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P ermanecem sobre a releitura da compilação de parte da obra de Carlo Michelstaedter um questionário familiar 2 , publicado separadamente por Sergio Campilla, no volume A ferri corti com la vita primeira edição em 1974, e a segunda em 1981. Descobre-se, com isso, uma operação hermenêutica interessante com o objetivo de investigar um * Ph.D Turin University. She has written numerous articles and books on Carlo Michelstaedter, Hans Jonas with official translations to Italian, some articles on Augusto Del Noce, Italian philosophers. She is interested in history of philosophy, in contemporary theoretical and moral thought and its roots in classical philosophy. She was member in examination boards of theoretical and aesthetic philosophy at the Department of Philosophy of the University of Turin. She has the title of Professor of II level in Moral Philosophy for National Scientific Habilitation in Italy (2014). She is redactor of the national journal “Filosofia e Teologia” (Philosophy and Theology), she is part of the steering committee of the journal on the philosophy and psychoanalysis “L’ombra” (The Shadow). m@ilto: [email protected] LESSICO FAMIGLIARE.QUESTIONARI E CONFESSIONI –CARLO MICHLESTAEDTER 1 [LESSICO FAMIGLIARE.QUESTIONARI E CONFESSIONI –CARLO MICHLESTAEDTER] Angela Michelis * RESUMO: Carlo Michelstaedter é um pensador do limite: limite entre a normalidade da tradição de pensamento que surge na modernidade e a anormalidade que surge com a tradição da filosofia existencialista do Séc. XX, que se recusa a conceber a consciência como puro resultado de uma relação com a coisa. Inaugurando um pensamento filosófico ímpar e de estilo radical, sua filosofia se presta a representar o modo de vida real de uma família nobre judaica que vive na Europa Central, marcada pelo conflito e pela dor da ausência de uma terra própria, uma pátria. Nesse artigo são narrados os sofrimentos e as concepções advindas dessa situação pelo próprio autor. PALAVRAS-CHAVE: Existencialismo; reflexão; filosofia judaica. ABSTRACT: Carlo Michelstaedter is a philosopher of the limit: limit between the normality of that thought coming from the modern era and that one coming from the anormality from the existencialist philosophy around 20th Century. This kind of philosophy refuses to concept the philosophy as product of the relation between the mind and the object. He begins a kind of single and radical philosophical thought, and his philosphy straight to represent a real way of life of a rich jewish family living at Central Europe, characterized by the conflict and pain for not having a country like a home. This article aims to tell about that suffering and conceptions coming from that situation. KEYWORDS: Existencialism; reflection; jewish philosophy. ISSN: 2318-9428. V.3, N.1, Abril de 2016. p. 135-158 DOI: http://dx.doi.org/10.18012/arf.2016.28195 Received: 27/08/2015 | Revised: 28/08/2015 | Accepted: 20/02/2016 Published under a licence Creative Commons 4.0 International (CC BY 4.0)

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Permanecem sobre a releitura da compilação de parte da obrade Carlo Michelstaedter um questionário familiar2, publicado

separadamente por Sergio Campilla, no volume A ferri corti com la vita –primeira edição em 1974, e a segunda em 1981. Descobre­se, com isso,uma operação hermenêutica interessante com o objetivo de investigar um

* Ph.D Turin University. She has written numerous articles and books on CarloMichelstaedter, Hans Jonas with official translations to Italian, some articles on Augusto DelNoce, Italian philosophers. She is interested in history of philosophy, in contemporarytheoretical and moral thought and its roots in classical philosophy. She was member inexamination boards of theoretical and aesthetic philosophy at the Department of Philosophy ofthe University of Turin. She has the title of Professor of II level in Moral Philosophy forNational Scientific Habilitation in Italy (2014). She is redactor of the national journal“Filosofia e Teologia” (Philosophy and Theology), she is part of the steering committee of thejournal on the philosophy and psychoanalysis “L’ombra” (The Shadow). m@ilto:[email protected]

LESSICO FAMIGLIARE. QUESTIONARI E CONFESSIONI – CARLOMICHLESTAEDTER1

[LESSICO FAMIGLIARE. QUESTIONARI E CONFESSIONI – CARLOMICHLESTAEDTER]

AngelaMichelis *

RESUMO: Carlo Michelstaedter é umpensador do limite: limite entre anormalidade da tradição de pensamentoque surge na modernidade e aanormalidade que surge com a tradição dafilosofia existencialista do Séc. XX, que serecusa a conceber a consciência comopuro resultado de uma relação com acoisa. Inaugurando um pensamentofilosófico ímpar e de estilo radical, suafilosofia se presta a representar o modo devida real de uma família nobre judaica quevive na Europa Central, marcada peloconflito e pela dor da ausência de umaterra própria, uma pátria. Nesse artigo sãonarrados os sofrimentos e as concepçõesadvindas dessa situação pelo próprio autor.PALAVRAS­CHAVE: Existencialismo;reflexão; filosofia judaica.

ABSTRACT: Carlo Michelstaedter is aphilosopher of the limit: limit between thenormality of that thought coming from themodern era and that one coming from theanormality from the existencialistphilosophy around 20th Century. This kindof philosophy refuses to concept thephilosophy as product of the relationbetween the mind and the object. Hebegins a kind of single and radicalphilosophical thought, and his philosphystraight to represent a real way of life of arich jewish family living at CentralEurope, characterized by the conflict andpain for not having a country like a home.This article aims to tell about thatsuffering and conceptions coming fromthat situation.KEYWORDS: Existencialism; reflection;jewish philosophy.

ISSN: 2318­9428. V.3, N.1, Abril de 2016. p. 135­158DOI: http://dx.doi.org/10.18012/arf.2016.28195Received: 27/08/2015 | Revised: 28/08/2015 | Accepted: 20/02/2016Published under a licence Creative Commons 4.0 International (CC BY 4.0)

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pouco mais as relações entre o pensador e a existência deste autor jovem,com uma juventude imortal – como já escrevera Alberto Cavaglion, em19883.

Como objetivo, neste artigo, trata­se de esclarecer a dissonânciaentre o lugar interior e exterior no qual nasce a pesquisa sobre o belo e obem, em Carlo Michelstaedter, que remete para sua grandiosa tentativade transformar esta dissonância em harmonia. O sentido e o significadoda parábola michelstaedteriana, em sua essência, é expressão datragédia do viver, de fato, que procura harmonia e paz a partir domomento presente da comunicação da palavra persuadida, da palavraque quer recolher aquilo que de universal está presente no individual.

A ambiguidade estilística e conceitual, bem como falta desistematicidade, que, neste autor, representam sinais de amargura, sãoigualmente traços característicos da filosofia existencialista, comotambém traços da filosofia de Carlo Michelstaedter, imagens fiéis daambiguidade multiforme e aberta da vida, que excede as nossasracionalizações. Nas filosofias desse tipo, são sinais paradoxais decoerência, motivos de atualidade persistente, frescor, e atratividade. EmMichelstaedter são, além disso, manifestações do exercício deliberadode persuasão antirretórica, de uma busca sem compensações da verdadedo viver individual e da palavra persuadida, ainda que não totalmente, afim de se expressar e de se comunicar em um espaço de autêntico amorpacificante, filia, pela vida.

Carlo Michelstaedter escreve, nestas confissões4, que “Tentarabstrair das mais fortes expressões da arte a razão humana do belo” é asua ocupação preferida. E declara que, para ele, a felicidade consiste“na intensidade dos sentimentos ligada com a faculdade de expressar­se”.

