representam 70% do valor total investido pela China no Brasil, comprovando que o elevado
montante investido no país é concentrado em um número reduzido de empresas, diferente da
visão propagada pelo Conselho (FREITAS e KUPFER, 2018, p. 17).
Fonte: (FREITAS e KUPFER, 2018, p. 18)
No âmbito dos setores, o maior destino dos investimentos chineses no Brasil no
período era a indústria – 94% do valor total investido e 64% do número de investimentos se
destinaram ao setor secundário. Na tabela 3, nota-se que 90% do valor total de investimento
chinês no Brasil se destinaram a Indústria Extrativa (48%) e a de Eletricidade e Gás (42%),
enquanto a Indústria de Transformação só obteve 4%. Já em relação ao número de transações,
32% se destinaram a Indústria de Transformação, 19% foram para a Indústria de Eletricidade
e Gás e 12% para a Indústria Extrativa - o que mostra que o valor médio do investimento para
a Indústria de Transformação é menor do que nas outras duas áreas, e provavelmente ocorrem
várias transações de pequeno porte (FREITAS e KUPFER, 2018, p. 18).
Fonte: (FREITAS e KUPFER, 2018, p. 19)
Apesar dos investimentos serem diversificados setorialmente, tem-se que a maior parte
do valor investido chinês na indústria brasileira se concentra nos setores de extração de
petróleo e gás natural (40%) e de eletricidade e gás (44%), como também, em menor valor, na
extração de minerais metálicos (11%). Assim, 95% do total investido na indústria estão
concentrados nesses três setores, refletindo os projetos da State Grid, CTG e Sinopec, além
dos investimentos da China Niobium e da China ChinaMolybdenum na extração de minerais
metálicos (FREITAS e KUPFER, 2018, p.19).
Fonte: (FREITAS e KUPFER, 2018, p. 20)
Os restantes 5% do valor investido na indústria estão na Indústria de Transformação,
embora mais da metade do número de investimentos sejam direcionados a essa área. Isso se
opõe diretamente a visão do Conselho Empresarial Brasil-China, que coloca extrema
relevância nesse setor, principalmente nos anos de 2012 e 2013, ao definir uma 2ª fase do IED
chinês no Brasil, caracterizada por investimentos em máquinas e equipamentos, aparelhos
eletrônicos e automóveis. Embora esses investimentos tenham crescido em número e em valor
nesse período, são menores no âmbito do valor investido, quando comparados aos
investimentos em energia. Parece certo exagero por parte do Conselho em afirmar que
ocorreu uma “fase” do IED chinês no Brasil, centrada nesse setor de transformação.
Já no setor de serviços, os investimentos ainda são modestos, segundo Kupfer e
Freitas. Durante os sete anos analisados, a China investiu aproximadamente US$ 2,8 bi nesse
setor no Brasil, sendo apenas 6% do total investido, apesar da quantidade de investimentos ser
36% do número total. Quase metade do valor das operações em serviços (46%) se destinou a
Atividades de Serviços Financeiros, retratando a entrada de bancos chineses no mercado
brasileiro. (FREITAS e KUPFER, 2018, p. 20-21). Esses dados também confrontam a visão
do CEBC, pois, devido à participação relativamente pequena do setor de serviços no total
investido, não se pode afirmar que ocorreu um “momento” do IED chinês focado nesse setor
em 2013. Apesar dos investimentos em serviços terem crescido neste ano em valor e em
número, o setor energético ainda se constituía como prioridade.
Porém, no que se refere ao modo de ingresso das firmas chinesas no Brasil entre 2010
e 2016, ambas as fontes concordam que há uma predominância da inserção via fusões e
aquisições (F&A) de empresas já atuantes no Brasil, sejam elas nacionais ou estrangeiras. De
acordo com o Conselho Empresarial Brasil-China, desde 2014, há uma retomada das F&A,
mostrado no gráfico abaixo. Para o CEBC, isso reflete uma forte tendência chinesa de compra
de ativos já em operação no exterior, mas também há indícios que F&A seriam a forma mais
eficiente de inserção de empresas estrangeiras no Brasil, já que permitem o controle de ativos
com altos níveis de maturidade no mercado doméstico (CEBC, 2017, p. 16).
Gráfico 10
Fonte: (CEBC, 2017, p. 16)
Todavia, Kupfer e Freitas destacam que um número significativo de IEDs menores
entrou no país através de expansão orgânica ou greenfield (investimentos que começam “do
zero”): de 74 operações, 29 foram classificadas como Greenfield (32%), 32 como F&A (43%)
e 13 como Joint Ventures (18%). Nota-se que a entrada de empresas chinesas no Brasil
através de joint ventures foi pouco relevante, indicando que, provavelmente, o IED chinês no
Brasil não representou a criação de novos empregos e nova renda para a economia brasileira
na mesma proporção que sua magnitude. (FREITAS e KUPFER, 2018, p 16).
