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2⁰ Simpósio Internacional de História das Religiões
XV Simpósio Nacional de História das Religiões
ABHR 2016
Cristo um revolucionário: sua influência a partir da sua ação com o povo.
Janaina Preterotto Lourencon1
1. Introdução
O objetivo desta proposta de trabalho é abordar temas envolvendo crenças,
uma matéria nem sempre fácil, ainda mais em uma conjuntura social na qual todos os
preceitos trazem indicadores de realizarem o contrário daquilo que suas escrituras
dizem.
A proposta deste trabalho é buscar através de Max Weber2 e sua Sociologia
Compreensiva, o entendimento das relações entre indivíduos, para compreender o
todo, ou seja, a própria comunidade e suas teias sociais, tomando como foco a
criticidade e o discurso científico para estabelecer as relações ao longo do trabalho sem
negligenciar seu contexto. Conhecer a conjuntura sócio política de Jerusalém no século
I através do olhar de Joachim Jeremias, nos trará a luz sobre a importância do templo
não apenas para crença deste povo, mas também a importância econômica que este
mantinha como mola propulsora da economia da cidade. Seu governo consensual
determinava as leis e o direito pelo poder se caracterizava na busca da linhagem pura,
que seria pertencer a uma das 12 tribos de Israel sem se misturar com outros povos e
assim também era para obter o poder sacerdotal.
1 Graduada em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Pesquisa realizada como desdobramento do trabalho de conclusão de curso sob orientação do Professor Doutor Breno Martins Campos. [email protected] 2 Tese: A Sociologia compreensiva de Weber e a sua relação com o direito. Traz a ideia do que seria o “tipo ideal” ou perfeito a ser buscado por todos.
Entre crenças e desavenças, Alexandre no comando de Roma, expande seus
domínios e conquista a terra sagrada instaurando em grupos mais radicais o desejo da
retomada do poder. Aos que almejavam espécie de romance na história, onde o povo
retoma o controle de sua história e tudo volta a ser como antes, observamos a busca
pelo poder se colocando acima da história de um povo, quando os irmãos Macabeus
(líderes da retomada de Jerusalém) tiram do poder sacerdotal a linhagem pura e
colocam outra família que os auxiliaram na guerra.
Conflitos pela pureza da representatividade de Deus no templo se afloram e 100
anos depois há a disputa entre dois irmãos dessa mesma família pelo sacerdócio, quem
governa o templo, governa o Estado, então ambos, Hircano e Aritóbulo, colocam de
novo Jerusalém como protetorado de Roma que separa o poder Sacerdotal do poder do
Estado eliminando todos do sinédrio e também aqueles que se opunham ao governo,
incluindo os chamados Messias, homens que se levantavam contra o governo
influenciados pelas escrituras que regiam esse povo dizendo que um homem (o Messias)
viria como rei dos judeus para libertar seu povo e instaurar o Reino de Deus na Terra.
Os segredos ficam por conta de questionamentos discursivos que o censo
comum repassa de geração a geração, mas que nos traz outro viés através do olhar de
autores como Reza Aslan (1972) que mediante esse contexto histórico nos permite
entender o porquê da diferença causada por Jesus, um ator social que vinha espalhando
uma ideologia de vida onde os primeiros a herdarem o Reino seriam os marginalizados
da sociedade como homens sem a linhagem pura, mulheres (que na época eram
tratadas como vergonha), leprosos e pobres, onde a pobreza caberia como condição
mínima para ser um verdadeiro merecedor deste Reino.
Relações como essas e algumas outras trarão à tona a perspectiva de Jesus, o
Nazareno, como propulsor de uma nova sociedade que não se apega a status e poder,
tão pouco se orienta por gênero ou classe social e determina que sua ação para o
próximo deva ser como aquele que vem para servir e não para ser servido, ocasionando
o caus nas duas instâncias de poder, ao ponto de ser acusado, julgado, condenado a
morte de cruz para servir de exemplo a todos que disseminassem seus ensinamentos.