Ao abrir suas confissões, todavia, com uma reposta que remeteimediatamente à consciência da precariedade e da imperfeição, algunsresultados na busca pela ética, assim como na complacência dasexpressões e da escritura, ele reconhece, assim, Sócrates como o grandemestre. À pergunta Qual virtude emerge de ti?, prontamente responde:“Por que far­me­ia perder esta minha única virtude, exigindo umaautoconfissão?”

Surge, neste contexto, um modo de existir que, do espontâneo, do

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natural, toma o impulso propulsor do amor universal, amor que na suaidealidade é meta do viver persuadido, de Michelstaedter. Em relação àpergunta pelo o amor, escreve ele: “Defendo que o amor acolha em sitodos os sentimentos e os intensifique, tornando­se umaindividualização do amor universal de todas as coisas; creio, entretanto,no amor, em certo sentido, ideal”. Michelstaedte sabe, contudo, quecasos de sucesso pessoal e de degeneração, casos de vida e de morteestão presentes, ou são possíveis, em cada indivíduo. Por isso, ele sentecompaixão pelo ser humano e deseja compartilhar seus defeitos. O afetopelos próprios familiares aparece forte, ainda que saiba se situarmomentaneamente no conflito; tem atração por mulheres. Declaraaversão por tudo que é artefato e embrutecido, tem predileção pelaliteratura e pela arte italianas, incluindo a paixão por Firenze.

À pergunta sobre qual seria o dom preferido de um homem,Michelstaedter responde: “uma vontade decidida e forte”, uma vontadeque pode conduzir, segundo ele, à retórica das convenções burguesasdegeneradas, uma vontade que, mesmo assim, não se apresenta sem “odesequilíbrio de motivos internos intensos”, conforme escreve namesma resposta. Em relação ao seu estado de ânimo atual, assimescreve ele: “duvido de mim”.

Estas palavras, em concordância com o pensamento do ser, deCarlo Michelstaedter, como um todo, podem muito bem sugerir umexemplo da compreensão residual do mundo, possível no caos e naangústia da alta modernidade, mas, ao mesmo tempo, suas obras e suaexistência apontam para traços do “indestrutível” do qual se originam,lembrança daquela harmonia que ainda escutamos no silêncio, na fundode nossa interioridade, na qual não temos mais palavras certas nemsatisfatórias para definir: alma, consciência, razão, mente? Responde­se, assim, à questão sobre por que este autor, meio “imaturo”, percebeuum rápido crescimento da atenção de um público cada vez maior e deestudiosos de campos e orientações diversas. Michelstaedter continua adespertar grande interesse de pesquisadores diversos, sobretudo porqueviveu de modo autêntico e se comunicou com intensidade eradicalidade em vários idiomas, com preocupações e problemasessenciais do ser humano, entre os quais a consciência e o tormento,característicos do homem contemporâneo, como bem observou a Profa.Nynfa Bosco, da Universidade de Turim, a qual iniciou os estudos

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sobre Michelstaedter. Em 18 de agosto de 2013, porém, ela faleceu.

Carlo Michelstaedter expressa a dupla incapacidade do ser e donão­ser, de acordo com a tradição, no início do século XX, fazendo usode uma dialética própria da modernidade, que encontra a sua imagemmetafórica em cada figura diaspórica da emancipação traída pelahistória ou pela própria experiência existencial. Ele expressasentimentos e pensamentos que podem ser bem representativos deseguidores da idade moderna, os quais lê com uma sensibilidadeaguçada até as neuroses, e com uma coragem intelectual fora docomum. Nesse aspecto, com certeza, foi influenciado por suas múltiplasmatizes culturais, bem como o apego a determinados lugares: éoriginário da Europa Central, onde viveu desde o início do século XX enarrou a própria crise até o fim, pertenceu a uma minoria judaica,cresceu sufocado entre a assimilação e custódia de sua diferença e aatração pela língua, literatura e arte italianas, o desejo pela alma dacultura italiana.

Michelstaedter vive respirando os tempos irresolvidos da crise darazão, da certeza do positivismo burguês­europeu, dos desafios davanguarda em relação aos saberes cristalizados, aventurando­se, enfim,numa peregrinação final entre fraturas epocais complexas e interligadas,uma peregrinação que termina com uma resposta heroico­sacrificial.Parece um heroismo fraco, entretanto, isto que vive Michelstaedter, umheroismo fraco de quem se quem se entrega ao destino, com o suicídio,no retorno do pensador à vida; entretanto, na espetacularidade alcançadaentre pesnamento e vida, na impossibilidade de domínio absoluto de si,torna­se ainda mais próximo ao nosso sentir e ao nosso ser.

Na contemporaneidade, a pálida identidade do ser humano quasese reencontra e se reconstrói no imaginário da literatura, da arte, atémesmo na ideia filosófica; mas esta busca de reconexão é marcada porum destino de dificuldades, por uma generalidade própria, cujaremoção, que se confunde com a solidão da subjetividade, pode serfatal, e representar o mais ingrato dos destinos a ser alcançado em vida.

Em Carlo Michelstaedter, o lugar da verdade é uma urgênciaprimária, ou seja, respeito para com a harmonia formal, enquanto razãode vida, enquanto busca de sentido em cada atividade, na criaçãográfico­pictórica, até a literária e filosófica.

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Carlo, ainda bastante jovem, em agosto de 1905, escreve em umaagenda o seguinte: no momento em que sentimos a sublime verdade dascoisas no êxtase do sentimento e na produção artística, nós saímos donível das aparências que formam a nossa individualidade, e, nestemomento, nós nos misturamos com a natureza que admiramos, pois opróprio sentimento em si é natureza. Nesse instante, nós participamosda verdade objetiva e única, da “imagem inalcansável da verdade”,ainda que não estejamos conscientes disso5.

Nos Scritti scolastici, Michelstaedter descreve a arte comosendo “una sempre, porque uno é um sentimento que faz parte danatureza, do mundo absoluto”. Entretanto, a sensibilidade artistítica porsi mesma, em nós, não é absoluta. E se, por um momento, estasensibilidade se confunde com a natureza, que nos liga imediatamentecom a beleza universal, a consciência dela torna­se, poir isso,individual, porque advém de um organismo especial de um homem6.

A expressão artística parece inerente ao indivíduo que a cria;assim escreve ele na conhecida agenda O: “a obra de arte é umareprodução subjetiva do espírito das coisas, reprodução estacompletamente espontânea e inspirada”7. Nos Scritti scolasticiMichelstaedter não se esquece da perspectiva histórica, em particular,dada a profundidade da própria reflexão estética: assim, na explicaçãodo sentimento da arte, o artista imprime o selo da individualidade. Mas“os meios da expressão, os elementos de sua técnica são estritamentedependentes da disposição particular do seu espírito em relação ao lugaronde ele nasceu e viveu, às tradições e ao tempo”8. Assim, conclui eleque “cada intuição artística possui em si a razão da sua forma”9, e em Ildialogo della salute adverte metaforicamente o artista que “deseja veralém do muro a sombra do seu próprio perfil, no qual, precisamente,ele se destrói”10. Para ele, “é falso estabelecer leis sobre meios daexpressão artística”. A busca do belo, a preocupação com a forma, areflexão crítica não devem transformar­se em impedimento daexpressão da intuição artística.

