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3 Pesquisas em Geociências, 29(1): 3-13, 2002 ISSN 1518-2398 Instituto de Geociências, UFRGS Porto Alegre, RS – Brasil Variabilidade Morfodinâmica das Praias Oceânicas entre Imbé e Arroio do Sal, RS, Brasil JAIR WESCHENFELDER 1,2 & RICARDO N. AYUP ZOUAIN 1 1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Geociências, Caixa Postal 15001, CEP 91509-900, PortoAlegre, RS - Brasil 2 Bolsista de Doutorado/CNPq – Universidade de Hamburgo/Alemanha (Recebido em 06/01. Aceito para publicação em 06/02) Abstract - The morphodynamic variability of the oceanic beaches between Imbé and Arroio do Sal towns, Rio Grande do Sul State, Brazil, was investigated by means of periodic beach profiling combined with the interpretation of granulometric and hydrodynamic regime data. A seasonal trend in the hydrodynamic regime, in the distribution of the sediments and in the morphometric and morphodynamic parameters analyzed, was identified. Seasonality is marked by the dominance of accretionary profiles during the summer and erosional profiles during the winter. These beaches were classified according to their morphodynamic state, as dissipative and intermediate. Keywords - Oceanic beaches, morphodynamic, seasonal trend. INTRODUÇÃO O estado morfodinâmico praial depende de uma série de fatores interdependentes que condicio- nam o “equilíbrio morfológico-dinâmico” do siste- ma. As características do regime de ondas inciden- tes, configuração morfológica da região costeira e plataforma continental adjacente, variáveis do esto- que sedimentar disponível e processos harmônicos produzidos pela ação das marés e correntes deriva- das, são condicionantes dos processos erosivo- deposicionais atuantes no sistema. A constatação de que as feições do domínio praial estão em equilíbrio dinâmico levou diversos pesquisadores a uma classificação dessas feições baseada em uma abordagem essencialmente morfo- dinâmica, principalmente a partir do trabalho de Wright et al. (1979), que estabeleceu dois estados morfodinâmicos extremos para caracterizar uma praia: o totalmente dissipativo e o altamente refle- tivo, os quais são distingüidos pelo parâmetro do surfe ε [(aϖ 2 /gtan 2 β), (Guza & Inman, 1975), onde a é a amplitude da onda de arrebentação, ϖ é a freqüência radiana da onda incidente, g é a acelera- ção da gravidade e β corresponde ao gradiente da zona de praia/surfe]. Os estudos de Guza & Inman (1975) indicam praia extremamente refletiva quando ε < 1, valores entre 1 e 2,5, indicam forte reflexão com alguma dissipação, enquanto que a dissipação completa ocorre para valores de ε > 30. Para caracterizar os estados de equilíbrio morfodinâmico praiais, incorporando de forma con- junta as características da onda e dos sedimentos, Wright & Short (1984) utilizaram o parâmetro adi- mensional = H b /W s T (Gourlay, 1968 e Dean, 1973 In: Masselink & Short, 1993; Dalrymple & Thompson, 1977), onde H b é a altura da onda de arrebentação, w s é a velocidade de queda das partí- culas e T corresponde ao período da onda incidente. Wright & Short (1984) estabeleceram que < 1 resulta em um estado morfodinâmico refletivo, indicando que a face praial terá alta declividade, geralmente na zona de swash, com a presença co- mum de cúspides praiais e sedimentos de textura relativamente grossa; as ondas são geralmente pe- quenas e a zona de arrebentação é estreita. Valores de > 6 resulta em praias no estado dissipativo, que caracterizam-se por baixa declividade e com sedimentos de textura fina; a energia das ondas é geralmente alta, com larga zona de arrebentação e a presença comum de barras submersas, onde as on- das dissipam a maior parte da energia antes de atin- gir a face praial. Os valores de entre 1 e 6 defi- nem as praias de estado morfodinâmico intermediá- Em respeito ao meio ambiente, este número foi impresso em papel branqueado por processo parcialmente isento de cloro (ECF).

Variabilidade Morfodinâmica das Praias Oceânicas entre Imbé e Arroio do Sal, RS, Brasil

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Pesquisas em Geociências, 29(1): 3-13, 2002ISSN 1518-2398

Instituto de Geociências, UFRGSPorto Alegre, RS – Brasil

Variabilidade Morfodinâmica das Praias Oceânicasentre Imbé e Arroio do Sal, RS, Brasil

JAIR WESCHENFELDER1,2 & RICARDO N. AYUP ZOUAIN

1

1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Geociências,Caixa Postal 15001, CEP 91509-900, PortoAlegre, RS - Brasil

2 Bolsista de Doutorado/CNPq – Universidade de Hamburgo/Alemanha

(Recebido em 06/01. Aceito para publicação em 06/02)

Abstract - The morphodynamic variability of the oceanic beaches between Imbé and Arroio do Sal towns, Rio Grande doSul State, Brazil, was investigated by means of periodic beach profiling combined with the interpretation of granulometricand hydrodynamic regime data. A seasonal trend in the hydrodynamic regime, in the distribution of the sediments and inthe morphometric and morphodynamic parameters analyzed, was identified. Seasonality is marked by the dominance ofaccretionary profiles during the summer and erosional profiles during the winter. These beaches were classified accordingto their morphodynamic state, as dissipative and intermediate.

Keywords - Oceanic beaches, morphodynamic, seasonal trend.