O mistério fica por conta de como mesmo depois de morto, sua ideologia
continua a alcançar novos adeptos. Saulo foi um deles, soldado do sinédrio que aderiu
ao movimento de Jesus, mudou seu nome para Paulo e de perseguidor de cristãos passa
a ser um perseguido, instaurando um novo patamar de adeptos, onde além dos
excluídos da sociedade judaica poderem herdar o Reino dos céus, agora com Jesus, o
Cristo, que enviou Paulo a pregar para toda criatura do mundo os gentis (não judeus)
também conquistavam o direito de herdar esse Reino.
2. A subjetividade da sociedade de Jerusalém: como o poder, a crença e a
economia se sustentam.
A Antropologia, braço fundamental das Ciências Sociais, através dos olhos de
Clifford Geertz3 nos ajuda a enxergar a importância de levar em consideração aquilo que
não se pode ver como crenças e rituais de uma comunidade. Mais que o mercado, a
economia ou a moeda que sustenta o mercado de uma sociedade, os objetos de crença
da mesma
refletem e interferem diretamente naquilo que são.
A alteridade permite que o olhar colocado sobre a comunidade venha sem
julgamentos unilaterais e passe a observar as lutas estabelecidas nos desfazendo
daquilo que somos para sermos um pouco daquilo que são, tendo a oportunidade de
chegar mais perto de uma possível e aberta compreensão dos fatos nos livrando de
fatídicos certos ou errados vindos de convicções unilaterais adquiridos a partir da nossa
própria cultura.
Joachim Jeremias4 nos elucida Jerusalém como uma cidade completamente
estratificada, desde seu comércio dividido entre os profissionais nobres, como
3 Clifford James Geertz, antropólogo discute sobre a cultura de um povo ser entendida somente
em sua totalidade, por isso não devem ser estudadas de forma isoladas. Sua revolução na antropologia fica por conta do método interpretativo e da adoção da interdisciplinaridade em suas pesquisas. Biografia disponível em www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-77012001000100012&script. 4 JEREMIAS, Joachim. Jerusalém no tempo de Jesus: Pesquisas de história econômico-social no período neotestamentário,1900.
vendedores de lã, tapete, coberta, tecidos em geral, unguentos, resinas perfumadas,
como as profissões ditas desprezíveis destinadas às mulheres na tecelagem, o pisoeiro
(tingem tecidos) e as profissões passíveis de corrupção como vendedores e
atravessadores.
Fora do labor legal da sociedade, encontra-se os extremos do “não-trabalho”, os
renegados que se voltam ao banditismo, em sua maioria vindos do deserto, e os
moradores do Templo Judaico, onde cerca de 200 sacerdotes se dividem entre as tarefas
de sua manutenção, todos sob as ordens do representante de Deus de ordem maior, o
Sumo Sacerdote, que mantém em suas mãos o poder do Estado Israelita, uma vez que
este possui uma Política Consensual.
O Templo e suas ações eram o foco principal de toda economia, considerando
mercados que vendiam animais para sacrifício, óleos para unção, azeites, e também o
mandamento de cada um deixar sua décima parte como entrega de seu dízimo. Caso
aqueles que moravam fora da cidade não pudessem trazer seu cereal, esta décima parte
deveria ser gasta no comércio, para valorização da cidade. Essas ações ramificavam
outras fontes de renda também como os artistas, fabricantes de mosaicos, carregadores
de água, açougueiros, comerciantes de couro, trabalhos realizados em resposta ao
Templo.
Todas em sua maioria realizadas por homens. A estratificação de gênero nesta
sociedade é deveras forte, colocando a mulher como moeda de troca por escravo,
pagamento de dívida e procriadora. Seu objetivo principal na sociedade era de cuidar
dos afazeres do lar e dar ao esposo um filho homem, para que este pudesse prosseguir
com os negócios da família. Não tinham direito na política, nem aos cargos Sacerdotais
no Templo.
Não tinham obrigação de aprender os ensinamentos como os homens e seus
testemunhos nem sempre eram aceitos, tendo inclusive local separado para realizar
seus rituais. Também não era preciso conhecer as leis, porém poderia ser submetida ao
julgamento destas, tendo como veredito a morte por apedrejamento. De forma
nenhuma poderia mostrar seu rosto na rua, sendo uma vergonha para qualquer homem
sequer, passar na mesma calçada.