Para Michlestaedter, conforme está escrito nos Scritti publicadospor Gaetano Chiavacci, em Opere, é “a experiência artística é a dormais aguçada e a vida mais presente, e provoca a alegria mais intensana afirmação de si mesmo”. Todavia, em relação ao artista, dizemos que“ele carrega apenas o peso da dor e compensa com a alegria e a vida,

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sempre buscando, porém, as coisas da vida como prêmio e alegria [ … ]Na sua desilusão, a dor não ganha vida nem forma por si mesmo”11.Ganhamos apenas a imagem retórica do seu tormento, a materialidadedas dores, das desilusões, não a vida da desilusão, a voz da saúde e daverdade.

Michelstaedter sempre repete: “A vida é vontade de vida, vontadeé deficiência, deficiência é dor, cada vida é dor. Mas cada coisa quevive, crê que é uma coisa viva e que tem [plenamente] a vida; e a dornão chama dor – a dor chama a revelação da não­essência do processono qual crê, naquilo que achava que estava sob seu controle”12. Se a luznão resplandece sobre a “irrealidade do processo”, para vivê­lointensamente, ela retorna para coisas novas, semelhantes às que se quesituam ao nível de uma certa transitoriedade. E e esse processo funcionacomo uma espécie compensação, dado que ainda sofre calada.

Quem quer que deseje viver verdadeiramente, recusa­se a viverem relação a coisas que tornam vãs a alegria e a dor dos outros – e nãose contenta com qualquer processo ilusório de que possa gozar, ou coma adesão imediata e apaixonada do viver, nem mesmo com o coloridodisfarçado de todas as coisas. “A sua vida é a recusa e a luta contratodas as tentações dessas satisfações ilusórias, sem desperdiçar o ato dascorrelações contínuas – que são posses ilusórias – que se afirmam etomam forma, e se criam em si mesmas”, ou seja, tornam­se arte13. Estaé autêntica via do artista!

O questionamento desorientado pela verdade surge dainterioridade abissal da pessoa como desejo de um presente maisintenso, plenamente satisfeito, que destrói as construções arbitrárias eartificiais das ficções da vida e não suporta a ideia de um primeiro­criador, bem como a retórica da arte, da cultura, da sociedade e dapolítica. Torna­se, deste modo e radicalmente, sublime empenho ético,con­sistência no presente, ou, em uma palavra, persuação.

Em La persuasione e la Rettorica, descrevendo a multidão,aquela que sobressai da maioria, Michelstaedter observa: “ Para a vidacomum os homens seguem em uma busca que não tem começo nemfim; vão e vêm, competindo, realizando tarefas como se fossemformigas – algumas vezes trocando­as entre si, – certamente, pelacaminhada que fazem, retornando sempre ao mesmo lugar como se não

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houvesse saída. O homem deve encontrar uma saída para ressurgir navida”14.

Nesse sentido, a trama dos valores ilusórios, entrelaçada com anossa vontade de continuação da vida, às vezes se acaba, às vezes sedesorganiza, quebra e deixa escapar a precariedade da existência emcada homem, inexoravelmente.

Qualquer acontecimento fortuito pode impedir uma consciênciade “entrar em relação com uma coisa” desejada, fazendo, assim, comque esta consciência seja anulada. A consciência, de fato, dada nessarelação, torna­se a própria afirmação e, no valor que a coisa em sipossui, torna­se o próprio valor, em uma situação existencial da faltaestrutural.

Entrementes, eis que a dor disfarçada que resulta da simplesdeterminação da percepção de sua própria impotência acompanha cadamomento da vontade, do desejo de vida, da philopsychia e torna­semedo da morte. Assim escreve Michelstaedter em La Persuasione e larettorica: “O sentido das coisas, o sabor do mundo existem apenas‘para continuar, ser vivo não é nada mais que temer a morte”15.

Michelstaedter entra em concordância com Shopenhauer, que, emO mundo com vontade e representação (1819), afirma: “Para a grandeparte das pessoas, a vida é apenas uma luta permanente pela existênciacom a certeza de uma derrota final. É isso que lhes dá toda a força parapersistirem naquele desastroso conflito, não é tanto o amor pela vida,mas apenas o medo da morte”16.

Em La persuasione e la rettorica, Michelstaedter afirma que“Neste pequeno espaço, tendo em vista um futuro que apenas pode seautorrepetir – até que se repita – o presente, que lhe contamina, cadavolta permanece sob seu controle. E onde está a vida se não nopresente? Se isto não possui valor, nenhuma outra coisa o possui. Eisque quem teme a morte já está morto”17.

Todo aquele que vive, sofre, em última análise, a própriainsuficiência, ou seja, a ausência da posse atual da própria vida. Se o serhumano, enquanto grau superior da natureza, em quem “a matéria… vêa si mesma”18 não toma nas próprias mãos a coragem de “encarar amorte… encarar com os olhos abertos a escuridão e iluminar o abismoda própria insuficiência”, recai na busca da individualidade ilusória, que

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parece ser suficiente, transforma a “dolorosa ausência”19 em um montede necessidades particulares e projeta­se um futuro, que sempre está porvir, a satisfação da deficiência atual.

Se, em vez cada ser humano reconhecer na experiência da dor eda angústia a própria falta constitutiva, não pode mais se iludir quantoao modo de preencher a insatisfação para com o futuro, nem, tampouco,ajustar­se à suficiência enganadora daquilo que lhe é dado. Isto significa“ser juiz da própria vida”20, exigência imprescindível de A persuasionee la rettorica.

A dor se caracteriza como um elemento desconcertante, queperturba a trama vital e destrói os contornos do conhecimento, expondoviolentamente o homem à nudez da pobreza da sua condição ontológica,e, enfim, abre­lhe um vácuo inesperado de reflexão.

O enfrentamento da situação­limite, na qual a existência seencontra radicalmente em joco, oferece uma oportunidade ao serhumano, na medida em que ele se abre para a reflexão, sem umaresposta preconcebida; no momento em que se interroga radicalmente,tem a chance escolher entre continuar nos caminhos da retórica ouencaminhar­se para o longínquo caminho da persuasão.

No instante em que “a obscuridade se torna visível”, o discursosilencia, e no silêncio inesperado, segundo Michelstaedter, “a dor mudae cega em relação às coisas que, pensando existir, já não existem,existirão… a palavra eloquente e a visão distante”, e num prazer tênue,nas dores finitas de todas as coisas, cada um sentirá falar e enxergaráum bem, que, de outra forma, não tem “a coragem de querer”21. Assim,“na própria dor, sua referência”22, ousará caminhar onde não hácaminho para a “aurora de um novo dia”23, com a única certeza de quenão é possível ajustar­se à suficiência ilusória.

Não é maneira mais indicada “pela qual podes alcançar a vida”,como se não fosse uma palavra pudéssemos gritar ao mundo exterior,“porque a vida pertence ao momento do criar tudo em si, do não ajustar­se de nenhuma maneira” pré­constituída, ainda que a mesma “línguanão exista, mas poderia criá­la, poderia criar o mundo, poderia criarcada coisa para possuir, tu, a vida”, afirma Michelstaedter24.

Certamente podem haver aqueles mais espertos, mas rapidamentepodem calar­se em seu próprio nome. No esforço de alcançar em

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primeira pessoa a palavra autêntica, que recupera a unidade da vida e dopensamento, o homem da persuasão escapa do mecanismo da recíproca“adulação” e guarda, além de tudo, o domínio linguístico da retórica,rumo à ausência, de uma falta que “é comum a todas as coisas” e revelaa nulidade do ente, assim como o seu caráter abissal e a sua aberturainfinita. Distanciando­se do mundo da retorica, inicia uma buscasolitária e infinita.