INTRODUÇÃO

O estado morfodinâmico praial depende deuma série de fatores interdependentes que condicio-nam o “equilíbrio morfológico-dinâmico” do siste-ma. As características do regime de ondas inciden-tes, configuração morfológica da região costeira eplataforma continental adjacente, variáveis do esto-que sedimentar disponível e processos harmônicosproduzidos pela ação das marés e correntes deriva-das, são condicionantes dos processos erosivo-deposicionais atuantes no sistema.

A constatação de que as feições do domíniopraial estão em equilíbrio dinâmico levou diversospesquisadores a uma classificação dessas feiçõesbaseada em uma abordagem essencialmente morfo-dinâmica, principalmente a partir do trabalho deWright et al. (1979), que estabeleceu dois estadosmorfodinâmicos extremos para caracterizar umapraia: o totalmente dissipativo e o altamente refle-tivo, os quais são distingüidos pelo parâmetro dosurfe ε [(aω2/gtan2β), (Guza & Inman, 1975), ondea é a amplitude da onda de arrebentação, ω é afreqüência radiana da onda incidente, g é a acelera-ção da gravidade e β corresponde ao gradiente dazona de praia/surfe]. Os estudos de Guza & Inman(1975) indicam praia extremamente refletiva quando

ε < 1, valores entre 1 e 2,5, indicam forte reflexãocom alguma dissipação, enquanto que a dissipaçãocompleta ocorre para valores de ε > 30.

Para caracterizar os estados de equilíbriomorfodinâmico praiais, incorporando de forma con-junta as características da onda e dos sedimentos,Wright & Short (1984) utilizaram o parâmetro adi-mensional Ω = Hb/WsT (Gourlay, 1968 e Dean,1973 In: Masselink & Short, 1993; Dalrymple &Thompson, 1977), onde Hb é a altura da onda dearrebentação, ws é a velocidade de queda das partí-culas e T corresponde ao período da onda incidente.

Wright & Short (1984) estabeleceram que Ω< 1 resulta em um estado morfodinâmico refletivo,indicando que a face praial terá alta declividade,geralmente na zona de swash, com a presença co-mum de cúspides praiais e sedimentos de texturarelativamente grossa; as ondas são geralmente pe-quenas e a zona de arrebentação é estreita. Valoresde Ω > 6 resulta em praias no estado dissipativo,que caracterizam-se por baixa declividade e comsedimentos de textura fina; a energia das ondas égeralmente alta, com larga zona de arrebentação e apresença comum de barras submersas, onde as on-das dissipam a maior parte da energia antes de atin-gir a face praial. Os valores de Ω entre 1 e 6 defi-nem as praias de estado morfodinâmico intermediá-

Em respeito ao meio ambiente, este número foi impresso em papel branqueado por processo parcialmente isento de cloro (ECF).

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rio, sendo caracterizadas por morfologia de barrasparalelas e perpendiculares a face praial. Estes auto-res reconheceram 4 estados intermediários, comvalores de Ω e características morfológicas própriaspara a face praial e zona de surfe/arrebentação; como aumento do valor deste parâmetro os estadosmorfodinâmicos são: terraço de maré baixa (low tideterrace – LTT), barra e rip transversal (transversebar and rip – TBR), praia e barra rítmica (rhythmicbar and beach – RBB) e barra-cava ao longo dacosta (longshore bar trough – LBT).

Wright & Short (1984) ressaltam que apesardo pequeno intervalo de variação possível do parâ-metro Ω para que a praia permaneça no estadomorfodinâmico intermediário, é dentro dessa faixaestreita que as maiores variações morfológicas ocor-rem. Ressaltam ainda que os valores de Ω precisamser inferiores a 1 para que praia permaneça no esta-do morfodinâmico extremo refletivo e maiores doque 6 para que permaneça na sua condição de estadocompletamente dissipativo.

A caracterização dos ambientes praiais sobum enfoque essencialmente morfodinâmico tem rece-bido a atenção de vários pesquisadores em localida-des diversas (Short, 1979; 1983; 1992; Wright et al.,1979; 1982 a, b; 1985; 1987; Short & Hesp, 1982;Short & Wright, 1983; Wright & Short, 1984;Flemming & Fricke, 1983; Masselink & Short, 1993;Naffa & Frihy, 1993; Calliari, 1994). No que se refereà pesquisa e à caracterização do ambiente praial doRS, uma classificação morfodinâmica foi empregadapor Tomazelli (1990), Tomazelli & Villwock (1992),Calliari & Klein (1993), Toldo Jr. et al. (1993 a, b)e Barros et al. (1994), sendo que a variabilidademorfológica, dinâmica e sedimentológica do setorcosteiro norte do estado do Rio Grande do Sul fazparte dos objetivos do grupo de pesquisa dos autoresdeste artigo (Souto et al., 1996; Coan et al., 1997;Franzen et al., 1997; Weschenfelder et al., 1997;Zommer et al., 1997 a, b).

Este trabalho enfoca a variabilidade morfodi-nâmica das praias oceânicas entre Imbé e Arroio doSal, RS, através do estudo de perfis praiais, associadoaos dados granulométricos dos sedimentos e do regi-me das ondas incidentes. Parte do conjunto de dados,sistematicamente coletados entre 1993 e 1996, foramutilizados também na dissertação de mestrado de umdos autores (Weschenfelder, 1996). O estudo damorfologia do setor praial e do campo de dunas fron-tais foi apresentado por Weschenfelder et al. (1997).A base de dados aqui apresentada, bem como as dis-cussões emanadas do mesmo, serviram como auxílio

no programa de Gerenciamento Costeiro para o Esta-do do Rio Grande do Sul, bem como para as adminis-trações municipais cuja inserção fica restrita à áreageográfica do presente trabalho.

ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo insere-se na Planície Cos-teira do RS, uma extensa e diversificada faixaambiental no limite oriental do estado (Fig. 1). Afaixa costeira atual do litoral norte do estado fazparte do Sistema Deposicional Laguna-Barreira IVde Villwock (1984), o sistema deposicional do tipo“laguna-barreira” mais recente da Planície Costeirado RS, originado em consequência do último eventotransgressivo (Villwock, 1984; 1994; Villwock etal., 1986; Tomazelli & Villwock, 1991; 1992;Tomazelli, 1993; 1994).

A praia oceânica da planície costeira do RSé extensa e contínua lateralmente, praticamenteretilínea (SW-NE) e localizada em uma regição cos-teira aberta e dominada pela ação das ondas. Asfeições morfológicas do setor praial se caracterizampela relativa homogeneidade e continuidade lateral,em contraste com a marcante modificação antrópicacausada na morfologia natural do campo de dunasfrontais e planície arenosa ajacente.

Os trabalhos de Motta (1967; 1969) forne-cem os parâmetros oceanográficos básicos sobre oregime de ondas atuante na região costeira em estu-do. Os dados indicam que para a isóbata de 20 m o

Figura 1 - Área de estudo, compreendendo as praias oceânicas entreImbé e Arroio do Sal, RS.

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período significativo é de 9 s e a altura significativaé de 1,5 m.

O efeito da maré astronômica é pouco signi-ficativo sobre a dinâmica sedimentar deste setorcosteiro. O regime de micromaré, com amplitudeinferior a 30 cm, deve-se ao fato da área situar-sepróxima a um ponto anfidrômico do oceano Atlân-tico Sul, associado aos efeitos relacionados à confi-guração retilínea e regular da linha da costa e alargura da plataforma continental.

Os sedimentos do setor praial e de dunasfrontais da planície costeira do RS são constituídospor areias quartzosas de granulação fina a muitofina, com concentrações locais de minerais pesados(Martins, 1967; Martins et al., 1972; Alvarez et al.,1983; Villwock, 1984; Villwock et al., 1979). Napraia do Cassino ocorrem concentrações locais deareias e cascalhos biodetríticos (Ayup-Zouain, 1991;Calliari & Klein, 1993). Entre Imbé e Arroio do Salos sedimentos praiais e de dunas frontais são textu-ralmente areias finas, com grãos bem arredondadose marcante homogeneidade dos parâmetros texturais(Weschenfelder, 1996).

Metodologia

A morfologia praial entre Imbé e Arroio doSal foi obtida através do levantamento sistemáticode perfis planialtimétricos perpendiculares à linhade costa, realizados entre abril de 1993 e julho de1996, pelo método da estádia (Birkemeier, 1981).

Foram anotados também dados visuais dosparâmetros básicos das ondas incidentes (Tab. 1),configuração da zona de arrebentação e da zona comsedimentos em suspensão. Avaliou-se visualmente aaltura de dez ondulações consecutivas num pontofixo na zona de arrebentação. O período (T) dasondulações correspondeu a 1/10 do tempo total de-corrido para a passagem de onze ondas consecutivasem um ponto fixo. O ângulo de aproximação dotrem de ondas em relação à linha de costa foi ava-liado com o auxílio de um ábaco. Quando possívelavaliou-se a largura da zona de rompente e da zonacom sedimentos em suspensão, tipo de rompente,sentido da corrente litorânea e do vento, anotando-se também a temperatura d´água e a distância entreas cúspides praiais.

Amostragens de sedimentos foram feitas naface frontal das dunas frontais e na parte intermedi-ária das zonas de pós-praia e de swash, em pontos

coincidentes com o perfil praial. Determinou-se en-tão as classes granulométricas e os parâmetros esta-tísticos propostos por Folk & Ward (1957).

Visando a caracterização morfodinâmica daspraias, foram calculados o parâmetro adimensionalΩ (Hb/T.Ws) (Wright & Short, 1984) e o parâmetrode escala de surfe ε (a.ω2/gtan2β) (Guza & Inman,1975). A velocidade de queda das partículas sedi-mentares baseou-se nos trabalhos de Gibbs et al.(1971) e Baba & Komar (1981).

RESULTADOS

Os Dados Visuais de Ondas

Entre fevereiro de 1993 e julho de 1995foram anotados dados visuais da altura (H) e doperíodo (T) de 1434 ondas (Tabs. 1 e 2).

Na tabela 1 a altura máxima de onda obser-vada foi de 2,9 m, com período de 10,5 s. A alturamínima observada foi de 0,3 m, com período respec-tivo de 6,5 s. Os períodos oscilaram entre 5,5 e 15,5s. Ondas com alturas maiores do que 2,7 m ocorre-ram em 0,49% das observações. Ondas com alturasmaiores do que 2,2 m ocorreram em 2,66% dos va-lores observados, correspondendo a períodos (T)restritos ao intervalo entre 8,5 e 12s. As alturas maisfreqüentes apresentaram valores entre 0,5 e 1,9 m,que corresponderam a 87,3% das anotações. Osperíodos entre 7,5 e 12 s representaram 79,09% doespectro total, e períodos com valores restritos entre8,5 e 11 s, 55,37% dos valores.

A altura modal foi de 1,2 m, correspon-dendo 15,15% das anotações e o período modal foide 10s, para 12,8% dos valores observados, comdistribuição aproximadamente normal das alturas(Fig. 2a) e dos períodos (Fig. 2b) em torno do valormais freqüente.