Conjunturas estabelecidas por anos de crenças e de ações reforçadas por um
misticismo passado de geração a geração que tem como origem os escritos da Torá5,
onde conta-se a história de como o povo Hebreu (descendência judaica) vem desde os
primórdios do Egito sob a liderança de José que gera 12 filhos, dos quais sairiam as 12
tribos existentes no século I, Judá e Benjamim ao Sul tendo Jerusalém como capital e as
outras 10 tribos ao norte, tendo Samaria como capital e rival direta na busca pelo direito
de ter em seu território o Templo Sagrado, pois teve que construir para si o próprio meio
de ofertar seus sacrifícios, visto que não possuía mais a linhagem pura, decorrência do
cativeiro na Babilônia.
Nestes escritos a cosmologia traz a vinda de um messias, que libertaria o povo
de um mundo de opressão e estabeleceria na terra o Reino dos Céus. A crença e o “tipo
ideal” weberiano se misturam ao analisarmos quem seria digno de pertencer a esse
novo Reino e quem seria destinado ao Sheol, (inferno) lançado no fogo e no enxofre;
apenas aqueles ditos da linhagem pura de sua tribo herdaria o Reino dos Céus, todo
restante da sociedade não, e ainda assim, mesmo conhecendo até a quinta geração de
seus antepassados era preciso participar das três festas realizadas no templo, e ofertar
seu sacrifício vivo6 para expiação de seus pecados.
A partir deste momento podemos analisar no emaranhado destas teias sociais
uma sociedade extremamente estratificada, que precede de uma crença cujo motor
propulsor dos acontecimentos está na esperança da vinda de um Messias que irá
instaurar um Reino celestial e que acabará com o cativeiro deste povo, cujo
representante terreno possui o dever de lidera-los tanto em sua economia, quanto no
cumprimento de sua fé, justamente por esta ser a terra prometida, a Terra Santa, onde
5 Livro que rege a crença Judaica. Corresponde aos cinco primeiros livros do Antigo Testamento da Bíblia Cristã- Gênesis, Êxodo, Levíticos Números e Deuteronômio. 6 Essa oferta deveria ser realizada conforme seu poder aquisitivo de pombos a cordeiros, todos sem mácula, ou seja, sem qualquer defeito.
o próprio Deus tomará o seu lugar e virá para governa-los, justificando assim o
comportamento incisivo de cada um em manter-se como o próprio tipo ideal.
De textos já lidos e ações analisadas, podemos observar na prática, como quem
realiza uma etnografia, porém bibliográfica, a busca verídica do que Max Weber chama
de “tipo ideal”. Nesta sociedade, o ideal não fica apenas no plano das ideias, seus líderes
precisam se manter puros, pertencer à linhagem perfeita e lutar com suas leis e suas
punições severas no intuito de manter tal ordem social.
No seio social para que tal ideal se mantenha ativo, encontramos enredado três
das quatro classificações do indivíduo de Weber; a ação racional, que leva homens e
mulheres a morte em defesa fiel as suas condutas de valores; a ação afetiva, cujos
preceitos emocionais na defesa da vinda do seu Deus, os levam a definir suas ações; e
por último a ação tradicional, carregada de costumes, crenças e hábitos passados de
geração a geração e são reproduzidos muitas vezes sem nem mesmo conhecer o motivo
pelo qual procedem.
Desta forma, podemos aumentar nosso leque visual para esta comunidade na
busca por entender o porquê de seu comportamento fervoroso quando sua ordem é
colocada em risco.
3. Roma x Jerusalém: hibridismo cultural7 ou apropriação da cultura?
Em 586 a.C. Jerusalém havia sido invadido pelo povo da Babilônia e tiveram o
Templo destruído. Este cativeiro fez com que as culturas de ambos se chocassem e parte
do povo perdesse sua linhagem pura. O foco especial vai para duas tribos, a de Judá que
se manteve fiel aos costumes e cuja linhagem pura culminaria no nascimento do
esperado messias e para o povo de Samaria, principal povo que se deu a hibridização
cultural acarretando algumas consequências.