Refazer os caminhos da palavra autêntica, persuadida, neste lugardistante dos rumores da retórica, parece mesmo impossível; mas é opróprio impossível que que é requisitado: este refazer, apesar de tudo, éo esforço trágico de Michelstaedter, que pensa e vive a impossívelnecessidade de uma outra pátria, uma outra paz, uma outra justiça, ou odesejo de uma dimensão escatológica que possa pensar de modouniversal com a metáfora de Claudio Magris: um outro mar25.

A coragem do impossível, evocada em Michelstaedter, é a tensãoque leva a manter o abismo da “falta” até o extremo da nossa força, e areconhecer a nossa insuficiência, para amar a vida naquilo que ela é emsi mesma, afirmando­a a partir do que ela é, sem depender de umareferência externa, com a honestidade de reconhecer e negar a própriaviolência em relação às origens, que se deve, em última análise, à um“desejo de continuação”, e alcançar, assim, uma fusão entre existência esignificado. E, depois de tudo, o prêmio é viver “no impossível, nainsuportável alegria de um presente mais pleno”, com os outros e ascoisas, ao mesmo tempo.

“A coragem do impossível é a luz que rompe a nevoa, diante daqual desaparece o medo da morte e o presente se torna vida”26. E aoseguir o seu percurso heroico­sacrificial, como o falcão ao lançar­se emseu voo para o alto, continua a provocar admiração e encanta emcomparação com o voo conturbado de muitos corvos! Isso se refletecomo uma luz de um mundo desconhecido. É uma situação parecidacomo aquela que acontece com o scirocco27. No inverno, quando oscirocco ininterrupto faz desaparecer o sol, durante um dia que parececinzento do que outros, aparecem, no horizonte distante, raiosreluzentes que mostram a montanha em glória perante o sol, e pareceser um outro mundo, passando­nos uma sensação de esquecermosnosso pesadelo radicalmente, reabrindo nosso coração para aesperança.

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Carlo Michelstaedter propõe uma mudança radical do sentidopara o conhecimento, para a vida, a dor, a morte, para o mistério,atribuindo uma mudança das relações dos homens entre si, assim como,das relações dos homens com as coisas. Para aqueles que já descobrirameste novo sentido, conhecer não é mais dominar a complexidade dascoisas, ou mesmo defender­se dela, no sentido de controlá­la,reduzindo­a a esquemas padronizados, mas aceitá­la, e, assim sendo,colocar­se em relação com ela, “através de uma atividade rumo à paz”28

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O caminho para a persuasão é traçado e seguido em um mundono qual não existe mais nenhuma garantia, marcado por umaimpossibilidade de síntese, da composição entre força contraposta enecessária, privilegiando o ser sobre o ter, mantendo unidos, ao máximopossível, amor e rigor racional, amor e verdade, com a busca da posseatual do presente, livrando­se da ansiedade que marca uma busca pelofuturo, não dependendo de coisas externas para viver, mas respeitandotudo que puder respeitar no mundo, “amar…, transmitir os valoresindividuais, identificar­se com eles”29.

Toda e qualquer ação que praticamos nasce com o objetivo deerradicar a violência na sua origem, e constitui­se como uma buscapermanente para fazermos justiça, para a erradicação do mal, do qualcada ser participa na condição de indivíduo.

Apesar da grandeza e alcance dessa filosofia sobre a vida, aexistência e o pensamento de Carlo Michelstaedter30, autor em estudo,entretanto, foram interrompidos por uma morte precoce e violenta.Resta­nos, ainda assim, a partir da unidade de sua obra, como se fosseuma obra de arte contemporânea que se compõe de pedaços que sobramdepois de uma grande explosão, e apesar da dispersão de suas partes,conseguimos enxergar uma certa universalidade da obra, um conjuntoda obra. Resistindo, eles os pedaços dispersos recusam a violência doato e nos transmitem a esperança da possível regeneração dareconstituição da arte, esperança de alcançar o poder revolucionário emisterioso da linguagem que expressa as coisas e comunica algo,sempre a partir da experiência da ontogênese, a partir de um indivíduo .

O objetivo que me é permitido perseguir é um novo humanismo naconsciência da tragicidade do existir.

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REFERÊNCIAS

M. PROUST – C. MICHELSTAEDTER, LESSICO FAMIGLIARE. Questionarie confessioni, editado por A. Cavaglion e A. Michelis, Torino, Aragno,2014.

A. CAVAGLION, Una giovinezza immortale. Michelstaedter e Tolstoj, inDialoghi intorno a Michelstaedter, editado por S. Campailla,

Gorizia, Biblioteca Statale Isontina, 1988.C. MICHELSTAEDTER, Taccuino O, 7 agosto 1905.MICHELSTAEDTER, Scritti scolastici, editado por S. Campailla, Gorizia, Il

comune, 1976.C. MICHELSTAEDTER, Questione centrale, in Opere, editado por G.

Chiavacci, Firenze, Sansoni, 1958.C. MICHELSTAEDTER, Il dialogo della salute, editado por S. Campailla,

Milano, Adelphi, 1988.C. MICHELSTAEDTER, Pessimista è l’imperfetto pessimista, in Opere.C. MICHELSTAEDTER, La persuasione e la rettorica, editado por S.

Campailla, Milano, Adelphi, 1982.A. SCHOPENHAUER, Il mondo come volontà e rappresentazione, Milano,

Mursia, 1969.C. MAGRIS, Un altro mare, Milano, Garzanti, 1991, 1° ed. Trad.MICHELIS, A.

Carlo Michelstaedter, In: Revista Humanitas, n.5/2011.

NOTAS

1 N.T. Tradução por Bartolomeu Leite da Silva [UFPB]. A obra em estudo nesteartigo “LESSICO FAGLIARE. Questionari e confessioni”, dos autoresMarcel PROUST/Carlo Michelstaedter não possui tradução em portuguêsdo Brasil. A autora do artigo é especialista no tema, e representa o grupode pesquisadores sobre o autor junto à biblioteca de Gorizia, Itália,curadora da obra completa de Carlo Michelstaedter. As partes citadasdesta obra foram traduzidas com o objetivo de melhor apresentar o textoà comunidade brasileira/lusófona, porém sem a pretensão de tornaroficial ou cobrar direitos desse fato. A seguir publicamos o artigo tambémno seu idioma original.

2 Cf. M. PROUST – C. MICHELSTAEDTER, LESSICO FAGLIARE.Questionari e confessioni, editado por A. Cavaglion e A. Michelis,Torino, Aragno, 2014. A publicação supramencionada oferece ao públicoa transcrição das partes que contém as respostas aos questionários, comum estilo eru erudito dos padrões literários do seç XIX e início do séc.XX nas famílias da burguesia judaica da Europa. Através da leitura e dainterpretação fiel da tais "confissões", os curadores se lançam com o

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objetivo de revelar ao leitor interessantes redes de relação, e fazendo­operceber dados que aprofundam o cenário e dão novos instrumentos paracompreender mais profundamente a personalidade grandiosa deintelectuais de famílias judaicas do tempo em que viveu Michelstaedter,Cassuto, Della Pergola, para citar alguns, e Proust. Aqui analisaremos aresposta de Carlo Michelstaedter colocando­o em relação com suapersonalidade e a obra no seu conjunto.