Considerando a lei estatística de distribui-ção das alturas aparentes das ondas, deduzem-se osparâmetros ou valores típicos geralmente considera-dos na caracterização do regime de ondas, ou seja:a) altura média - Hm; b) altura mediana - H1/2 =0,94Hm; c) altura significativa - H1/3 = Hs = 1,6Hm;d) altura 1/10 - H1/10 = 2,03Hm. Dos valores da tabe-la 1 obtemos: Hm = 1,23m; H1/2 = 1,16m; H1/3 =1,97m; H1/10 = 2,5m. Salienta-se que Hs corresponde àaltura média da terça parte das ondas maiores (H1/3),valor normalmente utilizado no cálculo da energia dasondas em estudos relacionados aos problemas de ero-

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mc-H n % ΣΣΣΣΣ%092 1 1 70,0 70,0082 2 2 41,0 12,0072 4 4 82,0 94,0062 1 1 1 3 12,0 07,0052 2 2 2 6 24,0 21,1042 3 2 1 2 8 65,0 86,1032 1 1 70,0 57,1022 1 3 3 1 3 2 31 19,0 66,2012 2 2 1 3 1 9 36,0 92,3002 2 1 3 2 8 4 1 3 1 52 47,1 30,5091 3 1 2 4 01 1 4 52 47,1 77,6081 1 3 2 6 11 01 91 7 3 6 3 2 3 67 03,5 70,21071 6 1 1 9 2 7 3 9 3 3 2 64 12,3 82,51061 5 1 7 01 41 92 01 6 6 8 3 1 4 3 701 64,7 47,22051 1 6 5 21 11 7 6 3 7 4 2 3 2 96 18,4 55,72041 1 2 4 4 02 22 6 61 11 8 1 4 2 6 2 2 111 47,7 92,53031 1 1 2 4 9 01 4 51 7 5 1 1 06 81,4 74,93021 3 4 4 9 21 9 32 82 63 31 62 21 41 3 5 3 3 2 2 6 712 31,51 06,45011 1 2 2 61 51 4 31 31 01 6 11 8 3 3 1 3 1 211 18,7 14,26001 2 2 01 9 42 41 91 9 51 6 11 8 4 1 7 8 5 1 551 18,01 22,37090 2 3 1 6 8 01 51 31 3 5 7 7 7 5 1 4 5 3 1 601 93,7 16,08080 2 2 5 9 51 01 11 11 9 9 3 5 3 2 5 8 7 6 1 3 621 97,8 04,98070 1 1 7 4 6 2 11 1 4 8 1 2 1 1 1 15 65,3 69,29060 3 6 7 5 5 21 3 6 3 1 2 1 4 4 7 96 18,4 77,79050 3 5 8 3 2 1 1 32 06,1 73,99030 1 1 70,0 0,001

s-T 5,5 0,6 5,6 0,7 5,7 0,8 5,8 0,9 5,9 0,01 5,01 0,11 5,11 0,21 5,21 0,31 5,31 0,41 5,41 0,51 5,51 Σ= Σn 02 03 03 04 09 09 001 031 041 481 011 031 08 08 02 04 03 03 02 02 02 4341 ↓% 04,1 90,2 90,2 87,2 82,6 82,6 79,6 70,9 97,9 8,21 76,7 70,9 85,5 85,5 93,1 87,2 90,2 90,2 04,1 04,1 04,1 Σ= 001

Σ% 4,1 94,3 85,5 63,8 46,41 29,02 98,72 69,63 57,64 55,95 22,76 92,67 78,18 54,78 48,88 26,19 17,39 08,59 02,79 06,89 0,001

Tabela 1 - Dados visuais dos parâmetros básicos de ondas anotados entre fevereiro de 1993 e julho de 1995

ébmI ovoNoãpaC laSodoiorrA

dM PD dM PD dM PDI 69,73 70,71 24,75 88,42 52,74 52,81II 57,42 87,21 09,51 66,01 43,32 63,01III 77,0 42,0 37,0 62,0 17,0 81,0

VI 00,2 66,0 31,2 57,0 10,2 98,0V 49,1 16,0 77,1 96,0 39,1 37,0IV 35,1 14,0 80,1 31,0 43,1 91,0IIV 61,1 94,0 26,0 03,0 30,1 43,0IIIV 12,1 73,0 43.1 54,0 63,1 34,0

XI 73,9 50,2 31,9 97,1 36,9 42,2X 28,4 98,6 64,11 84,03 97,01 90,03IX 35,2 31,0 05,2 91,0 85,2 21,0IIX 74,2 41,0 24,2 21,0 24,2 11,0IIIX 38,1 32,0 69,1 02,0 89,1 02,0

VIX 57,6 03,2 97,6 05,2 86,6 06,2VX 40,23 45,62 08,14 74,62 53,83 66,63

Tabela 2 - Média (Md) e Desvio Padrão (DP) (N = 33) dos parâmetros morfométricos, granulométricos, de ondas emorfodinâmicos, anotados entre abril de 1993 e julho de 1996, nas praias de Imbé, Capão Novo e Arroio do Sal

I = Largura do pós-praia (m); II = Largura da zona de swash (m); III = Distância vertical de avanço do swash (m); IV = Inclinação da zonade swash (º); V = Inclinação do estirâncio superior (º); VI = Inclinação da região praial (º); VII = Inclinação do pós-praia (º); VIII = Alturamédia das ondas na zona de arrebentação - Hb (m); IX = Período médio das ondas - T (s); X = ângulo de aproximação do trem de ondas naarrebentação (º) (valor positivo indica sentido horário); XI = Média aritmética (Mz) do tamanho de grão no pós-praia; XII = Mz dos sedimentosda zona de swash; XIII = Velocidade de queda (Ws) das partículas da zona de swash (m/s); XIV = W; XV = e.