O retorno dos judeus às suas terras se deu apenas após Babilônia ter sido
conquistada pelos Persas, ainda assim, voltaram para reconstrução do Templo apenas
7 Fenômeno histórico- social que gera contato permanente entre grupos distintos. Todo aquele que se diz
migrante está sujeito a ser um alguém hibrido, uma vez que deixa sua terra natal e passa a se familiarizar
com os costumes da nova comunidade.
aqueles que perseveraram e se mantiveram fiéis aos antigos costumes. O povo de
Samaria foi convidado a não participar da reconstrução do seu Templo, bem como a não
oferecer as ofertas de sacrifício.
Tanto o império Persa como o da própria Jerusalém foram alvos do alargamento
territorial liderado por Alexandre, o Grande, que possuía em sua ideologia, difundir por
onde conquistasse a cultura grega. Após sair cativa, o povo judaico está em casa, mas
possuía um novo governante.
Em 198 a.C o governo foi para as mãos de Antíoco Epifânio, o egípcio, que
acreditava ser o próprio Deus encarnado causando imenso choque cultural, ao investir
contra a divindade judaica e seus cultos. Tais ações culminaram em revoltas civis
lideradas pelos irmãos Macabeus.
A partir de então, o povo passava a viver na apocalíptica do fim dos tempos, onde
todos seriam julgados e aqueles que não eram da linhagem seriam lançados ao fogo do
inferno e o Reino de Deus seria estabelecido livrando o povo do cativeiro. Alimentavam
cada vez mais a esperança pela vinda do Messias.
De 62 a 4 a. C. agravando esse quadro social de revolta, os governantes
levantados por Roma se apropriaram dos tesouros do Templo para financiar grandes
obras no combate ao desemprego. A profanação do sagrado tomava grandes
proporções. Herodes, governador romano em solo judaico, sabia do respeito existente
a linhagem pura para assumir o cargo de Sacerdote, da mesma maneira que conhecia o
poder e a influência que o mesmo oferecia, por isso queima livros de registros
genealógicos enfraquecendo a legitimidade na comprovação de suas cinco gerações na
busca pela linhagem pura.
Joachim Jeremias descreve que estas informações foram extraídas de textos de
Júlio, o africano8 e que este livro também fora escondido, transformando a questão
genealógica em alvo político, onde o interesse pelo sumiço de tais documentos envolve
também às famílias patriarcais palestinas, às famílias prosélitas9 na busca em oferecer
os atributos necessários na sucessão do sacerdote. A comprovação genealógica garantia
8 Viajante e historiador cristão do final do século II d.C. e início do século III d.C 9 Povos misturados com não judeus.
também direitos cívicos e o direito de ocupar cargos públicos. Para apurar tais casos
após a destruição de muitos documentos, foi criado um grupo de Sacerdotes que
formam o Sinédrio, responsável para julgar as denúncias sobre ilegitimidade.
Todos esses fatos anteriores ao século em questão ao trabalho são fundamentais
para entender a contextualização dos acontecimentos do século I. O tempo de posse do
governo readquirida pelos irmãos Macabeus foi de 100 anos, até chegar o ano de 63 a.
C. e os irmão Hircano e Aristóbulo disputarem o cargo de Sacerdote e decidirem, ambos,
chamar o governo de Roma para definição da disputa. Hircano se torna o Sumo
Sacerdote e Jerusalém volta a ser protetorado de Roma mais uma vez, mas agora, com
a “apreciação” de seu líder. O Estado deixa assim, de ser uma teocracia e possui dois
governos, o do Templo e o de Roma.
Os conflitos aumentavam e Aristóbulo almejava a queda do irmão. Massacres,
cidades queimadas, povos escravizados, mortes em massa, famílias cultivadores de
terras pagando altos impostos, interferência na escolha do Sacerdote e ofertas em nome
do imperador ao Deus Judeu.
De fato, os costumes deste povo não foram erradicados, haveria a hibridização
cultural desde que os itens acima fossem seguidos. Mas a que ponto tal envolvimento
pode ser considerado como hibridização cultural, onde povos, costumes e crenças se
misturam e passam a usufruir de uma nova construção social, se podemos fazer uma
leitura levada para a apropriação cultural forçada, destacada didaticamente por Cássia
Lobão Assis e Cristiane Nepumucemo10 como “ação imposta por coerção, onde não há
escolha por parte da sociedade que tem sua cultura suplantada”? Talvez entremos em
reflexões maiores acerca do assunto, visto que fora o preço a ser pago para que
houvesse a disputa pelo cargo de Sumo Sacerdote entre Hircano e Aristóbulo e de
muitas facções ali formadas emanavam o direito de serem apoiadoras do governo de
Roma em troca do status.