3 Cf. A. CAVAGLION, Una giovinezza immortale. Michelstaedter e Tolstoj, inDialoghi intorno a Michelstaedter, editado por S. Campailla, Gorizia,Biblioteca Statale Isontina, 1988, pp. 75­88.

4 Cfr. M. PROUST – C. MICHELSTAEDTER, LESSICO FAGLIARE.Questionari e confessioni, cit., pp. 62­65.

5 Cfr. C. MICHELSTAEDTER, Taccuino O, 7 agosto 1905, pp. 9­10;propriedade da Biblioteca Civica de Gorizia.

6 C. MICHELSTAEDTER, Scritti scolastici, editado por S. Campailla, Gorizia,Il comune, 1976, p. 3.

7 C. MICHELSTAEDTER, Taccuino O, cit., pp. 9­10.8 C. MICHELSTAEDTER, Scritti scolastici, cit., p. 3.9 C. MICHELSTAEDTER, Questione centrale, in Opere, editado por G.

Chiavacci, Firenze, Sansoni, 1958, p. 849.10 C. MICHELSTAEDTER, Il dialogo della salute, editado por S. Campailla,

Milano, Adelphi, 1988, pp. 63­64.11 Cfr. C. MICHELSTAEDTER, Pessimista è l’imperfetto pessimista, in Opere,

cit., pp. 705­706.12 Ibidem.13 Ibidem.14 C. MICHELSTAEDTER, La persuasione e la rettorica, editado por S.

Campailla, Milano, Adelphi, 1982, pp. 73­74.15 Ivi, p. 69.16 A. SCHOPENHAUER, Il mondo come volontà e rappresentazione, Milano,

Mursia, 1969, pp. 353­354.17 Cfr. C. MICHELSTAEDTER, La persuasione e la rettorica, cit., p. 69.18 C. MICHELSTAEDTER, Opere, cit., p. 808.19 C. MICHELSTAEDTER, Il dialogo della salute, cit., pp. 84­85.20 C. MICHELSTAEDTER, La persuasione e la rettorica, cit., p. 129, e Il

dialogo della salute, cit., p. 85.21Cfr. C. MICHELSTAEDTER, La persuasione e la rettorica, cit., p. 85.22 Ivi, p. 104.23 Ivi, p. 86.24 Ivi, p. 103.25 C. MAGRIS, Un altro mare, Milano, Garzanti, 1991, 1° ed.26 C. MICHELSTAEDTER, La persuasione e la rettorica, cit., p. 82.]27 N.T. Scirocco: optamos por manter essa palavra no original por se tratar de

um fenômeno local. Scirocco significa: vento quente e úmido que soprado sudeste, típico das regiões mediterrâneas. Lembramos que asconfissões, acima, localizam­se, geograficamente, ao norte da Itália. Cf.http://www.garzantilinguistica.it/ricerca/?q=scirocco ehttp://www.portalitalia.com.br/dicionario/dicionario.asp]

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28 Ivi, p. 89.29 Ivi, p. 83.30 Para leituras complementares, ou mesmo diferentes interpretações, cf. o

número especial dedicado a Carlo Michelstaedter, da revista Humanitas,n.5/2011.

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TEXTOORIGINAL]

LESSICO FAMIGLIARE. QUESTIONARI E CONFESSIONICARLOMICHELSTAEDTER

di AngelaMichelis

Soffermarci sulla rilettura della compilazione da parte di CarloMichelstaedter di un questionario familiare1, anche se già editosingolarmente da Sergio Campailla nel volume A ferri corti con la vita­ prima edizione 1974 e seconda 1981 ­, si è rivelata un’operazioneermeneutica interessante al fine di scandagliare maggiormente i rapportitra il pensiero e l’esistenza in questo autore giovane e di una giovinezzaimmortale ­ come già scrisse Alberto Cavaglion nel 19882 ­.

Si chiarificano elementi che pongono in evidenza come sia ladissonanza il luogo interiore ed esteriore da cui nasce la ricerca delbello, del bene di Carlo Michelstaedter che conduce al suo iperbolicotentativo di trasformare tale dissonanza in assonanza. Il senso e ilsignificato della parabola michelstaedteriana nella sua essenza piùpropria, infatti, è espressione della tragedia di vivere, che ricercaarmonia e pace a partire dall’attimo stesso della comunicazione dellaparola persuasa, della parola che vuole cogliere ciò che di universale c’ènel vero individuale.

L'ambiguità stilistica e concettuale, la mancanza di sistematicità,che in questo autore sono anche segni di acerbità, sono peraltro tratticaratteristici di molta filosofia dell'esistenza, e così anche di quella diCarlo Michelstaedter, immagini fedeli della multiforme e apertaambiguità della vita, che eccede le nostre razionalizzazioni. Nellefilosofie di questo tipo sono per paradosso segni di coerenza, motivi dipersistente attualità, freschezza, e attrattiva. In Michelstaedter sono,inoltre, manifestazioni di deliberato esercizio di persuasioneantirettorica, di ricerca senza sosta delle verità del vivere individuale edella parola persuasa capace, anche se mai totalmente, di esprimerle ecomunicarle in un percorso di autentico amore pacificante, filia, per lavita.

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Scrive in queste confessioni3 che «Tentar di astrarre dalle piùforti espressioni dell’arte le ragioni umane del bello» è la sua preferitaoccupazione. E dichiara che per lui la felicità consiste «nell’intensitàdei sentimenti congiunta alla facoltà di esprimerli».

Apre le sue confessioni, tuttavia, con una risposta che ci richiamaimmediatamente alla coscienza della precarietà e dell’imperfezione diqualsiasi risultato nella ricerca etica, tanto più nel compiacimentodell’espressione e della scrittura, quindi nel solco del riconosciutomaestro Socrate. Alla domanda Quale virtù emerge in voi? infattirisponde «Perché mi vuoi far perdere questa mia unica virtù esigendoche la confessi?»

Emerge qui un modo di esistere che dello spontaneo, del naturalefa propria la spinta propulsiva dell’amore universale, amore che nellasua idealità è meta del vivere persuaso di Michelstaedter. Scrive inriguardo alla domanda sull’amore: «Ritengo che l’amore riassuma in sétutti i sentimenti e li intensifichi e sia una individualizzazionedell’amore universale di tutte le cose; credo quindi a un amore, inquesto senso, ideale». È cosciente, tuttavia, che istanze di elevazione eistanze di degenerazione, istanze di vita e istanze di morte sianopresenti o possibili in ogni individuo, per questo sente compassione perl’umano e afferma di compatirne i difetti. Forte appare l’affetto per ipropri famigliari, anche se sappiamo situarsi talvolta nel conflitto;emerge l’attrazione per le donne. Dichiara l’avversione per ciò che èartefatto e brutto, la predilezione per la letteratura e l’arte italiana, lapassione per Firenze.

Alla questione di quale sia la dote preferita di un uomo risponde«una volontà decisa e forte», volontà che può condurre secondo Carlooltre la rettorica delle convenzioni borghesi degenerate, volontà checomunque non si presenta senza «lo squilibrio di moti interni intensi»,come scrive nella stessa risposta. E così alla domanda sullo statod’animo attuale scrive «dubito di me».