Portanto, ao contrário do CEBC, que alega a existência de uma descentralização,
desconcentração e diversificação dos investimentos, Kupfer e Freitas defendem que a grande
magnitude dos IEDs chineses no Brasil durante o período de 2010 a 2016 representa
investimentos de F&A de grande porte, realizados por uma quantidade pequena de empresas e
destinados a poucos setores – refletindo apenas os grandes empreendimentos da State Grid, da
China Three Gorges e da Sinopec. Porém, os autores reconhecem que outras empresas
entraram no Brasil em diferentes setores (Indústria de Transformação e setor de serviços),
porém com valores significativamente menores (FREITAS e KUPFER, 2018, p. 24).
3.2) Principais tendências dos IEDs na visão de Freitas e Kupfer:
Para analisar as tendências dos investimentos chineses no Brasil, Freitas e Kupfer
dividem o período de 2010 a 2016 em biênios. Como já mencionado anteriormente, entre
2010 e 2011, há uma elevada entrada de capital chinês na economia brasileira, seguido de
uma forte redução e estagnação de 2012 a 2014, e de uma retomada em 2015 e 2016 – ou seja,
o valor investido por empresas chinesas no período reflete uma curva em formato de “U”. No
entanto, o número de investimentos é crescente ao longo do tempo. Foram contabilizados,
entre operações realizadas e anunciadas, 10 investimentos em média por ano no primeiro
biênio, 15 investimentos por ano no segundo biênio e 20, no terceiro biênio. Contudo, parte
desse aumento deve-se ao aprimoramento das fontes de dados, que ao longo dos sete anos,
foram captando investimentos menores e anteriormente não contabilizados (FREITAS e
KUPFER, 2018, p. 27).
Segundo Kupfer e Freitas, é possível destacar três alterações importantes na trajetória
dos IEDs chineses no Brasil: 1) Mudança na composição setorial, em que ocorre um aumento
da participação do setor de serviços e uma mudança no setor principal de destino (de Indústria
Extrativa para Indústria de Eletricidade e Gás); 2) Aumento na participação da entrada do
capital chinês por meio de expansão orgânica, ainda que o método de ingresso principal seja
através de fusões e aquisições; 3) Apesar de os investimentos diretos chineses no Brasil serem
concentrados em todos os três biênios, no segundo (2012-2014), nota-se uma desconcentração
dos investimentos, que logo em seguida é revertida. (FREITAS e KUPFER, 2018, p. 28). O
Conselho Empresarial Brasil-China também concorda com a existência dessa última
tendência, e esta foi anteriormente mencionada no trabalho, no capítulo sobre o biênio em
específico, portanto, não trataremos deste assunto novamente.
É possível provar a tendência de aumento da participação do setor de serviços, por
meio de dados que medem o montante total investido e o número total de investimentos. No
primeiro biênio, o setor de serviços representava apenas 1% do valor total investido pela
China no Brasil e 11% do número de transações. Contudo, em 2012-2014, o setor terciário
correspondeu a 14% do montante investido e 27% da quantidade dos IEDs, passando para 9%
e 40%, respectivamente, em 2015-2016. A maior participação de investimentos com destino
ao setor de serviços retrata a chegada dos IEDs a um maior número de setores. No entanto,
essa tendência pode estar sendo superestimada, devido ao aprimoramento das fontes de dados,
citado anteriormente (FREITAS e KUPFER, 2018, p. 29).
Segundo Freitas e Kupfer, há uma mudança no setor de destino dos IEDs chineses no
Brasil, em que a Indústria Extrativa (principalmente no setor de petróleo) diminui sua
participação, ao passo que a Indústria de Eletricidade e Gás aumenta. Em 2010-2011, a
Indústria Extrativa era o destino de 87% do valor investido pela China no país, enquanto o
setor de Eletricidade e Gás e o de Transformação correspondiam a 8% e a 4%, nesta ordem –
refletindo os grandes empreendimentos da Sinopec na área de petróleo. Contudo, essas
participações se modificam, e no terceiro biênio, o percentual da Indústria Extrativa se reduz
para 8%, o da Indústria de Transformação se estabiliza em 20%, enquanto o da Indústria de
Eletricidade e Gás atinge 62% - retratando os investimentos da State Grid e da China
ThreeGorges no setor de energia elétrica (FREITAS e KUPFER, 2018, p. 30-31).
No que se refere à Indústria de Transformação, os investimentos são aleatórios entre
os períodos, exceto pelo contínuo interesse no setor automotivo. Geralmente, em um dos
biênios, ocorre uma transação com valor significativo, mas nos demais, só são realizados
investimentos pequenos, resultando em picos de investimento. Tudo indica que, na Indústria
de Transformação, as empresas chinesas estariam aproveitando oportunidades esporádicas
presentes no mercado brasileiro, ao invés de um interesse crescente por uma divisão dentro
dessa Indústria (FREITAS e KUPFER, 2018, p. 33).
Logo, apesar da análise do número e do valor das transações sugerir uma
diversificação na distribuição setorial, isso não se refletiu em uma tendência de
desconcentração dos investimentos em relação às principais operações, nem em relação às
principais empresas investidoras - isto é, os IEDs de maior porte continuam sendo, ao longo
desses sete anos, no setor energético (FREITAS e KUPFER, 2018, p. 30).