As características da Jerusalém do século I, permeia então na reação social como
resposta às concessões realizadas ora por motivos religiosos, ora por motivos políticos.
10 Estudos contemporâneos da Cultura
Se por um lado a Sinagoga veio para legitimar aqueles que possuem dúvida acerca de
sua pureza de linhagem, esta também facilita a criação de diversos grupos judaicos
interessados em preservar ao extremo a fé judaica. Nesse momento, início do século I,
podemos analisar dentre tantas ramificações sociais, a ênfase em dois polos, os que
lutam pela cultura pura e aqueles que percebem a força da cultura helenística e optam
pela hibridização justamente para preservar a cultura que lhe é de direito.
4. Ação e reação: a busca pela ordem e a revolução de Jesus, o Nazareno.
No tipo ideal de Weber temos então, após tantos entraves sociais o tipo ideal
caminhando para o plano de fato das ideias. Não se sabe mais ao certo de sua linhagem,
uma vez que seus documentos foram destruídos, não se tem mais o controle do
merecimento Sacerdotal sobre a linhagem pura uma vez que todos do sinédrio foram
mortos e a função torna-se alvo de relacionamento com Roma.
O ser judaico vê sua subjetividade sendo corrompida pelos preceitos do poder e
da força. A desigualdade se torna um campo vasto e os quadros de exclusão são
invertidos. Aqueles que antes tinham o direito de se sentir superiores pela legitimidade
de sua linhagem, neste momento se tornam alvos, provas vivas em via de destruição.
Kurt Schubert 11 na obra, Os partidos religiosos Hebraicos da época
neotestamentária (1.985), elucida uma ordem social, onde grupos são erguidos para
defenderem sua nação dos estrangeiros e de oportunistas políticos. Grupos religiosos
de enfrentamento que buscavam tomar o poder para que, além de retomar o controle
físico da Terra Santa, pudessem impor também a sua própria visão apocalíptica do fim
dos tempos. Alguns acreditavam inclusive que o grande julgamento aconteceria nesta
geração.
Fariseus - duplamente privilegiados na crença judaica, primeiro por pertencentes
a linhagem pura sacerdotal, e serem da linhagem do Rei Davi, linhagem da qual viria o
Messias esperado. Eles também não criam no fim dos tempos para sua geração, lhes
11 Escritor de cunho teológico bíblico com base em livros históricos não pertencentes a Biblia como os escritos de Flavio Josefo e os descobertos na caverna de Qumrã, nas escavações de Hirbert, manuscritos de Henoc e das grutas a noroeste do Mar Morto (p 09).
permitindo a visão mais elaborada sobre o “dia de amanhã” e por isso flexíveis para com
governos, uma vez que seu intuito é se manter no poder, por isso aderiam ao poder
através do viés administrativo formal e seguro, sendo considerado o Judaísmo
Normativo, sendo responsáveis em passar o conhecimento para o povo. Neste grupo, o
entendimento é de que todos fazem parte do Reino de Deus;
Saduceus – Dividia o poder no Sinédrio com os Fariseus. Eram a elite do Templo
e se opunham aos sacrifícios de não judeus no Templo. Acreditavam que cada ser é
responsável por si, inclusive aquele que vivia na miséria. Assim como os Fariseus eram
grandes conhecedores das leis da Torá e assimilavam a cultura e o poderio de Roma para
se manterem no poder.
Assideus e Essênios – Os Essênios sendo grupo mais radical dos Assideus, são
extremamente voltados a busca pelo tipo ideal em terra, Fundaram o mosteiro de Qmrã
para desenvolver os estudos e viver separados do mundo corruptível. Se opunham aos
Sacerdotes do templo, visto que não criam em sua idoneidade, com isso, foram
proibidos de realizar suas ofertas de sacrifício. Acreditavam serem os únicos a entrar no
Reino do Céu. A diferença entre os dois grupos
Zelotas e Sicários – Tidos como movimento revolucionário rural da Judéia, os
Sicários são subgrupo radical dos Zelotas, sendo identificados como “homens com
punhal”. Tinham profundo Zelo com o sagrado e são considerados responsáveis pelo
levante contra Roma na Guerra Judia em 66-70 d.C., vencedores no início, mas que
culminou na destruição de Jerusalém e do Templo.