Queste parole, in concordanza con il pensiero e l’essere di CarloMichelstaedter nel suo complesso, possono ben assurgere a esempiodella residuale comprensione del mondo, possibile nel caos enell’angoscia della tardo­modernità, ma nel medesimo tempo le sueopere e la sua esistenza indicano tracce dell’“indistruttibile” da cui

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ripartire, ricordi di armonia che nel silenzio ancora udiamo nellaprofondità di quell’interiorità, di cui non abbiamo più parole certe esoddisfacenti per nominare: animo, coscienza, ragione, mente? Sirisponde così all’interrogazione sul perché questo autore così “acerbo”abbia visto crescere l’attenzione di un sempre più vasto pubblico e distudiosi di discipline diverse. Michelstaedter continua a interessare,perché visse autenticamente ed comunicò con intensità e radicalità, inpiù linguaggi, inquietudini e problemi che appartengono da sempreall’essere umano, ma di cui è soprattutto il contemporaneo a portare laconsapevolezza e il tormento, come indicò la Prof.ssa Nynfa Boscodell’Università di Torino, con cui inizia gli studi su questo autore e cheil 18 agosto 2013 ci ha lasciati.

Egli esprime agli albori del Novecento la coscienza della doppiaincapacità di essere secondo la tradizione e insieme di non esserlo più,dialettica propriamente intrinseca alla modernità, che trova la suaimmagine metaforica in ogni diasporica figura dell’emancipato traditodalla storia o dalla propria esperienza esistenziale. Il nostro Autoreesprime sentimenti e pensieri che riescono a essere rappresentativi degliepigoni della civiltà moderna, che legge con una sensibilità acuta finoalla nevrosi e un coraggio intellettuale non consueto. In questocertamente fu favorito dalle sue molteplici radici culturali e dalle lorocontaminazioni: l’appartenenza alla Mitteleuropea, che sin dall’iniziodel secolo viveva e narrava la propria crisi terminale, l’appartenenzaalla minoranza ebraica, sospesa fra assimilazione e custodia dellapropria differenza e l’attrazione per la lingua, la letteratura e l’arteitaliana, il desiderio di Italianità.

Michelstaedter vive respirando i tempi inquieti della crisi dellaragione, delle certezze del positivismo europeo­borghese, delle sfidedelle avanguardie ai saperi cristallizzati e intraprende un pellegrinaggioestremo fra complesse e intrecciate fratture epocali, un pellegrinaggioche si conclude in una risoluzione eroico­sacrificale. Un’eroicità deboleappare, tuttavia, quella di Michelstaedter, l’eroicità fragile di chi sispezza, con il suicidio, nel ritorno dal pensiero alla vita, ma che, nellasua non raggiunta specularità fra pensiero e vita, nella sua impossibilitàdi dominio assoluto di sé, lo rende ancor più vicino al nostro sentire edessere.

Nella contemporaneità le identità frantumate degli esseri umani

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cercano di ritrovarsi e ricostruirsi nell’immaginario della letteratura,dell’arte, nell’idea filosofica; ma tale ricerca di riconnessione ha undestino di difficoltà, d’iperbolicità intrinseca, la cui rimozione, la cuidimenticanza nella solitudine della soggettività, può essere fatale, comeil più ingrato dei destini.

In Carlo Michelstaedter, l’istanza di verità è l’urgenza primariaanche rispetto all’armonia formale, in quanto ragione di vita, ricerca disenso in ogni sua attività, dalla creazione grafico­pittorica, a quellaletteraria e filosofica.

Carlo, giovanissimo nell’agosto del 1905, annota su un taccuinoche nell’istante in cui sentiamo la sublime verità delle cose nell’estasidel sentimento e della produzione artistica noi usciamo dalla coperta dimenzogna che forma la nostra individualità per fonderci con la naturache ammiriamo, poiché il sentimento stesso è natura. In quegli istantinoi siamo partecipi della verità oggettiva e unica, dell’«imagineirraggiungibile del vero», anche se non ne siamo coscienti4.

Negli Scritti scolastici argomenta l’arte è «una sempre, perchéuno è il sentimento che appartiene alla natura, al mondo assoluto».Tuttavia la sensazione artistica per se stessa in noi non è assoluta e seper brevi istanti essa ci immedesima con la natura, che fa passare in noila corrente della bellezza universale, la coscienza di essa è individualeperché avviene nello speciale organismo di un uomo5.

L’espressione artistica appare connaturata con l’individuo che lacrea; scrive nel cosiddetto Taccuino O: «l’opera d’arte è la soggettivariproduzione dello spirito delle cose, riproduzione completamentespontanea e ispirata»6. Michelstaedter, tuttavia, nella profondità dellapropria riflessione estetica non dimentica la prospettiva storica, inparticolare negli Scritti scolastici: nell’esplicazione del sentimentod’arte l’artista imprime sì il suggello dell’individualità, ma «i mezzidella sua espressione, gli elementi della sua tecnica sono strettamentedipendenti dalla particolare disposizione del suo spirito in relazione alpaese dove egli nacque e visse, alle tradizioni, al tempo»7. Comunquesottolinea che «ogni intuizione artistica ha in sé la ragione della suaforma»8 e ne Il dialogo della salute ammonisce metaforicamentel’artista che «voglia vedere sul muro l’ombra del proprio profilo, in ciòappunto la distrugge»9, poiché «è falso stabilire leggi sui mezzi

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dell’espressione artistica». La ricerca del bello stile, la preoccupazionedella forma, la riflessione critica non devono trasformarsi inimpedimento all’espressione dell’intuizione artistica.

Per Michelstaedter l’esperienza artistica, come dichiara negliscritti raccolti da Gaetano Chiavacci in Opere, è «il più forte dolore e lapiù forte vita e dà la più forte gioia nell’affermazione di se stesso».Tuttavia, in quegli artisti «che non sanno portare tutto il peso del doloree trar da questo peso la gioia e la vita, ma chiedono dalle cose della vitapremio e gioia […] In loro la disillusione, il dolore non prende vita eforma per se stesso »10. Essi danno a noi solamente l’immagine retoricadel loro tormento, la materialità dei dolori, delle disillusioni, non la vitadella disillusione, la voce della salute e della verità.

Scrive sempre qui Michelstaedter: «Vita è volontà di vita, volontàè deficienza, deficienza è dolore, ogni vita è dolore. Ma ogni cosa chevive, crede di esser viva e di aver [pienamente] la vita; e il dolore è perogni cosa muto e continuo così che non lo chiama dolore ­ ma dolorechiama le rivelazioni di non essenza del suo creduto possesso, la perditadi ciò che essa credeva di possedere»11. Se non si fa luce sulla «irrealtàdel possesso», per vivere ci si volge a nuove cose, a quelle simili nellacaducità, e di quel possesso apparente ancora ci si consola pur soffrendooscuramente.

Chi vuole la vita veramente, rifiuta di vivere in rapporto a quellecose che rendono vana la gioia e vano il dolore degli altri ­ e nonaccontentandosi d’alcun possesso illusorio chiede il vero possesso,ovvero l’adesione immediata e appassionata al vivere e oscuro doloraredi tutte le cose. «La sua vita è il rifiuto e la lotta contro tutte letentazioni degli illusori soddisfacimenti, e non disperdendosi nell’attodelle continue correlazioni ­ che sono possessi illusori ­ si afferma eprende forma e si crea da se stessa» diviene arte12. Tale è l’autentica viadell’artista

È il domandare asintoticamente la verità che sorge dall’interioritàabissale della persona come desiderio di un presente più pieno maipienamente soddisfatto, che incrina le costruzioni arbitrarie e posticcedelle finzioni di vita e non sopporta la posa degli pseudo­creatori e larettorica dell’arte, della cultura, della società e della politica. È dunque,radicalmente, sublime impegno etico, con­sistenza nel presente, in una

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parola: persuasione.