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são e transporte litorâneo. H1/10 corresponde a alturamédia de 1/10 das ondas maiores.

A Morfologia e os Parâmetros Morfodinâmicos

A síntese dos dados e resultados damorfologia praial, granulometria dos sedimentos,regime de ondas e dos parâmetros morfodinâmicosestão dispostos na tabela 2. Os parâmetros de I a VIIda tabela 2 foram apresentados e discutidos porWeschenfelder et al. (1997), em trabalho enfocandoa caracterização morfológica das praias oceânicasentre Imbé e Arroio do Sal alguns dos quais sãoaqui empregados, junto com os dados de onda (VIII-X) e granulométricos (XI-XII), para o cálculo dosparâmetros morfodinâmicos (XIV-XV).

DISCUSSÃO

A escassez de registros consistentes dosparâmetros físicos oceanográficos, principalmentesobre o regime de ondas, é um fator limitante nacaracterização plena do regime hidrodinâmico atu-ante na região costeira do Rio Grande do Sul(Tomazelli & Villwock, 1992).

Dados consistentes do regime de ondas atu-ante junto à desembocadura da Lagoa de Tramandaí,região deste estudo, foram publicados por Motta(1967), que também se ocupou posteriormente(1969) com o estudo do regime de ondas na desem-bocadura da Lagoa dos Patos.

A análise visual de ondas torna possível acaracterização do regime de ondas de uma região, apartir de um número consistente de dados sistema-ticamente observados. Desta forma, o conjunto dedados dos parâmetros básicos de ondas, anotadosdurante trabalhos de campo e dispostos na tabela 1,permite uma caracterização razoável do regime deondas atuantes na área de estudo.

Tendo como base os dados da tabela 1,pode-se classificar o regime hidrodinâmico da áreacomo de alta energia segundo Tanner (1961; Hb >50cm) ou de energia de onda moderada segundoShort & Hesp (1982; 1 < Hb < 2,5m), com 54,6%dos registros apresentando Hb > 1,2m. Os resulta-dos mostram-se consistentes na medida em que seasemelham àqueles obtidos através de mediçõescom dispositivos mais sofisticados empregados porMotta (1967). É uma região costeira dominada eexposta à ação direta das ondas, as quais condi-cionam diretamente o desenvolvimento das feiçõesmorfológicas (Davis & Hayes, 1984).

Ressalta-se que a energia da onda na arre-bentação depende de sua energia em águas profun-das, subtraída a perda devido à atenuação por fric-ção e redistribuição da mesma na plataforma conti-nental (Short & Hesp, 1982). A configuração amplae rasa da plataforma continental norte do RS promo-ve, além da atenuação da energia total das ondas,acentuada refração na ondulação proveniente de SE,sobretudo a partir da plataforma média, diminuindoo ângulo de aproximação do trem de ondas.

O média dos valores anotados indica umângulo de aproximação do trem de ondas pratica-mente paralelo à linha de costa (5 a 11º; Tab. 2 - X).Esse valor indica uma corrente litorânea resultantepara NE, em concordância com indicadoresgeomorfológicos que também evidenciam a derivaresultante no sentido NE, como as desembocadurasnão estabilizadas dos rios e lagunas (Motta, 1967;Tomazelli, 1990; Tomazelli & Villwock, 1992). Aocorrência de correntes litorâneas preponderante-mente paralelas à linha de costa e em ambos ossentidos foi relatado por Motta (1967).

Observou-se também que a zona de arreben-tação geralmente apresenta 2 ou 3 linhas de arreben-tação, com largura média em torno de 250 m e des-

Figura 2 - Distribuição das alturas (a) e dos períodos (b) das ondas a partir dos dados da tabela 1.

0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0 2.2 2.4 2.6 2.8

H(m)

0

2

4

6

8

10

12

14

16

%

5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

T(s)

0

2

4

6

8

10

12

14

%

ab

8

vio padrão em torno de 120 m. É uma zona de baixadeclividade e de largura varíavel (alto desvio pa-drão), marcada pela ocorrência de diversas barrassubmersas paralelas à linha de costa.

A boa continuidade lateral geralmente apre-sentada pelas linhas de arrebentação permite acom-panhar visualmente a progressão do trem de ondasdesde a primeira linha de arrebentação até a zona desurfe, facilitando a obtenção dos parâmetros para acaracterização do regime de ondas.

A análise conjunta dos dados morfológicos,granulométricos e dos parâmetros básicos de ondaspossibilita uma classificação morfodinâmica daspraias estudadas, levando em consideracão os con-ceitos expostos principalmente por Wright & Short(1984) e Wright et al. (1985). A modelagem dasfeições morfológicas deriva, essencialmente, doequilíbrio entre as partículas sedimentares disponí-veis e o regime hidrodinâmico atuante.

Para as praias de Imbé, Capão Novo e Arroiodo Sal foram calculados os valores do parâmetro deescala de surfe -ε (Tab. 2), os quais indicam praiaextremamente refletiva quando ε < 1, valores entre 1e 2,5 indicam forte reflexão com alguma dissipação,enquanto que a dissipação completa ocorre para valo-res de ε > 30 (Guza & Inman, 1975) (Fig. 3).