Lestais – Movimento vindo com campo, em suma da Galileia, local onde viviam
cerca de 100 famílias de pequenos agricultores e que fora engolida pelas grandes
plantações. Com a perca das terras e a cobrança de altos impostos alguns agricultores
trocaram a inchada por espada, acusando Roma pela miséria vivida, roubavam dos ricos
e entregavam aos pobres.
Movimento Messiânico – Dentre todos os movimentos que surgiram, até a
atualidade ouve-se sobre a aparição de homens que se denominam ser o Messias do
povo. No século I, Jerusalém conheceu um ator social que possuiu destaque dentre
tantos outros, no caso, foco principal deste estudo, Jesus o Nazareno.
Muitos enfoques foram dados a sua história, mas seu caráter revolucionário vem
de tantas ações realizadas durante sua vida que demonstram de forma não sucinta, mas
diferente da literatura acompanhada nos dias atuais, mostra que suas atitudes
confrontava todas as ordens sociais da época.
O sinédrio possuía a representação divina, Jesus era o filho de Deus; Roma tinha
o poder do Estado, ele estabeleceria o próprio reino, os grupos radicais aguardavam um
rei de conquistas, ele reinaria pelo amor, o messias seria submisso ao sacerdote
escolhido e de pura linhagem, não haveria ninguém acima de seu pai, Deus; Nada viria
de bom da Galileia local pobre e de Lestais violentos, essa era sua terra natal, onde
levava a mensagem do amor e do respeito ao próximo.
Claro que em sua casa não conseguiria apoio algum. Jesus apareceu com seus
ensinamentos momentos após Herodes12 ter queimado cidades, enforcado pessoas,
arrasando com qualquer pessoa que cometesse crime de sedição contra o governo
romano, ato passível de morte pela cruz. Tudo aconteceu quando Aristóbulo, na disputa
pelo Sacerdócio, prende Fasael (irmão de Herodes) e este se mata. Herodes que cuidava
apenas da Galileia, passa a cuidar de toda Judeia, matando todos do Sinédrio, vendendo
todos os cargos para qualquer um que quisesse ocupá-los. Gerando um confronto após
sua morte (de Herodes) liderada por Judas da Galileia, tendo como resultado uma
crucificação de mais de 2.000 pessoas, que faziam parte de um dos grupos de revolta
contra Roma, caracterizados como Zelotes após 70 d.C.
Não há muitos registros sobre a infância ou a juventude de Jesus, nem ao menos
nos registros bíblicos, mas dentre tantas possíveis características, a de ousado é a que
mais se adequaria a qualquer análise sobre seu comportamento.
5. Morte de cruz: exemplo de que?
12 Filho de Antíoper, nobre hebreu que por ficar ao lado de Roma conseguiu cidadania romana e com isso herdou para seus filhos Herodes e Fasael poderes administrativos sobre toda Judéia.
Ao findar este trabalho, poderemos observar que muito mais nos cabe a
pesquisar além do proposto. Trazido por Gerd Theissen13 como líder de um movimento
social de renovação intra judaica nascido em um momento difícil de insatisfação pela
qual a sociedade israelense vinha passando almejando por alguém que restaurasse a
soberania de seu povo, Jesus sai da Galiléia, vai até o deserto para ser batizado por João
Batista que possuía sua própria filosofia de abertura para o grande messias e de
arrependimento e perdão dos pecados pelo batismo das águas e não mais pelo sacrifício
de animais. Jesus fica determinado tempo no deserto, que sob a ótica de Reza Aslan
(1.972) Jesus participou da escola de João Batista e este sai como o messias a ser
esperado pelo povo, levando a todos uma nova ideologia de vida conquistando o apoio
de pequenos simpatizantes.