Por último, embora o principal método de entrada dos investimentos chineses no
Brasil ainda seja via F&A, há também o crescimento do ingresso por meio da expansão
orgânica (NOVO) – de 4% do montante total investido e de 37% da quantidade total de IEDs
chineses, em 2010-2011, atinge 30% e 43%, respectivamente, em 2015-2016, como visto na
tabela abaixo. Já os investimentos que ingressam via fusões e aquisições correspondiam a
53% do número de transações no primeiro biênio, enquanto no último caíram para 43%,
embora a participação no montante total investido no país (66%) seja maior que o dobro dos
investimentos através de expansão orgânica. (FREITAS e KUPFER, 2018, p. 34-35).
Fonte: (FREITAS e KUPFER, 2018, p. 35)
4) Conclusão:
O discurso disseminado pelo Conselho Empresarial Brasil-China era de que os IEDs
chineses no Brasil se concentraram em diferentes setores ao longo do período de 2010 a 2016,
sendo possível, inclusive, sistematiza-los “em fases” - em que cada uma teria como destino
principal um determinado setor. No entanto, se olharmos a base de dados compilada por
David Kupfer e Felipe de Rocha Freitas, podemos notar que a grande magnitude do IED
durante esses sete anos é constituída por investimentos de grande porte, que ingressam em sua
maioria, via fusões e aquisições, feitos por uma pequena quantidade de empresas em um
número limitado de setores. Mais especificamente, seriam os grandes empreendimentos da
State Grid, da China Three Gorges Corporation e da Sinopec, no setor energético – as duas
primeiras na distribuição e transmissão de energia elétrica e a última, no setor de petróleo.
(FREITAS e KUPFER, 2018, p. 15 e 24).
Porém, não se pode negar que, em relação à distribuição setorial, os IEDs chineses são
bastante diversificados. Existem investimentos chineses em uma gama de setores no país, e
em relação à quantidade, os investimentos nos setores de serviços e na Indústria de
Transformação são numerosos. Contudo, esses investimentos são relativamente menores,
quando comparados aos investimentos na área de energia.
Segundo David Kupfer e Felipe de Rocha Freitas, a trajetória do IED chinês no país
apresenta três tendências principais: uma mudança na composição setorial, em que há um
aumento da participação do setor de serviços e uma mudança no setor principal de destino dos
IEDs (de Indústria Extrativa para Indústria de Eletricidade e Gás); um crescimento do valor
investido dos IEDs que ingressam via expansão orgânica, ainda que o método principal seja a
entrada através de fusões e aquisições; e uma desconcentração dos investimentos no segundo
biênio (2012-2014), apesar dos IEDs serem concentrados ao longo de 2010 e 2016, no que se
refere aos setores e às empresas investidoras (FREITAS e KUPFER, 2018, p. 29).
No entanto, apesar da análise do número e do valor das transações sugerir uma
diversificação na distribuição setorial e um maior ingresso via F&A, isso não se refletiu em
uma tendência de desconcentração dos investimentos em relação às principais operações, nem
em relação às principais empresas investidoras - isto é, os IEDs de maior porte continuam
sendo, ao longo desses sete anos, no setor energético, e ingressando por meio de fusões e
aquisições (FREITAS e KUPFER, 2018, p. 30).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ACIOLY, L.; PINTO, E. C.; CINTRA, M. A. M. As relações bilaterais Brasil-China: a
ascensão da China no sistema mundial e os desafios para o Brasil. Brasília: Ipea, 2011.
CONSELHO EMPRESARIAL BRASIL CHINA. Investimentos Chineses no Brasil. Rio de
Janeiro, 2011.
CONSELHO EMPRESARIAL BRASIL CHINA. Boletim de Investimentos Chineses no
Brasil 2012-2013. Rio de Janeiro, 2014.
CONSELHO EMPRESARIAL BRASIL CHINA. Investimentos Chineses no Brasil 2014-
2015. Rio de Janeiro, 2016.
CONSELHO EMPRESARIAL BRASIL CHINA. Investimentos Chineses no Brasil 2014-
2015. Rio de Janeiro, 2017.
GRUPO DE INDÚSTRIA E COMPETITIVIDADE DA UFRJ. Base de Dados sobre IEDs
Chineses no Brasil. Rio de Janeiro, 2016.
KUPFER, DAVID. E FREITAS, FELIPE ROCHA DE. Direções do Investimento Chinês
no Brasil 2010-2016: Estratégia Nacional ou Busca de Oportunidades. Rio de Janeiro,
2018. Disponível em: http://funag.gov.br/loja/download/CHINESE-GLOBAL-
INVESTIMENT_FINAL.pdf
KUPFER, DAVID; ROCHA, FELIPE; TORRACA, JULIA. Investimento Estrangeiro
Direto Chinês no Brasil: 2010-2016. 2018. 23 slides.
NETO, IDERLEY COLOMBINI. Dinâmica Capitalista dos Investimentos Chineses no
Brasil. Rio de Janeiro: ActionAid, 2016