Para a praia de Imbé os valores de e varia-ram entre 3 e 109, com valor médio de 32,04 edesvio padrão de 26,54. Valores de ε > 30 foramapresentados nos meses de abril e dezembro de1993, março, junho, julho, agosto e novembro de1994, e abril de 1995.

Os valores de e apresentaram variação entre7 e 92 para a praia de Capão Novo, com valor médio

de 41,8 e desvio padrão de 26,47. Valores de ε < 30ocorreram nos de fevereiro, maio, julho, agosto enovembro de 1993, junho e novembro de 1994, efevereiro, maio e julho de 1995.

O parâmetro e apresentou maior variaçãopara a praia de Arroio do Sal, entre 5 e 156, commédia de 38,35 e desvio padrão de 36,66. Valores deε > 30 ocorreram nos meses de fevereiro, junho,julho, agosto e outubro de 1993, janeiro, junho eoutubro de 1994, e março e julho de 1995.

Os valores indicam, então, que não ocorreuo estado de praia extremamente refletiva (ε < 1).São praias basicamente dissipativas, com valores dee próximos ou superiores a 30.

A distribuição temporal dos valores de Ωpara as praias de Imbé, Capão Novo e Arroio do Sal,para o período entre fevereiro de 1993 e julho de1995 (Fig. 4), demostra basicamente a mesma res-posta de estado morfodinâmico para as três praiasanalisadas, com tendência a semelhante distribuiçãotemporal dos valores. Valores de Ω < 1 indicam oestado morfodinâmico refletivo e Ω > 6 o estadodissipativo, enquanto os valores de Ω entre 1 e 6definem as praias de estado morfodinâmico interme-diário (Wright & Short, 1984).

Para a praia de Imbé os valores de Ω varia-ram entre 3,76 e 11,71, com valor médio de 6,75 edesvio padrão de 2,3, com 56% dos valores superio-res a 6, posicionando-a no estado morfodinâmicodissipativo nos meses de abril, junho, julho, novem-bro e dezembro de 1993, janeiro, março, junho, julhoe agosto de 1994, e entre fevereiro e abril de 1994.

Para a praia de Capão Novo os valores de Ωapresentaram variação entre 3,66 e 12,59, com valor

F A M J J A O N D J F M M J J A S O N D F M A M J J md

dp

Imbé

C. Novo

A. Sal

0

30

60

90

120

150

Figura 3 - Distribuição temporal dos valores de ε (eixo vertical) para as praias de Imbé, Capão Novo e Arroio do Sal, entre fevereiro de 1993e julho de 1995; md = média; dp = desvio padrão.

9

médio de 6,79 e desvio padrão de 2,5. Dos registros,52% apresentaram Ω superiores a 6 (estadodissipativo) distribuídos nos meses de junho, julho,novembro e dezembro de 1993, janeiro, agosto,outubro e novembro de 1994, e entre fevereiro eabril de 1995.

Para a praia de Arroio do Sal, 50% dos re-gistros apresentaram valores de Ω superiores a 6,com valores mínimo de 3,31 e máximo de 12,31, evalor médio de 6,68 com desvio padrão de 2,6. Osestados morfodinâmicos dissipativos (Ω > 6) ocor-reram nos meses de fevereiro, junho, julho e outu-bro de 1993, janeiro, fevereiro, junho, julho e agos-to de 1994, e entre fevereiro e abril de 1995. Nosdemais períodos a praia apresentou-se intermediária,sem a ocorrência de estados morfodinâmicosrefletivos (Ω < 1) a exemplo do ocorrido em Imbée Capão Novo.

Constata-se que as praias tendem a maisdissipativas no período de verão, com uma distribui-ção ou uma tendência de distribuição mais constantedos valores. Nos demais períodos apresentam maioroscilação na distribuição do valor do parâmetromorfodinâmico Ω.

Considerando-se os meses entre dezembrode 1994 e maio de 1995 percebe-se uma tendênciaclara de passagem progressiva do estado de praiasintermediárias (até dezembro de 1994) para o estadode praias dissipativas (entre janeiro a abril de 1995)e novamente retornar ao estado de praias intermedi-árias a partir de maio de 1995.

Constata-se que os valores de e (Fig. 3) nãorevelam uma tendência tão clara de distribuição sazo-nal como apresentado pelo parâmetro Ω (Fig. 4). Isto

pode indicar a necessidade de um tempo de ajustepara a completa correspondência entre estes doisparâmetros, uma vez que o parâmetro Ω não utiliza adeclividade da superfície praial em seu cálculo.

Quando consideramos a média de todos osvalores de e e Ω obtidos, a correspondência entreeles é clara (Fig. 5). Mudanças temporais significa-tivas de estado morfodinâmico são observadas nosmeses de maio e outubro, precedentes ao início doinverno e verão.

Wright & Short (1984) e Wright et al.(1985) ressaltam que a correspondência entre umestado morfológico praial específico e um valorparticular de Ω nem sempre é observado quando ataxa de mudança nas características das ondas inci-dentes é rápida. Quando ocorre uma variação bruscado valor de Ω, passando de um estadomorfodinâmico para outro, um tempo de ajuste énecessário para que a morfologia praial se ajuste àsnovas condições.

A distribuição espacial dos parâmetrosmorfodinâmicos ε e Ω (Fig. 6), mostra que as praiasapresentavam-se com valores médios de ε > 30(dissipativo), com exceção das praias de SantaTerezinha, Arroio Teixeira, Praia da Âncora eFigueirinha. As praias de Imbé, Capão Novo e Ar-roio do Sal apresentaram valores de ε > 30, concor-dando com os valores médios obtidos quando consi-derados todos os valores anotados.