Nunca se declarando rei, ou messias por conhecer o que acontecera com seus
precursores, aglomerava discípulos que deixavam suas famílias, suas casas e seu
dinheiro para propagar as chamadas boas novas14, ações constantes de quebras de
paradigmas sociais que aumentavam no povo a esperança de dias melhores e mais,
davam a eles o direito às pessoas que viviam nas margens, de serem reintegrados no
seio dessa sociedade.
De início, após todo nosso estudo acerca da importância genealógica deste povo,
nos deparamos com um dos seus ensinamentos acerca da família. A conjectura familiar
não estava mais apenas nos laços sanguíneos, mas sim a todos aqueles que ouviam e
praticavam os ensinamentos apresentados.
No quesito desmarginalização, havia um espaço afastado da cidade onde ficavam
todos aqueles que possuíam lepra. Não havia cura para a doença na época e qualquer
que quisesse tentar se purificar, precisaria pagar aos Sacerdotes por 7 dias de cuidados,
para só então retornar à cidade. Ao passar pela cidade dos leprosos, Jesus não apenas
parou para conversar com eles, como também curou de graça a 10 deles. Como
13 Autor da obra Sociologia do Movimento de Jesus (2009). 14 Referência ao ensinamento das novas regras que dão o direito a qualquer um que as segui-las de herdar o Reino dos Céu – boas e novas notícias.
pagamento, favor ou ordenança pediu apenas para que fossem contar o que havia
acontecido ao Sacerdote. No mínimo, ousado.
Na conversa em um poço como uma mulher, Jesus lhe pede água e esta se
assusta ao vê-lo dirigindo a palavra a ela. Este ser era mulher, samaritana e não estava
com seu primeiro marido, Jesus espera seus discípulos se afastarem, e então oferece a
ela a água da fonte da vida, na qual não haveria mais sofrimento, ela não seria menor
por ser mulher, teria direito a pertencer ao novo reino (impedida até então por não ter
a linhagem pura desde o cativeiro de Babilônia) e não seria mais julgada por ter tido
mais de um homem como companheiro.
Mesmo não se intitulando messias, ou rei dos judeus por onde passava, ao
decidir entrar na cidade de Jerusalém o fez montado em um jumentinho, filho de uma
jumenta, para qualquer um seria algo natural tal ação, sim, se não fossem as escrituras
sagradas contendo exatamente essa descrição para a entrada do messias. Conhecido
como domingo de ramos, em plena cidade santa, onde estão concentrados os dois
poderes administrativo e religioso, eis que uma multidão o aclama com ramos repetindo
em bom tom “Hosana, filho de Davi”, salva-nos agora ó Senhor. Se Jesus já havia
chamado a atenção com seus ensinamentos e conselhos sobre igualdade e perdão, o
que diriam agora demonstrando publicamente sua influência legitimada através do
povo?
O que dizer então de sua entrada no próprio Templo, cujo pátio estava carregado
de mercadores e mercadorias sendo vendidas e este chega e derruba todas as mesas
dos cambistas, liberta as pombas e os repreende, “Está escrito: ‘A minha casa será
chamada casa de oração’; vós, ao contrário, estais fazendo dela um ‘covil de
salteadores”15.
Apesar do modo rude como reagiu ao que viu, não estaria intrínseco nesta ação
o repudio pela profanação do sagrado, pedindo para uma nova ordem de quebra para
com as desigualdades, o fim entre a miséria e a bonança, entre o inescrupuloso e o
zeloso?
15 Bíblia – Mateus 21-12
desta forma, concluímos que o pensamento contido também quando este pede
para que todos “deem a Cezar o que é de Cézar e a Deus o que é de Deus” 16 se referindo
o não pagamento dos impostos pelas suas terras, uma vez que todo aquele que paga
pelo produto legitima o fato deste nunca ter-lhe pertencido, portanto deem a Cezar o
que é de Cezar, ou seja, sua moeda, seu dinheiro, e deem a Deus o que é de Deus, suas
terras, enlouquecendo as autoridades por incitação ao não pagamento de impostos e
crime de sedição contra o governo. Crime passível de morte por cruz.
16 Nesta época Herodes havia falecido e seus sucessores não conseguiram conter os grupos de Lestais, Roma envia Julio Cézar para cuidar pessoalmente da Judeia. Na Bíblia a referência do texto está em Mateus 22.
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