Ne La Pesuasione e la Rettorica descrivendo la moltitudine, ciòche avviene per lo più, osserva: «Per le vie consuete gli uomini vannoin un cerchio che non ha principio e non ha fine; vanno, vengono,gareggiano, s’accalcano affaccendati come le formiche ­ forse anche siscambiano l’uno con l’altro ­, certo, per camminare che facciano, sonosempre là dov’erano ché un posto vale l’altro nella valle senza uscita.L’uomo deve farsi una via per uscire alla vita»13.

La trama dei valori illusori, tessuta dalla nostra volontà dicontinuazione, tuttavia, a tratti s’affina, si disorganizza, si squarcia elascia trapelare la precarietà dell’esistenza a ogni uomo,inesorabilmente. Una qualunque contingenza può impedire a unacoscienza di «entrare in relazione con una cosa» voluta e far sì che talecoscienza sia anch’essa a repentaglio o persino annullata. La coscienza,infatti, nel darsi di quella correlazione avverte la propria affermazionee, nel valore che la stessa cosa ha per lei, avverte il proprio valore, inuna situazione esistenziale di mancanza strutturale.

Ecco che l’oscuro dolore che scaturisce nelle singoledeterminazioni dalla percezione della propria impotenza, accompagnaogni attimo della volontà, del desiderio di vita, della philopsychia ediventa paura della morte. Scrive Michelstaedter ne La persuasione e larettorica: «Il senso delle cose, il sapore del mondo è solo ‘pelcontinuare, esser nati non è che temere la morte»14.

Michelstaedter conviene dunque con Schopenhauer, che, ne Ilmondo come volontà e rappresentazione (1819), afferma: «Per i più lavita non è che una lotta continua per l’esistenza con la certezza di unadisfatta finale. E ciò che dà loro tanta forza di persistere in questodisastroso conflitto, non è tanto l’amor della vita, quanto la paura dellamorte»15.

Ne La persuasione e la rettorica egli riflette: «In questa stretta, eper la cura di un futuro che non può che ripetere ­ finché lo ripeta ­ ilpresente, essi contaminano questo, che ogni volta è in loro mano. Edove è la vita se non nel presente? Se questo non ha valore niente havalore. Chi teme la morte è già morto»16.

Tutto ciò che vive soffre, dunque, in ultima analisi, la propriastessa insufficienza, la mancanza del possesso attuale della propria vita.

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Se l’essere umano, grado superiore della natura, in cui «la materia...vede se stessa»17 non prende nelle proprie mani il coraggio di «guardarein faccia la morte... sopportar con gli occhi aperti l’oscurità e scenderenell’abisso della propria insufficienza»18, ricade nel cerchiodell’individualità illusoria, che si finge sufficiente, frantuma la«dolorosa mancanza» in una moltitudine di bisogni particolari e proiettain un futuro, che sempre ha da venire, la soddisfazione dell’attualedeficienza.

Se invece ogni essere umano riconosce nell’esperienza del doloree dell’angoscia la propria costitutiva mancanza, non può più illudersi dicolmare l’insoddisfazione nel futuro, né adattarsi all’ingannevolesufficienza di ciò che gli è dato. Questo è il «venir a ferri corti con lapropria vita»19, esigenza imprescindibile de La persuasione e larettorica

Proprio il dolore, che si presenta come l’elemento sconcertante,che disturba le trame vitali e lacera le griglie del sapere, esponeviolentemente l’uomo all’evidenza della povertà della sua condizioneontologica e gli apre un varco inaspettato di riflessione.

L’affrontare le situazioni­limite, in cui l’esistenza si trovaradicalmente in gioco, dà l’opportunità all’essere umano che si apre allariflessione, senza risposte già preconfezionate ma interrogandosiradicalmente, di scegliere tra il continuare nella rettorica oincamminarsi per l’iperbolica via della persuasione.

Nell’istante in cui «l’oscurità si fa visibile» il discorso tace e nelsilenzio dello stupore, scrive Michelstaedter, «il dolore muto e cieco ditutte le cose che in ciò che vogliono essere non sono, avrà... la parolaeloquente e la vista lontana», e nel piacere grigio, nei dolori finiti ditutte le cose, ognuno sentirà parlare e vedrà guardare a un bene, chealtrimenti non ha «il coraggio di volere»20. Seguendo «nel propriodolore l’indice»21, oserà camminare dove non c’è strada verso «l’auroradi un nuovo giorno»22 con la sola certezza che non è possibile adattarsiall’illusoria sufficienza.

Non c’è via preparata «pel quale tu possa giungere alla vita»,come non ci sono parole che la possano dare dall’esterno, «perché lavita è proprio nel crear tutto da sé, nel non adattarsi a nessuna via»precostituita, dunque anche la stessa «lingua non c’è, ma devi crearla,

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devi crear il mondo, devi crear ogni cosa: per aver tua la vita», affermaMichelstaedter23.

Certo ci possono essere dei maestri, ma è facile fermarsi abanchettare nel loro nome. Nello sforzo invece di accedere in primapersona alla parola autentica, che recuperi l’unità di vita e pensiero,l’uomo della persuasione esce dal meccanismo della reciproca«adulazione» e guarda oltre il dominio linguistico della rettorica, indirezione di un’assenza, di una mancanza che «accomuna tutte le cose»e rivela la nullità dell’ente, ma anche il suo carattere abissale e la suaapertura infinita. Distanziandosi dal mondo della rettorica inizia unaricerca solitaria e iperbolica.

Rintracciare la via della parola autentica, persuasa, in questalanda lontana dai fragori della rettorica pare impresa impossibile; maproprio l’impossibile ci è richiesto: questo fare­nonostante­tutto èl’impegno tragico di Michelstaedter, che pensa e vive l’impossibilenecessità di un’altra patria, un’altra pace, un’altra giustizia, ovvero ildesiderio di una dimensione escatologica che possiamo pensare inmodo universale con la metafora di Claudio Magris: un altro mare24.

Il coraggio dell’impossibile, evocato da Michelstaedter, è latensione che ci conduce a guardare l’abisso della «mancanza» finoall’estremo delle nostre forze e a riconoscere la nostra insufficienza, peramare la vita per ciò che essa è, affermandoci senza chiedere né usaredella relazione, con l’onestà di riconoscere e negare alle radici lapropria stessa violenza, che è dovuta in ultima analisi alla «volontà dicontinuazione», e raggiungere così la coincidenza di esistenza esignificato e vivere «nell’impossibile, nell’insopportabile la gioia di unpresente più pieno» con gli altri e con le cose, consistendo.

«Il coraggio dell’impossibile è la luce che rompe la nebbia,davanti a cui cadono i terrori della morte e il presente divien vita»25. Enel seguirlo nei suoi percorsi eroico­sacrificali, come il falco nelloslancio del suo volo sicuro verso l’alto, continua a provocarciammirazione e meraviglia al confronto con il volo pesante delle moltecornacchie, ci colpisce come la luce di un mondo sconosciuto. Comed’inverno quando lo scirocco ininterrotto fa disperare del sole, a untratto in un giorno che pare più grigio degli altri, compaiono lontanoall’orizzonte raggi di sereno che ci mostrano le montagne nella gloria

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del sole e anche se pare un altro mondo, rispetto al nostro malato alleradici, ci riapre il cuore alla speranza.