O comportamento do parâmetro Ω foi seme-lhante ao do parâmetro e, com exceção do setornorte, nas proximidades de Arroio do Sal. Os valo-res de W foram inferiores a 6 somente em CapãoNovo e na praia do Barco. As praias de Imbé e

F A M J J A O N D J F M M J J A S O N D F M A M J J md

dp

Imbé

C. NovoA. Sal

0

2

4

6

8

10

12

14

Figura 4 - Distribuição temporal dos valores de Ω (eixo vertical) para as praias de Imbé, Capão Novo e Arroio do Sal, no período entre fevereirode 1993 e julho de 1995; md = média; dp = desvio padrão.

10

Unid. 4

Unid. 3

Unid. 2

Arroio do Sal apresentaram valores médios de Wsuperiores a 6, concordando com o valor médioobtido pela consideração de todos os levantamentos.

Como a morfologia praial está ou tende aum equilíbrio dinâmico, consideramos o estadomédio a fim de encaixá-las dentro de uma classifi-cação morfodinâmica. O valor do desvio padrãofornece o grau de variação morfodinâmica apresen-tada pelo ambiente, basicamente em função das va-riações de energia hidrodinâmica ao qual o sistemaestá exposto.

Considerando a distribuição temporal dosvalores dos parâmetros morfodinâmicos (Fig. 5),posiciona-se as praias em estudo, no extremomorfodinâmico dissipativo, com valores médios deΩ > 6, e de e superiores a 30. Quando consideramosos valores destes parâmetros de forma individualiza-da para os diferentes levantamentos, constatamos aocorrência de estados intermediários, provavelmentecondicionados por um regime hidrodinâmico demais baixa energia.

A similaridade morfodinâmica das praiasestudadas é evidenciada quando constatamos a es-treita proximidade dos valores da média e do desviopadrão dos parâmetros morfodinâmicos. Para aspraias de Imbé, Capão Novo e Arroio do Sal, oparâmetro Ω é de 6,75, 6,79 e 6,68, com desviopadrão de 2,30, 2,50 e 2,60 respectivamente. Osvalores de e também confirmam a similaridademorfodinâmica das praias deste segmento costeiro.

Para as praias entre Imbé e Capão Novo eentre Capão Novo e Arroio do Sal, o valor de Ω foium pouco superior a estas três praias extremas (7,94e 7,11), com baixo valor de desvio padrão. Prova-

velmente uma quantidade maior de dados para estesdois segmentos intermediários levaria o valor médiode W a aproximar-se dos valores estabelecidos paraas praias de Imbé, Capão Novo e Arroio do Sal,considerando que a granulometria e o regimehidrodinâmico são similares.

A sazonalidade das características morfoló-gicas das praias estudadas também é constatadaatravés das variações do volume subaéreo, com osperfis de verão e inverno apresentando o máximo eo mínimo volume subaéreo respectivamente, emrelação ao outono e à primavera. Genericamente, osperfis de verão caracterizam-se como perfis deacresção, em oposição aos de inverno que são geral-mente perfis de erosão, mais rebaixados topografi-camente e com menor volume sub-aéreo, condicio-nados pelo regime de ondas atuante (Weschenfelderet al., 1997).

A seqüência de variações morfológicas des-de um perfil de acresção típico até a formação deum perfil de erosão e o retorno ao novo perfil deacresção é descrita por Short (1979). Envolve, apartir do perfil típico de verão (acresção), a erosãodos sedimentos depositados na porção sub-aérea emum evento de maior energia e armazenamento naparte submersa em feições do tipo barras paralelas àlinha de costa; o perfil praial sub-aéreo torna-serebaixado, típico do perfil de inverno (erosão). Oretorno e persistência dos períodos de energia nor-mal ou baixa possibilitam a redeposição gradual desedimentos na face praial, levando novamente aformação do perfil típico de verão (acresção).

Calliari & Klein (1993) identificaram trêssetores com características morfodinâmicas distintas

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

j f m a m j j a s o n d

Ωε/10

Figura 5 - Distribuição temporal dos parâmetros ε e Ω, considerando a média de todos os valores obtidos.

11

0

1

2

3

4

56

7

8

9

10

Im a b c d e f g C h i j k l m AS

Ωε/10

Figura 6 - Distribuição espacial dos valores médios de ε e Ω, para as praias entre Imbé (Im) e Arroio do Sal (AS), levando em consideraçãodois levantamentos (julho de 1994 e 1995) (e.1/10). a - Mariluz; b - Santa Terezinha; c - Rainha do Mar; d - Xangrilá; e - Atlântida; f - Capãoda Canoa; g - Praia do Barco; C - Capão Novo; h - 3 km ao norte de Capão Novo; i - Arroio Teixeira; j - São Salvador; k - Bom Jesus; l -Praia da Âncora; m - Figueirinha.

para as praias entre Rio Grande e Chuí, sul do esta-do do RS. Esses autores identificaram praias comcaracterísticas dissipativas, praias com tendência apermanecer no estágio intermediário e praias queoscilam entre os estágios intermediário e refletivo.

A resposta morfodinâmica diferente entre acosta norte e alguns setores da costa sul do estado,considerando que estão expostas ao mesmo sistemaenergético da ondulação proveniente do Atlânticosul, deve-se principalmente às diferenças granulo-métricas dos sedimentos praiais.