Carlo Michelstaedter propone un mutamento radicale del sensodella conoscenza, della vita, del dolore, della morte, del mistero, a cuiconsegue un mutamento dei rapporti tra gli uomini e dei rapporti tra gliuomini e le cose. Per chi abbia colto questo nuovo senso, conoscere nonè più dominare la complessità, difendersi da essa riducendola in schemirassicuranti, ma accettarla e porsi in rapporto con essa, «attraversol’attività verso la pace»26 .

La via della persuasione va tracciata e seguita in un mondo in cuiè caduta ogni garanzia, nell’impossibilità della sintesi, dellacomposizione tra forze contrapposte e necessarie, soffermandosisull'essere piuttosto che sull’avere, tenendo uniti al limite amore erigore razionale, amore e verità, con il ricercare il possesso attuale delpresente e liberarsi dall’ansiosa corsa verso il futuro, non usare dellarelazione ma rispettare il più possibile la vita, «amare..., comunicando ilvalore individuale, identificarsi»27 .

Tutta la propria attività viene impegnata così nell’estirpare laviolenza nelle sue varie forme alle radici, nella ricerca continua dipagare alla giustizia il debito per la violenza, cui si partecipainesorabilmente in quanto individuo vivente.

L’esistenza e il pensiero di Carlo Michelstaedter28, furonointerrotti tuttavia da una morte precoce e violenta. Rimangono a noi,comunque, nella loro unità, come un’opera d’arte contemporanea cheesibisce macerie acuminate alla deriva, dopo una conflagrazione, maindividuabili e interpretabili, in quanto hanno al proprio internoimpalcature, strutture che permangono nella loro inesplicabileuniversalità e comunicabilità. Resistendo, esse fermano la violenza delcrollo e ci riconsegnano alla speranza: speranza nella possibilerigenerazione della filogenesi e speranza nella potenza rivoluzionaria emisteriosa del linguaggio che l’esprime e la comunica, sempre a partiredal vissuto di un’ontogenesi, di un individuo.

La meta che ci consegna è un nuovo umanesimo nellaconsapevolezza della tragicità dell’esistere.

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Lessico famigliare. Questionari e confessioni – CarloMichlestaedter

REFERÊNCIAS

M. PROUST – C. MICHELSTAEDTER, LESSICO FAMIGLIARE.Questionari e confessioni, editado por A. Cavaglion e A. Michelis,Torino, Aragno, 2014.

A. CAVAGLION, Una giovinezza immortale. Michelstaedter e Tolstoj, inDialoghi intorno a Michelstaedter, editado por S. Campailla,

Gorizia, Biblioteca Statale Isontina, 1988.C. MICHELSTAEDTER, Taccuino O, 7 agosto 1905.MICHELSTAEDTER, Scritti scolastici, editado por S. Campailla,

Gorizia, Il comune, 1976.C. MICHELSTAEDTER, Questione centrale, in Opere, editado por G.

Chiavacci, Firenze, Sansoni, 1958.C. MICHELSTAEDTER, Il dialogo della salute, editado por S.

Campailla, Milano, Adelphi, 1988.C. MICHELSTAEDTER, Pessimista è l’imperfetto pessimista, in Opere.C. MICHELSTAEDTER, La persuasione e la rettorica, editado por S.

Campailla, Milano, Adelphi, 1982.A. SCHOPENHAUER, Il mondo come volontà e rappresentazione,

Milano, Mursia, 1969.C. MAGRIS, Un altro mare, Milano, Garzanti, 1991, 1° ed.

Trad.MICHELIS, A. Carlo Michelstaedter, In: Revista Humanitas,n.5/2011.

1 Cf. M. PROUST – C. MICHELSTAEDTER, LESSICO FAGLIARE.Questionari e confessioni, a cura di A. Cavaglion e A. Michelis, Torino,Aragno, 2014. La sopra menzionata pubblicazione porge al pubblico latrascrizione di fogli che contengono le risposte a dei questionari, qualegioco erudito secondo la moda fra Ottocento e inizi Novecento nellefamiglie della borghesia ebraico­europea. Attraverso la lettura el’interpretazione della trascrizione fedele di tali «confessioni», i curatorisi sono posti l’obiettivo di accompagnare il lettore nel delineareinteressanti reti di rapporti e nel far emergere dati che allargano scenari edanno nuovi strumenti per comprendere più approfonditamente le grandipersonalità d’intellettuali delle famiglie ebraiche del tempo fra cui iMichelstaedter, Cassuto, Della Pergola, per citarne alcune e Proust. Quianalizzeremo le risposte di Carlo Michelstaedter mettendole in relazionecon la personalità e l’opera nel complesso

2 Cf. A. CAVAGLION, Una giovinezza immortale. Michelstaedter e Tolstoj, inDialoghi intorno a Michelstaedter, a cura di S. Campailla, Gorizia,Biblioteca Statale Isontina, 1988, pp. 75­88.

3 Cfr. M. PROUST – C. MICHELSTAEDTER, LESSICO FAGLIARE.Questionari e confessioni, cit., pp. 62­65.

4 Cfr. C. MICHELSTAEDTER, Taccuino O, 7 agosto 1905, pp. 9­10; proprietàdella Biblioteca Civica di Gorizia.

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5 C. MICHELSTAEDTER, Scritti scolastici, a cura di S. Campailla, Gorizia, Ilcomune, 1976, p. 3.

6 C. MICHELSTAEDTER, Taccuino O, cit., pp. 9­10.7 C. MICHELSTAEDTER, Scritti scolastici, cit., p. 3.8 C. MICHELSTAEDTER, Questione centrale, in Opere, a cura di G.

Chiavacci, Firenze, Sansoni, 1958, p. 849.9 C. MICHELSTAEDTER, Il dialogo della salute, a cura di S. Campailla,

Milano, Adelphi, 1988, pp. 63­64.10 Cfr. C. MICHELSTAEDTER, Pessimista è l’imperfetto pessimista, in Opere,

cit., pp. 705­706.11 Ibidem.12 Ibidem.13 C. MICHELSTAEDTER, La persuasione e la rettorica, a cura di S.

Campailla, Milano, Adelphi, 1982, pp. 73­74.14 Ivi, p. 69.15 A. SCHOPENHAUER, Il mondo come volontà e rappresentazione, Milano,

Mursia, 1969, pp. 353­354.16 Cfr. C. MICHELSTAEDTER, La persuasione e la rettorica, cit., p. 69.17 C. MICHELSTAEDTER, Opere, cit., p. 808.18 C. MICHELSTAEDTER, Il dialogo della salute, cit., pp. 84­85.19 C. MICHELSTAEDTER, La persuasione e la rettorica, cit., p. 129, e Il

dialogo della salute, cit., p. 85.20 Cfr. C. MICHELSTAEDTER, La persuasione e la rettorica, cit., p. 85.21 Ivi, p. 104.22 Ivi, p. 86.24 C. MAGRIS, Un altro mare,Milano, Garzanti, 1991, 1° ed.25 C. MICHELSTAEDTER, La persuasione e la rettorica, cit., p. 82.26 Ivi, p. 89.27 Ivi, p. 83.28 Per approfondire con complementari o differenti interpretazioni, cf. l’ampio

numero monografico dedicato a Carlo Michelstaedter della rivista«Humanitas», n. 5/2011.