Podemos considerar ainda que a presença dediversos bancos submersos na plataforma interna dosul do estado causa variação do nível de energiahidrodinâmica ao longo da costa, influindo na dife-renciação praial ao sul de Rio Grande (Calliari &Klein, 1993). Em contraste, a plataforma continentalinterna do norte do estado não apresenta variaçõesmorfológicas significativas, e portanto não ocasionavariações significativas no nível da energiahidrodinâmica que atinge a região costeira.

Estes dois fatores, morfologia da plataformacontinental e características texturais dos sedimen-tos, conduzem a diferenciação morfodinâmica entrea porção norte e sul do estado.

A formação de feições do tipo barrassubmersas, paralelas à linha de costa, a partir daerosão dos sedimentos sub-aéreos em eventos demaior energia, pode alterar o nível de energia queatinge determinado ponto da costa, devido a altera-ção da característica da onda na zona de arrebenta-ção. A morfologia e a disposição dessas feições

submersas vai depender da quantidade de sedimen-tos disponíveis e efetivamente remobilizados daporção sub-aérea em direção à parte submersa, emum determinado evento tempestuoso.

Levantamentos diários demonstram que aspraias apresentam um perfil mutante, modificando-se constantemente para atingir o perfil de equilíbriodinâmico (Weschenfelder et al., 1997).

Os levantamentos mensais refletem o perfilde equilíbrio praial para as condições hidrodinâmicasatuantes ou refletem um perfil mutante, formado sobcondições energéticas anteriores, e que ainda está semodificando em direção ao equilíbrio morfodinâmicoatuantes no momento do levantamento.

O grau de aderência entre a morfologiapraial e as condições hidrodinâmicas são dependen-tes de uma série de fatores. Em locais onde ocorreuma variação constante e significativa das condi-ções dinâmicas o equilíbrio morfodinâmico é rara-mente atingido (Wright et al., 1985).

As praias estudadas são suscetíveis a episódi-os sazonais de erosão-acresção, evidenciado pelodesvio padrão da largura do pós-praia e conseqüente-mente da posição da linha d’água. As distâncias ho-rizontal e vertical do avanço do swash apresentamgrande variações (alto desvio padrão), condicionadasà declividade da face praial e energia hidrodinâmica.A variação vertical do perfil é menos significativadevido as características granulométricas dos sedi-mentos. Grandes variações verticais do envelope sãocomuns em praias sob condições morfodinâmicasessencialmente intermediárias.

12

A erosão da base das dunas frontais naspraias entre Imbé e Arroio do Sal, documentado emjulho de 1994 e persistindo em julho de 1995, refle-te episódios de alta energia (storms surges ou tem-pestades) que modificam a morfologia praial e docampo de dunas frontais. Esses eventos de mais altaenergia geram fortes correntes que transportam ossedimentos em direção a região de ante-praia, depo-sitando-os em bancos submersos (Héquete & Hill,1993). O retorno do material, para que se atinjanovamente um equilíbrio entre o estoque sedimentare as condições dinâmicas destes setores morfológi-cos, com o restabelecimento da morfologia dos se-tores praial e do campo de dunas adjacentes, podelevar um longo período.

Sob condições energéticas anormais decor-re-se um longo período até que o prefil anterior aoevento seja reestabelecido. Tomazelli (1990) de-monstra que o perfil anterior a ressaca que atingiu aregião no dia 6 de junho de 1985 ainda não havia sereestabelecido até 1989. Este autor sugere um cará-ter mais erosivo do que acrescional para a área emestudo, derivado sobretudo de uma tendência con-temporânea de elevação relativa do nível do mar.

A erosão condicionada por eventos tempes-tuosos é mais acentuada quando a freqüência dastempestades excede o período necessário para orestabelecimento do perfil normal, principalmenteem zonas de suprimento sedimentar mínimo ou ne-gativo (Morton et al., 1995).

O grau de aderência entre a morfologia e oestado morfodinâmico das praias em estudo poderáser refinado a partir de levantamentos sistemáticoscontinuados.

CONCLUSÕES

A energia hidrodinâmica é o fator preponde-rante na morfologia praial do litoral norte do RS.Quando consideramos os parâmetros morfodinâmi-cos e e Ω, as variáveis significativas são a altura eo período das ondas incidentes, visto que os sedi-mentos praiais apresentam grande homogeneidadegranulométrica e a declividade do perfil é dependen-te desses fatores mencionados (Hb, T, Ws).

A sazonalidade morfológica/morfodinâmicaé condicionada basicamente pela variabilidade nocomportamento hidrodinâmico do sistema, princi-palmente pelas oscilações no clima de ondas, evi-denciada pela predominância do perfil acrescionalno verão e do erosional no inverno.

Pelos valores dos parâmetros morfodinâmi-cos ε e Ω posicionam-se as praias de Imbé, CapãoNovo e Arroio do Sal basicamente no estadomorfodinâmico dissipativo e, eventualmente, no es-tado morfodinâmico intermediário. Estes dois parâ-metros morfodinâmicos apresentam a mesma ten-dência de distribuição temporal para o período ana-lisado.

A distribuição espacial de e mostra que aspraias entre Imbé e Arroio do Sal, nos meses dejulho de 1994 e julho de 1995, apresentavam-se noestado morfodinâmico dissipativo (ε > 30). O com-portamento do parâmetro Ω foi semelhante ao doparâmetro e, excetuando-se o setor norte, nas proxi-midades de Arroio do Sal.

A similaridade no comportamento morfo-dinâmico das praias estudadas se atribui ao fato deserem próximas, sem variação granulométrica signi-ficativa, sujeitas basicamente ao mesmo regimehidrodinâmico e adjacentes à uma plataforma conti-nental sem variações morfológicas marcantes.

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